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OPINIÃO 12 l O País l Quarta - feira, 23 de Abril de 2014 Um novo olhar para a Biotecnologia (No combate à fome e preservação ambiental) O mundo está numa decisiva corrida contra o tem- po, para erradicar a fome que é considerada um dos maiores embaraços da modernidade e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais que sustentam a vida no planeta. Na África Subsaaria- na, é onde se travam as batalhas mais difíceis, com cerca de 1 quarto da população passando fome. Moçambique não foge à regra e, apesar dos avanços alcançados nos últimos 20 anos, o país tem pela sua frente uma missão gigantesca. Porém, produzir alimentos com sustentabilidade económica, am- biental e social, será cada vez mais difícil, perante os desafios da glo- balização, mudanças climáticas e escassez da água. As soluções mais viáveis resultarão de ganhos em produtividade e da capacidade de difundir e partilhar esses ganhos com as camadas mais vulneráveis. A biotecnologia tem o potencial de ser um instrumento fundamen- tal nessa batalha. Ela pode ajudar não só a aumentar a disponibilida- de de alimentos, mas também promover a utilização sustentável dos recursos agrícolas, pecuários, florestais e pesqueiros. Nos últimos tempos, com o surgimento de tecnologias de manipu- lação genética, a polarização dos debates em torno delas e a expansão de um espectro de desconfiança, todo o campo da biotecnologia aca- bou por ficar afectado. Em torno do tema foram moldadas percep- ções negativas, discursos evasivos de fazedores de opinião e acções cautelosas de políticos e executivos. Criou-se, assim, um clima de retracção que pode afectar negativa- mente a utilização das potencialidades e possibilidades deste campo tecnológico. E talvez valha a pena, abordar o tema de forma mais didáctica, desmistificar interpretações, derrubar preconceitos e pro- mover uma visão mais clara e uma interpretação mais racional. Mais do que nunca, urge abordar o assunto com frontalidade e responsa- bilidade. A biotecnologia, lato senso, é o uso de organismos vivos ou parte deles, para a produção de bens e serviços, e cobre um vasto leque de técnicas e instrumentos empregues na agricultura e indústria ali- mentar, o que inclui práticas simples como a selecção de sementes, hibridização, inseminação artificial e enxertia de plantas. Também inclui tecnologias de processamento de alimentos fermentados como pão, iogurte e cerveja. Todas essas técnicas, algumas delas milenares, cabem nesta definição mais ampla. Contudo, há quem se refira à biotecnologia no sentido mais restri- to, cobrindo apenas as tecnologias genéticas e biologia molecular, como por exemplo, a manipulação genética, marcadores de DNA e clonagem de plantas e animais. Quando abordamos o termo neste sentido mais restrito, corremos o risco de incorrer em erros de interpretação. Particularmente por- que a manipulação genética que dá origem aos OGMs (organismos geneticamente modificados) têm suscitado controvérsias e apaixo- nados debates entre cientistas e demais actores da sociedade civil. Na realidade, a grande maioria das práticas e procedimentos da bio- tecnologia são comuns, simples, com história e tradições de sucesso. Perante a explosão demográfica, e a necessidade de aumentar a disponibilidade de alimentos para uma população em constante crescimento, a biotecnologia, tal como outras tecnologias agrícolas, deverá ser chamada a desempenhar um papel fundamental. Sabe-se que existem muitos campos da biotecnologia que ainda não foram explorados em todo o seu potencial como, por exemplo, a cultura de tecidos e outros procedimentos de melhoramento genéticos mais simples, que não suscitam qualquer tipo de controvérsia e possuem um enorme potencial. Sabemos, por exemplo, que cerca de 2 biliões de pessoas sofre de carência de micronutrientes como vitaminas e minerais no mundo. Em Moçambique, corresponde a cerca de 60% da população. Grande parte dessas carências poderia ser minimizada através da promoção da cultura de frutas. A bananeira, por exemplo, pode ser multipli- cada aos milhares utilizando a técnica da cultura de tecidos. Assim, variedades específicas adaptadas aos mais variados regimes agro- -ecológicos podem ser identificadas, multiplicadas e distribuídas. E a cultura de tecidos não requer investimentos avultados, nem labora- tórios complexos. Temos os citrinos que são fontes muito ricas de vitaminas e podem crescer em qualquer região de Moçambique. Temos as mangueiras, também com potencialidades para serem cultivadas em todo o terri- tório nacional. Tanto os citrinos como as mangueiras podem benefi- ciar da técnica de enxertia para a sua propagação. A enxertia pode ser feita em qualquer lugar e sua técnica pode ser dominada por qual- quer camponês. Citei os citrinos e mangueiras como exemplos. Mas outras fruteiras poderiam ser identificadas com características similares. Para além de frutos, elas são árvores, duram muitos anos, dependem menos do regime de chuvas, não requerem muitos cuidados ao longo da sua vida, e podem também oferecer sombra e outros benefícios ambien- tais. Na pecuária, a inseminação artificial e a transferência de embriões podem ajudar a melhorar variedades locais, resistentes e adaptadas, para os diferentes propósitos: carne, leite e peles. No que respeita ao processamento são imensas as possibilidades: técnicas de fermenta- ção que ajudam a enriquecer, preservar e transformar alimentos, e diversas técnicas de conservação de alimentos que podem ser aplica- das em domicílios. Mesmo no campo dos OGMs (organismos geneticamente modi- ...cerca de 2 biliões de pessoas sofre de carência de micronu- trientes como vita- minas e minerais no mundo. Em Moçam- bique, corresponde a cerca de 60% da população. Grande parte dessas carên- cias poderia ser mi- nimizada através da promoção da cultura de frutas. A bananei- ra, por exemplo, pode ser multiplicada aos milhares utilizando a técnica da cultura de tecidos. Hélder Muteia Responsável do Escritório da FAO em Portugal

