KARL MARX

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KARL MARX Filósofo e economista ale Treves, 05.05.1818 - Londres, 14.03.1883 Escolha de textos e breves elemento biográficos compilados por Jorge de Freitas Figura incontornável do século XIX, as sua teorias haveriam de ter um profundo impacto n decorrer do século XX. Karl Marx era filho de um advogado judeu que se converteu ao luteranismo. Frequentou a Universidade de Direito de Bona mas acabou por se transferir para a Universidade de Berlim, a fim de cursar Filosofia. Integrou, nesta cidade, o grupo dos Doktorklub, constiuído por jovens hegelianos de esquerda, empenhando-se em tecer críticas em relação às ideias de Estado e de Religião. Em 1841, com uma dissertação sobre Epicuro, licenciou-se, na Universidade de Iena,

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KARL MARX Filsofo e economista alemo Treves, 05.05.1818 - Londres, 14.03.1883

Escolha de textos e breves elementos biogrficos compilad por Jorge de Freitas

Figura incontornvel do sculo XIX, as suas teorias haveria de ter um profundo impacto no decorrer do sculo XX.

Karl Marx era filho de um advogado judeu que se converteu ao luteranismo. Frequentou a Universidade de Direito de Bona mas acabou por se transferir para a Universidade de Berlim, a fim de cursar Filosofia. Integrou, nesta cidade, o grupo dos Doktorklub,

constiudo por jovens hegelianos de esquerda, empenhando-se em tecer crticas em relao s ideias de Estado e de Religio. Em 1841, com uma dissertao sobre Epicuro, licenciou-se, na Universidade de Iena, em Filosofia. As suas ideias radicais impediram-no de seguir a carreira de professor universitrio, tendo aceite, em 1842, a direco do jornal liberal Rheinische Zeitung. Nesta poca, Karl Marx evolui de uma concepo humanstico-liberal para o socialismo comunista, sofrendo, ento, a influncia de Feuerbach. Em 1843, foi viver em Paris, acompanhado da sua mulher Jenny von Westphalen. Nesta

cidade, conjuntamente com Ruge, publicou Os Anais FrancoAlemes ( Deutsch-franzsische Jahrbcher), uma sntese do radicalismo filosfico alemo e da experincia democrtica francesa. Em 1845, expulso pelo governo de Guizot, desloca-se para Bruxelas. Engels, com quem travara conhecimento em Paris, ajuda-o financeiramente e acabam por realizar juntos uma viagem a Inglaterra. Karl Marx entra em contacto com a realidade econmica inglesa e enceta, junto da Associao dos Operrios Alemes radicados em Londres, cuja situao de explorao pelo patronato era degradante, uma tenaz luta de propaganda e de agitao, criando comisses de ligao com outras organizaes operrias europeias. Em 1847, a Liga dos Justos realiza um congresso em Londres. A divisa por estes proposta Todos os homens so irmos substituda, por influncia de Karl Marx, em Proletrios de todos os pases, univos, j que, segundo ele prprio referenciou na altura, existe uma infinidade de homens dos quais de maneira nenhuma me sinto irmo. Em Fevereiro de 1848, publica, conjuntamente com Hegel, o Manifesto do Partido Comunista. A 3 de Maro do mesmo ano expulso da Blgica. Numa altura em que as agitaes revolucionrias comeavam a se alastrar pela Alemanha, fixa residncia na cidade de Colnia, onde passa a exercer o cargo de Director da Nova Gazeta (Neue Rheinische Zeitung). O triunfo da contra-revoluo na Prssia obriga-o a deixar a Alemanha. Aps breve passagem por Paris, expulso pela polcia francesa. Resta-lhe refugiar-se em Londres e, mais tarde, em Manchester, onde, sem recursos, cai na mais profunda

misria. Em 1863, uma pequena herana permite-lhe sobreviver. Em 1867, publicou o primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital. Principais Obras

Differenz

der

demokritishchen

und

epikureischen

Naturphilosophie (1843) (Diferena da Filosofia da Natureza em Demcrito e em Epicuro) Manifesto do Partido Comunista O Capital Edies em portugus

Manifesto do Partido Comunista, Marx - Engels, Coimbra, Editorial Centelha, 1974 < em e> Extractos

O presente extracto tem por intuito levar os eventuais utilizadores do Canal de Biografias do Portal O Leme a conhecer uma breve passagem da obra do biografado, constituindo, simultaneamente, um incentivo para uma leitura mais extensa. MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA Manifesto publicado por Karl Marx e Friedrich Engels, em 1848

I - BURGUESES e PROLETRIOS

A histria de toda a sociedade at aos nossos dias(*) mais no do que a histria da luta de classes. (*) Ou mais exactamente a histria escrita. Em 1847 a histria da organizao social que precedeu toda a histria escrita, a pr-histria, era quase desconhecida. Depois, Haxthausen descobriu, na Rssia, a propriedade comum da terra. Maurer demonstrou que ela a base social donde saem historicamente todas as tribos alems, e descobriu-se, pouco a pouco, que a comuna rural, com posse colectiva de terra,foi a forma primitiva da sociedade desde as ndias at Irlanda. Finalmente a estrutura desta sociedade comunista primitiva ps a n o que ela tem de tpico graas descoberta decisiva de Morgan que deu a conhecer a natureza verdadeira da gens e o seu lugar na tribo. Com a dissoluo destas comunidades primitivas comea a diviso da sociedade em classes distintas e, definitivamente, opostas (Nota de Hegels) Homem livre e escravo, patrcio e plebeu. baro e servo, mestre-arteso e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposio, travaram uma guerra contnua, ora aberta, ora dissimulada, uma guerra que acabava sempre ou por uma transformao revolucionria de toda a sociedade ou pela destruio das duas classes em luta.

Nas primeiras pocas histricas, constatamos quase por toda a parte, uma organizao complexa da sociedade em vrias classes. uma escala hierarquizada de condies sociais. Na antiga Roma, encontramos patrcios, cavaleiros, plebeus, escravos; na idade Mdia, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos, e, alm disso, dentro de cada uma dessas classes, uma hierarquia particular. A sociedade burguesa moderna, gerada nas runas da sociedade feudal. no aboliu os antegonismos de classes. Ela no fez mais do que substituir por novas classes, por novas condies de opresso e novas formas de luta as que existiram outrora. No entanto, o carcter distintivo da nossa poca, da poca da burguesia, o de ter simplificado os antegonismos de classes. Cada vez mais a sociedade se divide em dois vastos campos inimigos, em duas grandes classes

diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. Dos servos da Idade Mdia, nasceram os burgueses das primeiras comuna; desta populao dos burgos sairam os primeiros elementos da burguesia. A descoberta da Amrica, a circum-navegao da frica ofereceram burguesia nascente um novo campo de aco. Os mercados da ndia e da China, a colonizao da Amrica, o comrcio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso,

desconhecido at ento, ao comrcio, indstria,

navegao, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionrio da sociedade feudal em

decomposio. A antiga organizao feudal da indstria, em que esta era circunscrita a corporaes fechadas, j no podia satisfazer s necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporaes; a diviso do trabalho entre as diferentes corporaes desapareceu diante da diviso do trabalho dentro da prpria oficina. Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A prpria manufatura tornou-se insuficiente; ento, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produo industrial. A grande indstria moderna suplantou a manufatura; a mdia

burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionrios da indstria, aos chefes de verdadeiros exrcitos industriais, aos burgueses modernos. A grande indstria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da Amrica: O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comrcio, da

navegao e dos meios de comunicao por terra. Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a extenso da indstria; e, medida que a indstria, o comrcio, a navegao, as vias frreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a

segundo plano as classes legadas pela Idade Mdia. Vemos, pois, que a prpria burguesia moderna o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma srie de revolues no modo de produo e de troca. [...]

Extrado do Manifesto do Partido Comunista, Marx - Engels, Coimbra, Editorial Centelha, 1974, pp 22 a 25

Obtenha informaes complementares, consultando o Google e mais 500 motores de busca KARL MARX (Breve Resumo) Traos biogrficos: Economista, filsofo e socialista alemo, Karl Marx nasceu em Trier em 5 de Maio de 1818 e morreu em Londres a 14 de Maro de 1883. Estudou na universidade de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, e formou-se em Iena, em 1841, com a tese Sobre as diferenas da filosofia da natureza de Demcrito e de Epicuro. Em 1842 assumiu a chefia da redao do Jornal Renano em Colnia, onde seus artigos radical-democratas irritaram as autoridades. Em 1843, mudouse para Paris, editando em 1844 o primeiro volume dos Anais Germnico-Franceses, rgo principal dos hegelianos da esquerda. Entretanto, rompeu logo com os lderes deste movimento, Bruno Bauer e Ruge. Em 1844, conheceu em Paris Friedrich Engels, comeo de uma amizade ntima durante a vida toda. Foi, no ano seguinte, expulso da Frana, radicando-se em Bruxelas e

participando de organizaes clandestinas de operrios e exilados. Ao mesmo tempo em que na Frana estourou a revoluo, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto Comunista, primeiro esboo da teoria revolucionria que, mais tarde, seria chamada marxista. Voltou para Paris, mas assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em colnia, primeiro jornal dirio francamente socialista. Depois da derrota de todos os movimentos revolucionrios na Europa e o fechamento do jornal, cujos redatores foram denunciados e processados, Marx foi para Paris e da expulso, para Londres, onde fixou residncia. Em Londres, British dedicou-se Museum. a vastos estudos para econmicos jornais e histricos, sendo freqentador assduo da sala de leituras do Escrevia artigos norteamericanos, sobre poltica exterior, mas sua situao material esteve sempre muito precria. Foi generosamente ajudado por Engels, que Em vivia 1864, em Marx Manchester foi em boas da condies Associao 1867 financeiras. co-fundador Internacional dos Operrios, depois chamada I Internacional, desempenhando dominante papel de direo. Em publicou o primeiro volume da sua obra principal, O Capital . Dentro da I Internacional encontrou Marx a oposio tenaz dos anarquistas, liderados por Bakunin, e em 1872, no Congresso de Haia, a associao foi praticamente dissolvida. Em compensao, Marx podia patrocinar a fundao, em 1875, do Partido Social-Democrtico alemo, que foi, porm, logo depois, proibido. No viveu bastante para assistir s vitrias

