Leitura Dirigida Hannah Arendt 09 de Junho de 2016

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Leitura dirigida Hannah Arendt 09 de junho de 2016 Vivian Baroni Compreensão e polítia . In: ARENDT, H. A dignidade da política. 2ed. Rio de Janeiro: Relume- Dumará, !!", p."!-#". !arte " # $enso omum e juí%o& p'((#(9 $uando algo no%o reponta no &ori'onte &i(t)rico, %emo-no( *ue(tionado( (o+re a po((i+ilidade *ue a( categoria( da compreen(o no (eam mai( (uiciente( para e/plicar e((e no%o. Ne((e ca(o, pode parecer- no( correto no( re(tringirmo( 0 compreen(o preliminar e ao eno*ue cientíico, 1dedu'indo metodicamente o *ue no tem precedente( de precedente( 3ARENDT , !!!", p. 445. 6ara Arendt, a compreen(o mant7m uma rela8o to e(treita com o uí'o *ue am+o( podem (er de(crito( como (u+(un8o, o *ue, para 9ant, 7 a  pr)pria deini8o de uí'o. A (ua au(ncia, (eria, ento, a 1e(tupide', uma doen8a incurá%el. A *ue(to central e(tá no ato *ue a nece((idade de tran(cender a pr7-compreen(o e a a+ordagem cientiici(ta implica na con(tata8o da perda do( elemento( tradicionai( *ue no( permitiam compreender o( en;meno(. <u (ea, a( in(t=ncia( primária( do (en(o comum entraram em colap(o, (endo agora impo((í%el no( mo%ermo( pela( me(ma( regra( do *ue um dia á oi e(ta+elecido como (en(o comum. No mundo moderno, a( ideia( de aceita8o mai( gerai(, a((im como a( no8>e( comun( de conduta, oram atacada(, reutada( e di((ol%ida( pelo( ato(, tornando impo((í%el ormular um padro de uí'o +a(eado na( pr7- compreen(o at7 ento %igente(. Re(gatando ?onte(*uieu, Arendt re((alta a import=ncia do( co(tume( e da( tradi8>e( em uma na8o. ?e(mo com a alncia do E(tado, o( indi%íduo( ainda continuam a (e comportar conorme padr>e( de moralidade *ue, no entanto, pode perder (eu( undamento( em %irtude do (eu de(mantelamento. @ontudo, (omente (e pode coniar na tradi8o para manter intacto( o( co(tume( durante um período limitado de tempo. 6oi(, (em uma +a(e legal de (u(tenta8o *ual*uer contingncia pode amea8ar uma (ociedade *ue no e(tá mai( gara ntida pelo( (eu( cidado( 3ARENDT, !!", p. 45. <u (ea, rente a algum a+u(o prolongado de poder ou de(poti(mo, no &a%eria atmo(era ou co(tume *ue re(i(ti((e.  No (7culo BIB o elemento *ue %iria a cau(ar a alncia do( co(tume( (eria a Re%olu8o Indu(trial. A tran(orma8o parece ter (e dado dentro de uma e(trutura política em *ue a( +a(e( no e(ta%am mai( (egura(. De((a maneira, 1arre+atou uma (ociedade *ue, em+ora ainda o((e capa' de compreender e ulgar, no mai( poderia e/plicar (ua( categoria( de e/plica8o e padr>e( de uí'o, *uando e(te( o((em (eriamente de(aiado( 3ARENDT, !! ", p. 4C5. Ta l ato pode ornecer uma pi(ta no para o totalitari( mo, ma( para o ato de *ue a tradi8o ten&a icado (em re(po(ta( diante da( *ue(t>e( morai( apre(entada( pelo no((o tempo. @ontudo, o( temore( de ?onte(*uieu %o mai( longe, apontando *ue e((a perda do( antigo( reerenciai( do (en(o comum, en%o l%e tam+7m uma mod iica8o e((encial da pr)pria nature'a &umana. Trata-(e, na realidade do totalitari(mo, da po((i+ilidade +a(tante reali(ta de perda da nature'a do &omem (o+ o prete/to de tran(orma-la. ltrapa((ando a mera perda da capacidade de a8o política, a alta de (entido ou

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Leitura dirigida Hannah Arendt 09 de junho de 2016

Vivian Baroni

Compreensão e polítia. In: ARENDT, H. A dignidade da política. 2ed. Rio de Janeiro: Relume-

Dumará, !!", p."!-#".

