Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

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BRUNO SILVA COSTA 1 LENDAS E MITOS ANANINS: Elementos da Identidade Cultural Local em Leituras do Patrimônio Imaterial BELÉM-PARÁ 2013 1 Graduado em Lic. e Bac. em História - ESMAC (2009); Pós-Graduado em Patrimônio Cultural e Educação Patrimonial - FIBRA (2013); Graduando em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda Estácio FAP.

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BRUNO SILVA COSTA1

LENDAS E MITOS ANANINS: Elementos da Identidade

Cultural Local em Leituras do Patrimônio Imaterial

BELÉM-PARÁ

2013

1 Graduado em Lic. e Bac. em História - ESMAC (2009); Pós-Graduado em Patrimônio Cultural e Educação

Patrimonial - FIBRA (2013); Graduando em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda – Estácio FAP.

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RESUMO

Este trabalho pretende mostras os aspectos do Patrimônio Cultural Imaterial presentes no

imaginário popular das narrativas míticas e lendárias na cidade de Ananindeua-PA. Com o

objetivo de evidenciar os aspectos históricos e culturais presentes nestes discursos, sendo de

considerável importância para a memória cultural da cidade, tendo também como objetivo a

coleta e levantamento destes registros de memória para produção de uma cartilha patrimonial

a ser distribuída nas redes de escolas públicas municipais. Como metodologia adotada teve-se

as informações do levantamento bibliográfico e referencias teóricos do assunto, analisando e

interpretando a fala dos entrevistados, assim como a própria visão dos mesmos sobre a

importância da temática para a população local. Como resultado da pesquisa percebemos que

as narrativas míticas locais possuem laços indissociáveis dos aspectos culturais e históricos do

município, carregados de laços afetivos às memórias coletivas, assim como referencial

histórico de memória cultural. Portanto perfeitamente cabível às concepções de patrimônio

cultural imaterial.

Palavras-Chave: Patrimônio Cultural. Lendas. Mitos. Ananindeua. Memória. História.

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APRESENTAÇÃO

O processo de construção de localidades que promovem o surgimento de um

município, considerando a significação afetiva e simbólica da memória histórica local, que

seleciona e guarda determinadas práticas culturais regionais nos autos de reafirmação

identitária, envolve semelhanças e diferenças que dão margem ao reinventado e adaptado

desenvolvimento cotidiano da construção identitária, que mais adiante se tornará referência

cultural e legitimará a noção patrimonial relacionado a certos períodos e contextos. Como

princípio maior desta cultura, identidade e patrimônios em ascensão, temos as lendas e mitos

locais emergentes deste período, representando através da memória, a importância e a

significação simbólica legitimadora destes desfechos históricos nesta sociedade.

Em razão da necessidade de salvaguarda desta memória histórica local, na perspectiva

de reafirmação identitária cultural do município, defende-se neste trabalho o levantamento e

documentação destas narrativas míticas que legitimam não só a cultura e identidade local,

como também permitem o estabelecimento de comparações e composição em um quadro

memorial acerca das relações, homem-natureza-ciência, no cenário histórico amazônico.

Este artigo pretendeu investigar o valor das lendas e mitos presentes no município de

Ananindeua como Patrimônio Cultural Imaterial, legitimadores de uma identidade cultural

local. Com objetivo resultante deste estudo e processo, produzir posteriormente uma cartilha

didática com o levantamento das lendas e mitos locais trabalhados através do âmbito

patrimonial, como forma de fomento a identidade cultural local nas escolas da rede pública

(principalmente) e na sociedade local como um todo.

Para que possamos alcançar tal objetivo de pesquisa, nos valemos de uma metodologia

analítico-comparativa, entres os relatos escritos, o histórico da cidade, o contexto do período e

principalmente a memória local, nos transposta através de entrevistas e relatos orais.

Onde através dos levantamentos bibliográficos cruzamos as informações obtinas nas

bibliografias, com os relatos orais dos entrevistados e suas memórias, em razão de se buscar

melhor compreender e pincelar o cenário existente na época. Uma vez que pouco se tem

registros iconográficos da região neste período.

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Tendo como objeto principal da metodologia analítica, os discursos e memórias dos

entrevistados. Onde se trabalhou a análise e percepção dos próprios sujeitos quanto suas

noções de representação dos mitos local. Não buscando relatar as narrativas e analisa-las, mas

sim analisando diretamente a noção que estes sujeitos têm de seus discursos perante a

sociedade. Método este intencionalmente empregado durante a realização das entrevistas,

objetivando perceber qual a noção que os entrevistados possuem de suas próprias memórias

diante da sociedade em que vivem.

Em razão da dificuldade de se encontrar moradores antigos no município, e mais

ainda, dispostos a falar sobre o assunto, desenvolvemos a metodologia de diálogo entre os

discursos orais, das teorias historiográficas e antropológicas sobre lendas e mitos e o

levantamento bibliográfico encontrado, tanto nos específicos da localidade quanto eixos

temáticos que se aproximam.

Elementos estes que mostraram-se difíceis de encontrar, em razão das discussões sobre

patrimônio imaterial ainda serem recentes na temática de mitos e lendas, da escassez de

produção bibliográfica sobre o mesmo, e a falta de políticas públicas municipais que venham

a valorizar, salvaguardar e fomentar essas memória e documentos históricos no município.

Todavia, o que podemos perceber através deste trabalho fora a possibilidade de

estabelecer e evidenciar estas relações entre as lendas e mitos com seu caráter patrimonial e

identitário, dialogando entre a história e memória, representação e simbologia, passado e

presente, nos valendo não somente dos discursos orais e bibliografias, como também da

legislação municipal, dos estudos mundiais referentes ao assunto e o estabelecer destes

atenuantes uma leitura da realidade existente no município de Ananindeua.