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OPINIÃO 12 l O País l Quarta - feira, 23 de Abril de 2014

Um novo olhar para a Biotecnologia (No combate à fome e preservação ambiental)

O mundo está numa decisiva corrida contra o tem-po, para erradicar a fome que é considerada um dos maiores embaraços da modernidade e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais que sustentam a vida no planeta. Na África Subsaaria-na, é onde se travam as batalhas mais difíceis, com

cerca de 1 quarto da população passando fome. Moçambique não foge à regra e, apesar dos avanços alcançados nos últimos 20 anos, o país tem pela sua frente uma missão gigantesca.

Porém, produzir alimentos com sustentabilidade económica, am-biental e social, será cada vez mais difícil, perante os desafios da glo-balização, mudanças climáticas e escassez da água. As soluções mais viáveis resultarão de ganhos em produtividade e da capacidade de difundir e partilhar esses ganhos com as camadas mais vulneráveis.

A biotecnologia tem o potencial de ser um instrumento fundamen-tal nessa batalha. Ela pode ajudar não só a aumentar a disponibilida-de de alimentos, mas também promover a utilização sustentável dos recursos agrícolas, pecuários, florestais e pesqueiros.

Nos últimos tempos, com o surgimento de tecnologias de manipu-lação genética, a polarização dos debates em torno delas e a expansão de um espectro de desconfiança, todo o campo da biotecnologia aca-bou por ficar afectado. Em torno do tema foram moldadas percep-ções negativas, discursos evasivos de fazedores de opinião e acções cautelosas de políticos e executivos.

Criou-se, assim, um clima de retracção que pode afectar negativa-mente a utilização das potencialidades e possibilidades deste campo tecnológico. E talvez valha a pena, abordar o tema de forma mais didáctica, desmistificar interpretações, derrubar preconceitos e pro-mover uma visão mais clara e uma interpretação mais racional. Mais do que nunca, urge abordar o assunto com frontalidade e responsa-bilidade.

