Langford
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1 O que é fotografi a?
“O que é fotografi a?” Pode parecer uma pergunta fácil de responder, mas as respostas possíveis
poderiam ocupar este livro inteiro. O fato de que a fotografi a pode signifi car coisas diferentes para
pessoas diferentes é parte de seu permanente encanto. A fotografi a é hoje uma parte tão importante
em nossas vidas que seria difícil pensar em um mundo sem ela. Provavelmente, não poderíamos
contemplar um casamento, ver os fi lhos crescer ou viajar nas férias sem uma câmera. Somos
constantemente bombardeados e saturados por imagens, jornais, revistas, anúncios, bem como pela
televisão e pela Internet, e, ainda assim, temos um desejo insaciável por mais.
Então por que tirar fotografi as? Que papéis as fotografi as têm em nossa vida e em relação a
outras formas de expressão ou comunicação? Um fotógrafo tem responsabilidades? O que está
realmente envolvido? E o que envolve, afi nal de contas, um resultado bem-sucedido? Exploraremos
essas questões e algumas das possibilidades da fotografi a no decorrer deste livro, considerando a
fotografi a como uma combinação do pensamento subjetivo, criatividade, design visual, habilidades
técnicas e capacidade de organização prática. Comece fazendo uma ampla análise do que vem a ser
a fotografi a para dar contexto e perspectivas às suas considerações. De um lado, há a maquinaria e
as técnicas – mas tente não se tornar obcecado com o mais recente equipamento ou absorvido pelos
detalhes de sua fabricação muito cedo. Do outro, há a variedade de abordagens para a produção de
fotos, buscando resultados que variam desde documentar um evento ou comunicar idéias para uma
audiência particular até trabalhar com o que é auto-expressivo, social ou politicamente engajado, ou
talvez com algo mais ambíguo e aberto à interpretação.
Por que fotografi a?
T alvez você tenha se interessado em fotografi a principalmente porque ela parece uma maneira
rápida, conveniente e aparentemente confi ável de registrar algo. Toda a importância reside
no objeto em si e você quer mostrar objetivamente o que ele é ou o que está acontecendo (os
primeiros passos de um fi lho ou uma avaria em um carro para fi ns de seguro). Nessa instância, a
fotografi a é considerada evidência, identifi cação, um tipo de diagrama de um acontecimento. A
câmera é sua agenda visual.
O atributo oposto da fotografi a é quando ela é utilizada para manipular ou interpretar a
realidade, para que as imagens expressem certo “ângulo”, crença ou ponto de vista. Você defi ne
situações (como nos anúncios publicitários) ou escolhe fotografar algum aspecto de um evento, mas
não outros (como em reportagens politicamente engajadas). A fotografi a é uma mídia poderosa de
persuasão e propaganda. Ela tem aquela aura de veracidade quando o tempo todo pode afi rmar
o que o manipulador escolher. Considere por um momento o álbum de família; que fotos são
representadas ali: toda a vida da família ou apenas os bons momentos?
Outra razão para tirar fotos é querer um meio de se expressar para explorar suas próprias
idéias, interesses ou temas baseados na publicação. Parece estranho que algo aparentemente tão
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objetivo como a fotografi a possa
ser utilizado para expressar,
digamos, questões de desejo,
identidade, raça ou sexo, ou
metáfora e fantasia. Talvez
todos tenhamos visto imagens
“em” outras coisas, como ler
signifi cados nas formações de
nuvens (Figura 1.1), sombras
ou velhas paredes descascadas.
Uma fotografi a pode intrigar
por sua imposição de questões,
fazendo o observador voltar e
ler coisas novas na imagem. A
maneira como ela é apresentada
também pode ser tão importante
quanto o tema. Outros fotógrafos
buscam apenas beleza, a
qual expressam em seu estilo
“pitoresco” próprio, como um
trabalho de arte consciente.
Para muitas pessoas, uma
das primeiras atrações da
fotografi a é a fascinação despertada pelo equipamento em si. Toda essa engenhosa e moderna
tecnologia projetada para se adaptar às mãos e aos olhos – há um grande apelo em se pressionar
botões, clicar em componentes de precisão e colecionar e portar câmeras. As ferramentas são vitais,
é claro, e o conhecimento detalhado sobre elas é absorvente e importante, mas não fotografamos
apenas para testar o equipamento.
Outro elemento atraente é o processo real da fotografi a, o desafi o de cuidar e controlar e a
maneira como isso é recompensado pela excelência técnica e por ter um objeto fi nal produzido por
você. Os resultados podem ser julgados e admirados por suas qualidades fotográfi cas intrínsecas,
como um esplêndido detalhe, tons e cores ricos. O processo proporciona o meio de “capturar sua
visão”, tirando fotos de coisas ao seu redor sem a necessidade de desenhar laboriosamente. A
câmera é um tipo de máquina do tempo, que congela qualquer pessoa, lugar ou situação escolhida.
Ela parece dar ao usuário poder e propósito.
Apesar disso, outra característica é o simples prazer da composição visual das fotografi as. Há
um prazer real de compor fotos – a “geometria” de linhas e formas, o equilíbrio de tons, o corte e o
enquadramento de cenas – qualquer que seja o conteúdo do assunto escolhido. Muito pode ser feito
com uma rápida mudança do ponto de vista ou com a escolha de um momento diferente no tempo.
Esses são apenas alguns dos diversos interesses e atividades abrangidos pelo termo
“fotografi a”. Vários estarão mesclados no trabalho de um fotógrafo ou em qualquer mercado para
a fotografi a profi ssional. Seu prazer atual em produzir fotos pode estar principalmente baseado
na tecnologia, arte ou comunicação. E o que começa como uma área de interesse pode facilmente
se desenvolver em outra. Como iniciante, é útil ter sempre a mente aberta. Faça um curso básico e
abrangente tentando aprender um pouco de todos esses elementos, preferivelmente pela prática,
mas também observando e lendo o trabalho de outros fotógrafos.
Figura 1.1 Vic Muniz fez uma fotografi a aparentemente simples, uma nuvem no céu. Notamos então um homem remando num barco; a imagem foi criada em estúdio usando fl ocos de algodão. Fazendo referência a Alfred Stieglitz, Muniz escreveu que “o objetivo de uma fotografi a não é meramente o retrato de um tema, mas a imagem de associações simbólicas e emotivas que o tratamento formal de um tema trará para o observador“.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
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Como a fotografi a funciona
A fotografi a tem a ver com a formação de uma imagem pela luz, normalmente por meio de uma
lente. A imagem é então permanentemente registrada por:
processos • químicos, usando fi lme fotográfi co, produtos químicos e processos de câmera escura, ou
processos • digitais, utilizando um sensor eletrônico, armazenamento e processamento de dados e impressão via computador.
À medida que os métodos digitais tornaram-se mais acessíveis e baratos, os fotógrafos
combinam os dois processos – fotografar em fi lme fotográfi co e transferir resultados para a forma
digital a fi m de retocar e imprimir. Em muitos casos, como no fotojornalismo, a rota digital é adotada
pela simples rapidez de uso.
Naturalmente, você não precisa entender de química nem de eletrônica para tirar boas
fotografi as, mas é importante ter habilidades práticas sufi cientes para controlar resultados e assim
trabalhar com confi ança. A seguir, um esboço das etapas técnicas fundamentais que você encontrará
nas formas química e digital da fotografi a. Cada etapa é discutida em detalhes nos capítulos
posteriores.
Formação e exposição de uma imagemA maioria dos aspectos da formação de uma imagem óptica de um tema (em outras palavras,
envolvendo o front end da câmera) aplica-se tanto ao fi lme fotográfi co como à fotografi a digital.
A iluminação do tema de sua foto passa por uma lente de vidro, que a inverte em uma imagem
focalizada (em geral, em miniatura). A lente está na frente de uma caixa ou câmera à prova de luz
com uma superfície sensível à luz, como um fi lme fotográfi co, virado para ela na outra extremidade.
