JUP Março 2012

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SOPA E PIPA ARRUMADAS. RESTA A ACTA Desde Fevereiro que os preços para os transportes públicos e para o Passe Social estão mais elevados. Os estudantes serão particularmente afectados por esta subida. A Comissão de Trabalhadores da STCP declara a "Certidão de Óbito" da empresa. Jornal da Academia do Porto | Ano XXIV | Publicação mensal | Distribuição gratuita director Nuno Moniz | chefe de redação Maria Eduarda Moreira directora de fotografia Ângela Ribeiro| director criativo Sergio Alves SOPA E PIPA ARRUMADAS. RESTA A ACTA ESCOLA DE MOVIMENTO Durante o último ano o debate sobre a liberdade de expressão e censura na Internet "explodiu". Dum lado a indústria da música, do outro os consumidores e a Internet. A SOPA e a PIPA já foram parar à "gaveta". O Parlamento Europeu votará em Junho o futuro da ACTA. Com o objectivo de formar jovens atletas e de promover o crescimento da modalidade, a Escola de Movimento, clube do Norte sediado nas instalações da FADEUP, tem vindo a crescer desde a sua criação em 2006. Neste momento conta com cerca de cem atletas. O desemprego sobe e o desemprego jovem ainda mais. Vários membros do actual Governo, incluindo o próprio Primeiro-Ministro Passos Coelho sugeriram a emigração como uma possível solução para o desemprego jovem. Fomos ver os dados e falámos com uma "emigra" em Berlim. INTERNACIONAL / P 14 DESPORTO/ P 16 MAIS AUMENTOS NO PASSE SOCIAL GOVERNO E A EMIGRAÇÃO SOCIEDADE / P 12 MARÇO 2012 Para manter a tendência dos últimos anos, alguns alunos só receberão bolsa na segunda metade do ano lectivo. O número de desistências do Ensino Superior disparou, as verbas para Acção Social diminuiram. Com estes cortes, resta saber como ficará o saldo final de bolsas entregues e recusadas. DESTAQUE / P 04 - 07

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Jornal da Academia do Porto | Ano XXIII | Publicação mensal | Distribuição gratuita | director Nuno Moniz | chefe de redação Maria Eduarda Moreira | director criativo Sergio Alves | directora de fotografia Ângela Ribeiro | directora de ilustração Mariana, a Miserável

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SOPA E PIPA ARRUMADAS. RESTA A ACTA

Desde Fevereiro que os preços para os transportes públicos e para o Passe Social estão mais elevados. Os estudantes serão particularmente afectados por esta subida. A Comissão de Trabalhadores da STCP declara a "Certidão de Óbito" da empresa.

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SOPA E PIPA ARRUMADAS. RESTA A ACTA

ESCOLA DE MOVIMENTO

Durante o último ano o debate sobre a liberdade de expressão e censura na Internet "explodiu". Dum lado a indústria da música, do outro os consumidores e a Internet. A SOPA e a PIPA já foram parar à "gaveta". O Parlamento Europeu votará em Junho o futuro da ACTA.

Com o objectivo de formar jovens atletas e de promover o crescimento da modalidade, a Escola de Movimento, clube do Norte sediado nas instalações da FADEUP, tem vindo a crescer desde a sua criação em 2006. Neste momento conta com cerca de cem atletas.

O desemprego sobe e o desemprego jovem ainda mais. Vários membros do actual Governo, incluindo o próprio Primeiro-Ministro Passos Coelho sugeriram a emigração como uma possível solução para o desemprego jovem. Fomos ver os dados e falámos com uma "emigra" em Berlim.

INTERNACIONAL / P 14

DESPORTO/ P 16

MAIS AUMENTOS NO PASSE SOCIAL

GOVERNO E A EMIGRAÇÃO

SOCIEDADE / P 12

MARÇ

O 2012

Para manter a tendência dos últimos anos, alguns alunos só receberão bolsa na segunda metade do ano lectivo. O número de desistências do Ensino Superior disparou, as verbas para Acção Social diminuiram. Com estes cortes, resta saber como fi cará o saldo fi nal de bolsas entregues e recusadas.

DESTAQUE / P 04 - 07

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EDITORIAL E OPINIÃO02 JUP — MARÇO 2012

EDITORIAL

� Dando um grande viva ao rumo que o JUP tem seguido nos últimos anos – pelo me-nos desde que o conheço, aceitei, no mês de Janeiro, o convite para dirigir este jornal.

A discussão pública, tal como o jornalismo, está hoje assombrada e mergulhada na discussão económica, nos números. Essa ciência que, nos dias de hoje, já não parece ser considerada como sendo uma ciência social, mas apenas como a poesia da ma-temática e a lógica pura. Sem qualquer julgamento depreciativo para quem os poetas e poetisas.

Sempre me causou alguma confusão ler declarações de membros de Governos que vão contra o seu passado político, ou contra a realidade espelhada normalmente em números, muitas vezes até apresentados em paralelo na mesma página.

A discussão em torno das referidas operações aritméticas, sempre apresentadas de maneira muito clara e simples – o Ministro Vitor Gaspar é um verdadeiro mestre de cerimónias no que diz respeito à fala pausada – consegue convencer qualquer pessoa, de qualquer coisa, que não olhe com atenção para a informação disponibilizada todos os dias. Se assim não fosse, a contradição diária de membros deste Governo seria alvo de chacota pública, inclusivé à porta das respectivas casas.

Primeiro, por estupidez propagandística. Tentar convencer um país de que um Orçamento de Estado, como este e os anteriores, são contas de mercieiro ou duma casa, é tentativa propositada de enganar. A mítica e sempre recorrente frase em situ-ações de caos financeiro do “gastámos mais do que tínhamos” é o seu maior sinal. Aliás, seria bastante oportuno lembrar, em nome da coerência, que uma boa parte da afamada dívida que estamos a pagar foi contractualizada por um qualquer Governo PSD, com ou sem CDS.

Segundo, por estupidez patriótica. Faz-se do fim da tolerância no Carnaval um teste à ridícula e suposta fibra patriótica dizendo que é tempo de “saber quem quer lutar para vencer a crise”. Argumenta-se com “contas simples” como disse Passos Coelho a um jornalista: “basta o senhor dividir o nosso PIB pelos dias de trabalho”, para saber quanto se perderia ao haver tolerância. Não será complicado explicar a uma pessoa como o Primeiro-Ministro que supostamente é economista, que nem tudo é matemá-tica. Por exemplo, o facto de imensas freguesias deste país terem inúmeras actividades populares nesses dias, nas quais as pequenas e médias empresas, tão esquecidas que foram no “argumentário”, são das maiores beneficiárias. Não há coerência no essen-cial quando a decisão é caprichosa e uma tentativa de pedagogia dum antigo ensino – à reguada até endireitar. O facto de muitas juntas de freguesia e câmaras municipais afectas ao PSD terem ignorado o Primeiro-Ministro, é um clara resposta.

Terceiro, por estúpidas tentativas seguidas de convencimento geral. Este Governo começou dizendo que o acordo da Troika (essa entidade por vezes abstrata, que tanto serve para justificar o bem como o mal) era suficiente. Passou para um fase confiante de “nem mais dinheiro, nem mais tempo”. E acabou encolhido dizendo que não sabe se será preciso algum ajustamento ao acordo: “nós não sabemos se precisaremos disso [algum ajustamento] ou não. Esperemos que não.”.

Enquanto a “banda passa”, corta-se a gordura do Estado privatizando as empresas que davam receitas e são monopólios naturais, corta-se em tudo o que são apoios sociais porque o que o pessoal precisa é de incentivo para trabalhar, e para este Go-verno a pobreza extrema parece ser um bom incentivo, aumenta-se os preços de tudo e vamos lá, “num grande esforço nacional” como diria outra pessoa, ver se esta “treta” vai ao sítio.

O JUP fará o seu papel. Seguirá as situações inaceitáveis no Ensino Superior e re-portará toda a informação que for possível, no sentido dos alunos do Ensino Superior no Porto poderem saber exactamente o que se passa. Reportará o que se passa no país e a nível internacional. Informará o que se passa no Porto sobre desporto e se-guirá com muita vontade a actualidade da Cultura. O trabalho é muito, mas isso já era de esperar! • Nuno Moniz

Quando a bota não bate com a perdigota

Apologia das Humanidades

U ma das graves consequências da implementação de políticas neoliberais, que visam a drásti-

ca diminuição do peso do Estado na so-ciedade, é o desprezo a que são votadas as Ciências Sociais e Humanas. Este país quer-se de engenheiros e gestores, e não de filósofos e historiadores...

O processo de cientificação das Hu-manidades desenvolveu-se, em larga medida, no quadro do Estado. No sé-culo XIX, por exemplo, a História tor-nou-se uma ciência com um método próprio e com um corpo de profissões a si associadas no momento em que os Estados-nação, valorizando, por motivos ideológicos, as suas raízes, or-ganizaram arquivos e museus, prepa-raram expedições arqueológicas e re-formaram e fundaram universidades.

No século XX, o estudo científico da Literatura, da Sociologia, da Filosofia, aconteceu, essencialmente, em uni-versidades públicas e em organismos a elas ligados. Estas áreas, por nature-za, não são lucrativas, mas os poderes, enquadrados em diferentes regimes, lá foram reconhecendo a sua impor-tância intelectual.

Atualmente, o discurso da moda é o do empreendedorismo. Nós, jovens, só somos bons cidadãos se formos empreendedores, se tivermos capaci-dade para criar o nosso posto de tra-balho e, com isso, gerar riqueza para o país. Caso, eventualmente, tenhamos algum gosto pela filosofia medieval, queiramos conhecer as línguas clássi-cas ou estudar literatura, como não é expectável que a partir daí se abra uma

empresa, somos uns preguiçosos, que estudam coisas que não servem para nada e querem viver à custa do Estado.

Nos últimos anos, o número de pro-fessores nas faculdades que estudam Humanidades tem descido drastica-mente. Os apoios públicos à investiga-ção científica nestas áreas são cada vez menores. Nada indica que este cami-nho esteja em vias de se inverter, pelo contrário. Cabe ao Estado e aos pode-res públicos tomar medidas. É urgente uma política de investigação científica que valorize as Ciências Sociais e Hu-manas. É urgente que as universidades não votem estas áreas ao esquecimen-to. É urgente que o discurso dominan-te não despreze as Humanidades. Até porque eu, lá porque estudo história medieval, não sou piegas. • Diogo Faria

DIRECÇÃO NJAP/JUP

presidente Ricardo Sá Ferreiravice-presidente Dalila Teixeiravogal JUP Luís Monteirovogal galerias Hugo Sousapublicidade Sandra Mesquita

DIRECÇÃO JUP

director Nuno Monizdirector criativo Sergio Alveschefe de redacção Maria Eduarda Moreiradirectora de fotografi a Ângela Ribeirodirectora de ilustração Mariana, a Miserável

EDITORES

educação Maria Eduarda Moreirasociedade José Mirandadesporto Ricardo Nortoncultura Vera Quintasinternacional e economia Irina Castroopinião Luís Monteiro

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

André Gonçalves, Carolina Vaz-Pires, Christina Branco, Cláudia Santos, Daniela Armada, Diogo Faria, Diogo Fernandes, Fábio Silva, Filipa Guimarães, Filipa Sousa, Inês Ramos, Irina Castro, Irina Ribeiro, Joana Caria, Joana Cruz, Joana Domingues, João Brandão, João Mineiro, José Miranda, Leonor Figueiredo, Luísa Gomes, Maria Eduarda Moreira, Mariana Sousa, Mayrén Vargas, Miguel Heleno, Miriam Sousa, Nuno Moniz, Paulo Alcino, Pedro Canário, Pedro Santos Ferreira, Raquel Costa, Ricardo Norton, Sunamita Cohen, Tiago Reis (UP) e Vera Quintas

ilustradores — Anoik, Artur Escarlate, Jorge Amador, Lara Luís, Marta Sofi a Nunes, Miguel Sousa, Sofi a Palma e Tiago Soares da Costa

imagem de capa Anoikdepósito legal nº 23502/88tiragem 10.000 exemplaresdesign sergio-alves.comtipografi a Mafra by DSType e Trump Gothic by Canada Type paginação Francisco Gusmão (estagiário)

pré-impressão Jornal de Notícias, S.A.impressão Nave-printer - Indústria Gráfi ca, S.A.propriedade Núcledo de Jornalismo Académico do Porto/ Jornal Universitárioredacção e administração Rua Miguel Bombarda, nº 187 - R/C e Cave | 4050-381 Porto, Portugaltlf 222 039 041e-mail [email protected]

APOIOS

Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude

Querem falar de cinema? citando Rita Blanco - “Mas é que já não há”pela secretaria de estado da cultura

S e existissem cinemas no porto, que não fossem em superfí-cies comerciais, se o cinema do

campo alegre não tivesse só um fi lme em cartaz com duas sessões, se a ci-nemateca portuguesa tivesse prestado serviço público, criando um polo no porto, hoje teria ido ao cinema. E já que o ICA deixou de ter fi nanciamen-to, que o ministério da cultura acabou, este quadradinho é ocupado pelo pro-

testo contra as políticas anti-cultura ou pró-cultura-só-para-uma-elite. Estão a matar a cultura em Portugal, a aniquilar a hipótese de se fazer e ver cinema em Portugal. Fazendo com que quem trabalha em cinema não tenha grande escolha e que, nós, es-tudantes de artes, estudantes no geral, espectadores, não tenhamos outra es-colha que não seja um grande centro comercial. Porque nada substitui a ex-

periência de ver um fi lme numa sala, no escuro, numa tela gigante.