O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DE ANANINDEUA

Temos como primeiros habitantes do local onde hoje consideramos Ananindeua2, a

Comunidade Agrícola do Abacatal, que se localiza a 8 km do centro do município, com sua

2 Para saber mais, ver: COSTA, Bruno Silva. Relações Entre Patrões e Operários no Pará do Século

XX: Representações do Curtume Maguary Para Memória da Sociedade Ananindeuense. Trabalho de conclusão

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fundação datando-se de 1790, associada a um engenho de cana de açúcar, às margens do Rio

Guamá, cujo proprietário era Conde Antônio Koma de Melo. O Conde deixou as terras para

suas três filhas, que teve com uma escrava de nome Olímpia, como herança de suas posses,

comprovando pela Carta de Sesmarias a área em questão, tornando assim a comunidade do

Abacatal uma área de remanescentes quilombolas.

Ananindeua possui nome de origem Tupi, onde “Ananim” é o nome de uma espécie de

árvore encontrada na localidade onde se compreende o município; esta árvore era muito

utilizada na produção de resinas industriais para vedar embarcações e produzir cosméticos. O

restante do nome vem de “Teua”, em Tupi significa abundância. Por uma questão de melhor

fonética modificou-se o nome de “Teua” para “Deua”, formando assim o nome Ananindeua,

ou seja, abundância de Ananim.

O Rio Maguary Açu, possui influência direta nos acontecimentos mais importantes de

Ananindeua. À priori dá nome ao local onde se situa o desenvolvimento urbano inicial no

município, Maguary, e abriga os primeiros moradores da região nas ilhas desde 1850

(MENDES, 2003, p. 26).

Em seu inicio, Ananindeua tinha uma parada de trem, que segundo moradores antigos

da localidade, situava-se onde hoje é o Viaduto do Coqueiro. Tratava-se da parada,

inaugurada em 1884, da Estrada de Ferro Belém-Bragança (E.F.B.) – que teve sua construção

entre 1883 e 1904 – com seu primeiro trecho ligando os municípios de Belém ao que hoje é

Benevides. A população que formou o município, de acordo Mendes (op. cit. p.26) é

basicamente de ribeirinhos e caboclos, fugidos da Cabanagem3, e imigrantes nordestinos ou

de outros estados e até países, sendo a localidade do Maguary o mais antigo núcleo urbano do

município depois da Comunidade do Abacatal.

de Curso apresentado na Escola Superior Madre Celeste, 2009. Disponível em:

<www.4shared.com/office/XH5tQqNR/monografia_Ananindeua_Bruno.html>.

3 A Cabanagem foi uma revolução social que dizimou a população amazônica e abarcou um território muito

amplo. Contrastando com este cenário amplo e internacional, foi, e ainda é, analisada como mais um movimento

regional, típico do período regencial do Império do Brasil. No entanto, os “patriotas” cabanos, ao longo do

movimento, criaram um sentimento comum de identidade entre povos de etnias e culturas diferentes, que

extrapolava estes ditames. Todo o processo é o objeto central deste artigo. Para saber mais, ver: RICCI, Magda.

Cabanagem, cidadania e identidade revolucionária: o problema do patriotismo na Amazônia entre 1830 e

1840. Disponível em: < www.scielo.br/pdf/tem/v11n22/v11n22a02.pdf>. Acesso em: 11 de Maio de 2013.

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Suas ilhas foram sendo paulatinamente povoadas, como a Ilha de São Pedro,

Sussurema, Mutum e outras. Com a criação da E.F.B., um contingente populacional também

emergiu de outras localidades do estado do Pará para Ananindeua.

Em 1916, inaugurava o Curtume Maguary, tido como a primeira indústria do

município, onde eram produzidos vários produtos de couro do boi. Para abrigar seus

funcionários, o Curtume construiu algumas moradias, que a partir do fechamento da fábrica

foram doadas, dando origem ao local onde se encontrava a vila de trabalhadores, conjunto que

chamado anteriormente de Vila do Maguary.

Em seu principio, Ananindeua pertencia às intendências de Belém, posteriormente, em

1938, passou a ser parte do distrito de Santa Izabel, até a emancipação como município em

1944, tendo área estendida ao que corresponde atualmente pelos municípios de Marituba,

Benevides e Benfica. Hoje, porém, Ananindeua constituiu-se apenas pela sede distrital.

Tem-se, portanto, o município com especificidades próprias, e não apenas como uma

extensão territorial da capital paraense.

[...] Tendo em vista que Ananindeua se emancipou no ano de 1944, com uma

infraestrutura já urbanizada e organizada, seu mote histórico durante muitos anos

atribuiu-se unicamente à criação da Estrada de Ferro Belém-Bragança e aos

decorrentes problemas de inchaço populacional em Belém nas décadas de 30 a 60,

rebaixando o município no que fora chamado de “cidade dormitório” em longos

discursos políticos e populares belenenses, reforçando a imagem de Ananindeua

com uma região periférica à 13 km da grande metrópole da Amazônia (Belém).

(COSTA, 2009, p. 27-29).

O que se faz importante perceber a respeito dos primeiros passos do município é

repensarmos estes estereótipos enraizados desde meados a década de 20, fazendo uma análise

mais coerente sobre Ananindeua. É necessário atentar para o fato de o município não ser uma

“cidade dormitório” que surge como consequência dos problemas de Belém, muito menos há

o estabelecimento de uma relação de completa dependência da capital.

É neste cenário de construção urbana, concentração de pessoas e culturas diferentes,

sentimentalismo de renovação e principalmente a relação social de grupos e pessoas distintas,

que se inicia o processo de construção cultural, e significação de valores identitários.

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Ao passo em que se organizam a sociedade e suas estruturas urbanas, também se

amalgamam seus valores, suas crenças, seu hábito, e é resultante deste conflito e convivência,

que suas diferenças se evidenciam, e ao longo dos anos o cotidiano encarrega-se de entrelaçá-

los.

1 CONCEITOS TRANSVERSAIS AO PATRIMÔNIO CULTURAL: UMA

ABORDAGEM REGIONAL

Por volta da primeira metade do século XX, o que conhecemos por patrimônios

intangíveis e seus valores identitários foram geralmente considerados folclore, onde os

mesmos ainda não eram reconhecidos como patrimônios culturais. Os primeiros indícios

oficiais dessa noção surgiram através do anteprojeto de Mário de Andrade em 1936, com as

bases de criação do então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN),

Atual Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN). Todavia, neste

momento, temos a tomada das políticas de patrimonialização em seu caráter prioritariamente

material/tangível, e como eixos primordiais os monumentos, edificações e obras ou objetos de

arte.