eleitorais deste partido e de outros agrupamentos socialistas da Europa. Primeiros trabalhos: Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o mais importante o artigo Sobre a crtica da Filosofia do direito de Hegel , em 1844, primeiro esboo da interpretao materialista da dialtica hegeliana. S em 1932 foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos Econmico-Filosficos, redigidos em 1844 e deixa-os inacabados. o esboo de um socialismo humanista, que se preocupa principalmente com a alienao do homem; sobre a compatibilidade ou no deste humanismo com o marxismo posterior, a discusso no est encerrada. Em 1888 publicou Engels as Teses sobre Feuerbach, redigidas por Marx em 1845, rejeitando o materialismo terico e reivindicando uma filosofia que, em vez de s interpretar o mundo, tambm o modificaria. Marx e Engels escreveram juntos em 1845 A Sagrada Famlia, contra o hegeliano Bruno Bauer e seus irmos. Tambm foi obra comum A Ideologia alem (1845-46), que por motivo de censura no pde ser publicada (edio completa s em 1932); a exposio da filosofia marxista. Marx sozinho escreveu A Misria da Filosofia (1847), a polmica veemente contra o anarquista francs Proudhon. A ltima obra comum de Marx e Engels foi em 1847 O Manifesto Comunista, breve resumo do materialismo histrico e apelo revoluo. O 18 Brumrio de Lus Bonaparte foi publicado em 1852 em jornais e em 1869 como livro. a primeira interpretao de um acontecimento histrico no caso o golpe de Estado de Napoleo III, pela teoria do materialismo histrico. Entre os

escritos seguintes de Marx Sobre a crtica da economia poltica em 1859 , embora breve, tambm uma crtica da civilizao moderna, escrito de transio entre o manuscrito de 1844 e as obras posteriores. A significao dessa posio s foi esclarecida pela publicao (em Moscou, 1939-41, e em Berlim, 1953) de mais uma obra indita: Esboo de crtica da economia poltica, escritos em Londres entre 1851 e 1858 e depois deixados sem acabamento final. Em 1867 publicou Marx o primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital. um livro principalmente econmico, resultado dos estudos no British Museum, tratando da teoria do valor, da mais-valia , da acumulao do capital etc. Marx reuniu documentao imensa para continuar esse volume, mas no chegou a public-lo. Os volumes II e III de O Capital foram editados por Engels, em 1885 e em 1894. Outros textos foram publicados por Karl Kautsky como volume IV (1904-10). A FILOSOFIA DE MARX MATERIALISMO DIALTICO Baseado em Demcrito e Epicuro sobre o materialismo e em Herclito sobre a dialtica (do grego, dois logos, duas opinies divergentes ), Marx defende o materialismo dialtico, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach. A dialtica hegeliana era a dialtica do idealismo (doutrina filosfica que nega a realidade individual das coisas distintas do "eu" e s lhes admite a idia), e a dialtica do materialismo posio filosfica que considera a matria como a nica realidade e que nega a existncia da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e

pensamento so a mesma coisa: as leis do pensamento so as leis da realidade. A realidade contraditria, mas a contradio supera-se na sntese que a "verdade" dos momentos superados. Hegel considerava ontologicamente (do grego onto + logos; parte da metafsica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais ) a contradio (anttese) e a superao (sntese); Marx considerava historicamente como contradio de classes vinculada a certo tipo de organizao social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeio do que existia (divinizao da estrutura vigente); Marx apresentava uma filosofia revolucionria que procurava demonstrar as contradies internas da sociedade de classes e as exigncias de superao. Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialtica materialista, combatendo a doutrina hegeliana, que, a par de seu mtodo revolucionrio conclua por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crtica dialtica idealista, partiu Feuerbach crtica da Religio e da essncia do cristianismo. Feuerbach pretendia trazer a religio do cu para a Terra. Ao invs de haver Deus criado o homem sua imagem e semelhana, foi o homem quem criou Deus sua imagem. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma religio da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem. Adotando a dialtica hegeliana, Marx, rejeita, como Feuerbach, o idealismo, mas, ao contrrio, no procura preservar os valores do cristianismo. Se Hegel tinha identificado, no dizer de Radbruch, o ser e o dever-ser (o Sen e o Solene ) encarando a realidade como um desenvolvimento da

razo e vendo no dever-ser o aspecto determinante e no ser o aspecto determinado dessa unidade. A dialtica marxista postula que as leis do pensamento correspondem s leis da realidade. A dialtica no s pensamento: pensamento e realidade a um s tempo. Mas, a matria e seu contedo histrico ditam a dialtica do marxismo: a realidade contraditria com o pensamento dialtico. A contradio dialtica no apenas contradio externa, mas unidade das contradies , identidade: "a dialtica cincia que mostra como as contradies podem ser concretamente (isto , vir-a-ser ) idnticas, como passam uma na outra, mostrando tambm porque a razo no deve tomar essas contradies como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, mveis, lutando uma contra a outra em e atravs de sua luta." (Henri Lefebvre, Lgica formal/ Lgica dialtica, trad. Carlos N. Coutinho , 1979, p. 192). Os momentos contraditrios so situados na histria com sua parcela de verdade, mas tambm de erro; no se misturam, mas o contedo, considerado como unilateral recaptado e elevado a nvel superior. Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialtica eram estticas: o homem de Feuerbach no tem dimenses, est fora da sociedade e da histria, pura abstrao. indispensvel segundo Marx, compreender a realidade histrica em suas contradies, para tentar super-las dialeticamente. A dialtica apregoa os seguintes princpios: tudo relaciona-se (Lei da ao recproca e da conexo universal ); tudo se transforma (lei da transformao universal e do desenvolvimento incessante ); as mudanas qualitativas so conseqncias de revolues

quantitativas; a contradio interna, mas os contrrios se unem num momento posterior: a luta dos contrrios o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da matria em relao conscincia; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material. O materialismo dialtico uma constante no pensamento do marxismo-leninismo (surgido como superao do capitalismo, socialismo, ultrapassando os ensinamentos pioneiros de Feuerbach). MATERIALISMO HISTRICO Na teoria marxista, o materialismo histrico pretende a explicao da histria das sociedades humanas, em todas as pocas, atravs dos fatos materiais, essencialmente econmicos e tcnicos. A sociedade comparada a um edifcio no qual as fundaes, a infra-estrutura, seriam representadas pelas foras econmicas, enquanto o edifcio em si, a superestrutura, representaria as idias, costumes, instituies (polticas, religiosas, jurdicas, etc). A propsito, Marx escreveu, na obra A Misria da filosofia (1847) na qual estabelece polmica com Proudhon: As relaes sociais so inteiramente interligadas s foras produtivas. Adquirindo novas foras produtivas, os homens modificam o seu modo de produo, a maneira de ganhar a vida, modificam todas as relaes sociais. O moinho a brao vos dar a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial. Tal afirmao, defendendo rigoroso determinismo econmico em todas as sociedades humanas, foi estabelecida por Marx e Engels dentro do permanente clima de polmica

que mantiveram com seus opositores, e atenuada com a afirmativa de que existe constante interao e interdependncia entre os dois nveis que compe a estrutura social: da mesma maneira pela qual a infra-estrutura atua sobre a superestrutura, sobre os reflexos desta, embora, em ltima instncia, sejam os fatores econmicos as condies finalmente determinantes. EXISTENCIALISMO "O que Marx mais critica a questo de como compreender o que o homem. No o ter conscincia (ser racional), nem tampouco ser um animal poltico, que confere ao homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas condies de existncia, tanto material quanto ideal, que diferencia o homem." A essncia do homem no ter essncia, a essncia do homem algo que ele prprio constri, ou seja, a Histria. "A existncia precede a essncia"; nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem , em sua essncia, produto do meio em que vive, que construdo a partir de suas relaes sociais em que cada pessoa se encontra. Assim como o homem produz o seu prprio ambiente, por outro lado, esta produo da condio de existncia no livremente escolhida, mas sim, previamente determinada. O homem pode fazer a sua Histria mas no pode fazer nas condies por ele escolhidas. O homem historicamente determinado pelas condies, logo responsvel por todos os seus atos, pois ele livre para escolher. Logo todas as teorias de Marx esto fundamentadas naquilo que o homem, ou seja, o que a sua existncia. O Homem condenado a ser livre.

As relaes sociais do homem so tidas pelas relaes que o homem mantm com a natureza, onde desenvolve suas prticas, ou seja, o homem se constitui a partir de seu prprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condies materiais de produo, que dependem de fatores naturais (clima, biologia, geografia...) ou seja, relao homemNatureza, assim como da diviso social do trabalho, sua cultura. Logo, tambm h a relao homem-Natureza-Cultura. POLTICA E ECONOMIA Se analisarmos o contexto histrico do homem, nos primrdios, perceberemos que havia um esprito de coletivismo: todos compartilhavam da mesma terra, no havia propriedade privada; at a caa era compartilhada por todos. As pessoas que estavam inseridas nesta comunidade sempre se preocupavam umas com as outras, em prover as necessidades uns dos outros. Mas com o passar do tempo, o homem, com suas descobertas territoriais, acabou tornando inevitvel as colonizaes e, portanto, o escravismo, por causa de sua ambio. O escravo servia exclusivamente ao seu senhor, produzia para ele e o seu viver era em funo dele. O coletivismo dos ndios acabou; e o escravismo se transformou numa nova relao: agora o escravo trabalhava menos para seu senhor, e por seu trabalho conquistava um pedao de terra para sua subsistncia, ou seja, o servo trabalhava alguns dias da semana para seu senhor e outros para si. O feudalismo, ento, comeava a ser implantado e difundido em todo o territrio europeu. Esta relao servosenhor feudal funcionou durante um certo perodo na histria da humanidade, mas, por causa de uma srie de fatores e

acontecimentos, entre eles o aumento populacional, as condies de comrcio (surgia a chance do servo obter capital atravs de sua produo excessiva), o capitalismo mercantilista, o feudalismo decaiu; e assim, deu espao a um novo sistema econmico: o capitalismo industrial (que teve seu desenvolvimento por culminar durante a revoluo industrial, com o surgimento da classe proletria). Assim, deve-se citar a economia inglesa como ponto de partida para as teorias marxistas. Como todo sistema tem seu perodo de crise, ocasionando uma necessidade de mudana, Adam Smith (o primeiro a incorporar ao trabalho a idia de riqueza) desenvolve o liberalismo econmico. Do latim liberalis , que significa benfeitor, generoso, tem seu sentido poltico em oposio ao absolutismo monrquico. Os seus principais ideais eram: o Estado devia obedecer ao princpio da separao de poderes (executivo, legislativo e judicirio); o regime seria representativo e parlamentar; o Estado se submeteria ao direito, que garantiria ao indivduo direitos e liberdades inalienveis, especialmente o direito de propriedades. E foi isto que fez com que cada sistema fosse modificado. Sobretudo tambm deve-se mencionar David Ricardo, que, mais interessado no estudo da distribuio do que produo das riquezas, estabeleceu, com base em Malthus, a lei da renda fundiria(agrria), segundo a qual os produtos das terras frteis so produzidos a custo menor mas vendidos ao mesmo preo dos demais, propiciando a seus proprietrios uma renda fundiria igual diferena dos custos de produo. A partir da teoria da renda fundiria, Ricardo elaborou a lei do

preo natural dos salrios, sempre regulada pelo preo da alimentao, vesturio e outros itens indispensveis manuteno do operrio e seus dependentes. Pois, como foi dito anteriormente, com a Revoluo Industrial surgiu a classe do proletariado. A LUTA DE CLASSES Pretendendo caracterizar no apenas uma viso econmica da histria, mas tambm uma viso histrica da economia, a teoria marxista tambm procura explicar a evoluo das relaes econmicas nas sociedades humanas ao longo do processo histrico. Haveria, segundo a concepo marxista, uma permanente dialtica das foras entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a histria da humanidade seria constituda por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro captulo dO Manifesto Comunista: A histria de toda sociedade passado a histria da luta de classes. Classes essas que, para Engels so "os produtos das relaes econmicas de sua poca". Assim apesar das diversidades aparentes, escravido, servido e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo nico. A base da sociedade a produo econmica. Sobre esta base econmica se ergue uma superestrutura, um estado e as idias econmicas, sociais, polticas, morais, filosficas e artsticas. Marx queria a inverso da pirmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletrios, que seria a nica fora capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista.

Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idias que eles tm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econmicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das foras produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedica-se a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresrios. A economia do futuro que associaria todos os homens e povos do planeta, s poderia ser uma produo controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo. No basta existir uma crise econmica para que haja uma revoluo. O que decisivo so as aes das classes sociais que, para Marx e Engels, em todas as sociedades em que a propriedade privada existem lutas de classes (senhores x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). A luta do proletariado do capitalismo no deveria se limitar luta dos sindicatos por melhores salrios e condies de vida. Ela deveria tambm ser a luta ideolgica para que o socialismo fosse conhecido pelos trabalhadores e assumido como luta poltica pela tomada do poder. Neste campo, o proletariado o deveria contar o com uma arma fundamental, partido poltico, partido poltico

revolucionrio que tivesse uma estrutura democrtica e que buscasse educar os trabalhadores e lev-los a se organizar para tomar o poder por meio de uma revoluo socialista. Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustia social, e que o nico jeito de uma pessoa ficar rica e ampliar sua fortuna seria explorando os trabalhadores,

ou seja, o capitalismo, de acordo com Marx selvagem, pois o operrio produz mais para o seu patro do que o seu prprio custo para a sociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econmico de explorao, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema. A fora vendida pelo operrio ao patro vai ser utilizada no durante 6 horas, mas durante 8, 10, 12 ou mais horas. A mais-valia constituda pela diferena entre o preo pelo qual o empresrio compra a fora de trabalho (6 horas) e o preo pelo qual ele vende o resultado (10 horas por exemplo). Desse modo, quanto menor o preo pago ao operrio e quanto maior a durao da jornada de trabalho, tanto maior o lucro empresarial. No capitalismo moderno, com a reduo progressiva da jornada de trabalho, o lucro empresarial seria sustentado atravs do que se denomina mais-valia relativa (em oposio primeira forma, chamada mais-valia absoluta), que consiste em aumentar a produtividade do trabalho, atravs da racionalizao e aperfeioamento tecnolgico, mas ainda assim no deixa de ser o sistema semi-escravista, pois "o operrio cada vez se empobrece mais quando produz mais riquezas", o que faz com que ele "se torne uma mercadoria mais vil do que as mercadorias por ele criadas". Assim, quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza. Ocorre ento a alienao, j que todo trabalho alienado, na medida em que se manifesta como produo de um objeto que alheio ao sujeito criador. O raciocnio de Marx muito simples: ao criar algo fora de si, o operrio se nega no objeto criado. o processo de objetificao. Por isso, o trabalho que alienado (porque cria algo alheio ao sujeito criador) permanece alienado at que o

valor nele incorporado pela fora de trabalho seja apropriado integralmente pelo trabalhador. Em outras palavras, a produo representa uma negao , j que o objeto se ope ao sujeito e o nega na medida em que o pressupe e at o define. A apropriao do valor incorporado ao objeto graas fora de trabalho do sujeito-produtor, promove a negao da negao. Ora, se a negao alienao, a negao da negao a desalienao. Ou seja, a partir do momento que o sujeitoprodutor d valor ao que produziu, ele j no est mais alienado. CONCEITOS: CAPITALISMO, ANARQUISMO O CAPITALISMO tem seu incio na Europa. Suas caractersticas aparecem desde a baixa idade mdia (do sculo XI ao XV) com a transferncia do centro da vida econmica social e poltica dos feudos para a cidade. O feudalismo passava por uma grave crise decorrente da catstrofe demogrfica causada pela Peste Negra que dizimou 40% da populao europia e pela fome que assolava o povo. J com o comrcio reativado pelas Cruzadas(do sculo XI ao XII), a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano e comercial e, conseqentemente, as relaes de produo capitalistas se multiplicaram, minando as bases do feudalismo. Na Idade Moderna, os reis expandem seu poderio econmico e poltico atravs do mercantilismo e do absolutismo. Dentre os defensores deste temos os filsofos Jean Bodin("os reis tinham o direito de impor leis aos sditos sem o consentimento deles"), Jacques Bossuet ("o rei est no trono por vontade de SOCIALISMO, COMUNISMO E

Deus") e Nicclo Machiavelli("a unidade poltica fundamental para a grandeza de uma nao"). Com o absolutismo e com o mercantilismo o Estado passava a controlar a economia e a buscar colnias para adquirir metais(metalismo) atravs da explorao. Isso para garantir o enriquecimento da metrpole. Esse enriquecimento favorece a burguesia - classe que detm os meios de produo - que passa a contestar o poder do rei, resultando na crise do sistema absolutista. E com as revolues burguesas, como a Revoluo Francesa e a Revoluo Inglesa, estava garantido o triunfo do capitalismo. A partir da segunda metade do sculo XVIII, com a Revoluo Industrial, inicia-se um processo ininterrupto de produo coletiva em massa, gerao de lucro e acmulo de capital. Na Europa Ocidental, a burguesia assume o controle econmico e poltico. As sociedades vo superando os tradicionais critrios da aristocracia (principalmente a do privilgio de nascimento) e a fora do capital se impe. Surgem as primeiras teorias econmicas: a fisiocracia e o liberalismo. Na Inglaterra, o escocs Adam Smith (1723-1790), percursor do liberalismo econmico, publica Uma Investigao sobre Naturezas e Causas da Riqueza das Naes , em que defende a livre-iniciativa e a no-interferncia do Estado na economia. Deste ponto, para a atual realidade econmica, pequenas mudanas estruturais ocorreram em nosso fnebre sistema capitalista. SOCIALISMO - A Histria das Idias Socialistas possui alguns cortes de importncia. O primeiro deles entre os socialistas Utpicos e os socialistas Cientficos, marcado pela

introduo das idias de Marx e Engels no universo das propostas de construo da nova sociedade. O avano das idias marxistas consegue dar maior homogeneidade ao movimento socialista internacional. Pela primeira vez, trabalhadores de pases diferentes, quando pensavam em socialismo, estavam pensando numa mesma sociedade - aquela preconizada por Marx - e numa mesma maneira de chegar ao poder. COMUNISMO - As idias bsicas de Karl Marx esto expressas principalmente no livro O Capital e n'O Manifesto Comunista , obra que escreveu com Friedrich Engels, economista alemo. Marx acreditava que a nica forma de alcanar uma sociedade feliz e harmoniosa seria com os trabalhadores no poder. Em parte, suas idias eram uma reao s duras condies de vida dos trabalhadores no sculo XIX, na Frana, na Inglaterra e na Alemanha. Os trabalhadores das fbricas e das minas eram mal pagos e tinham de trabalhar muitas horas sob condies desumanas. Marx estava convencido que a vitria do comunismo era inevitvel. Afirmava que a histria segue certas leis imutveis, medida que avana de um estgio a outro. Cada estgio caracteriza-se por lutas que conduzem a um estgio superior de desenvolvimento. O comunismo, segundo Marx, o ltimo e mais alto estgio de desenvolvimento. Para Marx, a chave para a compreenso dos estgios do desenvolvimento a relao entre as diferentes classes de indivduos na produo de bens. Afirmava que o dono da riqueza a classe dirigente porque usa o poder econmico e poltico para impor sua vontade ao povo. Para ele, a luta de

classes o meio pelo qual a histria progride. Marx achava que a classe dirigente jamais iria abrir mo do poder por livre e espontnea vontade e que, assim, a luta e a violncia eram inevitveis. O ANARQUISMO foi a proposta revolucionria internacional mais importante do mundo durante a segunda metade do sculo XIX e incio do sculo XX, quando foi substitudo pelo marxismo (comunismo). Em suma, o anarquismo prega o fim do Estado e de toda e qualquer forma de governo, que seriam as causas da existncia dos males sociais, que devem ser substitudos por uma sociedade em que os homens so livres, sem leis, polcia, tribunais ou foras armadas. A sociedade anarquista seria organizada de acordo com a necessidade das comunidades, cujas relaes seriam voltadas ao auto-abastecimento sem fins lucrativos e base de trocas. A doutrina, que teve em Bakunin seu grande expoente terico, organizou-se primeiramente na Rssia, expandindo-se depois para o resto da Europa e tambm para os Estados Unidos. O auge de sua propagao deu-se no final do sculo XIX, quando agregou-se ao movimento sindical, dando origem ao anarco-sindicalismo, que pregava que os sindicatos eram os verdadeiros agentes das transformaes sociais. Com o surgimento do marxismo, entretanto, uma proposta revolucionria mais adequada ao quadro social vigente no sculo XX, o anarquismo entrou em decadncia. Sem, contudo, deixar de ter tido sua importncia histrica, como no episdio em que os anarquistas italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram executados por assassinato em 1921, nos EUA, mesmo com as inmeras evidncias e testemunhos que provavam sua inocncia.

