LEGENDA ZEITGEIST PARA IMPRESSÃO

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"Numa sociedade decadente, a arte, se verdadeira, deve tambm refletir essa decadncia. E a menos que ela deseje trair sua funo social, a arte deve mostrar o mundo como mutvel. E ajudar a mud-lo." -- Ernst Fischer Revoltas violentas contra o plano do governo para evitar calotes... que o desemprego continua a aumentar e continuar assim porque h uma oferta excessiva de bens de consumo... So emprstimos... ...e esta dvida est retida em bancos estrangeiros... D-I-N-H-E-I-R-O na forma de um conveniente emprstimo pessoal... ...cigarro com filtro que no altera o sabor... Licor de malte "Colt 45"... Voc sexy? Os EUA planejam bombardear o Ir... ...os EUA esto financiando ataques terroristas no Ir... Minha av era uma pessoa maravilhosa. Ela me ensinou a jogar Banco Imobilirio. Ela entendia que o objetivo do jogo comprar. Ela acumulava tudo o que podia e sempre acabava dominando o tabuleiro. E depois ela sempre me dizia a mesma coisa. Ela olhava para mim e dizia: "um dia voc vai aprender a jogar o jogo". Num vero, eu joguei quase todos os dias, o dia inteiro e ento aprendi a jogar o jogo.

Compreendi que a nica forma de ganhar se comprometendo totalmente aquisio. Aprendi que o dinheiro e as posses so as formas de continuar pontuando. Ao final daquele vero, tornei-me mais impiedoso que minha av. Estava pronto para dobrar as regras para ganhar o jogo. Naquele outono, me sentei para jogar com ela. Tomei tudo que ela tinha. Eu a observei entregar seu ltimo dlar e desistir em completa derrota. E ento ela tinha algo a mais para me ensinar. Ento ela disse: "agora tudo volta para a caixa. Todas aquelas casas e hotis. Todas as ferrovias e utilidades pblicas. Todas as propriedades e todo esse dinheiro maravilhoso. Agora tudo volta para a caixa. Nada disso era realmente seu. Voc se empolgou muito com isso por um tempo. Mas tudo j estava aqui muito antes de voc se sentar mesa e continuar aqui depois de voc ir embora -- jogadores vem e vo. Casas e carros... Ttulos e roupas... at o seu corpo". Porque o fato que tudo que eu pego, consumo e guardo voltar para a caixa e irei perder tudo.

Ento voc precisa se perguntar quando finalmente receber a melhor promoo quando fizer a melhor compra quando comprar a melhor casa quando tiver segurana financeira e subido a escada do sucesso at o degrau mais alto que voc pode alcanar... E a emoo acabar e ela vai acabar... e depois? Quo longe voc precisa seguir nesta estrada at perceber aonde ela leva. Certamente voc entende que nunca ser o bastante. Portanto, voc precisa se perguntar: o que importa? Eles so sexy! Eles so ricos! E eles so mimados! O programa n 1 dos EUA est de volta! Gentle Machine Productions apresenta um filme de Peter Joseph Quando eu era um jovem crescendo na cidade de Nova Iorque me recusei a jurar lealdade bandeira. Obviamente, fui mandado para a sala do diretor.

E ele me perguntou: "por que no quer fazer o juramento? Todos fazem". Respondi que todos j acreditaram que a Terra era plana mas que isso no a tornava plana. Expliquei que os EUA deviam tudo o que tinham a outras culturas e outras naes e que eu preferiria fazer juramento Terra e a todos os seus habitantes. Nem preciso dizer que no demorou para eu sair da escola completamente. Montei um laboratrio em meu quarto. L comecei a aprender sobre cincia e natureza. Percebi, ento, que o universo regido por leis e que o ser humano, junto com a sociedade em si, no estava livre destas leis. Veio ento a crise de 1929, que iniciou o que hoje chamamos de a "Grande Depresso". Eu achava difcil de entender porque milhes estavam desempregados, sem teto, passando fome enquanto todas as fbricas estavam l paradas. Os recursos seguiam os mesmos. Foi ento que percebi

que as regras do jogo econmico eram inerentemente invlidas. Logo depois, veio a Segunda Guerra Mundial onde vrias naes revezavam-se destruindo sistematicamente umas s outras. Eu depois calculei que toda a destruio e recursos desperdiados naquela guerra poderiam ter facilmente satisfeito todas as necessidades da humanidade. Desde ento, tenho observado a humanidade preparar a sua prpria extino. Vi os recursos preciosos e finitos serem continuamente desperdiados e destrudos em nome do lucro e do livre mercado. Vi os valores da sociedade serem reduzidos a uma artificialidade baixa de materialismo e consumo irracional e vi o poder monetrio controlar a estrutura poltica de sociedades supostamente livres. Hoje, tenho 94 anos e receio que minha postura seja a mesma de 75 anos atrs. Essa merda precisa acabar. ZEITGEIST

ZEITGEIST: MOVING FORWARD

"Nunca duvide que um pequeno grupo de cidados prestativos e responsveis possa mudar o mundo. Na verdade, assim que tem acontecido sempre." -- Margaret Mead PARTE 1: NATUREZA HUMANA Ento, voc um cientista e certa altura, martelam na sua cabea o inevitvel "natureza versus criao" e que mais ou menos como a disputa entre Coca e Pepsi ou Gregos versus Troianos. A "natureza versus criao" , a esta altura uma viso completamente simplificada de onde as influncias esto. Influncias no modo como as clulas lidam com uma crise de energia ou at com o que nos molda nos nveis mais individuais de personalidade. Temos essa dicotomia completamente falsa construda em torno da "natureza humana" como determinante na base de toda a causalidade. A vida DNA e o cdigo dos cdigos e o Santo Graal, e tudo guiado por ele... e na outra extremidade, uma perspectiva muito mais sociocientfica onde somos "organismos sociais" e que biologia para micetozorios. Os seres humanos no dependem da biologia e, obviamente, as duas vises so absurdas.

Em vez disso, vemos que praticamente impossvel compreender como a biologia funciona fora do contexto ambiental. GENTICO Uma das ideias mais frustrantes, ainda que difundida e potencialmente perigosa : "ah, aquele comportamento gentico". O que isso significa? Significa todo tipo de sutileza se voc sabe biologia moderna, mas para a maioria das pessoas, acaba significando uma viso determinista da vida, que tm suas razes na biologia e na gentica, em que genes representam coisas imutveis e inevitveis e que talvez no valha a pena gastar recursos tentando consert-las, nem usar as foras da sociedade tentando melhor-las, j que so inevitveis e imutveis... e isto totalmente absurdo. DOENAS 188 00:11:23,919 --> 00:11:26,839 amplamente aceito que doenas como TDAH so programadas geneticamente, assim como distrbios como a esquizofrenia. A verdade o oposto. Nada programado geneticamente.

Existem doenas rarssimas, muito poucas, representadas de forma muito dispersa na populao que so mesmo determinadas geneticamente. A maioria das doenas complexas talvez tenha uma predisposio com um componente gentico mas predisposio no o mesmo que predeterminao. Toda a pesquisa sobre a causa das doenas no genoma estava condenada ao fracasso antes mesmo de algum pensar nisto, porque a maior parte das doenas no predeterminada geneticamente. Doenas cardacas, cncer, derrames, reumatismo, doenas autoimunes em geral, distrbios mentais, vcios... nada disto geneticamente determinado. Por exemplo, a cada 100 mulheres com cncer de mama apenas sete carregam os genes de cncer. 93 no. E de 100 mulheres que tm os genes nem todas tero cncer. COMPORTAMENTO Genes no so apenas coisas que fazem nos comportarmos de maneira especfica independentemente do ambiente. Os genes nos proporcionam formas diferentes de reagir ao ambiente. E, na realidade, parece que algumas das primeiras influncias na infncia e o modo de criar os filhos afetam a expresso gentica, ligando e desligando diferentes genes,

para mudar nossa linha de desenvolvimento para uma que seja compatvel com o tipo de mundo em que vivemos. Por exemplo: um estudo realizado em Montreal com vtimas de suicdio verificou as autopsias dos crebros dessas pessoas e constatou-se que, se uma vtima de suicdio -- geralmente adultos jovens -tivesse sofrido abuso quando criana, esse abuso teria provocado uma mudana gentica no crebro inexistente nos crebros de pessoas que no sofreram abusos. Isso um efeito epigentico. "Epi" significa no "topo de", portanto, influncia epigentica o que acontece no ambiente e que ativa ou desativa certos genes. Na Nova Zelndia, realizou-se um estudo numa cidade chamada Dunedin envolvendo alguns milhares de indivduos, do nascimento aos 20 anos de idade. Eles descobriram que conseguiam identificar uma mutao gentica, um gene anormal que tinha alguma relao com a predisposio violncia, mas somente se o indivduo tambm tivesse sido severamente abusado na infncia. Em outras palavras, uma criana com este gene anormal no est mais propensa que as outras a ser violenta

e, na realidade, elas tinham um ndice de violncia menor que o de pessoas com genes normais, contanto que no fossem abusadas na infncia. Mais um grande exemplo das formas em que os genes no so uma coisa definitiva: uma tcnica curiosa, na qual voc pode retirar um gene especfico de um camundongo, de modo que ele e seus descendentes no tenham mais esse gene. Voc "extinguiu" aquele gene. Existe um gene responsvel pela codificao de uma protena relacionada aprendizagem e memria e, com esta incrvel demonstrao, voc "extingue" o gene e o seu camundongo j no conseguir mais aprender. "Oh! Uma base gentica para a inteligncia!" O que foi ainda mais desprezado neste memorvel estudo que foi divulgado pela mdia por toda parte, pegar os camundongos geneticamente deficientes e cri-los num ambiente muito mais rico e estimulante que uma gaiola comum de laboratrio, onde eles superam completamente essa deficincia. Portanto, quando algum diz, num sentido atual "ah, este comportamento gentico", considerando que essa frase seja mesmo vlida, quer dizer que existe uma contribuio gentica de como este

organismo reage ao ambiente; os genes podem influenciar a prontido com que cada organismo lidar com dado desafio do ambiente. No esta a verso que a maioria das pessoas tem em mente e no quero fazer um "discurso extravagante", mas aceite a velha verso de "isto gentico" e no estar muito longe da histria da eugenia e coisas do tipo. um equvoco muito disseminado e potencialmente perigoso. Um motivo pelo qual a explicao biolgica para a violncia... Um motivo pelo qual essa hiptese perigosa, no apenas equivocada, ela realmente pode ser prejudicial... que se voc acredita mesmo nisso, pode facilmente dizer: "bem, no h nada que possamos fazer para mudar a predisposio que as pessoas tm em se tornar violentas. Tudo o que podemos fazer puni-las, prend-las ou execut-las. Mas no precisamos nos preocupar em mudar o ambiente ou as condies sociais prvias que podem tornar as pessoas violentas porque 0 isso irrelevante".