Paralelo a este processo, o até então chamado folclore brasileiro, era amplamente

estudado por intelectuais nacionais como Amadeu Amaral4, Edison Carneiro

5, Mario de

Andrade, Sílvio Romero6, onde os mesmo já demonstravam a rica diversidade cultural

nacional, nos apontando o direcionamento a ser tomado mediante estas manifestações, tendo-

as como cultura. Em razão disto, ocorreu em 1958 à criação do primeiro órgão direcionado ao

folclore, durante a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, o Centro Nacional de Folclore

e Cultura Popular.

Mas foi somente na década de 80, com Aluisio Magalhães, que se intensificaram as

mobilizações das políticas institucionais em relação aos patrimônios intangíveis, sendo

4 Ver: AMARAL, Amadeu. Tradições Populares. São Paulo: Progresso, 1948.

5 Ver: CARNEIRO, Edison. Dinâmica do Folclore. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1969.

6 Ver: ROMERO, Silvio. História da Literatura Brasileira. 6ª ed. 5º v. Rio de Janeiro: José Olympio,

1960.

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apresentado pela primeira vez na Constituição Federal de 1988, o conceito institucional de

Patrimônio Imaterial.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à

identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às

manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (Art. 216 da CF)

Todavia, este era apenas o marco inicial no cenário imaterial que ainda encontra várias

lacunas. Através da Carta de Fortaleza de 1997, produzida durante o “Seminário Patrimônio

Imaterial: Estratégias e Formas de Proteção”, organizado pelo IPHAN com participação da

UNESCO e várias instituições, se criou o Decreto 3.551, de Agosto de 2000, que institui o

Registro de Bens Culturais Imateriais, em livros específicos de salvaguarda do patrimônio

imaterial e também a criação do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI).

Onde segundo VIANA e TEIXEIRA (2008, p. 123):

O impacto desse decreto no âmbito das políticas do patrimônio cultural é bem marcante, na medida em que se possibilita a inclusão de segmentos sociais e áreas da cultura até então excluídas do escopo das políticas públicas pertinentes. A formulação da ideia de patrimônio imaterial tem clara orientação relativista, no sentido de explicitar, valorizar e oficializar a pluralidade e a diversidade cultural brasileira.

E mais especificamente o que se refere neste trabalho, no que diz respeito às

manifestações populares da cultura imaterial, tem em 1989, as considerações da 25ª

Conferência Geral da UNESCO em Paris e sua “Recomendação sobre a Salvaguarda da

Cultura Tradicional e Popular”, definida da seguinte forma:

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Conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural, fundadas na

tradição, expressas por um grupo ou por indivíduos, e que reconhecidamente

respondem às expectativas da comunidade enquanto expressão de sua identidade

cultural e social. Seus padrões e valores são transmitidos oralmente, por imitação ou

por outros meios. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a literatura, a

música, a dança, os jogos, a mitologia, os ritos, os costumes, o artesanato, a

arquitetura e outras artes. (UNESCO, 25ª Conferência Geral da UNESCO em Paris,

1989).

Mas ainda assim haviam considerações a serem feitas, e a partir deste momento se inicia

uma extensa corrida na tentativa de melhor definição do conceito de patrimônio Imaterial

aliado às praticas e manifestações populares. E é neste momento, no Artigo 2º da Convenção

Para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, redigida em 17 de outubro de 2003 e

ratificada em 20 de abril de 2006, que surge um conceito mais abrangente de patrimônio

imaterial apontado pela UNESCO, onde:

[...] Entende-se por patrimônio cultural imaterial as práticas, representações,

expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos

e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em

alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio

cultural. Este patrimônio cultural imaterial que se transmite de geração em geração,

é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente,

de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de

identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à

diversidade cultural e a criatividade humana. (UNESCO, Convenção Para a

Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, 2003, Artigo 2, Parágrafos 1 e 2).

Tendo por base a exploração conceitual de patrimônio imaterial e manifestações da

cultura popular explicitadas acima, seguimos com algumas breves considerações acerca dos

conceitos de identidade cultural, memória e representação, com objetivo de esclarecer os

campos em que transitam a noção de lendas regionais como patrimônio imaterial.

Neste trabalho empregamos o conceito de identidade cultural baseado na ideia de

identidades em constantes transformações, que apesar de haver versões, visões e concepções

diferenciadas da realidade local, possuem um contexto coletivo que, assim com a sociedade e

sua cultura, estão em um constante processo de transformação. Sendo assim, não

consideramos válida a ideia de perda ou substituição cultural e sim as transformações ou

variações das narrativas culturais identitárias como perspectivas individuais de sujeitos com

percepções diferenciadas, mas que fazem parte de um coletivo comum.

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Quando se fala em identidade cultural é preciso compreender um “tempo de mudança

onde o moderno pode coabitar com o tradicional”, não havendo a anulação do “antigo” pelo

“novo” e sim uma realidade que permite diferentes temporalidades e concepções ocuparem o

mesmo espaço, sendo constantemente vivenciadas e interligadas.

Esta concepção de identidade como um conceito carregado de problemas, é fundamental

para compreendermos o que a identidade cultural representa, tendo em vista que

constantemente há uma busca pela legitimação das narrativas, percebemos hoje “uma nova

configuração, muito menos essencializada e que permita a vivência de diversas identidades

culturais e não apenas um conjunto de referências estáveis”. Como consideram ROSA (2012,

p. 4) apud Hall (2002, p. 9), Bauman (2005 p. 22) e Martín Barbero (2005 p. 288).

Acerca de identidade cultural, Stuart Hall desenvolve sua teoria a partir de duas ideias

centrais, “cultura partilhada” (coletiva e homogênea) e “cultura diferenciada” (diversificada,

legitimadora, única). Embora pareçam contraditórias, a duas categorias coexistem em uma

eterna dialética fundamentadora que não só enriquece como justifica, em muitos casos, a

significação dessas identidades culturais.

