lavrador paulista

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  • MARIA CELESTINA TEIXEIRA MENDES TORRES

    UM LAVRADOR PAULISTA DO

    TEMPO DO IMPRIO

    10 PRMIO DO CONCURSO SOBRE HISTRIA DE SAo PAULO - 1966

    SEPARATA DA REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL

    NoCLXXII

    DIVIsA0 DO ARQUWO HISTRICO

    DEPARTAMENTO DE CULTURA - SECRETARIA DE

    EDUCAO E CULTURA

    PREFEITURA DO MUNICPIO DE sAo PAULO

  • INSTITUTO HISTRICO E GEOGRFIco DE PIRACICABA DIRETORIA (2010-2012)

    PREsIDENTE

    PEDRO CALDARI

    VICE-PREsIDENTE

    CEZARIO DE CAMpOS FERRARI

    10 SECRETRIO

    TOSHIO IcIZUCA

    20 SECRETRIO LUIZ NASCIMENTO

    lO 'ThsOUREIRO

    VITOR PIRES VENCOVSKY

    20 'ThsOUREIRO

    JOo UMBERTO NASSIF

    ORADOR

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    ROSALY APARECIDA CURIACOS ALMEIDA LEME

    TIMTHEO JARDIM

  • MARIA CELESTINA ThIXEIRA MENDES TORRES

    UM LAVRADOR PAULISTA DO

    TEMPO DO IMPRIO

    10 PRMIO DO CONCURSO SOBRE

    HISTRIA DE SO PAULO -1966

    EQUILlBRIO editora

  • Copyright Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba

    Torres, Maria Celestina Teixeira Mendes. Um lavrador paulista do tempo do imprio / Maria Celestina Teixeira Mendes

    Torres. - Piracicaba, SP: Equilibrio, 2010. 99p.

    Publicado com apoio da Secretaria de Ao Cultural de Piracicaba e do Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba - IHGP

    Separata da Revista do Arquivo Municipal, n. 172

    ISBN: 978-85-61237-37-0

    1. So Paulo (Estado) - Histria. 2. Barros, Luis Antonio de Souza - Biografia. I. Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba. lI. Ttulo.

    CDU:981.61

    Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba

    Piracicaba - SP

    2010

    COORDENAO EDITORIAL

    Equilbrio Editora Sociedade LTDA

    DIREO

    Carlos Terra

    Gustavo Alvim

    CAPA E EDITORAO ELETRNICA

    Mareei Yamauti

    IMPRESSO E ACABAMENTO

    Printfit Solues

    http:CDU:981.61

  • REIMPRESSO

    o Instituto Histrico e Geogrfico de Piracicaba tem por objetivo, conforme rezam seus Estatutos Sociais, promover o estudo, a pesquisa e a divulgao da Histria, da Geografia e demais cincias correlatas, relacionados ao municpio em que est sediado e regio circunvizinha.

    Para bem cumprir essas finalidades, a entidade tem estimulado estudiosos dessas reas do conhecimento, de forma especial seus associados, a fazerem pesquisas e a produzirem textos, para que a entidade os divulgue na forma de livros ou como artigos em sua revista anual.

    Por sua vez, a diretoria tomou a deciso de, sem prejuzo da edio de trabalhos inditos, reimprimir algumas obras, publicadas anteriormente pelo IHGp, que se encontram esgotadas. So livros preciosos de autores consagrados e renomados, que se dedicaram investigao cientfica da histria de Piracicaba, fazendo-a de forma competente e cuidadosa, e cujos textos resultantes passaram a ser fundamentais e imprescindveis, no s para leitores que tenham meramente o interesse de conhecer esses assuntos, mas, tambm, e sobremodo, para historiadores, professores, pesquisadores que encontram neles fontes para seus estudos e trabalhos acadmicos.

    Este livro, publicado com o apoio da Prefeitura Municipal de Piracicaba, por meio da sua Secretaria de Ao Cultural, uma dessas reimpresses. O seu texto sofreu uma reviso para adequ-lo nova ortografia, sem qualquer alterao no seu contedo, respeitando-se, no entanto, a ortografia da poca, quando da transcrio ou citaes de documentos histricos.

    H outros autores e respectivas obras, que certamente, sero alvos tambm dessa ateno e reconhecimento. A Comisso de Publicaes do IHGP est permanentemente trabalhando para selecion-las e promover a republicao futuramente.

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    o Comendador Souza Barros e Dona Felicssima

    Maria Celestina T. M. Torres 10 prmio do concurso Sbre Histria de

    So Paulo, realizado pela Diviso do Arquivo Histrico, em 1966 (TEMA: "PERSONAUDADE PAUUSTA FA

    LECIDA H MAIS DE 50 ANOS").

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    Escrever sobre a vida de certos homens ou de certas famlias como fazer a histria de determinadas pocas, como fixar no papel determinado momento da vida de uma sociedade. A vida de um bandeirante representa, na realidade, a histria do So Paulo pobre, do So Paulo sem vida rural, ideia e aes voltadas para o serto, histria do So Paulo do sculo XVII ou XVIII. Mas a vida de um lavrador do sculo XIX ser o retrato da sociedade paulista voltado para as atividades agrrias, sedentarizada no cultivo da terra. Retrato, pois, de uma verdadeira revoluo econmica e social.

    O estudo da vida de homens to ligados economia rural, como o comendador Luiz Antnio de Souza Barros, , de fato, o estudo de certos aspectos da economia paulista no sculo XIX. um esmiuar de detalhes a respeito das chamadas dinastias aucareiras ou cafeeiras que constituem os verdadeiros pilares da economia da Provncia de So Paulo no tempo do Imprio.

    A biografia de Luiz Antnio de Souza Barros leva-nos, primeiro, ao So Paulo dos fins do sculo XVIII, ao regime das sesmarias e morgadios. E levanos confirmao do que afirma o prof. Srgio Buarque de Holanda, de que, na origem das dinastias aucareiras e cafeeiras, est muitas vezes, um militar ou um negociante.

    A nossa histria comea em Portugal, em Amarante, onde vivia o casal Jos Luiz de Souza - Ana Maria de Macedo Souza, com seus trs filhos - Manuel Caetano, Luiz Antnio e Francisco Antnio (1). O primeiro ficou em Portugal, enquanto os outros vieram para o Brasil e instalaram-se na capitania de So Paulo, uma poca em que o serto de Mato Grosso atraa o esprito aventureiro, desa

    . fiando a coragem do homem. Francisco Antnio, casado com D. Izabel Incia da Conceio, paulista de

    Santo Amaro, enriquecera graas a negcios em Mato Grosso, tomando-se opulento senhor de engenho no munidpio de So Carlos, atual Campinas, com os engenhos de Boa Vista, Invernada e Morro Grande. Foi pai do coronel Francisco Incio de Souza

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    Qy,eiroz (3) - depois de se dedicar a especulaes mercantis em Mato Grosso, como seu irmo, ingressa na carreira militar. Em 19-03-1786 assenta praa de tenente agregado companhia de cavalaria de Itu, do regimento de milcia de drages, passando a capito, confirmado pelo Conselho Ultramarino a 9 de outubro de 1794. A 20 de abril de 1796 tenente-coronel, sendo promovido a coronel efetivo em 31 de maro de 1798, nas milcias de Sorocaba, confirmado por patente rgia de 12 de junho do mesmo ano (4).

    As foras armadas das capitanias compunham-se de "tropa de linha", das milcias e dos corpos de ordenanas. A primeira representa a tropa regular e profissional, permanentemente sob as armas. Era quase sempre composta de regimentos portuguses que conservavam mesmo seu nome do lugar onde tinham sido formados, como os de "Bragana" e de "Moura", estacionados, em fins do XVIII, no Rio de Janeiro, e o de "Estremos", em Santa Catarina, Parati e Angra dos Reis. Para completar os efetivos que vinham do Reino, procedia-se ao engajamento para a tropa na prpria Colnia. "As milcias so tropas auxiliares; com as de linha, organizam-se, em regra, l para os fins do sculo, em regimentos (em substituio aos antigos teros) e se recrutam por servio obrigatrio no remunerado, na populao civil; eram comandadas por oficiais tambm escolhidos na populao civil, e, que, igualmente no podiam se eximir ao servio no remunerado que prestavam; e tambm, por algumas patentes regulares, destacadas para organiz-las e instruir. O enquadramento das milcias se fazia na base territorial (freguesias), bem como, e, sobretudo, pelas categorias de populao. A ltima categoria das foras armadas, a terceira linha, eram as ordenanas, formadas por todo o resto da populao masculina entre 11 e 60 anos, no alistadas ainda na tropa de linha ou nas milcias, e no dispensadas do servio militar por algum motivo especial, os eclesisticos, por exemplo" (5).

    Pertencendo, pois, ao corpo de milcias, coronel desde os ltimos anos do XVIII, vmo-lo a tomar providcias relativas a expedies para Cuiab, ainda em 1818, s vsperas de ser promovido a brigadeiro, quando passar para a reserva.

    o que se depreende do seguinte oficio do governo paulista a ele remetido (6):

    "Tendo de partir da Villa de Porto Feliz huma Expedio para o Cuiab, conduzindo pelo Rio vrios Petrechos de Guerra, q' S. Mge. pa. ali Manda: Determinamis V. S. passe as mais pozetivas Ordens e sem perda de tempo ao Commandante das Comp. as do Regimto. Do su Commando aquarteladas naquella Villa, pa. q' o Capo Mor da ma. Possa utilizar-se dos milicianos, no sdos qforem proprios p. a Expedio, como dos q. lheforem mister para guarda dos

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    Armazens, em q' devem seguir na mencionada Expedifo, Deosge.A V. S. S. Paulo, 13 deAbrilde 1818-D. Manuel Bispo D. Nuno Eugenio de Locio e Scilbs - MiguelJos de Oliveira Pinto~

    Nessa poca a capitania de So Paulo, est sendo governada interinamente por um triunvirato, pois o conde de Palma, ento Governador e Capito General da Capitania de So Paulo, tinha sido nomeado, em 1817, por carta rgia de 7 de junho, para governar a Bahia. Tal triunvirato, que exerceu o poder com a mesma jurisdio e alada que tinham os Governadores e Capites Generais, at a posse do Capito General de Mato Grosso, Dom Joo Carlos Augusto de Oyenhausen e Grevemburg, depois Marqus de Aracati, era composto pelo Bispo de So Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira, pelo Desembargador e Ouvidor Dom Nuno Eugenio de Locio Scilbs e pelo Chefe de Diviso da Armada Real e intendente da Marinha de Santos, Senhor Miguel Jos de Oliveira Pinto (7).

    So, ento, expedidas ordens no mesmo sentido, aos capites-mores das Vilas de Itu, So Carlos, Sorocaba, ParnaJba e Porto Feliz. Procura-se, assim, obter todos os recursos para o bom xito da expedio a Cuiab, inclusive entre as Companhias de Ordenanas.

    A 16 de dezembro de 1818, Luiz Antnio de Souza reformado no posto de brigadeiro, sem direito a soldo, conforme consta do oficio seguinte (8).

    "El-Rey Nosso Senhor Foi servido por decreto de 16 de dezembro ultimo, conceder a V.S. Reforma no Posto de Brigadeiro sem soldo o que participamos a V.S. para sua inteligncia, e para que mande solicitar. a sua Patente - sem aq. qual no gozar deste Despacho. Ds. Gd. A V.S. So Paulo, 12 de janeiro de 1819. Dom Matheus Bispo - Dom Nuno de Locio e Scilbs - MiguelJos diOliveira Pinto".

    Exerceu ainda cargos pblicos. Foi Guarda Mor da Casa de Fundio em 1785 e arrematando vrios contratos, como os Subsdios Literrios e os dos Novos Impostos e os dos Dzimos, em dez anos consegue avultada fortuna (9).