A cultura devia e deve ser para to-das as pessoas, não apenas para um pequeno núcleo de pessoas informa-das que sabem onde ir para ver bom cinema.

Uma foto em branco pela morte lenta da cultura em Portugal. • Miriam

Sousa

expectável que a partir daí se abra uma medieval, não sou piegas. • Diogo Faria

Querem falar de cinema? citando Rita Blanco - “Mas é que já não há”pela secretaria de estado da cultura

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JUP — MARÇO 2012 03OPINIÃO

Apologia das Humanidades

Ricardo Lisboa | 25 anosEstudante de Mestrado em Engenharia Civil

Podemos evitar reciclar ou emigrar facilmente. É só darmos às agências molas e ocúlos baços com uma imagem de algo paradisiaco e num instante somos outra vez AAA++++. E sentimos logo mudança no mundo, ahah Não.•

Bruno Pacheco | 19 anosEstudante de Arqueologia FLUP

No dia em que isso surgisse, teríamos uma grande revolta mundial e certamente viveríamos num planeta mais ecológico a nível fi nanceiro, pois quem seriam recicladas seriam as agências de rating. •

Artur Basto | 19 anosEstudante de Design de Comunicação na ESEIG

Sou da opinião que as ditas agências não vão querer saber, enquanto que o povo se vai esforçar para "reciclar" todo esse lixo que as próprias agências e seus associados criaram. Em bruto é isso. •

Tiago Alves | 19 anosEstudante de Arqueologia FLUP

Bem, eu creio que a parte da emigração, para já, fi cou clara que se destinava aos professores, pelo menos cá em Portugal. No entanto, quando classifi carem isto tudo como lixo, sempre temos a recente descoberta do Kepler 22-b. Talvez nos mandem para lá, e quando nos mandarem seria bom começar tudo de novo, mas sem agências de rating, que já basta os estragos que fi zeram no nosso planeta.. Mas até lá, convinha pensarmos numa reciclagenzita, pelo sim pelo não. •

Quando os ratings disserem que somos lixo, vão-nos mandar

emigrar ou reciclar tudo?

Podemos evitar reciclar ou emigrar facilmente. É só darmos às agências molas e ocúlos baços com uma imagem de algo paradisiaco e num instante somos outra vez AAA++++. E

por Luís Monteiro

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04 JUP — MARÇO 2012DESTAQUE

CRESCE O núMERO DE ESTUDAnTES QUE DESiSTEM DO EnSinO SUPERiOR POR CAUSA DO ATRASO nA ATRibUiÇãO DAS bOlSAS DE ESTUDO.por André Gonçalves, Daniela Armada, Filipa Guimarães, Inês Ramos, Joana Cruz, Joana Domingues, João Mineiro, Luísa Gomes, Maria Eduarda Moreira e Raquel Costa ilustração Anoik

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JUP — MARÇO 2012 05DESTAQUE

Está longe de uma resolução definitiva a problemática atribuição de bolsas de estudo aos estudantes do ensino superior. Enquanto há quem ainda não saiba se vai ou não receber o apoio, muitos são aqueles que não resistem às dificuldades financeiras e, por isso, colocam um ponto final na vida académica.

Segundo dados da campanha "Natal Negro no Ensino Superior", no final de 2011 eram já cerca de 6 mil os estudantes que até então teriam abandonado o Ensino Superior.

O principal problema é o atraso na atribuição dos apoios do Estado, que está a provocar duas situações diferentes que acabam por ter resultados idênticos. Se por um lado centenas de alunos ainda aguardam resposta – Luís Rebelo da Federação Académica do Porto afirmou ao Público que “ainda há 20 a 25% dos alunos da Universidade do Porto à espera do resulta-do da candidatura à acção social” -, por outro verificam-se “irregularidades” na distribuição das verbas. Sobre este assunto, o presidente da FAP disse que “não tem havido datas fixas para o pagamento”, sabendo que este, por norma, é efectuado até o dia 8 de cada mês. Hél-der Castro, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho, confirmou ao mesmo periódico que o prazo tem sido alargado até ao “dia 20 de cada mês”.

Por agora sabe-se que, em todo o país, foram indeferidos 40 mil processos de candidatu-ra aos Serviços de Acção Social, que representa um aumento de 45% face ao ano passado, muito por culpa nos novos regulamentos na atribuição das bolsas de estudo, valores que podem ser directamente relacionados com este agravamento do número de renúncias no ensino superior. •

Nos últimos dois anos os números de candidatu-ras a bolsa foram semelhantes - 104.336 no ano lectivo 2009/2010 e 104.909 em 2010/2011. Este ano verifica-se uma quebra de 7,6%, para 96.888 candidaturas.

Segundo fonte próxima do JUP, no passado dia 5 de Março, a percentagem de candidaturas ana-lisadas estava fixada nos 89,5%.

A percentagem de bolsas deferidas até ao mo-mento é de 52,5%, correspondendo a 45.513 can-didaturas, sendo que no ano transacto, excluíndo as bolsas atribuídas segundo o regime transitório de Mariano Gago, o número ascendeu a 56.799.

O JUP apurou também que a bolsa média até ao momento é de 1.798,82€, correspondendo a uma bolsa mensal, durante 10 meses, no valor de 179,88€. No Ensino Superior Público o valor dessa média é de 1811,96€ (181,20€ por mês). No Ensino Superior Privado o valor está por enquan-to nos 1709,50€ (170,96€ por mês).

Em 2010 os apoios ficaram mais difíceis com a mudança do conceito de agregado familiar. Passam a fazer parte todas as pessoas que vivam em economia comum, entre parentes e afins (maiores ou menores) em linha recta até ao 3.º grau, isto é, avós, netos, adoptados e adoptantes. São os rendimentos e bens de todas estas pesso-as que são contabilizados para a atribuição dos apoios sociais.

Em Outubro de 2010, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior anunciou o início do pagamento das bolsas a partir de 15 de Ou-tubro e garantiu que o novo regulamento “não implicaria qualquer atraso no pagamento para todos os estudantes que tenham rece-bido bolsa de estudo no ano de 2009/2010 e mantenham condições de elegibilidade”. Cansados de esperar pela de-finição das regras técnicas, as AE’s entregaram no Ministério uma proposta para agilizar o processo e assim se realizou o Encontro Nacional de Direc-ções Associativas.

Foi lançado, em início de Setembro, um novo regula-mento “que pretende evitar atrasos na análise e distribui-ção de bolsas no ano lectivo de 2011/2012, procurando as-segurar o cumprimento dos objectivos pretendidos pelo sistema de Acção Social”. •

Ainda em fase de análise de candidaturas, mais de duas mil bolsas de estudo solicitadas já foram indeferidas.

A actual conjuntura económica e social faz com que um elevado número de estudantes soli-cite aos SASUP uma bolsa de estudo.

Para o ano lectivo de 2011/2012 foram apresentadas 6745 candidaturas, sendo que 1429 dessas foram pedidas por alunos do 1ºAno, pela pri-meira vez. Um total de 4108 candidaturas foi efectuado por estudantes já bolseiros em 2010/2011 e 1208 por es-tudantes não bolseiros no ano lectivo anterior.

Até ao dia 13/01/2012 já ha-viam sido analisados 4401 pro-cessos de candidaturas, faltan-do assim a verificação de 2344 pretensões a bolsas de estudo, que nesta altura deverão estar a ser analisadas. Neste mo-mento 1988 processos foram diferidos, enquanto 1290 pro-cessos foram indeferidos. Mais 359 processos aguardam por documentação ou informação

adicional e 764 têm instrução incompleta, sendo por isso rejeitados.

Em relação ao motivo de indeferimentos dos processos já analisados, 536 das 1290 candi-daturas rejeitadas têm como causa o facto dos membros do agregado familiar estarem sem a sua situação contributiva regularizada. Outro dos principais motivos para o indeferimento, num total de 276 candidaturas, diz respeito ao agre-gado familiar ter um nível superior ao limiar de carência, enquanto 244 propostas foram inde-feridas em resultado da falta de aproveitamento escolar do aluno universitário. Já menos habitu-ais (77) são os casos de estudantes inscritos em menos de 30 ECTS. Também surgem 21 candi-daturas indeferidas com o motivo de património superior a 240 IAS, e 8 processos sem inscrição no presente ano lectivo.

Sem grande relevância nos números totais sur-gem outros 128 processos que igualmente foram indeferidos com base em diversos motivos, que vão desde: a não entrega nos prazos estipulados, a desistência do processo, conclusão do curso fora do período estabelecido, bem como a exis-tência de membros do agregado familiar sem a situação tributária e contributiva regularizada. •

Adriano Fontes Licenciatura em Arqueologia, FLUP

“Desisti da faculdade por não ter possibilidades para pagar as propinas. Já tinha interrompido os estudos por essa razão mas este ano consegui reunir dinheiro suficiente para pagar o que tinha em atraso e pedi bolsa. Foi-me recusada porque num dos anos em que não fui à faculdade tinha--me inscrito e não congelei a matrícula. Não nado em dinheiro, tenho de trabalhar para pagar os estudos e sobreviver. Nunca tenho a certeza se vou receber a horas e, por isso, estou a tentar encontrar outro emprego. O meu plano para este verão é ir apanhar fruta. Tenho esperança nisso.”

Manuel Oliveira Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica, FEUP

“Candidatei-me à bolsa de estudo porque não tenho maneira de pagar os estudos. A minha mãe está desempregada e, para sobreviver, tem tentado fazer qualquer coisa que apareça. Ain-da estou à espera de uma resposta dos SASUP porque houve um erro de avaliação na primeira apreciação. Se não tiver direito à bolsa terei de procurar trabalho. Mesmo assim, não sei se será uma solução porque o ano já vai a meio. Ainda não sei muito bem o que fazer.”

Catarina Vieira Licenciatura em Ciências do Meio Aquático, ICBAS

“No ano passado decidi concorrer à bolsa por-que era muito difícil conseguir pagar os estu-dos. Os rendimentos do meu agregado familiar baseavam-se no salário e na pensão de viuvez da minha mãe. A minha irmã estava desempregada. Os SASUP negaram-me o direito à bolsa, alegan-do que os rendimentos eram superiores aos exi-gidos. Este ano não me candidatei porque a mi-nha irmã já arranjou emprego e eles iam alegar novamente excesso de rendimentos. Está a ser muito complicado lidar com as despesas.”

> NúMEROS REvElAM ATRASOS E bUROcRAciA

> AbANDONO E POTENciAl AbANDONO DE AlUNOS

> SASUP REJEiTA PERTO DE 3% DAS bOlSAS DE ESTUDO

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06 JUP — MARÇO 2012DESTAQUE

O novo período de candidaturas a bolsas realizou-se entre os dias 16 e 31 de Janeiro deste ano. Este novo período destinava-se a alunos do primeiro ano, de licenciatura e mestra-do. O concurso foi aberto por despacho do Secretário de Estado no seguimento de uma recomendação da Assembleia da República. De acordo com João Carvalho, director dos SASUP, “a Assembleia da República, através dos vários grupos parlamentares, percebeu que haveria muitos estudantes do primeiro ano que não submeteram as suas candidatu-ras na primeira fase para o efeito”. Tal motivo justifi cou a abertura de uma segunda fase de candidaturas, de maneira a que todos os alunos do primeiro ano que falharam o pe-ríodo normal, o pudessem fazer nesta fase, sem colocar em risco as condições do acesso ao ensino superior.