A explicao gentica nos d o luxo de ignorar o passado e o presente de fatores histricos e sociais e, como disse Louis Menand, que escreveu na revista The New Yorker de forma muito perspicaz: "'est tudo nos genes' uma explicao para nossa condio atual que no ameaa nossa condio atual. Por que algum deveria se sentir triste ou praticar um comportamento antissocial quando vive na nao mais livre e prspera da face da Terra? No pode ser o sistema. Deve haver uma falha interna em algum lugar". O que uma boa maneira de transmitir a ideia. Portanto, o argumento gentico s um pretexto 9 para ignorar os fatores sociais, econmicos e polticos que esto por trs de muitos comportamentos problemticos. ESTUDO DE CASO: VCIOS Vcios so geralmente considerados uma questo relacionada s drogas. Mas olhando de maneira mais ampla, eu defino vcio como qualquer comportamento que esteja associado nsia por um alvio temporrio, com consequncias negativas a longo prazo, junto com a perda do controle sobre isso, de modo que a pessoa quer largar ou promete faz-lo, mas no consegue.

Quando voc compreende isso, nota que h muito mais vcios que os relacionados s drogas. H o vcio em trabalhar; em comprar; o vcio em internet, em jogos eletrnicos... 335 00:18:30,759 --> 00:18:33,400 H o vcio no poder. Pessoas que tm poder mas que desejam mais e mais; nada nunca suficiente para elas. Na aquisio: corporaes que precisam possuir mais e mais. O vcio no petrleo ou pelo menos na riqueza e nos produtos que nos so acessveis pelo petrleo. Olhe para as consequncias negativas no meio ambiente. Ns estamos destruindo nosso planeta por causa desse vcio. Esses vcios so muito mais devastadores em suas consequncias sociais que o uso de cocana ou herona de meus pacientes em Downtown Eastside. Ainda assim, eles so recompensados e considerados respeitveis. O executivo da empresa de tabaco que mostra lucros mais altos, ir receber uma recompensa muito maior. Ele no enfrenta nenhuma consequncia negativa legal ou de outros tipos. Na verdade, ele um membro respeitado da diretoria de vrias outras corporaes. Porm, doenas relacionadas ao fumo matam 5 milhes e meio de pessoas ao redor do mundo a cada ano. Nos EUA, matam 400 mil por ano. E essas pessoas so viciadas em que? Em lucro. Viciadas a tal ponto

que se recusam a reconhecer os impactos de suas atividades, o que tpico de viciados: a negao. Esse vcio respeitvel. respeitvel ser viciado no lucro a todo custo. Portanto, o que aceitvel e respeitvel na nossa sociedade so coisas altamente arbitrrias e parece que quanto maior o dano, mais respeitvel o vcio. O MITO H um mito comum de que as drogas em si so viciantes. Na verdade, a guerra contra as drogas se baseia na ideia de que proibindo a fonte das drogas, voc poder lidar com a dependncia. Se considerarmos o vcio no sentido mais amplo veremos que nada viciante em si. Nenhuma substncia, nenhuma droga por si s viciante e nenhum comportamento por si s, viciante. Muitas pessoas podem fazer compras sem se tornar viciadas em compras. Nem todo mundo se torna um viciado em comida. Nem todo mundo que bebe um copo de vinho torna-se alcolatra. Ento, a questo real o que torna as pessoas suscetveis porque a combinao de um indivduo suscetvel com as substncias ou comportamentos potencialmente viciantes, 0 que contribuem para o pleno desenvolvimento da dependncia. Em suma, no a droga que vicia e sim a questo da suscetibilidade do indivduo em ser viciado em dada substncia ou comportamento. AMBIENTE Se quisermos entender o que

torna algumas pessoas suscetveis, teremos de considerar a experincia de vida. A velha ideia -- antiga mas ainda amplamente aceita -- de que os vcios devem-se a uma causa gentica, cientificamente insustentvel. Na realidade, so certas experincias de vida que tornam as pessoas suscetveis. As experincias de vida no s moldam a personalidade da pessoa e suas necessidades psicolgicas, como tambm seu crebro de maneiras especficas. Esse processo comea no tero. PR-NATAL Foi demonstrado, por exemplo, que se uma me sofrer estresse durante a gravidez, seus filhos tero maiores chances de adquirir caractersticas que os tornaro propensos a vcios. Isso ocorre porque seu desenvolvimento moldado pelo ambiente psicolgico e social. Portanto, a biologia dos seres humanos muito afetada e programada pelas experincias de vida desde o tero. O ambiente no comea no nascimento. O ambiente comea logo que voc tem um ambiente. Assim que voc um feto, est sujeito a qualquer informao que vier atravs do sistema circulatrio da me. Hormnios, nveis de nutrientes... Um memorvel exemplo disto a chamada "Fome Holandesa de 1944". Em 1944, os nazistas ocuparam a Holanda e, por vrios motivos, decidiram pegar toda a comida e enviar para a Alemanha.

Por trs meses, o povo de l ficou faminto e dezenas de milhares de pessoas morreram de fome. O efeito da "Fome Holandesa" : se voc fosse um feto no segundo ou terceiro trimestre durante a fome, seu corpo "aprenderia" algo nico nesse perodo. Ocorre que no segundo e terceiro trimestre que seu corpo est tentando aprender sobre o ambiente. O quo ameaador l fora? O quo abundante? Quantos nutrientes estou recebendo pela circulao de minha me? Seja um feto faminto durante esse perodo e seu corpo ser programado para ser sempre muito mesquinho com os acares e gorduras e voc acabar armazenando cada poro deles. Seja um feto da "Fome Holandesa" e meio sculo depois, com todo o resto igual, voc ser mais propenso a ter presso alta, obesidade ou sndrome metablica. o ambiente agindo num local inesperado. Voc pode estressar fmeas grvidas em laboratrio e sua prole ter uma tendncia maior a usar cocana e lcool, quando adultos. Voc pode estressar grvidas. Por exemplo, um estudo britnico, mostra que mulheres abusadas na gravidez tm um nvel maior do hormnio cortisol em suas placentas durante o parto e seus filhos so mais propensos a condies que os tornaro predispostos a vcios por volta dos 7, 8 anos. Assim, no tero, o estresse j prepara o terreno para todo tipo de problemas de sade mental.

Um estudo israelense realizado em crianas nascidas de mes que estavam grvidas antes do incio da guerra em 1967... Estas mulheres, claro, estavam muito estressadas e seus filhos tiveram uma maior incidncia de esquizofrenia em relao ao grupo mdio. Portanto, hoje h bastante evidncia de que os efeitos do pr-natal tm um enorme impacto no desenvolvimento humano. INFNCIA O detalhe do desenvolvimento humano particularmente do desenvolvimento do crebro humano que este ocorre na maior parte sob o impacto do ambiente e aps o nascimento. Ao nos compararmos ao cavalo que consegue correr no primeiro dia de vida vemos que somos pouco desenvolvidos. No conseguimos reunir tanta coordenao neurolgica, equilbrio, fora muscular e acuidade visual at um ano e meio ou dois de idade. Isto porque o desenvolvimento do crebro no cavalo acontece na segurana do tero. J no homem, precisa ocorrer depois do nascimento. Isso tem a ver com uma simples lgica evolucionria. Conforme a cabea cresce, que o que nos faz humanos -- o desenvolvimento do crebro anterior o que cria a espcie humana, na prtica -ao mesmo tempo, andamos sobre duas pernas, fazendo a plvis se estreitar para se adaptar a isso. Ficamos ento com uma plvis mais estreita, uma cabea maior e bingo: precisamos nascer prematuramente.

E isso significa que o desenvolvimento do crebro, que em outros animais ocorre no tero, ocorre em ns depois do nascimento e em grande parte sob o impacto do ambiente. O conceito de darwinismo neural significa que os circuitos que recebem do meio a informao apropriada vo se desenvolver da melhor forma, e os que no recebem, ou se desenvolvero mal, ou nem mesmo se desenvolvero. Se voc pegar um beb com olhos perfeitamente funcionais e coloc-lo num quarto escuro por cinco anos, ele ficar cego pelo resto da vida, j que os circuitos da viso requerem luz para se desenvolver, e sem esta luz, at mesmo os circuitos bsicos presentes e ativos no nascimento vo se atrofiar e morrer, e novos circuitos no se formaro. MEMRIA H uma maneira significativa pela qual experincias na infncia influenciam o comportamento adulto, at mesmo, e particularmente, as primeiras experincias, das quais no h recordaes. Ocorre que h dois tipos de memria: a memria explcita, que a recordao, pela qual voc se recorda de fatos, detalhes, episdios e circunstncias. Mas a estrutura cerebral chamada hipocampo, que codifica as lembranas, no comea a se desenvolver antes de um ano e meio e no se desenvolve por completo at muito depois. por esta razo que quase ningum possui nenhuma recordao de antes dos 18 meses.

Mas h um outro tipo de memria, chamada memria implcita, que na verdade uma memria emocional, na qual o impacto emocional e a interpretao da criana das experincias emocionais impregnada no crebro na forma de circuitos nervosos prontos para disparar sem uma recordao especfica. Um exemplo claro disso: pessoas que foram adotadas, muitas vezes sentem por toda a vida um sentimento de rejeio. Elas no se recordam da adoo. Elas no se recordam da separao da me biolgica porque no h o que recordar. Mas a memria emocional de separao e rejeio est profundamente enraizada em seus crebros. Assim, elas so muito mais propensas a experimentar um sentimento de rejeio e uma grande perturbao emocional quando se veem rejeitadas, do que as outras pessoas. E isso no vale s para pessoas adotadas, mas tem um efeito mais forte nelas por causa desta funo da memria implcita. Com base em toda a literatura e na minha experincia, os dependentes mais compulsivos so aqueles que foram consideravelmente abusados quando crianas ou sofreram perdas emocionais graves. Suas memrias emocionais ou implcitas so aquelas de um mundo inseguro

e no favorvel, de cuidadores nos quais no podiam confiar e relacionamentos inseguros demais para se abrirem totalmente a eles e, portanto, suas reaes tendem a ser as de se manterem distantes de relacionamentos muito ntimos; no confiam em cuidadores, mdicos e outras pessoas que tentam ajud-los e geralmente veem o mundo como um lugar inseguro... e isso precisamente uma funo da memria implcita o que s vezes tem a ver com incidentes que eles sequer lembram. TOQUE Bebs que nascem prematuros ou muitas vezes em incubadoras e vrios tipos de aparelhos e mquinas por semanas e talvez at meses... Sabe-se agora que, se estas crianas forem tocadas e acariciadas nas costas por apenas 10 minutos por dia, estimula-se seus desenvolvimentos cerebrais. Portanto, o toque humano essencial para o desenvolvimento e, na verdade, as crianas que nunca so pegas no colo tendem a morrer. Isso demonstra o quo fundamental a necessidade do ser humano em ser tocado. Na nossa sociedade h uma infeliz tendncia de dizer aos pais para no pegarem seus filhos, no segur-los, de no abraar os bebs que choram por medo de mim-los ou que para encoraj-los a dormir durante a noite voc no deve abra-los... o que justamente o oposto do que a criana necessita. Essas crianas podem voltar a dormir pelo cansao e seus crebros se desligam como um modo

de se defender da vulnerabilidade de serem abandonados pelos pais. Mas suas memrias implcitas sero de que o mundo no lhes d a mnima. INFNCIA Muitas dessas diferenas so definidas muito cedo. De certo modo, a experincia dos pais nas adversidades, sobre o quo difcil ou fcil a vida pode ser passada aos filhos, seja por meio da depresso materna ou quando os pais esto bravos com seus filhos porque tiveram um dia ruim ou por estarem muito cansados ao final do dia... Isso tem um poderoso efeito programador no desenvolvimento das crianas, pelo que j conhecemos agora. Mas essa sensibilidade prematura no apenas um erro evolucionrio. Ela existe em muitas espcies diferentes, mesmos em plantas h um processo prematuro de adaptao ao tipo de ambiente em que esto se desenvolvendo. Mas nos humanos a adaptao se d na qualidade das relaes sociais. Assim, no incio da vida: quanto estmulo, quantos conflitos, quanta ateno se tem, isto uma "prova" do tipo de mundo em que voc poder crescer. Se voc cresce num mundo onde precisa lutar para conseguir algo, ficar alerta, cuidar de si mesmo, aprender a no confiar em ningum... Ou se cresce numa sociedade onde depende de reciprocidade, mutualidade, cooperao, onde empatia importante, onde sua segurana depende de boas relaes com outros...

