Le Parkour - L'art du deplacement

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Henrique Godoy LE PARKOUR Conhecendo o mundo e a si mesmo

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Henrique Godoy

LE PARKOURConhecendo o mundo

e a si mesmo

Monografia

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Henrique Godoy

LE PARKOURConhecendo o mundo

e a si mesmo

Monografia do 2° EMNovembro de 2007

Colégio ÍtacaSão Paulo

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Agradecimentos:

Agradeço, primeiramente, a meus pais que me ajudaram no

desenvolvimento deste trabalho, corrigindo-me. Aos professores, que

participaram deste projeto, principalmente ao Cauê, que me deu

idéias sobre partes deste trabalho. E aos meus colegas e amigos que

me deram idéias e me corrigiram principalmente Lucas Lin e Victor

Lucena.

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Dedico este trabalho a todos os

praticantes de Parkour do mundo, a

todos aqueles que lutam da maneira

possível por sua liberdade, aos

amantes da prática esportiva e da

natureza.

"O homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado"

Jean-Jacques Rousseau

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Resumo

Esta monografia irá analisar uma nova, criativa e livre maneira de locomoção nos

dias de hoje adaptada para o meio urbano, chamada de Parkour. Será relevante como esta

disciplina pode mudar a vida de uma pessoa que a adotou e serão feitas comparações com o

homem urbano moderno. E como os olhos do Parkour podem libertar um ser humano

limitado e reprimido por concreto e metal.

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Índice

INTRODUÇÃO.................................................................7

CAPÍTULO 1 – A Origem do Parkour

1.1 O Surgimento................................................................8

1.2 Os Movimentos.............................................................9

CAPÍTULO 2 – Entendendo um Traceur

2.1 O Medo.........................................................................12

2.2 Relação Traceur Cidade................................................13

2.3 Mudanças.......................................................................13

CAPÍTULO 3 – O Parkour interferindo na vida moderna

3.1 A Vida Moderna............................................................15

3.2 Popularização.................................................................17

CONCLUSÃO....................................................................19

APÊNDICE.........................................................................20

REFERÊNCIAS..................................................................21

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Introdução

O Le Parkour é um esporte famoso em grande parte do mundo hoje em dia por

chamar bastante atenção devido aos lugares que é praticado e pelos perigosos saltos entre

prédios. Conhecido como o “esporte de pular prédios” o Parkour era pouco conhecido e

pouco praticado até início do milênio, quando documentários exibidos por canais famosos

desmitificaram o tal esporte e incentivaram muitas pessoas a praticarem.

Criado na França o Parkour apresenta uma forte filosofia de vida adotada pelos

praticantes e desenvolve suas capacidades físicas.

Este trabalho apresenta fatos da vida moderna que se opõem à filosofia do Parkour,

que busca liberdade em um meio urbano. Mudanças na mente de um praticante e relatos

sobre o cidadão urbano comum serão objetos de estudo.

Estes estudos foram feitos com o objetivo de relacionar este esporte criativo que seus

praticantes lutam pela liberdade procurando propagar o Parkour. Muitas pesquisas foram

feitas na Internet, pois não existem livros que falem de Parkour, por ser recente,

documentários e comentários de praticantes foram usados e relacionados com estudos de

Ana Fani Carlos sobre o espaço geográfico urbano e os modos de vida modernos.

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Capítulo 1 – A Origem do Parkour

1.1 O Surgimento

Em uma pequena cidade francesa chamada Lisses, há cerca de 25 anos, jovens

entediados após as aulas se reuniam em uma praça para brincar. Pulavam, corriam,

inventavam jogos e brincavam de ser ninjas todos os dias. Começaram a subir nos telhados

da escola e a explorar aquela arquitetura para eles interessante, e para os outros, banal. Com

o tempo, a escola não era suficiente para saciar a vontade dos jovens nestas brincadeiras.

Assim, perceberam que a cidade em que viviam poderia oferecer muitos outros lugares para

brincarem. O olhar destes jovens sobre a cidade mudou a

partir de então. Brincavam em todos os locais possíveis.

