Aprendizado de Máquina - Introdução Ricardo Prudêncio Centro de Informática UFPE.
Léo Prudêncio - Baladas para violão de cinco cordas
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Transcript of Léo Prudêncio - Baladas para violão de cinco cordas
BALADAS PARA VIOLÃO DE CINCO CORDAS – LÉO PRUDENCIO(PEQUENA MOSTRA)
ISBN: 978-85-8406-006-1ANO DE PUBLICAÇÃO : 2014
POEMAS
balada para violão de cinco cordas
I
essa é a história de chico
mais um dentre tantos
que ardem por justiça
chico era homem casado
(de uma mulher só)
pai; amigo xadrezista filósofo e sonhador
cansou sem grandes alardes da vida
dizia que
– viver é uma atividade repetitiva e cansativa
um belo dia
disse à mulher e aos filhos
que iria se encontrar com Deus.
no mesmo dia
voltando para casa
chico ao atravessar a avenida
foi engolido por um caminhão
não resistiu
II
– PSIU!!
reza a lenda que chico
era um filósofo suicida
os poetas
(poema redundante)
I
os poemas são as chaves para se desvendar
a vida e a vida segue o ritmo das ondas do mar
(clichê não?)
as palavras existem para criar mundos
foi com ela que Deus criou o seu mundo
por falar em Deus
o poeta é um profeta enviado por Jah
II
o poeta
mero manipulador da palavra
o poeta
mero desespectador da vida
escrever poemas é como soltar
pássaros de suas gaiolas
e
quem compõe poemas
merece o perdão divino
III
!(
a propósito:
foda-se platão e sua república
)!
IV
ser poeta é absorver as dores do mundo
é cavalgar nas palavras
é desconstruir o agouro (h)umano
ser poeta é desacreditar na vida
é fornecer o grito
é formular o descompasso
do caminho
V
sentado à beira do cais
o poeta pergunta ao mar:
“que faço eu no mundo?”
ondaondaonda
ondaondaondaondaonda
ondaondaondaondaondaondaonda
ondaondaondaondaondaondaondaondaonda
ondaondaondaondaondaondaondaondaondaondaonda
(o mar devolveu-lhe apenas o silêncio
da existência humana)
VI
quem nunca se sentiu como um navio naufragado
(além de não ter o dom da poesia)
sobre viver nada sabe
ode a sulamita
“Eu dormia, mas o meu coração velava; e eis a voz do meu amado
que está batendo"
Cantares de Salomão 5:2
I
eu não dormi aquela noite
passeei pela noite seguindo o ritmo
das batidas cardíacas de minha amada.
a voz de minha amada
é a força motora de meu barco a vela.
navegar em seus lábios
é melhor que o vinho.
minha amada é como a pomba
não a prendo em minhas mãos.
ela é delicada, linda, graciosa e sutil
como a mirra exposta ao sol
II
assim como as muralhas de jerusalém
os braços de minha amada me protegem.
ela me afaga com o mesmo cuidado
que um pastor afaga as suas ovelhas
o seu corpo é o meu telhado
num dia de chuva
o seu cabelo é mais cheiroso e afável
que os campos do líbano
que Deus me perdoe
por ter escrito o nome de minha amada
no caule do cedro de meu jardim
III
minha amada é majestosa
como os montes moriá sião e sinai.
os braços de minha doce e amada sulamita
são navegáveis e afogáveis
como o mar mediterrâneo
a sua presença é mais refugiosa
que estar em en-gedi.
IV
ela é a fonte dos jardins
ela é a força dos cavalos
ela é o eco das cavernas
ela é o horizonte
ela é o azul do mar
ela é o sol se pondo
ela é minha amada:
sulamita.
o poeta está só
(poema revisitado ®)
I
a solidão
é um naufrágio em si mesmo
é um estado de introspecção
a solidão é o momento antropófago do ser
ando só como um elefante
a beira da morte
nesse abrigo de poetas mortos
sou o único a permanecer anônimo
sou uma ilha rodeada de terra
sou poeta apenas quando estou
so-
zinho
II
não sou o poeta das multidões
nem dos milhões de leitores
escrevo para mim
volto à solidão
quando ponho o ponto final
no poema
a solidão é o estado que faz desabrochar a flor
a solidão é o quixote do poeta
sem solidão não existe poesia
o poema atraca em mim
como um navio chegando dalém mar
III
ao compor o poema
bato asas e voo para outro país
(transcendo na solidão da escrita)
sou o vento que forma a onda do mar
na solidão da escrita vou além do toque real da vida
- mil solitários em um -
IV
poema:
habitante de mim
sobrevivente de mim
poema:
objeto tácteo
peça de museu
V
o poema
é
tudo
que
res
ta
rá
de
m
i
m
.