REVISIONISMO Depois da morte de Marx e Engels, a rpida industrializao da Alemanha e o fortalecimento do partido social-democrata e dos sindicatos melhoraram muito as condies de vida dos trabalhadores alemes, ao mesmo tempo em que ser tornou cada vez mais improvvel a esperada crise fatal do regime capitalista. Eduard Bernstein em seu livro Os pressupostos do socialismo e as tarefas da socialdemocracia, recomendou abandonar utpicas esperanas revolucionrias e contentar-se, realisticamente com o fortalecimento do poder poltico e econmico das organizaes do proletariado, considerando-se que as previses marxistas de depauperamento progressivo(esgotar as foras de forma a tornar-se muito pobre) das massas no se tinham verificado. Esse "revisionismo" de Bernstein foi combatido pela ortodoxia marxista, representada por Karl Kautsky. Mas praticamente o revisionismo venceu de tal maneira, que a social-democracia alem abandonou, enfim, o marxismo. Ficou isolada a marxista Rosa Luxemburg, que em uma de suas obras adaptou a teoria de Marx s novas condies do imperialismo econmico e poltico do sc. XX. NEOMARXISTAS: Fora da Rssia, houve e h vrias tentativas de dar ao marxismo outra base filosfica que o materialismo cientfico do sc. XIX, que j no se afigura bastante slido a muitos marxistas modernos. Georges Sorel apoiando-se na filosofia do lan vital de Henri Bergson, postulou geral. um movimento antiparlamentar, de violncia revolucionria, inspirado pelo "mito" de uma irresistvel greve

O MANIFESTO COMUNISTA O Manifesto Comunista fez a humanidade caminhar. No em direo ao paraso, mas na busca (raramente bem sucedida, at agora) da soluo de problemas como a misria e a explorao do trabalho. Rumo concretizao do princpio, teoricamente aceito h 200 anos, diz que "todos os homens so iguais". E sublinhando a novidade que afirmava que os pobres, os pequenos, os explorados tambm podem ser sujeitos de suas vidas. Por isso um documento histrico, testemunho da rebeldia do seres humanos. Seu texto, racional, aqui e ali bombstico e, em diversas passagens irnico, mal esconde essa origem comum com homens e mulheres de outros tempos: o fogo que acendeu a paixo da Liga dos Comunistas, reunida em Londres no ano de 1847, no foi diferente do que incendiou coraes e mentes na luta contra a escravido clssica, contra a servido medieval, contra o obscurantismo religioso e contra todas as formas de opresso. A Liga dos Comunistas encomendou a Marx e a Engels a elaborao de um texto que tornasse claros os objetivos dela e sua maneira de ver o mundo. E isto foi feito pelos dois jovens, um de 30 e o outro de 28 anos. Portanto, o Manifesto Comunista um conjunto afirmativo de idias, de "verdades" em que os revolucionrios da poca acreditavam, por conterem, segundo eles, elementos cientficos um tanto economicistas para a compreenso das transformaes sociais. Nesse sentido, o Manifesto mais um monumento do que um documento... Ptreo, determinante, forte: letras, palavras, e frases que queriam Ter o poder de uma arma para mudar o mundo, colocando no lugar "da velha sociedade

burguesa uma associao na qual o livre desenvolvimento de cada membro a condio para o desenvolvimento de todos." O Manifesto tem uma estrutura simples: uma breve introduo, trs captulos e uma rpida concluso. A introduo fala com um certo orgulho, do medo que o comunismo causa nos conservadores. O "fantasma" do comunismo assusta os poderosos e une, em uma "santa aliana", todas as potncias da poca. a velha "satanizao" do adversrio, que est "fora da ordem", do "desobediente". Mas o texto mostra o lado positivo disso: o reconhecimento da fora do comunismo. Se assusta tanto, porque tem alguma presena. Da a necessidade de expor o modo comunista de ver o mundo e explicar suas finalidades, to deturpadas por aqueles que o "demonizam". A parte I, denominada "Burgueses e Proletrios ", faz um resumo da histria da humanidade at os dias de ento, quando duas classes sociais antagnicas (as que titulam o captulo) dominam o cenrio. A grande contribuio deste captulo talvez seja a descrio das enormes transformaes que a burguesia industrial provocava no mundo, representando "na histria um papel essencialmente revolucionrio". Com a argcia de quem manejava com destreza instrumentos de anlise socioeconmica muito originais na poca, Marx e Engels relatam (com sincera admirao !) o fenmeno da globalizao que a burguesia implementava, mundializando o comrcio, a navegao, os meios de comunicao.

O Manifesto fala de ontem mas parece dizer de hoje. O desenvolvimento capitalista libera foras produtivas nunca vistas, "mais colossais e variadas que todas as geraes passadas em seu conjunto". O poderio do capital que submete o trabalho anunciado e nos faz pensar no agora do revigoramento neoliberal: nos ltimos 40 anos deste sculo XX, foram produzidos mais objetos do que em toda a produo econmica anterior, desde os primrdios da humanidade. A revoluo tecnolgica e cientfica a que assistimos, cujos cones so os computadores e satlites e cujo poder hegemnico a burguesia, no passa de continuao daquela descrita no Manifesto , que "criou maravilhas maiores que as pirmides do Egito, que os aquedutos romanos e as catedrais gticas; conduziu expedies maiores que as antigas migraes de povos e cruzadas". Um elogio ao dinamismo da burguesia ? Impiedoso com os setores mdios da sociedade j minoritrios nas formaes sociais mais conhecidas da Europa - , o Manifesto chega a ser cruel com os desempregados, os mendigos, os marginalizados, "essa escria das camadas mais baixas da sociedade", que pode ser arrastada por uma revoluo proletria mas, por suas condies de vida, est predisposta a "vender-se reao". D a entender que s os operrios fabris sero capazes de fazer a revoluo. A relativizao do papel dos comunistas junto ao proletariado o aspecto mais interessante da parte II, intitulada "Proletrios e Comunistas ". Depois de quase um sculo de dogmatismos, partidos nicos e "de vanguarda" portadores de verdade inteira,

saudvel ler que "os comunistas no formam um partido parte, oposto a outros partidos operrios, e no tm interesses que os separem do proletariado em geral". Embora, sem qualquer humildade, o Manifesto atribua aos comunistas mais deciso, avano, lucidez e liderana do que s outras fraes que buscam representar o proletariado, seus objetivos so tidos como comuns: a organizao dos proletrios para a conquista do poder poltico e a destruio de supremacia burguesa. O "fantasma" do comunismo assombrava a Europa e o livro procura contestar, nessa parte, todos os estigmas que as classes poderosas e influentes jogavam sobre ele. Vejamos alguns desses estigmas, bastante atuais, e a resposta do Manifesto: Os comunistas querem acabar com toda a propriedade, inclusive a pessoal ! Voc j deve ter ouvido isso... Em 1989, no Brasil, quando Lula quase chegou l, seus adversrios espalharam o boato de que as famlias de classe mdia teriam que dividir suas casas com os sem-teto... A bobagem velha, de 150 anos. Marx e Engels responderam que queriam abolir a propriedade burguesa, capitalista. Para os socialistas, a apropriao pessoal dos frutos do trabalho e aqueles bens indispensveis vida humana eram intocveis. Ao que se sabe, roupas, calados, moradia no so geradores de lucros para quem os possui... O Manifesto a esse respeito, foi definitivo, apesar de a propaganda anticomunista e burra no ter lhe dado ouvidos: "O comunismo no retira a ningum o poder de apropriar-se de

sua parte dos produtos sociais, tira apenas o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio dessa apropriao." Os comunistas querem acabar com a famlia e com a educao ! Sempre h algum pronto para falar do comunista "comedor de criancinha". Ao ouvir isso, no deixe de indagar se uma famlia pode viver com o salrio mnimo, o pai e mo desempregados e uma moradia sem fornecimento de gua e sem luz. E se uma criana pode ser educada para a vida numa escola pblica abandonada pelo governo, que finge que paga aos professores e funcionrios. Na sociedade capitalista a educao , ela prpria, um comrcio, uma atividade lucrativa... Os comunistas querem socializar as mulheres ! Essa fazia parte do catecismo de "satanizao" das idias socialistas. "Para o burgus, sua mulher nada mais que um instrumento de produo. Ouvindo dizer que os instrumento de produo sero postos em comum, ele conclui naturalmente que haver comunidade de mulheres. O burgus no desconfia que se trata precisamente de dar mulher outro papel que o de simples instrumento de produo." bom lembrar que alguns socialistas, at hoje, no conseguiram aceitar essa nova compreenso da mulher. O machismo nega o marxismo... A parte III, denominada "Literatura Socialista e Comunista " faz fortes crticas s diferentes correntes socialistas da poca. O Manifesto corta com a afiada faca da ironia trs tipos de socialismo da poca: o "socialismo reacionrio" (subdividido em socialismo feudal, socialismo pequeno-

burgus e socialismo alemo, o "socialismo conservador e burgus" e o "socialismo e comunismo crtico-utpico". Nesse captulo a obra mostra seu carter temporal, quase local. Revela sua profunda imerso na efervescncia das idias e combates daquela poca, quando a aristocracia, para salvar os dedos j sem seus ricos anis, condena a burguesia e, numa sbita generosidade, tece loas a um vago socialismo. A concluso, "Posio dos Comunistas Diante dos Diferentes Partidos de Oposio " um relato das tticas adotadas naquele momento pelos comunistas, na Frana, na Sua, na Polnia e na Alemanha. Estados Unidos e Rssia, que viviam momentos de alta tenso social e poltica, no so mencionados, como reconheceu Engels em maio de 1890, ao destacar com sinceridade "o quanto era estreito o terreno de ao do movimento proletrio no momento da primeira publicao do Manifesto em fevereiro de 1848". O Manifesto Comunista como no poderia deixar de ser, termina triunfalista e animando. No quer espiritualizar e sim emocionar para a luta. Curiosamente, retoma a idia do "fantasma", ao desejar que "as classes dominantes tremam diante da idia de uma revoluo comunista". Os proletrios, que tm um mundo a ganhar com a revoluo, tambm so, afinal, conclamados, na clebre frase, que tantos sonhos, projetos de vida e revolues sociais j inspirou: "PROLETRIOS DE TODOS OS PASES, UNI-VOS !"

Principais categorias de anlises utilizadas por Karl Marx nos textos salrio, ganho de capital e renda da terra contidos no caderno I da obra manuscritos econmicos filosficos. Por: Bianca Wild Marx tinha como principal objetivo entender o capitalismo e propunha atravs de sua obra uma ampla transformao poltica econmica e social, um aspecto particular de suas teorias o fato de sua obra ser destinada a todos os homens e no apenas aos estudiosos de economia, poltica e da sociedade, em sua obra existe um alcance amplo nas suas formulaes, que adquiriram uma dimenso revolucionria com ao poltica efetiva, as contradies na sociedade capitalista e as possibilidades da superao, enfim pode-se notar contida em toda obra de Marx a necessidade de se explicar a explorao do homem pelo homem, Marx utilizava o materialismo histrico, enxergava a sociedade atravs de uma base material sobre a qual todas as coisas funcionam. "Os seres humanos podem se diferenciar dos animais pela conscincia, religio e qualquer outra coisa que quisermos considerar. Mas, eles somente comeam a diferenciar-se dos animais to logo comecem a produzir seus prprios meios de sobrevivncia, sua comida, abrigo e roupas".Com estas palavras, Karl Marx antes de tudo destacava como sua explicao se diferenciava ao explicar como a sociedade se desenvolve. Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o mais importante o artigo Sobre a

crtica da Filosofia do direito de Hegel, em 1844, primeiro esboo da interpretao materialista da dialtica hegeliana. S em 1932 foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos Econmico-Filosficos, redigidos em 1844 e deixa-os inacabados que se o esboo de um socialismo com a humanista, preocupa principalmente

alienao do homem; sobre a compatibilidade ou no deste humanismo com o marxismo posterior, a discusso no estava encerrada. Marx Pretendia caracterizar no apenas uma viso econmica da histria, mas tambm uma viso histrica da economia, a teoria marxista tambm procura explicar a evoluo das relaes econmicas nas sociedades humanas ao longo do processo histrico. Haveria, segundo a concepo marxista, uma permanente dialtica das foras entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a histria da humanidade seria constituda por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro captulo de O Manifesto Comunista: A histria de toda sociedade passada a histria da luta de classes. Classes essas que, para Engels so "os produtos das relaes econmicas de sua poca". Assim apesar das diversidades aparentes, escravido, servido e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo nico. A base da sociedade a produo econmica. Sobre esta base econmica se ergue uma superestrutura, um estado e as idias econmicas, sociais, polticas, morais,