Criaram um grupo e estas brincadeiras tornaram-se uma

disciplina para alguns dos integrantes, principalmente David

Belle(Fig1-1)1 e Sebastien Foucan, que começaram a criar

situações de emergência como forma de combaterem seus

medos. Os jovens apelidaram sua disciplina de Le Parkour

(do francês: o percurso).

O Parkour consiste em uma filosofia básica: sair do

ponto A para chegar ao ponto B passando por qualquer

obstáculo através de uma técnica eficiente, rápida, segura, independente de ações externas e

principalmente: natural, correndo, saltando e escalando, basicamente. Estes dois pontos são

definidos pelo traceur (aquele que pratica Parkour). Um conjunto destes pontos são

geralmente chamados de run (literalmente do inglês: corrida), runs são mais longas e

envolvem muitos obstáculos. Uma run pode ser executada como um pega-pega, a dois, ou

sozinha.

David Belle sempre teve influências de seu pai que era um soldado conhecido pela

sua coragem e capacidade física no exército francês. David sempre viveu em ginásios

praticando artes marciais, desenvolvendo seu corpo. A capacidade de enfrentar seus medos

foi desenvolvida nas ruas.

1 Fonte: www.abpk.org.br/ver_artigo.php?id=37

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(Fig1-1) David Belle.

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Belle foi treinado com o Método Natural (Méthode

Naturelle), desenvolvido, em 1903, pelo desportista e educador

físico francês Goerge Hébert (Fig1-2)2. O método expressa uma

nova visão e educação do corpo resgatando a força do “ser

selvagem”, ditos como “seres inferiores” pela sociedade em que

vivia. Hébert reanima os poderes físicos do homem urbano,

ocultos pelos modos de vida modernos. Em suas pesquisas se

fascina com os movimentos, habilidades, capacidades e

resistência corporal de antigas tribos africanas. Este método foi

uma grande inspiração para David que acredita que o Parkour

sempre existiu dentro de todo ser humano. Diante de

determinadas situações extremas como um assalto ou um prédio em chamas,

instintivamente uma das primeiras reações de uma pessoa será fugir de alguma maneira.

Foucan explica este instinto com os homens das cavernas, que precisavam se locomover

para caçar e fugir. Com o tempo foram desenvolvendo naturalmente habilidades corporais e

força para se locomoverem melhor em meio aos ambientes inóspitos.

2.1 Os Movimentos

Os movimentos do Parkour são baseados na natureza do ser humano e influenciados

pelas análises de Hébert. Estes podem ser chamados de adaptações de como se passar

fluentemente por um tipo de obstáculo, seja este uma árvore ou uma parede, por exemplo.

Estes movimentos sempre são executados por cada pessoa de uma forma única e natural.

Focalizando o obstáculo e na execução, no Parkour não se deve comparar um

praticante com outro ou executá-lo apenas para impressionar alguém. São movimentos

individuais que exercitam a noção e conhecimento que cada um deve ter de suas próprias

habilidades físicas. Para muitos traceurs, o Parkour não é só um esporte, e sim um estilo de

vida, sempre concentrado em si mesmo e observador.

Muitos movimentos do Parkour são simples e se assemelham aos de alguns animais,

como felinos e macacos. E se assemelha, também a alguns esportes como a Capoeira,

Ginástica Olímpica e artes marciais, como Kung Fu e Muay Thai, por exemplo. O 2

? Fonte: UrbanFreeFlow - www.urbanfreeflow.com/the_core_level/pages/archives/methode_naturelle.htm

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(Fig 1-2) George Hébert, Educador Físico francês do início do século 20.

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(Fig 1- 3) Daniel Ilabaca de Liverpool, Inglaterra.

intrigante é o grau de controle do corpo, a força física e a coragem que muitos traceurs

adquirem.

Um traceur deve ter 100% de segurança em seus movimentos e conhecimento total

do ambiente antes de executar uma “manobra” arriscada em busca de vencer seus medos e

do prazer. Um traceur está sempre exposto a grandes quedas e sérios ferimentos, e para que

isso não ocorra, são exigidos longos treinos, em lugares baixos, pertos do chão.