A biotecnologia, lato senso, é o uso de organismos vivos ou parte deles, para a produção de bens e serviços, e cobre um vasto leque de técnicas e instrumentos empregues na agricultura e indústria ali-mentar, o que inclui práticas simples como a selecção de sementes, hibridização, inseminação artificial e enxertia de plantas. Também inclui tecnologias de processamento de alimentos fermentados como pão, iogurte e cerveja. Todas essas técnicas, algumas delas milenares, cabem nesta definição mais ampla.

Contudo, há quem se refira à biotecnologia no sentido mais restri-to, cobrindo apenas as tecnologias genéticas e biologia molecular, como por exemplo, a manipulação genética, marcadores de DNA e clonagem de plantas e animais.

Quando abordamos o termo neste sentido mais restrito, corremos o risco de incorrer em erros de interpretação. Particularmente por-

que a manipulação genética que dá origem aos OGMs (organismos geneticamente modificados) têm suscitado controvérsias e apaixo-nados debates entre cientistas e demais actores da sociedade civil. Na realidade, a grande maioria das práticas e procedimentos da bio-tecnologia são comuns, simples, com história e tradições de sucesso.

Perante a explosão demográfica, e a necessidade de aumentar a disponibilidade de alimentos para uma população em constante crescimento, a biotecnologia, tal como outras tecnologias agrícolas, deverá ser chamada a desempenhar um papel fundamental. Sabe-se que existem muitos campos da biotecnologia que ainda não foram explorados em todo o seu potencial como, por exemplo, a cultura de tecidos e outros procedimentos de melhoramento genéticos mais simples, que não suscitam qualquer tipo de controvérsia e possuem um enorme potencial.

Sabemos, por exemplo, que cerca de 2 biliões de pessoas sofre de carência de micronutrientes como vitaminas e minerais no mundo. Em Moçambique, corresponde a cerca de 60% da população. Grande parte dessas carências poderia ser minimizada através da promoção da cultura de frutas. A bananeira, por exemplo, pode ser multipli-cada aos milhares utilizando a técnica da cultura de tecidos. Assim, variedades específicas adaptadas aos mais variados regimes agro--ecológicos podem ser identificadas, multiplicadas e distribuídas. E a cultura de tecidos não requer investimentos avultados, nem labora-tórios complexos.

Temos os citrinos que são fontes muito ricas de vitaminas e podem crescer em qualquer região de Moçambique. Temos as mangueiras, também com potencialidades para serem cultivadas em todo o terri-tório nacional. Tanto os citrinos como as mangueiras podem benefi-ciar da técnica de enxertia para a sua propagação. A enxertia pode ser feita em qualquer lugar e sua técnica pode ser dominada por qual-quer camponês.

Citei os citrinos e mangueiras como exemplos. Mas outras fruteiras poderiam ser identificadas com características similares. Para além de frutos, elas são árvores, duram muitos anos, dependem menos do regime de chuvas, não requerem muitos cuidados ao longo da sua vida, e podem também oferecer sombra e outros benefícios ambien-tais.

Na pecuária, a inseminação artificial e a transferência de embriões podem ajudar a melhorar variedades locais, resistentes e adaptadas, para os diferentes propósitos: carne, leite e peles. No que respeita ao processamento são imensas as possibilidades: técnicas de fermenta-ção que ajudam a enriquecer, preservar e transformar alimentos, e diversas técnicas de conservação de alimentos que podem ser aplica-das em domicílios.

Mesmo no campo dos OGMs (organismos geneticamente modi-

...cerca de 2 biliões de pessoas sofre de carência de micronu-trientes como vita-minas e minerais no mundo. Em Moçam-bique, corresponde a cerca de 60% da população. Grande parte dessas carên-cias poderia ser mi-nimizada através da promoção da cultura de frutas. A bananei-ra, por exemplo, pode ser multiplicada aos milhares utilizando a técnica da cultura de tecidos.