As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de

identificação ou estrutura, feitos no interior dos discursos da cultura e história. Não

uma essência, mas um posicionamento. Donde haver sempre uma política da

identidade, uma política de posição, que não conta com nenhuma garantia absoluta

numa lei de origem sem problemas, transcendental (HALL, 1996. p. 70).

A partir dessa noção de referência ou “pontos de identificação”, nos apresentados por

Hall, percebemos a necessidade de uma constante reafirmação das identidades culturais como

forma de legitimação e contestação de seus espaços. Sejam físicos, sociais ou culturais através

dessa noção do caráter único, legítimo, indenitário que nos diferencia dos restantes grupos

socioculturais. Como nos aponta Woodward (2000, p.54), essas “diferenças” exerce a função

de “sistemas classificatórios” que permitem a construção de fronteiras simbólicas entre as

comunidades e grupos sociais, para que a partir do estabelecimento dessas fronteiras

simbólicas, os grupos possam estabelecer parâmetros e referências para seu próprio

reconhecimento.

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O outro caminho para compreensão de identidade cultural traz uma perspectiva que,

apesar de parecer ambivalente, como o próprio autor diz, têm uma relação com o

viés essêncialista. Ao mesmo tempo em que as semelhanças estabelecidas nas

referências fixas têm a função de formatar a identidade cultural, também as

diferenças têm um papel preponderante nos sistemas de representação coletivos. A

diferença então é apontada aí como uma categoria central na constituição das

identidades culturais que não tem a significação de uma simples oposição binária,

mas uma posição mais complexa a partir da categoria derridiana da différance.

Assim, o sentido da diferença nas identidades nunca está completo, não se encerra

em oposições fixas, mas ao invés disto permite que a identidade cultural esteja

sempre aberta para outros sentidos adicionais e suplementares. (ROSA, 2010, p. 6.)

Temos então a tomada da noção de identidade cultural como reafirmação das

especificidades lendárias e míticas de Ananindeua no seu caráter diferencial, a partir dos

discursos representativos da memória local recheada dos imaginários míticos únicos (como a

Pedra Encantada do Rio Maguary, a Bola de Fogo do 40 Horas, a Procissão das Velas e das

Almas no casarão dos Saunders) e releituras de lendas já conhecidas no cenário amazônico

(como a lenda da Sereia, Cobra Grande, Matinta Pereira, Lobisomem).

Sendo estes elementos de caráter local passíveis ao reconhecimento como

patrimônios culturais imateriais, baseados em sua rica diversidade e valores culturais da

região, os mesmos, dentro de seu caráter “essêncialista”, podem ser apontados como

elementos que representam e identificam as características culturais da sociedade

ananindeuense.

Para melhor compreendermos essa memória identitária ao que nos referimos, notemos

o conceito de memória, que consideramos pertinente na abordagem deste trabalho.

Entendemos por memória tudo aquilo de valor que os indivíduos carregam e guardam

consigo de suas vivências e experiências, atreladas em sentimentos e lembranças, que se

referem a algo ou alguém em um determinado tempo e/ou espaço. Embora passemos pelas

ideias de memória individual, sabemos que por mais individual que sejam, essas memórias

trazem consigo elementos de outrora um cenário de um coletivo (HALBWACHS, 2004). E

sua rememoração está carregada de pontos marcantes; nestes pontos selecionados pelos

indivíduos temos não só os objetos e espaços como também as manifestações, mitos e lendas,

chamados por Pierre Nora (1993) de “lugares de memória”, sendo tudo aquilo que for capaz

de nos levar ao ato de rememorar algo, alguém ou alguma coisa.

Considerando também que:

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Toda a memória humana é, assim, memória de alguém. De uma pessoa determinada

e dotada de um sentimento especial. Sentimento definido por um nome próprio. Mas

também pelo limite entre a pessoa e o mundo exterior. Para cada pessoa, sua

memória tem duas faces. Ela se refere ao Eu, mas, também, ao olhar que a pessoa

tem sobre si mesma. Por isso, ninguém pode ser privado de memória sem ser

despossuído de identidade. Sem memória, uma pessoa não se reconhece. Ela se

despedaça... Deixa de existir. [...] Ela resulta da junção entre a capacidade de

perceber e o indivíduo que percebe. Mas ela é, também, inseparável de um filtro

afetivo. [...] Pois ela não pode ser separada do pensamento, das crenças, das atitudes

interiorizadas pelo indivíduo ao longo de sua socialização. Isto tudo, afinal, é parte

de sua própria identidade. (HORTA; DEL PRIORE, 2005).

É exatamente neste ponto que consolidamos as justificativas das narrativas míticas e

lendárias possuírem a conotação de patrimônio e identidade cultural local, tomando esses

espaços de memórias, presentes na narrativa dos sujeitos, como reafirmação de uma chamada

“herança cultural” da sociedade local. Assim como afirma Maria Horta:

Histórias, lendas, mitos e tradições populares tem muitas vezes por fundo

acontecimentos e conjunturas do passado histórico dessas populações, cuja

‘verdade’ e explicação pode vir à tona num trabalho [...] encontrados por trás do véu

dos relatos, entre ‘ossos’, no fundo dos ‘baús’ do patrimônio cultural, material e

imaterial, que cofiguram a ‘herança’ cultural de um povo”. (HORTA, 2005. p.37).

Tendo em vista a diversidade que abrange a temática mítica e lendária destas memórias,

se faz necessário abordarmos o conceito de representação, logicamente não dissociado dos

dois anteriores, definido em Roger Chartier (1992. passim) como dotado de um sentido

conjunto ao de apropriação simbólica. Uma vez que a memória é construída coletivamente e

este indivíduo que a constrói está carregado de outras vozes e outros elementos norteadores,

podemos considerar que a visão exposta através da narrativa construída por este, ou estes

entrevistados são válidas como forma de demonstrar os elementos e cenários do passado, ao

qual este indivíduo em conjunto com outros, construíram e reconstroem ao longo dos tempos

uma simbologia destas realidades.