!arte " # $enso omum e juí%o& p'((#(9

$uando algo no%o reponta no &ori'onte &i(t)rico, %emo-no( *ue(tionado( (o+re a po((i+ilidade *ue

a( categoria( da compreen(o no (eam mai( (uiciente( para e/plicar e((e no%o. Ne((e ca(o, pode parecer-

no( correto no( re(tringirmo( 0 compreen(o preliminar e ao eno*ue cientíico, 1dedu'indo metodicamente

o *ue no tem precedente( de precedente( 3ARENDT, !!!", p. 445. 6ara Arendt, a compreen(o mant7m

uma rela8o to e(treita com o uí'o *ue am+o( podem (er de(crito( como (u+(un8o, o *ue, para 9ant, 7 a

 pr)pria deini8o de uí'o. A (ua au(ncia, (eria, ento, a 1e(tupide', uma doen8a incurá%el.A *ue(to central e(tá no ato *ue a nece((idade de tran(cender a pr7-compreen(o e a a+ordagem

cientiici(ta implica na con(tata8o da perda do( elemento( tradicionai( *ue no( permitiam compreender o(

en;meno(. <u (ea, a( in(t=ncia( primária( do (en(o comum entraram em colap(o, (endo agora impo((í%el

no( mo%ermo( pela( me(ma( regra( do *ue um dia á oi e(ta+elecido como (en(o comum. No mundo

moderno, a( ideia( de aceita8o mai( gerai(, a((im como a( no8>e( comun( de conduta, oram atacada(,

reutada( e di((ol%ida( pelo( ato(, tornando impo((í%el ormular um padro de uí'o +a(eado na( pr7-

compreen(o at7 ento %igente(.

Re(gatando ?onte(*uieu, Arendt re((alta a import=ncia do( co(tume( e da( tradi8>e( em uma na8o.

?e(mo com a alncia do E(tado, o( indi%íduo( ainda continuam a (e comportar conorme padr>e( de

moralidade *ue, no entanto, pode perder (eu( undamento( em %irtude do (eu de(mantelamento. @ontudo,

(omente (e pode coniar na tradi8o para manter intacto( o( co(tume( durante um período limitado de

tempo. 6oi(, (em uma +a(e legal de (u(tenta8o *ual*uer contingncia pode amea8ar uma (ociedade *ue no

e(tá mai( garantida pelo( (eu( cidado( 3ARENDT, !!", p. 45. <u (ea, rente a algum a+u(o prolongado

de poder ou de(poti(mo, no &a%eria atmo(era ou co(tume *ue re(i(ti((e.

 No (7culo BIB o elemento *ue %iria a cau(ar a alncia do( co(tume( (eria a Re%olu8o Indu(trial. A

tran(orma8o parece ter (e dado dentro de uma e(trutura política em *ue a( +a(e( no e(ta%am mai(

(egura(. De((a maneira, 1arre+atou uma (ociedade *ue, em+ora ainda o((e capa' de compreender e ulgar,

no mai( poderia e/plicar (ua( categoria( de e/plica8o e padr>e( de uí'o, *uando e(te( o((em (eriamente

de(aiado( 3ARENDT, !!", p. 4C5. Tal ato pode ornecer uma pi(ta no para o totalitari(mo, ma( para o

ato de *ue a tradi8o ten&a icado (em re(po(ta( diante da( *ue(t>e( morai( apre(entada( pelo no((o tempo.

@ontudo, o( temore( de ?onte(*uieu %o mai( longe, apontando *ue e((a perda do( antigo(

reerenciai( do (en(o comum, en%ol%e tam+7m uma modiica8o e((encial da pr)pria nature'a &umana.

Trata-(e, na realidade do totalitari(mo, da po((i+ilidade +a(tante reali(ta de perda da nature'a do &omem (o+

o prete/to de tran(orma-la. ltrapa((ando a mera perda da capacidade de a8o política, a alta de (entido ou

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do (en(o comum, reere-(e 0 perda da +u(ca pela po((i+ilidade de compreen(o. Ne((e ca(o, (u+(titui-(e a

l)gica peculiar e engen&o(a do (en(o comum pelo rigor do pen(amento totalitário.

!arte ) * Compreensão e imagina+ão& p')2#)"

6ara Arendt, (e a e((ncia da a8o política 7 a'er um no%o come8o, ento toda a compreen(o torna-

(e o outro lado da a8o: 1uma orma de cogni8o, dierente da( muita( outra(, *ue permite ao( &omen( de

a8o ...F, no inal da( conta(, aprender a lidar com o *ue irre%oga%elmente pa((ou e reconciliar-(e com o

*ue ine%ita%elmente e/i(te 3ARENDT, !!", p. #25. A imagina8o oge da( deini8>e( pragmática(,

a((emel&ando-(e ao( grande( pen(amento( *ue continuam girando em círculo(, i((o por*ue do (empre

margem para o diálogo interminá%el, entre o pen(amento, ele me(mo, e a e((ncia de tudo o *ue 7.