A luz é impedida de alcançar o fi lme fotográfi co por um obturador até você escolher o momento da
exposição. A quantidade de exposição à luz é, em sua maior parte, controlada por uma combinação
do tempo que obturador está aberto e do diâmetro do feixe de luz que atravessa a lente. Este último
é alterado por uma abertura, como a íris do olho. Esses dois controles têm uma infl uência maior
nos resultados visuais. O tempo do obturador muda a maneira como o movimento é registrado,
focalizado ou congelado; a abertura da lente altera a profundidade do tema que é mostrado no foco
em um dado momento (profundidade de campo).
Você precisa de um visor, tela de foco ou tela de visualização eletrônica para apontar a câmera e
fazer a composição e de um dispositivo de medição de luz, normalmente incorporado à câmera, para
medir o brilho de cada tema. O medidor leva em conta a sensibilidade à luz do material em que você
está registrando a imagem e lê ou defi ne automaticamente uma combinação adequada de abertura
de lente e velocidade de obturador. Com conhecimento e habilidade você pode superar essas
confi gurações para alcançar efeitos escolhidos ou compensar condições que enganariam o medidor.
A rota químicaProcessamento. Se você utilizou uma câmera de fi lme fotográfi co, a próxima etapa será processar
o fi lme fotográfi co. Um fi lme fotográfi co corretamente exposto difere de um fi lme fotográfi co não
exposto somente no nível atômico – alterações químicas minúsculas que formam uma imagem
invisível ou “latente”. O desenvolvimento da química deve então atuar no fi lme fotográfi co em um
ambiente escuro para ampliar a imagem latente em algo mais sólido e permanente à luz normal.
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Você aplica esses produtos químicos na forma de líquidos;
cada solução tem uma função específi ca quando usada no fi lme
fotográfi co apropriado. Com a maioria dos fi lmes fotográfi cos
preto-e-branco, por exemplo, a primeira solução química
transforma áreas expostas à luz em grãos de prata preta. Depois
disso, você utiliza uma solução que dissolve (“fi xa”) as partes
não-expostas, deixando essas áreas como fi lme fotográfi co
claro. O resultado, depois da lavagem dos resíduos e da
secagem, é um negativo em preto-e-branco, que representa as
partes mais brilhantes de seu objeto como partes escuras, e as
partes mais escuras em cinza-claro ou transparente.
Uma rotina semelhante, mas com soluções quimicamente
mais complexas, é utilizada para processar fi lme fotográfi co
colorido em negativos coloridos. Filme fotográfi co de slide
colorido precisa de mais etapas de processamento. Primeiro,
um revelador de negativo em preto-e-branco é utilizado, então o
resto do fi lme fotográfi co, em vez de ser normalmente fi xado, é
revelado em cor para criar uma imagem positiva em prata preta
e corantes. Por fi m, você obtém um slide colorido positivo, do
tipo dye-image – isto é, um fi lme fotográfi co cromógeno.
Impressão de negativos. A próxima etapa da produção é a
impressão, mais freqüentemente chamada de ampliação. Sua
foto no fi lme fotográfi co é defi nida em um projetor vertical
chamado ampliador. O ampliador forma uma imagem, de quase
qualquer tamanho que você desejar, sobre o papel fotográfi co
sensível à luz. Durante a exposição, o papel recebe mais luz nas
áreas claras do fi lme fotográfi co do que nas áreas mais densas.
A imagem latente que seu papel apresenta agora é então
processada em soluções químicas em etapas muito semelhantes
às necessárias para o fi lme fotográfi co. Por exemplo, uma
folha de papel preto-e-branco é exposta ao fi lme fotográfi co
negativo preto-e-branco e então revelada, fi xada e lavada para
que mostre um “negativo do negativo”, que é uma imagem
positiva – uma cópia ou impressão P&B. O papel colorido,
depois da exposição, passa por uma seqüência de revelação,
branqueamento e fi xação de cor para formar um negativo
colorido de um negativo colorido. Outros materiais e processos
fornecem cópias coloridas a partir de slides.
Um recurso importante da impressão (além de mudar o
tamanho da imagem e imprimir muitas cópias) é a possibilidade
de ajustar e corrigir a tomada. Partes indesejáveis próximas
das bordas podem ser cortadas, alterando as proporções da
imagem. Áreas selecionadas podem tornar-se mais claras
ou mais escuras. Trabalhando com cor você pode utilizar um
amplo espectro de fi ltros coloridos para ampliadores para fazer
IMAGEM FINAL
OBJETOAbordagem;Composição;Iluminação
CÂMERA FOTOGRÁFICALente; Foco; Exposição
IMAGEMLATENTEFilmeexposto
Correção na câmera escura; manipulação
IMAGEM LATENTEPapel exposto
Armazena-mento de filme
Processamentoquímico líquido
IMAGEMVISÍVELno filme
IMPRESSÃO
Processamentoquímico líquido
Figura 1.2 A rota básica do tema à ima-gem fotográfi ca fi nal, usando fi lme. Isso re-quer produtos químicos líquidos e instalações de câmera escura.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
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o “ajuste fi no” do balanço de cor de sua impressão ou para criar efeitos. Com o tempo, você pode até
mesmo combinar partes de várias imagens de fi lme fotográfi co em apenas uma impressão, compor
fotos que são parte positivas, parte negativas e assim por diante.
Fotografi as coloridas e preto-e-branco. Você precisa escolher entre diferentes tipos de fi lme
fotográfi co para a fotografi a colorida ou em preto-e-branco (monocromática). Visualmente, é
muito mais fácil tirar fotos coloridas do que em preto-e-branco, porque o resultado aproxima-se
mais ao modo como o objeto aparecia no visor. Naturalmente, você deve levar em consideração
diferenças entre a aparência de algo e como ele sai em uma fotografi a colorida (ver Capítulo 7).
Mas, em geral, isso é mais fácil do que prever como as cores do objeto serão convertidas em tons
monocromáticos. Preto-e-branco é visto como menos natural, criando uma distância entre o “real” e
a sua representação; por essa razão; ele atrai muitos fotógrafos, iniciantes e avançados, e errônea ou
corretamente é considerado mais interpretativo e sutil.
Os fi lmes fotográfi cos, os papéis e os processos químicos para a fotografi a colorida são mais
complexos do que os da fotografi a em preto-e-branco. Essa é a razão pela qual passaram-se
quase cem anos entre a invenção da fotografi a e o surgimento de processos de impressão colorida
confi áveis. Mesmo depois disso, eles ainda eram caros e trabalhosos, tanto que até a década de 1970
os fotógrafos aprendiam sua arte principalmente em preto-e-branco e a aperfeiçoavam em cores.
Hoje, praticamente todo mundo tira suas primeiras fotos em cores. A maior parte da complexidade
química da fotografi a colorida reside nos fi lmes fotográfi cos, papéis, soluções prontas e rotinas
padronizadas de processamento dos fabricantes. É principalmente na impressão que a cor continua
mais exigente do que o preto-e-branco, por causa dos requisitos extras de julgamento e controle do
balanço de cor (ver Advanced Photography). Então, pelo menos na câmera escura, você verá que a
fotografi a pela rota química é ainda melhor iniciada em preto-e-branco.
A rota digitalCaptura e armazenamento. Se estiver utilizando uma câmera digital, seja uma SLR* ou uma câmera
de celular, a imagem exposta é registrada em uma grade de milhões de elementos microscópicos
sensíveis à luz, que, em geral, é menor que um frame de fi lme fotográfi co de 35 mm. Essa grade é
conhecida como um dispositivo de carga acoplada (charge-coupled device – CCD) e está localizada em
uma posição semelhante a do fi lme dentro de uma câmera de fi lme. Imediatamente após a exposição,
o CCD lê a imagem capturada como uma cadeia de sinais eletrônicos chamada de arquivo de imagem
e, normalmente, a transfere para um pequeno cartão de memória digital inserido no corpo da câmera
ou diretamente para o “disco rígido” da câmera, ou mesmo para um CD ou DVD. (Para informações
adicionais mais detalhadas sobre a seqüência de captura digital e sobre o sensor alternativo CMOS,
consulte o Capítulo 6.) As imagens podem então ser vistas em uma pequena tela na câmera e qualquer
tomada indesejável pode ser eliminada. O download dos arquivos de imagem é feito posteriormente
a partir do cartão, ou direto da câmera, em um computador, aparecendo no monitor ou na tela de
televisão. Também é possível descarregar os arquivos diretamente em uma impressora sem serem
primeiro visualizados em um computador. Um guia aproximado da qualidade e dos tamanhos
de impressões possíveis a partir de uma câmera digital dependerá parcialmente do número de
megapixels disponíveis. Quanto maior a impressão, maior será o número de megapixels necessários.