Portanto, nos apropriamos das falas destes entrevistados para, através da representação

da sociedade e dos elementos passados presenciados por estes entrevistados, “reconstruirmos”

simbolicamente os elementos sócio-históricos que irá representar esta realidade percebida por

estes indivíduos, em uma reconstrução dotada de signos e símbolos, sobre os outros

indivíduos os quais compuseram o cenário descrito por estes.

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2 A IMPORTANCIA DAS NARRATIVAS LENDÁRIAS COMO IDENTIDADE

CULTURAL LOCAL

Na sociedade clássica, o mundo grego e romano, conhecido mundialmente por seu

politeísmo e diversidades mitológicas abundantes, sua identidade cultural reafirmada e

difundida amplamente lhes caracterizou, e ainda hoje os referencia, em relação a outras

sociedades. A bagagem mitológica dessas sociedades não só as identificam como também as

perpetuam ao longo dos tempos e espaços.

Atualmente, para se buscar compreender os processos históricos da humanidade é

necessário que tenhamos algum conhecimento das características marcantes dessas sociedades

e de seus processos em um determinado período do tempo, de seus mitos e crenças.

Sendo assim, a lógica dos processos educacionais de conhecimento humano segue um

itinerário do âmbito mundialmente difundido, e é exatamente nesta fase que por vezes

deixamos desconhecidos nossos próprios cenários culturais regionais, que não se encontram

presentes na grande maioria dos processos educacionais ou mesmo registrados em livros e

materiais didáticos.

Tendo em vista essa concepção de processos educacionais construídos, buscando

sempre a correlação entre o passado e o presente, no cenário mundial e realidade local, é que

devemos considerar a importância de se desvelar sobre a cultura regional na construção do

conhecimento da sociedade. Para tal prática, existe a educação patrimonial como ferramenta

capaz de proporcionar esses conhecimentos da cultura local através dos processos

educacionais coerentes com as realidades e especificidades da região.

Todavia, para que possamos nos utilizar da educação patrimonial como ferramenta

metodológica7, se faz necessário primeiramente termos conhecimento dos aspectos e

características culturais existentes na região e reconhecê-los como elementos pertencentes ao

patrimônio local.

7 Para saber mais ver: PACHECO, Ricardo de Aguiar. Educação Patrimonial e Estudo do Meio:

metodologias para o ensino de história na educação básica. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE

HISTÓRIA – Fortaleza, 2009. Disponível em: <http://anpuh.org/anais/wp-

content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.1369.pdf.>. Acesso em: 10/01/2013.

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Seguindo a lógica da valorização cultural local e seu reconhecimento como elemento

de importante significação para sua sociedade e seus processos históricos de autoafirmação

identitária, consideram-se as lendas e mitos de Ananindeua com elemento primordial na

identificação da cultura local, uma vez que, develadas suas ricas narrativas e relacionadas aos

processos históricos de sua sociedade, podemos perceber de qual forma essas narrativas estão

imbricadas aos processos de formação cultural e imaginário local (outrora não desvencilhados

de um cenário historiográfico em âmbito regional), em razão de sua lógica definida no tempo

e espaço através dos processos históricos pertencente a população de Ananindeua.

Portanto, é de suma importância evidenciarmos as narrativas lendárias municipais,

como elementos culturais representativos dos patrimônios locais e dos processos históricos

pertencentes ao mesmo. Essas narrativas não só estão presentes na memória local, como nos

possibilitam estabelecer paralelos às referências históricas já existentes acerca desta

sociedade. Seus discursos estão carregados de um imaginário local da sociedade, o que nos

permite tentar compreender a dinâmica cotidiana de uma parcela da sociedade em meados do

início do século XX, podendo assim esquematizar comparações com as realidades de outras

sociedades no mesmo período.

Sendo assim, podemos perceber a importância destas narrativas lendárias para

questões que vão muito além da referência identitária local, evidenciando processos

históricos, possibilitando a reconstrução de cenários locais, concepções de imaginário

cultural, referências de memória social coletiva e processos históricos que se difundiram fora

da capital paraense.

Doravante todos estes aspectos de análise historiográfica, o estudo e o reconhecimento

das narrativas lendárias ananins possibilitam a valorização da sociedade local através de suas

culturas e memórias históricas, evidenciando sua participação e dinâmica social cotidiana nos

desfechos dos cenários históricos paraense.

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Imagem 01: Jocelino

Santos. Data: 2013. Fonte:

Arquivo pessoal Bruno

Costa.

2.1 AS NARRATIVAS E OS SUJEITOS: Histórias, Vidas e Contos.

Para a realização da seguinte pesquisa, foram realizada 10 entrevistas com moradores

do município de Ananindeua das quais alguns trechos foram selecionados por se tratar

especificamente das lendas locais, além dos contos narrados e registrados no livro de Roberto

Leão, “Maguary, um vôo a seu passado”8, tomado aqui como fonte dessas narrativas

lendárias, tendo em vista que o mesmo realizou e transcreveu algumas narrativas do

imaginário popular de seus entrevistados em sua publicação.

Dentre os entrevistados, temos Jocelino Antônio dos

Santos ou Seu Jocelino como é conhecido. Com 83 anos de idade

e grande lucidez, ribeirinho nascido na cidade de Maracanã - PA,

chegou em Ananindeua por volta de 1951, a convite de familiares

e em busca de emprego. Sem ensino medo concluído, Jocelino

ainda jovem contou com a sorte e sua habilidade no futebol para

se enturmar e trabalhar; quando chegou em Ananindeua,

procurou a sede do Maguary Sport Club, e entre as partidas foi

avistado por um dos dirigentes do Curtume Maguary, Rufino

Leão, que lhe ofereceu uma vaga no Curtume Maguary. A partir daí, Seu Jocelino passou a

morar em Ananindeua. Além do trabalho no Curtume, Jocelino pescava no Rio Maguary,

retirava pedras de mármore para venda, colhia açaí e caçava nas matas do Curtume.

Dentre as histórias narradas por Jocelino, algumas são muito intrigantes, assim como

os episódios do lendário “Boto e o Mingau Milho”, o “Boi do Carizal”, a “Sereia do

Maguary”, o “Homem Que Virava Porco”, a “Matinta Pereira – Maria Cacete”, o “Tamanduá

Labisomem”, a “Sereia do São Sebastião”, entre outras das quais testemunhou o ocorrido ou

ouvira falar. Em suas narrativas ricas de detalhes, percebemos a reação constante com a

natureza local, o trabalho e a comunidade, sempre associando os contos imaginários com o

cenário do Curtume Maguary e das áreas mais conhecidas no centro Ananindeuense.