Confrontado com a hipótese de existir um novo período, para além do estabelecido em Janeiro, o Director dos SASUP supõe que tal não irá acontecer pois, “quem é competente para abrir candidaturas a bolsa de estudo é o director geral. Em termos de regulamento, não temos conhecimento que haja neste momento, qualquer intenção por parte da direc-ção geral de abrir novo prazo de candidaturas”.

Neste novo período, correspondente ao mês de Janeiro, as candidaturas submetidas foram duzentas e cinquenta, de acordo com João Carvalho: “Não é um número muito signifi cativo relativamente àquilo que é o universo dos estudantes que ingressaram pela primeira vez na Universidade do Porto, que são à volta dos quatro mil”.

No que diz respeito a alunos que já estavam inseridos no ensino superior não vão existir novos prazos. Segundo o director dos SASUP, “as oportunidades que houve para os que já es-tavam dentro do sistema já se esgotaram, neste momento não há nenhum prazo em aberto”. •

Nos dias 19, 20, 21 e 22 de Janeiro do presente ano, o Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA) decorreu em Ponta Delgada, nos Açores.

Na ordem de trabalhos deste ENDA, do qual fi zeram parte mais de cinquenta Associações Académicas e de Estudantes (AAEE) de todo o país, as principais temáticas abordadas foram as Políticas de Juventude, Financiamento e Acção Social. As questões relativas à Acção Social fo-ram o maior alvo de discussão, com a apresen-tação de documentos que ilustram as vontades dos estudantes.

A Federação Académica do Porto (FAP) e as respectivas Associações Académicas de Estu-dantes apresentaram nove moções, todas elas aprovadas: Acção social directa (bolsas de estu-do), Acção social indirecta, Novo prazo de regu-larização dos processos de candidatura a bolsas de estudo, Manutenção do desconto de 50% no passe sub23, Financiamento do Ensino Superior, Regime de estudante a tempo parcial, Políticas de apoio ao associativismo estudantil, Promoção do voluntariado e, por fi m, Celebrações do cin-quentenário do dia do estudante.

No que diz respeito ao balanço do ENDA 2012, Hélder Castro, presidente da Associação Aca-démica da Universidade do Minho, sublinhou a importância da sua realização para o reforço das reivindicações “que têm marcado a agenda do movimento associativo dos últimos tempos”. Em última instância, afi rmou que “foi apenas um passo no longo caminho que o movimento asso-ciativo tem pela frente”.´ •

Qualquer estudante que vá de Erasmus, indepen-dentemente de ser bolseiro ou não, tem acesso a uma bolsa de Erasmus (pertencente ao Progra-ma Erasmus), distribuída pela Agência Nacional, através da Universidade do Porto. As faculdades arrecadam verbas consoante os candidatos que têm e, por sua vez, cada aluno recebe um de-terminado valor conforme as distribuições que são feitas pela própria faculdade dependendo do país de acolhimento.

Existe ainda a bolsa EILC - Erasmus Intensi-ve Language Courses – um curso intensivo até 6 semanas, que permite aos alunos de Erasmus aprender a língua do país de acolhimento e que pode ser financiada, dependendo dos rendimen-tos de cada candidato.

Para Madalena Teixeira, que viveu uma experi-ência de 6 meses de Erasmus em Roma, o dinhei-ro “não chegou, nem de longe”. A renda da casa era de 325€ mensais, com despesas adicionais de dois em dois meses. Apesar da bolsa Erasmus ser apenas uma ajuda aos estudantes, Madalena afir-ma que não está bem aplicada de país para país, onde o nível de vida é muito diferente. •

> NOVO PERÍODO DE CANDIDATURAS> ENDA 2012: ENCONTRO DÁ VOZ AOS ESTUDANTES

> BOLSA ERASMUS

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JUP — MARÇO 2012 07

Contavam-me e eu não queria acreditar. Seis meses depois do início do ano lectivo, ainda há estudantes à espera que o seu processo de atribuição de bolsa seja avaliado. Que estranho sistema é este em que é possível suspender a democracia no Ensino Superior durante seis meses e deixar estudantes sem qualquer apoio? Que estranho movimento associativo é este que não se levanta perante tamanha injustiça para com os estudantes que supostamente representa? Que estranho governo é este onde os atrasos nas bolsas nem parecem ser uma preocupação? Que estranho país é este onde é pací-fi co que democracia no ensino possa ser suspensa?

Há pouco mais de uma semana saí de uma reunião com os Serviços de Acção Social onde discutimos a acção social, o regulamento de atribuição de bolsas e o impacto da crise na vida dos e das estudantes. Da reunião trouxe a materialização numérica da realidade que os diversos governos e seus respectivos carreiros de fi la do movimento associativo querem escon-der: há cada vez mais estudantes a perderem a bolsa de estudo e a abando-narem o Ensino Superior por não terem dinheiro para suportar a elitização do Ensino Superior em Portugal. Mas não é tudo. Na reunião tive também a confi rmação das sucessivas queixas que os e as estudantes vêm reafi rman-do pelo país fora: seis meses depois do início do ano, ainda há processos de atribuição de bolsa a serem avaliados!

A realidade é assustadora. Estudantes a cancelarem matrículas por ra-zões económicas. Estudantes a passarem difi culdades porque perderam a bolsa. E estudantes há seis meses em difi culdades económicas porque o seu processo de atribuição de bolsa ainda está em avaliação. Como é que um ou uma estudante com difi culdade económicas se conseguem manter no Ensino Superior durante 6 meses à espera que o seu processo de bolsa seja avaliado? De que é que vivem os e as estudantes? Onde vivem? O que comem? Que recursos têm para ter uma vida social e cultural a que têm tanto direito como qualquer cidadão e cidadã? Como é que os e as estu-dantes vão sustentar as despesas de um ensino cada vez mais pensado e dirigido para quem o pode pagar? Recorde-se que segundo Luísa Cerdeira, especialista em acção social escolar, o custo médio de um estudante no público, a estudar no litoral é de 6870 euros por ano e em casa dos pais é de 5180 euros. Perante a dureza da realidade, já não colam os discursos desresponsabilizadores de que o problema da acção social é de que “há uns que recebem muito e não merecem e que depois não há dinheiro para os que merecem”. O problema é o regulamento de bolsas, o problema é o fi nanciamento, o problema é burocracia policial do sistema, o problema é a destruição da função social da Universidade!

Algum dirigente associativo deste país consegue aceitar que um estu-dante tenha que esperar meio ano pelo democrático direito à bolsa de estudo? Alguém neste país é a favor que os e as estudantes tenham que esperar 6 meses para terem a sua bolsa de estudo? Pois então que se saia do amorfi smo paralisante em que parece estar o movimento estudantil em Portugal. Que se juntem as e os estudantes que não acei-tam mais que a educação seja um luxo, que se juntem as suas Associações de Estudantes que estão comprometidas com os direitos dos estudantes e que se pressionem aquelas que não estão, que se juntem os Serviços de Acção Social, os Reitores, os Professores, os funcionários e os investigadores. Que se juntem os agentes educativos, todos sem excep-ção. Que se juntem todas as pessoas que não aceitam a democracia suspensa, que não aceitam que estudantes tenham que esperar 6 meses para terem esse tão básico direito de igualdade democrática no acesso ao ensino como é a bolsa de estudo. Na defesa da de-mocracia no Ensino Superior em Portugal toda a gente faz falta, e somos sempre poucos, para tantos desafi os, combates e oportunidades. •

No início do 2º Semestre, contam-se mais de 22 mil estudantes à espera de bolsa de estudo. O atraso deve-se à demora nos processos de avaliação das candidaturas bolsistas por parte dos Serviços de Acção Social, que, até ao momento, avaliaram apenas 77% das candidaturas. Devido a este facto observam-se crescentes desis-tências escolares, pedidos de ajuda e situa-ções de carência.

Luísa Cerdeira, Pró-Reitora e Professora da Universidade de Lisboa, não compreen-de o atraso, considerando que o processo de análise nos Serviços de Acção Social estava estabilizado. No entanto, enumera dois possíveis factores que justifiquem a situação: a mudança do regulamento de bolsas num momento em que já está a de-correr o ano lectivo e por isso não há tem-po suficiente para testar as novas regras e a introdução da plataforma electrónica pela Direcção Geral do Ensino Superior, que de-via acelerar e tornar o processo mais rápi-do, mas que levou a grandes complicações.

O atraso na atribuição de bolsas de es-tudo levou os alunos a não pagarem pro-pinas, e a adiar, muitas vezes, a decisão de anular a matrícula. A professora da Univer-sidade de Lisboa, constata que há cada vez mais estudantes com dificuldades econó-micas, o que poderá reflectir o atraso dos apoios sociais fornecidos aos estudantes universitários.

Além disso, Luísa Cerdeira julga “que se deveria ter como prioridade não diminuir o apoio social aos estudantes e manter, pelo menos, o apoio social que se prestava na dé-cada anterior”. Por outro lado, a Pró-reitora defende a manutenção do nível de propinas e o mecanismo de actualização vigente. •

> SUSPENDER A DEMOCRACIA DURANTE 6 MESES?

CORTES NAS BOLSAS – A OPINIÃO DE LUÍSA CERDEIRA

DESTAQUE

n

OPINIÃO

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08 JUP — MARÇO 2012EDUCAÇÃO

por Christina Brancofotografia DR Metro do Porto

Notícia: Este ano, agravando a situação económica de muitos dos estudantes, as novas medi-das do governo para reestruturar as finanças de Portugal passam também pelo aumento dos pre-

ços dos transportes públicos. Fala-se num au-mento de cerca de 5%, depois de um aumento em média de 15% em Agosto passado, tanto em bilhetes ocasionais como em passes e assinatu-ras mensais, incluindo as que tipicamente apre-sentam desconto, como as de estudante e refor-mado. Além disso, há uma mudança radical nos diferentes tipos de assinaturas mensais.

Vejamos então o cenário que mais toca aos es-tudantes da Academia do Porto, o perfil sub_23 da rede Andante, que até ao ínicio de Fevereiro permitia um desconto de 50% face ao valor de um passe normal, desde que o estudante apre-sentasse no início de cada ano lectivo uma de-claração de que estava inscrito no ensino supe-rior e um comprovativo da sua idade. Este tipo de cartão será mantido para os actuais beneficiários (mas com o desconto reduzido para 25%) mas não estarão disponíveis para os novos utilizado-res, que terão o cartão Estudante (também com desconto de 25%). O mesmo acontece para o perfil 4_18 (para utilizadores dos 4 aos 18 anos que frequentem a escola). Esta mudança só se mantém até Julho deste ano, em que o desconto passará a depender do rendimento do agregado familiar. Para os alunos que comprovem que es-tão abrangidos pelo escalão A o 4_18 continuará com 50% de desconto.

Também os tarifários monomodais têm um fim à vista. A partir de Janeiro deste ano, deixa

de ser possível adquirir um passe só para auto-carro ou metro, e a partir de Fevereiro de 2013 estes passes deixarão de existir. No caso da STCP, o aumento dos preços já ocorreu em Agosto, afectando os detentores de títulos mensais A (Porto) e ABC (rede geral), e que terão de pagar mais 2,5 euros, no primeiro caso, e 2 euros, no segundo, passando a pagar 29 e 44 euros, como incentivo a mudarem de tarifário, uma vez que os intermodais têm preços mais competitivos. Os actuais assinantes destes passes beneficiam de um desconto se alterarem para um passe Andan-te nas modalidades de 6 ou mais zonas, e 10 ou mais zonas, correspondente ao preço diferencial de uma e duas zonas, respectivamente. Ou seja: o detentor de passe STCP que compre uma as-sinatura Z6 paga o equivalente a um Z5. Quem passe para um Z10, pagará o equivalente a um Z8. Também os passes só para dias úteis vão deixar de existir. Salienta-se que se continua a poder comprar um bilhete de uma só viagem a bordo do STCP, o vulgo “agente único” que agora custa 1,80€, sofrendo um aumento em 0,15€ em Agos-to e 0,05€ em Fevereiro.

Mas nem em tudo o Governo cortou. Criou um passe com desconto de 25% exclusivo para refor-mados, pensionistas e crianças que viajem fora das horas de ponta, bonificação esta que pode ser acumulada com outros descontos. Os reformados que recebam o rendimento social de inserção e o complemento solidário para idosos mantêm um desconto de 50%. O Passe Social+ é alargado a famílias com rendimentos até 1258 euros, que tenham dois sujeitos passivos e dois dependentes (idosos ou jovens), com descontos progressivos consoante o rendimento. Além disso, o preço do

passe Andante para três zonas (Z3) desce de 36,5€ para 36€, que o aproxima do passe equivalente em Lisboa. Não há um aumento dos preços do Andante Tour, direccionado para turistas.