precisar ento de um desenvolvimento emocional e cognitivo muito diferente. E disso que se trata a sensibilidade prematura. A paternidade quase que inconscientemente um sistema de passagem de experincia para os filhos... do tipo de mundo em que se encontram. O grande psiquiatra infantil britnico, D. W. Winnicott, disse que, essencialmente, duas coisas podem dar errado na infncia. Uma delas quando acontece o que no deveria acontecer e a outra, quando o que deveria acontecer, no acontece. Na primeira categoria, esto as experincias dramticas, abusivas e de abandono de meus pacientes em Downtown Eastside e de muitos viciados. Isso o que no deveria acontecer, mas aconteceu. Mas h tambm a ateno paterna livre de estresse, sintonizada e sem distrao de que toda criana precisa mas poucas recebem. Elas no so abusadas, no so negligenciadas nem esto traumatizadas. Mas o que deveria acontecer, a presena estimulante de pais emocionalmente dispostos simplesmente no est disponvel para elas por causa do estresse em nossa sociedade e no ambiente familiar. O psiclogo Allan Schore chama isso de "abandono prximo" quando o pai est presente fisicamente mas emocionalmente ausente. Eu passei... aproximadamente, os ltimos 40 anos da minha vida trabalhando com as mais violentas pessoas produzidas pela nossa sociedade:

assassinos, estupradores etc. Na tentativa de compreender o que causa essa violncia, descobri que os criminosos mais violentos em nossas prises tinham eles mesmos sido vtimas de um grau de abuso infantil que ultrapassou tudo que j pensei em chamar de "abuso infantil". Eu no fazia ideia do grau de perverso com que as crianas em nossa sociedade so muitas vezes tratadas. As pessoas mais violentas que vi so sobreviventes de suas prprias tentativas de assassinato, muitas vezes armadas pelos pais ou outras pessoas em seu meio social ou ento so sobreviventes que viram seus familiares mais prximos serem mortos por outras pessoas. Buda defendia que tudo depende de todo o resto. Disse: "o Um contm o Todo e o Todo contm o Um". No se pode compreender nada em isolamento de seu ambiente. A folha contm o sol, o cu e a terra, obviamente. Isto j foi comprovado, claro. Sobretudo em se tratando do desenvolvimento humano. O termo cientfico moderno para isso a natureza biopsicossocial do desenvolvimento humano, que diz que a biologia dos seres humanos depende muito da interao com o ambiente social e psicolgico. Especificamente, o psiquiatra e pesquisador Daniel Siegel da Universidade da Califrnia, LA, UCLA cunhou a expresso "neurobiologia interpessoal" que quer dizer que a maneira como nosso sistema nervoso funciona

depende muito das nossas relaes pessoais. Em primeiro lugar, das relaes com nossos pais. Em segundo lugar, com outras pessoas importantes em nossas vidas. E em terceiro lugar, com toda a nossa cultura. Assim, no se pode separar o funcionamento neurolgico de seres humanos do ambiente onde foram criados e continuam vivendo. Isto vale para todo o ciclo de vida. Especialmente durante o desenvolvimento de nossos crebros, quando estamos vulnerveis. Mas tambm vale para adultos e idosos. CULTURA Seres humanos viveram em quase todo tipo de sociedade. Desde as mais igualitrias... As sociedades de caa e coleta parecem ter sido bastante igualitrias com base na diviso de alimentos, troca de presentes... Pequenos grupos de pessoas vivendo principalmente da coleta e um pouco da caa, basicamente entre pessoas que conheceram por toda vida, cercados de primos de terceiro grau ou mais prximos, num mundo no qual h uma grande fluidez entre diferentes grupos, num mundo em que no h muita coisa em termos de cultura material... Foi assim que os seres humanos passaram a maior parte de sua histria. Naturalmente, isto contribui para um mundo muito diferente. Uma das consequncias, muito menos violncia.

A violncia grupal organizada no uma coisa que acontecia naquele perodo da histria humana e isso parece bvio. Onde ento foi que erramos? A violncia no universal. Ela no simetricamente distribuda entre os homens. H enormes variaes no nvel de violncia em diferentes sociedades. H sociedades sem praticamente nenhuma violncia. H outras que destroem a si mesmas. Alguns grupos da religio anabatista so totalmente pacficos, como os amish, os menonitas, os huteritas... Entre alguns desses grupos, os huteritas, no h registros de homicdio. Durante as Grandes Guerras, como a Segunda Guerra Mundial, quando as pessoas estavam sendo recrutadas, eles se negavam a servir no exrcito. Preferiam ser presos a servir. Nos kibutzim de Israel o nvel de violncia to baixo que as cortes criminais de l muitas vezes enviam infratores violentos, pessoas que cometeram crimes, para viver nos kibutzim, para aprenderem a viver de modo pacfico... porque assim que as pessoas vivem l. Portanto, somos amplamente moldados pela sociedade. Nossas sociedades so, num sentido mais amplo, nossas influncias teolgicas, metafsicas, lingusticas etc. Elas participam na formao de acharmos ou no que a vida basicamente pecado ou beleza;

se na vida aps a morte seremos cobrados pelo modo como vivemos ou se isso irrelevante. De maneira geral, diferentes sociedades podem ser consideradas individualistas ou coletivistas, o que gera pessoas muito diferentes, diferentes mentalidades e, suspeito eu, diferentes crebros como resultado. Ns, nos EUA, vivemos numa das sociedades mais individualistas, e como o capitalismo um sistema que nos permite subir cada vez mais alto numa pirmide em potencial, a questo que isso surge com cada vez menos segurana. Por definio, quanto mais estratificada a sociedade, menor a igualdade, menor o nmero de pessoas com quem voc ter relacionamentos recprocos e simtricos, e em vez disso, ter apenas posies diferentes e hierarquias sem fim... Um mundo onde voc possui poucos parceiros recprocos um mundo com muito menos altrusmo. NATUREZA HUMANA Ento, isso nos leva a uma situao impossvel que tentar buscar uma lgica na cincia da perspectiva... sobre quanto dessa ndole da natureza humana. Em certo nvel a essncia da nossa natureza no nos torna particularmente limitados por nossa natureza. Temos mais variabilidade social do que qualquer outra espcie. Mais sistemas de crena, de estilos de estruturas familiares, de maneiras de criar os filhos. A capacidade de variao que temos extraordinria. Numa sociedade baseada em competio

e, muitas vezes, na explorao implacvel de um ser humano por outro, o ato de lucrar com os problemas alheios e, muitas vezes, a criao de problemas com o propsito de se beneficiar, um comportamento que a ideologia dominante muitas vezes justifica apelando a uma natureza humana fundamental e imutvel. Assim, o mito na sociedade que pessoas so competitivas por natureza, e que so individualistas e egostas. A verdadeira realidade o oposto. Temos certas necessidades humanas. A nica maneira de falar concretamente sobre a natureza humana reconhecendo que h certas necessidades humanas. Temos uma necessidade humana de companheirismo e contato ntimo, de sermos amados, conectados e aceitos, 0 de sermos vistos e recebidos por quem somos. Se essas necessidades so atendidas, evolumos para pessoas compassivas, cooperativas e empticas para com os outros. Ento... o oposto, que muitas vezes vemos em nossa sociedade , na realidade, uma distoro da natureza humana precisamente porque to poucos tm suas necessidades atendidas. Portanto, sim, podemos falar em natureza humana mas apenas no sentido de necessidades humanas bsicas que so naturalmente incitadas ou, devo dizer, certas necessidades humanas que levam a certos traos se forem atendidas e a um diferente conjunto de traos se forem negadas.

Ento... ao reconhecermos o fato de que o organismo humano, o qual possui bastante flexibilidade para adaptar-se permitindo-nos sobreviver em varias condies diferentes, tambm rigidamente programado para certas exigncias ambientais ou necessidades humanas, um imperativo social comea a emergir. Da mesma forma que nossos corpos precisam de nutrientes, o crebro humano precisa de formas positivas de estmulo ambiental em todos os estgios do desenvolvimento, ao mesmo tempo que precisa ser protegido das formas negativas de estmulo. E se o que precisa acontecer, no acontece... ou o que no deveria acontecer, acontece... evidente que a porta pode ser aberta no apenas para uma poro de doenas mentais e fsicas, como tambm para muitos comportamentos humanos prejudiciais. Assim, ao ampliarmos nossa perspectiva e tomarmos conscincia das atualidades, devemos perguntar: a condio que criamos no mundo moderno est realmente a favor da nossa sade? A base de nosso sistema socioeconmico funciona como uma fora positiva para o desenvolvimento humano e social e para o progresso? Ou a tendncia bsica de nossa sociedade est na realidade indo contra os requisitos evolucionrios centrais para criar e manter nosso bem-estar pessoal e social? PARTE II: PATOLOGIA SOCIAL

Algum pode perguntar: de onde veio isso tudo? O que temos hoje mesmo um mundo em estado de colapso acumulativo. O MERCADO Tudo comea com John Locke. Ele introduz o conceito de propriedade, e trs pr-requisitos para os direitos privacidade e propriedade. Os trs pr-requisitos so: deve haver excedente suficiente para os outros, voc no pode permitir que a propriedade sofra danos e, acima de tudo, deve integrar seu trabalho ela. Parece justo: voc combina sua mo de obra com o mundo e ento voc tem direito ao produto. Enquanto h excedente suficiente para os outros e enquanto no houver danos e voc evitar o desperdcio, estar tudo certo. Ele passa um bom tempo em seu famoso tratado sobre governo, que desde ento tem sido o texto cannico para a compreenso econmica, poltica e legal e ainda o texto clssico estudado. Depois que ele apresenta os pr-requisitos e estamos quase nos perguntando se somos a favor da propriedade privada ou no -- ele faz uma defesa muito plausvel e convincente da propriedade privada -ele os abandona! Ele os abandona assim, em apenas uma frase. Ele diz: "uma vez que a introduo do dinheiro veio por um acordo tcito entre os homens, tornou-se ento..."