Arendt compara a imagina8o como proce((o compreen(i%o com a metáora do Rei Galomo , *ue

 pediu a Deu( um 1cora8o compreen(i%o. A*ui, a compreen(o no pode (er %i(ta como uma atitude

meramente pa((i%a, no (entido da aceita8o, ma( *ue alude ao di(cernimento. Remete ainda ao( =m+ito((en(í%ei( da compreen(o, indicando ainda a (ua import=ncia em iniciar no%o( come8o(: 1o cora8o

&umano, to aa(tado do (entimentali(mo *uanto da +urocracia, 7 a nica coi(a no mundo *ue irá incum+ir-

(e da re(pon(a+ilidade impo(ta a n)( pelo dom di%ino da a8o, o dom de (er um come8o e portanto (er capa'

de a'er um come8o 3ARENDT, !!", p. #25.

A aculdade da imagina8o intere((a-(e por a*uilo *ue permanece oculto, pelo *ue no 7 e%idente, ma( *ue

di(tinta da anta(ia, oca-(e no real. 6ela per(pecti%a da imagina8o, 7 po((í%el %ermo( a( coi(a( em (ua

%erdadeira e((ncia, poi( 7 ela *ue coloca a( coi(a( a uma certa di(t=ncia, capa' de dar uma per(pecti%a

dierente ao( pro+lema(. 6ara Arendt, (em a imagina8o no (eriamo( capa'e( de no( mo%imentarmo( no

mundo, poi( ela unciona como uma +((ola interna. 6ara *ue po((amo( realmente a'er parte da (ociedade

contempor=nea, 7 undamental para Arendt *ue a po((amo( compreender primeiro.

6ode-(e di'er *ue a imagina8o a+arca uma concep8o de con&ecimento *ue no (e pauta na*uilo

*ue á e(ta dado, no (e circun(cre%endo 0 deini8o ec&ada e teleol)gica. $uando 9ant (e reere ao uí'o

e(t7tico dei/a claro *ue, tanto o uí'o político *uanto o e(t7tico no podem (er re(trito(, poi( ele( no

$uando Galomo a((ume o reinado dei/ado pela morte de (eu pai, Da%i, Deu( aparece a ele em

um (on&o e l&e concede um de(eo. Galomo di' a Deu( *ue, em+ora ten&a (e tornado rei, ainda no pa((a

de uma crian8a, pedindo, portanto, um cora8o compreen(i%o para ulgar o (eu po%o e di(cernir entre o +em

e o mal. Na man& (eguinte, aparecem dua( mul&ere( com uma crian8a, cada *ual di'endo *ue a crian8a 7

(ua. rente a impo((i+ilidade de deinir *ual 7 a me %erdadeira, Galomo ordena *ue (e di%ida a crian8a em

dua(, entregando uma parte a cada me. rente ao( prote(to( da primeira me, *ue pede *ue entregue o il&o

a outra, contanto *ue o dei/e %i%er, Galomo identiica a %erdadeira me. Galomo 7 con&ecido na mitologiacomo o rei u(to. < conceito de u(ti8a e compreen(o a*ui no (e reere a uma l)gica e(tritamente urídica,

ma( (e e*uipara a capacidade alargada do (en(í%el, na (ua compreen(o do amor, poi( ele perce+e

claramente *ue a me da crian8a 7 a*uela *ue preere renunciar a ela a %-la (orer.

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 po((uem uma uni%er(alidade dada. Nele(, no 7 po((í%el pre%er onde (e pode ou (e de%e c&egar, o uni%er(al

no e(tá dado: de%er (er +u(cado.

,e-er.nias

ARENDT, H. @ompreen(o e política. In: . A dignidade da política. 2ed. Rio de Janeiro: Relume-

Dumará, !!".

KREENE, Li'M GHAR?AN-R9E, Juliet. ma %iagem atra%7( do( mito(. Rio de Janeiro: Oa&ar, 2PP.

9ant, Immanuel. @rítica da aculdade do uí'o. Trad. Qal7rio Ro&den e Ant;nio ?ar*ue(, Rio de Janeiro:

oren(e ni%er(itária, 2PP.