Leitura analítica de um texto publicitário

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RAÍSSA MEDICI DE OLIVEIRA Atividade proposta para encerramento do módulo: “Estudos Bakhtinianos e AD Francesa: aproximações e distanciamentos”, ministrado pela profa. Ma. Marilurdes Cruz Borges, no Curso de Especialização em Estudos Linguísticos e Literários da Universidade de Franca (UNIFRAN) Este trabalho tem como objetivo uma análise do texto de apresentação que acompanha o exemplar gratuito da revista Lola, ou melhor, Lola magazine, revista feminina recentemente lançada pela Editora Abril. No canto superior-direito da página está o nome da publicação: Lola magazine e, logo abaixo, o que nos chama a atenção de imediato é um enunciado que se coloca sobre uma espécie de camada espessa de tinta vermelha, que se prolonga da esquerda – partindo mais ou menos de um ponto central – à direita da página. Nesse instante percebemos que a camada espessa de tinta foi deixada por um pincel que ainda se encontra no canto direito da página, provocando o efeito de sentido de presença do sujeito artista “pintor”, como que se presentificando no ato discursivo. Sobre essa camada de tinta nos salta aos olhos o enunciado “um presente para você”. Somente num segundo momento é que percebemos que tal enunciado se inicia antes da camada de tinta, e então relemos: “Este exemplar é um presente para você”. O efeito de sentido da primeira leitura – garantida pela disposição dos enunciados (canto direito, de cima para baixo) e do uso da cor vermelha, além da presença chamativa do pincel –, de que Lola magazine é um presente para você, prevalece e se reitera ao longo do texto da carta. UNIFRAN 2011

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Breve leitura analítica de um texto de divulgação da revista LOLA.

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RAÍSSA MEDICI DE OLIVEIRA

Atividade proposta para encerramento do módulo: “Estudos Bakhtinianos e AD Francesa: aproximações e distanciamentos”, ministrado pela profa. Ma. Marilurdes Cruz Borges, no Curso

de Especialização em Estudos Linguísticos e Literários da Universidade de Franca (UNIFRAN)

Este trabalho tem como objetivo uma análise do texto de apresentação que acompanha o

exemplar gratuito da revista Lola, ou melhor, Lola magazine, revista feminina recentemente lançada

pela Editora Abril.

No canto superior-direito da página está o nome da publicação: Lola magazine e, logo abaixo,

o que nos chama a atenção de imediato é um enunciado que se coloca sobre uma espécie de camada

espessa de tinta vermelha, que se prolonga da esquerda – partindo mais ou menos de um ponto

central – à direita da página. Nesse instante percebemos que a camada espessa de tinta foi deixada

por um pincel que ainda se encontra no canto direito da página, provocando o efeito de sentido de

presença do sujeito artista “pintor”, como que se presentificando no ato discursivo.

Sobre essa camada de tinta nos salta aos olhos o enunciado “um presente para você”. Somente

num segundo momento é que percebemos que tal enunciado se inicia antes da camada de tinta, e

então relemos: “Este exemplar é um presente para você”. O efeito de sentido da primeira leitura –

garantida pela disposição dos enunciados (canto direito, de cima para baixo) e do uso da cor

vermelha, além da presença chamativa do pincel –, de que Lola magazine é um presente para você,

prevalece e se reitera ao longo do texto da carta.

“Estilo de vida, mimos, perfis, viagem, moda e beleza” são os conteúdos do magazine que

“traz o melhor das revistas femininas embalado em textos saborosos, fotos deslumbrantes e um

estilo de vida surpreendente.” Alguns termos (grifos nossos) nos chamam especial atenção quanto

à carga semântica que carregam: são vocábulos relacionados ao requinte, ao luxo e

consequentemente a um poder aquisitivo maior. Assim, “mimos”, presentes delicados, carregam a

conotação da ação de mimar (a si mesmo ou ao outro) que implica na relação de poder

econômico/aquisitivo maior (quem mima no sentido de oferecer presentes delicados detém tal poder

econômico) e permissão/permissividade (mimar é permitir ou ser permissivo). Os outros termos em

destaque reforçam essa ideia do “poder” do “permitir” e confirmam a tese de que Lola traz um

conteúdo “sofisticado e inspirador”, “o melhor das revistas femininas”, conforme o texto enuncia.

O ato do sujeito discursivo se realiza por meio do processo pelo qual instaura no tempo e no

espaço um público certo para o seu produto e, por meio da ação concreta intencional de fazer-se

enunciado busca a “responsibilidade”, a “participação” daquele com quem dialoga. Para tanto, fia-

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se ao discurso do luxo, do requinte: “Lola é para você que já tem tudo, mas continua querendo o

melhor” e instaura o discurso do pertencimento: “Lola faz parte do seu mundo”.

Lola, forma carinhosa do idioma espanhol para o nome Dolores, que por sua vez tem forte

conotação religiosa (as dores de Maria), é representada não apenas como um periódico, mas como

uma companheira que se propõe a estar presente em todos os momentos da vida de sua leitora que

“tira prazer do trabalho, dos amigos e das pequenas autoindulgências do dia a dia, como viagens,

acessórios, jantares, maquiagem, roupas, massagens, gadgets”. (grifo nosso) O termo

autoindulgências, utilizado no trecho, perde sua conotação religiosa e adquire conotação profana,

resultando em uma forma bastante bem-humorada – assim como o nome do periódico (‘Lola’) que,

como já citado acima, perde sua carga semântica religiosa ao ser empregado em forma reduzida.

A ideia de companhia que pontuamos está presente desde o início do texto, exatamente no

vocábulo ‘Chegou’ do enunciado “Chegou LOLA (...)”, que cria o efeito de sentido de

preenchimento de uma ausência anterior. Continuando a reiteração dessa ideia, os enunciados “Lola

faz parte do seu mundo.”, “(Lola) Fala com charme e bom humor com você (...)”, criam o efeito de

sentido de uma ausência já preenchida e, mais do que isso, de uma cumplicidade já firmada.

Ao final do texto percebe-se o discurso de um sujeito que já confia na adesão voluntária da

leitora a esse novo universo: agora, quem acaba de chegar não é mais Lola (“Chegou Lola (...)” do

discurso inicial), mas sim a leitora que assina um contrato de fidúcia com o sujeito discursivo: “Seja

bem-vinda à LOLA, a nova e surpreendente revista feminina da Editora Abril.”

Por último, um slogan que, reiterando o tema do requinte, do luxo, convoca (manipulação por

provocação) o sujeito-destinatário a se mimar, nos sentidos já analisados acima de “poder” de

“permitir-se”, pois sabe que “você” (leitora) não precisa, mas quer. Mais uma vez, um evento

individualizável (lançamento da revista Lola) com propriedades universalizáveis – ato típico do

discurso publicitário que cria a cada dia novas estratégias para atingir seu maior objetivo: a venda

de novos produtos.

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