Kilmer McCully, Dr - A homocisteína e o cérebro

6
A HOMOCISTEÍNA E O CÉREBRO Pesquisadores de todo o mundo estão agora investigando a homocisteína para descobrir qual o papel que ela pode estar desempenhando em outras doenças. Alguns dos estudos mais interessantes examinaram o efeito da homocisteína sobre o cérebro – mais especificamente sobre o cérebro em processo de envelhecimento. Na próxima seção, farei um breve resumo de algumas das descobertas mais curiosas e daquilo que desponta no horizonte à medida que passamos a saber mais sobre o amplo papel que a homocisteína pode ter em doenças que vão deste o mal de Alzheimer até a artrite. Mal de Alzheimer e a homocisteína Uma das mais devastadoras, temidas e freqüentes doenças do cérebro é o mal de Alzheimer. Nessa condição de demência orgânica, a capacidade do cérebro de se lembrar de acontecimentos recentes começa a diminuir e outras capacidades mentais vão sendo gradualmente perdidas no decorrer de alguns meses ou anos. O resultado final dessa doença é uma pessoa idosa incapaz de reconhecer parentes próximos, incapaz de cuidar de si mesma e incapaz de executar as mais simples tarefas. Embora o mal de Alzheimer acometa usualmente idosos, em geral quando a pessoa entrou na casa dos 70 anos ou ainda mais tarde, ela pode ocorrer

Transcript of Kilmer McCully, Dr - A homocisteína e o cérebro

Page 1: Kilmer McCully, Dr - A homocisteína e o cérebro

A HOMOCISTEÍNA E O CÉREBRO

Pesquisadores de todo o mundo estão agora investigando a homocisteína para descobrir qual o papel que ela pode estar desempenhando em outras doenças.

Alguns dos estudos mais interessantes examinaram o efeito da homocisteína sobre o cérebro – mais especificamente sobre o cérebro em processo de envelhecimento.

Na próxima seção, farei um breve resumo de algumas das descobertas mais curiosas e daquilo que desponta no horizonte à medida que passamos a saber mais sobre o amplo papel que a homocisteína pode ter em doenças que vão deste o mal de Alzheimer até a artrite.

Mal de Alzheimer e a homocisteína

Uma das mais devastadoras, temidas e freqüentes doenças do cérebro é o mal de Alzheimer. Nessa condição de demência orgânica, a capacidade do cérebro de se lembrar de acontecimentos recentes começa a diminuir e outras capacidades mentais vão sendo gradualmente perdidas no decorrer de alguns meses ou anos. O resultado final dessa doença é uma pessoa idosa incapaz de reconhecer parentes próximos, incapaz de cuidar de si mesma e incapaz de executar as mais simples tarefas.

Embora o mal de Alzheimer acometa usualmente idosos, em geral quando a pessoa entrou na casa dos 70 anos ou ainda mais tarde, ela pode ocorrer mais cedo, particularmente quando a família tem histórico de causa subjacente do mal de Alzheimer, mas há alguns fatores que parecem predispor certas pessoas, incluindo histórico familiar, consumo elevado de gorduras e variação numa proteína encontrada no sangue (ApoE4). Além disso, os resultados de um estudo realizado pela Oxford University e publicado em 1998 demonstraram que a homocisteína pode estar envolvida. Nesse estudo, o nível elevado de homocisteína do sangue ao lado de deficiências nutricionais de ácido fólico e vitamina B12 foram relatados como importantes fatores de risco do mal de Alzheimer. Essas novas informações sugerem que se controlarmos os níveis de homocisteína por meio da ingestão da dieta da Revolução do

Page 2: Kilmer McCully, Dr - A homocisteína e o cérebro

Coração e de suplementos nutricionais, podemos prevenir essa terrível doença. Sem dúvida nenhuma, vale a pena tentar.

Confirmando essas descobertas, outros estudos também demonstraram que muitas vítimas do mal de Alzheimer têm deficiência de vitamina B12. infelizmente, para esses doentes, o tratamento com vitamina B12 é ineficaz na reversão de danos cerebrais. Descobriu-se também que outras condições anormais do cérebro em idosos, incluindo confusão e outros tipos de demência, estão associadas a níveis baixos de vitamina B12 no sangue. A boa notícia é que alguns desses pacientes efetivamente respondem ao tratamento com vitamina B12.

Deficiências vitamínicas e o cérebro

Estudos recentes da função cerebral de modo geral demonstram claramente que níveis elevados de homocisteína do sangue estão associados à perda da capacidade mental – incluindo redução da capacidade de memória, dificuldades de linguagem e percepção mais lenta. Em estudos, indivíduos com deficiência de vitamina B6, ácido fólico e vitamina B12 tiveram desempenho insuficiente em testes de certas funções mentais em comparação com indivíduos sem deficiências vitamínicas. Conforme explicado anteriormente, essas deficiências vitamínicas elevam os níveis de homocisteína do sangue. Isso, por sua vez, prejudica a função cerebral ao afetar a atividade e a sobrevivência de células nervosas do cérebro.