filosficas e artsticas. Marx queria a inverso da pirmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletrios, que seria a nica fora capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista. Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idias que eles tm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econmicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das foras produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedicasse a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresrios. A economia do futuro, que associaria todos os homens e povos do planeta, s poderia ser uma produo controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo. Os Manuscritos econmico-filosficos ou Manuscritos de Paris apresentam a planta fundamental do pensamento de Marx: a concentrao de sua filosofia na crtica da economia nacional de Adam Smith, J.B. Say e David Ricardo. Na obra, Marx expe a contradio entre moral e economia, denunciando a radicalidade da explorao do homem pela empresa capitalista. Enquanto a reproduo do capital o nico objetivo da produo, o trabalhador ganha apenas para sustentar suas necessidades mais vitais, ou seja, para no morrer e poder continuar produzindo. materialismo dialtico e declara a necessidade

de "uma ao comunista efetiva" a fim de superar a propriedade privada. Se muitos dos captulos da obra so apenas esboos, ela no deixa de oferecer um desenvolvimento quase absoluto da compreenso geral de Marx acerca das relaes ntimas entre liberdade, economia e sociedade, em ensaios s vezes geniais e inclusive acabados como o caso de "Dinheiro", o ltimo captulo dos Nos Manuscritos, Marx d sinais de sua passagem do idealismo hegeliano ao Manuscritos. Nos Manuscritos Econmicos e Filosficos, tambm nota-se que o humanismo de Marx adquiriu maior consistncia. No se tratava mais da defesa de um homem em geral, abstrato, mas de um homem concreto, histrico. Era um humanismo sob um novo ponto de vista, o ponto de vista proletrio revolucionrio. Neste trabalho o autor criticou os economistas burgueses que consideravam os homens apenas enquanto produziam para o Capital. Reduziam o proletariado apenas quele que "sem capital nem renda da terra vivia puramente do trabalho e do trabalho unilateral, abstrato, apenas como operrio". Assim puderam estabelecer "o princpio pelo qual como qualquer cavalo, ele tem que ganhar o suficiente para poder trabalhar. No considerava-o no tempo em que no trabalhava, ou seja, como homem. Assim, "os mendigos, os desempregados, os trabalhadores famintos, indigentes, criminosos, eram figuras que no existiriam para a economia poltica, mas apenas para os olhos dos mdicos,

juzes,

coveiros

e

burocratas.

As

necessidades

dos

trabalhadores "se reduziriam as necessidades de mant-lo diariamente no trabalho, de molde a no extinguir a raa dos trabalhadores". o da Os salrios teriam de "o mesmo outro significado, manuteno qualquer

instrumento de produo (...) o leo aplicado mola para conserv-la rodando". O homem se transformava numa pea de engrenagem e a sociedade numa grande fbrica. Marx submeteu o capitalismo a uma crtica feroz, de um ponto de vista revolucionrio. Foi uma das crticas mais radicais escritas at ento. Denunciou a desumanizao do homem e a sua transformao em simples mercadoria. Denunciou o processo de alienao, no apenas religiosa e poltica, mas fundamentalmente a alienao, a que teria por centro o prprio trabalho humano. Definiu o trabalho alienado como fundamento do homem alienado. No capitalismo, afirmava Marx, a produo no apenas produz o homem como mercadoria humana. produz o homem como um ser mental e fisicamente desumanizado. Imoralidade, aborto, escravido do trabalho, a partir do momento em que a humanidade se compe principalmente de trabalhadores, dos quais deserdados so os proletrios, o humanismo real que se preocupa com os interesses de cada homem aquele que defende os interesses proletrios. Na sociedade capitalista os operrios eram as maiores vtimas da guerra sem quartel da concorrncia pelos mercados, pois as alianas entre os capitalistas, fundirios,

empresrios eram bem quistas e conseguiam xito, j as entre os proletrios condenadas , reprimidas e dificilmente vingavam. O operrio, segundo ele, no ganhava necessariamente quando o capitalista ganhava, mas perdia necessariamente quando ele perdia. "Se a riqueza da sociedade declina, afirmou, o operrio quem mais sofre; mas se a riqueza progride, a situao mais favoravelmente para os operrios, mas significa para eles tambm um trabalho extenuante, que abreviar sua existncia". A economia poltica burguesa era, por sua vez, extremamente moralista, pelo menos quanto a classe operria. Segundo o jovem Marx, sua tese principal era a renncia vida e s necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, ir ao teatro ou bares, ou botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc. tanto mais se poderia economizar. Tudo o que o economista tirava sob a forma de vida e humanidade devolvia sob forma de dinheiro. O trabalho deve ser apenas o que lhe necessrio para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso. Em contraposio a moralidade burguesa comeava a surgir uma nova moralidade: quando artesos comunistas formam associaes, o ensino e a propaganda so seus primeiros objetivos. Mas sua prpria associao uma necessidade nova, a necessidade da sociedade, o que ser um meio tornar-se um fim. Fumar, comer e beber no so mais meios de congregar pessoas. A sociedade, a

associao, o divertimento tendo tambm como alvo a sociedade, suficiente para eles, a fraternidade do homem no a frase vazia, mas uma realidade e a pobreza do homem resplandece sobre ns vindo de seus corpos fatigados. J no seu 1 manuscrito Marx passou a estender o seu conceito de alienao do campo da poltica para o campo da economia; particularmente estudando a alienao do trabalho. No capitalismo o trabalho era exterior ao operrio, no pertencia sua essncia. No seu trabalho o operrio no se afirmava, mas se negava. No se sentia bem, mas infeliz. No desenvolvia nenhuma energia fsica e espiritual, mas mortifica o corpo e arruinava o esprito. Portanto, o operrio s se sentia consigo mesmo fora do trabalho, pois no trabalho, pelo contrrio, sentia-se fora de si. O trabalho era forado, imposto de fora. No era a satisfao de uma necessidade do trabalhador. O trabalho no se tornou uma necessidade, mas apenas um meio de receber um salrio, um simples meio de atender outra necessidade. Todo trabalho operrio voltava-se contra ele, como uma fora estranha e hostil. O operrio ao produzir mercadorias, produzia a sua prpria alienao. Segundo Marx: O trabalhador fica mais pobre medida que produz mais riquezas e sua produo cresce em fora e extenso. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata medida que cria mais bens, quanto mais o trabalhador se desgaste no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo dos objetos por ele criado em face dele

mesmo, tanto mais simples se torna a vida interior, e tanto menos ele se pertence a si prprio, o trabalhador ps a sua vida no objeto, e sua vida, ento, no mais lhe pertence, porm ao objeto. Concluiu que se o produto do trabalho no pertencia ao operrio, isso s era possvel porque pertencia a outrem, o capitalista. Marx descobriu assim um dos fundamentos da alienao humana no capitalismo: a apropriao do produto do trabalho pelo no-operrio (proprietrio dos meios de produo) o que acarretaria uma dominao real daquele que produz por aquele que no produz. A alienao do produto do trabalho exprimia-se na hostilidade entre o operrio e o no-operrio.Em geral, escreveu, a proporo de que o homem est alienado do seu ser genrico, significa que um homem est alienado de outro assim como cada um deles est alienado da essncia humana. Por isso, Marx criticou as correntes socialistas, que buscavam eliminar a condio do proletrio, atravs de um aumento de salrios, se escondendo sob a palavra de ordem salrios justos". Escreveu: Uma elevao do salrio pela fora nada seria do que um melhor assalariado dos escravos e no conquista para o operrio, nem para o trabalho, o seu destino humano". O salrio seria conseqncia do trabalho alienado e aquele que se erguia contra a propriedade privada devia reclamar a anulao do trabalho alienado, e, portanto, do salariato, como a situao na qual o trabalho no era um fim em si, mas um servidor do salrio.

Marx j neste perodo tinha clareza da unidade dialtica que se forjava entre o homem e sociedade. Nele no vemos nada que se assemelhasse ao determinismo econmico, que alguns teimam em lhe embutir. A sociedade e as condies histricas produziam os homens concretos, mas ao mesmo tempo estes no eram meros produtos, sem vontade, e sim agentes ativos que com sua ao consciente poderiam mudar as condies que lhes deram origem(conscincia de classe). Afirmava ele: "da mesma forma que a sociedade produz o homem, tambm ela era produzida por ele". Continuou, "embora o homem seja um indivduo nico ele igualmente o todo, o todo ideal, a existncia subjetiva de sociedade como pensada e vivenciada. Ele existe como a soma das manifestaes humanas da vida". O homem, portanto, no pode ser entendido como um Robson Cruze, do pensamento liberal. Ele s pode ser entendido como parte integrante do mundo dos homens, a sociedade. Cada indivduo era portador do conjunto dessas relaes (homem/homem,homem/natureza). O Homem (individual/real) s pode ser entendido na coletividade dos homens. Mas, em Marx, dos Manuscritos essas idias estavam em transio e tenderiam a desaparecer na obras seguintes, em especial na Ideologia Alem de 1845. Todo o mundo para o homem, inclusive os seus sentidos, eram frutos da ao dos prprios homens - do trabalho humano - e "mesmo as formas de relao do homem com o mundo, ver ouvir, cheirar, saborear amar, ou seja, tudo o

que possvel captar e transmitir atravs dos rgos de nossa individualidade so produtos de anos de trabalho social humano". " evidente, continuou ele, que o olho humano aprecia as coisas de maneira diferente do olho bruto, no humano, assim, como o ouvido humano difere do ouvido bruto, e s quando o objeto se torna um objeto humano o homem no fica perdido nele. Isso somente possvel quando o objeto se torna um objeto social e quando ele prprio se torna um ser social". Mas, todas essas formas de apreenso humana do mundo, atravs dos sentidos, se encontram em nossa sociedade limitadas em sua potencialidade pela existncia da propriedade da privada e a explorao do trabalho. A propriedade privada, segundo Marx, "tornou-nos estpidos e parciais a ponto de um objeto s ser considerado nosso quando diretamente comido, bebido, vestido, habitado, etc, em resumo quando utilizado de alguma forma todos os sentidos fsicos e intelectuais foram substitudos pela simples alienao de todos eles, pelo sentido do ter". A sociedade capitalista tem no dinheiro uma forma particular de alienao da essncia humana em geral, que inverte o sentido da realidade, a propriedade do dinheiro passa a ser tambm de quem o possui, "sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher, conseqentemente no sou feio sou estpido, mas o dinheiro o verdadeiro crebro de todas as coisas, como poder este seu possuidor ser estpido?". O dinheiro, para Marx, "converte o amor em

dio servo em senhor estupidez em inteligncia aonde que pode comprar a bravura bravo, malgrado seja covarde". Contrapondo ao mundo do dinheiro, Marx pregava uma nova sociedade em que "o homem fosse homem e que a relao com o mundo fosse humana, aonde o amor s pudesse ser trocado por amor se desejar apreender a arte, ser preciso apenas ser uma pessoa autenticamente educada". Mas para realizar tal mundo preciso, antes de mais nada, abolir a propriedade privada,esquecer o ganho de capital, as rendas da terra,elimin-los definitivamente de nossas concepes. Este seria o primeiro passo para a apropriao da verdade humana a substituio positiva de toda a alienao, o retorno do homem da religio, do Estado, para a vida realmente social. O comunismo seria para Marx, a abolio da propriedade privada e o fim da alienao humana. Ele seria a "verdadeira apropriao da natureza humana atravs do e para o homem. O retorno do homem a si mesmo como ser social. O comunismo como naturalismo plenamente desenvolvido humanismo a resoluo do antagonismo do homem e a natureza, do homem e seu semelhante. a verdadeira soluo do conflito entre a existncia e essncia entre o individuo e a espcie". Referncias: MARX, Karl. Manuscritos econmicos-filosficos. Boitempo.2004.