    Acionista da Real Fbrica de Ferro de Ipanema, possuia at uma galera, a primeira que saiu do Porto de Santos para o de Lisboa.

    Casando-se com D. Genebra de Barros Leite, terceira filha de um dos mais importantes lavradores ituanos, o capito Antnio de Barros Penteado, e adquirindo em Piracicaba e So Carlos (atual Campinas), extensas glebas, ser nas duas primeiras dcadas do XIX, o homem mais rico da capitania de So Paulo.

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    Por ttulos de sesmarias ou por compras, Luiz Antnio tornou-se proprietrio de importantes engenhos em So Carlos. Segundo o tombamento de 1817, citado porTaunay (ob. cito p. 69) era o brigadeiro proprietrio de "Atibaia", com 40 escravos, "Monjolinho" com 60, "Palmeira" com 30, "Tapera" com 59, "Taquaral" com 37, possuindo, pois, 290 escravos.

    Luiz d'Alincourt, engenheiro militar portugus, que exerceu vrias comisses no Brasil, em sua "Memria sobre a Viagem do Porto de Santos cidade de Cuiab",jornada realizada por ele em 1818 (10), referindo-se aos 60 engenhos de Campinas diz:

    "O principal senhor de engenho o Coronel de Milcias Luiz Antnio, morador em So Paulo, homem ajudado pela fortuna de um modo espantoso, e que possui uma das mais slidas casas do Brasil; s ele, em Campinas, tem dezesseis engenhos, um dos quais lhe rendeu em 1817, nove contos de ris; e sua colheita anual no desce de trinta mil arrobas de aucar e a renda de sua casa anda em oittenta mil cruzados. Alm desta, existem outras de bonsfUndos. A do Coronel Francisco Antnio de Souza anda de dez a doze mil arrobas, em cinco engenhos, quatro dos quais, soprprios~

    A administrao do Brasil Colonial est presa a um emaranhado de leis que correspondem s Ordenanas Portuguesas - Monsinas, Manuelinas e Filipinas alm de uma profuso de leis, decretos, alvars, cartas rgias e provises, ordens, assentos e acrdos, que formam o conjunto denominado "Leis Extravagantes". E, dentro de um sistema administrativo complicado, que no uniforme para toda colnia, a unidade administrativa maior a capitania, dividida em comarcas, compostas por sua vez, de trmos, cujas sedes so as vilas ou cidades. Os "trmos" so divididos em "freguesias", sede uma igreja paroquial, portanto circunscrio eclesistica. Estas, por sua vez, eram divididas em "bairros".

    A capitania de So Paulo, na poca de que nos ocupamos, dividida em trs comarcas, com a de Paran que formava a comarca de Paranagu e Curitiba, e a de Itu, criada em 1811.

    As terras do brigadeiro Luiz Antnio pertenciam ao trmo da Vila de So Carlos, e a, de acordo com a tendncia predominante na colnia, forma-se verdadeiro cl patriarcal, onde a vida de senhores, agregados e escravos gira em torno do engenho, unidade a um tempo econmica, social e religiosa. E, graas a seus amplos recursos financeiros e excelentes relaes polticas, obtm, para seus filhos, extensas glebas que os tornam, por sua vez, "morgados". Segundo Taunay (ob. cit.,

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    p. 69), o brigadeiro Tapera - para seus filhos, o futuro Baro de Souza Q.teiroz, Comendador Luiz Antonio de Souza Barros e Baro de Limeira.

    Entretanto, no se limitam ao municpio de So Carlos as propriedades de famlia.

    Homem de negcios, desde dos tempos de sua mocidade, quando, com seu irmo se embrenhava pelos sertes de Mato Grosso, Luiz Antnio de Souza, associa-se ao bacharel Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, futuro senador, numa "sociedade agrcola", desta vez em terras da ento freguesia de Piracicaba, pertencente ao termo de Itu (11).

    O bacharel Nicolau Vergueiro, quando a freguesia de Piracicaba pertencia ainda comarca de So Paulo, de sociedade com o seu sogro, em 1807, obtm uma sesmaria - duas lguas em quadra - que deu origem ao Engenho do Limoeiro, nas margens do rio Piracicaba, cujo primeiro administrador foi Joo Manuel Vergueiro, Inspetor dos Dzimos Reais, irmo do bacharel Vergueiro. Comprando terras nas vizinhanas, Vergueiro aumenta a rea do Limoeiro at o outro lado do rio.

    Em 1814, Vergueiro compra a sesmaria do Monjolinho,nos Campos de Araraquara, trmo de Porto Feliz, e, tambm pertencente a Piracicaba, estabelecendo a uma fazenda de criao. Esta sesmaria - trs lguas de testada por uma de fundo - tinha sido cedida ao sargento mor Felipe de Campos Bicudo e tenente Jos de Campos Paes. Vendida a Nicolau de Campos Vergueiro, torna-se importante fazenda de criao, sob a administrao de Estanislau Jos Antunes, e, em 1818, teria 110 cabeas de gado vacum e 10 potros.

    Em 1816, ao ser organizada a Sociedade Vergueiro & Souza, Vergueiro entra com o Limoeiro, avaliado em 4:200$ e Monjolinho, comprado por 500$ e avaliado em 1817 em 2:502$.

    Para tal sociedade cujo objetivo era a fabricao de acar e a criao de animais, de acordo com.a escritura pblica de 20 de julho de 1816, no Tabelio de 10 Ofcio, Luiz Antnio de Souza forneceu a quantia para a compra dos stios de Taquaral e Monte Alegre, obrigando-se, ainda, a fornecer os fundos necessrios ao aumento dos interesses sociais.

    O stio do Taquaral, situado na estrada de Piracicaba para Itu, era formado em terras da sesmaria do mesmo nome, concedida a Incio de Almeida Lara e Pedro Lemos de Oliveira, que a venderam a LuizTeixeira de Toledo. Vergueiro & Souza o arremataram em hasta pblica por 1:300$ em 9 de junho de 1816 (Auto de Arrematao no inventrio de Toledo, 10 Ofcio de Piracicaba). Tinha, ento mil braas de testada e duas lguas de fundo, formando trs estabelecimentos, dois de criao, sem escravos, e um com engenhos e 40 escravos.

    O stio do Monte Alegre pertencia ao Padre Manoel Joaquim do Amaral GurgeL Situado no bairro de Rio Acima, da freguesia de Piracicaba, tinha 700

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    braas de testadas no rio Piracicaba e meia lgua de serto. Foi vendido fuma por 2:500$ em 12 de agosto de 1816, conforme escritura que se encontra no Cartrio do 1 Oficio de ltu, Livro XXX, lI, pgina 45.

    Como todos os bens da Sociedade estavam em Piracicaba, que ser Vila Nova da Constituio, com sua Cmara Municipal instalada a 10 de agosto de 1822, Vergueiro passa a residir a, construindo sua casa - que durante muito tempo ser a melhor casa da Vila - no ptio de Matriz, enquanto o ento coronel Luiz Antnio de Souza permanece em So Paulo, onde reside.

    Os stios ficam, pois, sob os cuidados dos administradores: Damio de Souza Nogueira, do Limoeiro; Joo Paes de Almeida, do Monte Alegre; Francisco de Paula do Taquaral e Estanislau Jos Antunes,do Monjolinho.

    Em 1817, Vergueiro incorpora Sociedade o Engenho de Ibicaba, na sesmaria do Morro Azul, alm de terras junto ao ribeiro do Tatu. Para aumentar seus estabelecimentos nesta regio, a fuma requer ainda uma sesmaria de uma lgua de testada e duas de fundo, e, obtida por carta de 6 de maio de 1818, dela desiste, pois a se encontravam "arranchados" numerosos posseiros. Aumenta, ento, o Taquaral, com a aquisio do Pau Qyeimado, adquirido, com suas benfeitorias, a Antnio Coelho Barbosa e Antnio Mariano de Brito, segundo escritura lanada no Livro nO 6, p.199 e 201 v, Cartrio de 1 Oficio de Porto Feliz.

    Aos poucos as terras da freguesia de Piracicaba so devastadas, o verde claro dos canaviais substituidos o verde sombrio das matas. O machado impiedoso vai destruindo a mata, e as foices e enxadas nas mos dos escravos, abrem caminho, com novos canaviais, para mais uma "boca do serto". Monjolos, casas de taipas, cercas de guarants, canaviais e pequenas roas de milho, mandioca e feijo sero os novos elementos da paisagem. E, como fundo no seu papel tradicional, o rio Piracicaba e sua bela rde de afluentes.

    Prospera tambm a Sociedade Vergueiro & Souza. A poca de facilidades para os que, ao lado do capital, tm a febre necessria para os grandes empreendimentos, e, a se aliam ambos os fatores, cabendo, de fato, ao brigadeiro Luiz Antnio de Souza o fornecimento do capital - auferido especialmente fora da rea piracicabana, em suas propriedades de Campinas - e a Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, as realizaes.

    Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e sua esposa D. Maria Anglica, durante o tempo que durou a sociedade, residem em Piracicaba, embora, de fato Vergueiro, por suas atividades polticas seja obrigado a se ausentar por muito tempo, mas a famlia do brigadeiro Lus Antnio Souza divide seu tempo entre os engenhos campineiros, sua casa em So Paulo ou ainda em Itu.

    Alis, a norma entre os senhores de engenho da capitania de So Paulo, pelo menos no Centro-Oeste, no fazer do engenho um centro poltico e social como

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    os grandes engenhos do nordeste brasileiro, ou mesmo como os do Vale do Paraba. Vivem em suas terras, em geral, os posseiros arranchados em sobras ou ratas de sesmarias; nas grandes propriedades rurais da regio piracicabana no residem seus proprietrios que preferem, a vila, So Paulo ou a Corte, e, que, em muitos casos, sero antes polticos e homens da cidade do que prpriamente lavradores. Tal fato nos leva a encontrar um aspecto caracterstico na organizao das Cmaras Municipais - seus membros no sero os grandes fazendeiros, os maiores proprietrios rurais, os antigos "homens bons" da poca colonial, mas sim homens de pequenos cabedais que residem no munipio, a cujos intersses esto ligados intimamente.

    Reformado no psto de brigadeiro, Luiz Antnio de Souza no gozar por muito tempo, como senhor do engenho, das vantagens que tal reforma, desobrigando-o dos encargos militares, pode lhe trazer, pois morre em 30 de maio de 1819.

    o TOMBAMENTO DE 1817-1818

    Graas a D. Joo VI podemos ter uma idia da Capitania de So Paulo nos anos que antecedem a independncia do Brasil. Ordenara le, a 21 de outubro de 1817, que se remetesse Secretaria de Estado dos Negcios Estrangeiros e da Guerra, a relao de todas as pessoas que, por qualquer ttulo de compra, herana, posse ou sesmaria, tivessem terrenos, em cada um dos distritos, tanto na Provncia do Rio de Janeiro como no resto do Brasil.

    O Tombamento realizado em 1817 devia esclarecer o nome da fazenda e do seu proprietrio, a superfcie, o nmero de braas de testada e de fundo, a natureza das culturas, o nmero de escravos e a declarao de residncia do dono das terras. No Departamento do Arquivo encontram-se os volumes relativos a trinta e quatro vilas e freguesia. No obstante lacunas srias,j assinaladas por Taunay, em sua Histria do Caf, volume IH, p. 65, o Tombamento de 1817 um precioso documentrio, muito embora nem sempre as informaes correspondam exatamente s ordens emanadas de sua Majestade.