Um exemplo interessante da relação da homocisteína com o cérebro remonta à homocistinúria. Se você se lembrar do capítulo 1, a descoberta original da homocistinúria resultou do exame de níveis de homocisteína na urina de crianças com retardamento mental. Existe mais de uma forma de homocistinúria, cada uma delas com uma causa diferente. Em um tipo, a vasta maioria das crianças vítimas desse mal são retardadas mentais. Essas crianças não receberam ajuda na forma de tratamento para redução dos níveis de homocisteína. Mas, em outro tipo, causado por uma deficiência de metilenotetraidofolato redutase, algumas das crianças doentes têm sintomas mentais muito parecidos com os da esquizofrenia. Em uns poucos casos, esses sintomas diminuíram expressivamente ou desapareceram com o tratamento com ácido fólico.

Nem estudo recente de pacientes com esquizofrenia, descobriu-se que aproximadamente metade deles tinha níveis notavelmente

Page 3: Kilmer McCully, Dr - A homocisteína e o cérebro

elevados de homocisteína do sangue em comparação com sujeitos normais. Estudos anteriores haviam demonstrado que muitos esquizofrênicos metabolizavam anormalmente a metionina. Como você deve lembrar, a metionina é convertida em homocisteína no organismo. Em experimentos, quando uma grande dose de metionina é injetada ou administrada por via oral, os sintomas da esquizofrenia são expressivamente exacerbados. Isso ocorre porque a metionina imediatamente eleva os níveis de homocisteína do sangue, embora não esteja claro como exatamente a homocisteína afeta o cérebro. Embora esses estudos demonstrem uma relação entre homocisteína e esquizofrenia, até o momento não se desenvolveu nenhuma terapia eficaz para tratamento ou prevenção da doença por meio do uso da dieta alimentar ou de suplementos. Em alguns casos, a dieta da Revolução do Coração pode ser de potencial ajuda nessa doença ao reduzir os níveis de homocisteína.

Deficiências de vitamina B6, ácido fólico e vitamina B123, particularmente em idosos, têm sido associada a uma ampla gama de distúrbios e anormalidades mentais, incluindo depressão, irritabilidade, confusão e convulsões. Pesquisas recentes demonstraram a presença de deficiência de ácido fólico em cerca de um terço dos pacientes com distúrbios psiquiátricos agudos. Curiosamente, o tratamento com ácido fólico (ácido metiltetraidrofólico) diminui os sintomas esquizofrênicos e depressivos.

A deficiência de vitamina B12 em idosos causa uma variedade de sintomas neurológicos e psiquiátricos, incluindo sensações anormais, confusão mental, perda de memória, marcha insegura, fraqueza e depressão. Parece que aqui os níveis elevados de homocisteína no sangue têm seu papel, sendo que a terapia com vitamina B12 mostrou-se eficaz no tratamento de pacientes idosos com deficiências até mesmo limítrofes.

A deficiência de vitamina B6 causa irritabilidade, convulsões, confusão e depressão em bebês e adultos. Medicamentos que causam dos níveis de homocisteína do sangue pela inibição da capacidade do organismo de utilizar a vitamina B6, como certos antibióticos, causam muito desses sintomas mentais como efeitos colaterais, e o tratamento com vitamina B6 melhora tremendamente esses sintomas. De novo, a deficiência de vitamina B6 causa a elevdação dos níveis de homocisteína após as

Page 4: Kilmer McCully, Dr - A homocisteína e o cérebro

refeições, ocasionando função cerebral anormal durante meses ou anos.

Avanços recentes no entendimento do funcionamento do cérebro trouxeram explicações de como a homocisteína pode causar ampla variedade de anormalidades da função cerebral e nervosa. Quando animais recebem a injeção de grandes doses de homocisteína, eles entram com convulsão, e algumas crianças com homocistinúria também sofrem de convulsões. No organismo, a homocisteína é convertida em duas substâncias relacionadas, o ácido homocistéico e o ácido sulfínico. Essas duas substâncias aceleram a transmissão de sinais e impulsos neurais. Pior ainda: elas se opõem à ação de certos neurotransmissores inibitórios, causando anormalidades generalizadas da função cerebral e nervosa. Uma das formas pelas quais a homocisteína causa toxidade ao cérebro é pela superestimulação dos receptores das membranas (receptores N-metil—D-aspartato), levando o cálcio a se acumular nas células nervosas, neutralizando a ação do óxido nítrico e aumentando a produção de radicais de oxigênio. Em linguagem simples, isso significa que a elevação da homocisteína – quer associada a deficiências de vitaminas do complexo B, tratamento medicamentoso, mal de Alzheimer ou ao processo normal de envelhecimento – ajuda a danificar os tecidos nervosos do cérebro, os nervos e a medula espinhal. (Livro “O Fator Homocisteína”, Dr Kilmer McCully, pág. 174).