Estas técnicas podem ser basicamente divididas em cinco grupos fundamentais:

Aterrissagens, Vaults, Equilíbrios, Escaladas e os Grandes Saltos. Existem dois tipos de

aterrissagem. A simples (Landing), para absorver o impacto de saltos de alturas baixas. E a

aterrissagem com rolamento (Landing Roll). Um rolamento é executado após a

aterrissagem simples para suavizar grandes impactos.

Vaults (do inglês: saltar por sobre algo) são

para passar rapidamente por um obstáculo.

Curto, como uma mureta, ou um obstáculo longo

como uma mesa. São muito importantes para

diversas situações além das citadas.

Os Equilíbrios são fundamentais para o

desenvolvimento de todas as outras técnicas,

pois ajuda o traceur a conhecer seu ponto de

equilíbrio, assim, seu próprio corpo. Existe o

equilíbrio simples (Balance) sobre os dois pés, e

o equilíbrio de gato (Cat Balance), sobre as mãos

e os pés, semelhante a um gato. Ambos são

geralmente treinados em corrimãos. Envolvendo

as escaladas estão algumas técnicas como o Pulo

do Gato (Cat Leap – Fig1-3), que tem variações,

consiste em agarrar em um obstáculo, como um

muro, usando os braços e as pernas. Escaladas simples, em muros, em que se usam as

pernas para impulsionar o corpo até que seja alcançado o topo do muro com as mãos.

Os saltos mais famosos do Parkour são os Big Jumps (grandes saltos) (Fig1-4), são

saltos em que o traceur atravessa um vão distante, parte de uma altura alta em relação ao

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ponto “B”. Apesar de simples, são muito perigosos, executados pelos praticantes mais

experientes. Existem também os Precisions (saltos de precisão), que exigem muito controle

da força e equilíbrio de quem o executa, são saltos em que se chega ao ponto “B” com duas

ou com uma perna em uma superfície bem estreita, como um muro ou um corrimão. São

muito importantes para o aperfeiçoamento das técnicas gerais de um traceur. Varias

técnicas foram misturadas com as do Parkour por praticantes de esportes como a capoeira e

artes marciais. Estes trouxeram os movimentos das academias para as ruas. Ressaltando a

beleza e não a eficiência somente. Esta modalidade que se volta mais para a estética foi

denominada Freerunning (do inglês: corrida livre), o praticante (freerunner), diferente do

Parkour, executa estes movimentos buscando impressionar pessoas.

Capítulo 2 – Entendendo um Traceur

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(Fig 1-4) Escócia

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2.1 O Medo

O medo é um dos maiores inimigos de um traceur ou, um dos melhores amigos. O

medo é uma reação interna do nosso corpo que surge diante de uma situação, dita, perigosa,

de acordo com nossos parâmetros de sobrevivência construídos na infância. Estas noções

são fortemente construídas por influência de nossos pais quando, por exemplo, uma criança

buscando subir numa árvore, desvia-se de seu caminho, ouve a mãe gritando que poderá se

machucar, duvidando da capacidade física e mental desta criança. Além de ver, a partir de

então, as árvores como coisas perigosas, e que será mantida distância, esta criança pode ter

tido bloqueada a chance de se libertar do caminho normal e planejado, a calçada, e

descobrir se aquela árvore era realmente perigosa e também em descobrir seus próprios

limites corporais se machucando realmente ou não.

No Parkour, cabe ao traceur encarar seus medos de frente, aprimorar suas capacidades

físicas e combater as mentais começando do chão, repetindo e repetindo os movimentos

básicos até a execução perfeita, caindo, se levantando, combatendo esse aprisionamento de

nossas capacidades em busca de pura liberdade. Em algumas situações onde já não se

pratica mais perto do chão, o risco de se contundir gravemente aumenta e, estes nossos

medos podem atrapalhar um salto ou nos impedir de tentar e talvez falhar.