    O que se verifica, ento, a lavoura da cana e a indstria aucareira como base da economia paulista. E, ao contrrio do que se dava no sculo anterior, so as regies do planalto paulista que fornecero o grosso de exportao que se fazia pelo porto de Santos, particularmente ltu, Porto Feliz, Campinas, Sorocaba e Jundia, o que largamente documentado por viajantes que percorreram, ento, algumas

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    capitanias do Brasil. No obstante uma pequena produo de caf e razovel produo de mantimentos, particularmente milho, feijo e farinha de mandioca, a indstria aucareira o esteio da economia paulista, particularmente nos lugares de cima da serra, fato que, desde fins do sculo XVIII, assinalado quando, em documento anexo "Memria Econmico-Poltica" do Governador Melo e Castro e Mendona, "na produo aucareira da Capitania, correspondente a 1798, a contribuio das vilas de serra acima fra de 131.584, enquanto a do litoral no passava de 21.584 arrobas". Igual desproporo ocorre em 1799, com 158.350 arrobas para o interior e 40.135 para a marinha (12).

    O melhor dos relatrios parciais do Tombamento de 1817 o de ltu, organizado pelo Capito Mor da Vila, Vicente da Costa Goes e Aranha, que afirma que o trabalho fora "fielmente extrado pelos capites de ordenanas, comandantes dos bairros da mesma vila", pois cabia s Ordenanas o arrolamento dos habitantes com a declarao de seus haveres, o que fazia delas verdadeiros agentes do nsico.

    Em ltu foram arrolados 126 engenhos, 400 lavradores e 3.317 escravos. Entre os mais importantes senhores de engenho est o capito Antnio de Barros Penteado, sogro do brigadeiro Lus Antnio. Segundo Silva Leme, em sua Genealogia Paulistana, vol. 3 ( ver Anexo 1), os irmos Francisco, Jos e Antnio de Barros Penteado, filhos do capito Ferno Paes de Barros, morador em Pamru'ba, em meados sculo XVIII, enriqueceram-se na explorao de minas de ouro, particularmente da mina de Melgueira, os que lhes permitiu a compra de terras para a lavoura em ltu e Capivari, especialmente os dois ltimos, pois Francisco de Barros Penteado, estabelecendo-se em Vila Boa de Gois, a constitui famlia, sendo seu bisneto o governador de Mato Grosso, coronel Antonio de Barros Penteado foram registrados 100 escravos em sua fazenda dos" Campos Elseos" e igual nmero nos dois engenhos de sua esposa, D. Ange1a Ribeiro de Siqueira, isto , o "Gramado" e o "So Joo".Tais dados foram, por ns extrados do livro de Taunay, vol. III p. 70, entretanto Silva Leme, Genealogia Paulistana, vol. III p. 385, afirma ser Angela Ribeiro de Cerqueira filha do capito e no sua esposa. Esta seria D. Maria Paula Machado, filha do capito mor Salvador Jorge Velho e de Genebra Maria Machado.

    Em Piracicaba, o tombamento, com data de 1818 (13), traz uma relao de 275 propriedades distribudas da seguinte maneira:

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    Rio Abaixo ............ ...................................... 58

    Bst. de It e Porto Feliz ............................... 47

    Lambari,est. de So Carlos .......................... 70

    Ribeiro das Panelas, Morro Azul ............... 30

    Ribeiro da Geada ...................................... 13

    CorumbataAcima ...................................... 37

    Corumbata .......... ...................................... 2

    Araraquara e Primeira Fazenda .................. 21

    A respeito das terras pertencentes a Nicolau Vergueiro e Luiz Antnio de Souza, eis o que encontramos nos "Bens Rsticos de 1818":

    No Bairro do Rio Abaixo: " Damio de Souza Nogueira, administrador o stio do Limoeiro, com duas lguas de estrada e duas de fimdo, com Engenho e fbricas de acar, com 25 esperavam os escravos pertencentes ao Ce!. Luiz Antnio Souza e ao Dr. Nicolau de Campos Vergueiro, morador nesta freguesia e as possue por sesmarias".

    Na estrada de Itu e Porto Feliz: "Francisco de Paulo, administrador do stio denominado Taquaral, que ter de testada mais ou menos mil braas e de fundo duas lguas; este terreno est dividido em 3 estabelecimentos dois com criao, sem escravos, e outro, com engenho e 40 escravos, pertencendo sociedade do ce!. Luiz Antnio Souza que reside em So Paulo e Dr. Nicolau Vergueiro, que reside nessa freguesia que as houveram por compra".

    No bairro do Lambari, estrada de So Carlos: "Francisco Antnio de Oliveira, administrador do stio denominado Amarais ,com meia lgua em quadra mais o menos, com fbrica de acar e 50 escravos, pertencentes ao Ce1. Luiz Antonio de Souza, que reside em So Paulo, que as houve por compra".

    No mesmo Bairro, "Joo Paes de Almeida, administrador do stio denominado Monte Alegre, com um quarto de testada e meia lgua de

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    fundo, com engenho e fbrica de acar, tem 26 escravos pertencentes Sociedade do Ajudante Correa e o CeL Luiz Antonio de Souza e Dr. Nicolau Vergueiro, aquele reside na cidade de So Paulo e est nesta Freguesia, que as houveram por compra".

    No Bairro Ribeiro das Panelas, Morro Azul: "Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro possue 800 braas de terras de testada com mil pouco mais ou menos, de fundo, com 11 escravos em cultura com princpio de canas, com administrador; o mesmo possue mais uma posse antiga sobre a qual pretende sesmaria, com princpio de cultura que as houve por compra e posse".

    No bairro do Corumbata Acima: "Dr. Nicolau Pereira Vergueiro possue uma sorte de terras com 400 braas de fundo e testada o que se acha at a divisa com seu confinante e nle reside, e as houve por doao".

    No bairro de Araraquara e Primeira Fazenda: "Dr. Vergueiro possue 3 lguas de campos e matas onde conserva uma fazenda de criar denominada Monjolinho, com 3 escravos, reside na Freguesia e as houve por compra".

    Em Campinas, onde o Tombamento traz a assinatura do capito-mor Joo Francisco de Andrade, foram arrolados 294 agricultores e 3.464 escravos.

    De modo geral, o que se encontra a grande propriedade, a lavoura canavieira com seus engenhos, e a escravaria sempre em maior nmero nos engenhos- termo que serve para designar o conjunto de lavouras, "morada de casas", senzalas, fbricas de acar com suas moendas e tendal, alm de outros pertences do que os outros tipos de explorao rural, isto , pastoril ou de "gneros alimentares". E, abrangendo centros de produo importantes como Itu, Campinas e Piracicaba, l estaro, entrelaadas, unidas pelos casamentos e pelos mesmos interesses polticos econmicos e sociais, as famlias que se ligam ao tronco Luiz Antnio de Souza Macedo e Q1leiroz, o homem mais rico da capitania de So Paulo no tempo de D. Joo VI, isto que, no Brasil-Reino.

    Entretanto, tambm h problemas e dificuldades. Sempre houve, no regime patriarcal e escravocrata que caracterizou a formao social e econmica do Brasil Colonial, pequenas dificuldades com os escravos, chegando, s vezes, a pequenos motins que eram reprimidos severamente.

    J na poca de D.Joo VI, quando, veladamente, em surdina, se comenta a campanha anti-escravagista encabeada no mundo ocidental pela Inglaterra (14)

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    aqui e ali, se sucedem pequenas reaes que, evidentemente, nada tm que ver com um movimento ainda desconhecido dos escravos, mas que permitem que se considere que trs sculos de escravido no conduziram o negro a uma total submisso, e, muitas vezes, aparentemente livres das restries impostas durante as horas de trabalho, aproveitam-se de momentnea liberdade dos seus dias de folga para dar vazo a seus sentimentos recalcados.

    E, em terras do brigaq.eiro Luiz Antonio nem sempre teria reinado paz entre senhores e escravos. Trs ofcios que reproduzimos, dirigidos pelo governo da capitnia de So Paulo, datados de 3 de maro de 1819, ao coronelJoo Vicente da Fonseca, ao JUiz Ordinrio de So Carlos e Cmara Municipal de So Carlos; podem dar uma idia do problema e da sua soluo no momento (15):

    Pa. O Cel.Joo Vicente da Fonseca

    "Sendo precizo precaver e atalhar as desordens, q. commettem na Va. de S. Carlos os Escravos das Fazendas, q. nos Domingos e Dias Santos vem Villa cumprir com os preceitos da igreja: Ordenamos V.S. passe as Ordens necessrias aos Comdes. das Comp. Q o Regmto, do seo comdo, tem naquella Villa pa. q. altemadamente com a companhia de Cavalaria fao rondar por huma Patrulha de oito Soldados e hum Oficial inferior a sobredita Va. armados de polvora e chumbo, q. lhe sero ministrados pela Camara, para depois ser paga pela RI.Fazenda: e pro q. mandamos castigar com 200 aoites no Pelourinho cada hum dos Escravos da Fazenda Monjolinho pelo crime de rezistencia e retirada do prezo da mo do Alcaide, vai encarregado de auxiliar e esta diligencia, o coronel do 10 Reg. de Cava. Miliciana Antonio Leite Per. a. da Gama Lobo, ordem do qual deve V.S. mandar por todas as Comp. do Regm. seo Comdo, para o dito fim".

    Pa. OJuiz Ordin. de S. Carlos "Sendo-nos prezente pelo Of[ da Camara dessa Villa de 25 de Fev.

    p.p. e por uma representao q. nos fez o Brig. Luiz Antonio de Souza, a dezordem commettida, nessa Villa, e no Engenho do Monjolinho do sobredito Brig. feitas pelos Escravos daquella Fabrica, vmce mandar prender todos os ditos Escravos, q. entraro na dezordem, com todas as precizas cautellas, e, sero assoitados no Pelourinho dessa Villa com 200 assoites cada hum e para maior respeito, e evitar qualquer acontecimento da parte dos Escravos, vai encarregado por este Gov. o coronel de Cavallaria desse Destricto Antonio Leite Pereira da Gama Lobo

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    para auxliar a prizo e execuo do castigo com toda a Tropa Miliciana que ali se poder ajuntar. Outro sim deve vrnce, fazer toda a diligncia para ser preza o Feitor da Fazenda Domingos da Sa. promotor daquella dezordem, e parar vrnce. todo o procedimento de devassa por ser privativo este conhecimento do Juiz de vara branca. Ds. Gde. a vrnce".

    Pa. A Camara de S. Carlos

    "Recebemos o Offc. De vrnces, de 25 de Fev. p. p. em q. nos partecipo a dezordem commettida nessa villa, e no Engenho do Monjolinho do Brigadeiro Luiz Antonio de Souza, feita pelos Escr. da mesma: louvamos mto. a vrnces o seu zelo pelo Real Servio e ao Com. MiLitar desse Destricto damos as Ordens necessrias p. q. todos os Domingos e Dias Stos. faa mandar rondar a mesma Villa pro huma Patrulha de 8 homens e alm disso para dezagravo da justia offendida e para conter os Escravos com o Exemplo do castigo dos da Fazenda Monjolinho mandamos Ordem ao Juiz Ordin, para q. faa castigar com 200 assoites no Pelourinho da Villa a todos os Escravos daquella Fabrica que entraro na tirada do prezo das mos do Alcaide e na rezistencia. E pra. Qmandamos auxiliar esta deligencia pelo Coronel Antonio Leite Pereira da Gama Lobo, essa Camara assistir com a plvora e chumbo necessria para a Tropa Miliciana, com q. o dito Coronel deve cercar o pelourinho, e tambm para as Patrulhas rondantes, despeza esta q. ser paga pela junta da Real Fazenda. Ds. A vrnces. So Paulo, 3 de maro de 1819. D. Matheus Bpo. - D. Nuno Eug. de Locio e Scilbs - MiguelJ. de Olva. Pinto".

    Elemento importante na economia da poca, parte pondervel da populao, que apresenta razovel porcentagem de negros e mulatos, o escravo exige todo um aparato de fiscalizao e sanes, no obstante o tratamento bondoso, quase familiar. Dispensado por algumas famlias.