Assim, os títulos sociais mensais, que passam a ter o preço único para todas as categorias (salvo as excepções mencionadas acima) terão o valor de 22,50€ para Z2, 27,00€ para Z3 e 35,25€ para Z4.

Nos títulos ocasioniais, os aumentos andam entre os cinco cêntimos num Z2, que passa a custar 1,15, e os 30 cêntimos num Z9, que fica por 3,50. Nas assinaturas mensais sem bene-fício social, o Z2 passa de 28,4 para 30 euros, o Z4 de 44,6 para 47 euros, o Z5 sobe de 52,9 para 56 euros e o Z6 sofre um aumento de 6,3%, mais acima ainda da média ponderada de 5%, e passa de 61,15 para 65 euros. Os títulos para 24 horas sofrem igualmente aumentos, que vão de 15 cên-timos para viagens em Z2 aos 1,60 euros em Z10.

Mas não é só no aumento dos preços que os utentes dos trans-portes públicos são prejudicados. O grupo de tra-balho nomeado pelo Governo para estudar a oferta de transportes na Área Metropo-litana do Porto propõe o corte das linhas 505, 507 (Matosinhos), 706, 707 (Valon-go), ZF (V.N. de Gaia) e 804 (Gon-domar); a STCP fará ainda a resci-são dos contratos com os operado-res privados das linhas 64, 70 (Va-longo), 10, 55, 68, 69, ETG 1 e ETG 2

(Gondomar), mantendo os subcontratos das li-nhas 61 e 94 (ambas terminando em Valongo, da empresa VALPI). A Comissão dos Trabalhadores da STCP, SA, num comunicado enviado a vários órgãos de comunicação social, interroga-se com esta decisão de suspender contratos com todas menos uma empresa e declara a “Certidão de Óbito” da empresa. Além disso, haverá uma di-minuição na frequência dos autocarros em diver-sas carreiras, sobretudo ao fim-de-semana.

É claro que estas alterações não são bem acei-tes pelos utilizadores regulares dos transportes públicos. Carlos Pinto, porta-voz do MUT-AMP (Movimento de Utentes dos Transportes da Área Metropolitana do Porto) disse ser “inadmissível” que o passe mensal (Porto A) para terceira ida-de, pensionista ou reformado “aumente de 14 euros para 21,75 euros. “É um aumento brutal, demasiado forte e muito injusto” Disse ainda

que os “serviços públicos estão a degradar-se de dia para dia” e que “os aumentos nos trans-portes públicos seguem a mesma linha que os registados nas taxas moderadoras e no acesso à saúde. A vida das populações está cada vez mais dificultada. Nesse sentido, apelo à manifestação. Nada disto faz sentido”.

Na tarde do dia 31 de Janeiro, nas ruas Alexan-dre Braga e Fernandes Tomás (junto à estação de Metro do Bolhão) manisfestaram-se cerca

de duzentas pes-soas. “Não e não ao aumento dos transportes!" e "A troika manda, o Governo rouba e o povo paga!" foram algumas das pala-vras gritadas pelos manifestantes, que chegaram a inter-romper a Rua de Fernandes Tomás durante cerca de um quarto de hora.

Em Lisboa, também há alte-

rações significati-vas nos preços e tipos de passes mensais. Assim, foi criado o novo passe “Navegante”, que associa os actuais passes combinados “Carris e Metro de Lisboa urbano” ao da CP, nos circuitos urbanos de Lisboa, por 35 euros. A modalidade que per-mite associar os passes “Carris e Metro de Lisboa rede” à CP Lisboa custa 40 euros. Vão também ser criados passes Navegante combinados com a Transtejo/Soflusa: até Cacilhas vai custar 45 euros; para o Barreiro 56,1 euros; e o que inclui o Seixal e Montijo vai custar 49,5 euros. Deixa de ser possível fazer novas adesões aos passes monomodais da Carris e do Metro. Em Janeiro de 2013, deixam de existir os passes e outros tí-tulos que permitem utilizar apenas um meio de transporte, à excepção dos bilhetes comprados a bordo da Carris, um pouco como se verifica no Porto. O passe normal Carris urbano a 30 dias sobe para 29 euros e o passe Carris rede 30 dias passa a custar 35 euros. O preço dos bilhetes a bordo mantém-se: 1,75 euros nos autocarros e 2,85 euros nos eléctricos. O passe mensal do Metro aumenta de 23,90 euros para 29 euros. Já o passe para toda a rede do Metro sobe de 32 para 35 euros. Tal como no Porto, algumas carreiras da Carris serão cortadas (10, 777, 790, 797, 203 e 205, três das quais têm como fim de linha o Instituto Superior de Educação de Lisboa), uma melhoria em relação à expectativa do corte de 23 carreiras e uma ligação fluvial da Transtejo.

Ano Novo, preços novos:transportes a aumentar desde FevereiroOs tEMPOs sÃO DE AUstERiDADE E As MEDiDAs DO gOvERnO vOltAM A inCiDiR nOs tRAnsPORtEs. vêM Aí AUMEntOs DE PREÇO, A AfECtAR, EM PARtiCUlAR, Os EstUDAntEs.

EstE tiPO DE CARtÃO [sUb_23] sERá MAntiDO PARA Os ACtUAis bEnEfiCiáRiOs (MAs COM O DEsCOntO REDUziDO PARA 25%) (...) [EM JUlhO] O DEsCOntO PAssARá A DEPEnDER DO REnDiMEntO DO AgREgADO fAMiliAR.

Os AUMEntOs nOs tRAnsPORtEs PúbliCOs sEgUEM A MEsMA linhA qUE Os REgistADOs nAs tAxAs MODERADORAs E nO ACEssO à sAúDE

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JUP — MARÇO 2012 09EDUCAÇÃO

Roma, a cidade eterna

Roma, conhecida como a “cidade eterna”, é visitada por cerca de 6 mi-lhões de pessoas por ano. Quem cá vive, como eu, mesmo que há pouco tempo, bem sabe o quão comum é encontrar um português na rua, falando bem alto como se ninguém o percebesse, sem saber que por perto estão os meus ouvidos que o decifram bem. A questão que se coloca é: o que atrai tanta gente à capital de Itália?

A resposta é simples. A verdade é que a cidade está repleta de coisas para ver e atrai um vasto leque de interesses. Começamos o dia na Piazza del Popolo, uma praça ampla normalmente preenchida de pessoas e vendedores de rosas e geringonças. Subindo umas escadas, chegamos ao topo da praça que nos pro-porciona uma vista completa da cidade.

Seguimos a Via del Corso, uma das maiores estradas de Roma, a qual nos mostra a parte mais cosmopolita da cidade, não tivesse ela três lojas da mesma marca na sua extensão, uma delas com três andares. Pelo seu caminho podemos chegar a outros dos destinos mais procurados pelos turistas. Se virarmos à esquerda encontramos a Piazza di Spagna, com as grandes escadarias onde milhares de pessoas se sentam diariamente. Pou-co depois a Fontana di Trevi, melhor apreciada no horário nocturno, na qual não existem milhares de pessoas a bloquear a vista, tentando tirar fo-tografias ao que os deixou boquiabertos ou fazendo os seus desejos serem concretizados por alguns cêntimos que caem nas águas da fonte.

Os caminhos perpendiculares à direita oferecem-nos outras regalias. Pas-samos primeiro pelo Panteão, construído como templo de homenagem a to-dos os deuses da Roma Antiga, e que faz pensar como algo tão imponente foi feito no século II e ainda hoje se mantém intacto. Bem perto encontra-se a Giolitti, a mais conhecida gelataria de Roma, que faz a delícia de todos nós, deixando na boca o sabor do gelado mais inesquecível da nossa vida. Com toda a gula, não nos podemos esquecer de percorrer a Piazza Navona, uma verdadeira surpresa, visto que todos os dias nos conta algo diferente. Por vezes encontramos dezenas de artistas, desde pintores a músicos, que partilham o que de melhor sabem fazer. Noutros dias podemos ser surpreendidos por uma feira de produtos natalícios e não só, com direito a carrossel para divertir os pequenos. Mas que nada nos distraia de explorar as duas fontes que, como todos os monumentos de Roma, parecem ser construídas com a maior das precisões. Para os mais endinheirados, quem sabe, jantar neste ambiente será certamente agradável, já que opções não faltam na praça de que falamos.

No final da Via del Corso, e repito o nome para que não se esqueçam do mesmo, chegamos à Piazza Venezia que, nas décadas de 30 e 40, se enchia de gente quando Benito Mussolini discursava da varanda do seu gabinete, localizado no Palácio Venezia. Na mesma praça encontra-se um monumento de honra a Vittorio Emanuele II, que conseguíamos avistar há meia hora atrás, no início da rua, e agora nos parece muito maior do que alguma vez imaginamos.

Ainda tão pouco foi dito e ainda tanto haveria para ver. Por questões de economização de espaço, tentaremos ser mais rápidos, agora que fugimos do centro de Roma e nos deslocamos para a periferia. Bem perto da Piazza Ve-nezia encontra-se o Coliseu, o monumento mais badalado da cidade e que não poderá desiludir ninguém. Basta tentar imaginar o que se passava naquele mesmo local há muito, muito tempo atrás, e deixar-se invadir pela história. História essa que já percorremos, em direcção ao mesmo, ao passar pela rua dos Fóruns Romanos. Já noutras artérias de Roma podemos visitar a Ponte Mílvio, onde milhares de casais deixam cadeados como prova de amor eterno, o “Jardim das Laranjas”, com uma vista pública do nascer ao pôr-do-sol para a cidade e, bem perto, a fechadura duma porta pela qual uma fila de gente espreita, descobrindo o “segredo de Roma” que, por questões óbvias, não será revelado neste texto. Mas há mais, muito mais.

Andemos por onde andemos, olhemos para onde olhemos, há sempre algum pormenor que nos tinha escapado e que agora já vemos, há sempre algo belo para conhecer, há sempre um sorriso na cara ao a percorrer. De “eterna”, não tem mesmo nada pouco. Para compreender o conceito, bas-ta visitar e, acima de tudo, viver. •

texto e fotografia João Brandão (Erasmus em Roma)

IST suspende centenas de projectos por falta de fi nanciamento

Manuel Loff sobre a sessão do “Praxis” no Porto

O INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO (IST) ESTÁ EM RISCO DE TER DE SUSPENDER CENTENAS DE PROJECTOS DEVIDO A NÃO PODER ASSUMIR COMPROMISSOS PARA OS QUAIS NÃO TENHA DISPONIBILIDADE FINANCEIRA A CURTO PRAZO.

A SESSÃO DO “PRAXIS” NO PORTO ENCHEU O PASSOS MANUEL COM UMA “MANCHA NEGRA”

D evido ao Decreto-Lei que es-tabelece as normas de execu-ção orçamental para o corren-

te ano, aprovado pelo actual Governo de Passos Coelho, o Instituto Superior Técnico (IST) poderá ser obrigado a suspender centenas de projectos de investigação envolvendo dezenas de milhares de euros.

Arlindo Oliveira, presidente do IST, defendeu, em declarações ao jornal “Público”, que a norma aprovada pelo Governo que não permite os organismos públicos de contractualizarem compro-missos para os quais não tenham dispo-nibilidade financeira a curto prazo “não é exequível no caso dos projectos de in-vestigação” das universidades. Explicou ainda que “temos de contratar pessoas, equipamento e só depois no fim com os resultados do projecto é que recebe o fi-nanciamento”.

Segundo Arlindo Oliveira, o Minis-tério da Educação e Ciência, tutelado

pelo ministro Nuno Crato, “também está preocupado com esta situação”.

O presidente do Técnico, também em declarações ao “Público”, apre-sentou duas soluções para o problema: se a obrigação prevista no decreto-lei nº32/2012, publicado anteontem em Diário da República, “não se aplique às receitas próprias das universida-des mas só às verbas provenientes do Orçamento do Estado”. E se, por outro lado, “os fundos [do OE] que já cá estão disponíveis de anos anterio-res também sejam considerados para efeitos desta disponibilidade”.