Hélder Muteia

Responsável do Escritório da FAO

em Portugal

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ficados) algumas considerações importantes merecem ser tecidas. Sendo uma tecnologia que abre amplas possibilidades, ela pode pro-mover uma maior produção e produtividade de alimentos, e ajudar a resolver alguns problemas difíceis e complexos no campo produtivo. Há exemplos positivos de engenharia genética na produção de vaci-nas para combater doenças, na fortificação de alimentos com micro-nutrientes essenciais (ex. betacaroteno ou vitamina A no arroz), no desenvolvimento de microrganismos que ajudam a combater os der-ramamentos de petróleo no mar, e culturas mais resistentes a climas extremos como a seca.

Contudo, os cientistas têm também alertado que o vasto potencial e possibilidades da engenharia genética podem gerar riscos para a saúde das pessoas, dos animais, das plantas, ou mesmo representar uma ameaça ao já frágil equilíbrio ecológico que sustenta a vida no nosso planeta. Por exemplo, há a possibilidade de se produzirem novas toxinas, desencadear reacções alérgicas inesperadas, criar novas espécies invasoras, ou mesmo promover a perda ou redução da biodiversidade por predominância das novas espécies genetica-mente manipuladas. Outro risco, não de natureza biológica mas sim socioeconómica, é que as tecnologias sofisticadas, controladas por multinacionais, podem gerar guerras de patentes, com prejuízo dos agricultores mais pobres.

Assim, a abordagem te certas técnicas de manipulação genética, deve ser acompanhada de uma estratégia de gestão de riscos. Deve--se tomar em consideração não apenas o manancial de possibilidades que ela oferece, mas também os potenciais riscos que podem ocorrer por uma busca desenfreada e desregrada de soluções sem as necessá-rias precauções e medidas reguladoras.

O mais importante é que se consolidem os mecanismos de consul-ta internacionais, garantindo uma abordagem coordenada e respon-sável, que a comunidade científica mundial crie mecanismos de iden-tificação dos potenciais riscos e formas de os evitar, e que legislação específica sobre a matéria e códigos de conduta sejam adoptados a nível nacional e intencional, levando em consideração aspectos éti-cos, humanos, culturais, sociais, económicos e ambientais.

O objectivo deste texto é recordar que a biotecnologia é um cam-po vasto, com história e tradições de sucesso, e que fora das áreas de maior controvérsia, a biotecnologia continua a oferecer soluções práticas e simples. Elas merecem ser mais exploradas e disseminadas junto das populações mais carenciadas, nomeadamente no Sul da África e da Ásia.

A utilização racional das potencialidades da biotecnologia pode ajudar não só a combater a escassez de alimentos e a fome, mas tam-bém outros males de igual importância como a degradação dos so-los, a perda da biodiversidade, a proliferação de pragas e doenças, a contaminação dos cursos e reservatórios de água, a perda da com-petitividade da agricultura familiar e a deterioração das condições sociais e económicas do campo.

OPINIÃOInformação sobre a empresa: A Green Resources (www.greenresources.no) é a empresa líder de florestamento em África e é um líder no fabrico de produtos de madeira na África Oriental. A Lurio Green Resources SA (LGR) e a Niassa Green Resources são subsidiárias da Green Resources AS, Noruega. Nós Estabelecemos plantações de eucalipto e pinho para produtos de madeira e energia nas províncias de Nampula e Niassa, no norte de Moçambique.. A Green Resources implementou recentemente o SAGE ERP X3, e como parte desse processo, centralizou todas as funções de contabilidade em Moçambique. O local de trabalho será em Nampula ou Lichinga.

Vaga: CONTABILISTA CHEFE - MOÇAMBIQUE

Responsabilidades Principais: O Contabilista-Chefe irá gerir a função de contabilidade para as operações da Green Resources em Moçambique. Procuramos um Contabilista-Chefe pró-activo que consiga estabelecer uma função centralizada eficiente, criar e liderar uma equipa e fazer parte do grupo de gestão da empresa, reportando a Directora Financeiro do Grupo baseado em Oslo e ao Director Geral em Moçambique. As responsabilidades incluirão a preparação de relatórios financeiros mensais e trimestrais para o grupo e a gestão. Outras tarefas-chave:

• Assegurar a gestão e o controle eficazes da função de contabilidade e supervisar a equipa de contabilidade nas tarefas quotidianas.