    No Monjolinho e outras propriedades da famlia do brigadeiro Luiz Antonio h sempre um grupo de escravos dedicados famlia, alguns negros libertos, particularmente aqueles que se dedicam aos trabalhos de "dentro", isto , domsticos, junto as senhoras e crianas. Alis, no este um costume exclusivo desta famlia, mas uma norma geral entre os senhores de escravos.

    Os fatos que provocaram os ofcios do trunvirato que governava So Paulo em 1819 provavelmente no sero muito mais graves do que algazarras provocadas por escravos turbulentos talvez embriagados, aproveitando suas folgas para dar vaso a seus complexos. Mas o castigo - duzentos aoites em praa pblica

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    severo demais, tem em mira oferecer um exemplo, de modo a evitar distrbios mais graves para o futuro. particularmente a "lei" que se sente ofendida. E mais um ofcio (16) com a mesma data, completa a srie de medidas tomadas, envolvendo, assim, todos os meios de defesa a fiscalizao de que dispunham, ento, as autoridades.

    Porta. Ao Coronel Antonio Leite Pera. da Gama pa. ir a Va. de S. Carlos

    " Havendo nos reprezentado a Camara da Villa de S. Carlos, e o Brig. Luiz Antonio de Souza a dezordem commettida naquella Villa, e no Engenho do Monjolinho do sobredito Brigadeiro, feita pelos Escravos daquella Fabrica: temos Ordenado ao Juiz Ord. daquele Destricto, mande prender todos os ditos Escravos, q. entraro na dezordem com todas as precizas cautelas para serem assoitados no Pelourinho da mesma Villa com 200 assoites cada hum, e para maior respeito, e, evitar qualquer acontecimento da parte dos Escaravos. Ordenamos ao Sr. Coronel do 10 Regimento de Cavalaria Miliciana desta Cidade Antonio Leite Pereira da Gama Lobo passe a dita Villa, e, com a Companhia do Regimento do seu Commando e com as de Infantaria do Regimento de Sertanejos, municiados de polvora e chumbo q. a Camara h de ministrar auxilie as determinadas prizes, e castigos, fazendo cercar o Pelourinho, e evitando toda e qualquer dezordem que possa acontecer, entendendo-se, para esse fim, com o Alferes Francisco Ignacio de Souza

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    Incio, filho de Francisco Antonio de Souza. A fortuna deste tinha sido incorporada s fazendas de Morro Grande e Morro Alto. Francisco Antonio deixara o seu filho a tera da herana, cabendo nesta as duas fazendas que, por morte de Francisco Incio, em 1831, passaro s filhas Izabel e Genebra. Izabel casar-se- com o conselheiro Albino Jos Barbosa de Oliveira, e Genebra com o filho mais velho do marqus de Valena, Luiz de Rezende.

    2- D. Ildia Mafalda que se casar com o desembargador Estevo Ribeiro de Rezende, futuro Senador, Presidente do Senado, Ministro do Imprio e da Justia, Baro, Conde e Marqus de Valena, homem de grande fortuna, com as fazendas de So Luiz e das Coroas, no municpio de Valena, alm de vastas propriedades em So Paulo. Os Valenas so proprietrios da fazenda So Pedro, em Piracicaba, e em Campinas da fazenda Santa Genebra. Esta fazenda tem sua origem na antiga fazenda de Morro Grande que pertencera a Genebra, filha de Francisco Incio de Souza Qyeiroz, e que se casaria com o capito Luiz de Rezende, filho mais velho dos Valena, esprito alegre e folgazo, cuja prodigalidade o levara runa.Vivo em 1857, Luiz de Rezende no voltar mais a Morro Grande, que, adquirida por seu pai, ser fazenda Santa Genebra, como disse ele, "em homenagem s Genebras, santas senhoras da famlia".

    3 - Francisco, Senador e Baro de Souza Qyeiroz, bacharel em direito, ser membro importante do antigo partido liberal, vice-presidente da Provncia de So Paulo. Casar-se- com sua prima Francisca Miquelina de Souza Qyeiroz, filha de Vicente de Souza Qyeiroz, baro de Limeira.

    4 - Luiz Antonio de Souza Barros, que ser dignatrio da Ordem da Rosa e Cavaleiro da Ordem de Cristo. E o nico que assinar o nome da me. Ligar-se-a famlia do marqus de Valena, casando-se com sua filha Ildia Mafalda, tambm sua sobrinha por parte da me. Vivo em 1847, casar-se- novamente, em 1850, com D. Fellsscima de Almeida Campos filha do tenente Domingos de Almeida Campos e D. Maria Incia Leite.

    5 Vicente de Souza Qyeiroz, baro de Limeira, opulento fazendeiro de caf em So Paulo. Casado com sua prima Francisca de Paula Souza filha do senador conselheiro Francisco de Paula Souza e Melo e de D.

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    Maria de Barros Leite. De seus 15 filhos, , provvelmente, o quinto, Luiz Vicente de Souza Qyeiroz, casado com Herme1inda Ottoni, o mais benemrito e mais despreendido, com o seu nome ligado Escola Superior de Agricultura Luiz de Qyeiroz, de Piracicaba, instituto universitrio instalado nas terras da fazenda So Joo da Montanha,adquirida por ele para nela se instalar um Escola de Agricultura.

    e:e

    LUIZ ANTONIO DE SOUZA BARROS

    Nascido a 23 de setembro de 1809, em Itu, na casa de seus avs maternos, viveu Luiz Antonio seus primeiros anos na casa que seu pai possua na capital da ento capitania de So Paulo, na esquina da atual rua So Bento com a rua do Ouvidor.

    Entretanto, no frequentou escolas no Brasil. Enviado a Portugal aos oito anos, educou-se na casa do seu tio, homem severo, de principios rgidos e .... amigo da palmatria. Embora tivesse frequentado a Universidade de Coimbra, no chegou a obter diploma algum.

    Em 1819, quando o seu pai faleceu, Luiz Antonio apenas um menino, ainda vivia em Portugal, sem ter conscincia da imensa fortuna legada por seu pai, o brigadeiro Luiz Antonio de Souza.

    Ao falecer, o brigadeiro Luiz Antonio deixa viva D. Genebra de Barros Leite, com seus cinco filhos e uma imensa fortuna para gerir, com imensas propriedades na capital paulista e nos municpios mais prsperos, alm dos bens incorporados Sociedade Vergueiro & Souza.

    A 16 de julho de 1822 D. Genebra contrai novo casamento, com Dr. Jos da Costa Carvalho, baiano radicado em So Paulo, bacharel pela Universidade de Coimbra, futuro baro, visconde e marqus de Monte Alegre.

    A Sociedade Vergueiro & Souza continua a ser dirigida por Nicolau Vergueiro at 1825, quando se faz o distrato, conforme escritura que se encontra no Cartrio do 1 Ofcio de So Paulo, Livro de Notas nO 27, pgina 54.

    Com a dissoluo da sociedade coube ao Dr. Costa Carvalho e sua mulher D. Genebra, a posse do stio do Monte Alegre, Taquaral e Limoeiro. A Vergueiro

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    couberam as terras do Tatu e o Engenho de Ibicaba. O Monjolinho, nos Campos de Araraquara, coube aos herdeiros do brigadeiro Luiz Antonio, e, corresponde, atualmente, ao que hoje a cidade de So Carlos, desmembrada que foi, em vrias fazendas.

    Avaliados os bens da Sociedade, na poca da sua fundao, em 25:996$, na dissoluo representavam 58:413$969 e a Vergueiro 15:631$831

    Outras propriedades rurais faziam parte da fortuna do brigadeiro Luiz Antonio de Souza e Qyeiroz, alm de extensas glebas no municpio de Campinas. Entre elas, afazenda So Luiz, enorme fazenda que "do serto" de Santa Brbara, ento pertencente ao municpio de Vila Nova da Constituio, chegava at quase o pequeno povoado com sua capela erigida em terreno doado por D. Margarida da Graa Martins. Tais terras passaro para o acervo de Luiz Antonio de Souza Barros, como tambm, posteriormente, o Taquaral, aps a morte de D. Genebra, em 1834, em Lisboa.

    Em So Paulo inicia a sua carreira de magistrado, como juiz de fora, o jovem Estevo Ribeiro de Rezende, futuro marqus de Valena, a vivendo desde 1810 at 1815. Conhecendo a famlia de Souza Qyeiroz, logo dela se faz ntimo, apaixonando-se pela jovem lldia Mafalda, filha do brigadeiro Luiz Antonio, com a qual se casar. Aps uma rpida carreira na poltica paulista, Estevo Ribeiro de Rezende passar a viver no Rio de Janeiro, nos meios ligados Crte, com cargos diversos, como fiscal dos diamantes do Serro Frio, desembargador da Relao da Bahia, ajudante de intendente geral da polcia, superintendente geral dos contrabandos, sendo est ltima nomeao feita pelo Prncipe Regente D. Pedro em 1821,e renovada pelo Imperador D. Pedro I, em 1823. Ser Oficial da Ordem Imperial do Cruzeiro. Professo na Ordem de Cristo. Em 1824 Estevo Ribeiro de Rezende ser nomeado desembargador honorrio da Mesa do Desembargo do Pao e deputado da Mesa de Conscincia e Ordens, depois de ter sido tambm membro da Assembleia Constituinte. Ministro do Imprio em 1824, ser ainda deputado por Minas, eleito em 1825. Elevado a Conde de Valena em 1826, ser condecorado em 1830 com a dignitria da Ordem Imperial do Cruzeiro. Na poca da maioridade de D. Pedro lI, era ele vice-presidente do Senado recebendo,por ocasio da coroao, a merc de Gr-Cruz da Ordem de Cristo. Em 1848 foi agraciado com o ttulo de Marqus.

    Eram ambos, Estevo e lldia Mafalda, adeptos do trabalho livre, e, assim, em sua fazenda das Coroas, fundam um ncleo de alemes, do qual anualmente, a

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    partir de um pedido do Govrno Imperial datado de 1851, apresentam minucioso relatrio.

    Viver, por muito tempo, o casal, na Rua dos Invlidos, ento bairro aristocrtico. Tal rua, antigamente denominada Rua Nova de So Loureno, foi aberta por ordem do vice-rei Conde de Rezende, em 1791, que a mandou construir uma casa com espaoso terreno para abrigar soldados invlidos. Na poca de D. Joo VI a casa foi dada de presente ao mdico particular de S. M., Dr. Manuel Vieira da Silva, Baro de Alvaiaserez. Mais tarde, a chcara passou a pertencer ao Marqus de Valena, que a morou at sua morte, em 1856, com 79 anos.

    Na sua bela chcara D. Ildia Mafalda oferece exemplo de elegncia, educao requintada, alm de grande fervor religioso, com o seu oratrio particular de cerejeira clara, com as armas da famlia douradas a fogo, todo acolchoado de seda gren, que passou, posteriormente, a pertencer a D. Maria Amlia de Rezende, sua ilustre neta (17).

    pois, num ambiente de muitos recursos que Luiz Antonio viver, ora com sua me, ora com seus tios,depois de sua volta da Europa. A casa de sua irm, a futura marquesa de Valena, ser sua preferida. D. Ildia Mafalda e Estevo de Rezende possuam imensas propriedades tambm na cidade do Rio de Janeiro: onze prdios na Rua do Senado, cinco na Rua dos Invlidos, alm de uma chcara onde residiu um de seus filhos. Tais bens urbanos, aliados s propriedades rurais das quais j falamos, e herana do Brigadeiro Luiz Antonio de Souza, fazem dos marqueses de Valena uma das mais slidas fortunas do Rio de Janeiro e de So Paulo. Compreende-se, pois, a pequena histria contada por D. Maria Pes de Barros a respeito do seu pai, Luiz Antonio, que, quando pequeno, ajudaria a carregar, para guardar, os saquinhos de moedas de ouro.