Ele no diz que todos os pr-requisitos foram cancelados, mas isso que acontece. Portanto, agora o produto e sua propriedade no so merecidos por nossa mo de obra. No, o dinheiro compra mo de obra agora. No existe mais preocupao se h excedente suficiente para os outros. No existe mais preocupao se estraga ou no, porque ele diz que dinheiro como prata e ouro, e ouro no estraga e ento o dinheiro no pode ser responsvel pelo desperdcio... O que ridculo, no estamos falando de dinheiro e prata, mas de seus efeitos. uma falsa concluso atrs da outra. Apenas a mais surpreendente trapaa lgica com a qual sai impune, mas que serve aos interesses dos detentores do capital. Ento, Adam Smith chega e acrescenta a religio disso... Locke comeou com "Deus fez dessa forma", "este o direito de Deus", e agora tambm temos Smith dizendo "no s de Deus..." No exatamente o que ele diz, mas o que est acontecendo filosoficamente, em princpio. Ele diz que no apenas uma questo de propriedade privada... Isso tudo se tornou "pressuposto", dado como certo. E que existem "investidores que compram mo de obra" -- dado como certo. No h limites para quanta mo de obra alheia podem comprar, quanto podem acumular, quanta desigualdade

-- tudo se tornou dado como certo. Ento ele aparece com sua grande ideia -- e isso novamente deixado entre parnteses, de passagem... Quando as pessoas pem bens venda -- a oferta -e outras pessoas os compram -- a procura -- etc., como fazemos a oferta equivaler procura ou a procura equivaler oferta? Como elas entram em equilbrio? Uma das ideias centrais da economia como elas entram em equilbrio... E ele diz: " a 'mo invisvel do mercado' que as mantm em equilbrio". Ento agora temos um "Deus" iminente. Ele no apenas deu direitos propriedade e todos seus recursos e "direitos naturais" dos quais Locke falou. Agora o sistema em si "Deus". Na verdade, Smith diz -- e voc tem que ler todo o livro "A Riqueza das Naes" para encontrar esta citao. Ele diz que a escassez dos meios de subsistncia dita o limite da reproduo dos pobres e que a natureza no pode lidar com isso exceto pela eliminao de seus filhos. Ele antecipou a teoria da evoluo no pior sentido... e isso bem antes de Darwin. Ele os chamou de "classe de trabalhadores". Nota-se a um racismo inerente. Havia uma negligncia inerente vida de matar inmeras crianas.

Ele pensava que essa era a mo invisvel fazendo a oferta corresponder procura e a procura, oferta. Percebe quo sbio "Deus" ? Nota-se que todas essas coisas hostis, destrutivas e antiecolgicas 9 que ocorrem agora, possuem, de certa forma, uma origem l em Smith tambm. Quando refletimos sobre o conceito original do chamado "sistema capitalista de livre mercado" tal como introduzido pelos primeiros filsofos economistas, como Adam Smith, vemos que a inteno original de um "mercado" girava em torno da troca de bens reais, tangveis e que sustentem a vida. Adam Smith nunca imaginou que os setores econmicos mais rentveis do planeta acabariam na arena do mercado financeiro, os chamados "investimentos", onde o dinheiro em si simplesmente adquirido pela movimentao de dinheiro, em um jogo arbitrrio que no tem nenhum mrito produtivo para a sociedade. No entanto, apesar da inteno de Smith, a porta para tais adventos anmalos foi deixada aberta por um dos princpios fundamentais desta teoria: o dinheiro tratado como uma mercadoria, por si s. Hoje, em cada economia do mundo, seja qual for o sistema social alegado, busca-se o dinheiro pelo dinheiro e nada mais. A ideia principal, misteriosamente definida por Adam Smith em sua declarao religiosa sobre

a "mo invisvel", que a busca mesquinha e egosta desta mercadoria fictcia ir de alguma forma resultar magicamente em bem-estar humano e social e em progresso. Na realidade, o propsito do incentivo monetrio, ou aquilo que alguns chamam de "sequncia monetria do valor", foi agora completamente separado do propsito fundamental da vida, que poderia ser chamado de "sequncia vital do valor". O que houve foi uma completa confuso na doutrina econmica entre estas duas sequncias. Pensa-se que a "sequncia monetria do valor" leva "sequncia vital do valor", e por isso que se diz que quando mais bens so vendidos, quando o PIB cresce etc., h um aumento no bem-estar e poderamos tomar o PIB como nosso indicador bsico de sade social... Aqui podemos ver a confuso. Fala-se da "sequncia monetria do valor", ou seja, todas as receitas e rendimentos obtidos da venda de bens, mas confunde-se isso com a reproduo da vida. Assim, ns embutimos nessa coisa, desde o incio, uma completa mistura das sequncias monetria e vital do valor. Lidamos com um tipo de delrio estruturado que torna-se cada vez mais mortal

conforme a sequncia monetria se desconecta da produo de qualquer coisa. Portanto, um distrbio no sistema que parece ser fatal. BEM-VINDOS MQUINA Na sociedade atual, raramente ouve-se algum falar do progresso de seu pas ou sociedade em termos de bem-estar fsico, estado de felicidade, confiana ou estabilidade social. Ao contrrio, os indicadores nos so apresentados atravs de abstraes econmicas. Temos o PIB, o ndice de preos ao consumidor, o valor do mercado de aes, ndices de inflao e por a vai. Mas isto nos diz algo de valor autntico quanto qualidade de vida das pessoas? No. Todos esses indicadores tm a ver com a sequncia monetria em si e nada mais. Por exemplo, o produto interno bruto de um pas mede o valor de bens e servios vendidos. Alega-se que esta medida est correlacionada ao "padro de vida" da populao de um pas. Os gastos com sade nos EUA representaram mais de 17% do PIB em 2009, totalizando mais de $2,5 trilhes e criando assim um efeito positivo neste indicador econmico. Com base nesta lgica, seria ainda melhor para a economia americana que os servios de sade crescessem mais -- talvez para $3 trilhes ou $5 trilhes --

j que isto iria gerar mais crescimento e mais empregos e seria ostentado pelos economistas como um aumento no padro de vida de seu pas. Mas, espere um minuto. O que de fato representam os servios de sade? Bem... Pessoas doentes e morrendo. isso mesmo: quanto mais americanos com problemas de sade, melhor ficar a economia. Isto no um exagero ou uma perspectiva cnica. De fato, se pararmos para pensar, perceberemos que o PIB no apenas no reflete a verdadeira sade pblica ou social em qualquer nvel tangvel, ele , na realidade, um indicador de ineficcia industrial e de degradao social. Quanto mais ele cresce, pior fica a situao em relao integridade pessoal, social e ambiental. preciso criar problemas para gerar lucro. No paradigma atual, no h lucro em salvar vidas, manter o equilbrio do planeta, promover a justia, a paz etc. No h lucro nisso. Existe um ditado antigo: "aprove uma lei e abrir um negcio". Seja criando um negcio para um advogado ou o que for. Portanto, crimes realmente abrem negcios, da mesma forma que a destruio abre negcios no Haiti.

H hoje 2 milhes de encarcerados nos EUA, muitos dos quais esto em prises dirigidas por empresas privadas -- Corrections Corporation of America e Wackenhut -que negociam aes em Wall Street com base no nmero de presos. Isso sim doentio. Mas um reflexo do que este paradigma econmico exige. E o que exatamente esse paradigma econmico exige? O que faz nosso sistema econmico girar? Consumo. Ou, mais precisamente, consumo cclico. Quando analisamos a base da economia de mercado clssica, nos apresentado um padro de troca monetria que simplesmente no podemos deixar que pare ou mesmo desacelere consideravelmente, se a sociedade como a conhecemos quiser se manter funcional. H trs atores principais no palco econmico: o empregado, o empregador e o consumidor. O empregado vende mo de obra ao empregador em troca de renda. O empregador vende seus produtos e servios ao consumidor em troca de renda. E o consumidor, naturalmente, apenas outro papel do empregador e do empregado, realimentando o sistema

para permitir a continuao do consumo cclico. Em outras palavras, o mercado global se baseia na premissa de que sempre haver demanda suficiente por produtos numa sociedade para movimentar dinheiro suficiente a uma taxa que possa manter o processo de consumo. E quanto maior a taxa de consumo, maior o suposto crescimento econmico. E assim que a mquina funciona... Mas, espere a! Achei que uma economia fosse feita para, sei l... "economizar"? No seria esse termo sinnimo de preservao, eficincia e reduo do desperdcio? Como ento nosso sistema que demanda consumo -- e quanto mais melhor -- pode eficientemente preservar ou "economizar" qualquer coisa? Bem... no pode. O objetivo do sistema de mercado justamente o oposto do que uma economia de verdade deveria fazer, que orientar, com eficincia e conservao, os materiais para a produo e distribuio de bens que sustentam a vida. Vivemos num planeta finito, de recursos finitos onde, por exemplo, o petrleo que utilizamos leva milhes de anos para se formar e os minerais que usamos, bilhes de anos. Ter um sistema que intencionalmente promove a acelerao do consumo, em prol do suposto "crescimento econmico",

puramente um ecocdio insano. Ausncia de desperdcio, isso sim eficincia. Ausncia de desperdcio? 0 Este sistema desperdia mais do que qualquer outro da histria do planeta. Cada nvel de bio-organizao e biossistema est em estado de crise, desafio, declnio -- ou de colapso. Nenhuma publicao cientfica dos ltimos 30 anos lhe dir algo diferente: todo biossistema est em declnio, assim como os programas sociais e nosso acesso gua. Cite algum meio de vida que no esteja ameaado... impossvel. No h mesmo nenhum, o que absolutamente desesperador. E ainda nem percebemos qual o mecanismo causal. No queremos enfrentar o mecanismo causal. S queremos seguir vivendo. A est a insanidade: continua-se a fazer sempre a mesma coisa apesar de claramente no estar funcionando. Portanto, no lidamos com um sistema econmico, mas, eu me atreveria a dizer, com um sistema antieconmico. A ANTIECONOMIA H um velho ditado de que o modelo de mercado competitivo busca "criar os melhores produtos pelo menor preo possvel". Essa afirmao essencialmente o conceito de incentivo

que justifica a concorrncia mercantil com base na suposio de que o resultado a produo de bens de melhor qualidade. Se eu fosse construir uma mesa, obviamente a produziria com os melhores e mais durveis materiais existentes, correto? Visando que ela dure o mximo possvel. Por que eu faria algo ruim sabendo que teria de refaz-la eventualmente, gastando mais materiais e energia? Bem, por mais racional que isso possa parecer, no caso do mercado isso no apenas claramente irracional como no chega a ser uma opo. tecnicamente impossvel produzir algo da melhor maneira possvel, se uma empresa pretende ser competitiva e manter seus produtos acessveis ao consumidor. Literalmente tudo o que criado e posto venda na economia global inferior logo no momento em que produzido, pois matematicamente impossvel fazer produtos os mais cientificamente avanados, eficientes e sustentveis possveis. Isso ocorre pois o sistema de mercado exige esta "eficincia de custos" ou porque preciso reduzir os gastos em cada etapa da produo. Do custo da mo da obra ao custo dos materiais, da embalagem etc.