• Assegurar a manutenção adequada de informacão de contabilidade e a sua introdução atempada no sistema de contabilidade ERP X3.

• Assegurar o cumprimento rigoroso de todos os requisitos estatutários.• Executar a revisão analítica de todos os registos contabilísticos no ERP X3

e preparar as reconciliações.• Assumir a responsabilidade de medidas de controle de custos e analisar

variações de custos. • Ser responsável por submeter o IVA periódico, relatórios fiscais estatutários

e de impostos. • Assessorar a gestão em questões relacionadas a Contabilidade e Finanças

e assegurar que todas as práticas contabilísticas estão de acordo com as normas internacionais de contabilidade (IFRS)

• Assinar todas as contas anuais estatutárias (anualmente) e sempre que for necessário

• Ter ligação com a Autoridade Tributária em todas em questões relacionados a impostos

Qualificações/Requisitos: Grau de Bacharelato/Diploma Avançado em Contabilidade e Finanças. O CPA ou outra certificação de contabilidade é obrigatória. Pelo menos 5 anos de experiência como contabilista ou auditor. Um bom candidato terá provavelmente experiência em normas internacionais de contabilidade (IFRS).O candidato deve ter bons conhecimentos de Tecnologias de Informação (IT) e experiência no uso de SAGE ERP X3 ou, como alternativa, sistemas de software ERP similares.

O candidato deve ser fluente em Inglês e Português, tanto escrito como oral. A vaga baseia-se nos escritórios da empresa em Nampula, Moçambique. O candidato selecionado deve estar apto a trabalhar num ambiente empresarial, de aprendizagem contínua no trabalho e disposto a trabalhar com uma equipa de pessoas de diferentes culturas e formações.Prazo: Por favor, submeta a sua candidatura ao seguinte endereço e e-mail, antes de ou no dia 25 de Abril de 2014.Submeta o seu CV e carta de apresentação para [email protected] com a referência CA MZ 1404

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O seu correio onde Estiver

O homem é a única criatura que se recusa a ser o que é Albert Camus

OPINIÃO

Alex Tabarrok

www.ordemlivre.org

O capitalismo não tem tido muita propaganda positiva ultima-mente, e no que diz respeito aos filmes parece que seu tratamento nunca é justo. No cinema, os capitalistas são quase invariavelmente representados como vilões. Alguém foi assassinado? Os moradores de uma pequena cidade estão morrendo de câncer? O meio ambien-te está sendo espoliado? A culpa é sempre do presidente de alguma grande empresa. Pense rápido: de quantos filmes com heróis capi-talistas você consegue se lembrar? Batman Forever e Homem de Ferro não contam. Há alguns (no limite), mas são poucos. Agora, pense em quantos filmes você consegue lembrar que mostram cor-porações genocidas e vilões corporativos. Essa é fácil: O Fugitivo, Syriana, Missão: Impossível II Erin Brokovich, Síndrome da China e Avatar, para lembrar apenas alguns.

Mesmo quando o principal vilão não é uma empresa, Hollywood deixa transparecer seu desprezo pelo comércio. O personagem mais grotesco na série Star Wars representa o comércio: Jabba the Hutt, literalmente um verme capitalista. E, caso a mensagem do filme não tenha ficado clara, o romance em quadrinhos estrelando Jabba se chama Jabba the Hutt: The Art of the Deal [Jabba the Hutt: a arte do comércio]. Star Trek, por falar nisso, não é superior. Os capita-listas de Star Trek também são representados por criaturas feias e escavadoras de dinheiro chamadas Ferengi, que o conseguem se-guindo regras como: “Os empregados são degraus na escada para o sucesso — não hesite em pisar neles.”

O anti-capitalismo de Hollywood não é acidental. Vem de três fon-tes: a ira de directores e roteirista contra seus próprios financiado-res capitalistas, a dificuldade de usar um meio visual para retratar a “mão invisível”, e uma ética, compartilhada com a maior parte de

nossa cultura, que vê o auto-interesse como inerentemente imoral ou, na melhor das hipóteses, amoral.