    Rapaz meio calado, mas bem humorado, amigo de viver em famlia, companheiro dos irmos e primos, Luiz Antonio alternar sua vida entre a capital da Provncia de So Paulo, cidade ainda modesta, mais comunidade rural do que metrpole, seus afazeres rurais, e os prazeres da Corte. Frequentador assduo da casa de Ildia Mafalda, irm muito querida e respeitada, acabar se apaixonando pela sobrinha, a jovem Ilidinha de Rezende.

    Casado, viver no casaro da Rua So Joo que pertencera a Francisco Incio de Souza Qy.eiroz, pois Luiz Antonio de Souza Barros ser o tutor das duas filhas do primo, Isabel e Genebra, que, rfs, primeiro de pai, e depois de me, D. Francisca Miquelina, irm mais velha de Luiz Antonio, passaram a viver com a av e depois, com os Rezende.

    E, assim, lavrador em So Paulo mas ligado intimamente aos meios da Corte, Luiz Antonio viver ora em So Paulo ora Rio de Janeiro.

    Em 1847 falece D. Ilidinha de Rezende Souza Barros.

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    Cabe aqui uma pequena observao: uma escritura de compra e venda de terras e uma procurao trazem o nome de Luiz Antonio de Souza Barros e sua mulher D. Lidia Henriqueta de Rezende, e no Ildia Mafalda. Eis o que reza o documento lanado no livro de notas nO 5, f. 141, Cartrio de 1 Ofcio de Piracicaba: "Escritura de compra e venda que faz o Sr. Luiz Antonio de Barros e E:xmo Sr. Conde de Valena e suas mulheres e Joo Alvares de Oliveira, de uma fazenda de criar com casas de moradas, escravos e mais objetos pela quantia de 26:4005. Datada de 22-10 de 1841, traz o nome da esposa de Luiz Antonio como Lidia Henriqueta de Souza Rezende. O mesmo nome encontrado numa procurao do tenente. coronel Luiz Antonio de Souza Barros e sua esposa passada a Joaquim Rodrigues Cesar, datada de 18-7-1843, registrada no livro nO 4, f. 3 do Cartrio Partidor de Santa Barbara.

    Desse casamento o casal teve nove :filhos:

    1. lldia Mafalda, casada com seu primo Dr.Joo de Aguiar Whitaker.

    2. Luiza Augusta de Souza Vergueiro, casada com seu primo Joaquim Vergueiro, :filho de Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, senador do Imprio, e de D. Anglica de Vasconcelos.

    3. Francisca de Souza Barros, casada com Dr. Bento de Aguiar Barros, seu primo, filho do capito Francisco Xavier Paes de Barros e de D. Rosa de Aguiar Barros.

    4. Estevo de Souza Barros, casado com Leonor de Assuno Barros, :filha de Jos Custdio de Assuno e de D. Maria Dias de Toledo.

    5. Jos de Souza Barros, casado com Josefina Dias Aguiar, :filha de Antonio Dias de Aguiar e de D. Carolina de Assuno, em primeiras npcias. Casou-se segunda vez com Luiz de La Floret.

    6. Francisco de Souza Barros, casado com Francisca Ferraz do Anual.

    7. Amlia Higina de Souza Barros, casada com seu primo Dr. Jos Manuel de Mesquita e D. Gertrudes de Campos Almeida.

    8. Izabel de Souza Barros, casada com seu primo conselheiro Dr. Bento Francisco de Paula Souza, :filho de Francisco de Paula Souza e Melo e D. Maria de Barros Leite.

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    9. Luiz de Souza Barros.

    Com uma famlia to numerosa, ligada a famlia tambm relacionada tanto em So Paulo, como no Rio de Janeiro, nos meios sociais e nos meios polticos, vive-se na Crte e na Provncia, nos sales aristocrticos do Rio de Janeiro numa exibio de luxo e bom gosto ou nos meios mais modestos e provincianos de So Paulo, com costumes ainda nitidamente coloniais, ou ainda nas fazendas de cana do interior paulista. Pois, poca do primeiro casamento de Luiz Antonio, suas fazendas sero ainda os Engenhos de acar, espalhados pelos mais prsperos municpios do oeste paulista.

    NA CAMARA MUNICIPAL DE SO PAULO

    As transformaes polticas por que passa o Brasil, a partir de 1831, com a abdicao do imperador D. Pedro I, e, depois com a promulgao do Ato Adicional, em 1834, colocam Luiz Antonio de Souza Barros no cenrio da poltica da capital paulista. Nessa poca seus mais ntimos amigos pertencem ao mundo poltico nacional, como o senador Vergueiro, velho amigo do falecido brigadeiro Luiz Antonio de Souza, ou Dr. Jos da Costa Carvalho, seu padrasto, pois sua me, D. Genebra com ele se casara em 1822. Ambos sero regentes do imprio, embora nem sempre tenham os mesmos pontos de vista polticos. Assim os Souza Qyeiroz pertencero tambm ao quadro dos lderes polticos, particularmente em So Paulo.

    O Ato adicional, estabelecendo as Assemblias Provinciais, em substituio aos Conselhos Gerais, concedeu-lhes amplos poderes e fez delas verdadeiros rgos controladores das Cmaras Municipais, que at essa poca gozavam de larga autonomia. E, como verdadeiros agentes do governo provincial, criaram -se os cargos de prefeito e sub-prefeito, com poderes executivos e de investigao, de acordo com a Lei Provincial nO 38 de 11 de abril de 1835. Lei, que diga-se de passagem, provoca desentendimentos entre as Cmaras, no s da capital como do interior, e os prefeitos nomeados. Da dezenas de ofcios das Cmaras Municipais, diminudas em suas prerrogativas, humilhadas em seus direitos, Assemblia Provincial protestando, por exemplo, contra o direito concedido aos prefeitos de inspecionar todos os empregados dos municpios, salientando erros e oferecendo sugestes para aperfeioar a "Lei dos Prefeitos".

    Vivendo entre os homens de grande prestgio poltico, possuindo grandes

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    recursos financeiros que no s o colocam em alto nvel social, como lhe permite dar-se o luxo de trabalhar para a cidade de So Paulo sem remunerao, Luiz Antonio de Souza Barros aceita o cargo de prefeito de So Paulo, mas no se livra, bvio, das amimosidades dos membros da Cmara, que de uma ou de outra forma, o hostilizaro.

    Nessa poca a capital paulista era, segundo os cronistas que a descrevem, apenas um burgo de estudantes, ainda com as irregularidades que vinham dos tempos coloniais, com casas de taipa de pilo, com algumas ruas caladas de pedras, mas muitas ainda com verdadeiros pntanos, e, em pleno "centro", em 1834, na praa da Alegria, na rua que atravessava a rua So Joo, havia um pntano permanente (18). Na mesma poca, em 1835, o presidente da Provncia, Rafael Tobias de Aguiar, em seu Relatrio Assemblia Provincial diz:

    "Continua-se a trabalhar no Jardim estabelecido nesta cidade; ainda que seja uma despesa que mais toca ao agradvel do que ao til, no se pode dispensar, uma vez que ele j serve de recreio aos cidados em certos dias, e no conveniente abandonar uma obra comeada, perdendose o que j est feito" (19).

    Dessa cidade cheia de problemas, mal iluminada - em 1829 o governo da Provncia tinha posto disposio da Cmara vinte e quatro lampies, em que se usava s vezes, o leo de mamona, outras o de peixe, e que estavam sob cuidados dos prprios moradores que deviam acender, limpar e conserv-los - pois nem a prpria Lei do Oramento designava uma quantia para a iluminao pblica; com enormes terrenos cobertos de mato e de capoeiras, com casas distantes umas das outras, com um "centro" urbano, rodeado de imensas chcaras, muitas com muros de taipa, onde tropas de burros, carros de boi e pouqussimas carruagens, percorrem os caminhos esburacados, Luiz Antonio de Souza Barros foi o primeiro prefeito.

    Mas, mais lavrador do que poltico, mais habituado administrao e aos problemas da zona rural do que aos da zona urbana, no obstante sua elevada posio social e econmica, o novo prefeito duramente criticado mais de uma vez, pelos vereadores, principalmente pela sua ausncia pedira logo uma licena que lhe fora concedida pelo ento vice-presidente da provncia , o senador Q..reiroz. Entretanto, caindo a Lei dos Prefeitos, ainda ocupar cargos pblicos, pois eleito membro da Cmara Municipal, ser seu presidente por algum tempo. Preocupado, particularmente com problemas de sade pblica, ser um dos que lutaro por um cemitrio municipal. At meados do sculo, os enterros eram feitos nas igrejas; em 1851 foram inaugurados o Cemitrio dos Protestantes no Campo da Luz (Avenida TIradentes) e o dos Alemes. O Cemitrio da Consolao, que ser

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    o cemitrio municipal, s ser utilizado a partir de 1858. A morte de D. Ilidinha afasta Luiz Antonio das belas reunies da corte, dos

    requintes da sociedade aristocrtica do Rio de Janeiro. Preferindo as atividades da Provncia de So Paulo, integrando-se cada vez mais nos trabalhos de seus engenhos e lavouras, agora com oito filhos, o j ento comendador Luiz Antonio de Souza Barros volta a viver na provinciana Paulicia. Volta para seu sobrado "um pouco fora da cidade" como dir sua filha, mais tarde, e cuja fotografia, extrada do livro de D. Maria Pes de Barros, estampamos (20).

    ORDEM DE CRISTO E ORDEM DA ROSA

    Ao afirmar que j era Comendador, queremos fazer uma pequena digresso sobre a Ordem a que pertence o nosso biografado. Comendador de Cristo e Dignatrio da Rosa, estes foram os seus ttulos, o primeiro de origem portuguesa, o segundo brasileiro (21).

    Ao voltar para Portugal em 1821, D.Joo VI, na qualidade de Governador e Perptuo Admistrador do Mestrado e Cavalaria das Ordens Militares de Cristo, So Bento de Avs e So Tiago da Espada, deixa as trs Ordens ao Brasil. O Imprio brasileiro conservou a tradio dos seus smbolos e a prpria designao, e, embora as fitas de condecoraes no Brasil independente conservassem as mesmas cores das antigas Ordens lusitanas, destas diferenciavam-se por terem as suas fitas orladas - as de Cristo e So Tiago da Espada de azul e a de So Bento de Avs de vermelho,

    Tais Ordens foram consideradas como nacionais, de acordo com a lei de 20 de outubro de 1823 e, pela Bula Pontificia do Papa Leo XII, de 30 de maio de 1827 - "Preaclara Portugalliae et Algarbiorum Reguma" - foram elas separadas de Portugal e nacionalizadas. O seu mestrado foi conferido aos imperadores do Brasil, mas estes no o aceitaram, por ter sido a Bula prejudicada pela negativa do beneplcito da Assemblia Geral. E, somente em 1843 tornaram-se Ordens Brasileiras, quando D. Pedro U, pelo decreto nO 321 de 9 de setembro, deu-lhes regulamentao definitiva, estabelecendo:

    "Art. 10 - As Ordens Militares de Cristo, de So Bento de Avs e So Tiago da Espada, ficam de ora em diante tidas e consideradas como meramente civis e polticas, destinadas para remunerar servios feitos ao Estado, tanto pelos sditos do Imprio como por estrangeiros benemritos" .

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    Como as Ordens honorficas em geral, compunha-se a Ordem de Cristo de cinco graus - Cavaleiro, Oficial, Comendador, Grande Oficial e Gr Cruz: as novas ordens criadas no Imprio Brasileiro no incluam a categoria de Grande Oficial, mas havia entre os graus de Comendador e a Gr Cruz as distines de Dignatrio e de Grande Dignatrio.