8 Para saber mais ver: LEÂO, Roberto Queiros de. Maguary: Vôo ao seu Passado. Ananindeua: Gráfica

Sagrada Família, 1999.

Page 16: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

14

Imagem 02: Dona Inácia.

Data: 2013. Fonte: Arquivo

pessoal Bruno Costa.

Em certo momento da entrevista, indagado a importância dessa memória e dessas

histórias em sua vida, Jocelino afirma:

Rapaz, isso tudo ai faz parte da gente né! se não fosse essas história o que que

agente ia falar? Quando era mais novo agente dizia que não acreditava, que não

sabia se era verdade mas morria de medo, até que acontecia com agente. Todos

meus amigos, assim de longa data né, já viram uma visagem dessas, era lobisomem,

era o homem que virava porco, era a Maria cacete, [...] então isso faz parte da gente,

no nosso tempo era poca gente, era só mato, e tinha muito isso, e não é marmota

não, é de verdade mesmo, pode escrever que ninguém me disse, é de verdade.(sic)

Assim como Jocelino, Maria de Lurdes, ou como conhecida, dona Lurdinha, também

testemunha a importância do mesmo.

Meu filho, no nosso tempo, meu e do teu avô, era bem poca coisa que tinha aqui,

agente tinha muito estudo, mas era pouca coisa, então pra gente não fica na rua, ou

faze danação as mães da gente contava essas histórias pra bota medo, mas agente

sempre ouvia alguém dizendo que viu, que era perseguido por essas visagem ai. Se

não fosse eu te medo disso eu saia de noite, ia pra festa, era mais danada, sabe como

é. Então isso também conta né, Porque agente tinha medo, então se não fosse isso

todas nós mocinhas seriam diferentes né, hoje agente lembra e acha graça, mas no

tempo né, ixi meu filho era se pelá de medo (sic).

Dona Lurdinha tem 79 anos, nascida em Ananindeua, que morava na chácara Mojuí

(Estrada BR-316, próximo ao colégio Salesiano), possui muitas lembranças de seu período

escolar e juventude. Apesar de transparecer muita resistência ao falar da questão lendária

local, não nega que sempre ouvira “histórias que o povo contava quando vinha das festas”,

mas por ser “mulher de muita fé e crente em Deus” dizia não acreditava no que o povo lhe

contava, todavia não “[dava] oportunidade pro azar”.

Discurso bastante semelhante ao apresentado pela

entrevistada Inácia Freitas, ou Dona Inácia, que afirma não saber

das histórias lendárias, porém, logo em seguida afirma que os

moradores da região contavam diversos acontecimentos das lendas

locais. Afirmando que:

Page 17: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

15

Isso ai eu não sei, mas isso é o que o povo conta né, eu não sei porque eu não andava

pra essas bandas, mas tinha sim umas histórias de um homem que virava porco aí

pelo cemitério, uma visagem de cadeira de rodas, falavam nessas coisas de matinta,

da velha da pimenteira, mas eu não sei. Não sei porque mamãe era mulher de muita

fé, e dizia que isso aí era coisa de macumba, de gente bebida e que não era pra dar

trela nessas histórias.(sic)

Diferente da entrevistada Ana Célia, sobrinha de Dona Lurdinha, que ao crescer

ouvindo todas as noites de sua mãe as histórias tenebrosas de “visagens”, até hoje teme ser

“atormentada por essas coisas”. Ana Célia nasceu em Ananindeua, tem 44 anos, moradora do

bairro centro, na estrada do Maguary (atual Claudio Saunders). Em uma família humilde de

11 irmãos, Ana Célia ouvira todos os dias, diversas histórias de assombrações e visagens que

apareciam na região, principalmente à noite, sempre associados a alguma restrição como

dormir cedo, não andar em determinado local, não mexer em determinados objetos ou plantas.

O que nos lembra de uma de suas narrativas, bastante popular na região, sobre a lenda

da “Velha da Pimenteira”. Em todas as casa havia uma pimenteira bem à frente, onde dessa

não se poderia mexer ou colher uma única pimenta, pois se assim o fizesse, a velha da

pimenteira viria atormentar que mexeu em sua planta. Certo dia um de seus irmãos colheu

algumas pimentas do local e “passou a ter uma má sorte por meses, nem banho de cheiro dava

jeito no mal olhado”. Foi então que sua mãe descobriu o motivo, e o fez regar a pimenteira

todos os dias com caldo de carne, até que seu tormento passou. Assim nos contou Ana Célia.

Ana Célia ainda conta histórias que ouviu falar de seus irmãos, parentes e amigos,

assim como a história do “Velho de cadeira de rodas”, “matinta pereira”, “homem que virava

porco”, entre outras também já citadas por outros entrevistados.

O que podemos perceber nessas falas, são as relações das lendas com os horários e a

territorialidade. Existem espaços específicos, horários e locais onde a incidência desses

acontecimentos são maiores; a relação entre os acontecimentos importantes, as festas e as

datas comemorativas da região, com o âmbito familiar; a presença determinante dos

elementos da natureza e dos espaços públicos nas narrativas, mas principalmente a relação

pessoal entre o acontecimento e a memória de vida, de um tempo passado que parece não

mais poder existir. Praticamente todas as entrevistas possuem as frases do tipo “naquele

tempo era diferente”, “nos bons tempos”, “no tempo em que aqui era tranquilo”, ou “quando

aqui era bunito”.

Page 18: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

16

Essas são frases presentes em todas as entrevistas realizadas, e apesar dos relatos

serem associados a visagens e assombrações, sempre estando nítido o tom saudosista, atrelado

a uma memória afetiva significativamente importante e carregada de valores. Como nos

contou donas Graça, Lurdinha e Inácia: “aquilo era pra botar medo na gente”. Praticamente as

mesmas palavras ligadas a algum tipo de regras, de restrição, onde os pais usavam desses

contos para repreender ou conter atitudes desrespeitosas dos filhos.

