KAZADI WA MUKUNA - A Contribuição Bantu Na Musica Barsileira
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7/24/2019 KAZADI WA MUKUNA - A Contribuio Bantu Na Musica Barsileira
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frica; Revista do Centro de
Estudos
Afric-..anos
da
USP. 1 1). 1978
RESUMO DE TESES
O CONTATO MUSICAL TRANSATLNTICO:
CONTRIBUIO BANTU NA MSICA POPULAR :BRASILEIRA.
Kazad wa Mukuna
Universidade acional do Zaire
Durante os trs sculos de atvidade escravocratas, dos meados do
sculo XVI at a ltima metade do sculo XIX, exercida principalmente
pela coroa portuguesa e pela monarquia holandesa, inmeros membros de
diferentes tribos
da
frica ocidental foram introduzidos no Brasil para
satisfazer a necessidade de mo-Oe-obra em exploraes agrcolas e de minera
o. Entre eles h: a o grupo sudnes, composto pelos escravos vindos dos
pases africanos ocupando o cinto sudnico abaixo do deserto Sahara, notada
mente Senegal, Guin, Gana, Nigria, Benlln, etc.; b a familia bantu, incluin
do todos os escravos vindos do espao geogrfico iniciado ao sul do (;abo
e tenninando ao sul de Angola; e alguns outros, vindos de Moambique e
de certas partes da frica
do
Sul.
Com cada grupo tnico foram transplantados para o Novo Mundo
e l e n ~ n t o s
da respectiva prtica cultural. Alguns desses elementos inseridos
no estilo de vida brasileira variam desde os hbitos domsticos e sincretismos
de culto, literaf11ra e manifestaes artsticas, dentre as quais o patrhnnio
musical, que constitui o cerne da nossa dissertao. Esta ltima, em forma
de
mise au po nt
sobre a contribuio africana na msica brasileira, trata dos
elementos rnuscais bantus, oriundos da zona Zaire-Angola, aqui definida
como a zona de interao cultural, detectveis na msica popular brasileira.
Eles so, basican1ente, de duas naturezas:
l)
instrumentos tais como a cuca,
o berimbau, o cax.ixi, o agog, comumente utilizados no Brasil; e a j desa
parecida sanza e a raramente encontrada .. a r i m b a ~ 2 padres rtmicos.
principalmente os de 4 e l 6 pulsaes, todos eles relacionados com suas res
pectivas origens entre os bantus do Zaire e de Angola, revelando tambm
suas funes tradicionais nessas tribos. Esses elementos so analisados e n
tennos de
n1utao
e persistncia, conseqncia das vrias aes de fen
menos culturas, psicolgicos e sociolgicos sobre seus portadores, e em
tennos de sua continuidade no Novo Mundo.
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O primeiro
captulo
dedicado
definio do grupo de escravos
bantus, para o interesse da dissertao, aborda o probleina de diversos pontos
~ d e - v i s t a histrico e antropolgico, alcanando a concluso de que este grupo
poderia
ser
concebido como sendo
co1nposto
basica1nente pelos 1nembros
das tribos que constituiram o prhneiro e o segundo Reinos
do
Kongo; o
prneiro de.stcs alcanou o seu apogeu no sculo XVI> e o ltin10, foi per
meado pelos n1igrantes das regies do interior da bacia do Zaire.
Alm da origem
comum
partilhada pelas tribos bantus espalhadas,
p o d e ~ s e
postular que a unidade cultural dos povos da bacia do ~ a i r e foi
alcanada, pelos vrios processos. acompanhando o percurso das nligraes
_das tribos
do
Jnterior,
e
pelos outros contatos (campos de batalhas, reunies
temporrias
de
comrcio. assirnilalfo, etc.),
antes das atividades
escravo
c.ratas e/ou
durante
o trfico hurnano. Estes
contatos
so responsveis pela
fransmisso dos elementos tradicionais das reas do interior para as
reas"
;Costeiras, ao alcance dos comerciantes de escravos. Entre
os
elementos r a n s ~
(plantados do interior para a costa, h aqueles cuja presena no Brasil pode
explicada sem, necessariamente, haver participao fsica dos membros
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ele1nentos
1nusicais
presentes
na
expresso tnusical brasileira (salientando
o fundo cultural das forn1as entre as quais eles aparece1n) colocada no
prin1ciro plano: no segundo plano vem a detenuinao das origens tribais
dos cle1ncntos 1nusicais identificados entre os bantus no Zaire e na zona
de interao cultural, pelo n1todo co1uparativo.