    Aps a Independncia D. Pedro criou trs Ordens: Imperial Ordem do Cruzeiro, Ordem de D. Pedro I Fundador do Imprio do Brasil e a Imperial Ordem da Rosa; a primeira em 1822, a segunda em 1826 e a ltima em 1829.A esta ltima que pertencer Luiz Antonio de Souza Barros, que ser Comendador de Cristo e Dignatrio da Ordem da Rosa.

    A Ordem da Rosa tem uma origem galante e delicada, em homenagem segunda esposa de D. Pedro I, D. Amlia de Leuchtemberg e Eischstoedt, cujo casamento se realizara, por procurao, em Munique, a 2 de Agosto de 1828 (22).

    "Uma estrela de seis pontas, esmaltadas de branco e maanetas de ouro, assente sobre uma grinalada de rosas folhadas em sua cor. No disco central do anverso, em ouro cinzelado, o monograma AP ( Amlia e Pedro), circundado pela legenda Amor e Fidelidade. No reverso, a data de 2-8-1828, circundada pela legenda Pedro e Amlia nos mesmos esmaltes".

    Destinada a premiar civis e militares, nacionais ou estrangeiros que se distinguissem por sua fidelidade pessoa do Imperador e por servios prestados ao Estado, apresentava a mais absoluta originalidade - nem palmas de ramos de oliveira, nem folhas de carvalho, mas rosas como as do vestido da linda princesa de 17 anos, de olhos azuis, rosas como a do seu toucado, no retrato enviado a D. Pedro por Barbacena, rosas, as flores prediletas da que seria imperatriz do Brasil por to pouco tempo.

    A ordem da Rosa tinha sete graus - cavaleiro, oficial, comendador, dignatrio, grande dignatrio, gr-cruz honorria e gr-cruz efetiva. Segundo os apontamentos do conselheiro Albino Jos Barbosa de Oliveira, datados de 1882, em que ele faz um apanhado da famlia Souza Qy.eiroz, citados por Amlia de Rezende Martins (23), nessa poca Luiz Antonio de Souza Barros j seria Dignatrio da Rosa, mas at o fim de sua vida, encontraremos muitas referncias a ele como Comendador, inclusive no livro de sua filha D. Maria Paes de Barros, que a ele se refere sempre como o comendador B.

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    PANORAMA ECONMICO

    Nos primeiros anos do sculo XIX persiste em So Paulo, como lavoura principal, a canavieira, e mesmo nos que se seguem a independncia, ainda o acar ter preponderncia no quadro de exportao (24):

    Exportao paulista no ano de 1825

    Genros Arrobas

    Acar ................................................... 343.524

    Caf ....................................................... 141.663

    Toucinho e banha ................................. .32.272

    Fumo ..................................................... 12.594

    Algodo e rama ..................................... 1.850

    Quina, butua e barbatana ...................... 157

    Quintais

    Casca de mangue ................................... 1.750

    Alqueires

    Arroz ..................................................... 98.418

    Mate ...................................................... lll.811

    Milho, feijo e farinha de mandioca ...... 22.174

    Unidades

    Couros ................................................... 3.522

    QJ,teijos ..................................................13.249

    Valor

    623:024$160

    250:782$500

    110:878$780

    21:014$600

    4:170$000

    975$000

    6:432$000

    80:359$980

    69.250$420

    18:748$420

    6:212$000

    2:898$000

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    Duzias

    Madeiras ................................................ 12.584 23:522$090

    Peas

    Cabos e amarras de imb e beta ............. 10.926 11:691$500

    Tecidos de algodo da terra ................... 223 4:597$540

    Pipas

    Aguardente de cana e melado ................ 341 13:215S360

    Pontas de boi, pederneiras, telhas, tijolos,

    rapaduras, doces, etc 13:398$180

    Unidades

    Porco em p ........................................... 298 11:920SOO0

    Gado vacum .......................................... 944 7:552$000

    Gado muar e cavalar .............................. 215 3:636$000

    Galinhas ................................................ 20.000 2:800$000

    Tal quadro, inserido na sua Histria do caf por Taunay, mas publicado primeiro por Adolfo Pinto em seu trabalho sobre a estatstica da Provncia em 1888, prova a importncia da produo aucareira em So Paulo. E nessa produo incluem-se, alm dos antigos engenhos do Vale do Parafba, Itu, Porto Feliz, os numerosos engenhos de So Carlos e Vila Nova da Constituio como prova o levantamento de 1817. Tambm o provam os Levantamentos de Populao realizadas pelas Companhias de Ordenanas em diversas oportunidades.

    Os Souza Qy.eiroz, os Souza Barros, os Rezendes, os Vergueiros, sero, por muito tempo ainda, grandes proprietrios rurais, com grande produo de acar e aguardente, mas os que tm suas propriedades nas terras do municpio de So Carlos sero mais cedo atrafdos pela lavoura do caf do que os que se radicaram nas terras piracicabanas. Antes, porm, daqueles se-lo-o os lavradores do Rio

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  • UM LAVRADOR PAULISTA DO TEMPO DO IMPRIO

    de Janeiro e, da cidade do Rio de Janeiro, teriam sado mudas e sementes que "inundaram o territrio fluminense, Minas, So Paulo, Paran, Santa Catarina e Esprito Santo, segundo Garibaldi Dantas, citado por Taunay (25).

    Luiz Antonio de Souza Barros continua a ser, pois, senhor de engenho, ou antes, senhor de vrios engenhos. Em Santa Brbara, na imensa fazenda de So Luiz, as matas sero substitudas pelos canaviais. O Taquaral, em Piracicaba, ser o seu engenho predileto, e, nas vizinhanas deste, o stio do Barreiro ser sua fazenda de criao de gado. Tambm, na antiga sesmaria do Corumbata, desde 1847 "uma composio amigvel estabelecera as divisas entre os stios dos Souza Barros e J. Antonio, Joaquim Sarmento, Jos Joaquim Leite e Antonio Franco do Amaral", divisas essas que "convinham aos arranchamentos que j tinham na mencionada seismaria", conforme consta de uma escritura lanada no Livro de Notas nO 7 do Cartrio de 1 Ofcio de Piracicaba, f. 26-31v. Possua tambm uma vasta fazenda de criao de gado nos campos de Araraquara, denominada Monjolinho, mas esta foi vendida em 1841 "com mil e dezasete cabeas de animaes vacum e cavalares na importncia de treze contos, duzentos e vinte e hum mil ris, as terras por oito contos de ris e as casas por trezentos mil ris, e os utencilios, porcos, currais e outras benfeitorias por quatro contos e vinte e nove mil ris que vendio pelo preo total de vinte e seis contos e quinhentos mil ris", de acordo com a escritura de 22 de outubro de 1841, Livro de Notas nO 5, f. 142 v, Cartrio do 1 Ofcio de Piracicaba. Na realidade, no Monjolinho, que recebera em herana, nada fizera Luiz Antonio como lavrador, e, conforme o que nos afirmou D. Felicssima, sua filha, a estaria o Engenho da gua Vermelha, e, suas terras, vendidas, teriam sido divididas posteriormente em trs grandes fazendas. Teria, ento, comprado trs outras fazendas, dando duas a seus dois filhos do primeiro casamento, conservando para si, uma fazenda a qual teria dado o nome de Felicssima, em homenagem segunda esposa.

    Assim, em grosso, Taquaral, So Luiz, Monjolinho (do atual municpio de So Carlos) e Monjolinho ( de Campinas), ainda seriam remanescentes da fortuna ao brigadeiro Luiz Antonio, dividida entre sua viva e seus herdeiros, e que couberam a Luiz Antonio. Isto, evidentemente, sem contar as propriedades da capital, como a chcara da rua So Joo, que no fim do sculo ser loteada, como muitas outras chcaras paulistanas, onde se abriram ruas e se construram praas, alamedas e largos . A chcara do comendador Luiz Antonio de Souza Barros loteada para que se abrissem parte da avenida So Joo, o largo e a travessa do Paissandu, a rua Seminrio e a praa do Correio. Da mesma maneira, podemos lembrar que a avenida Brigadeiro Luiz Antonio foi aberta em terras do baro de Limeira, formada ao sul dos antigos campos do Bexiga.

    Mas, outras terras so adquiridas. Como homem de negcio, vender, aos

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    poucos, pequenos stios de suas glebas, conservando para si e sua famlia, ainda, enormes fazendas. Comprar, posteriormente, as terras que daro origem as duas fazendas que sero consideradas verdadeiras fazendas modelo - So Loureno e Paraso.

    E, medida que a lavoura cafeeira avana em sua marcha vitoriosa para o oeste paulista, o comendador Luiz Antonio se afasta, em parte, da tradicional lavoura canavieira e da indstria aucareira. Tenta-o a nova lavoura, cujos lucros permitiram que se reerguessem antigas fazendas do Vale do Parru.oa.

    O recenseamento realizado em 1836 por Daniel Pedro Muller, publicado em 1838 sob o ttulo "Ensaio dum quadro estatstico da Provncia de So Paulo" permite uma viso das alteraes que a paisagem rural da Provincia est sofrendo alteraes que beneficiaro profundamente, no apenas a economia paulista, mas todo o panorama econmico da nao.

    Nessa poca ainda o norte da Provncia de So Paulo que fornece a maior parte do caf paulista, o que corresponde ainda a porcentagem pequena da produo cafeeira do Brasil. Entretanto, em meados do sculo altera-se a situao, e, em 1885, de acordo com o relatrio do presidente da Provncia, o conselheiro Jos Antonio Saraiva, baseado em informaes do brigadeiro J.J. Machado de Oliveira, haveria em So Paulo 2.618 fazendas de caf e 667 engenhos. Eis um quadro publicado por T aunay (26) que d uma idia da expanso da lavoura cafeeira de 1836 a 1854, de acordo com a produo de treze municpios que produziram mais de 100 mil arrobas:

    Municpios 1836 1854

    Bananal .................................................. 64.822 554.000

    Taubat .................................................. 23.607 354.730

    Pindamonhangaba ................................. 62.628 350.000

    Campinas .............................................. 8.622 335.550

    J acare .................................................... 54.000 204.010

    Qyeluz ................................................... - 200.000

    Areias .................................................... 102.797 186.094

    Lorena ................................................... 33.649 125.000

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    http:Parru.oa

  • UM LAVRADOR PAULISTA DO TEMPO DO IMPRIO

    Limeira ................................................. . 121.800

    Paraibuna .............................................. . 118.320

    Vila Bela ................................................ 10.289 112.500

    Mogi das Cruzes ................................... 11.237 100.000

    Guaratingueta ....................................... 22.442 100.885

    Em 1852,0 governo provincial, atravs de uma portaria circular, solicita informaes detalhada sobre a produo e os recursos dos municpios. Um relatrio datado de 3 de abril de 1852 do Delegado de Polcia da ento Vila Nova da Constituio, consigna para Piracicaba uma produo de 160 mil arrobas de acar e apenas 12.500 de caf.

    Encabeando a lista de engenhos de acar mais notveis est o Sr. Luiz Antonio de Souza Barros, com trs engenhos, seguindo-se o Visconde Monte Alegre com dois, o Baro de Itu com dois, o Ajudante Albano com dois e o Marqus de Valena com um. So ao todo 50 engenhos que produziram no mnimo 500 arrobas de acar no ano anterior. Entre as dez fazendas de caf mais notveis, isto , que produziram um mnimo de 300 arrobas, em primeiro lugar est o Marqus de Valena, seguindo-se o Visconde Monte Alegre, Domingos da Costa, Incio de Vasconcelos da Cunha Caldeira, Felix Antonio Alves Lima, Luiz Antonio de Souza Barros e outros. Planta-se tambm ch no municpio, mas o nosso biografado no se encontra ainda entre os produtores tados pelo Delegado de Polcia.