Fator este que certamente contribuiu nas amarras de afetividade dos fragmentos de

memória, em se cristalizarem e permanecerem vivos nos discursos, nas histórias e nas

memórias de vida desses entrevistados. Neste sentido, nos apropriando do conceito de

representação da memória coletiva (CHARTIER, 1992) e considerando que, mesmo algumas

das narrativas sejam casos individuais, existe um consenso entre os moradores mais antigos

locais da existência dessas narrativas míticas, mesmo a quem não tenha testemunhado, já

ouviu alguma dessas histórias narradas.

Diante deste quadro empregamos as narrativas dos entrevistados dentro da

representação de uma memória coletiva local, como elemento pertencente às características

culturais locais, em virtude de sua significativa presença nas relações sociais estabelecidas

dentro do município de Ananindeua por seus moradores, e principalmente, pela carga afetiva

que essa memória carrega ao ser trazida à tona, caracterizando-a assim como elemento

cultural pertencente identidade local.

3 A EDUCAÇÃO PATRIMÔNIAL E A IDENTIDADE LOCAL ATRAVÉS DAS

LENDAS

A educação patrimonial procura proporcionara tomada de conhecimento e consciência

de uma determinada comunidade, acerca da relevância, valorização e resguardo de seus

patrimônios culturais locais percebendo, através da interação entre grupos sociais distintos,

suas especificidades, que por sua vez, os distinguem dos demais e reafirmam suas identidades

culturais. Para tanto se faz necessário primeiramente conhecer suas próprias culturas, através

de um processo específico de educação ou contato direto com o patrimônio cultural, chamado

Educação Patrimonial.

Page 19: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

17

A educação patrimonial busca trabalhar uma sensibilização dos sujeitos, para que estes

tomem contato com suas culturas de forma instrumentalizada através de seu universo

cotidiano, estabelecendo paralelos entre as práticas do presente e as do passado. Portanto, a

educação patrimonial segue no sentido mais antropológico da epistemologia da palavra:

educar, ensinar, revelar, descobrir, mostrar o que é seu (ou de sua comunidade) e como você

se identifica com aquilo. Todavia, este é só o primeiro passo, com a finalidade de fomentar a

valorização e manutenção destes patrimônios.

Um dois maiores objetivos da educação patrimonial é valorizar a sociedade e suas

memórias, onde através destas o sujeito se percebe como agente pertencente aos processos

históricos, como afirma SABELLA (2007, p. 1) apud Halbawchs (1990):

Os princípios básicos da educação patrimonial, alicerçam o binômio Patrimônio-

Cidadania, proporcionando o debate acerca da importância do direito à Memória,

consagrando aos sujeitos comuns a oportunidade de agir no esforço de destituir a

“memória-poder” via agregação e socialização da memória coletiva, quando as

lembranças dos acontecimentos e as experiências são compartilhadas, vivenciadas

por grupos – em sua pluralidade – e legadas a sucessivas gerações.

Sendo assim, a educação patrimonial atua como elo entre o sujeito e sua memória, à

sociedade e suas culturas pertencentes, fazendo com que o mesmo perceba sua importância

dentro de uma coletividade nos processos de construção histórico-culturais locais,

contribuindo não só para práticas de preservação cultural como também estabelecer laços

conectores entre o individuo, a sociedade, as culturas e o meio ao qual pertencem.

Tomado por conhecimento a teoria do potencial da Educação Patrimonial, a prática da

mesma, considerando seus aspectos mitológicos, em comunidades que desconhecem sua

identidade cultural ou até mesmo seus processos históricos, torna o desafio ainda mais amplo,

sem falar na falta de informações e escassez de fontes orais locais.

A prática da educação patrimonial no Pará, ainda se dá de forma tímida e pontual, suas

dificuldades são muitas e a falta de conhecimento específico no assunto é grande,

principalmente quando não se valorizam os bens patrimoniais nestas localidades. No caso de

Ananindeua o agravante se torna mais evidente por se tratar de uma cidade que urbanizou-se

reconstruindo seus equipamentos, substituindo a pouca estrutura existente nos processos de

ocupação. É, portanto, um município que atualmente desconhece (em sua maioria) seus

Page 20: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

18

patrimônios culturais. Todavia, não é preciso procurar muito para se perceber seu rico

potencial cultural, no que tange aos patrimônios imateriais: Ananindeua ainda possuí diversas

lendas e contos locais vivos na memória de alguns dos moradores mais antigos.

Sendo estas lendas e mitos elementos representativos dessa sociedade, deve-se

explorar suas peculiaridades em busca de uma valorização cultural mais incisiva dentro da

sociedade. As lendas nos revelam histórias, hábitos, costumes, detalhes de festas, espaços

sociais e comportamentos cotidianos de um determinado período, além do imaginário local e

os processos históricos existentes na região.

A valorização das lendas e sua utilização nos processos educacionais, não só garantem

a permanência das memórias culturais, como inserem entre o aluno e sua realidade local nos

contextos históricos regionais, fazendo com que o mesmo perceba seu lugar e estabelecendo

relação entre o presente e o passado não distante.

Neste caso a educação patrimonial funcionaria como ferramenta metodológica através

de atividades atreladas a pedagogia educacional do ensino regular, atuando em atividades e

projetos voltados à valorização cultural de forma interdisciplinar nas escolas locais, inserindo

paulatinamente, a realidade local nos processos educacionais. Esta prática introdutória à

educação patrimonial avançaria ao longo das atividades e objetivaria fomentar nos alunos a

busca e valorização da cultura local, transformando-os em agente multiplicadores desta ideia.

Através de um processo educacional que valorize e se utilize da cultura local para

fomentar o conhecimento, buscar-se-ia nas lendas mitos de Ananindeua trabalhar o

imaginário popular local, em um constante processo de construção de conhecimento e

valorização social de forma que a realidade existente no município estabeleça paralelos

comparativos aos processos históricos ocorridos no Pará e no Brasil, aproximando a realidade

local dos contextos mais amplos na história brasileira.