Se você quer apenas ver imagens na tela ou enviar imagens por email para amigos e família, então um
câmera de 1 ou 2 de megapixels é adequada. Para impressões de qualidade fotográfi ca de até 20 × 25
* N. de R. T.: SLR (single lens refl ex), câmeras fotográfi cas com apenas uma objetiva.
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centímetros, você precisa de uma câmera de 3 ou 4 megapixels.
Para produzir imagens maiores que 20 × 25 centímetros, você
precisa ter pelo menos uma câmera de 5 megapixels, ou mais.
Depois de fazer o download ou apagar o cartão, você pode
reutilizá-lo indefi nidamente para armazenar novas fotos.
Vários programas de manipulação de imagem podem
ser carregados no computador, fornecendo “ferramentas”
e controles ao lado da foto para cortar, alterar o brilho, o
contraste ou a cor e fazer muitos outros ajustes, efeitos e
animações. Cada um deles é selecionado e ativado por meio do
mouse ou de um atalho pelo teclado – as alterações na imagem
aparecem imediatamente na tela do computador. Os arquivos
de imagem podem ser “salvos” (armazenados) no disco rígido
do computador ou em um disco removível.
Saída. Quando você estiver satisfeito com a imagem na tela, o
arquivo digital pode ser impresso em uma impressora desktop
– em geral, uma impressora jato de tinta ou uma a laser – para
impressão colorida no papel de sua escolha. Você também
pode levar seu disco removível até um laboratório fotográfi co
ou usar uma máquina em uma loja para fazer impressões
lightjet em papel fotográfi co.
É possível transferir arquivos digitais para o fi lme fotográfi co
e então imprimi-los da maneira normal ou por processos de
impressão comercialmente disponíveis como o Lambda e o
Lightjet, que utilizam o papel fotográfi co colorido tradicional.
Comparações práticas entre produzir fotografi as com
a rota química (fi lme fotográfi co) e a digital aparecem em
detalhes no Capítulo 6. Você verá que cada rota tem suas
vantagens e há boas razões para combinar os melhores
recursos de cada.
Rotinas técnicas e escolhas criativasCom o conhecimento técnico e a experiência prática (que vem de
tirar muitas fotos em diferentes condições), você gradualmente
acumula habilidades que se tornam uma segunda natureza.
É como aprender a dirigir. Primeiro você tem de aprender
conscientemente o manuseio mecânico de um carro. Depois,
isso torna-se tão familiar que você se concentra cada vez mais
no que quer alcançar com a máquina, indo de A para B. Seja
com os meios químicos ou com os digitais, a fotografi a o envolve
em uma série de habilidades complementares. Ser capaz de
comunicar suas idéias para seu público é como ir de A para B
e existem algumas habilidades que você precisa adquirir para
fazer isso de maneira interessante e bem-sucedida.
Salvada em disco de arma-zenamento
OBJETOAbordagem;Composição;Iluminação
CÂMERA DIGITALLente; Foco;Exposição
DOWNLOADpara o computador
Cartão de armaze-namento de imagemCAPTURADA
IMAGEMVISÍVELna tela
PROCESSAMENTODIGITAL Correção e manipulação no computador
Transmissão
IMPRESSORATintas outôners
IMAGEM FINAL
Apagar e reutilizar - ouarquivo de imagem
Figura 1.3 Rota digital básica do objeto à imagem fi nal. Nenhuma química ou câmera escura é necessária, e os cartões para armaze-namento de imagem podem ser reutilizados. As imagens também podem ser digitalizadas a partir dos resultados das tomadas no fi lme, pelo scanner de fi lme, ou a partir de impres-sões, via um scanner de mesa.
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Há rotinas defi nidas em que a regularidade é de fato importante, como por exemplo, o
processamento de fi lme fotográfi co ou de papel, especialmente o colorido, e os métodos de
inserir e salvar arquivos de imagem digital. Uma regularidade na criação, tanto técnica quanto
conceitual, de imagens ajudará a desenvolver um estilo próprio. Há também aquelas etapas em
que as decisões criativas devem ser feitas e muitas escolhas e variações são possíveis. Elas incluem
a organização do seu assunto, o tratamento de iluminação e câmera, a edição e a impressão do
trabalho. Como fotógrafo, você mesmo precisará resolver e tomar essas decisões ou, pelo menos,
acompanhá-las de perto.
Tendo mais confi ança na obtenção dos resultados, você descobrirá que pode passar a
maior parte do tempo desenvolvendo as idéias e o conteúdo, bem como aprimorando questões
relacionadas à produção de imagens criativas na forma de composições e capturando expressões
e ações que diferem a cada tomada e que não são baseadas em soluções de rotina. Ainda
assim, você deve se manter atualizado, examinando o trabalho de outros fotógrafos novos e
contemporâneos e descobrindo novos processos e equipamentos à medida que eles são lançados.
Você precisa descobrir que novas oportunidades visuais oferecidas por esses fotógrafos podem
ajudar no seu próprio trabalho,
sem, no entanto, seguir cegamente
o estilo deles.
Rotinas técnicas e escolhas
criativas dão uma boa base para o
que talvez seja o maior desafi o da
fotografi a – como produzir imagens
que tenham conteúdo e signifi cado
interessante. Você pode se
comunicar com outras pessoas pelo
que você “diz” visualmente (indo de
A para B) usando um humor simples
(Figura 1.4) ou algum comentário
sério sobre a condição humana,
como mostrado na Figura 1.5?
Estruturaçãodo quadro
A composição tem a ver com
mostrar as coisas da maneira
mais forte e mais efi ciente,
seja qual for seu assunto. Em geral,
isso signifi ca evitar poluição visual
entre os vários elementos presentes
(a menos que precisamente essa
confusão contribua com o clima
que você deseja criar). A maneira
como você compõe visualmente Figura 1.4 Fotos de revistas de negócios não precisam ser sisudas. Cuidado com o posicionamento da câmera e do tema proporciona uma imagem atraente de notá-vel simplicidade. Brian Griffi n para Management Today.
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suas fotografi as é tão importante quanto a qualidade técnica delas. Essa habilidade, porém, é
adquirida tanto na teoria como na prática. Ela envolve o uso de linhas, formas e áreas de tom
dentro de sua foto, independente do que os itens realmente são, para que se relacionem bem entre
si, formando um tipo agradável de geometria (ver a Figura 1.6).
A composição é, portanto, algo que a fotografi a tem em comum com o desenho, a pintura e
as belas-artes em geral. A principal diferença é que você tem de acertá-la ao máximo enquanto o
objeto ainda está na sua frente, fazendo o melhor uso do que está presente no momento. A câmera
trabalha rápido, embora a câmera escura e o computador admitam composições alternativas.
Em geral, a boa composição implica apenas um olhar mais cuidadoso pelo visor. Quantas vezes
você viu uma fotografi a com pessoas com pés cortados ou um vazo de fl ores saindo da cabeça de
alguém?
