KEY, Steven. A Reforma de Genebra

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http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino_reforma_genebra_key.htm Acesso em:03/03/2008

 A Reforma de Genebra por 

Rev. Steven Key

O papel de João Calvino na reforma de Genebra foi divinamente ordenado. O próprio

Calvino não o procurou. Na sua provavelmente maior anotação auto-biográfica,encontrada no prefácio do seu Comentário sobre o Livro de Salmos, ele apontou que elenão tinha intenção de permanecer em Genebra mais do que uma simples noite, e muitomenos de se tornar uma figura de liderança ali.

O plano de Calvino era ir para Estrasburgo. Seu coração estava posto numa vida isoladade estudos privados. Ele acabou passando por Genebra, porque, na providênciamaravilhosa de Deus, o caminho direto de Paris para Estrasburgo estava bloqueando,fazendo-se necessário para Calvino tomar uma rota diferente, muito mais longa etortuosa para o sul. Assim, ele chegou em Genebra sem aviso prévio. Mas, embora comsomente 27 anos de idade, Calvino era um erudito e professor bem conhecido neste

tempo, e alguns que o reconheceram [1] fizeram conhecido a Farel que o autor da Institutio estava na cidade.

Assim, o Reformador e pastor Guillaume (William) Farel se tornou o instrumento deDeus para colocar Calvino num caminho diferente. Calvino escreveu que Farel

que ardia com um inusitado zelo pelo avanço do evangelho, imediatamente pôs em açãotoda a sua energia a fim de deter-me. E, ao descobrir que meu coração estavacompletamente devotado aos meus próprios estudos pessoais, para os quais desejavaconservar-me livre de quaisquer outras ocupações, e percebendo ele que não lucrarianada com seus rogos, então lançou sobre mim sua imprecação, dizendo que Deushaveria de amaldiçoar meu isolamento e a tranqüilidade dos estudos que eu tanto

 buscava, caso me esquivasse e recusasse dar minha assistência, quando a necessidadeera em extremo premente.

Sob o impacto de tal imprecação, eu me sentir tão abalado de terror, que desisti daviagem que havia começado. [2]

Uma reforma política já tinha acontecido em Genebra, na qual o bispo de Sabóia tinhasido removido e substituído pelo governo dos magistrados. Seguindo esta reforma

 política, a reforma espiritual de Genebra começou a florescer, especialmente sob a

liderança de Farel e um colega no ministério, Pierre Viret. O concílio da cidadesuspendeu a Missa em 1535, e subseqüentemente decretou diversas leis proibindo a

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 prática da religião Católica Romana e requerendo que os sacerdotes se convertessem eanunciassem que a doutrina evangélica agora pregada em Genebra era deveras a santadoutrina da verdade. Estas ordenanças foram seguidas na primavera de 1536 pelaexortação de que todos os cidadãos deveriam atender aos sermões, para ouvir overdadeiro evangelho. Em outras palavras, os magistrados estavam tentando produzir 

uma reforma espiritual pela lei. Neste cenário Farel e Viret pregaram fervorosamente.

Mas como logo seria visto, a verdadeira reforma espiritual não pode vir pela imposiçãode lei. Como poderia ser esperando, a divisão abundou na cidade, e houve muitasfacções que de diferentes perspectivas eram fortes oponentes de qualquer reformaespiritual.

A verdadeira reforma é inteiramente espiritual, a obra de Deus pelo Espírito Santo noscorações dos homens. E para tal reforma Deus teria João Calvino desempenhando o

 papel de liderança.

A obra de Calvino em Genebra começou no verão de 1536. Ele começou sua obra alicomo um professor, um professor notável, o autor da Christianae religionis insitutio, as

 Institutas da Religião Cristã , publicada uns poucos meses antes.

A tarefa de reforma em Genebra era assombrosa. Calvino entendeu que tal reformaenvolveria reorganizar a igreja de acordo com a Palavra de Deus, defender a autonomiada igreja em relação aos magistrados civis (por si mesma uma tarefa nada fácil), bemcomo trazer uma mudança para a mentalidade das pessoas com respeito tanto a doutrinacomo aos seus efeitos sobre a moral e a vida cristã.

Calvino se voltou para o trabalho, reconhecendo somente uma esperança para realizar esta tarefa humanamente impossível. Tal reforma poderia vir somente pelo poder daPalavra de Deus.

Philip Hughes nos conta que não foi muito antes que Calvino foi compelido “pelascircunstâncias da controvérsia na cidade....a adicionar aos seus compromissos de ensinoa responsabilidade da pregação pública”. [3] Assim, ele se tornou conhecido como um

 pregador e pastor, e se esforçou com os seus colegas, especialmente Farel e Viret, paraestabelecer a igreja e a cidade sobre o fundamento da verdade bíblica.