O IST enviou um comunicado, na altura, em que alertava para o risco de não ser só a actividade científica que estaria em risco mas também a “pres-tação de serviços por um período inde-terminado”. Referiu-se ainda ao facto deste “bloqueio” poder causar a perda de milhões de euros ao IST e contribuir para “a fuga de talentos e a degradação

do tecido científico nacional”.O IST não foi a única instituição de En-sino Superior com problemas nas áre-as de Investigação & Desenvolvimento ao longo dos últimos meses.

Em Setembro, o Conselho de Admi-nistração da Fundação da Faculdade de Ciências, entidade responsável por gerir as verbas destinadas ao desenvol-vimento de projectos de investigação científica, informava que, dada a dívida que a Fundação para a Ciência e Tecno-logia tinha para com a instituição, esta não tinha capacidade financeira para garantir a continuidade dos projectos de investigação cujos saldos fossem negativos logo a partir de Outubro.

Em Outubro, através duma nova cir-cular, informou que a FCT teria proce-dido à transferência das verbas neces-sárias para garantir o pagamento das bolsas de investigação apenas até ao final do mês de Dezembro. • Nuno Moniz

O documentário “Praxis”, de Bruno Moraes Cabral, já che-gou ao Porto. Após a exibição

no cinema Passos Manuel, no dia 26 de Janeiro, estudantes e professores pronunciaram-se sobre o sentido da praxe actual.

“Praxis” ganhou o prémio de Melhor Curta-Metragem Nacional no Doclis-boa 2011. “Eu quis ser o mais objectivo possível e não introduzir comentários ou opiniões. As praxes falam por si”, explicou o realizador à TVI24.

Manuel Loff, professor de História na Faculdade de Letras da Universi-dade do Porto, foi interveniente no debate e descreveu-o como surpreen-

dentemente positivo: “Mais de meta-de da assistência estava trajada, tinha sido assumidamente mobilizada por SMS’s que tinham corrido com a ideia de que no Passos Manuel ia estar um documentário contra a praxe. De iní-cio receei que o tom do debate fosse incivilizado e não foi”.

Sobre a definição de praxe, Manuel Loff considera ser uma “Obediência cega a ordens que não se discutem, emitidas por pessoas cuja autoridade não se discute e não se sabe muito bem qual é”. Se quisermos associá-la a uma ideologia, o professor da FLUP afirma que ela “está no fascismo”. Neste sen-tido, confessa: “Eu não consigo medir

o carácter voluntário de quem lá está. Nós somos gregários, queremos fazer parte do grupo. Se nos dizem que esta é a forma de integração, nós participa-mos”. E continua: “os valores da uni-versidade são democraticidade da vida, liberdade de opinião e de expressão, rigor na análise, cientificidade na visão do mundo… a praxe é alguma coisa dis-to? É compatível com os ideais do ensi-no superior”.

O termo “praxe” surgiu em 1863 na Universidade de Coimbra e, apesar de alguns interregnos, tem estado sempre presente na vida dos estudantes por-tugueses. O debate, esse, parece não ter deixado de existir nunca. •

Manuel Loff sobre a sessão do “Praxis” no PortoA SESSÃO DO “PRAXIS” NO PORTO ENCHEU O PASSOS MANUEL COM UMA “MANCHA NEGRA”

A área Audiovisual e Multimédia da Lusófona do Porto estreia formação pós-graduada

O curso de Comunicação Audiovisual e Multimédia (CAM) na Universidade Lusófona do Porto conta agora com uma pós-graduação na mesma área. Corresponde à parte curricular do mestrado em CAM, lecionado também na Universidade, pelo que todos os que a concluírem poderão inscrever-se no mestrado, com a finalidade de enriquecer e dar continuidade à formação nesta área.

A pós-graduação em Comunicação Audiovisual e Multimédia tem como objetivos gerais a formação de profissionais com qualificação superior, munidos de um conjunto de instru-mentos conceptuais e teóricos indispensáveis à análise e à investigação dos processos de comunicação audiovisual e de comunicação nos suportes digitais contemporâneos, nomea-damente a Internet.

Este diploma pretende aprofundar os conhecimentos técnicos e artísticos de licen-ciados em artes digitais ou comunicação audiovisual e multimédia e/ou profissionais na área da comunicação social e da produção multimédia, de modo a criar e desenvol-ver bases culturais e de experiência prática que permitam uma teorização da atividade.

Constituem um contributo para profissionais de diferentes áreas e setores nacionais estratégicos que incluem, além da televisão e do cinema, instituições públicas e priva-das, indústrias culturais e criativas e empresas de produção de conteúdos audiovisuais e multimédia.

Na componente prática da pós-graduação insere-se o Multiplex, atelier fílmico destinado aos estudantes de Comunicação Audiovisual e Multimédia.

Nesta segunda edição intitulada “O cinema e a escrita”, decorrerá entre os dias 4 e 7 de junho. O evento será dedicado a dois incontornáveis nomes da cultura portuguesa e mundial: Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís. Como tal, a Universidade Lusófo-na do Porto terá a honra de receber o realizador português para uma Masterclass aberta ao público, a decorrer no primeiro dia do Multiplex (4 de junho).

Os interessados na pós-graduação em CAM poderão inscrever-se em qualquer mo-mento nos vários módulos previstos ou a decorrer.

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JUP — MARÇO 2012EDUCAÇÃO10

Propinas no Superior passam os 1.000 euros

Rui Alexandre Novais e o jornalismo em Portugal

OS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR VÃO COMEÇAR A PAGAR, A PARTIR DE SETEMBRO, 1.036,6 EUROS ANUAIS DE PROPINA MÁXIMA PARA FREQUENTAREM UMA LICENCIATURA. A ACTUALIZAÇÃO DITOU O MAIOR AUMENTO NUMA DÉCADA.

RUI ALEXANDRE NOVAIS, ANTIGO PROFESSOR DO CURSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, FALOU COM O JUP SOBRE O ESTADO DO JORNALISMO EM PORTUGAL, A SUA CARREIRA E O VALOR QUE DEVE SER DADO AOS ALUNOS.

Se em 2011 o valor da propina máxima das universidades pú-blicas subiu 12,83 euros e ascen-

deu aos 999,71 euros anuais; em 2012 o aumento triplica. Em Setembro, um estudante do ensino superior vai pas-sar a pagar mais 36,9 euros de propi-nas em relação a 2011, ou seja, 1.036,6 euros anuais de propina máxima para frequentar uma licenciatura.

Este é o maior aumento desde 2003, ano em que a nova Lei de Fi-nanciamento do Ensino Superior ac-tualizou as propinas e entregou às uni-versidades a responsabilidade de fixar anualmente o seu valor que passou a ser indexado à taxa média de inflação

do ano anterior. Em 2011 a taxa média de inflação fixou-se nos 3,7% - a mais alta da última década - segundo os da-dos divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Portugal é dos países europeus onde menos se investe por estudan-te do ensino superior e mais se paga por uma licenciatura. Os dados são do relatório "Education at a Glance" de 2011, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Económico (OCDE).

As propinas começaram a ser co-bradas aos estudantes universitários em 1992, com um valor de 1.200 es-cudos (seis euros). • Nuno Moniz

Em 1995, o professor licenciou-se em Comunicação Social pela Esco-la Superior de Jornalismo do Porto. Porquê o interesse pela investigação do jornalismo e não pela prática jor-nalística?Isso talvez seja um mito, um mito ur-bano. Eu comecei pelo exercício do jornalismo, ainda que na minha fase de licenciatura eu tenha feito uma dis-sertação, uma monografia, que é um trabalho de investigação, e que, na al-tura, já não era muito normal. Era um trabalho de investigação da imprensa francesa que envolveu um trabalho de campo em Carpentras num protecto-rado Judeu, num crime que sem ros-to. Mas, de facto, nesta fase eu ainda tinha vocação para a prática do jorna-lismo e foi isso que eu fiz. Numa fase inicial, não sabendo muito bem como é que iria ser o futuro, a minha ideia era ser correspondente estrangeiro e portanto comecei por perceber como funcionava a televisão, como funcio-nava a imprensa escrita e como fun-cionava o jornalismo regional, para ficar com uma panóplia de tudo. Com isto coincidiu a minha fase da desi-lusão com o jornalismo, em que eu percebi que o meu idealismo pessoal não era compatível com o exercício da profissão de jornalista. Portanto, no seguimento das primeiras pressões que eu senti, não externas porque a essas sempre resisti, mas pressões in-ternas dos meus patrões da altura, eu decidi abandonar o jornalismo. Mas não perdi o gosto e achei que haveria uma outra faceta que eu poderia de-senvolver na altura, que era investigar: porque é que estas coisas se sucedem, os bastidores do jornalismo, explicar a prática, os procedimentos, as rotinas, as pressões, os constrangimentos e denunciar isso o mais possível, ainda que não fosse essa a minha obrigação e a minha missão imediata.

Em 2005 escreveu a tese de douto-ramento intitulada "News Factors in Foreign News. A Case Study Compa-ring British and Portuguese Press Co-verage of the Dili Massacre". Porquê o interesse nesse tema?Eu sou um homem de causas perdidas e na altura Timor Leste era uma causa perdida, era um exemplo de um con-flito esquecido que nunca seria resol-vido. A minha missão era investigar um assunto com interesse histórico, com ligações intensas e muito próxi-mas a Portugal e porque eu sempre achei que neste tipo de trabalhos de investigação deve haver uma dimen-são comparativa, portanto pareceu--me que a utilização de uma imprensa internacional com alguma dimensão, para além dos relacionamentos histó-ricos que nós temos muito antigos com o Reino Unido, seria uma boa base de comparação; ver o tratamento noticio-so de uma imprensa que está demasia-do próxima do caso e que isso às vezes condiciona o desempenho que eles têm, com uma outra que consideraria o evento de Timor Leste como sendo um evento de importância secundária

para a realidade Britânica. Por arrasta-mento acabei por estudar outros con-flitos semelhantes ou parecidos, como o do Sahara Ocidental ou o do Panamá e portanto daqui ficou este ânimo por investigar estas áreas. A minha ligação à academia no Jornalismo Comparado nasce de forma acidental. O meu ante-cessor aqui na Universidade do Porto decide abandonar a carreira académi-ca, o Richard Zimler, e decide dedicar--se à sua escrita a tempo inteiro. A minha vinda surge da necessidade de preencher este vazio. Nessa altura eu era CEO de uma empresa em Portugal e cometi este acto de loucura que foi o de abandonar o meu trabalho e vir para a Universidade num espírito de missão para provar que era possível fazer muito mais, muito melhor e dar aos alunos aquilo que eles verdadeira-mente mereciam.

Considera que os alunos têm vindo a perder qualidade?Eu tenho sempre a melhor opinião dos meus alunos. Acho que se os dotamos das condições certas, do estímulo cor-recto e se os acompanharmos, que é algo fundamental, não estarmos cen-trados nas nossas carreiras, nas nossas vidas pessoais e académicas, mas es-tarmos centrados naquilo que são as necessidades dos alunos, criamos um ecossistema necessário e suficiente onde eles conseguem fazer tudo. Nós somos a única Universidade em Por-tugal que tem alunos de licenciatura a participar em conferências interna-cionais, com apresentações de comu-nicações. Há alunos de licenciatura a publicar artigos e capítulos em livro, por mérito deles e justamente porque há esta combinação de situações e de condições que propiciam que eles possam potenciar o seu trabalho e dar muito mais relevo do que apenas a conclusão de uma cadeira numa uni-dade curricular do curso. Que valores tenta transmitir aos seus alunos?São muito pouco académicos. É o contrário daquilo que é a Academia. O que eu digo aos meus alunos é que eles devem visar a excelência. Não sou perfeccionista, não exijo perfeição de-les mas eu acho que devemos sempre fazer o melhor possível. A minha fas-quia de exigência é muito alta porque eu acho que eles conseguem, se quise-rem, se se empenharem. Aquilo que eu tento fazer é um bocadinho marketing de incentivos, proporcionar oportuni-dades para eles também se sentirem incentivados e motivados. Para além disso, os valores que eu sempre lhes tentei incutir são questões que são um bocadinho extra académicas mas que se aprendem aqui na Academia: não aceitarem e não se resignarem àquilo que é considerado ser normal. Eles de-vem, de uma vez por todas, ser cons-cientes de que têm direitos, também têm deveres, mas têm muitos direitos que muitas vezes não são respeitados nem observados e que lhes compete a eles fazer vingar. Eles estão num meio

que é muito corporativista, os docen-tes protegem-se uns aos outros, os incompetentes protegem-se uns aos outros. Se os alunos não se associa-rem, não tiverem este mesmo espírito positivo de lutar por causas comuns, vão continuar a ser menosprezados, a ser tratados de qualquer forma e a ser prejudicados, a receber o mínimo possível quando eles tinham direito a ter o máximo possível. É aqui que eles ganham competências, que são formados para no futuro poderem de-sempenhar as suas funções.