Essa estratgia competitiva serve para assegurar que o pblico compre os seus produtos e no os do concorrente, que est fazendo a mesmssima coisa para deixar seus produtos competitivos e acessveis. Esta consequncia invariavelmente esbanjadora do sistema poderia ser denominada "obsolescncia intrnseca". No entanto, essa apenas uma parte do problema. Um princpio fundamental que rege a economia de mercado e que voc no encontrar em nenhum manual, o seguinte: "nada produzido pode ter uma vida til maior que o necessrio para manter o consumo cclico". Em outras palavras, fundamental que as coisas quebrem, falhem e deteriorem-se dentro de dado tempo. Isso se chama "obsolescncia programada". A obsolescncia programada a espinha dorsal da estratgia de mercado de todos os fabricantes. Muito poucos, claro, admitem essa estratgia abertamente. O que fazem mascarar o problema no fenmeno da obsolescncia intrnseca, muitas vezes ignorando, ou at mesmo suprimindo, novos adventos tecnolgicos que poderiam criar um produto mais sustentvel e durvel. No bastasse o desperdcio que o sistema inerentemente no permitir a produo dos bens mais durveis e eficientes, a obsolescncia programada intencionalmente

entende que quanto mais tempo um produto funcionar, pior ser para a manuteno do consumo cclico e, portanto, para o sistema de mercado. Em outras palavras, a sustentabilidade do produto , na verdade, contrria ao crescimento econmico e por isso h um incentivo direto e reforado para garantir que a durabilidade de qualquer produto seja curta. Na realidade, o sistema no pode funcionar de outra maneira. Um olhar para o mar de aterros ao redor do mundo mostra a realidade da obsolescncia. Existem agora bilhes de celulares de baixo custo, computadores e outras tecnologias, contendo materiais preciosos e difceis de minerar como ouro, coltan e cobre, apodrecendo em enormes pilhas devido ao simples mau funcionamento ou obsolescncia de pequenas partes que, em uma sociedade preservadora, poderiam ser consertados ou atualizados, estendendo a vida til do produto. Infelizmente, por mais eficiente que isso parea no mundo real, por vivermos num planeta finito de recursos finitos, claramente ineficaz para o mercado. Para por numa frase: "eficincia, sustentabilidade e preservao so os inimigos de nosso sistema econmico". Do mesmo modo, assim como bens precisam ser constantemente produzidos e reproduzidos apesar de seu impacto ambiental,

a indstria de servios atua com o mesmo raciocnio. O fato que no h benefcio monetrio em resolver quaisquer problemas que estejam atualmente sendo tratados. 0 No final das contas, a ltima coisa que as instituies mdicas realmente querem curar doenas como o cncer, o que eliminaria inmeros empregos e trilhes em receitas. E j que estamos no assunto... O crime e o terrorismo so coisas boas neste sistema! Bem, ao menos economicamente, j que empregam a polcia e elevam os gastos com segurana, sem mencionar o valor das prises, que so privadas e visam o lucro. E que tal as guerras? A indstria blica nos EUA uma grande impulsionadora do PIB -- uma das indstrias mais lucrativas -produzindo armas letais e destrutivas. O jogo favorito dessa indstria explodir as coisas e depois reconstru-las visando o lucro. Vimos isso com os inesperados contratos bilionrios feitos desde a Guerra do Iraque. O ponto aqui que os atributos socialmente negativos da sociedade se tornaram empreendimentos gratificantes para a indstria e que qualquer interesse na resoluo de problemas ou em sustentabilidade ambiental e conservao, intrinsecamente contrrio sustentabilidade econmica. por isso que

toda vez que vemos o PIB crescer em qualquer pas, estamos testemunhando um crescimento das necessidades reais ou inventadas, e, por definio, as necessidade tm suas razes na ineficincia. Portanto, aumentar a necessidade significa aumentar a ineficincia. O DISTRBIO NO SISTEMA DE VALORES O sonho americano baseado no consumismo desenfreado. baseado no fato de que a grande mdia, e especialmente a publicidade -- corporaes que precisam deste crescimento infinito -tm convencido ou enfiado na cabea de muitas pessoas nos EUA e no mundo que ns temos que ter um nmero "x" de bens materiais e a possibilidade de adquirir infinitamente mais para sermos felizes. Isso simplesmente no verdade. Por que ento as pessoas continuam a comprar desta maneira ecogenocida em seus efeitos sistmicos cada vez mais? Trata-se do clssico condicionamento operante. Voc simplesmente insere condicionamento no organismo e obtm os comportamentos, metas ou objetivos desejados. Eles possuem todos os recursos tecnolgicos... e se gabam de como entram na mente das crianas -- o que elas escutam j as condicionam a uma marca.

Voc ento percebe que assim que as pessoas tm sido feitas de bobas. Elas foram ensinadas a ser tolas. um distrbio no sistema de valores. Se h uma evidncia da plasticidade da mente humana, se h uma prova de quo malevel o pensamento humano e de quo facilmente as pessoas podem ser condicionadas e direcionadas pela natureza dos estmulos de seu ambiente e o que ela refora, essa prova o mundo da publicidade. de ficar pasmo o nvel de lavagem cerebral com que esses robs programados conhecidos como "consumidores" vagam pela paisagem, apenas para entrar numa loja e gastar, digamos $4 mil numa bolsa que provavelmente custou $10 para ser feita numa fbrica escravizante no exterior. Apenas pelo status que a marca supostamente representa na cultura. Ou talvez as tradies populares antigas, que aumentam a confiana e a coeso da sociedade, e foram sequestradas pelos valores materialistas, que nos fazer trocar nossas porcarias inteis algumas vezes por ano. E ainda nos perguntamos por que hoje tantos tm compulso pela compra e aquisio, quando bvio que eles foram condicionados desde a infncia

a ver bens materiais como um sinal de status entre os amigos e a famlia. O fato que a base de qualquer sociedade so os valores que apoiam seu funcionamento. E nossa sociedade, tal como est, funciona apenas se nossos valores apoiarem o consumo conspcuo de que ela necessita para manter o sistema de mercado. 75 anos atrs, o consumo per capita nos EUA e na maior parte do Primeiro Mundo era a metade do que vemos hoje. A atual nova cultura do consumidor foi criada e imposta, devido necessidade bem real de nveis de consumo cada vez mais altos. por isso que hoje as empresas gastam mais dinheiro com propaganda do que com o processo de produo em si. Elas trabalham duro para criar falsas necessidades em voc, o que por acaso conseguem. OS "ECONOMISTAS" Na verdade, os economistas nada tm de economistas. So propagandistas do valor do dinheiro. Voc ver que todos os seus modelos so basicamente voltados a trocas de smbolos que correspondem ao lucro de uma ou ambas as partes, mas eles esto totalmente desconectados do mundo real da reproduo. Em Ohio, um idoso no pagou sua conta de luz

-- talvez este caso lhe seja familiar -e a companhia eltrica cortou o servio e ele morreu. O motivo deles cortarem que no seria lucrativo manter o servio porque ele no pagou sua conta. Voc acha isso certo? A responsabilidade no recai sobre a companhia eltrica por cancelar o servio, mas em cima dos vizinhos, amigos e conhecidos deste homem, que no foram caridosos o bastante para ajud-lo, enquanto indivduo, a pagar sua conta de energia. Hummm... Eu ouvi isso direito? Ele disse que a morte de um homem, causada por ele no ter dinheiro, foi por culpa de outras pessoas ou por falta de caridade? Pois bem, acho que vamos precisar de um monte de infomerciais, caixinhas de donativos miserveis e uma poro de cofrinhos para os bilhes de pessoas que morrem de fome hoje neste planeta, devido ao sistema que Milton Friedman promove. Quando voc esta lidando com as filosofias de Milton Friedman, F. A. Hayek, John Maynard Keynes, Ludwig von Mises

e outros grandes economistas de mercado, a base da anlise racional raramente abandona a sequncia monetria. como uma religio. Anlises de consumo, polticas de estabilizao, saldo negativo, demanda agregada... Isto existe como um crculo de raciocnio interminvel, autorreferente e autorracionalizado, em que as necessidades humanas, os recursos naturais e qualquer forma de eficincia que sustente a vida so automaticamente descartados e substitudos pela noo nica de que os humanos, buscando tirar vantagem uns dos outros s pelo dinheiro, motivados pelo egosmo mesquinho, criaro magicamente uma sociedade sustentvel, saudvel e equilibrada. No h referncia vida em toda essa teoria, em toda essa doutrina. 9 O que eles esto fazendo? O que fazem monitorar as sequncias monetrias. Apenas isso: monitorar sequncias monetrias pressupondo que isso seja s o que importa. Primeiro: no h referncia vida... Opa... sem referncia vida? Segundo: todos os agentes so buscadores de preferncias automaximizveis, isto , s pensam em si mesmos e o mximo que podem ganhar. Esta a ideia dominante da racionalidade: automaximizar a escolha. A nica coisa em que esto interessados em automaximizar

dinheiro ou mercadorias. Mas onde entram as relaes sociais? No entram, exceto nas trocas para automaximizar. E onde entram nossos recursos naturais? No entram, exceto na explorao deles. Onde entra a questo da sobrevivncia da famlia? No entra. Ela precisa de dinheiro para comprar qualquer bem. Mas, uma economia no deveria lidar com necessidades humanas tambm? No essa a questo fundamental? "Necessidade" sequer est em seu dicionrio. Ela dissolvida em "desejos"... E o que um desejo? Significa o que a demanda monetria deseja comprar. Bem, se o foco est na demanda monetria, no tem nada a ver com necessidades, porque talvez a pessoa no tenha demanda monetria e precise desesperadamente, digamos, de gua. Ou talvez a demanda monetria queira uma privada de ouro. Para onde vai tudo isso? Para a privada de ouro. Chamam isso de economia? s pensar um pouco para ver que este o delrio mais bizarro da histria do pensamento humano. SISTEMA MONETRIO At agora nos focamos s no sistema de mercado. Mas esse sistema apenas metade do paradigma econmico global.