No ramo dos instrumentos musicais, ambos os captulos
(li
e lll)
so ilustrados com vrias fotografias de instrumentos, s vezes revelando
suas tcnicas de execuo. Slfo elas: "agog" na escola de samba, um e,p
cin1e africano dosl ashantis de Gana; caxixf' relacionado com o conjunto
de capoeira; a Hmarimba encontrada
e1n
Sfo Paulo; o berimbau'\ da
Bahia; ~ c p o e i r dana"luta, com seus instrumentos de acompanhamento,
tamb1n
da
Bahia; e a cuca brasileira usada nas escolas de samba.
Vrias situaes so encontradas em relacionamento com cada
e l e ~
mento musical detectado. O agog,
por
exemplo, encontrado com uma
maior difuso na frica,
com
funes no
tanto
diferentes daquelas que
desempenha
no
Brasil. Numa posio oposta, a cnca encontrada na frica
numa rea mais restrita e ainda com funes inteira1nente diferentes das que
desempenha no Brasil.
Quanto ao
berimbau,
embora sua origem africana
n'o
possa ser determinada neste trabalho, parece-nos
que
o modelo brasileiro
tirou sua estrutura do modelo 1encontrado entre os kungs em Angola. Sua
associao com caxxi no uma prtica africana,; mas da capoeira bras"
leira.
Considerando os padres rtmicos, o cabula e o congo encontrados
no
candombl de Angola e Ketu em Salvador (Bahia), tm suas contrapar
tidas africana. O primeiro encontrado com suas variantes entre os b k o n ~
gos no Zaire e nas tribos das regies no norte e Angola. O segundo ritmo,
chamado congo, muito difundido na frica.
Dois padr 'es rtmicos bsicos do samba brasileiro so estudados. O
primeiro destes, o mais antigo, composto pela seqncia de colcheia, du
pla colcheia e uma colcheia, seguido
por
duas colcheias. Embora no
se
possa chegar a nenhuma conclus"o sobre a origem deste padr'o, baseada
sobre seu primeiro motivo,
por
ser detenninado pela parte potica das ln
guas africanas, o padro inteiro encontrado cono bsico para a mioria
de msica tribal na regifo de Kasai
no
Zaire.
O segundo padro rtmico, que tambm o mais recente a ser -
corporado
no
painel rtmico
do
samba, o ciclo rtmico de 16-pulsos divi
sveis em dois segmentos (motivos) de sete e nove pulsos, e variante. Este
padro
encontrado entre o luluwas, em Kasai, em ambas as formas. Devido
sua grande difuso entre as tribos desta regio, este padro no pode ser
atribudo a uma tribo especfica, mas
rea bantu em geral, e
zona de
interao cultural entre Zaire e Angola, em particular. Mesmo assim, h
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suficientes cvidCncias para ser at.ribuido 1cgio
de
Kasai, de
onde
aJcan
ou a regio costeira e o Novo Mundo
A parte llJ, tarnb1n dividida
Cin
dois captulos,
basicamente te-
rica, aprofundando os aspectos sociolgicos relativos transferncia dos
elerncntos culturais de um cosrno cultural para
um
outro,
atravs da muta+
o no nvel conceituai de indivduo ou grupo, resultando de u1na crise ou
de uma ruptura.
O
ponto de
partida para a observao a realizao do fenmeno con
Creta1nente detectado com a persistncia da estrutura organolgica dos lns
trumentos musicais e dos ciclos rtmicos, unto
com
a obliteratro de seus
Valores tnicos. Pa.ra que os elementos musicais, cujos valores tra.dicionaiS
(nas tribos
b a ~ 1 t u s
so de importncia proeminente na construo Ida e x ~
presso total
de
invocao (ritual/religioso). viessen1
a ser
elementos de
yxpresso popular
(profana).
no Brasil devem ter ocorrido algumas crises
ho ncleo da existncia do
jndivduo
ou do grupo (nos termos bantus),
afetando assim o nvel concituaJ dos portadores. face a estes elementos.