Quais as maiores dificuldades que o professor sentiu no seu percurso aca-démico?As mesmas que eu tentei que os meus alunos não sentissem. Professores acomodados, completamente desin-teressados, completamente desactu-alizados da realidade, centrados nas suas carreiras, nas suas vidas pessoais, e, portanto, que se escusavam e que se escondiam atrás da falta de qualidade e da falta de interesse da parte dos alu-nos. Essa foi a principal dificuldade. A segunda dificuldade é que eu nunca fui motivado. Nunca me foram dadas oportunidades. Nunca fui estimulado, portanto nunca tive noção daquilo que era possível fazer. A realidade que me davam era uma realidade muito limi-tada, completamente amorfa, e com-pletamente centrada em não fazer nada, ou fazer o menos possível. É isto que eu tento fazer: provar aos meus alunos que é justamente o contrário que eles têm de fazer. Portanto, foi ba-seado no meu percurso que eu tentei não fazer aquilo que me fizeram, que eu não gostei, mas tentar fazer aos meus alunos aquilo que eu gostaria de ter tido quando eu fui aluno.

O que é que poderia vir a ser melho-rado no jornalismo português?Eu acho que as condições se têm vindo a agravar, desde a altura em que eu fui jornalista. Porque as pressões são cada vez maiores. Nós temos um projecto em curso, sobre jornalismo em Por-tugal, uma espécie de mapeamento daquilo que é a cultura jornalística no nosso país. A generalidade dos jor-nalistas entrevistados apontam para aquilo que seriam as situações ideais, ou seja, não cedência a pressões de grupos económicos, de grupos polí-ticos, ou mesmo a pressões internas dos seus próprios colegas e dos seus patrões. Os jornalistas são pessoas com famílias, com vidas pessoais, com contas para pagar, e isso é mui-tas vezes usado, é muitas vezes exer-cida uma pressão descomunal sobre o trabalho do jornalista. O jornalismo de qualidade, sério, de causas, tem de alguma forma vindo a ceder terreno ao info-entretenimento, a estilos mais tablóides ou populares, à prevalência da imagem sobre o conteúdo, à dimi-nuição do jornalismo verdadeiramen-te de investigação. • Mariana Sousa e Joana

Domingues

SALA DOS PROFESSORES

� O JUP foi ‘botar’ o olho em alguns países europeus

Dinamarca - A educação superior é inteiramente gratuita. Os estudantes não têm de pagar propinas nem qualquer outro tipo de contri-buição obrigatória para quaisquer associações ou organismos.

Finlândia - Os alunos não têm de pagar propinas, apenas uma quota obrigatória para os sindicatos / associações de estudantes. Estas ver-bas servem para ajudar as suas actividades. Os serviços de saúde são tam-bém cobertos por estas verbas.

Suécia - Todo o ensino superior é gratuito e os alunos pagam apenas taxas de adesão obrigatória para as associações de estudantes.

Alemanha - As propinas foram abolidas na década de 60 e o ensino superior mantém-se gratuito na maioria dos estados federados.

Grécia - O orçamento de Estado e o Programa de Investimento Pú-blico financiam na íntegra as instituições de ensino superior.

Irlanda – As propinas foram abolidas em 1996/97. Nos anos 80, em tempo de severa recessão económica, o Governo decidiu aumentar as propinas para um valor sem precedentes e, em 1994, a Irlanda passou a ser o país da Europa que cobrava as propinas mais altas. Actualmente, apenas uma pequena verba é cobrada aos estudantes para fazer face aos custos inerentes à realização de exames e outros serviços. Os bolseiros estão isentos de pagar. As propinas cobradas pelas instituições são pagas direta-mente pelo governo e os alunos não têm de pagar essas taxas.

Luxemburgo - Não são cobradas propinas nem quaisquer ta-xas adicionais. O dinheiro das universidades vem do Orçamento de Esta-do, das actividades desenvolvidas pelas instituições, de donativos e das receitas de gestão dos seus próprios recursos.

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Correntesd'Escritas

Mais uma vez o mês de Fevereiro foi mês de debates, encontros, dinâmicas e Cultura na Póvoa de Varzim. Falámos com autores e autoras para as provocar: associar três palavras ao Correntes }

JoséPaixãoJosé Paixão, arquitecto, explica o projecto que envolve estudantes, moradores e outras pessoas, para reabilitar casas a custo zero. Afi rma que não vem para fazer mais do mesmo. }

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Correntesd'Escritas

Mais uma vez o mês de Fevereiro foi mês de debates, encontros, dinâmicas e Cultura na Póvoa de Varzim. Falámos com autores e autoras para as provocar: associar três palavras ao Correntes }

JoséPaixãoJosé Paixão, arquitecto, explica o projecto que envolve estudantes, moradores e outras pessoas, para reabilitar casas a custo zero. Afi rma que não vem para fazer mais do mesmo. }

nº06março 2012

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

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O mundo da cortiçaEsta foto-reportagem do André Gouveia centra-se numa fábrica de cortiça e retrata a realidade actual do sector. A ausência de pessoas num local idealizado para a presença de muitas. A substituição das pessoas pelas máquinas. }

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{ parêntesis jup março 201202/destaque

Mais uMa vez Fevereiro Foi Mês de debate, encontros, dinâMicas e cultura na Póvoa de varziM. Foi nuMa Manhã de quinta-Feira que se iniciou a 13ª edição do correntes d’escritas, uM encontro de exPressão ibérica que todos os anos reúne na Póvoa de varziM escritores da Península ibérica, dos PaloP e de Países da aMérica central e do sul.

O s dias 23, 24 e 25 de Fevereiro pre-encheram-se de mesas de debate, performances, entregas de prémios e lançamentos de livros que em mo-

mento nenhum encontraram uma sala que não estivesse a rasgar pelas costuras.

O encontro iniciou-se com o anúncio dos ven-cedores dos Prémios Literários 2012, dos quais se destacou o prémio literário Casino da Póvoa entregue este ano ao escritor brasileiro Rubem Fonseca - pelo livro Bufo & Spallanzani – que também recebeu a medalha de mérito cultural, entregue pelo secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas. Conhecido pela sua aver-são às luzes da ribalta, o escritor deliciou a plateia que encheu a sala para o ouvir, rendendo-a rapi-damente à gargalhada e ao aplauso constantes.

Seguiu-se o lançamento da Revista Correntes d’Escritas 11, este ano inteiramente dedicada a Eduardo Lourenço que, estando naquela a que chama “uma fase descendente da vida”, afirmou que “(…) já que naufragamos, que seja um nau-frágio à Titanic, uma coisa gloriosa, com honras nas páginas dos jornais”.

Como é habitual, outras iniciativas foram de-correndo em simultâneo, como a exposição de fotografia Aproximações, de Jorge Barros; uma feira do livro e uma instalação de Rosinda Casais.

por Leonor Figueiredo e Sunamita Cohenfotografia José Carlos Marques/GRPC

Ó O público encheu a "casa"Ö valter hugo mãe numa sessão de autografos

Correntes d’Escritas – uma forma de poesiaO Correntes d’Escritas acaba por se revelar mui-to mais do que aparenta à primeira vista. Se há público que se dirige ao Auditório Municipal da Póvoa de Varzim apenas para ver os seus ídolos literários humanizados, para pedir autógrafos ou falar um pouco da sua admiração por determi-nados autores, também temos um público fiel, constante, familiar e conhecedor da dinâmica do Correntes. Todos eles formam uma comunidade em que uns são leitores, outros escritores, e ainda alguns são críticos. Uns são um pouco de tudo, outros não pretendem ser nada, mas acabam todos por ser amantes da Literatura, da poesia e da prosa, da forma e do valor da palavra escrita, falada, cantada.

Se os anfitriões deste encontro são Manuela Ribeiro, Francisco Guedes e a sua equipa, os con-vidados são um número indefinível. Conforme as mesas, a hora do dia e a disponibilidade das pessoas, vemos o auditório mais ou menos cheio, se bem que lugares sentados são sempre e cada vez mais uma espécie em vias de extinção para quem chega à hora certa. Dezenas de pessoas sentam-se no chão, nas escadas, ficam de pé.

E a questão, então, será: Qual é o segredo deste evento para conseguir levar centenas de pessoas a querer participar nesta experiência? Em tem-pos tão conturbados para o país e tão negros para a Cultura, como se consegue que o Correntes ar-raste multidões, atraia parceiros e patrocínios, colaboradores que ajudam a criar este espaço das mais diferentes formas? A resposta é fácil para quem já tenha participado: a força do Correntes d’Escritas reside na capacidade de se criar um ambiente misto, impuro, que junta a proposta de análise de temas sérios e concretos aos mem-bros das diferentes mesas, sendo que estes têm a liberdade de os tratar livremente, de dar largas à criatividade, ao humor e à familiaridade que automaticamente sentem em relação ao públi-co, que acaba por ser formado não só por ami-gos, mas também por amigáveis desconhecidos, companheiros de paixões.

Este elo que se cria, este espaço de partilha e de confissão, reflete-se no bom ambiente que envolve todos os espaços do Correntes d’Escritas: quer seja no Hotel Axis Vermar, no Auditório Mu-nicipal, na Casa da Juventude, na Biblioteca Mu-nicipal Rocha Peixoto ou até no Casino da Póvoa; seja nos lançamentos de livros, nas entregas de prémios, em iniciativas mais artísticas (como leituras, sessões de poesia ou performances te-atrais), seja nas mesas, ou no espaço exterior – em todos os espaços se respira poesia e se expira esperança num futuro mais risonho e justo para a Cultura em Portugal.

Quando pedimos a Francisco Guedes, organi-zador do evento, que nos associasse o Correntes d’Escritas 2012 a três palavras, o resultado foi “pú-blico, público e público”. De facto, público não faltou a esta edição, incrivelmente concorrida no contexto deste tipo de eventos. Sem público, é difícil comunicar ideias, perpetuar ideais. Todo o emissor pressupõe e necessita de um recetor.

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Diante do mesmo desafio, Margarida Vale de Gato, escritora, ofereceu-nos as seguintes pala-vras: “encontro, leitura e partilha”. O Correntes é um encontro para a partilha de leituras? Será uma partilha de encontros? Cada um, conforme a sua experiência, constrói a sua visão do evento.

Já Maria Flor Pedroso, jornalista, associou o evento a sol, gente e alegria. De facto, se gente não faltou a aderir ao evento, também as con-dições meteorológicas favoreceram a sua reali-zação e ajudaram a criar um clima alegre, como aquele que nasce entre amigos.

C de Cultura, mas também de CombateUm tema e preocupação inevitavelmente latente em toda a parte e, claramente, neste cenário do Correntes em concreto, é o declínio da cultura em Portugal.

Num momento em que não existem políticas culturais que vão além da fachada, as reformas curriculares não contemplam uma linha para a cultura, e as decisões tomadas têm apenas em conta aquilo que é lucrativo, haverá ainda espa-ço para a cultura em Portugal? Quando se torna dispensável a existência de um Ministério da Cultura, quando o apoio à investigação caminha para a inexistência, quando o desinvestimento no Ensino Superior avança em catadupa – com mais incidência nas Letras, nas Ciências Sociais, e nas Belas Artes -, quando o fim das faculdades de Letras parece estar cada vez mais próximo… onde pára a cultura?

Apesar de a crise cultural se agravar com o agravar da crise económica, é evidente que esta história não começa aqui, mas muito antes. Há muito que o Estado se descarta daquilo que é um seu dever constitucional: assegurar o acesso à cultura e garantir que todos tenham acesso às experiências que possam constituir uma vivên-cia cultural. Em entrevista, o organizador do Cor-rentes d’Escritas Francisco Guedes constatou que “para abalar a Cultura em Portugal não é preciso a crise, basta o normal do dia-a-dia. (…) Sobretu-do os governantes, que são incultos, não ligam. E querem fazer-nos mais incultos ainda, que é para poder manobrar melhor”.

Já quase sem financiamento público, a Cultura perde-o ainda mais a cada ano que passa, per-dendo igualmente a sua autonomia. Os preços dos museus aumentam, teatros são fechados, investigadores vêem-se sem apoios, professores são despedidos, cursos universitários deixam de existir… E enquanto milhares de pessoas perdem assim os seus empregos, toda uma sociedade é aos poucos barrada no seu direito de acesso à Cultura e à produção cultural.