Todos já ouvimos que as “regras estão aí para ser quebradas”, uma vez que regras encorajam
resultados que são perfeitamente corretos, mas que não oferecem nada a mais. Como Edward
Weston uma vez escreveu, “Consultar regras de composição antes de tirar uma foto é como
consultar leis da gravidade antes de uma fazer uma caminhada”. Naturalmente, é fácil dizer isso
Figura 1.5 Essa tomada do documentário de Gareth McConnell foi tirada de uma série de retratos de pessoas que vivem no que alguns chamam de margens da sociedade. Fica clara a habilidade do fotógrafo para ganhar a confi ança das pessoas que posam para ele e permitir que elas se expressem com dignidade.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
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quando você já tem um olho
experiente para tirar fotos, mas
guias são muito úteis quando
você está apenas começando (ver
o Capítulo 8). Pratique fazendo
comparações críticas entre
fotografi as que “funcionam”
estruturalmente e aquelas que
não funcionam. Discuta esses
aspectos com outras pessoas,
tanto fotógrafos como não-
fotógrafos.
Quando um tema permite, é
sempre um bom conselho tirar
várias fotos – talvez as versões
óbvias primeiro e, então, outras
com pequenas alterações na
maneira como os itens são
justapostos, etc., simplifi cando e fortalecendo cada vez mais o que sua imagem expressa ou mostra.
Você precisa se acostumar a se mover mais ao tirar uma foto; com muita freqüência, as pessoas
simplesmente fi cam em frente a um objeto e tiram a foto na altura dos olhos. Abaixe-se, mova-se
para o lado, pendure-se em uma árvore! Você fi cará surpreso do quanto pequenos movimentos
podem mudar signifi cativamente a composição. É o seu olho que conta mais do que a câmera
(embora algumas câmeras interfi ram muito mais na visão do objeto do que outras).
A composição pode contribuir signifi cativamente para o estilo e a originalidade de
suas fotos. Alguns fotógrafos (Garry Winogrand, por exemplo: Figura 1.7) procuram obter
construções inusitadas que se somam à estranheza do conteúdo da foto. Outros, como Arnold
Newman e Henri Cartier-
Bresson, são lembrados pela
abordagem mais formal da
composição da fotografi a.
A composição em fotografi a
é quase tão variada quanto a
composição em música ou em
palavras, e pode aprimorar o
objeto, o tema e o estilo. A boa
composição ajudará o público
a “ler” a fotografi a da maneira
que você deseja, comunicando
suas idéias com êxito. Cada
fotografi a que você deseja tira
envolve alguma decisão de
composição, mesmo que seja
simplesmente decidir onde
colocar a câmera ou quando
pressionar o botão.
Figura 1.6 Uma foto de Henri Cartier-Bresson fortemente elaborada, como eviden-ciado pela escolha do ponto de vista para usar as linhas e o tom, juntamente com o momento no tempo.
Figura 1.7 Cena de rua de Garry Winogrand (Woman in a Phone Booth), Nova York, 1968) parece espontânea e dramática em composição e timing. Entretanto, ela expressa propositadamente algo estranho, incomum, que captura a atmosfera da cidade e exige maior observação.
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Os papéis desempenhados pela fotografi a
H á pouco sentido em ser
tecnicamente confi ante
e ter um bom olho para
composição se você não entender
também a razão pela qual está
tirando a fotografi a. O objetivo
pode ser simples – um registro de
algo ou alguém para identifi cação.
Ele também pode ser mais vago
– uma foto subjetiva expressando
claramente o conceito de
segurança (Figura 1.9), felicidade
ou ameaça, por exemplo. Nenhum
escritor pegaria em uma caneta
sem saber se a tarefa é criar uma
planilha de dados ou um poema.
Além disso, há um grande perigo na fotografi a que é quando você escolhe seu equipamento,
trabalha o foco, a exposição e a composição, mas não pensa no signifi cado de sua foto e no porquê
de mostrar o objeto dessa maneira particular.
Naturalmente, pessoas tiram fotografi as por várias razões. A maioria serve como lembrança
das férias ou da família e de pessoas queridas. Essas desempenham uma das funções sociais mais
valiosas da fotografi a – congelar momentos da sua história para serem lembrados mais tarde.
Às vezes, as fotografi as são tiradas para mostrar condições humanas difíceis e, então, fazer
um apelo à consciência dos outros. Nesse caso, como fotógrafo, talvez você tenha que investigar o
assunto de maneira tal que, em outras circunstâncias, seria considerada bisbilhotice ou voyeurismo.
Essa difícil relação com o objeto deve ser superada caso você queira que sua fotografi a fi nal ganhe
uma resposta positiva do observador.
Entender a melhor abordagem em relação ao objeto para criar a reação certa no seu público-
alvo também é vital em fotografi as que anunciam e vendem. Todo detalhe em uma situação planejada
deve ser considerado tendo-se a mensagem em mente. É com o local ou com o plano de fundo que
os consumidores se identifi cam positivamente? Os modelos e o fi gurino estão voltados demais para
o público de alto (ou baixo) poder aquisitivo? Objetos e acessórios devem adequar-se ao estilo de
vida e à atmosfera que você está tentando transmitir. Geralmente, os observadores precisam ter
uma imagem mais atraente deles próprios através do produto ou do serviço que você está tentando
vender. No meio de toda essa fantasia, você deve produzir uma fotografi a estruturada para chamar a
atenção, mostrar o produto; talvez precise deixar espaço para o texto e harmonizar as proporções do
folheto ou página de revista em que ele, por fi m, será impresso.
Já as fotos jornalísticas são diferentes. Muitas vezes deve-se encapsular um evento em uma só
tomada que será publicada. O momento da expressão ou ação deve somar-se à situação, embora
você possa colorir seu relato escolhendo o que, quando e onde tirar a foto. Até recentemente
persistia a idéia de que fotógrafos são observadores imparciais, que documentam eventos à
Figura 1.8 O famoso registro do Marco Zero feito por Joel Meyerowitz mostra o papel mutável da fotografi a no relato de notícias, que agora estão dominadas pela transmissão 24 horas na televisão e na Internet. A fotografi a freqüentemente nos oferece uma con-templação pós-evento da ação.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
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medida que eles se desdobram.
A realidade é um pouco
diferente, pois ninguém pode
ser completamente imparcial.
Os fotógrafos têm suas próprias
crenças (sociais, culturais,
políticas ou religiosas) e
preconceitos.
Fotografe uma manifestação
por trás de uma linha de polícia
e você pode mostrar uma
multidão ameaçadora; fotografe
a partir da multidão e mostrará
autoridades repressoras. Você
tem um poder semelhante ao
retratar o rosto, digamos, de
um político ou de um atleta. A
expressão de alguém pode se
alternar entre tristeza, alegria,
tédio, interesse, arrogância, etc.,
tudo dentro do espaço de alguns
minutos. Fotografando apenas um
desses momentos e rotulando-o com
uma legenda que informa o evento, não
é difícil maquiar a verdade; portanto,
o fotógrafo tem a responsabilidade de
reconhecer suas próprias crenças e
tendências.
Essas diferenças sutis
demonstram como os fotógrafos
sempre manipularam o observador.
A facilidade com que a manipulação
digital hoje pode adicionar ou tirar
elementos da imagem sem deixar
vestígios, descrita no Capítulo 14,
colocou ainda mais de lado o velho
adágio, que nunca foi verdadeiro, da
“verdade fotográfi ca” e de “a câmera
não pode mentir” (Figura 1.10).
A fotografi a pode fornecer
informações sobre os tipos de
registros fotográfi cos feitos para
treinamento, para a medicina e para
vários tipos de evidência científi ca.
Aqui você pode realmente aproveitar
o detalhe e a clareza extraordinários
Figura 1.9 Christopher Stewart fotografa pessoas que trabalham na indústria de segu-rança para sua série “Insecurities” (Inseguranças), utilizando práticas de documentário tra-dicional, mas ao mesmo tempo, através de seleção e edição cuidadosa de imagens, ele se apropria de códigos e convenções da fotografi a encenada. Compare com a Figura 1.18.
Figura 1.10 Joan Fontcuberta brinca com os códigos, e convenções de diferen-tes instituições da fotografi a para fazer seu “Fictions” (Ficções). Da série “Fauna”, essa fotografi a de um animal construído é tirada como se fosse capturada em vôo, efeito sugerido pelo movimento de desfoque da árvore, para replicar a foto-grafi a dos primeiros exploradores que traziam seus troféus para o museu.