POSFACIO E OUTRAS RESENHAS
A SOLIDÃO ENTRE BALADAS
por Nathan Matos
Os poetas jovens tendem a falar de temas relacionados ao amor, ao sonho e à esperança
de viver. Na maioria das vezes, tais temas nos levam a desacreditar nesses poetas por acharmos que
devem dar mais tempo aos seus versos e tentar repensar o mundo, de uma maneira diferente, onde
nem tudo o que acontece são maravilhas ou deveriam ser. Que a esperança pode, com muita
facilidade, não existir e que as dores do mundo estão a nos incomodar quase que diariamente; e que
existem muitas outras abstrações, digamos assim, que deveriam nos preocupar.
Léo Prudêncio é um desses jovens, porém com um diferencial. Há alguns anos, li os
poemas do poeta e percebi neles o que mencionei. Faltava-lhe uma “estabilidade” no texto, havia,
em certo sentido, muito sentimento, apenas. Como se agisse comandado apenas pelo sentir ou pela
inspiração.
Apesar de acreditar em que bons textos podem surgir sob o efeito anestésico dos
sentimentos ou sob o efeito da musa inspiradora, e de momentos de epifania também, creio que o
trabalho do poeta deva existir de maneira que consiga não driblar os sentimentos, mas
complementá-los com nossa razão.
Esse é o problema de vários escritores, pois creem que apenas o sentir é necessário para
a escrita. Ao lermos um Manoel de Barros ou um João Cabral de Melo Neto, poderíamos pensar em
afirmar que conseguiríamos apontar com certeza qual deles usou apenas a razão ou o sentimento
com maior afinco. Seria pura ingenuidade fazê-lo. A poesia não se constrói apenas com momentos
epifânicos nem com pura racionalidade, mas sim com a observação da vida que acontece em tudo e
em todos e quase sempre acompanhada de atos reflexivos, ou não. Portanto, é quase impossível, a
meu ver, separarmos esses dois “seres”.
Em Baladas para violão de cinco cordas temos um pouco de cada, com uma harmonia
que, por vezes, desafina e afina, como estivéssemos a ajustar o tom das melodias que irão ser
tocadas. Partindo de tragédias, como a vida de Chico – presentes desde os primeiros versos-acordes
do livro – à ironia, que traz certa pitada de vida, pode-se afirmar que o poeta deste livro “anda
perdido”, mas apenas enquanto toca os seus versos nas nuvens que o formam. Perdido entre baladas
que tocam não apenas o seu íntimo, mas o da vida que o rodeia.
Léo Prudêncio toca em temas caros a qualquer leitor de poesia e aos escritores que
começam a desejar enveredar pela escrita. O amor e o sonhar são mais do que vivos em seus
poemas. Contudo, perguntaria o poeta: será isso tudo clichê? É para essa resposta que devemos ater
detalhadamente a nossa percepção.
O poeta entende que temas como esses não devem ser deixados de lado, apenas porque
a crítica, propriamente, já não os quer presentes em poemas. O clichê deve ser retomado e talhado
com certa originalidade que cabe apenas àqueles que escrevem sozinhos entre as multidões.
Os poemas-clichês, chamemos assim alguns dos textos aqui encontrados, apontam para
algo desconcertante, como frases que surgem ao fim dos poemas e que, além de nos interpelar em
outra língua, como no segundo poema do livro, nos deixam desconcertados por perceber que nem
tudo é o que se lê. A desconstrução está colocada com precisão para que não nos ludibriemos pela
melodia dos versos e para que não nos deixemos levar pela simples ilusão dos temas clichês, que
em alguns poemas se fazem presentes.