A Cultura torna-se um luxo, um bem acessível apenas por alguns, tal como a Educação, intima-mente ligada. São decisões e ataques político--ideológicos convenientemente disfarçados de cortes necessários e pedidos pela crise econó-mica. Cultura é liberdade, é democracia, é pen-samento crítico também. E uma sociedade sem tudo isto é uma sociedade fantasma.

Mia Couto – que também já esteve presente no Correntes d’Escritas – disse que “há quem tenha medo que o medo acabe”.

Quando o JUP perguntou a Maria Vale de Gato se achava que a austeridade ia abalar a Cultura em Portugal, a escritora respondeu: “Eu espero que a Cultura abale a austeridade”. Confrontada com uma segunda pergunta – “Que mensagem deixa aos jovens: esperança ou evasão?” – uma só palavra bastou: “Combate.”

O medo acaba…

Correntes d’Escritas – uma forma de resistência?Não terá sido coincidência a presença de vocá-bulos relacionados com a crise nos temas das sete mesas. Palavras como “risco”, “liberdade”, “economia de palavras”, “especulação”, “inves-timento”, “crise”, “fundos” e “juros” permitiram as mais variadas interpretações e tratamentos dos intervenientes. Se uns aproveitaram para ri-dicularizar o tema, para diminuir a crise através do humor, outros mostraram-se mais preocupa-dos a denunciar o estado da Cultura em Portugal e a incitar os presentes à união e combate des-ta situação. Eugénio Lisboa, na sétima mesa e a partir do tema “As ideias são fundos que nunca darão juros nas mãos do talento”, fez uma aná-lise comparativa de quanto dinheiro ganharam alguns escritores ao longo da História, e mostrou que nem sempre é o talento o melhor recompen-sado. João Luís Barreto, interveniente da terceira mesa, não demonstrando problemas ao falar de nomes como o de Vítor Gaspar, remete para os poemas que aparecem publicados em Diário da República. Rubem Fonseca, suscitando várias vezes as gargalhadas dos presentes, remeteu para a loucura dos escritores, para essa “esquizofre-nia socialmente aceite” que é a escrita, citando Doctorow.

Num registo mais sério, Hélia Correia, presen-te na primeira mesa, quando se falava na escrita como um risco, não deixou de referenciar a figura de Zeca Afonso, no dia em que se assinalavam os vinte e cinco anos da sua morte. Quando há algo a dizer, por vezes é preciso correr riscos. Quando se luta por algo também. Daí percebermos as pa-lavras de Margarida Vale do Gato, orientadas para a ideia de uma missão tanto dos escritores como da arte neste momento: denúncia e combate.

"Que a Cultura abale a austeridade

Ó Talento e os seus juros em reflexão na última MesaÒ "Levo no coração estes momentos que jamais esquecerei"

(Rubem Fonseca)

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Como será possível reCuperar a baixa do porto a Custo zero? o jovem arquiteCto josé paixão expliCa Como se faz.

entrevista Vera Quintas e Ivone Barreira

“Eu não venho aqui para fazer mais do mesmo”

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2012 março jup parêntesis } entrevista/04.05

José Paixão saiu do país com 15 anos para estudar nos EUA. Ganhou um concurso para uma bolsa de estudo e tornou-se o embaixador português num liceu internacional com mais de 200 estudantes de 80 nacionalidades diferentes.

Depois de conseguir o diploma neste liceu, ficou mais um ano a fazer um nível intermédio de preparação para entrar na faculdade. No entanto, decidiu fazer o curso de ar-quitectura em Inglaterra. Ainda trabalhou dois anos em Londres assim como na Holanda mas, recentemente, estava a terminar uma pós-graduação em Viena quando soube do concurso “FAZ - Ideias de origem portuguesa” promovido pela Gulbenkian e Fundação Talento.

Juntamente com Diogo Coutinho, engenheiro civil, e An-gélica Carvalho, estudante de arquitectura, desenvolveu o conceito de “reabilitar a custo zero”.

De mais de 200 ideias submetidas, esta foi a que acabou por vencer o concurso e para além da parceria com a Uni-versidade do Porto, já tem o aval da Câmara Municipal para começar a reabilitar o nº 42 da Rua da Reboleira, na Ribeira.

(P) Para ti ter a oportunidade de regressar com este projecto deve ter sido muito bom...(R)É um projecto muito especial. Eu não venho aqui para fazer mais do mesmo. É para mudar, para criar, para transformar. Mesmo quan-do estava fora integrava sempre um sistema, que era um “establi-shement”, já criado, predefinido e portanto, eu fazia a minha parte técnica num motor. Aqui sou eu a criar um motor alternativo(...) Portanto é uma honra, um privilégio e uma grande responsabilidade e eu espero corresponder às expectativas.

(P) Quem teve esta ideia que, à partida, não era muito viável?(R)Nós começamos a idealizar um projecto com um precedente, um projecto aplicado à agricultura que tem muito sucesso. Agri-cultores recebem voluntários das cidades que vão para o campo com alojamento e alimentação garantidos e em troca trabalham. Ganham os agricultores que têm as terras trabalhadas e os volun-tários que têm umas férias diferentes. E a ideia vem daí, de aplicar este modelo, a custo zero, para a cidade. É claro que depois a ideia se desenvolveu: integrando universidades, empresas fornecedoras de materiais e equipamentos de construção, agentes políticos…

(P) Sim, porque a vossa ideia, agora concretizada, era a parceria com a Universidade do Porto (UP) para trazer estudantes inter-nacionais que desenvolvam depois o projecto.(R) Exactamente, um dos eixos de colaboração principais é com estudantes internacionais. A base do projecto é criar um sistema colaborativo inter-institucional que involve parcerias tais como empresas, instituições de referência na cidade como as univer-sidades e os agentes políticos mas também estudantes interna-cionais que têm vontade, entusiasmo, que estão motivados para contribuir e para usar as suas próprias competências na resolução dum problema. Portanto, é usar as valências de cada um, encaixá--las, de forma a que sem recurso a dinheiro se possa criar um produto final, que tenha valor e que possa gerar ainda mais valor. Que seja sustentável para a sociedade, de carácter social.

(P) Na altura de desenvolver a ideia, já conhecias os outros dois elementos ou foste à procura de alguém para te ajudar a desen-volver o projecto? (R) A Angélica por acaso é minha prima mas a forma como cons-tituímos a equipa foi de uma forma multidisciplinar, polivalen-te, muito diversificada. Eu e o Diogo complementamo-nos pro-fissionalmente porque ele é engenheiro especialista em estruturas e as minhas competências são mais ao nível do desenho mas é importante ter sangue jovem sempre. Uma estudante que vê as coisas de uma forma mais inocente e mais utópica também é essencial e eu acho que os jovens têm uma capacidade criativa muito poderosa que têm de ser mais aprovei-tados. Quando entram no mercado de trabalho muito rígido, são formatados para produzir de uma certa forma e não são capazes de desenvolver os seus próprios métodos de trabalho, mas para nós foi importante integrar essa competência não formatada, bruta na construção do projecto.

(P) Agora já há um edifício na Ribeira...(R) Sim, é um edifício camarário que vai servir para testar a rede, o sistema colaborativo, para montar toda a rede de parcerias, e se-guir para outras cidades.Durante um ano vamo-nos focar somente neste prédio para de-pois, comprovado que resulta,que a reconstrução é mesmo a custo zero, que todos os parceiros ganharam em participar e arrendar o apartamento, aí sim pode-mos aumentar o número de prédios intervenciona

(P) No sentido do arrendamento há comentários de pessoas a uma notícia sobre o vosso projecto em que diziam ser necessário arrendar o espaço mas a preços acessíveis, reais.(R) Sim, exactamente, é um arrendamento social. Este é um pro-jecto de cariz social e aqui há duas coisas que é preciso frisar: primeiro que os proprietários também são populações frágeis, carenciadas. Não estamos a intervir em competição, em concor-rência desleal com a arquitectura ou empreiteiros comerciais. Focamo-nos num nicho de mercado que de outra maneira não teria alternativa para a reabilitação. Essa reabilitação é geral-mente difícil para toda a extensão do mercado, para este nicho, proprietários sem recursos, ainda mais difícil é. Portanto, estamo--nos a focar neste mercado e a complementar as outras soluções na reabilitação que já existem.Outro ponto a frisar é o facto do arrendamento posterior ser so-cial. Nós queremos renovar e dinamizar a cidade mas com sangue jovem, pessoas que de outra forma não teriam capacidade de ar-rendar. Queremos um edifício com custos de mercado.

(P) Depois do próximo ano o que se segue?(R) Depois, a médio prazo, e também já estamos a planear qual-quer coisa nesse sentido, é replicar este “Arrebita”, que é a marca da reabilitação a custo zero, a outras cidades necessitadas para que estudantes portugueses também possam ir, participar no programa para outras cidades.

(P) Há alguma cidade em concreto?(R) Nós temos contacto com um especialista em reabilitação por-tuguês que está a trabalhar em Vilnius, Lituânia, e está muito inte-ressado em replicar o nosso modelo “Arrebita” naquela cidade e, portanto, coordenar o “Arrebita Vilnius”. O que seria muito inte-ressante porque teríamos quase um embaixador do projecto.

(P) Ele está ligado à Universidade?(R) Sim, tem contactos com a faculdade de arquitectura de Vilnius e contactos diversificados com empresas. Teríamos contacto com estudantes lituanos para virem para o Porto.

(P) Tu que tens essa perspectiva, quais os benefícios de estar lá fora?(R) Foi essencial, essencial. Eu acho que é importantíssimo sair. Houve um Secretário de Estado que convidou os portugueses a sair da sua zona de conforto e foi muito criticado por isso. Mas é im-portante na construção da maturidade das pessoas também verem outros mundos, sair do que conhecem e do que é seguro, portanto, arriscar.

(P) - Então, talvez a solução para muitos dos jovens desempre-gados também passe por sair do país, fazer como tu.(R) O ideal, se calhar, é conseguir combinar os dois mundos: ir embora deixando algo, criar projectos que sejam transversais no território, não se localizem. E é bom ser internacional, ser cosmo-polita. Uma pessoa cria vantagens competitivas nesse sentido. Não é ir embora e esquecer todo o seu background.Hoje em dia há o intercâmbio ERASMUS e assim uma pessoa pode crescer já com contactos internacionais. Viver 6 meses fora de Por-tugal é uma experiência comum a jovens portugueses e as pessoas crescem de uma maneira muito diferente por causa disso. Eu não diria que é uma solução ir para fora mas ver o mundo menos fe-chado dentro de um território mais próximo, abrir os horizontes nesse sentido. Pensar que uma pessoa não está em Portugal mas num território que é contínuo, para além das fronteiras do bairro, da cidade, do país. O mundo é muito globalizado e é muito fácil tirar partido dele na plenitude.}

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Esta foto-rEportagEm cEntra-sE numa fábrica dE cortiça E rEtrata a rEalidadE actual dEstE sEctor.

apEsar dE ao longo dEstE trabalho mostrar alguns dos procEssos utilizados nEsta fábrica, o principal objEctivo é alErtar para o dEclínio dEstE ramo. antigamEntE EstE sEctor industrial EmprEgava bastantEs pEssoas, mas actualmEntE com a crisE muitas dEstas pEssoas foram dEspEdidas, passando agora a Existir no lugar dE algumas dElas, máquinas quE dEsEnvolvEm o trabalho mais rápido E a longo prazo sE tornam mais baratas.

EstE trabalho prEtEndE dEmonstrar a ausência humana sEntida nEsta fábrica, assim como os vEstígios dE quEm por ali passou E também a fé dos rEsistEntEs quE EspEram por mElhorEs tEmpos. }

fotografia e texto André Gouveia

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L uzes, câmara, ação! São já trinta e duas as edições do Festival Internacional de Cine-ma do Porto. Mais uma vez, o teatro Rivoli

é o palco onde se dá à audiência o fantástico do cinema aquém e além-fronteira. 2012 trouxe o Fantasporto mais internacional de sempre, com trinta e três países representados e 406 filmes, distribuídos ao longo de 188 sessões, em quinze dias de espetáculo.