FOTOGRAFIA BÁSICA DE LANGFORD1
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dessa mídia e a maneira
como as imagens comunicam
internacionalmente, sem a barreira
da linguagem e da palavra escrita.
Novamente, porém, a história
da fotografi a está repleta de
exemplos de imagens “científi cas”
manipuladas para fornecer
evidência das crenças do fotógrafo.
Por exemplo, no fi nal do século XIX
e no início do século XX, um tipo
de fotografi a foi utilizada como
evidência de que as características
da personalidade humana eram
defi nidas pelos traços facias
do indivíduo. Dessa forma, o
criminoso, o homossexual, os
doentes físicos e mentais estavam
sujeitos ao olhar controlador da
lente fotográfi ca (veja a Figura
1.11). O objetivo disso era que
eles poderiam ser facilmente
identifi cados e removidos da
sociedade para alguma instituição
ou algo semelhante, restando então
só uma raça “pura”.
Ainda hoje há certos tipos
de fotografi a que se baseiam na diferença, tirados geralmente em lugares exóticos durante as
férias – o menino maltrapilho da Índia ou um nativo de uma tribo africana ou ainda – mais perto
de casa – o mendigo. Esses e vários outros temas, como janelas e portas, formas de decadência
como cemitérios, ferros-velhos e até grafi te, encantam o fotógrafo por uma ou outra razão. Como
iniciante, você deverá aprender a lidar com o óbvio e entender como defi nir por que você está
tirando fotografi as.
Em outro nível, fotografi as inteiramente decorativas para calendários ou ilustrações editoriais
(fotos que acompanham artigos de revista) podem comunicar a beleza por si só – a beleza da
paisagem, a beleza humana e a forma ou beleza natural vista em coisas cotidianas, do dia-a-dia
(Figura 1.12). A beleza é uma qualidade muito subjetiva, infl uenciada por atitudes e pela experiência.
Mas há escopo aqui para a sua maneira própria de ver e responder, a ser mostrada por uma
fotografi a que cria uma resposta semelhante em outras pessoas. Em excesso, ela pode facilmente
tornar-se “bonitinha” e enjoativa, com maneirismos, clichês e afetações.
Mas nem sempre as fotografi as destinam-se a comunicar algo para outras pessoas; talvez
você esteja procurando auto-realização e auto-expressão e pode ser indiferente para você se os
outros saberão ler, ou mesmo enxergar, as informações ou mensagens nos resultados. Algumas
das imagens mais originais em fotografi a foram produzidas dessa maneira, totalmente livres de
convenções comerciais ou artísticas, muitas vezes como resultado da obsessão privada e pessoal
Figura 1.11 Responsável pela pseudociência da “eugenia‘‘ Sir Francis Galton pensava que os “tipos” de indivíduos poderiam ser predeterminados pelas carac-terísticas faciais. As composições são feitas com camadas de negativos subexpos-tos, como nesse exemplo de 1882 de “criminosos”, para que a imagem resultante mostrasse os traços comuns mais fortes. Assim, não temos uma fotografi a de uma pessoa “real”, mas uma composição de pessoas diferentes.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
31
de alguém. Você encontrará exemplos assim na fotografi a de Jo Spence, Diane Arbus, Nan Goldin,
Wolfgang Tillmans, Joel-Peter Witkin, Hans Bellmer ou Bernd e Hilla Becher.
Há muitos outros papéis que a fotografi a pode desempenhar: misturas de fato e fi cção, arte
e ciência (Figura 1.13), comunicação e não-comunicação. Lembre-se também que uma fotografi a
não é necessariamente o último elo na cadeia entre objeto/tema e observador. Editores, diretores
de arte e organizadores de mostras gostam de impor sua própria preferência na apresentação
fi nal. Fotos são cortadas, legendas são escritas e adicionadas, layouts posicionam uma imagem
de maneira a se relacionar com outras. Qualquer um desses atos pode reforçar, enfraquecer
ou distorcer o que um fotógrafo tenta mostrar. Você está à mercê das pessoas para sempre.
Eles podem até sabotá-lo anos mais tarde, pegando uma velha foto e fazendo-a adquirir novas
características.
Mudando de atitude em relação à fotografi a
H oje, a fotografi a é mais popular do que nunca na arte, mas a consciência e a aceitação
da fotografi a como um meio criativo por parte de outros artistas, galerias, editores,
colecionadores e o público em geral não foram obtidas facilmente. O ponto de vista das
pessoas em relação ao que a fotografi a pode e não pode fazer ou a favor ou contra ela como forma
de arte variou muito no passado, de acordo com a moda e atitudes de cada época, e a fotografi a
Figura 1.12 Fotografi a de moda de Jason Evans para a revista i-D, de uma gravata Helmut Lang. A qualidade gráfi ca básica de uma com-posição simples e os detalhes e a variação tonal oferecidos pela fotografi a “correta” fortalecem as qualidades do objeto, como seu padrão e sua forma.
FOTOGRAFIA BÁSICA DE LANGFORD1
32
teve papéis diferentes desde sua invenção. Durante a maior parte do século XIX (a fotografi a foi
inventada ofi cialmente em 1839: veja o Apêndice G para uma linha do tempo com os eventos
que levaram à invenção da fotografi a e com datas importantes desde 1839) os fotógrafos eram
freqüentemente vistos como uma ameaça por pintores, que nunca deixaram de apontar em público
que esses intrusos aparentemente grosseiros não tinham capacidade artística nem conhecimento.
Até certo ponto, isso era verdade – era preciso ser um pouco químico para obter algum resultado,
mas algum conhecimento de arte também ajudava na composição, iluminação, etc.
Arte e documentaçãoNa primeira metade do século XIX, várias pessoas tentaram aperfeiçoar a fotografi a, inventando
diferentes processos e técnicas que tinham objetivos comuns: produzir imagens mais realistas e
detalhadas fi xando a imagem criada dentro de uma câmera e fazendo o que hoje são chamados
“fotogramas”. As primeiras fotografi as eram consideradas milagrosas e elogiadas por sua beleza
e detalhe; sua produção também exigia uma boa dose de habilidade e conhecimento (veja a
Figura 1.14).
No fi nal do século XIX, os equipamentos e os materiais tornaram-se um pouco mais fáceis
de manusear e a fotografi a se disseminou pelo mundo, passando a ser usadas com propósitos
artísticos e para documentar pessoas, lugares e coisas. No início do século XX, câmeras instantâneas
e serviços de revelação e impressão para amadores fi zeram da fotografi a preto-e-branco um
divertimento para as massas. Alguns fotógrafos “sérios” sentiram necessidade de se distanciar
disso e ganhar aceitação como artistas, então começaram a tentar aproximar mais essa mídia da
Figura 1.13 The thinker (O pensador). Esse auto-retrato duplo utiliza material de exames médicos, mas o reapresenta como um objeto de arte, questionando a relação entre médico e paciente.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
33
aparência e das funções da pintura
da época. Esses fotógrafos também
tentaram recapturar a idéia do “feito
à mão” das primeiras fotografi as
em uma época em que elas estavam
tornando-se artigos feitos por
máquinas de produção em massa.
Eles se denominavam fotógrafos
“pictorialistas”, registrando objetos
pitorescos, em geral por meio
de acessórios para foco suave, e
imprimindo em papel texturizado
por processos que eliminavam a
maioria dos “horríveis detalhes” da
fotografi a (veja a Figura 1.15).
Outros fotógrafos estavam
mais interessandos na fotografi a
como uma nova e moderna
forma de produzir imagens, e se
concentraram no que achavam que
a fotografi a podia fazer melhor
que outras formas tradicionais
de representação. Eles utilizaram
novas técnicas para reproduzir
fotografi as mecanicamente na página
impressa, sendo infl uenciados pela
nova cultura popular (como revistas
sobre cinema e fotografi a) e pela arte
moderna à medida que ela tornou-se
cada vez mais abstrata. Os fotógrafos
viram pintores se concentrarem nas
qualidades particulares da pintura
Figura 1.14 Ação congelada. Eadweard Muybridge utilizava a câmera para estudar os movimentos (1886), como uma forma de descoberta científi ca para revelar algo muito rápido que não é captado pelo olho humano.