Na verdade, tudo está estruturado para nos desconcertar, nos deixar imprecisos quanto à
existência da vida. Parece ser esse sob este sentimento que o poeta compõe sua balada. Ele parece
querer nos manipular, assim como fazia Orfeu com os pássaros e os animais selvagens, fazendo
assertivas que nos deixam, apesar de compenetrados, confusos e duvidosos, como a que diz que o
poeta é um “desespectador da vida”. Parece que Léo Prudêncio segue bem as indicações de um
ilustre poeta português, em que afirmava que o poeta é sempre responsável pelo fingir. Iludir,
portanto, poderia ser um ato mágico, mas é também poético.
Além da falsa ilusão criada pelas palavras lançadas através dos versos harmoniosos de
Léo Prudêncio, há certa disposição de aspectos gráficos visuais, mostrando a habilidade do poeta
em não exagerar utilizando a influência que aparenta ter do concretismo, como bem é possível
observar no poema espólio, que nos direciona para uma cruz que simboliza nossa perdição, nossa
rendição ao esquecimento.
Poemas como horizonte ou guitar solo deixam evidente a preocupação que o poeta teve
em meio aos poemas amorosos, que surgem como ervas daninha no jardim dos críticos, aos poucos,
como em eu e minha pequena, deixar claro que nem tudo o que se lê é ilusório. Mostra, através
desses poemas, que razão e sentimento encontram-se muito bem alinhados, como a sequência de
notas que são criadas para suas Baladas para violão de cinco cordas.
O que deverá ter sido apreendido por você, leitor, é o toque de inocência que existe na
confessionalidade do poeta, deixando parte de si no livro, relatando, quem sabe, sua infância e a
escrita, na qual as nuvens, as páginas em branco, eram o seu brinquedo favorito, onde “desenhava
soldados, carros e animais”.
E através dessa infância, que não se deixou ser levada pela memória, ao contrário dos amores vãos,
sugere que sempre haverá os que duvidaram da vida, por que é certo que muito há a se perder no
caminho até a morte. Mas é assim que vai “reformulando o peso do mundo / transfigurando / o real
em sonetos”.
A vida do poeta é construída através dos poemas, assim como constrói os seus versos,
sua balada, seu caminho entre as multidões. Léo Prudêncio não está entre as multidões, pois ele
acredita que “o poeta está só” e sempre só, quando a revolver em si os sentimentos e os momentos
vividos, para que quem sabe um dia seus poemas possam chegar até o leitor mais arredio “como um
navio chegando d’além mar”.
RESENHA – BALADAS PARA VIOLÃO DE CINCO CORDAS
por Ronnison Araújo
Lançado no início dessa semana pela editora Penalux, Baladas Para Violão de Cinco
Cordas é a primeira obra de Léo Prudêncio.
O acabamento editorial do livro é impecável, os detalhes das páginas, fontes e ilustrações
conferem a obra uma personalidade autêntica, qualidade que não fica atrás do seu
conteúdo.
Baladas é composto por uma coleção de dezenove poemas (sendo 9 delas no lado A e 8
no lado B) que trazem uma profunda reflexão sobre alguns aspectos de nossa existência
cotidiana. O autor tem sacadas filosóficas muito boas, fazendo ligeiras referências à
alguns pensadores como Sócrates, Descartes, Nietzsche, Sartre e outros, horas também
mandando alguns se fuderem (riso)! Isso mostra a erudição do poeta sem que para a
apreciação de seus versos exija do leitor algum curso básico de filosofia.
Outro elemento impossível de ser ignorado são os poemas espaciais e o uso da
criatividade cobrada do poeta ao próprio leitor, algum momento pedindo inclusive que o
próprio complete o poema convidando assim para que aquele que se sintoniza no
Baladas seja mais que um simples espectador, um mero ouvinte. Se torna também
músico!
Com um agradável repertório que traz de volta as rajadas musicais de lendas do rock
como Jimi Hendrix, George Harrison, Beatles, Nirvana e Lennon podemos sentir uma
crítica do autor aos músicos contemporâneos e suas tendências, onde antes havia
sentimentos e razão embalados em prazerosas melodias de guitarra agora se encontram
letras sem significados e ritmos ridículos propagados por uma mídia vazia. O que por
vezes me faz pensar que a Morte deve ter bom gosto pra música.