O medo produz adrenalina e esta produção começa com a extração de fenilalanina a

partir das proteínas que ingerimos. Estas são transformadas em tirosina e mandadas para as

glândulas supra-renais, onde ocorre a produção do hormônio. Após isto, a adrenalina é

armazenada até o momento em que sentiremos medo. Quando nos deparamos com uma

situação de risco nosso cérebro ativa as glândulas supra-renais liberando a adrenalina até 20

vezes mais rápido que o normal. A quantidade de sangue bombeada para o cérebro,

coração, pulmão e para os músculos primários como os das pernas e braços aumenta. As

pupilas se dilatam aguçando a visão. A transpiração aumenta. Os vasos sangüíneos que

levam sangue para o sistema digestivo são comprimidos deixando menos ativa nossa

digestão. As vias respiratórias se dilatam ampliando nossa absorção de oxigênio. Com mais

sangue, oxigênio e glicose nos órgãos e tecidos, é possível realizar ações que em condições

normais não seriam.

Muitas pessoas praticam esportes radicais como pára-quedismo, bungee-jump em

busca da adrenalina e de seus efeitos. Outras chegam a ser viciadas na endorfina liberada

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durante a prática de exercícios físicos, e chegam a ficar irritadas e impacientes quando não

podem praticar ou quando têm que parar.

2.2 Relação Traceur Cidade

Muitos traceurs obtiveram um contato profundo com o ambiente urbano em varias

cidades do mundo através do Parkour, e nada mais cabível que respeito a estes ambientes

que mudaram a sua forma de viver, física e mentalmente, trabalhando o corpo por

completo, interagindo com os mais variados tipos urbanos de superfície, formas e

tamanhos, e mentalmente, passando limites internos que nunca foram imaginados durante a

vida, combatendo medos e a insegurança.

Dois outros esportes que também proporcionam esta modificação nos olhares para a

cidade é a prática do skate e do patins, que utilizam corrimãos, escadas como obstáculo. O

skate e o patins são os meios que o praticante usa para criar seu contato com um meio

urbano. Infelizmente, muitas vezes skatistas e patinadores degradam alguns lugares durante

a prática. Algumas coisas são adaptadas para uma prática melhor, algumas pessoas ficam

com receio de andar perto e acabam diminuindo os lugares em que a prática dos esportes

pode ser feita.

No Parkour, além de não ser preciso equipamentos por poder ser praticado descalço

ou com um tênis confortável, há uma relação de respeito entre traceurs e os lugares que

podem lhes oferecer além da prática, diversão. Muitas vezes além de não degradar a

imagem do lugar, sujando, mudando a aparência física deste, os traceurs mostram a muitas

pessoas, que se impressionam, uma nova utilidade, nunca imaginada, para tal lugar.

2.3 Mudanças

Para muitos traceurs, o Parkour não é apenas um esporte, e sim, uma filosofia de

vida. Depois de um certo tempo de prática, um traceur tem vários tipos de situações

registradas em sua mente, e processos de sua evolução corporal que podem jamais ser

esquecidos. E é claro que muitas destas situações não foram boas, mas o que realmente

deve ser lembrado, é a maneira com que estas foram dificilmente passadas. Como lições,

aprendizados que poderão ser usados em situações semelhantes ocorrentes na vida, no dia-

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a-dia. Por exemplo, ter de se adaptar a condições, lugares nunca antes conhecidos, enfrentar

um medo, e como lidar com uma lesão.

Ao longo da vida de um traceur, varias mudanças ocorrerão no seu comportamento.

A primeira, e mais evidente, mudança é a física. Força, para realizar muitos movimentos,

equilíbrio, noção e consciência são unidos à prática de qualquer outro esporte que venha a

ser praticado. O traceur começa a conhecer seus próprios limites e capacidades. Mas além

destas, muitas habilidades mentais podem ser absorvidas do Parkour como a concentração

exigida antes de executar algo em qualquer outra ocasião. Muitos estudos comprovam que

para obter sucesso em um movimento físico é preciso ter sua mente presente ali.

Ele começa a perceber todos os ambientes urbanos e naturais que o envolve, onde

pode praticar, o que é seguro, o que não é, está atento a muitos detalhes.

Após um vault bem executado ou vários cat leaps, por exemplo, o registro de que tal

movimento é possível de ser realizado permanece para aquele que o fez, ou seja, confiança

em si mesmo. A autoconfiança pode-se dizer que é uma das mais importantes capacidades

experimentadas no Parkour e que pode ser usada em toda a vida dando segurança e firmeza

nos atos, impedindo muitas falhas e libertando a mente para a realização de quaisquer

imagináveis feitos.