Figura 1.15 Esta fotogravura de Robert Demachy, do Salão de Londres de 1895, é um exemplo de estilo e tema do pictorialismo. Demachy imprimiu suas primeiras fotos usando o processo químico de bicromato de goma, que dá uma aparência ligeiramente mais próxima a uma pintura impressionista do que a uma fotografi a.
FOTOGRAFIA BÁSICA DE LANGFORD1
34
(superfície, textura, etc) e decidiram se concentrar no que a fotografi a poderia fazer em vez de tentar
fazer fotografi as que parecessem pinturas. Como reação ao pictorialismo, a fotografi a “pura” entrou
em voga no início do século XX na Europa e nos Estados Unidos com o trabalho de fotógrafos como
Walker Evans, Paul Strand e Albert Renger-Patzsch. Eles fi zeram uso máximo das qualidades da
fotografi a em preto-e-branco que, inicialmente, eram consideradas não-artísticas: foco extremamente
nítido, escala tonal rica e a capacidade de registrar simples objetos/temas cotidianos utilizando
iluminação natural de transformá-los em belas fotografi as. A excelência técnica era de fato importante
e rigorosamente aplicada. A fotografi a desenvolveu uma estética própria, algo completamente
separado da pintura e de outras manifestações das belas-artes. Essa estética foi seguida por fotógrafos
como Edward Weston, Ansel Adams e Imogen Cunningham, e seus estudos de detalhes e texturas
extramente bem focalizados defi niram os padrões da fotografi a artística até a década de 1960.
O advento de fotografi as impressas mecanicamente em jornais e revistas abriu o mercado para
a imprensa e a candid photography (“câmera escondida”, fotos tiradas sem o conhecimento da
pessoa). As fotos eram tiradas por sua ação e conteúdo e não por qualquer tratamento especial. Isso
somado à liberdade dada pela precisão das câmeras portáteis levaram a uma ruptura com as regras
de composição da pintura antiga.
Os anos de 1930 e 1940 foram o período de grande expansão das revistas ilustradas e da foto-
reportagem, antes do surgimento da televisão. Nesse período viu-se também um crescimento
contínuo dos aspectos profi ssionais da fotografi a: a publicidade; o comércio e a indústria; o retrato;
a medicina; as aplicações científi cas e aéreas. Grande parte disso ainda era em preto-e-branco. A
utilização da cor aumentou gradualmente durante a década de 1950, mas ainda era difícil e caro
reproduzir cor bem em publicações.
Novas abordagens a partir da década de 1960Durante a década 1960, aconteceram grandes e rápidas mudanças. Partindo de algo que a geração
anterior considerava fora de moda, antiquado e pretensamente artístico, a fotografi a tornou-se
parte da cultura pop e do consumismo que prosperou a partir da Segunda Guerra Mundial. As
novas câmeras SLR, o fl ash eletrônico, as máquinas e os laboratórios personalizados para separar
as tediosas rotinas de processamento, sem mencionar a explosão da fotografi a de moda, tiveram seu
efeito. A fotografi a cativou a imaginação pública.
De uma hora para outra, os jovens passaram a querer ter uma câmera, usando-a para se
expressar e retratar o mundo ao seu redor. Os novos fotógrafos estavam interessados nos artistas
contemporâneos, mas não conheciam nem se importavam com os clubes e as associações de
fotografi a com suas regras inúteis e idéias limitadas sobre possibilidades de fotografi a. Como
a fotografi a havia se tornado tão universal no estilo de vida contemporâneo das pessoas, ela se
integrou à pintura moderna, à impressão e até mesmo à escultura, e uma geração de artistas jovens,
que incluía Bruce Nauman, Robert Smithson e Ed Ruscha, começou a usar a fotografi a como mais
uma das ferramentas disponíveis. Eles viam a fotografi a de modo muito diferente dos fotógrafos
artísticos da geração anterior e estavam menos interessados nos aspectos técnicos da fotografi a
e mais na sua rapidez, na sua capacidade de capturar eventos e performances e no fato de que ela
parecia ser parte do mundo cotidiano da cultura popular, não uma arte.
A fotografi a começou a ser ensinada em escolas e faculdades, especialmente faculdades de
artes, onde antes tinham um peso inferior como disciplina técnica. Os Estados Unidos tomaram
a dianteira, criando cursos de graduação para a fotografi a e incluindo-a nos cursos de arte e
design, estudos sociais e comunicação. Contudo, poucos portfólios individuais de fotografi as foram
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
35
publicados em livros com alta qualidade de impressão. Também era extremamente raro uma galeria
de arte vender ou mesmo expor fotografi as; mais raro ainda era haver galerias públicas dedicadas à
fotografi a. Como resultado, era difícil que os trabalhos dos fotógrafos fossem vistos e se tornassem
conhecidos. Até revistas e jornais às vezes deixavam de dar o crédito dos fotógrafos, enquanto os
escritores tinham sempre seu nome publicado junto com seus trabalhos.
Por volta de 1970, porém, tudo isso mudou. Galerias arrojadas faziam exposições de fotografi a
que eram cada vez mais bem freqüentadas. A demanda do público e de alunos nos cursos encorajou
os editores a produzir um amplo espectro de livros que exibiam o trabalho de fotógrafos. Trabalhos
criativos começaram a ser vendidos em galerias como “fi ne prints” (fotografi as artísticas, geralmente
em tiragens limitadas) a pessoas que os compravam como investimentos. Fotógrafos mais antigos
como Bill Brandt, Minor White e Andre Kertesz foram redescobertos por diretores de arte, tirados
da semi-obscuridade e seus trabalhos foram exibidos em centros de arte internacionais, enquanto
fotógrafos como William Eggleston e Stephen Shore tornaram-se os primeiros a expor fotografi as
coloridas em museus importantes.
A década de 1980 trouxe materiais para fotografi a colorida que proporcionavam melhores
resultados na qualidade e que eram mais baratos do que antes. Laboratórios que trabalhavam com
fotografi a colorida começaram a aparecer, oferecendo a todo mundo melhor processamento e
impressão, além de retorno mais rápido. O público geral queria tirar fotos coloridas em vez de em
preto-e-branco e, paulatinamente, a cor foi também adotada por fotógrafos artistas. A reprodução
da fotografi a colorida tornou-se mais barata na página impressa; até jornais começaram a utilizar
fotografi a colorida. Mais ou menos nessa época, também tornou-se possível produzir fotografi as
coloridas em grande escala, estimulando uma nova geração de fotógrafos artistas a criar imagens
que eram mais próximas do tamanho das pinturas dos Velhos Mestres, dos cartazes publicitários e
das telas de cinema do que do tamanho das páginas de livros ou revistas e pequenos impressos, mais
comumente associados com a fotografi a.
Hoje, a disponibilidade de equipamento fotográfi co menos complicado combinada com um
público muito maior para a fotografi a encoraja um amplo fl uxo de imagens. Galerias, livros e
instituições de ensino ampliaram a discussão crítica da fotografi a – o modo como ela comunica
signifi cados por meio de uma linguagem visual própria. Agora, há tantas formas de diferentes
indivíduos utilizarem a fotografi a que ela está se tornando quase tão variada e profunda quanto
qualquer outra arte. De fato, hoje em dia, a fotografi a está em toda parte e participa de quase
todos os aspectos de nossa rotina. As câmeras digitais, os scanners e a Internet possibilitaram a
distribuição de fotografi as de modo mais amplo e mais rápido do que antes, e a fotografi a continua a
se expandir à medida que as tecnologias e as idéias mudam. Um maior entendimento das linguagens
da fotografi a e o advento de novas tecnologias encorajaram uma maior apreciação da fotografi a
como uma mídia que documenta o mundo e que é, ao mesmo tempo, expressiva.