Estas práticas fortalecidas e reconhecidas pela própria sociedade, evidenciam os

processos culturais existentes e inserem o contexto local ao regional e nacional, possibilitando

maior autovalorização dos sujeitos e sociedades locais, consequentemente, maior reafirmação

cultural que permitem legitimar a identidade cultural dessa comunidade e do município.

Embora somente a educação patrimonial não dê conta desta árdua e difícil tarefa, a

mesma se demonstra como importante ferramenta metodológica para atingirmos este objetivo.

É através da cultura local (no caso deste artigo, com ênfase nas lendas e mitos), que

Page 21: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

19

reforçamos nossa identidade, evidenciamos nossas culturas e valorizamos nossa sociedade.

Elementos estes que se encontram dentro de nós e estão presentes em tudo que fazemos nos

definindo perante aos outros, para saber quem somos.

Considerando também a educação patrimonial como forma eficaz de promover e

fomentar a cultura, na tentativa de sensibilizar a sociedade para preservar seus bens

patrimoniais e valorizar suas culturas. A educação patrimonial dá subsídio aos membros da

sociedade local para fomentar e apontar seus patrimônios de acordo com sua carga afetiva e

simbólica. Deve partir da sociedade local a significação de seus bens, assim como interesse na

salvaguarda e preservação dos mesmos, sendo o despertar desta consciência que busca

alcançar a educação patrimonial.

Page 22: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

20

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora ainda seja de desconhecimentos de muitos a participação e o histórico do

município de Ananindeua, não devemos desconsiderar sua importância nos desfechos da

história local. A região que inicialmente se pretendia criar uma imensa colônia habitacional

para minimizar os problemas de inchaço populacional de Belém, e aquela região que seria o

grande parque industrial do estado, abrigou centenas de famílias, de todas as classes sociais,

culturas distintas, hábitos e costumes dos mais variados.

A construção da sociedade ananindeuense que se originou na primeira metade do

século XIX, com engenhos de açúcar e hortaliças, comunidades ribeirinhas e produtoras de

farinha, pequenos portos de abastecimento a caminho de Belém, conseguiu se estruturar e

desenvolver de forma acolhedora aos imigrantes portugueses, japoneses, alemães, nordestino,

gaúchos e muito outros. Uma cidade que inicia sua história acolhendo pessoas, e proporciona

oportunidades aos novos filhos da terra. É de se entender que no amálgama de tantas culturas

distintas, e tantos hábitos estranhos, surjam ricas e diversas expressões culturais, na memória

de quem chegou e ficou, se constrói a cara ananin.

Em busca da valorização dessa memória histórica e cultural, que se propõe a

incansável tentativa de valorização e fomento cultural deste município. Através de bens

culturais, ainda que pouco percebidos, presentes na sociedade, as lendas e mitos locais se

revelam como possibilidade abundante na caracterização da face cultural ananim.

As lendas e mitos locais trazem consigo não só uma carga simbólica e afetiva valorosa

como também nos possibilitam explorar a mentalidade, comportamento, processos históricos

e memória social coletiva em um determinado espaço e tempo. É através de sua valorização e

multiplicação que podemos perceber parte de nós, pertencentes a um todo mais amplo, que

valoriza nossas histórias, nossas culturas e nossa sociedade.

Como elemento pertencente ao patrimônio imaterial, as lendas locais carregadas de

memória histórica possuem parte dos indivíduos dessa sociedade, e rememora-las traz à tona

todo cenários de outrora, já não mais existente na materialidade.

Entendendo o Patrimônio Imaterial como expressões cotidianas do imaginário popular

carregadas de significados e afetividades os quais servem de referência a um tempo de outrora

Page 23: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

21

dessa sociedade, e considerando alguns casos às narrativas encontradas somente nessa

localidade, nada mais evidente para referenciar ou representar sua identidade cultural

imaterial do que as lendas e mitos, tão presentes no passado (e ainda nos dias atuais), desta

sociedade.

Reconhecendo as expressões míticas e evidenciando o imaginário local como

patrimônios culturais imateriais do município, poder-se-ia trabalhar seu fomento cultural

através dos processos de educação social no município através da Educação Patrimonial

como, até então, uma ferramenta metodológica mais eficiente neste processo.

A educação patrimonial, através destas lendas, buscará estabelecer todos estes

parâmetros e objetivos, sempre na perspectiva da construção de conhecimento histórico e

social através da valorização cultural, ou seja, da valorização da sociedade.

Certamente é possível estabelecer a relação das lendas e mitos locais como patrimônio

cultural imaterial, e de certo que uma forma eficiente em trabalhar este processo de

valorização do mesmo, se dá através da educação patrimonial. Neste âmbito, ambos

funcionam como via de mão dupla, onde a educação patrimonial se vale do patrimônio

cultural e vice-versa. Porém, não podemos conceber a cultura apenas como identidade ou

manifestação cultural, tão pouco restringi-las apenas a conotação histórica. É preciso que a

mesma seja trabalhada em seu conceito mais amplo, não desvencilhada de outras cearas como

sociedade, saúde, economia, etc. a interação ou interdisciplinaridade devem ser constantes e

amplamente exploradas, para que o sujeito se dê conta que a cultura faz parte de si, e de tudo

que o cerca.

Page 24: Lendas e Mitos Ananins - Bruno Silva Costa

22

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ENTREVISTAS ORAIS

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Entrevista concedida à Bruno Costa.

FREITAS, Inácia das Graças. Lendas e Mitos de Ananindeua. (Ananindeua), 13 de Set.

2012. Entrevista concedida à Bruno Costa.

VIEIRA, Maria das Graças dos Santos. Lendas e Mitos de Ananindeua. (Ananindeua), 07

Set. 2012. Entrevista concedida à Bruno Costa.

SANTOS, Maria de Lurdes Gonçalves dos. Lendas e Mitos de Ananindeua. (Ananindeua),

01 de Ago. 2012. Entrevista concedida à Bruno Costa.

SANTOS, Jocelino Antônio dos. Lendas e Mitos de Ananindeua. (Ananindeua), 25 de Ago.

2012. Entrevista concedida à Bruno Costa.