Calvino nos diz no prefácio ao seu comentário sobre os Salmos que quatro meses

haviam quase passado quando Satanás levantou sua horrível cabeça em Genebra comintensidade. Havia problemas de duas direções. Primeiro, havia uma influênciaAnabatista na cidade, que estragaria a Reforma com extremismo. Esta influênciaAnabatista foi logo afastada quando Calvino e seus colegas completa e publicamenterefutaram os seus ensinos pela Palavra de Deus. De uma direção diferente vieram outrosassaltos sobre Calvino e os reformadores. Havia “um certo apóstata muito perverso,sendo secretamente apoiado pela influência de alguns do magistrados da cidade”, [4]incitando oposição para com Calvino e os seus companheiros reformadores. Foi umaoposição que breve teria a visto, na expulsão tanto de Farel como de Calvino deGenebra.

A expulsão dos servos de Deus de Genebra, em 22 de Abril de 1538, nem sequer doisanos após Calvino ter começado seus labores na cidade, veio de uma disputa com

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respeito ao exercício da disciplina cristã. Calvino viu que o exercício bíblico dadisciplina cristã era uma marca crítica da verdadeira igreja. Ele colocaria a disciplina

  juntamente com as duas marcas geralmente reconhecidas pelas igrejas da ReformaProtestante — pregação fiel e administração apropriada dos sacramentos. Neste tempo oexercício de disciplina caiu primeiramente nos pastores. O concílio da cidade, contudo,

insistindo que a disciplina era tarefa sua e sabendo que Calvino era a figura de liderançaneste exercício eclesiástico de disciplina, achou presunçoso que um estrangeiro tomasse para si mesmo e para outros pastores o direito de excomungar cidadãos “respeitáveis”de Genebra. Em 4 de Janeiro de 1538, o concílio da cidade decretou que a Ceia doSenhor não deveria ser recusada a ninguém. À medida que disputa entre os pastores e oconcílio se agravou, Calvino e Farel se recusaram a celebrar a Ceia do Senhor. Oconcílio, por sua vez, ordenou que eles parassem de pregar e, quando eles recusaram,expeliu-os da cidade. Foram-lhes dados três dias para partirem. A reforma em Genebranão viria facilmente.

Quem não teria suposto que isto traria um fim para a reforma em Genebra? Mas

Theodore Beza, recontando a história, escreve:

Pelo contrário, o evento mostrou o propósito da Providência Divina empregando oslabores de seu servo fiel em outro lugar, para treiná-lo, por várias provas, para grandesrealizações. Também, derrotando aquelas pessoas sedutoras, através da própria violênciadeles, a cidade de Genebra foi purgada de muita poluição. Tão admirável o Senhor aparece em todas as Suas obras, e especialmente no governo de Sua Igreja! [5]

Fim da primeira estade em genebra ou ida para strasburgo 

Calvino suspirou de alívio em sua expulsão. Ele finalmente estava livre da obra que elenunca quis de forma alguma, e viu sua oportunidade de se estabelecer numa vida quietade estudo de “torre de marfim”. Sua intenção, contudo, não era a de Deus. Seu“escape”de Genebra seria somente temporário, enquanto Deus continuava a moldá-lo para a obracontínua de reforma ali.

Do verão de 1538 até o verão de 1541, Calvino passou três anos abençoados emEstrasburgo. Deus lhe deu tempo para o desenvolvimento, e lhe deu preparaçãoadicional para a obra que ainda estava diante dele. E embora alguém pudesse esperar que a sua expulsão de Genebra o tornaria um homem amargo, Deus o poupou do pecadode tal atitude. Porque a causa da verdade e da Reforma era mais importante do que

qualquer sofrimento pessoal, Calvino continuou a buscar o bem de Genebra mesmo adistância. Quando o Cardeal Sadoleto tentou astuciosamente ganhar a cidade novamente para a causa de Roma, através de uma carta silenciosa endereçada ao “amado Senado,ao Concílio, e ao povo de Genebra”, Calvino respondeu de Estrasburgo com uma cartade sua própria mão, vindo para a defesa do povo de Genebra e da causa de Cristoatravés de uma clara apresentação da verdade da Escritura, mostrando o fundamento daReforma. Calvino também continuou a se corresponder com certos líderes e membrosda igreja em Genebra, encorajando-os a uma constância paciente na verdade. Mas emEstrasburgo foi dada a Calvino a oportunidade de desenvolver seu entendimento

  pastoral bem como sua pregação, e de descobrir que o progresso sempre testa a paciência, e que há tempos quando o progresso é melhor feito pelo procedimento

cuidadoso e moderado, e dependente da obra do Espírito através da Palavra.

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Em 1541 uma mudança política aconteceu novamente em Genebra, na qual osdefensores dos Reformadores ganharam novamente o poder. O resultado foi um pedidourgente para que Farel, Calvino e Viret voltassem para a cidade. Farel não seria liberadoda igreja em Neufchatel. A igreja em Berne expressou uma disposição em permitir queViret fosse por um perído de tempo assitir a igreja em Genebra. Os genoveses

imploraram para que Estrasburgo liberasse Calvino. A despeito da relutância da igrejaem Estrasburgo, assim como a de Martin Bucer, os genoveses persistiram.