A outra metade o sistema monetrio. Enquanto o sistema de mercado lida com a interao das pessoas, competindo pelo lucro atravs do espectro da mo de obra, produo e distribuio, o sistema monetrio um conjunto de regras fundamentais determinadas pelas instituies financeiras, que criam condies para o sistema de mercado, entre outras coisas. Isso inclui termos que ouvimos bastante como "taxa de juros", "emprstimos", "dvida", "oferta monetria", "inflao" etc. Por mais que possa dar vontade de arrancar os cabelos ouvir as bobagens ditas pelos economistas -- "modestas aes preventivas podem evitar a necessidade de aes mais drsticas futuramente" -a natureza e o efeito desse sistema so bem simples. Nossa economia possui... A economia global possui trs preceitos bsicos que a governam. O primeiro o sistema de reserva fracionria, com os bancos imprimindo dinheiro do nada. baseada tambm em juros acumulados. Quando voc pega dinheiro emprestado, precisa devolver mais do que pegou, o que significa que voc, na prtica, cria dinheiro do nada de novo, cujos juros tm de ser pagos pela criao de ainda mais dinheiro. Ns vivemos num paradigma de crescimento infinito. O paradigma econmico que vivemos um Esquema Ponzi. Nada cresce para sempre.

impossvel. Como o grande psiclogo James Hillman escreveu: "a nica coisa que cresce no corpo humano depois de certa idade o cncer". No s a quantidade de dinheiro que precisa continuar crescendo, mas tambm a de consumidores. Consumidores que contraiam emprstimos a juros, para gerar mais dinheiro, o que obviamente impossvel num planeta finito. As pessoas so basicamente veculos para criar dinheiro que devem criar mais dinheiro para impedir que tudo desmorone, que o que est acontecendo neste momento. H apenas duas coisas que algum precisa saber sobre o sistema monetrio. 1. Todo o dinheiro criado a partir de dvida. Dinheiro dvida monetizada, seja se materializando a partir dos ttulos do tesouro, contratos de hipoteca ou cartes de crdito. Em outras palavras, se toda a dvida ativa fosse quitada agora no haveria nenhum dlar em circulao. 2. Cobra-se juros sobre praticamente todos os emprstimos feitos e o dinheiro necessrio para pag-los no existe no suprimento monetrio de imediato. Somente o principal criado pelos emprstimos e o principal o suprimento monetrio. Se toda as dvidas fossem quitadas agora no apenas no haveria mais um dlar em circulao, como haveria uma quantia gigantesca de dinheiro devido

que literalmente impossvel de ser pago, pois no existe. A consequncia disso tudo que duas coisas so inevitveis: inflao e falncia. A inflao pode ser vista como uma tendncia histrica em quase todos pases e facilmente ligada sua causa, que o aumento perptuo do suprimento monetrio, necessrio para cobrir os juros e manter o sistema funcionando. Quanto falncia, ela vem na forma de colapso pela dvida. Esse colapso ocorrer inevitavelmente com uma pessoa, um negcio ou um pas, e geralmente acontece quando o pagamento dos juros torna-se impossvel. Mas h um lado bom nisso tudo, pelo menos em termos de sistema de mercado. Porque a dvida cria presso. A dvida cria escravos assalariados. Uma pessoa endividada tem mais chances de aceitar um salrio baixo do que uma pessoa sem dvidas, tornando-se assim mercadoria barata. Assim, timo para as corporaes ter um grupo de pessoas sem mobilidade financeira. Mas essa mesma ideia vale para pases inteiros. O Banco Mundial e o FMI, que servem como pontes para os interesses corporativos transnacionais,

fornecem emprstimos enormes para pases com dificuldades a juros altssimos, e quando estes pases esto profundamente endividados e no podem mais pagar, aplicam-se medidas de austeridade, as corporaes entram em cena, abrem fbricas escravizantes e tomam seus recursos naturais. Isso sim eficincia de mercado. Mas espere, tem mais. Existe essa mistura nica de sistema monetrio com o sistema de mercado, chamado de mercado de aes, que ao invs de produzir algo real, apenas compra e vende o dinheiro em si. E quando se trata de dvida, sabe o que feito? Isso mesmo, eles negociam a dvida. Eles efetivamente compram e vendem dvidas pelo lucro. Desde CDSs e CDOs da dvida do consumidor, at complexos esquemas de derivativos usados para mascarar a dvida de pases inteiros, como no caso do conluio do banco de investimentos Goldman Sachs e Grcia, que quase provocou o colapso da economia europeia. Ento, em se tratando do mercado de aes e Wall Street temos um nvel totalmente novo de insanidade nascido da sequncia monetria do valor. Tudo o que voc precisa saber sobre mercados foi escrito h alguns anos num editorial do Wall Street Journal

intitulado "Lies de um investidor com danos cerebrais". Neste editorial, eles explicaram por que pessoas com um leve dano cerebral se saem melhor como investidores do que pessoas com funcionamento normal do crebro. Por qu? Porque pessoas com um leve dano cerebral no tm empatia. Essa a chave. Se voc no tem nenhuma empatia ser um timo investidor, e dessa maneira Wall Street cria pessoas sem empatia para chegar l, tomar decises e realizar negociaes sem escrpulos, sem considerar se a maneira como esto sendo feitas pode afetar outros seres humanos. Assim eles criam esses robs, essas pessoas desalmadas. E j que nem essas pessoas eles querem pagar mais esto agora criando robs de verdade: algoritmos para negociaes. Goldman Sachs, no escndalo das transaes de alta frequncia, colocou um computador junto bolsa de valores de Nova Iorque. Esse computador "co-locado", como chamado, monitora todas as negociaes na bolsa e realiza um grande volume de operaes, de maneira que ganha centavos a cada operao. como se estivessem bombeando dinheiro o dia todo. Ano passado ficaram 30-60 dias de um trimestre sem um nico dia de queda ganhando milhes de dlares todo santo dia?

Isso estatisticamente impossvel! Quando eu trabalhava em Wall Street, tudo mundo promovia em troca de suborno. O operador suborna o gerente de escritrio. O gerente de escritrio suborna o gerente regional de vendas. O gerente regional de vendas suborna o gerente nacional de vendas. uma prtica comum. No Natal, quem ganha o maior bnus na posio de operador de bolsa? O auditor interno. O auditor interno fica l sentado o dia todo. Ele deveria garantir que voc no viole nenhuma das regras de margem e de que est "cumprindo" as leis. Claro, at o ponto em que voc pode subornar o auditor interno. isso mesmo, voc est cumprindo a lei! Como ento a fraude se tornou o sistema? Ela no mais um subproduto. Ela o sistema. como aquela velha piada do Woody Allen: "doutor, meu irmo pensa que ele uma galinha". E o mdico diz: "tome uma plula, e isto deve resolver o problema". "No doutor, voc no entende. Ns precisamos dos ovos". OK? A troca incessante de aes fraudulentas entre bancos para gerar taxas,

para gerar bnus, tornou-se o motor de crescimento do PIB da economia dos EUA embora estejam essencialmente trocando aes fraudulentas que no tm nenhuma chance de serem pagos algum dia. Eles esto processando, gerando e reassegurando nada. Se eu escrever $20 bilhes em um guardanapo e vender ele para J.P. Morgan, e J.P. Morgan escreve $20 bilhes em outro guardanapo e ns trocamos estes dois guardanapos num bar e nos pagamos um quarto de 1% de taxa, fazemos muito dinheiro para o nosso bnus de Natal. Ns temos em nossos registros um guardanapo de $20 bilhes que no tem nenhum valor real at o momento em que o sistema no mais capaz de absorver guardanapos falsos, que quando vamos ao governo receber pacotes de ajuda. E por causa de Wall Street e do mercado global de aes, h hoje, pelo menos, cerca de $700 trilhes em aes fraudulentas no pagas, conhecidas como "derivativos", ainda espera do colapso. Um valor que equivale a 10 vezes mais que o produto interno bruto de todo o planeta. Apesar de j termos visto o resgate de corporaes e bancos pelos governos -- os quais comicamente pegam o dinheiro emprestado dos prprios bancos -o que vemos hoje so tentativas de resgate de pases inteiros

por conglomerados formados por outros pases, atravs de bancos internacionais. Mas como se resgata um planeta? No h nenhum pas que no esteja saturado de dvida. A sucesso de calotes governamentais que vimos pode ser s o comeo, se fizermos os devidos clculos. Estima-se que, apenas nos EUA, o imposto de renda ter de ser aumentado para 65% por pessoa, apenas para cobrir os juros, num futuro prximo. Economistas acreditam que dentro de algumas dcadas, 60% dos pases iro falir. Mas espere a... Deixe-me ver se entendi. O mundo est indo falncia, seja l o que isso signifique, por causa dessa ideia chamada "dvida" que nem sequer existe no mundo real. apenas parte de um jogo que inventamos, e ainda assim, o bem-estar de bilhes de pessoas est sendo comprometido. Demisses em massa, favelas, pobreza crescente, medidas de austeridade, escolas fechando, crianas passando fome e outros nveis de privao familiar... tudo por causa dessa elaborada fico. Somos estpidos ou o qu?! Ei, ei! Marte, meu caro. Ajuda um irmo a? Cresa, amigo. Saturno! E a, cara? Lembra daquela linda nebulosa com quem te arranjei um encontro faz um tempinho?

Terra, escute. Estamos nos cansando de voc. Voc teve de tudo e ainda assim no aproveitou nada. Voc tem muitos recursos e sabe disso. Por que no amadurece e aprende a ter alguma responsabilidade, pelo amor de Deus? Est fazendo sua me infeliz. Voc est por sua conta, camarada. , que seja. SADE PBLICA Agora, considerando tudo isso, da mquina de desperdcio que o sistema de mercado mquina de dvidas conhecida como sistema monetrio, criando assim o paradigma mercantil-monetrio que hoje define a economia global, h uma consequncia que percorre toda a mquina: desigualdade. Se o sistema de mercado que cria uma gravitao natural em direo ao monoplio e consolidao do poder, enquanto tambm gera diversas indstrias ricas que se elevam acima das outras independentemente de sua utilidade, tal como o fato de os maiores gestores de fundos de Wall Street agora embolsarem mais de $300 milhes por ano por contribuir literalmente com nada. Enquanto um cientista procurando curar uma doena, tentando ajudar a humanidade, pode ganhar $60 mil por ano, se tiver sorte.

Ou se o sistema monetrio, que possui a diviso de classes inerente a sua estrutura. Por exemplo, se tenho $1 milho sobrando e os aplico em CDB, com juros de 4%, ganharei $40 mil por ano. Nenhuma contribuio social, nada. No entanto, se sou da classe baixa e preciso pegar emprstimos para comprar meu carro ou casa, estarei pagando juros que, teoricamente, vo remunerar aquele milionrio com os 4% do CDB. Este roubo dos pobres para pagar aos ricos um fundamento inerente ao sistema monetrio e poderia ser rotulado como "classicismo estrutural". Historicamente, a estratificao social sempre foi considerada injusta mas claramente aceita de forma geral, j que agora 1% da populao detm 40% da riqueza do planeta. Mas, justia material parte, h outra coisa acontecendo por baixo da superfcie da desigualdade, deteriorando a sade pblica como um todo. Acho que as pessoas muitas vezes ficam confusas pelo contraste entre o sucesso material das nossas sociedades -- nveis de riqueza sem precedentes -e os muitos fracassos sociais. Se voc olhar para as taxas de uso de drogas, violncia, automutilao entre crianas ou doenas mentais, h claramente algo profundamente errado

com nossas sociedades. Os dados que tenho descrito simplesmente mostram essa intuio que as pessoas tm tido por centenas de anos, de que a desigualdade divide e corri a sociedade. Porm, essa intuio mais verdadeira do que imaginvamos. H efeitos psicolgicos e sociais muito poderosos da desigualdade, mais relacionados, creio eu, com sentimentos de superioridade e inferioridade. Esse tipo de diviso -- e talvez o mesmo valha para o respeito e o desrespeito -em que as pessoas se sentem desprezadas ao extremo. Motivo pelo qual, a propsito, a violncia mais frequente em sociedades mais desiguais. O gatilho da violncia , muitas vezes, as pessoas se sentirem menosprezadas e desrespeitadas. Se h um princpio que eu poderia enfatizar, isto , o princpio subjacente mais importante para a preveno da violncia, seria a igualdade. O fator mais significativo que afeta a taxa de violncia o grau de igualdade versus o de desigualdade na sociedade. O que estamos vendo uma espcie de disfuno social generalizada. No s uma ou duas coisas que do errado conforme a desigualdade aumenta, mas aparentemente tudo, seja em relao ao crime, sade, s doenas mentais ou ao que for.