    PROBLEMAS DE Mo DE OBRA

    Nessa poca faz-se sentir com certa intensidade o problema do brao para a lavoura. A campanha contra o trfico encetada pela Inglaterra e que fora por ela levada ao Congresso de Viena, tinha atingido o auge, visando diretamente o Brasil, profundamente comprometido pelos tratados com a Inglaterra, aps a independna, tendo assumido o compromisso de extinguir o trfico at 1831. Ora, no obstante a Regncia ter decretado extinto o trfico em nosso pas, a expanso da lavoura cafeeira, os novos empreendimentos agrcolas exigem cada vez mais uma numerosa mo de obra. Assim embora o trabalhador rural seja ainda o negro escravo, toma vulto a campanha a favor da introduo de imigrantes europeus,

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    campanha essa que, diga-se de passagem j se iniciara com D. Joo VI, continuando com D. Pedro 1.

    Um dos maiores propagandistas da imigrao europia o senador Dr. Nicolau de Campos Vergueiro que, mais de uma vez quando membro do Conselho da Presidncia, se manifestara nesse sentido. Dr. Vergueiro, como vimos, tambm fazendeiro de grandes recursos na regio de Piracicaba. Sua fazenda Ibicaba, desmembrada do municpio de Vila Nova da Constituio com Limeira em 1842, uma das propriedades rurais mais importantes do novo municpio. Pioneiro da imigrao europia a instala quarenta famlias de imigrantes em 1841, mas, diretamente implicado na revoluo liberal de So Paulo e Minas em 1842, foi obrigado a dissolver essa colnia. Retomando o projeto, consegue, alguns anos depois, reorganizar a colnia de imigrantes, com resultados bastante satisfatrios no momento. Adotando o sistema de parceria, Vergueiro pode dar grande impulso s novas lavouras de caf da Fazenda Ibicada.

    Luiz Antonio de Souza Barros, considerando o sistema vantajoso, pois oferecia ao imigrante oportunidade de possuir um dia tambm seu quinho de terra, e ao mesmo tempo "era mais moral" quando comparado com o sistema da escravido, decide adot-lo tambm em sua propriedade de So Loureno. Alis, mais ou menos na mesma poca, o seu cunhado e sogro, o marqus de Valena tambm instalara uma colnia de imigrantes europeus em sua fazenda na Provncia do Rio de Janeiro. Assim satisfazendo o empregador e o empregado, como uma soluo, no momento, para to difcil problema, o sistema de parceria logo adotado, e, em pouco tempo, outros fazendeiros instalam em suas terras, particularmente nas lavouras de caf, as novas "colnias" de imigrantes.

    Em 1860 o governo da Confederao Helvtica nomeou J.J. Von Tschudi ministro plenipotencirio no Brasil, com a misso especial de estudar os problemas da imigrao sua no Imprio. Viajando por So Paulo e Rio de Janeiro, Tschudi visita todas as fazendas que receberam imigrantes, publicando mais tarde, um livro com a descrio minuciosa da viagem (27). Segundo ele, havia na fazenda Ibicada, em 1856, mais de 800 colonos estrangeiros, dos quais, 216 de origem portuguesa e os outros suos e alemes. Desentendimentos srios ocorridos entre imigrantes e fazendeiros determinaram a visita do Tschudi (28) s fazendas do interior paulista.

    Assim, alm de Ibicaba e outras, visita fazendas, cujos proprietrios de uma forma ou de outra se prendem ao tronco Luiz Antonio de Souza e Qy.eiroz - Genebra de Barros Leite. Em Campinas, visita a fazenda Tapera, que ento pertencia a D. Maria Inocncia de Souza, irm tutelada do senador Qy.eiroz, onde havia sete famlias de colonos. Em So Joo do Rio Claro visita a fazenda So Jernimo do senador Francisco Antonio de Souza Qy.eiroz, cunhado de Jos Vergueiro,

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    sucessor dos negcios da Casa Vergueiro. A vivem, ento, 63 famlias de colonos, sendo cinco suas e as outras alems. O senador Souza de Qyeiroz possui ainda outras fazendas, e na de Santa Brbara tambm tinha uma colnia de 49 famlias portuguesas.

    Depois de percorrer outras fazendas, ouvindo cuidadosamente e anotando as queixas dos colonos e fazendeiros, de So Joo de Rio Claro,JJ. Von Tschudi dirige-se a Piracicaba, onde visita a colnia de parceria do Comendador Luiz Antonio de Souza Barros, denominada So Loureno.

    Normalmente o comendador residia em So Paulo, mas na poca da colheita ele e a famlia passam uma boa temporada na fazenda. Assim, Tschudi pode excepcionalmente, setrecebido pelo dono da fazenda e no pelo administradores .

    . A fazenda So Loureno, uma das maiores do distrito cafeeiro da Provncia de So Paulo, foi considerada pelo visitante, uma das mais bem organizadas. Transcrevemos, pois, as suas impresses ( ob. cit., p. 182 e sg.):

    " A primeira colnia de parceria que visitei ao sair de Rio Claro, foi a de So Loureno, pertencente ao sr. comendador Luiz Antonio de Souza Barros. Encontrei este senhor, que reside habitualmente em So Paulo, na fazenda, bem como toda a famlia, que me recebeu amvelmente. Confessou-se melindrado com certos relatrios publicados relativos sua colnia, que taxou de falsos, mas as observaes eram feitas com a moderao e a calma prprias de um homem educado. Sua fazenda uma das maiores do distrito cafeeiro da Provncia e uma das mais bem organizadas. Nessa ocasio, 92 famlias de colonos habitavam o estabelecimento, algumas delas j com seus dbitos liquidados. Havia entre esses colonos 32 famlias suas, quase todas em dbito ainda com o fazendeiro, sendo que algumas delas estavam sobrecarregadas com os adiantamentos das comunas. Alguns desta gente indviduo degradados, viciados no lcool e pouco dados ao trabalho intenso: naturalmente nunca mais se livraro da dvida. Como exemplo, vou citar o caso de uma famlia que tomou a si o cuidado de apenas 420 arbustos de caf, ao passo que outra, mais numerosa, cuidava de 2.000 cafeeiros. Algumas famlias cuidavam apenas de 500 a 700 cafeeiros. Qyando lhes perguntei porque no cultivavam maior quantidade, responderam-me que estavam sobrecarregados de dvidas que no lhes importava trabalhar no cafezal. A roa lhes dava o suficiente para viverem e no viam necessidade de se matarem a trabalhar. A colheita de 42 arbustos (26 arrobas em mdia, das quais metade pertence ao patro), no suficiente para o pagamento dos juros 6%, e, muito menos ainda, para amortizar a dvida. Alguns colonos, entretanto, se queixavam de no haverem rece

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    bido nmero suficiente de ps. Mas o diretor explicou, na presena dos prprios queixosos, que no puderam negar, que a reclamao sempre era feita antes da colheita, e, quando lhes davam o nmero de cafeeiros pedidos, faziam a colheita, mas recusavam-se logo aps, a trabalhar em tantos arbustos, quando se iniciava poca de trabalho rduo de capinar a terra e tratar dos arbustos, pretendendo por este modo usufruir das vantagens sem se darem ao devido trabalho. Outras queixas no me foram apresentadas, a no ser as relativas aos antigos adiantamentos das comunas. Manisfestaram-se satisfeitos com o tratamento dispensado pelo fazendeiro e administrador Schmidt. As terras eram abundantes e boas, e, alm, disto, os colonos recebiam raes de sal, acar e caf. Em geral, os colonos sabem prover-se de caf tornando assim desnecessrio o fornecimento por parte da administrao.

    As condies na fazenda de So Loureno so tais, que um colono ativo, que no tenha sofrido graves reveses, pode libertar-se em poucos anos dos compromissos financeiros. A administrao cuidadosa e exata, e os contratos so compridos risca. Os preos pagos pelas colheitas so de acordo com a cotao do dia; os juros cobrados so menores do que em outras fazendas, sendo que sobre terras ou mantimentos nenhum juro cobrado, bem como sobre adiantamentos concedidos. As terras de cultura so boas e os cafezais esto em timo estado de conservao e produo. O nico seno era o lugar baixo em que estavam situadas as casas, o que tornava midas as moradias dos colonos. Este defeito foi sanado com a transferncia das ditas casas para local mais elevado.

    O comendador Souza Barros parece ter tirado proveito do sistema de parceria, no se tendo deixado intimidar por insucessos iniciais e alguns prejuzos sofridos, nem pela inpcia de certos lavradores. Mostrava-se mesmo inclinado a continuar com o sistema, explorando-o em escala maior. Nos ltimos tempos tinha mandado vir mais famlias de colonos, na sua maioria do Holstein, mas sem a interveno da casa Vergueiro e sob condies contratuais mais simples. Tenho certeza que estas famlias, gravadas com dvidas reduzidas, sero plenamente bem sucedidas. Um holsteiniano, Georg Empke, contou-me que, com uma s colheita, conseguira, em 1858, pagar quase inteiramente sua dvida, de 414 mil ris, e que tinha a seu crdito na administrao, a colheita de 1859, 1.200 alqueires, e a de 1860, de mil alqueires. muito raro que uma famlia

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  • UM LAVRADOR PAULISTA DO TEMPO DO IMPRIO

    abandone a fazenda ao expirar o prazo do contrato. Costumam firmar novo contrato por mais alguns anos, o que prova ser-lhes o sistema conveniente e se sentirem felizes".

    Um mapa da Colnia de So Loureno, citado por Jair Toledo Veiga (29) seve de base para o estudo do estabelecimento de famlias germnicas em Piracicaba. Tanto a Colnia de So Loureno como a de Ibicaba, e, ainda, a de Santo Antonio de Elias Silveira Leite,concorreram para a fixao de alemes na cidade de Piracicaba, que ver, na segunda metade do sculo, desenvolver-se o Bairro

    . dos Alemes, formado, principalmente por chcaras - ento cercada de guarant - obtidas muitas vezes por cartas de datas da Cmara Municipal. Carrinhos de hortalias na cidade de um lado, e melhoramentos substanciais no sistema de transportes de outro, com os novos carros de quatro rodas (30), sero as indiscutveis contribuies dos alemes sua terra adotiva, embora no tenham, como esperavam, de incio, as autoridades do Imprio, favorecido, rapidamente, o retalhamento das terras da zona rural. Este se fr, podemos afirm-lo mais em consequncia da Lei das Partilhas de 1835, em pleno vigor, e pelas contingncias particulares a cada caso.

    Eis uma lista de colonos que viviam em So Loureno.

    1. Nicolau Karst, mulher Filipina, filha Margaritha de Furfeld.

    2. Hoo Hains e mulher Elisabeth.

    3.Joo Laubestein, mulher Ana, filhos Cristiano e Margaritha, ele de Gaugreheeiler, e os demais de Niederhausen.

    4. Henrique Petersen e mulher Catarina.

    5. Antonio Bertan, mulher Ana Maria, de Furfeld.

    6. Frederico Muller e mulher Dorotea.

    7- Henrique Muller e mulher Catarina.

    8- Andreas Dopp, mulher Ana Maria, filhos Joo, Charcotte e Catharina.

    9. Henrique Pflanz, mulher Guilhermina.

    10. Carlos Alten, mulher Filipina e filha Margaritha.

    11. George Heck, mulher Cristina, :filhos Carlos, Jacob, Frederico e Margaritha, esta com sua filha Filipina.

    12.Joo Dopp, mulher Susana, :filhos Joo e Margaritha.

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    13. Carlos Brach, mulher Frederica, filhas Christina, Dorothea e Catarina.