O próprio Calvino não tinha desejo de retornar, e de fato considerou tal retorno comterror. “Nem um dia se passou no qual eu não desejasse dez vezes mais a morte”, eleescreveu, do que retornar para o abismo e redemoinho de Genebra. Mas reconhecendoque a vontade de Deus freqüentemente vai contra as nossas próprias inclinações einteresse próprio, e quando o próprio Bucer se convenceu que Deus queria que Calvinofosse e com fervor apontou Calvino ao exemplo de Jonas, Calvino se submeteu. Em 13de setembro de 1541 ele retornou, para labutar até a morte.

2ª estada em genebra 

Calvino, recontando seus labores em Genebra após 1541, escreveu, “Fosse eu narrar osinúmeros conflitos por meio dos quais o Senhor tem me exercitado, desde aquele tempo,e as quantas provações com as quais Ele tem me testado, daria uma longa história”. [6]As provações foram inúmeras, e sem dúvida teriam derrubado Calvino não tivesse eleuma visão tão alta da santidade do chamado de seu ofício, e da autoridade da Palavra deDeus.

Todos os labores de Calvino para com a reforma de Genebra estavam fundamentadosnas Escrituras.

Sua primeira meta foi colocar em ordem a instituição da igreja. Calvino demonstrou quenão somente as doutrinas da igreja, mas também a forma de governo da igreja, devemvir da Escritura. Ele imediatamente obteve o consentimento do Senado em Genebra parauma forma de política eclesiástica que fosse derivada da Palavra de Deus, e da qual nãodeveria ser permitido que nem ministros nem pessoas se apartassem. [7] Um presbíteroregular com plena autoridade foi estabelecido. Através de muitos conflitos com asautoridades civis, Calvino viu que a igreja em Genebra mantinha sua autonomia e

 particularmente o importante exercício da disciplina cristã em distinção de quaisquer  penalidade civis que possam vir sob a jurisdição do magistrado.

A pregação ocupava o lugar principal na reforma da Igreja em Genebra. Na Catedral deSão Pedro, onde Calvino geralmente pregava, os serviços de adoração do Domingoeram realizados ao amanhecer, novamente às 9 da manhã, e mais uma vez às 3 da tarde.As crianças eram trazidas à tarde para instrução. Cultos com pregações menores eramtambém realizados nas manhãs de Segunda, Quarta e Sexta-feira.

Muita atenção era dada ao ensino, seguindo também a forma de um Catecismo queCalvino preparou. Em adição, sabendo a importância da educação para a causa doevangelho, Calvino conduziu a promoção da educação com o estabelecimento daAcademia de Genebra.

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Como parte das ordenanças eclesiásticas, o diaconato também foi estabelecido. O próprio Calvino foi instrumental no estabelecimento de um hospital em Genebra.

João Calvino via a Palavra de Deus se aplicando a todo aspecto da vida cristã. Eleestava convencido de que o poder do evangelho no coração dos eleitos afetaria sua vida

familiar, sua vida na igreja, o manusear de suas finanças, bem como o seu lugar nasociedade e qualquer função que eles pudessem desempenhar no governo. Mas básico para tudo isto é uma igreja verdadeira e saudável. Foi a isto acima de tudo que Calvinodeu a sua atenção.

Embora a reforma de Genebra pudesse ser ela mesma limitada, a influência daquelareforma foi espalhada. A obra da Academia de Genebra fundada por Calvino continuoua espalhar sua influência pela causa da fé Reformada por décadas, mesmo após a mortede seu fundador. Além do mais, os refugiados que fugiram para Genebra voltaram paraas suas casas levando a fé Reformada com eles. Deste ponto de vista, a reformaespiritual de Genebra foi apenas um microcosmo daquela obra poderosa de Deus por 

todo o continente da Europa e pelo mundo afora, visto que o Espírito da verdadecontinuava a guiar a Sua igreja — e assim Ele ainda o faz hoje, em nossas própriasigrejas.

NOTAS: 

[1] - Ironicamente, a pessoa que identificou Calvino e que, portanto, foi indiretamenteresponsável pelo lugar influente que Calvino recebeu em Genebra, embora nãoidentificado por nome, é dito ter sido um indivíduo que subsequentemente apostatou eretornou aos Papistas.

[2] - John Calvin, Prefácio ao Commentary on the Book of Psalms (Baker Book House,1979), p. xlii.

[3] - Philip E. Hugh es, ed., introdução ao The Register of the Company of Pastors of Geneva in the Time of Calvin (Grand Rapids, MI, William B. Eerdmans PublishingCo.), p. 5.

[4] - Calvin, Prefácio, p. xliii.

[5] - Theodore Beza, The Life of John Calvin (reprint edition, Milwaukie, OR, Back Home Industries, 1996), p. 30.

[6] - Calvin, Prefácio, p. xliv.

[7] - A Church Order of the Protestant Reformed Churches [A Ordem da Igreja dasIgrejas Prostentantes Reformadas] , que é essencialmente a Ordem da Igreja deDordrecht (1618-1619), traz claro testemunho de ser grandemente influenciada pelasordenanças eclesiástica de Calvino.

 

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Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo NetoCuiabá-MT, 21 de Maio de 2005.