Uma das descobertas mais perturbadoras sobre sade pblica : em hiptese alguma cometa o erro de ser pobre ou de ter nascido pobre. Sua sade paga por isso de infinitas maneiras, algo conhecido como o gradiente socioeconmico de sade. Conforme voc desce a partir da camada social mais alta, em termos de posio socioeconmica, a cada degrau descido a sade piora para muitos tipos de doenas, a expectativa de vida piora, a taxa de mortalidade infantil, tudo que voc puder considerar. Uma enorme questo tem sido: por que este gradiente existe? Uma resposta bvia e simples que, se voc est cronicamente doente, no ser muito produtivo. Assim, problemas de sade geram diferenas socioeconmicas. No passou nem perto, pelo simples fato de que possvel olhar para a posio socioeconmica de uma criana e isso ir predizer algo sobre sua sade dcadas depois. Esta a direo da causalidade. A prxima "perfeitamente bvia": pessoas pobres no podem pagar para ir ao mdico. acesso sade? No tem nada a ver com isso porque voc v estes mesmos gradientes

em pases com assistncia mdica universal e medicina socializada. OK, prxima explicao simples: geralmente, quanto mais pobre voc maiores so as chances de fumar, beber e de viver com todo tipo de fator de risco. Sim, isso contribui, mas estudos meticulosos mostraram que talvez explique s um tero da variabilidade. O que resta ento? O que resta tem muito a ver com o estresse da pobreza. Quanto mais pobre voc , a comear pela pessoa que ganha um dlar a menos que Bill Gates, quanto mais pobre voc neste pas, de modo geral, pior ser a sua sade. Isso nos diz algo realmente importante: a conexo da sade com a pobreza no se trata de ser pobre, mas de se sentir pobre. Cada vez mais, reconhecemos que o estresse crnico possui uma influncia importante na sade, mas as fontes mais importantes de estresse se referem qualidade das relaes sociais. E se existe algo que diminui a qualidade das relaes sociais a estratificao socioeconmica da sociedade. O que a cincia nos mostrou agora que, independentemente da riqueza material, o estresse de simplesmente viver numa sociedade estratificada leva a um vasto espectro de problemas na sade pblica e quanto maior a desigualdade, piores eles ficam.

Expectativa de vida: maior em pases mais igualitrios. Uso de drogas: menor em pases mais igualitrios. Doenas mentais: menor em pases mais igualitrios. Capital social, isto , a capacidade de as pessoas confiarem umas nas outras: naturalmente maior em pases mais igualitrios. ndices educacionais: mais altos em pases mais igualitrios. Taxas de homicdio: menores em pases mais igualitrios. Taxas de criminalidade e priso: menores em pases mais igualitrios. E continua: Mortalidade infantil, obesidade, taxa de natalidade na adolescncia: menor em pases mais igualitrios. E talvez mais interessante: Inovao: maior em pases mais igualitrios, o que desafia a antiga noo de que uma sociedade competitiva e estratificada mais criativa e inventiva. Alm disso, um estudo feito no Reino Unido chamado de Estudo Whitehall, confirmou que h uma distribuio social de doenas que vai desde o topo da escala socioeconmica at a base. Por exemplo, foi descoberto que os degraus mais baixos da hierarquia tinham 4 vezes mais mortalidade por doenas cardacas em relao aos degraus mais altos. E esse padro existe, independente do acesso sade. Portanto, quanto pior a condio financeira relativa de algum, pior ser a sua sade, de modo geral. Esse fenmeno tem suas razes no que pode ser chamado de

"estresse psicossocial" e est na base das grandes distores sociais que assolam nossa sociedade atual. Sua causa? O sistema mercantil-monetrio. No se engane: o maior destruidor da ecologia; a maior fonte de desperdcio, esgotamento e poluio; o maior incitador de violncia, guerra, crime, pobreza, abuso animal e desumanidade; o maior gerador de neuroses sociais e individuais, de doenas mentais, depresso, ansiedade -- para no falar da maior fonte de paralisia social, que nos impede de adotar novas metodologias para a sade pessoal, a sustentabilidade e o progresso neste planeta -no nenhum governo corrupto ou legislao, nenhuma corporao perversa ou cartel bancrio, nenhuma falha da natureza humana e nenhuma sociedade secreta que controla o mundo. , na verdade, o prprio sistema socioeconmico em sua essncia. PARTE 3: PROJETO TERRA Vamos imaginar por um momento que temos a opo de reformular a civilizao humana completamente. E se, hipoteticamente falando, descobrssemos uma rplica exata do planeta Terra e que a nica diferena entre

este novo planeta e o nosso atual fosse que a evoluo humana no tivesse ocorrido. Seria um mundo de possibilidades. Sem pases, sem cidades, sem poluio, sem republicanos... Apenas um ambiente imaculado e aberto. O que faramos ento? Primeiro precisamos de uma meta, certo? seguro dizer que esta meta seria sobreviver. E no apenas sobreviver, mas faz-lo de maneira otimizada, saudvel e prspera. A maioria das pessoas, de fato, deseja viver e, de preferncia, sem sofrimento. Portanto, a base desta civilizao precisa dar o mximo de suporte e sustentabilidade para a vida humana, levando em conta as necessidades materiais de todo o mundo, enquanto tenta eliminar tudo que possa nos ferir a longo prazo. Definida esta meta de "sustentabilidade mxima", a prxima questo diz respeito ao nosso mtodo. Que tipo de abordagem usaremos? Vejamos... Pelo que sei, a poltica o mtodo de funcionamento social na Terra. E o que as doutrinas dos republicanos, liberais, conservadores e socialistas tm a dizer sobre como projetar a sociedade? Humm... absolutamente nada. OK, e que tal a religio? Certamente o grande criador deixou alguma planta por a... No. No achei nenhuma.

OK, ento o que nos resta? Aparentemente algo chamado "cincia". A cincia nica no sentido de que seus mtodos no s exigem que as ideias propostas sejam testadas e replicadas, como suas concluses so tambm inerentemente refutveis. Em outras palavras, diferente da religio e da poltica, a cincia no tem ego, e tudo que ela sugere admite a possibilidade de algum dia ser desmentido. Ela no se apega a nada e evolui constantemente. Bem, isso soa bastante natural para mim. Baseado no conhecimento cientfico atual neste incio de sculo XXI, junto com nossa meta de "sustentabilidade mxima" para a populao humana, como daremos incio ao processo de construo? A primeira pergunta a fazer : do que precisamos para sobreviver? A resposta, naturalmente, : recursos planetrios. Seja a gua que bebemos, a energia que utilizamos ou a matria-prima para criarmos ferramentas e abrigos, o planeta abriga um estoque de recursos, muitos dos quais necessitamos para sobreviver. Diante desta realidade, passa a ser crucial descobrir o que temos e onde est localizado. Isto significa que precisamos realizar um levantamento. Ns simplesmente localizamos e identificamos todos recursos do planeta que pudermos, juntamente com a quantidade disponvel em cada rea. De depsitos de cobre, aos locais de melhor potencial para a produo de energia elica,

s nascentes de gua, a uma estimativa da quantidade de peixes no oceano, s mais frteis terras para cultivo de alimentos etc. E, j que ns, humanos, iremos consumir estes recursos ao longo do tempo percebemos que no basta apenas localiz-los e identific-los: precisamos tambm monitor-los. Devemos nos certificar de que no esgotaremos nenhum deles, isso seria pssimo. E isto significa no apenas monitorar nossas taxas de uso como tambm as taxas de regenerao da Terra, como o tempo que leva para uma rvore crescer ou uma nascente tornar a encher. Isto se chama "equilbrio dinmico". Em outras palavras, se cortamos rvores num ritmo maior que o de regenerao temos um srio problema, pois insustentvel. Como podemos monitorar este estoque, especialmente quando reconhecemos que todas as coisas esto por toda parte? Temos grandes minas de minrio no que chamamos de "frica", concentraes de energia no "Oriente Mdio", um enorme potencial maremotriz na "costa norte-americana", o maior suprimento de gua doce no "Brasil" etc. Mais uma vez, a boa e velha cincia tem uma sugesto: chama-se "teoria de sistemas". A teoria de sistemas reconhece que a estrutura do mundo real -- da biologia humana, biosfera terrestre atrao gravitacional do sistema solar - um enorme sistema conectado sinergicamente, totalmente interligado. Assim como as clulas humanas se conectam para formar

nossos rgos, e estes para formar nossos corpos, -- e j que nossos corpos no vivem sem os recursos terrestres, como comida, ar e gua -- ns estamos intimamente ligados Terra, e assim por diante. Ento, como a natureza sugere, pegamos todo este inventrio e dados de monitoramento e criamos um sistema para gerenci-la. Um sistema global de gerenciamento de recursos para contabilizar todos os recursos relevantes do planeta. No h outra alternativa lgica, se nosso objetivo enquanto espcie a sobrevivncia a longo prazo. Temos de monitorar o todo. Com isso estabelecido, podemos agora pensar na produo. Como usaremos tudo isso? Qual ser o nosso processo de produo e o que precisamos considerar para garantir que o mais otimizado possvel para maximizar nossa sustentabilidade? A primeira coisa que nos vem mente o fato de precisarmos constantemente evitar o desperdcio. Os recursos do planeta so essencialmente finitos. Portanto, importante sermos estratgicos. Preservao estratgica a chave. A segunda coisa que percebemos que alguns recursos no so to bons como outros em seus desempenhos. Na verdade, algumas coisas, quando postas em uso, tm um efeito terrvel no meio ambiente, o que prejudica nossa prpria sade. Por exemplo: combustveis fsseis, no importa como os utilizamos, liberam agentes bastante destrutivos no meio ambiente. Por isso, crucial fazermos o mximo para us-los apenas quando for preciso, ou nem us-los. Felizmente, temos enormes possibilidades para produzir

energia solar, elica, maremotriz, das ondas, geotrmica etc., que nos permitem planejar objetivamente o que usar e onde, para evitar o que se pode chamar de "retroaes negativas" ou qualquer resultado da produo ou do uso que danifique o meio ambiente e a ns mesmos. Chamaremos isso de "segurana estratgica" para combinar com nossa "preservao estratgica". Mas as estratgias de produo no param por a. Precisaremos de uma estratgia de eficincia para a mecnica da produo. E o que descobrimos que h aproximadamente trs protocolos especficos que deveremos adotar. 1. Todo bem que produzirmos deve ser projetado para durar o mximo possvel. Naturalmente, quanto mais coisas quebram, mais recursos so necessrios para as substiturem gerando assim mais lixo. 2. Quando as coisas de fato quebrarem ou no forem mais teis, por qualquer motivo, crucial que recolhamos e reciclemos ao mximo. Portanto, o projeto de produo deve levar isso em conta logo nos primeiros estgios. 3. Tecnologias de rpida evoluo, como a eletrnica, que esto sujeitas elevadas taxas de obsolescncia tecnolgica, devero ser projetadas para prever e acomodar atualizaes fsicas. A ltima coisa que faremos jogar fora um computador inteiro apenas porque s uma parte quebrou ou ficou obsoleta. Simplesmente projetamos os componentes para serem facilmente