' No captulo
IV,
mutao defmida como sendo sinnimo de ruptura.
Esta ltima por sua vez definida con10 um condicionaJnento conceituai
resultando de uma crise, da qual resulta
u1na
srie
de
mudanas. afetando
~ i f r n t m n t a sociedade em questo. Aceitando qi.:.:. a sociedade com
posta de indivduos que define1n o conjunto de relaes (normas, valores,
etc.) pelo qual seu coinportamento regido, deveria tambm ser penniti
do
olhar este condicionamento como ocorrendo no nvel formal do indi
lvduo, do qual concebido o conjunto de relaes que esto na base da
sociedade em que ele vive, ao invs de diretamente sobre a prpria socie
dade.
Ao empregarmos tradicional . referimo-nos
ao
que pertence a
uma continuidade bem definida. cuja mera existncia
vitalizada pelos
Conceitos ideolgicos regulados pelas normas e valores, pertencendo a um
~ r u p o
fixo, uma famlia, uma tribo, um grupo tnico, etc.
Popular ,
por
outro lado designa o novo estado do tradicional tirado do seu contexto
yital, perdendo, sobretudo, o que tinha de oficial ou pertencendo a uma
Puitura
especfica
de
onde tira sua identificao
Co1n
um grupo determinado.
fm outras palavras, o popular seria o tradicional cujo conceito ou
bonceitos so dissociados do que lhes d significado e existncia, e que n o
est em conformidade com as regras prescritas de comportamento sancio
nadas pela sociedade. Ainda, o
popular
o tradicional que se tornou
lugar-comum entre e/ou dentro de sociedades, naes, etc.
O
capitulo
V investiga a persistncia e a continuidade dos elemenl.os
musicais bantus sob considerao. Para que estes elen1entos possarr1 sobre
viver
na
situao de despersonalizao a que seus portadores foram subrn
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tidos, deveria haver, priori valores rnais profundos: e
a estes pri neiros
valores que eventualn1ente, outros
valores do
novo a1nbicnte silo junta
dos.
Os elementos
1nusicais
en1
considerao so partes do ncleo
existncia dos membros das
s o c i e d d e ~
bantus, e esta pode ser unia das
razes capitais
da
sua persistncia na 1ne1n6ria dos indivduos. o nucleo
de existncia que sobrevive
ruptura e percorre a trajetria nlio-existente.
Ele alimenta a cristalizao dos elementos na
men1ria
individual, fica
mais evidente quando analisado com o conjunto de fatores sociais, cujo
efeito
tambm de uma Importncia capital na preservalfo e especialmente,
na continuidade dos elementos culturais dentro da nova sociedade.
A persistncia de certos traos musicais pode, ter remltado da mera
nposio de um grupo sobre outro. devido a uma grande concer.traytro dos
ele1nentos numa dada rea. No Brasil, a rea do samba coincide com as-
regies agrcolas
onde
houve tambm uma concentrao marcante dos
es-
cravos oriundos do estoque bantu. ~ o caso do caxixi, do berimbau, e da
capoeira, que podem ser considerados como denominadores comuns nazona
de
interao cultural, sendo encontrados
na Bahia,
onde a concentrao
dos bantus oriundos de Angola foi marcante no sculo XVII. Outras formas
de expresso popular brasileira, tais como o b u m b a - m e u ~ b o i maculel,
maracatu, congada, ta1nbor de crioula, etc., que constituram expresso
loco-regional, atestam
o
fato e que deveriam ter alguns tipos caractersticos
de concentra o regional das etnias, para justificar a criao das formas
e/ou para atestar persistncia dos elementos culturais africanos que podiam
ter subsistido se estes traos rpresentassem denominadores comuns entre
os membros da comunidade.
a:
Tese de
doutoramento
em
Sociologia Departamento
de
Cincias Sociais
da
Faculdade de
Filosofia
Lettas e Cincia$ Humanas
da Universidade
de So
Paulo.
1 1