“A economia”, escreveu o director Sidney Pollack, “é o maior fac-tor de inibição para um director fazendo um filme.” Hollywood pre-cisa de capitalistas, mas com milhões em jogo esses capitalistas não têm muita escolha senão restringir os escritores e directores quando suas visões conflituam com o lucro. Se o público quer um final feliz, então o capitalista vai exigir uma reescrita, independentemente de se o roteirista acha que isso viola sua integridade artística. (A pres-são sobre os cineastas para produzir finais felizes é explorada de forma memorável por Robert Altman em “O jogador”.

No geral, arte e capitalismo funcionam bem juntos. Os mais bri-lhantes períodos da história da arte foram frequentemente tempos de relativa riqueza e crescimento económico, como discute o eco-nomista Tyler Cowen em seu livro In Praise of Commercial Culture [Elogio da cultura comercial]. É o capitalismo que cria a riqueza que sustenta a criação artística, e é o capitalismo que oferece aos artistas novas teconologias e mídias com as quais trabalhar. Mas quando se trata de fazer certos filmes, capitalismo e arte entram em conflito.

Directores e roteiristas vêem o capitalista como uma restrição, uma força que os impede de realizar sua visão. Os capitalistas, por sua vez, vêem o artista como auto-indulgente. Capitalistas traba-lham duro para produzir o que os consumidores querem. Artistas que trabalham demais para produzir o que os consumidores que-rem frequentemente são acusados de estarem “vendidos”. Então até mesmo as linguagens do capitalismo e da arte são conflituantes: uma empresa “vendida” é uma empresa bem-sucedida, mas um ar-

Capitalismo: uma má escolha de vilão(1)

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tista “vendido” é um fracasso.Os pintores não se ressentem dos capitalistas que vendem a tinta,

porque não dependem de seu apoio. Mas os cineastas precisam de capitalistas para seu apoio financeira, e por isso seu ressentimento com capitalistas é especialmente forte. Larry Ribstein, professor de direito da Universidade de Illinois e estudioso de cinema, escreveu um artigo defendendo que os cineastas fazem um “pacto faustiano” para produzir sua arte. Na visão dos cineastas, eles estão vendendo um pedaço de sua alma de artista para fazer seus filmes, e, natural-mente, ficam enraivecidos contra o demónio que o compra. Não é preciso ser Freud para enxergar a raiva que se derrama na tela.

Tome, por exemplo, os dois filmes de maior arrecadação de todos os tempos: Avatar e Titanic, de James Cameron. O primeiro mostra uma corporação genocida, e o segundo, um capitalista que envia mais de 1000 pessoas para a morte ao exigir velocidade acima de segurança em nome dos lucros. De facto, apesar do sucesso comer-cial, Cameron é um notório crítico das corporações. Em Aliens, por exemplo, uma empresa sacrifica pessoas na tentativa de lucrar com o monstro alienígena. Cameron também é notório por seu ódio do sistema de estúdios e de executivos que tentam constranger sua vi-são artística ou seu orçamento.

Embora Hollywood às vezes produza filmes de esquerda, como Reds, a indústria não tem nenhum amor pelo socialismo (veja só os Porsches na área). O período socialista e comunista de Hollywood era baseado na premissa de que no paraíso socialista os artistas seriam liberados dos grilhões do capital e libertados para realizar suas visões. Mesmo em Hollywood, porém, poucas pessoas levam essa promessa a sério hoje em dia.