atualizveis pea por pea, padronizados e universalmente compatveis com base nas tendncias tecnolgicas atuais. Quando percebemos que os mecanismos da preservao, segurana e eficincia estratgicas so consideraes puramente tcnicas, isentas de qualquer opinio humana ou vis, simplesmente programamos tais estratgias em um computador que possa avaliar e calcular todas as variveis relevantes permitindo que cheguemos ao melhor mtodo para a produo sustentvel com base no conhecimento atual. E por mais que isso possa soar complexo tudo no passa de uma grandiosa calculadora. para no mencionar que tais sistemas de tomada de decises e monitorao multivariados j so usados pelo mundo afora para propsitos isolados. s uma questo de aumentar a escala. Ento... No apenas temos nosso sistema de gerenciamento de recursos, mas tambm um sistema de gerenciamento de produo, ambos facilmente automatizveis por computador para maximizar a eficincia, a preservao e a segurana. A realidade informtica que a mente humana ou um grupo de pessoas no conseguem monitorar o que preciso. Isto pode e deve ser feito por computadores, o que nos leva ao prximo nvel: distribuio. Qual estratgia sustentvel faz sentido aqui? Como sabemos que a menor distncia entre dois pontos uma linha reta e que mquinas de transporte usam energia para se moverem,

quanto menor o deslocamento, maior a eficincia. Produzir bens num continente e envi-los a outro s faz sentido se tais bens simplesmente no puderem ser produzidos no local de destino. Do contrrio, simplesmente um desperdcio. A produo deve ser local para que a distribuio seja simples, rpida e requeira o mnimo de energia. Chamaremos isso de "estratgia de proximidade", que simplesmente implica na reduo do transporte de bens tanto quanto possvel, seja de matria-prima ou de bens de consumo prontos. Obviamente, tambm importante saber quais bens estamos transportando e por qu. E isso entra na categoria "demanda". E demanda simplesmente o que as pessoas precisam para ter sade e uma alta qualidade de vida. O espectro das necessidades materiais humanas varia desde necessidades essenciais vida, como comida, gua limpa e moradia, at bens sociais e recreativos que permitam relaxamento e prazer pessoal e social -ambos fatores importantes na sade social e humana em geral. Simplesmente realizamos outro levantamento. As pessoas descrevem suas necessidades, a demanda analisada e a produo se inicia com base nesta demanda. E j que o nvel de demanda de diferentes bens vai naturalmente oscilar e variar em regies distintas, criamos um sistema de monitoramento de distribuio e demanda para evitar excessos e faltas. Claro, essa ideia nada tem de nova

e usada em todas as grandes redes de supermercados para garantir o ajuste do estoque. S que, desta vez, estamos monitorando em escala global. Mas espere: no podemos saber ao certo a demanda se no levarmos em conta o uso do bem em si. Seria lgico e sustentvel que todo ser humano, digamos, tenha uma unidade de tudo que feito, independente do uso? No. Isso seria um desperdcio e uma ineficincia. Se algum necessita de um bem, mas este ser usado por 45 minutos por dia, em mdia, seria muito mais eficiente se este bem fosse disponibilizado para ele e para outros s quando precisassem. Muitos esquecem que no o bem que eles querem, mas sim a utilidade do bem. Ao percebemos que o bem em si s importante por sua utilidade vemos que a restrio externa, ou o que poderamos chamar de "posse", puro desperdcio e ecologicamente sem sentido num sentido fundamental e econmico. Precisamos criar algo chamado "acesso estratgico". Esta seria a base de nosso sistema de monitoramento de demanda e distribuio, que garante que possamos atender as necessidades da populao, permitindo o acesso do que precisam, quando precisarem. E no que se refere a obteno fsica dos bens, centros de acesso regionais e centrais fazem sentido, na maioria dos casos,

situados bem prximo da populao. A pessoa entraria, pegaria o item, o usaria e quando terminasse de us-lo, o devolveria -mais ou menos como uma biblioteca funciona hoje. Na verdade, esses centros poderiam ficar no s na comunidade, tal como as lojas de hoje, como tambm centros especializados ficariam em reas especficas onde esses itens seriam utilizados, poupando energia pela reduo do transporte. Quando o sistema de monitoramento de demanda estiver pronto, ele ser integrado ao sistema de gerenciamento de produo e, claro, ao nosso sistema de gerenciamento de recursos, criando um mquina global de gerenciamento unificada e dinamicamente atualizada que garanta nossa sustentabilidade. Comeando por assegurar a integridade de nossos recursos finitos e, depois, garantir que s criamos os melhores e mais estratgicos bens possveis enquanto os distribumos da maneira mais inteligente e eficaz. O resultado dessa relao baseada na preservao, que contraintuitiva para muitos, que esse processo lgico, emprico e feito do zero de preservao e eficincia, que define a verdadeira sustentabilidade humana no planeta, provavelmente possibilitaria algo nunca antes visto em nossa histria: abundncia de acesso. No s para uma parcela da populao global, mas para a civilizao inteira.

Esse modelo econmico, que vimos brevemente, essa responsvel abordagem sistmica para o gerenciamento total dos recursos e processos da Terra projetado, novamente, para fazer nada menos que tomar conta da humanidade como um todo da maneira mais eficiente e sustentvel possvel pode ser chamada de ECONOMIA BASEADA EM RECURSOS A ideia foi definida na dcada de 1970 pelo engenheiro social Jacque Fresco. Naquela poca, ele viu que a sociedade estava em rota de coliso contra si mesma e a natureza -- insustentvel em todos os nveis -e que se as coisas no mudassem, ns iramos nos destruir, de um jeito ou de outro. Todas estas coisas que voc diz, Jacque, poderiam ser construdas com o que sabemos hoje, ou voc est "chutando", com base no que sabemos hoje? No. Tudo isto pode ser feito com o que sabemos atualmente. Levaria 10 anos para mudar a superfcie da Terra, para transformar o mundo em outro Jardim do den. A escolha est com voc. A estupidez de uma corrida armamentista nuclear, o desenvolvimento de armas... Tentar resolver seus problemas atravs da poltica elegendo este ou aquele partido... Toda a poltica est imersa na corrupo. Vou repetir: comunismo, socialismo, fascismo, os democratas e os liberais -- ns queremos incluir todos seres humanos. Todas as organizaes que acreditam numa vida melhor para o homem: no existem problemas de negros ou poloneses,

nem problemas de judeus ou gregos, ou problemas de mulheres -- s h problemas humanos! No tenho medo de ningum. No trabalho para ningum. Ningum pode me demitir. Eu no tenho chefe. Eu tenho medo de viver na sociedade em que vivemos atualmente. Ela no pode ser mantida com esse tipo de incompetncia. O sistema de livre iniciativa foi timo h uns 35 anos, a ltima vez em que foi til. Agora, temos que mudar o modo de pensar ou morreremos todos. Os filmes de terror do futuro sero sobre nossa sociedade, o modo como tudo deu errado, e a poltica ser parte de um filme de terror. Vrias pessoas hoje usam o termo "cincia fria" porque ela analtica e eles nem sequer sabem o que significa "analtico". Cincia significa: aproximaes mais precisas sobre como o mundo realmente funciona. Ento, contar a verdade. disso que se trata. Um cientista no tenta se "dar bem" com as pessoas. Eles contam quais so suas descobertas. Eles precisam questionar todas as coisas e se algum cientista aparecer com um experimento que mostre que alguns materiais tm dadas resistncias outros cientistas precisam ser capazes de duplicar aquele experimento e obter os mesmos resultados. Mesmo se um cientista achar que a asa de um avio, devido clculos matemticos, possa segurar uma certa quantidade de peso,

eles ainda iro pendurar sacos de areia nela pra ver quando quebraria, e ento eles dizem se os clculos estavam corretos ou no. Eu adoro esse sistema por que livre de vises da ideia de que a matemtica pode resolver tudo. preciso por sua matemtica prova tambm. Acho que todo sistema que pode ser posto prova, deve ser posto. E todas as decises deveriam ser baseadas em pesquisas. Uma economia baseada em recursos simplesmente o mtodo cientfico aplicado questes sociais -uma abordagem totalmente ausente no mundo de hoje. A sociedade uma inveno tcnica. E os mtodos mais eficientes de sade humana otimizada, produo fsica, distribuio, infraestrutura urbana etc., residem no campo da cincia e da tecnologia -- no na poltica ou na economia monetria. Ela funciona da mesma maneira sistemtica que, digamos, um avio, e no existe uma maneira republicana ou liberal de construir um avio. Igualmente, a prpria natureza a referncia fsica que utilizamos para provar nossa cincia. um sistema fixo, emergindo apenas de nosso crescente conhecimento dela. Na verdade, ela no d a mnima para o que voc subjetivamente pensa ou acredita ser verdade. Pelo contrrio, ela lhe d uma opo: voc pode aprender e se adequar com suas leis naturais e se guiar de acordo -- invariavelmente criando boa sade e sustentabilidade -ou voc pode ir contra a corrente, sem sucesso algum.

No importa o quanto voc acredita, simplesmente no h como voc se levantar agora e caminhar pela parede, a lei da gravidade no vai permitir. Se voc no comer, morrer. Se voc no for tocado quando beb, morrer. Por mais duro que parea, a natureza uma ditadura e podemos escut-la e entrar em harmonia com ela ou sofrer as inevitveis consequncias adversas. Ento, uma economia baseada em recursos nada mais que um conjunto de entendimentos comprovados de suporte vida, em que todas as decises so baseadas em sustentabilidade ambiental e humana otimizadas. levada em considerao a base da vida emprica que todo ser humano compartilha como uma necessidade independente, novamente, de sua filosofia poltica ou religiosa. No h relativismo cultural nessa abordagem. No uma questo de opinio. Necessidades humanas so necessidades humanas e ter acesso s necessidades da vida, tal como ar limpo, comida nutritiva e gua limpa, junto com um ambiente de reforo positivo, estvel, estimulante e no violento, necessrio para nossa sade mental e fsica, nossa capacidade evolutiva e a sobrevivncia da espcie em si. Uma economia baseada em recursos seria baseada nos recursos disponveis. Voc no pode trazer um monte de pessoas a uma ilha ou construir uma cidade para 50 mil habitantes sem ter acesso s necessidades da vida.

Ento, quando uso o termo abordagem sistmica compreensiva estou falando de fazer, primeiramente, um inventrio da rea, determinando o que a rea pode fornecer no apenas no aspecto da arquitetura, no apenas no aspecto do design, mas o design deve ser baseado em todos os requisitos para enriquecer a vida humana e isso que quero dizer com uma maneira integrada de se pensar. Comida, roupas, abrigo, calor, amor. Todas essas coisas so necessrias. E se voc privar as pessoas de qualquer uma delas, ter seres humanos inferiores, com capacidade inferior. Como dito anteriormente, a abordagem sistmica global de extrao, distribuio e produo numa economia baseada em recursos possui um conjunto de mecanismos verdadeiramente econmicos que garantem eficincia e sustentabilidade em todas as reas da economia. Ento, continuando essa linha de pensamento sobre projeto lgico, o que vem depois em nossa equao? Onde tudo isso se materializa? Cidades. O advento da cidade um marco da civilizao moderna. Seu papel permitir acesso eficiente s necessidades da vida juntamente com um forte suporte social e interao da comunidade. E como fazemos para projetar