    14. Guilherme Stein, mulher Catarina, filhos Simo Pedro, Henrique, Guilherme, Ana Maria e Margaritha.

    15. Henrique Schmidt, mulher Ana Maria, filhos George e Ado.

    16. Joo Weygandt, mulher Margaritha, filhos Joo, Conrado, Henrique, Frederico e Margaritha.

    17.Joo Vollet, mulher Elizabetha, filha Gertruda, esta com suas filhas Catharina, Maria e Barbara.

    18. Filipo Fabel, mulher Catharina, filhos Jacob, Frederico Carlos, George, Margaritha.

    19. Antonio Muller, mulher Dorotea, filhos Cristiano, Catarina, Margaritha, esta com sua filha Catharina.

    20. Pedro Hutter, mulher Ana Maria, filhos Teodor, Henrique, Filipina e o agregado Frederico Conrado.

    21. Filipo Dinnodorf, mulher Charlota, filhos Luiz, Filipo, Henrique, Guilherme, Maria, Christina e o pai Pedro.

    22. Pedro Conrado, mulher Ana Maria, filhos Elisabetha e Ana Maria.

    23. Balthazar Laubenstein, mulher Elisabetha, Carlos e Frederico,

    24. Francisco Remling, mulher Elisabetha, filhas Francisca, Catharina, Charlotta e cunhada Francisca.

    25. Cristiano Ficheler, mulher Brbara, filhos Emlio, Carlos, Lisseta e Berta.

    26. Mariana Dopp. filho Andreas Dopp e mulher Ana Maria.

    27. Andreas Punty, mulher Maria Elisabetha, filhos Elisabetha, Catharina, Ana Maria, Otlia Cristina, Joo e Filipina. Alm de Jacob e Jorge, nascidos na colnia lbicaba em 20/10/1849 e 02-01-1854 na Colnia So Loureno.

    Total: 69 do sexo masculino, 69 do feminino; 47 catlicos e 91 protestantes. Em fins de 1855 ou princpios de 1856 existiam na Colnia So Loureno

    313 pessoas, sendo 104 naturais da Alemanha, 62 suos franceses, 121 suos alemes, 21 brasileiros, 5 portugueses sendo 158 catlicos e 155 protestantes. Ao

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    todo eram 62 famlias. Um Relatrio Municipal de 1866 registrar 300 trabalhadores livres em duas fazendas unidas, onde se plantava o caf, sem outros esclarecimentos, a no ser que muitos eram alemes.

    Baseados no mesmo artigo de onde extramos os dados acima transcrevemos ainda um Contrato de Servios e Regulamento da Colnia. Esperamos, divulgando tais dados, dar uma idia do que seria uma fazenda em meados do sculos XIX, e quais seriam os problemas de um lavrador paulista, pois um golpe de vista atravs de uma famlia de fazendeiros, de "uma dinastia aucareira ou cafeeira" pode esclarecer algo do panorama econmico e social daquela poca. E a presena de trabalhadores brancos ao lado de elementos escravos pretos ou mulatos s pode criar outros problemas e desajustamentos.

    Contrato de locao de Servios entre o Sr. Luiz Antonio de Souza Barros e o colono Friederch Muller, sua mulher Elisabetha e seus filhos Friederick, Luiza, e Philippina e agregado.

    Artigo 1. - O colono e sua famlia natural de ............... obrigo-se immediatamente depois de haverem concludo este contracto porem-se a disposio do sr. que os receber, alimentar e far a conduzir ao seu destino.

    Artigo 2. - O Senhor Luiz Antonio de Souza Barros obrigar-se ao seguinte:

    1. A adiantar aos ditos colonos o necessrio para sua subsistncia, e para seu transporte at a Colnia So Loureno, provncia de So Paulo, e continuar assistir-lhes no s o necessrio para a sua subsistncia como os meios de trabalho em quanto no puderem isso prover por si mesmos.

    2. A lhes dar tantos lotes de terrenos de umas mil braas quadradas, quantas sejam precisas para a cultura do necessrio para seu alimento, no excedendo de quatro lotes a famlia de mais de seis pessoas, e de trs lotes para as outras.

    3. A entregarem cada colono, ou chefe de famlia a poro de caffeeiros que posso cultivar e colher na razo de 800 ps para um homem e 600 para a mulher, e assim aos demais conforme suas idades.

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  • MARIA CELESTINA TEIXEIRA MENDES TORRES

    4. - A pagar o caf colhido no a razo de 600 rs. o alqueire, medida razourada, tendo o lugar este pagamento depois de concluda a colheita de cada ano.

    Artigo 3. Os sobreditos Colonos obrigo-se ao seguinte:

    1. A conduzirem-se pacificamente sem pertubar ou prejudicar seus vizinhos, ou fazenda, respeitando seus empregados, e sujeitando-se ao regulamento da Colnia.

    2. A cultivar, e colher, como comvm, os cafeeiros recebidos devendo dar 5 carpas em todo o cafezal seu cargo, e em cada anno, e da forma mais conveniente, e sem que posso-se occupar em outro algum servio antes de concluda a primeira carpa logo depois de cada colheita ou menos durante ella quando florescerem os cafeeiros e no possa colher.

    3. Depositando o caf perfeitamente limpo de qualquer corpo estranho, e gros verdes, no lugar marcado no cafezal, onde entregaro por medida ao recebedor da fazenda, os verdes em separado sem compensao.

    4. A replantar as falhas que houverem na parte do cafezal seu cargo.

    5. A pagar ao proprietrio da Colnia a importncia das pastagens e da assistncia para o seu sustento, e meios de trabalhos com os juros da lei de 6% ao anno, durante o desembolso, e bem assim pagaro pelo primeiro lote de terreno para seu sustento 500 reis, pelo segundo lote 1$000 e pelo 3. 1$500 e pelo 4. 4$000, e aplicar para esse pagamento pelo menos metade de seu lucro annual.

    Artigo 4. - O Sr. Luiz Antonio de Souza Barros no poder desonerar-se das obrigaes deste contracto em quanto o Colono e sua famlia cumprirem fielmente com as suas; porm livre a este ao retirar-se depois de satisfazer ao proprietrio o que lhe estiver devendo, participando 6 mezes antes por escrito a inteno de se retirar sujeitando se a pagar uma multa de 50$000 por cabea no caso de retirar antes de pagar a divida, ou sem antecipar a declarao de sua inteno.

    Artigo 5. Todas as duvidas que ocorrerem entre os Colonos e o proprietrio sero decididas por rbitros perante a autoridade competente, sem mais formalidades, e nem recurso algum, na presena de um interprete quando seja preciso.

    Artigo 6. - O Sr. Luiz Antonio de Souza Barros poder transferir esse contracto com todas as condies nelle expressas qualquer outra pessoa idnea para

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  • UM LAVRADOR PAULISTA DO TEMPO DO IMPRIO

    cumpri-las, suposto contudo, que o referido Colono no tenha motivo justo, ou fundado para no entrar em servio do mesmo.

    Artigo 7. - Os colonos abaixo assignados declararo aceitar as condies expostas, sujeitando-se as leis do Paiz ,ficando por hora responsveis pela quantia de 400$000 Thalers da Prussia por 6 pessoas de que se compe a famlia, calculados os Thalers ao cambio corrente no paiz.

    So Loureno, 8 de maro de 1869 Friederig Muller

    Principais artigos do Regulamento da Colnia

    1. - Todo o servio a que o colono obrigado pelo presente contracto e o no fizer tempo, podendo-o, ser feito pelo proprietrio, pagando o colono em dobro do que podia custar esse servio.

    2. - Nos pastos que a fazenda aluga no ser permitido ter animaes daninhos ou arrobadores, e os daqueles que por duas vezes forem achados em terrenos de cultura, ou em outro pasto fico impedidos de serem soltos.

    3. - No permitido vender qualidade alguma de bebidas espirituosas, e nem negociar em qualquer artigo que seja, sem permisso por escrito do proprietrio; o contraventor pagar a multa de 30$000 pela primeira vez e o dobro na reincidncia.

    4. O Colono no poder admitir em sua casa pessoa alguma estranha sem licena por escrito do proprietrio, no caso de contravenso pagar a multa de 10$000 por cada dia de demora dessa pessoa.

    5. - No permitido venar fogo em terras da fazenda e nem nas que os Colonos tenho recebido para suas plantaes, sem licena por escripto; o contraventor ou contraventores pagaro cada um a multa de 30$000, e no lbes ser permitido plantar nesse terreno.

    6. - E totalmente prohibido toda e qualquer planta na plantao do cafezal, sem licena por escripto do proprietrio; o contraventor perder a planta, e pagar em dobro o servio de a arrancar.

    7. - Todas as multas impostas sero cobradas em prejuzo das penas em que incorrem, conforme as leis em vigor.

    Estou de pleno accordo com o regulamento acima da Colonia. a ..................... de ............................................. de 186 ..... .

    Assignaturas dos Colonos

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  • MARIA CELESTINA TEIXEIRA MENDES TORRES

    DECADNCIA DOS ENGENHOS E

    EXPANSO CAFEEIRA

    o Comendador Luiz Antonio, embora se tome um dos grandes lavradores de caf da regio, no abandona a indstria aucareira. Na segunda metade do sculo XIX so comuns os "engenhos de fogo morto, isto , engenhos abandonados ou decadentes, Lavouras de caf com seu verde sombrio, sua maravilhosa florada branca, e, finalmente com seus frutos vermelhos vo substituir o verde claro e repousante da paisagem canavieira, e as mquinas de beneficiar caf, as tulhas e os terreiros substituiro o tendal, as escorredeiras, as fornalhas. Entretanto, numa relao que acompanha um ofcio de 23-7-1862 da Cmara Municipal de Constituio acompanha um ofcio de 23-7-1862 da Cmara Municipal de Constituio ao Presidente da Provncia (31), o nome do Comendador o primeiro a ser citado, com a produo de 7.000 arrobas de acar, para um total de 102.500; mais do que ele, embora citado em segundo lugar, produz Antonio da Costa Pinto e Siva, com 9.000 arrobas de acar. Na mesma lista encontraremos Vicente de Souza Qyeiroz, com 4.000 arrobas, e os herdeiros do Marqus de Valena com 3.000 arrobas.

    Mas de fato como lavrador de caf que ele se impe em Piracicaba, na segunda metade do sculo, pois com o mesmo ofcio, em uma relao de 50 fazendeiros, a sua produo muito superior a de todos os outros - 30 mil arrobas de caf, enquanto, entre outros, a fazenda dos Valenas produz 1.500 e outros produzem no mximo 5 mil arrobas.

    A essa altura manifesta, na regio, a preponderncia da lavoura cafeeira, em detrimento da canavieira. O Relatrio Municipal de 1866, evidencia claramente os novos aspectos da economia piracicabana, reflexo da economia da Provncia de So Paulo:

    a. Diminuio da produo aucareira

    b. Expanso da lavoura cafeeira.

    c. Retalhamento da propriedade rural.

    d. Maior nmero de trabalhadores livres.

    e. Maior diversificao de lavouras - pequenas lavouras de algodo e de" gneros alimentares".

    Eis como so descritas as propriedades pertencentes ao Comendador Luiz Antonio de Souza Barros, no distrito de Piracicaba munidpio de Vila Nova da Constituio:

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  • UM LAVRADOR PAULISTA DO TEMPO DO IMPRIO

    " Duas fazendas, uma anexa outra, cultura de caf, completo maquinismo para beneficiar o caf, um engenho de serra. As fazendas so cultivadas por colonos alemes, e por alguns escravos. O valor estimado de ambas de ambas de 400.000$000"

    No quadro demonstrativo que acompanha o Relatrio encontramos o seguinte:

    .rea cultivada............................................................ 3.000.000 b. q .

    .rea no cultivada ..................................................... 6.000.000 b.q.

    Total .......................................................................... 9.000.000b.q.

    Produo de acar ................................................... .

    Produo de aguardente ........................................... .

    Produo de cacao .................................................... .

    Produo de caf .......