Depois que estes fatores citados são bem captados pelo traceur, eles viram hábitos,

ficam comuns a ele, e não há o que vir de ruim. Em todos os momentos ele estará ligado ao

Parkour, que é sua vida.

Capítulo 3 – Parkour interferindo no modo de vida moderno

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3.1 A vida moderna

Na vida moderna, as idéias mercantis são refletidas nas construções com a

necessidade de expansão dos fluxos comerciais ditos pelo sistema capitalista. E nesta vida

são apresentados vários aspectos contraditórios à filosofia naturalista do Parkour.

Em uma sociedade como a paulistana, o traceur busca se libertar das proibições

urbanas através do Parkour, apenas utilizando as capacidades de seu corpo. Fazendo

ressurgir a atividade física espontânea e natural do ser humano, eles colaboram para que as

ruas não sejam somente usadas como passagem (conseqüência da utilização deste espaço

como fluxo econômico) e mantêm-se em verdadeiro contato com os ambientes, explorando

o que os cidadãos esqueceram e aquilo que não foi feito para múltiplos usos.

Estes, reprimidos e limitados cidadãos, que são obrigados a seguir estes labirintos,

sentem-se sozinhos, mesmo que rodeados de pessoas. Não há contato entre as pessoas,

quanto mais estiverem presentes em um mesmo local mais são obrigadas a se separar

daqueles estranhos. É algo não natural ao ser humano, que age como se não tivesse nada em

comum com os outros, fazendo com que se empurrem, se fechem, procurando perfurar esta

camada grossa e densa de pessoas. Estes estão lá sem o interesse de se relacionar com

aquele lugar sujo e perigoso, somente para onde estão indo, não ligam para o que está entre

seu ponto de partida e seu destino, como pessoas e estruturas urbanas.

Convivendo com o crescimento de uma cidade como São Paulo, é natural que a

criminalidade aumente, obrigando muitas pessoas a comprarem segurança para suas casas.

Muros mais altos, cacos de vidro, cabos ligados à eletricidade, sensores de movimento e

câmeras, por exemplo, são atributos que impedem não só bandidos como traceurs de se

movimentarem. De acordo Ana Fani, as casas reforçam a idéia de privado e público, (as

ruas que agora deixam de “ser a extensão da casa para se contrapor a ela”) 3.

Não há mais contato entre vizinhos, festas abertas, crianças brincando na rua ou

pessoas sentadas na calçada. As festas são particulares, e cada morador do bairro

permanece em frente a sua televisão.

O sedentarismo também cresce bastante em uma sociedade urbana com alguns fatores

contribuintes. O desenvolvimento da tecnologia torna muitas coisas mais fáceis, remotas e

rápidas, como a televisão que substitui muitas vezes o teatro e o cinema, fixando pessoas a

3 ALESSANDRI CARLOS, Ana Fani. Novos Caminhos da Geografia. Ed. Contexto.

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(Fig 3-2) Traceurs de Yorkshire, Norte da Inglaterra usam a passarela como local de treino.

sua frente durante horas. Também o computador e a Internet que permitem qualquer tipo de

informação ou entretenimento, permitem cada vez mais alguém de não ter que sair de casa.

E também substitui o contato social humano com conversas e sites de relacionamento

virtual, sem precisarem telefonar ou se encontrar em algum lugar.

O maior influente para este processo de involução dos movimentos humanos é o

automóvel, em todos os tipos e tamanhos, reduz o tempo gasto de casa ao trabalho, e

procura estar presente na vida do consumidor o maior tempo possível, com aparelhos de

rádio, vídeo, permitindo que varias coisas sejam feitas ao mesmo tempo, banalizando, além

da música ou do vídeo, o momento em que se passa pelas ruas. Tirando também o contato

social dos cidadãos de uma mesma sociedade, fechados cada um em seu confortável casulo

móvel, seguro, particular, que consegue separar o luxo que fornece da realidade externa que

se encontra nas ruas. Estampada assim na face de muitas pessoas a melancolia da cidade.