Mas Hollywood compartilha com Marx o conceito de alienação, a ideia de que sob o capitalismo os trabalhadores são separados do fruto de seu trabalho e se sentem como engrenagens em uma máquina, e não criadores independentes. Um humilde roteirista é uma ilustração perfeita do que Marx tinha em mente — um ro-teirista pode dar seu sangue pelo roteiro, mas inevitavelmente o vê reescrito, comprado, revisto, retrabalhado, retalhado, retalhado e novamente retalhado por uma sucessão de directores, produtores e, o pior de tudo, executivos de estúdios. Um roteirista pode ter uma carreira bem-sucedida em Hollywood sem jamais ver um de seus trabalhos levados à tela. Então, a antipatia dos cineastas ao capitalis-mo é baseada menos em ideologia do que na experiência. Roteiris-tas e directores se vêem em uma batalha diária entre arte e comér-cio, e passam a ver sua luta contra os “engravatados” como emblema de uma guerra mais ampla entre trabalho criativo e capital.

Uma segunda e surpreendente razão pela qual Hollywood não consegue entender o capitalismo tem raízes na forma testada e aprovada de contar uma boa história. Os filmes enfocam carácter individual, escolhas e acções, porque é nelas que está o drama. É verdade que os empreendedores são um aspecto chave do capitalis-mo, e um punhado de filmes, como Tucker, de Francis Ford Coppo-la, de fato enfocam empreendedores. Mas para realmente entender o capitalismo, precisamos transcender o nível do personagem e ver as forças ocultas que coordenam as acções de milhões de indivíduos em todo o mundo.

É difícil apresentar a renda detalhada e intrincada do capitalismo em duas horas, uma das razões pelas quais uma das poucas obras a tentar fazê-lo é a série de televisão The Wire, com cinco tempo-radas. Como em tantos outros filmes e programas de televisão, os capitalistas são assassinos perversos. The Wire simplesmente tor-na o estereótipo mais realista, tornando-os traficantes de drogas. Mas embora use personagens, The Wire é na verdade sobre como os personagens são dominados por forças económicas maiores: tra-ficantes vêm e vão, mas o mercado de drogas é para sempre. “O capitalismo é o deus maior em The Wire. O capitalismo é Zeus”, diz David Simon, criador da série. A produção e apresentação até mesmo dos mais simples produtos envolve os esforços de milhares de pessoas dispersas em todo o globo, nenhuma das quais entende mais do que uma pequena parte do processo. Não é a mão de um único empreendedor, mas sim da “mão invisível” que entrega uma rosa dos campos da Colômbia para os grandes mercados de flores de Aalsmeer, Holanda, e ao florista de Chicago que então a vende para um jovem romântico que a dá para sua namorada no Dia dos Namorados.

OPINIÃODirector Administrativo

Descrição do cargo:Principais Actividades:

1. Definir objetivos a serem alcançados pela área, tendo em conta os objectivos gerais definidaos pelo Administração, coordenar a execução dos respectivos planos de acção e novos projetos, facilitar e integrar o trabalho de sua equipe junto aos demais colaboradores e sectores sob sua tutela;

2. Identificar necessidades de mudanças nos métodos de trabalho dos processos administrativos;

3. Assegurar a gestão da frota;4. Fazer a gestão de armazéns;5. Assegurar a aplicação das práticas mais adequadas

aos processos de compras e formalização de contratos com fornecedores, de forma a dotar a empresa de agilidade na aquisição de bens e serviços;

6. Zelar pelo Controlo, manutenção, segurança e conservação dos bens móveis e imóveis da organização;

7. Assegurar a elaboração e acompanhamento da execução orçamentária e financeira do departamento;

8. Orientar e motivar as equipas do seu sector, com vista a alcançar níveis crescentes de produtividade e qualidade;

9. Conduzir os processos de construção da cultura do departamento administrativo, com vista a conquistar o engajamento de todos os seus integrantes e garantir a consolidação da cultura da organização.

Perfil do cargo:Licenciatura, Preferencialmente na área de Gestão de Empresas, ou áreas afins;Experiência: Desejável um mínimo de 5 anos no mercado em cargos de liderança na área administrativa;

Os interessados deverão enviar o seu CV acompanhado de documentos comprovativos do seu grau académico e duas cartas de recomendação até ao dia 22 de Abril corrente, para o seguinte endereço: [email protected]

NOTA: Apenas candidatos seleccionados serão contactados