Estilos e abordagens pessoais
S eu “estilo” de fotografar se desenvolverá a partir de seus próprios interesses e atitudes e das
oportunidades que aparecerem no seu caminho. Por exemplo, você se interessa mais por
pessoas ou por objetos e coisas com os quais pode trabalhar sem se envolver em relações
humanas? Você gosta da sincronização em fração de segundos necessária para fotografi a de ação
(veja a Figura 1.16) ou prefere a abordagem mais lenta e espiritual possibilitada por temas como
paisagens ou natureza-morta?
FOTOGRAFIA BÁSICA DE LANGFORD1
36
Se pretende ser fotógrafo
profi ssional, você pode se ver como
um generalista, lidando com a maioria
das necessidades fotográfi cas da sua
região. Ou talvez trabalhe em alguma
área mais especializada, como história
natural, polícia forense, pesquisa
científi ca ou fotografi a médica,
combinando a fotografi a com outras
habilidades e conhecimentos. Algumas
dessas aplicações dão escopo muito
pequeno para interpretação pessoal,
especialmente quando você deve
apresentar as informações de modo
claro e exato para atender certas
necessidades. Há maior liberdade nas
fotografi as tiradas por e para você.
Nelas, você pode desenvolver melhor
seu próprio estilo visual, contanto
que seja capaz de se motivar e se
orientar sem as pressões e os objetivos
limitadores presentes na maior parte
dos trabalhos. Entretanto, o objetivo
de você criar o seu próprio portfólio é
alcançar mais sucesso no decorrer do
tempo, uma vez que poderá oferecer
idéias novas e interessantes aos clientes
em vez de recorrer ao que já está
disponível no mercado.
É difícil defi nir estilo, mas ele é reconhecível quando você o vê. As imagens têm alguma mistura
característica do tema: o clima (humor, drama, romance, etc.), tratamento (concreto ou abstrato),
utilização de tom ou cor, composição e até mesmo as proporções da imagem. A técnica é importante
também, da escolha da lente à forma da apresentação impressa. Mais do que qualquer outra coisa,
porém, estilo tem a ver com uma maneira particular de olhar.
Uma advertência: nunca deixe o estilo se sobressair ao conteúdo em nenhum trabalho, seja
como fotógrafo comercial ou artístico. Muitos fotógrafos viram-se presos em uma armadilha ao
serem defi nidos como o fotógrafo de “tal e tal estilo‘‘. Forçados a repetir o trabalho pelo qual eram
mais conhecidos, acabaram perdendo o prazer que os levou inicialmente à fotografi a.
Conteúdo e signifi cadoSua abordagem à fotografi a pode ser aprimorada pelo exame do trabalho de outros, mas apenas se
isso for aliado à prática, refi nada por um longo período de experiências com maneiras de trabalhar
que dão melhor suporte às coisas que você considera importantes e que quer mostrar aos outros.
Isso não deve tornar-se uma fórmula, um molde que faz tudo o que você fotografa parecer a mesma
coisa. O segredo é buscar a essência de cada tema, sem se repetir. As pessoas devem ser capazes
Figura 1.16 Uma libélula alçando vôo. Uma rápida seqüência de três exposi-ções ultra-rápidas com fl ash compostas em um quadro e obtidas numa confi gu-ração especialmente projetada em laboratório, por Stephen Dalton. A fotografi a de registro de tempo e ação fornece informações únicas para a história natural e a educação. Veja também a Figura 1.14.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
37
de reconhecer o seu toque em
uma fotografi a e ainda assim
descobrir coisas únicas em cada
tema ou situação particular pela
maneira como você as mostra.
No trabalho pessoal,
o conteúdo e o signifi cado
de fotografi as podem
variar bastante. Um projeto
importante, “Memory & Skin”,
de Joy Gregory, explora a
identidade e o modo como
as pessoas de uma parte do
mundo vêem as de outra. Sua
calma observação explora as
conexões entre o Caribe e a
Europa rastreando fragmentos
da história. A Figura 1.17 é
uma mistura desordenada de
detalhes vagos e específi cos,
mas dentro do contexto do tema
da série você pode retornar a
ela várias vezes e ver coisas
novas. (Compare com a Figura
1.12, que é muito mais direta
e gráfi ca, mas contém menos
profundidade e signifi cado.)
O trabalho de Starkey
Hannah também diz respeito
à memória, real e imaginada,
formando uma série sobre
a vida das mulheres nos
centros urbanos. Detalhadas
e fortemente narrativas, suas
imagens sem título representam
pequenos momentos em família
– experiências e observações
ordinárias, não-dramáticas.
Na Figura 1.18, uma mulher de
idade contempla seu refl exo
tanto com ansiedade como com
prazer. Outros elementos no
quarto dizem algo sobre tempos
passados (compare com a Figura
1.19, que não mostra nenhum
detalhe, mas ainda sugere uma
Figura 1.17 Vitrine de loja, Nantes, França. Foto de documentário simples e provo-cativo que é parte de um projeto de Joy Gregory, “Memory & Skin”(Memória e Pele). Suas fotos exploram o modo como as pessoas vêem outras de uma parte diferente do mundo.
Figura 1.18 Sem título – Fevereiro de 1991. Essa foto de Hannah Starkey é uma de sua série intitulada “Women Watching Women”(Mulheres Observando Mulheres). O conteúdo e o signifi cado de cada tomada relacionam pequenos momentos familiares a experiências da vida cotidiana. O real e o imaginário são combinados aqui (ver texto).
FOTOGRAFIA BÁSICA DE LANGFORD1
38
relação entre fotografi a e memória).
Ainda assim, a série inteira das fotos
de Hannah não são um documentário,
mas um tableaux. Suas modelos são
atrizes e cada item foi especialmente
selecionado e posicionado. O conteúdo
e o signifi cado predominam sobre a
autenticidade, mas estão baseados na
observação aguda e no planejamento
meticuloso. Lembre-se que os tableaux
(fotografi as de eventos construídos)
têm uma longa história na fotografi a.
Vitorianos como Julia Margaret
Cameron e H. P. Robinson produziram
muitas fotografi as narrando histórias.
Naturalmente, essa abordagem
“encenada” sempre esteve presente
em fi lmes fotográfi cos e na maioria
das fotografi as posadas de moda e de
publicidade.
Às vezes, o conteúdo do trabalho
pessoal é baseado em imagens semi-
abstratas em que elementos como
cor, linha e tom são mais importantes
do que o objeto/tema realmente é.
O signifi cado abre caminho para o
design, e o fotógrafo escolhe os objetos
do seu conteúdo gráfi co básico que
ele pode moldar em interessantes
composições. A Figura 1.12 é um
desses exemplos.
Examine as coleções de trabalhos
de fotógrafos famosos (as fotografi as
isoladas mostradas neste livro, por
exemplo, não podem lhes fazer
justiça): O amor pela humanidade,
o humor sutil e o brilhante uso da
composição de Henri Cartier-Bresson;
a apresentação austera e altamente
refi nada de paisagens de Hiroshi
Sugimoto (veja a Figura 1.20); ou o
pictorialismo romântico de Robert
Demachy (veja a Figura 1.15). Cindy
Sherman, Jeff Wall, Martin Parr, Keith
Arnatt e Mari Mahr são fotógrafos que têm abordagens radicalmente diferentes em relação ao
conteúdo e ao signifi cado. O trabalho deles é diferente, original e, freqüentemente, obsessivo.
Figura 1.19 Ground 70#, de Uta Barth. Esta fotografi a, beirando a abstra-ção, foi criada colocondo-se o foco a uma pequena distância, o que deixa o fundo como um vago borrão. Isso traz para o primeiro plano a atividade de olhar e questionar o modo como enxergamos os espaços familiares. Embora não aborde o tema literal da imagem, mas a visão em si, a fotografi a de Barth pode ter o efeito de tornar belos o cotidiano e o que o olhar negligencia.