Com os transportes em geral, as pessoas perderam a noção da verdadeira distância e

associaram-na com o tempo somente. Aviões principalmente geram essa troca por percorrer

longuíssimas distâncias em um tempo que o carro convencional demoraria mais, fazendo a

pessoa optar pelo mais rápido, pois o que importa é fazer varias coisas no menor tempo

possível, banalizando a presença dos ser nos lugares que viraram só de passagem. Não se

contempla o tempo “gasto” em uma

viagem, aquele entre destinos, se muitas

pessoas pudessem, comprariam um

teletransporte, sem viagem, sem caminho,

direto e rápido. Estas ocorrências que

tornam o espaço em espaço de passagem

são frutos do fato de que o valor de troca

sobrepõe o valor de uso, tudo está voltado

para favorecer a acumulação. Pessoas

chegam mais rápido aos lugares pelos

meios de transporte, pontes, túneis para

consumir, trabalhar e produzir (Fig. 3-2)4.

4 Fonte: http://www.flickr.com/photo_zoom.gne?id=256217251&size=m

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Segundo Ana Fani, o espaço se torna mercadoria para favorecer os interesses

lucrativos imediatos, e os promotores imobiliários se movem numa “mobilização frenética

desencadeada”5 para melhorar as vias de fluxo de automóveis principalmente.

Algumas construções derrubam áreas antigas como prédios, casas e árvores para

serem construídas e mudam o cotidiano de muitas pessoas, seus trajetos comuns são

interceptados. Já um traceur, não se adapta e traça seu caminho “anormal” de acordo com

suas capacidades de se apropriar daquele espaço. O corpo humano, de acordo com Ana

Fani, é o meio que as pessoas vivas em uma cidade têm para entrar em contato com o

espaço urbano. Estas utilizam suas capacidades físicas e seus sentidos para isso, pois o

espaço foi feito para ser, antes de tudo, tocado, sentido, utilizado. Assim, “o homem se

percebe e vive o espaço”6, conhecendo o espaço urbano, se conhecendo, interagindo. O

Parkour parte dos mesmos princípios, mas de uma forma mais intensa e objetiva.

3.2 Popularização

Desde o nascimento do Parkour na França, na década de 80, o esporte era conhecido

somente por algumas pessoas através de vídeos impressionantes na Internet. Era algo fora

do comum, ver pessoas pulando de um prédio para outro, se sentiam incapazes de praticar

aquilo. Mas a partir do ano 2000 houve uma imensa divulgação através de outros vídeos de

praticantes europeus e com o documentário Jump London.

No documentário Sebastien Foucan conta a história do surgimento do Parkour, em

Lisses7, e como funciona sua filosofia, seguido de uma jornada pelos centros históricos de

Londres, que seriam usados como treino de alguns traceurs franceses destacados,

adicionando algum uso nunca antes visto pelo povo londrino.

Foucan8 é considerado um mestre, apesar de não existir superioridade entre os

praticantes do Parkour, por ser o maior propagador desta filosofia. Não gosta muito de

ensinar, pois segundo ele cada um tem que achar seus movimentos dentro de si. 5 ALESSANDRI CARLOS, Ana Fani. Novos Caminhos da Geografia. Ed. Contexto.

6 ALESSANDRI CARLOS, Ana Fani. Novos Caminhos da Geografia. Ed. Contexto.7

? Lisses é considerada por muitos traceurs a Mecca do Parkour pelos incríveis obstáculos que possui e por ter sido berço do Parkour. 8 Sebastien Foucan atuou em filmes como 007 Cassino Royale(2006).

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A partir de então muitas pessoas se sentiram aptas a praticar e praticantes e grupos

foram surgindo ao redor do mundo. Na Inglaterra houve uma imensa explosão, fora toda a

Europa, Austrália, China e Américas. No Brasil existem alguns grupos e praticantes

independentes principalmente no Sudeste e Nordeste.

A Internet com certeza foi fundamental nessa divulgação. Qualquer praticante pode

gravar em vídeo seus treinos e disponibilizá-los no website YouTube para compartilhar

idéias com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Em São Paulo, por exemplo,

encontros são feitos pelo website Orkut através das comunidades, em determinado lugar

que possui grande variedade de obstáculos e em determinada hora.