Para aqueles que fizerem mais do que um drift pelos versos e arranjos gráficos desse
poeta, chegarão a concluir que Léo Prudêncio tocou em sua vitrola um LP que mescla
razão e sentimentos, pois seu texto não é um simples delírio epifânico de emoções,
porém, tão pouco é um concerto acadêmico de terminologias. O poeta aqui consegui
afinar uma deliciosa, reflexiva e delirante balada que provoca uma atitude critica àqueles
que o leem. Baladas para violão de cinco cordas não é tipo de livro que se lê em um
momento, uma hora ou duas, é preciso um dia inteiro pra aproveitar sua sonoridade,
sentir suas provocações ecoarem em nossa mente e deixar que os pensamentos sejam
ao mesmo tempo tão hipnóticos e desinteressados como as ondas do mar.
Depois de ler esse livro, o li novamente ouvindo as músicas e cantores citados, e isso só
me deixou mais desejoso de ouvir um Vol. 2!
Li e recomendo o Baladas para violão de cinco cordas.
(ouvindo Belchior, Alucinação)
COMENTARIO DE BADIDA CAMPOS
Amigo Léo Prudêncio: recebi ontem à tarde o seu livro "Baladas para violão de cinco cordas". Li de um só fôlego. Gostei muito. O livro está repleto de achados poéticos. Moderno e dulcíssimo. Em "Espólio" vc. finda com uma grande verdade: "Tudo o que sobrará de mim, serão essas pegadas deixadas na praia q. logo, logo serão apagadas, assim como nós." "Epílogo": "Envelhecer é deixar de sonhar." Perfeito !"Eu e minha pequena": "Ela é glamorosa (como os solos de George Harrison)". Põe glamour nisto! E por falar em G. Harrison sou encantada com a música "Mysweet Lord".E esta delícia de frase: "Queria ser um pássaro e ser amigo do céu."Em "O Mar"- "Uma lágrima passeia sobre meu rosto e encontra-se com o mar..." Lembrei desta frase do poeta português: "Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal". Gostei muito da expressão "pagão natal". Resumiu toda a dissertação sobre o Natal.Parabéns, Léo. De verdade. E olhe que eu sou exigente quando se trata de Literatura.Que venham mais livros.Obrigada pelo presente, filho.Abraço grande.Badida
AS BALADAS DE UM JOVEM POETA
por Bruno Paulino
Acabei de ler o originalíssimo livro-disco de estreia do poeta Léo Prudêncio “Baladas paraviolão de cinco cordas”. O titulo e a obra como um todo me fizeram lembrar-se de um poema do simbolista Cruz e Sousa “violões que choram”:
“Ah! plangentes violões dormentes, mornos,/ soluços ao luar, choros ao vento.../Tristes perfis, os mais vagos contornos,/ bocas murmurejantes de lamento./ Noites de além, remotas, que eu recordo,/noites de solidão, noites remotas/ que nos azuis das Fantasias bordo,/ vou constelando de visões ignotas.”
Dialogando através do tempo, num primeiro olhar, pode se constatar que tanto o poema de Cruz e Sousa como o livro de Léo Prudêncio são carregados de dolências plangentes. Sendo movido pela crença que “ser poeta é absorver as dores do mundo” Léo o “poeta que está só” constrói a narrativa da vida do personagem Chico, refugiando-o num universo imaginário, refletindo uma filosofia do nada, da desesperança e do ceticismo. Elegendo nesse percurso como trilha sonora e colocando na vitrola grandes nomes da música pop, assim como também ao caminhar, o faz sempre dialogando com renomados pensadores da historia universal.
Desse modo as baladas-poemas que compõe o volume são dormentes, tristonhas, chorosas, e por vezes ritmadas com a melodia cortante do humor e da ironia, fazendo da meditação metafísica de Chico uma rejeição clara a lógica da sociedade burguesa. Por fim só nos resta parabenizar o poeta por sua dedicação à literatura, assim como também pelo excelente livro que pública, que de igual modo como a boa música, nos toca, acarinha e nos aguça ao ato de refletir, e claro, sentir o mundo com outros riffes.