Figura 1.20 Mar do Caribe, Jamaica, 1980. A paisagem do mar de Hiroshi Sugimoto ignora as máximas da composição, mas oferece uma imagem in-terpretativa em preto-e-branco de notável simplicidade. Não houve preparo especial na tomada, mas a impressão recebeu controle muito cuidadoso de valores tonais.
O QUE É FOTOGRAFIA? 1
39
Nos campos da ilustração científi ca e técnica, os requisitos factuais da fotografi a fazem com
que seja mais difícil detectar os autores dos trabalhos. Mas mesmo nesse caso a fotografi a de alta
velocidade do Dr. Harold Edgerton, os estudos de movimento de Eadweard Muybridge (Figura 1.14)
e a fotografi a médica do Prof. Dr. Killian destacam-se, graças ao interesse desses especialistas pelas
qualidades visuais básicas.
Medindo o sucesso
N ão há fórmula que possa julgar o sucesso de uma fotografi a. Todos nós corremos o risco
de enxergar no nosso próprio trabalho aquilo que desejamos ver, lendo nas fotos as coisas
que queremos descobrir e lembrando das difi culdades superadas ao fotografar, em vez de
avaliar o resultado como ele realmente aparece. Talvez a coisa mais fácil de julgar seja a qualidade
técnica, embora mesmo aqui “bom” ou “ruim” possam depender do que atende melhor ao clima e à
atmosfera da sua foto.
A maioria das fotografi as comerciais podem ser julgadas pela qualidade com que elas atendem
ao seu propósito, uma vez que estão no negócio de comunicações. A imagem de um cartaz ou de uma
capa de revista, por exemplo, deve ser expressiva e passar rapidamente sua mensagem. Mas muitas
dessas fotos, embora inteligentes, são superfi ciais e logo esquecidas. Há muito a se dizer de outros
tipos de fotografi a em que ambigüidade e a singularidade nos desafi am, permitindo-nos sempre
descobrir algo novo. Isso não signifi ca que você tem de gostar de tudo que é excêntrico e obscuro,
mas por meio de exame você deve ser capaz de desenvolver sua capacidade de análise crítica.
As reações às fotografi as também mudam com o tempo. Conviva por um tempo com sua foto
(tenha em casa um quadro de cortiça para fi xar fotos), senão você pode fi car pensando que seu
último trabalho é sempre o melhor. Da mesma forma, é um erro render-se à tendência do dia; é
melhor desenvolver suas próprias perspectivas e habilidades até elas ganharem a atenção pelo que
são. Lembre-se apenas de que embora as pessoas digam que querem ver novas idéias e abordagens,
elas ainda têm a tendência de julgá-las em termos dos padrões aceitos de ontem.
Grande parte da fotografi a profi ssional é arte patrocinada e comercializada em que o sucesso
pode ser medido fi nanceiramente. Projetos pessoais permitem a produção de fotos avant-garde,
mais ousadas – em geral para expressar preocupações e interesses. O sucesso artístico é medido
em termos do prazer e do estímulo de criar uma fotografi a e da satisfação com o resultado. As
recompensas vêm quando o trabalho é publicado por mérito próprio ou exposto em uma galeria. Em
geral, esforçar-se nesse sentido também gera trabalhos comerciais. Então, poderíamos dizer que a
medida do verdadeiro sucesso é quando você torna seu trabalho auto-expressivo, mas também vê
que as pessoas o procuram para comprar essa mesma fotografi a.
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RES
UM
OA fotografi a é um � meio – um veículo para
comunicar fatos ou fi cções e expressar idéias. Requer habilidade artística em proporções variáveis.
Conhecimento técnico é necessário �
se você quiser fazer uso completo de suas ferramentas e, assim, trabalhar com confi ança. Saber “como” permite que você se concentre no “ o que” e no “porquê” (o conteúdo e signifi cado da fotografi a).
Sempre explore os processos e �
equipamentos novos assim que eles são lançados. Descubra que tipo de imagens eles permitem criar.
Tradicionalmente, em fotografi a a imagem �
de seu objeto formada pela lente da câmera a é registrada em fi lme recoberto com haleto de prata. O processamento é feito com produtos químicos líquidos, trabalhando-se na câmera escura.
A tecnologia nos dá a opção de capturar �
a imagem por meio digital eletrônico. Os resultados também podem ser manipulados digitalmente, utilizando-se um computador. Você não precisa de produtos químicos nem de uma câmera escura.
Visualmente, fotografar em cores é mais �
fácil que em preto-e-branco. A cor é mais complexa na câmera escura.
A fotografi a permite o registro de detalhes �
fi nos e, no passado, tinha a reputação de ser essencialmente objetiva e verídica.
Entretanto, você pode utilizá-la de todas as outras maneiras, da propaganda à expressão autoral das belas-artes.
Fotografar exige uma mistura de: �
(a) rotinas cuidadosamente seguidas e habilidades artísticas para controlar resultados e (b) decisões criativas sobre o tema e a intenção de sua foto.
As fotografi as podem ser admiradas/ �
criticadas pelo conteúdo do seu tema, por sua estrutura, por suas qualidades técnicas, ou por seu signifi cado, individualmente ou em conjunto.
Por um tempo, o público considerou �
a fotografi a como uma pseudo-arte, antiquada e limitada, mas desde então ela se desenvolveu em uma ocupação ativa e numa mídia criativa, sendo exibida em toda parte.
Desenvolver um olho para composição �
ajuda a simplifi car e a fortalecer a mensagem de sua fotografi a. Aprenda com o trabalho de outros fotógrafos, mas não deixe a visão deles interferir na sua própria maneira de responder aos temas. Evite copiar cegamente o estilo deles.
O sucesso pode ser avaliado pela efi ciência �
com que a foto cumpre sua fi nalidade. A fotografi a pode ser medida em termos puramente técnicos, fi nanceiros ou artísticos, ou pela efi ciência com que se comunica com outras pessoas. Em um mundo ideal, todos esses aspectos vêm juntos.
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PR
OJETO
S
Quando você está trabalhando em projetos, é útil ter sua própria agenda visual. Ela pode ser uma mistura de bloco de rascunho e diário para idéias escritas ou esboçadas para futuras fotos, além de para citações e trabalhos de outros fotógrafos, escritores ou artistas dos quais você quer se lembrar (adicione suas próprias notas). Você pode também registrar dados técnicos, diagramas de iluminação e provas de contatos relacionadas a tomadas planejadas ou prontas.
Os projetos abaixo podem ser completados na forma escrita ou verbal (discursiva), mas devem incluir material visual como impressos, fotocópias ou slides.
1 Localize e compare exemplos de fotografi as de pessoas que diferem signifi cativamente em sua função e abordagem. Alguns fotógrafos sugeridos: Cecil Beaton, Diane Arbus,Yousuf Karsh, Dorothea Lange, Elliott Erwitt, Julia Margaret Cameron, August Sander, Martin Parr, Cindy Sherman, Nan Goldin, Bettina von Zwehl.2 Compare a foto de paisagem de três dos seguintes fotógrafos em termos de seu
conteúdo e estilo: Ansel Adams, Franco Fontana, Bill Brandt, Alexander Keighley, Joel Meyerowitz, Fay Godwin, John Blakemore, John Davies, Dan Holdsworth, Hiroshi Sugimoto, Joel Sternfeld3 Folheando jornais, revistas, livros, etc., encontre exemplos de fotografi as: (a) que tenham informações objetivas, estritamente concretas; e (b) que expressem fortemente um ponto de vista particular, para promoção de vendas ou propósitos sociais ou políticos. Comente sua efi ciência.4 Fotografe quatro exemplos de temas em que a estrutura da imagem seja mais importante que conteúdo real do objeto. Na preparação desse projeto, examine o trabalho de alguns dos fotógrafos a seguir: Ralph Gibson, André Kertesz, Lee Friedlander, Paul Strand, Laszlo Moholy Nagy, Barbara Kasten, Karl Blossfeldt.5 Encontre fotografi as publicadas que: (a) mudaram de sentido por causa do texto ou da legenda ou pela justaposição com outras ilustrações; ou (b) mudaram em importância com a passagem de tempo.