Hoje em dia existem poucas academias de Parkour na Inglaterra, criada por

praticantes experientes. Estes buscavam poder treinar em um local seguro e mesmo em dias

que a natureza não permitisse, com chuvas, neve e frio, climas comuns no hemisfério norte.

A maioria dos praticantes europeus treinam seu condicionamento físico em dias ruins para

colocarem em prática suas técnicas durante o verão.

O esporte de “pular prédios” foi desmitificado com documentários após o Jump

London, como o Jump Britain, em vários símbolos históricos e da engenharia por toda a

Grã Bretanha, os traceurs ingleses ao lado de Foucan realizam feitos nunca antes vistos.

Hoje existem muitos praticantes experientes em todo o mundo que ajudam a propagar a

filosofia.

Não existem competições de Parkour propriamente ditas, e sim de FreeRunning, pois

o Parkour não visa a execução dos movimentos para impressionar pessoas, rebaixar os

outros praticantes e nomear alguém superior, como é feito em uma competição de lutas, por

exemplo.

Conclusão

O Parkour é um esporte que está passando pelo auge de sua popularização e já conta

com um grande número de participantes ao redor do mundo.

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Criado nos subúrbios de uma metrópole, por jovens que queriam nada além de pura

liberdade, o Parkour, com base nos movimentos naturais humanos, consegue quebrar os

limites impostos pela sociedade capitalista refletidos na arquitetura do meio urbano.

A primeira vista que se tem da cidade é o caos. A correria, a sujeira, não se vêm

possibilidades de escapar sem o recurso privado. Sente-se preso, incapaz de realizar o

desejado, está-se ali para produzir e seguir o ritmo mercantil urbano. Mas quando se tem

“os olhos do Parkour”, vemos liberdade, um caminho alternativo, fazendo destas limitações

insuficientes para nos parar. O espaço muda de acordo com o seu uso, e no Parkour os

traceurs se apropriam destas mudanças para serem livres. Os traceurs se diferenciam dos

muitos cidadãos que em busca de sobreviverem em cidades inóspitas como as atuais,

esquecem de lutar por sua liberdade.

Apêndice

Indico para que após a leitura desta monografia sejam apreciados vídeos de

praticantes ingleses e holandeses, e filmes como O 13° Distrito, e 007 Cassino Royale.

Também indico o documentário Jump London para ser assitido. Grato.

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Blane da Inglaterra em:

http://www.youtube.com/watch?v=iWfWRpHGGSg

Phillip da Holanda em:

http://www.youtube.com/watch?v=1or7aT2lLx8

Parte 1 de 5 de Jump London (as partes seguintes estão relacionadas)

http://www.youtube.com/watch?v=PPQhnGq3UZo

REFERÊNCIAS:

Bibliográficas:

ALESSANDRI CARLOS, Ana Fani. “O consumo do espaço” in Novos Caminhos da

Geografia. São Paulo: Contexto 1999

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CHAUÍ, Marilena. “A Liberdade” in Convite à filosofia. 13ª Edição, 2ª Reimpressão.

São Paulo, 2004.

ASHCROFT, Francês . A Vida no Limite: A Ciência da Sobrevivência. Tradução

Maria Luiza X. de A. Borges. Rio De Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001

Eletrônicas (Internet):

YouTube: www.youtube.com/watch?v=QMw3q3NjqRk&eurl=http%3A%2F

%2Fwww%2Eleparkourbrasil%2Ecom%2Ebr%2Fbase%2Ephp%3Fpag%3Dartigos

%26cod%3D209

UrbanFreeFlow:

www.urbanfreeflow.com/the_core_level/pages/archives/frightened.htm

www.urbanfreeflow.com/the_core_level/parkour_a_natural_perspective/

parkour_a_natural_perspective.htm

www.urbanfreeflow.com/the_core_level/pages/archives/methode_naturelle.htm

www.urbanfreeflow.com/fundamentals/fundamentals.htm

GeoCities:

www.geocities.com/lourdesgeografia/temasbaudelaire.html

Le Parkour Brasil:

http://www.leparkourbrasil.com.br/base.php?pag=artigos&cod=94

Eletrônicas (Filmes):

CHRISTIE, Mike. Jump London. Londres: Setembro, 2003

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