acesso em 23 de Novembro de 2007 s 22:15 PM. Bianca Wild. Cientista social (Sociloga) Bolsista do CNPq AT-NS

Outros : KARL MARX, a Internacionalizao do Proletariado, a MaisValia e o Exrcito de Reserva

pois sempre haver um louco ingnuo e bem intencionado que acreditar em um Mundo e em um Homem melhorado. V-se na atual crise financeira e econmica, reacenderem-se os debates sobre os limites do Capitalismo. Sem entrar no mrito das opinies, julgo ser procedente retornarmos ao estudo de Marx e, principalmente, de algumas de suas teses que esto no centro de seu Sistema de Pensamento. So elas: a Internacionalizao do Proletariado, a Mais Valia e o Exrcito de Reserva. Engels encontrou-se pela primeira vez com Marx em 1844 na cidade de Paris. A partir da, tornaram-se fiis amigos e parceiros em vrios tratados e estudos. Escreveram A Sagrada Famlia em 1845 e Ideologia Alem, que s foi publicada postumamente em 1932. Nessa obra, esboaram pela primeira vez suas concepes sobre a Histria. Em 1847 ingressaram na Liga dos Justos, na Frana, a qual viria a ser renomeada como Liga Comunista. Nessa organizao foram incumbidos de escrever o Manifesto da Liga (publicado em 1848), que, futuramente, viria ser o renomado Manifesto do Partido Comunista.

Um espectro ronda a Europa: o espectro do Comunismo, essa frase inicial ganhou projeo imediata e ainda hoje conhecida mundialmente. Escrita em tom de ameaa, profetizava alguns acontecimentos que efetivamente ocorreram logo depois, como, por exemplo, a queda da Monarquia na Frana, em Fevereiro de 1848, com a derrubada de Luis Filipe e a conseguinte proclamao da Repblica. mister que se diga que essa mudana ocorreu, claro, por vrias razes, dentre as quais as agitaes (sem teorizao poltica, mas apenas reivindicatria) do Movimento Operrio e de Socialistas (ditos Utpicos (1), por acreditarem que a repartio justa do produto do trabalho se daria em razo do senso de justia do Homem. Obviamente, uma quimera ingnua, tpica do Romantismo). (1) Talvez seja oportuno indagar, se Marx tambm no fora to ingnuo quanto os Socialistas, mormente, Saint Simon. Pois, se estes acreditavam na justa diviso por ser o Homem naturalmente tico; Marx acreditava na combatividade do Homem, quando o que est em jogo vai alm de seus interesses prprios. A participao desses Movimentos deu nova cor ebulio da poca e em Junho de 1848, ambos participaram da organizao do Levante que visava instaurar uma Repblica Social. Porm, a insurreio fracassou. No obstante esse fracasso pontual, o fato que toda Europa foi sacudida por ondas revolucionrias, de varias matizes e intensidades, que pretendiam desde Reformas Liberais e Democrticas at o fim da servido dos camponeses (esta, principalmente, na Rssia) e outras reivindicaes de minorias isoladas. E todas essas Revoltas eram vistas como o fantasma predito por Engels e Marx. A profecia havia tomado ares de tendncia histrica. Pois bem, em meio a essas rebelies, a dupla de filsofos retornou Alemanha para fundarem na cidade de Colona a Nova Gazeta Renana. Paralelamente comearam a participar das alas mais progressistas (ou

esquerdistas) dos grupos democrticos germnicos, mas com esses logo romperam por acharem-nos traidores dos Ideais Revolucionrios. O fato, contudo, que a Revoluo, aps ter atingido seu znite, j comeava a mostrar sinais de derrocada. A antiga ordem, monrquica e servilista, ou a Burguesa, voltavam a tomar o lugar que antes ocupavam e Marx acabou sendo expulso da Alemanha em 1849. Asilou-se primeiramente na Frana, mas tambm de l foi expulso e seguiu para a Inglaterra. Ali, meses depois, Engels a ele se juntaria. Em solo ingls, Marx passou a freqentar o Museu Britnico, onde estudou metodicamente a chamada Economia Poltica. Em 1852, publicou o livro O 18 Brumrio de Luis Bonaparte, referindo-se ao sobrinho de Napoleo Bonaparte. Nessa obra, expe seus estudos e suas concluses sobre os acontecimentos na Frana entre 1848 a 1851. Acontecimentos que resultaram no golpe de Estado aplicado pelo sobrinho do ex-imperador. Em 1866, Marx terminou o 1 volume de sua obra mxima O Capital, que foi publicado no ano seguinte. O trabalho com o livro manteve-o afastado da vida poltica direta. Limitou-se, na verdade, a polemizar contra as correntes polticas que lhe eram adversas. Todavia, deve-se registrar que em 1864 participou da fundao da chamada Associao Internacional dos Trabalhadores, em Londres. E foi precisamente essa Associao que mais tarde ficou conhecida como a 1 Internacional, cujo lema era: a emancipao da classe operria deve ser obra dos prprios operrios. Mais que uma sentena, ali j se indicava que os Proletrios no podiam (nem deveriam) esperar que sua libertao fosse concedida pela burguesia; ao contrrio, ela s seria efetiva se fosse conquistada pela luta dos trabalhadores. Caberia aos mesmos serem os protagonistas de sua histria. Foi, indubitavelmente, a primeira teorizao acerca da emancipao do Homem escravizado por outro Homem. O servo j no seria servo por um Decreto Divino. S o era porque permitia que

assim fosse. Livre de seu amo, ou patro, j no seria sustentado (como o fizerem crer os anos de dominao, onde se apelou at para os castigos na ps-morte, como a crena no Inferno, por exemplo) pelo seu dono. Sua sobrevivncia no necessitaria da caridade, mas estaria vinculada ao produto de seu trabalho. Atualmente, essa posio j parece ser quase que universalmente aceita, mas quando analisada em seu contexto histrico, nota-se a imensa transformao que propunha. Mudana, claro, que no interessava Burguesia que pressentia duas perdas: a primeira, seria perder o domnio e a explorao da fora de trabalho; e a segunda, seria a perda de seu status social e dos privilgios a ele inerentes. Se antes a idia do Direito Divino (i.e Deus determinaria (sic) que tipo de vida cada qual levaria) j se mudara da Nobreza para a Burguesia, seria possvel que com a ascenso do Proletariado esse Direito Divino fosse definitivamente enterrado e, com ele, os privilgios que alguns se davam apenas pelo fato de terem nascido em tal Classe Social e no em outra. Rano desse pensamento torpe ainda vige em nossos tempos e no raro que se desfrute de uma herana sem que se tenha tido qualquer mrito pessoal para faz-lo. Alis, vale-se at de Livros dito Sagrados, para legitimar (sic) o instituto da herana. Alguns os usam, inclusive, para reivindicar terras que formam Pases. E, note-se, que aqui no se advoga em favor de uma das partes, pois a outra faria exatamente igual. O que se questiona o Instituto que permite a transmisso das benesses, sem o sacrifcio ou capacitao, ou denodo etc. que as justificaria. Voltando 1 Internacional ver-se- que um dos objetivos de Marx era tomar o lugar das antigas correntes semi-socialistas ou Socialistas (o Socialismo Utpico, ou ingnuo) para que se implantassem verdadeiras organizaes de operrios dispostos a lutar para que se modificasse a estrutura vigente. J no havia lugar para os sonhos. Era preciso brigar (2) volte-se nota 1 sobre a tambm ingenuidade de Marx. Que fossem

organizaes capazes de fazerem a Revoluo e, atravs dela, tomarem da Burguesia o que esta lhes tirava espuriamente. Dessa viso participavam outras correntes do Movimento Operrio, dentre as quais, a ligada a PROUDHON [1809/1865] e a de BAKUNIN, tido como o cone do Anarquismo. Mas em 1870, a Prssia imps vrias derrotas Frana e sitiou a Paris de Luis Bonaparte, o sobrinho de Napoleo. Diante disso a populao decretou o fim da Monarquia (como j fizera em 1779, na Revoluo Francesa) e proclamou a Repblica declarando-se em Comuna; ou seja, dirigida por um Governo composto por vrias classes, dentre as quais aquela denominada de Operrios Internacionalistas que pregavam a unio de todos os trabalhadores do Mundo. A velha ordem que se assentava nos conceitos de Ptrias, povos, patriotismos, etc. eralhes absurda, pois sob esses ttulos o que existia era o mesmo em todo lugar: a explorao do Homem. Ento, que os Operrios do Mundo se unissem contra o verdadeiro inimigo e esse no era a classe operria de outro pas, mas sim a sua prpria Burguesia. Que se abolissem as fronteiras, pois na Nova Ordem essas divises eram arbitrrias e o prprio sentimento de patriotismo era s outra anestesia dada ao Proletariado para que esse no enxergasse seus verdadeiros verdugos. Alis, a famosa frase de Marx de que a Religio o pio do povo, ilustra perfeitamente esse conceito. Durante essa experincia de Governo Popular, Marx escreveu o texto que ficou conhecido como As Declaraes da Internacional, onde narrava os acontecimentos da poca. Posteriormente essa obra foi compilada e intitulada de A Guerra Civil na Frana. Foi uma poca cheia de fatos inusitados, hericos, dramticos e para o filsofo era a realizao de seus desejos. Segundo o prprio, era forma poltica finalmente encontrada para que o Governo Revolucionrio dos Trabalhadores vigorasse.

Alm das medidas de cunho libertrio (3) que hoje seriam classificadas como Progressistas ou Baderna, conforme a orientao poltica de quem as defina, para Marx a Comuna primou por destruir a Burocracia e o Militarismo belicoso do Antigo Estado. E, isso, sob seu ponto de vista era o suficiente para eliminar a opresso da Burguesia sobre o Proletariado. Porm, esse sonho revolucionrio foi esmagado em Maio de 1871 por outro Governo Burgus, segundo Marx, que se organizou em Versalhes e que de imediato negociou o armistcio com a Prssia. Na prpria Internacional as lutas de diferentes concepes sobre as idias do filsofo geraram acirradas disputas e mesmos cismas que resultaram, em 1876, na dissolvio do movimento. Engels e Marx ainda participaram esporadicamente do Partido Social Democrata Alemo, mas no ano de 1883, Marx faleceu. E em 1895, Engels, que, no entanto, ainda conseguiu tempo e energia para compilar as anotaes de Marx, as quais originaram o II e o III volumes de O Capital. Sobre essa obra nos estenderemos a seguir. O CAPITAL Para quase a unanimidade das pessoas esse trabalho a Obra Prima de Marx e no raro que seja tido como um livro de Economia. O subttulo Critica da Economia Poltica, evidentemente, contribui para essa classificao. Porm, na verdade, o cerne do mesmo desvendar o que a Economia Cientifica Burguesa, conforme Marx, jamais pde explicar: o porqu, qual o motivo, que leva um Homem explorar outro Homem. Dessa lucubrao surgiram dois pontos bsicos na teoria marxista: a Mais-Valia e o Exrcito de Reserva. MAIS-VALIA Neste ponto, por ser um dos escopos deste Ensaio, creio ser oportuno estendermo-nos um pouco mais. uma nomenclatura que define bem o Pensamento de Marx e que, via de regra, usada de maneira errada.

Grosso modo e de forma bem resumida, para Marx a mais valia sinnimo de apropriao indevida, ou simplesmente roubo. O furto que o Patro pratica contra o Empregado. Poderemos analisar essa afirmativa recorrendo a uma semi parbola: O trabalhador no tem os MEIOS de PRODUO, ou seja, ele no tem mquinas, capital, terras etc. que so necessrios para que se produza alguma coisa. Tem apenas sua fora fsica e/ou intelectual. E ela que ele oferece ao Patro que tem os meios de produo. Pois bem, ambos disporo de algo para que em sociedade produzam alguma coisa. O sentimento de justia mais comezinho diria que o correto seria a diviso igual do produto gerado entre os dois scios. Porm. . . Para Marx a prpria idia de que h uma Sociedade ou Associao entre Patro e Empregado, ou entre Burgus e Proletrio falsa, na medida em que o principio de distribuio igualitria do produto fabricado solene e arraigadamente negado. Logo, no h porque se falar em Associao. O que h, desde o principio, a pura Lei da Selva. O mais forte (ou ardiloso, inescrupuloso, insensvel etc.) domina o mais fraco. Quando o Trabalhador troca sua fora (fsica e/ou intelectual) por um salrio, deixa automaticamente de ser um Scio, j que seu ganho fixo e no proporcional aos ganhos auferidos pela Sociedade; e se torna apenas mais um dos insumos necessrios Produo. O trabalhador passa a ser s mais uma mercadoria ou matria prima que se compra por um preo pr-estipulado. Outrossim, o ganho do Capitalista diretamente proporcional ao lucro gerado pelo Produto que fez. Digamos, que a parte que ele investiu na Sociedade (os meios de produo: mquinas, ferramentas, terras etc.) foi mais rentvel que o investimento que o Trabalhador fez. Claro que quando no h prejuzo. Mas mesmo nessa hiptese, ser sempre o Trabalhador o mais prejudicado, pois antes de outras despesas o seu salrio cortado,

quando no o prprio posto de trabalho. Porm, ao contrrio de outros insumos (ou commodities) que tm os preos fixos, mas tambm sua utilidade e/ou importncia, o Trabalhador Mercadoria produz mais valor em cada coisa que faz. (4) Imagine-se o seguinte: compra-se um caminho capaz de transportar 10 toneladas, por certo preo; todavia, esse caminho ser adaptado (ou treinado), ou simplesmente explorado para carregar 15 toneladas. Assim, ele d um lucro extra de 5 toneladas em cada trabalho que execute. E mesmo sendo explorado ele continuar funcionando com a mesma quantidade de combustvel, manuteno e outros cuidados bsicos. Com o Trabalhador Coisa, (ou era mais explicito na poca de Marx) o mesmo. O valor daquilo que o Trabalhador produz vai alm do que lhe necessrio para sobreviver. (5) outro exemplo dessa situao: Patro e Trabalhador necessitam cada um, de doze sacas de farinha, para sobreviverem. Contudo, a produo da sociedade entre ambos rendeu, digamos, vinte e quatro sacas para cada um. Ou seja, doze a mais que suas necessidades bsicas. Pela lgica do equilbrio, esse excedente seria dividido em partes iguais (ou o mais prximo possvel dessa igualdade). Mas, claro, NO o que acontece, pois o preo ao trabalhador fixo, independentemente de sua produo superar o valor que lhe pago. Pois bem, Capital e Trabalho produziram 48 sacas, das quais doze so de propriedade do Trabalhador enquanto que as 36 restantes so do Capitalista. Dessas trinta e seis, subtraia-se a dzia que lhe necessria subsistncia e as 24 sacas excedentes ele as usa como melhor lhe aprouver. Sero, essas vinte e quatro sacas, o que Marx chama de Mais Valia. Obvio que o Capitalista, por receber mais que o Trabalhador, viva em melhores condies, dando oportunidade aos seus descendentes de se aprimorarem (ou ao contrrio, relaxarem ao ponto do lumpesinato),

terem melhor alimentao e por conseqncia melhor sade, mais vigor e todas as demais vantagens que o rendimento maior pode comprar. Alm desses gastos, ainda haver uma sobra que, geralmente, usada para adquirir (ou reinvestir no negcio) mais e mais meio de produo. E com isso, afirmar contnua e progressivamente a sua Posio de Predominncia na sociedade que estabelece com o Trabalhador, dando-se o Direito de exigir progressivamente maiores bocados dos lucros auferidos. Mais e mais, torna-se o Scio Majoritrio que dita as regras que nortearo as Sociedades que j mantm, ou as que venha manter com os Proletrios. Isto colocado chega-se constatao de que o Aumento de Poder do Capital irreversvel, na mesma medida em que a miserabilidade do Trabalho. Patres sero, ento, seres demonacos que se comprazem com o sofrimento alheio, enquanto que os Trabalhadores so vitimas inocentes dessa malvadeza? A resposta no to simples. Abaixo veremos o que forma essa massa de obreiros que se sujeita explorao; e que, por isso, permite a existncia da Dinmica do Capitalismo, que, alis, nesses tempos atuais, aceito quase que universalmente. E essa massa de trabalhadores ou Proletrios tem nome: O EXRCITO DE RESERVA Aps termos exposto como acontece explorao de um Homem pelo outro, inevitvel que se pergunte: por que o explorado se sujeita a isso? Ser um covarde congnito? Um preguioso incapaz? Um boal que no se dispe a correr riscos? Fazendo-se uma leitura rpida e superficial, pode-se at concordar com algum desses adjetivos. Porm, essa m reputao s pode ser usada, com um mnimo de justia, quando o exemplo oposto (ou seja, o Capitalista bem sucedido) seja aquele (e s ele) que criou e desenvolveu sua fbrica, sua fazenda, seu banco etc. Mas, quando o Proletrio passa a ser classificado numa das categorias acima, tomando-se por base de

comparao os herdeiros (salvo as excees), essa adjetivao torna-se injusta, inoportuna e, no mais das vezes, s aceitvel pela induo ocorrida no processo de formao dos indivduos que herdam as riquezas de seus antecessores, ou dos que herdam as mazelas de seus progenitores. (. . .uma mentira dita mil vezes, torna-se uma verdade . . ) Pois, seno, vejamos: O Senhor Fulano por ser trabalhador, inteligente, ponderado, econmico e dono de outras qualidades construiu uma Indstria de Mveis, por exemplo, que se firmou como uma das maiores e melhores do Pas e, por isso, ele enriqueceu. Teve a devida recompensa pelos seus mritos. Mas o herdeiro, Senhor Fulaninho, o oposto do Pai. Pouco inteligente, crdulo em Seitas Esotricas ou em Fundamentalismo Religioso, preguioso, perdulrio etc., desfruta da fortuna que seu pai conquistou. Se antes a recompensa pelos mritos era plenamente justificvel, agora se torna imoral. Ainda que seja legal (alis, s legal porque quem faz as Leis so, freqentemente, outros Senhores Fulaninhos) Mas o Senhor Fulaninho nunca questionou, ou se perguntou, donde lhe veio esse Direito. Claro, que aqui se est generalizando. Obvio que existem as excees. Mas o fato que aps mais de 10.000 anos de Histria, ainda se usa a falcia do Direito Divino para justificar imoralidades. Como se Deus escolhesse arbitrariamente quem viveria melhor ou pior. Muito bem, por outro lado, o Senhor Beltrano nasceu habilidoso, capaz, trabalhador etc., porm, como seus genitores s puderam oferecer-lhe o estritamente necessrio para que sobrevivesse no pde avanar alm do que a falta de estudo, de sade, de vigor etc. permitiram-lhe. Tambm, claro que se est generalizando, pois historias de sucesso sempre existem, at porque o Senhor Fulano acima existiu e enriqueceu por mritos prprios. E outros, tambm assim o faro. Mas vamos nos abster dessas individualidades e atentar para o que Marx chama de o Motor da Histria, que a Luta de Classes.

Ora, se olharmos para as parbolas acima veremos que a Dinmica do Capitalismo a perpetuao da explorao de uma Classe pela outra. Todavia, essa mesma dinmica em algum momento ser, conforme Marx, o prprio coveiro do Sistema, quer pela melhor conscientizao do Proletariado, quer pela prpria autodestruio dos Capitalistas, na medida em que os herdeiros tornar-se-o continuamente mais despreparados, frgeis, incapazes etc. E assim ficaro porque no sofreram com as exigncias que a vida imps aos seus antepassados e no se fortaleceram como deveriam. Poder-se-ia dizer que: amoleceram, tornaram frouxos. Quase o mesmo que j teria ocorrido com a Monarquia, pois se existiram os Imperadores capazes de aumentar seus Imprios, Domnios e Poderes, seus sucessores (de novo, salvo as excees) por no terem desafios, afundaram-se no cio pernicioso que levou ascenso da Burguesia; a qual, tambm pelo mesmo motivo acabar sendo extinta. Mas at que isto ocorra, voltemos anlise do Exrcito de Reserva em seu cotidiano de luta desesperada pela sobrevivncia. O autor deste ensaio no Psiclogo, mas usando (e no sei se poderia, ou deveria) de uma Psico-Sociologia muito rasa ousar entrar na seara que se segue. Quando analisamos a Lei Geral da Vida encontramos a situao bsica de que vivem os mais fortes e sobrevivem os que lhes obedecem. claro que aqui estamos generalizando, mas sei que o leitor tem o discernimento suficiente para entender o porqu se despreza as consideraes midas. Pois bem, essa situao de tal modo onipresente e constante que acabou sendo vista e tida como inevitvel. um fato, e pronto! Pouqussimos a questionam e acabou tornando-se uma tradio que resignadamente se aceita. obvio que no se sustenta ao menor questionamento Racional (ou ser que sim? Posto ser a Razo um produto diretamente ligada ao fsico, concreto?), ou tico.

Porm, quase que inevitvel, at porque a prpria tica uma mera conveno que tenta equilibrar o jogo bruto da fora fsica. prprio da natureza dos Seres (inclusive os Humanos) cuidarem primeiramente de seus interesses e s depois (desde que haja alguma sobra) repartir com os demais. Pois bem, a dinmica do Capitalismo o que de melhor se adapte a essa idiossincrasia. Cada qual cuida de seus interesses, com tica ou no, para repartir eventuais sobras. E aqui se chega numa conta, perversa para alguns, que, no obstante, tem se mostrado eficiente: repartem-se as sobras de tal modo que se permita ao Proletariado (o scio minoritrio) sobreviver sem que possa avanar para alm disso, e, conseqentemente, tornar-se, por sua vez, outro Burgus que haveria de disputar o naco que lhe seria devido por ter chegado Burguesia. E esse pedao ele tomaria de algum ou de todos, os quais ficariam mais pobres. Logo, prudente que o Proletrio no avance. Temos, ento, que o Capitalismo quase que congnito. Nasce com o Homem. O Homem nasce capitalista. O Proletrio condicionado a servir e o Burgus a ser servido. Porm, em certos momentos, a injustia na repartio dos produtos do trabalho contestada por algum, ou por alguns, ou por alguma Classe Social etc. E quando acontecem as revoltas, guerras civis, golpes de Estado, tiranias e congneres. Mas at que se chegue a esse ponto de fervura, o Sistema continua funcionando e se tem de volta a questo original: por que o Proletrio no se recusa a ser ludibriado? aqui, novamente, que entra em cena o Exrcito de Reserva. Embora de forma miservel (e para os que duvidem, convido-os a esperarem por horas, em um dos Prontos (sic) Atendimentos pblicos) o Proletariado consegue sobreviver. E lembremos que esse o instinto primeiro. E para sobreviver, qualquer Ser (inclusive o Humano) no hesita em se desvencilhar de qualquer outro pudor ou questionamento. Seja ele de

ordem Moral, ou no. Quer-se viver. Tambm ser til que sempre recordemos que as Classes servis so chamadas de Proletariado precisamente porque geram Proles. Normalmente, vastas proles. Proliferam! E que esse o segundo instinto mais presente em todos os Seres (Humanos, inclusive). Proliferar. Conservar a Espcie. Ento, juntando-se esses dois Instintos Bsicos e Imperativos, chega-se gnese primeira do Exrcito de Reserva. O Proletrio se sujeita injusta diviso do que ajudou a fazer porque TEM que sobreviver, porque TEM que procriar. E sabe, quase que instintivamente (ou porque foi adestrado a acreditar nisso) que se no se sujeitar haver muitos outros que ocuparo, de bom gosto, seu trabalho. Desse modo, a reserva de mo de obra infinita e perpetua a Lgica do Sistema Capitalista. No decorrer do Tempo vrios Pensadores tentaram justificar essa inqua diviso. Teorias que iam desde a indolncia de certas raas, obtusidade de outras, inaptido de certas pessoas etc. existiram em quase todos os momentos da Histria e atualmente ainda existem com vigor. Se antes, os negros precisavam serem cuidados pelos brancos, ou os ndios precisavam serem cristianizados e salvos do Inferno, ou que a limpeza tnica era indispensvel, atualmente v-se a xenofobia, o dio contra os imigrantes e outros tristes exemplos existirem em quase todos os lugares. Alguns filsofos (ser correto chamar-lhes de amigos do conhecimento?), como Spencer chegaram a usar a Teoria da Evoluo de Darwin o chamado Darwinismo Social para validar o esqueleto da Sociedade. Contudo, essa hierarquizao de Classes e Homens no apenas uma questo de carter. Ou da falta de honestidade intelectual. Analisando-se a Histria, ver-se- que muito mais uma questo de usurpao. De violenta usurpao. Os Homens mais cruis dominam os mais mansos,

como, alis, acontece em qualquer outro ajuntamento de Seres. O leo mais forte, o lobo mais astuto, o Homem mais inescrupuloso etc. Essa usurpao violenta (quer seja fsica ou no) que consolidou, em certa medida, o Capitalismo pode ser vista at nos nossos dias, nos quais j vigoram Leis e Costumes que tentam disciplinar essa mecnica de explorao e conseqente acumulao de riquezas por um lado e de miserabilidade por outro. o que se chama de Social Democracia. Admite-se que a ferocidade seja a substncia de todos os Seres, mas tenta-se dom-la. Mesmo que os resultados no sejam exatamente o esperado. Mas essa ser a nica gnese do Exrcito? Em essncia sim, mas o que mudar ser o gnero. A fraqueza, agora, gentica. A entrada da mulher no mercado de trabalho ser a segunda provedora de mo de obra. Antes que se chame o autor deste Ensaio de machista chauvinista, quero deixar claro que reconheo e apoio em total plenitude o direito de todos e todas buscarem a realizao profissional e pessoal no campo e terreno que melhor lhes aprouver; mas o que se discute aqui no esse direito, mas sim o mau uso e a manipulao que dele fazem os exploradores. E alguns destes, nem o fazem por maldade intrnseca, so apenas peas do jogo do Capitalismo e jogam sem se questionar a validade de tal jogo. A questo do trabalho feminino se ver mais amide posteriormente. Voltando a Marx, pode-se perguntar se essa explorao ser perptua? O Homem sempre explorar os outros seres, inclusive os outros Homens? Para o filsofo, no necessariamente. E essa pausa no se dar por ocorrer um sbito sentimento de Justia entre os Proprietrios, que em certo momento decidiriam repartir de forma equilibrada os lucros do trabalho que realizam em consrcio com os Trabalhadores, ou seja, com seus scios minoritrios. Para Marx, o fim do Capitalismo ocorrer por culpa do mesmo, na medida em que permite ao Proprietrio o

acmulo de recursos e conseqentemente de Poder, enquanto agrava a misria do Proletariado. Ter-se- ento duas situaes que podem ou no serem concomitantes. A primeira situao a que se d com o inevitvel encalhe do que foi produzido, pois Proletrios miserveis no compram e com isso a ciranda do Capitalismo pra. Menos consumo igual a menos produo, menos empregos e fim de lucros. Para o Patro o reflexo imediato ser o fim de seu ganho, s vezes exorbitante, e o acumulo de Capital (e de Poder). J para o Proletariado ser o aumento de sua misria, seno de sua fome. E ser justamente essa segunda situao que gerar o amplo e aberto conflito entre as Classes, do que resultar o fim das mesmas. E a sociedade que surgir ser a Sociedade Comunista, ou seja, aquela em que tudo comum, tudo de todos. Todos sero iguais. Para Marx e Engels, ser a culminncia da trajetria da evoluo humana. Pela vez primeira agiremos diferentemente de outros animais, onde a fora que dita a hierarquia. invejvel esse Romantismo ingnuo de ambos. Pensarem que os Homens podero pular essa barreira e deixarem de se comportar como qualquer outro bicho. Agora, em retrospectiva, sentimos quo patticos* e sentimentais foram. Mas na poca em que viveram ainda era permitido sonhar. (*estou certo da cultura dos leitores que me deram a honra, mas para que se evitem mal entendidos, vale frisar que o vocbulo Pattico NO sinnimo de Ridculo, como est em moda dizer). Todavia, sonhavam diferente de outros Utpicos. Para ambos a diviso no se daria espontaneamente. Seria imperioso haver luta aberta e franca entre Proletrios contra Burgueses. Sua utopia era a de que os Homens lutariam por algo que fosse alm de seus prprios interesses. Que lutassem por uma Causa. Mas o que talvez no conhecessem (ou no quisessem aceitar) o fato de que a gnese do Exrcito de Reserva vincula-se aos instintos bsicos de sobreviver e proliferar. E que essa origem pode ser

decomposta segundo os gneros. E ento se v a importncia do trabalho feminino como supridor de mo de obra. Embora com o risco de ser repetitivo, vale reafirmar que no se questiona o direito ao trabalho que as mulheres conquistaram, pois alm da realizao profissional e pessoal, esse mesmo trabalho as libertou do jugo masculino, da violncia, das humilhaes e de todas as outras mazelas a que foram submetidas ao longo da Histria e que, a bem da verdade, ainda hoje existem. Mas voltemos ao cerne da nossa anlise. Abstraindo, em tese, esse direito legitimo e inquestionvel e nos atendo apenas s questes econmicas e polticas, nos depararemos com o seguinte: o Homem, aps a Revoluo Industrial passou a enfrentar a concorrncia com seus pares e com as mquinas. Para aquele que, como o autor, j viveu mais de cinqenta anos fcil lembrar como o advento dos computadores enxugou postos de trabalho em bancos, escritrios e outros. um simples exemplo, mas que reproduz o ocorrido em geral. E como a tecnologia avana rapidamente claro se afigura que o problema tende a se agravar, malgrado os postos de trabalho que surgirem por conta dessa nova situao. Assim, o concorrente que era UM (outro Homem), passou a ser DOIS (o outro homem e mais a mquina). Com as Guerras Mundiais, principalmente a Segunda, a mulher assumiu os trabalhos que os homens fariam, vez que eles foram enviados para os campos de batalha; e o que deveria ser transitrio tornou-se definitivo. Ento, os concorrentes do Homem j no eram um, nem dois. Mas sim, TRS (outro homem + mquinas + mulheres). E o que pior, todos eles se sujeitando a ganhar menos. As mquinas, uma reles manuteno; e a mulher, um salrio que ainda hoje gira em torno de 60% do que era pago ao operrio. Com esses novos dados, no foi a Classe Trabalhadora que chegou ao Paraso; mas, ao contrrio, foi a Burguesia (conforme obra artstica de Guarnieri) que pde a partir de ento usar e dispor ao seu bel prazer da

excessiva oferta de mo de obra. Mas, pode-se indagar: se o Exrcito de Reserva cresceu, em algum momento a sua indignao tambm cresceria, certo? A princpio sim. Mas por que no aconteceu? Pela ardilosidade (ou inteligncia, como se prefira) da Burguesia que entendeu o tamanho da fera que criou e para evitar ser destroado pela mesma, aumenta, sem que isso lhe cause prejuzo, as raes dirias que a mantm bem comportada e, at, submissa. E to ordeira e pacifica que aceita de bom grado os mimos que a publicidade transforma em necessidades; aceita as iluses (mormente nos casos femininos) de que h independncia (como de fato existem algumas conquistas) e superao profissional em comparao ao trabalho masculino e, por fim, de que no futuro todos sero felizes. Quando Marx disse que a Religio era o pio do povo foi modesto, pois alm dela, agora existe a possibilidade de consumir. E algum consumo afaga os Egos e mantm a linha de produo trabalhando sem maiores problemas. EPLOGO No inicio desse Ensaio aludiu-se Crise Fi