Este ano, o festival abordou o tema do Futuro, fruto das comemorações em homenagem dos trinta anos de “Blade Runner”, um filme de Ri-dley Scott (“Alien”; “Gladiador”). Assim, a forma como o Futuro afetará as Artes – o Cinema, o Tea-tro ou a Arquitetura –, nas Ciências – sociais, hu-manas ou exatas – e na vida do Homem foi tema de discussão no fórum “O Futuro Agora”. Este ciclo de conferências realizou-se numa fase de pré-abertura do Fantasporto, pois o início oficial aconteceu apenas poucos dias mais tarde, a 24 de Fevereiro. O JUP esteve de visita ao Fantas no seu primeiro dia “oficioso”.

A tarde do dia 20 de Fevereiro trouxe pouca gente ao Rivoli. Nessa manhã havia começado o espaço “Fantas a custo zero”, onde seriam exibi-das, ao longo de duas semanas, diversas curtas--metragens, de diferentes países da Europa – Cro-ácia, Espanha, França, Holanda e Irlanda –, bem como da Turquia. Foi também neste espaço que se realizou o concurso que colocou em competição seis escolas de cinema – Universidade do Minho; Universidade Católica; Universidade Lusófona (Lisboa); Escola Técnica de Imagem e Comunica-ção, em Lisboa; Escola Soares dos Reis, do Porto; RESTART: Instituto de criatividade, artes e novas tecnologias (Lisboa) – a par de uma outra compe-tição criada neste 32.º Fantasporto: o prémio Ci-nema Português, para filmes inéditos a concurso no festival. Com isto, Mário Dorminsky, um dos criadores do Fantasporto, pretende dar a conhecer os “futuros novos cineastas, aqueles que têm um potencial muito forte”.

Apesar das dificuldades financeiras da grande maioria da população portuguesa, os diretores

do Fantas assumiram, no dia 20, uma positiva estimativa de cerca de 75 mil visitantes espe-rados nesta edição. Ainda assim, a organização deparou-se com problemas relacionados com os apoios financeiros para a realização do festi-val. Mário Dorminsky explicou os obstáculos em encontrar apoios, nem do Turismo de Portugal. “Contactamos 400 empresas para ter dois patro-cinadores”, desabafou Dorminsky, queixando-se da centralização cultural em Lisboa. Ora, o Fan-tasporto, um evento realizado no norte do país, terá, segundo o diretor, maior dificuldade na ob-tenção de patrocínios, bem como uma menor cobertura por parte dos meios de comunicação social na difusão do evento. “Desde há trinta e dois anos para cá, sobretudo a partir da sétima edição, o festival tem tido menos apoio por parte da comunicação social lisboeta”, refere o diretor.

Face às condições menos favoráveis, o dire-tor do Fantasporto avisa que, no próximo ano, a organização não sabe se conseguirá realizar um festival com as mesmas características. No en-tanto, afirma que, enquanto for possível, o Fantas realizar-se-á no Porto.

Apesar da promoção da descoberta dos novos talentos, das exposições, do apelo à criativida-de e debate, e das homenagens a António Pedro Vasconcelos (“Os Imortais”) e Mike Hodges (“Get Carter”), aquilo que se tornou uma das imagens de marca do Fantasporto é, sem dúvida, a quali-dade dos filmes que nele entram em competição.

Em termos de cinema fantástico, o espanhol “Eva”, o alemão “Hell” e o anglo-francófono “Atta-ck the Block” mostraram-se como os filmes mais mediatizados do concurso. Na secção “Semana dos realizadores”, o destaque caiu em “Shame”, do britânico Steve McQueen, que foi a escolha para a cerimónia de abertura do dia 24 de Fevereiro. Já o encerramento ficou a cargo “This Must Be the Pla-ce”, de Paulo Sorentino e com Sean Penn no papel principal. } Fábio Silva

O norte do país, mais precisamente Gui-marães e Braga, vai ter em 2012 um ano mais rico. Guimarães foi escolhida como

Capital Europeia da Cultura e são muitos e varia-dos os eventos que fazem parte do programa para este ano. O mês de Março é aberto com The Anar-chy of Silence: John Cage e a Arte Experimental e é seguido pelo concerto do flamengo Wim Mertens, a 7 de Março. A 7 de Abril, é mostrado o projecto O Castelo em 3 Actos que envolve o castelo de Guimarães, um dos símbolos mais im-portantes da cidade e a 15 de Abril, começa o ci-clo dedicado ao realizador italiano Ermano Olmi. Já a 27 de Julho e voltando à música vai haver um concerto da Orquestra Chinesa de Macau. Ainda na mesma área, a 8 de Novembro, vai acontecer o Guimarães Jazz. Por fim, a 15 de Dezembro es-treia a ópera Mumadona. Estes são alguns dos eventos com que os vimaranenses e todos os vi-sitantes podem contar durante este ano. Quanto às previsões para este ano, a nível de visitantes, o presidente da Câmara de Guimarães, António Magalhães da Silva, acredita que vão passar pela cidade mais de 1 milhão de pessoas. O presidente afirma ainda que um dos objectivos é que 2012 não seja um ano de passagem mas uma forma de cativar os turistas a voltarem à cidade.

Em relação a Braga, a cidade escolhida como Capital Europeia da Juventude deste ano, vai ter um programa cultural dividido em três áreas. O Y.You tem que ver com a educação e a criativi-dade dos jovens e é composto por concertos e uma Feira Internacional do Emprego e Empreen-dedorismo. O Y.Life é mais ligado à descoberta da cidade e conta com cursos sobre a história de Braga e visitas guiadas. Já o YWorld vai promover o espectáculo World Drums e o European Tastes - Festival Internacional de Sabores. } Irina Castro

E ste ano, para celebrar os 30 anos do maior evento de moda realizado na Europa de Leste, a Semana da Moda da Ucrânia con-

ta com um evento especial que relaciona moda e desporto. O projecto chama-se “Euro-Fashion – Fashion ft. Football” e convida 16 designers pro-venientes das nações qualificadas para o EURO 2012 a representar os seus países enquanto em-baixadores da moda. Em troca, pede-se apenas que apresentem as suas criações.

Em Kiev Gambina apresentará o seu último trabalho, intitulado “Otherless”. Trata-se da co-lecção para o Inverno 2012 / 2013 e é, segundo comunicado de imprensa da autora, “uma cria-ção urbana, com uma forte influência no hockey, assente numa reversão dos materiais citadinhos e de streetwear e inspirada nos universo artísti-cos de Hugo Makarov, Escher, Kate Tempest ou Cocteau Twins”.

Otherless é, assim, um mix de influências que a mesma fonte descontrói: “os estampados, da autoria do ilustrador/tatuador português Hugo Makarov, transportam-nos para o universo do artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher. Os jogos de tranças constroem peças, numa ati-tude feminina mas irreverente, influenciada na spoken word poetry de Kate Tempest. Já as cores – o preto com maior densidade, toques de azul sulfato escondidos nos interiores, o coral, o tom de pele, o vermelho luminoso e o azul royal – re-metem-nos para o universo de Elizabeth Fraser, vocalista do grupo Cocteau Twins”.

Maria Gambina, reconhecida designer de moda, é também coordenadora do curso de De-sign de Moda da ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos. } Nuno Moniz

O JUP foi assistir ao concerto da Orquestra e Coro da Universidade do Minho enca-beçado pelo Maestro Toby Hoffman e

pelo concertino/1º violino Elliot Lawson, ambos professores convidados da Universidade. Na noi-te de 17 de Fevereiro ouviu-se um repertório do período romântico, composto pela "Scheheraza-de" de Rimsky-Korsakov, “Má Vlast” e “Die Mol-dau” de Bedrich Smetana, o “Príncipe Igor” e as “Danças Polovtsianas” de Alexander Borodin.O Salão Nobre da Reitoria da Universidade esteve completamente cheio para ouvir os músicos que tocaram de uma forma praticamente irrepre-ensível. Foi sobretudo a "Scheherazade" que se revelou uma surpresa agradável para os ouvidos do público. A plateia, surpreendida por este ní-vel de profissionalismo, assistiu ao concerto du-rante uma hora e quarenta minutos. O concerto fez parte da comemoração do 38º aniversário da Universidade do Minho e para além de estar incluído no programa da Capital Europeia da Ju-ventude 2012 fez também parte do programa de Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura. juntamente com outro concerto na Igreja de São Francisco. Numa altura em que o aperto do cin-to se faz sentir ainda mais na área da Cultura, a adesão de quem lá esteve prova que iniciativas gratuitas deste género são um sucesso a manter, tanto neste ano especial como nos que vierem a seguir. } Carolina Vaz-Pires e Pedro Canário

O RivOli Recebeu, entRe 20 de FeveReiRO e 4 de MaRçO, Mais uMa ediçãO dO FantaspORtO. O Jup esteve pResente na cOnFeRência dada

nO pRiMeiRO dia, Onde escutOu Os ReceiOs dO diRetOR quantO aO FutuRO deste Festival cOMO O cOnheceMOs.

pORtugal teM duas capitais duRante este anO, uMa dedicada à cultuRa e OutRa dedicada à

Juventude. a cOMbinaçãO pROMete.

chaMa-se MaRia gaMbina e FOi a designeR escOlhida pela seMana da MOda da ucRânia paRa

RepResentaR pORtugal, naquele que é O MaiOR eventO de MOda RealizadO na euROpa de leste, que

decORRe a 19 e 20 de MaRçO, eM Kiev.

Fantasporto resiste mais um ano apesar da falta de

apoios e difusão

Em 2012 todos os caminhos vão dar a Guimarães e a Braga

Gambina representa Portugal na Ucrânia

Salão encheu para ouvir Orquestra

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Page 19: JUP Março 2012

2012 março jup parêntesis } roteiro/09

Zareca's Story

A Vida Portuguesa

Oportonidades

-> Rua Miguel Bombarda, 285, Porto

No alternativo Centro Comercial Bombarda está uma das lojas mais populares do chamado quar-teirão das artes do Porto. A história da loja da Za-reca (nome pelo qual é conhecida Rosário Távora, a dona da loja) já conta com 5 anos, tantos como o CCB. Rosário sabia que queria ter um atelier e vender umas coisas, não sabia era bem o quê. Co-meçou por vender roupa sua, agendas, sabonetes e acessórios pendurados em puxadores de gave-tas pregados na parede. E a loja foi crescendo e ficando mais conhecida, sobretudo nas inaugura-ções das galerias da Bombarda, em que a montra da loja reservava sempre alguma surpresa. Ainda hoje há quem se interrogue se os gatos que estão na montra, alma da casa, são verdadeiros ou não. Actualmente podemos encontrar sobretudo rou-pa nova e em segunda mão, carteiras, sapatos e acessórios. Para as mais “fashionistas” há cartei-ras de marcas famosas, para as mais românticas há anéis únicos feitos pela Rosário. O número de alterações na decoração é incontável – no espaço de dias pode ficar irreconhecível. E sobre os gatos, o JUP prefere não revelar o segredo. }

-> Rua Galeria de Paris 20 – 1º

A afamada loja que começou em Lisboa abriu tam-bém portas no Porto, com vista para a Torre dos Clérigos. Isto literalmente, pois a loja situa-se no segundo andar do que já foi a Fábrica e Armazém das Carmelitas, da qual resta uma porta com "Es-critório" escrito numa placa e um edifício verda-deiramente magnífico, que parece intocado pelo tempo. Quando subimos as escadas é impossível deixar de admirar a arquitectura do espaço, mas é a variedade de produtos portugueses mais ou menos familiares aos nossos olhos e costumes que nos deixa incertos sobre por onde começar. A fazer jus ao nome, não poderíamos deixar de encontrar coi-sas que nos são tão queridas desde as sombrinhas de chocolate Regina aos lápis da Viarco, passando pelo pião de madeira ou a célebre Pasta Dentífrica Couto. Há de tudo: utensílios de cozinha, perfuma-ria, mercearia, papelaria... Para os estrangeiros que fazem imensas perguntas, há um livrinho à venda que explica o conceito da loja e alguns produtos mais famosos. O que esse livro não conta é que há algumas pessoas idosas que chegam a ficar como-vidas. Talvez seja ao encontrarem o Restaurador Olex, de fórmula melhorada. }

-> Rua do General Silveira, 39, 4050, Porto

O nome desta loja de antiguidades não está nada mal pensado, que o digam alguns coleccionado-res que já lá encontraram objectos que há muito procuravam. Situada bem perto da Travessa de Cedofeita, também é possível encontrar por lá um gato, de nome Sushi e ar amuado, soberba-mente instalado na montra, no meio de brinque-dos antigos e outros que tais. Dentro da loja, os amantes de fotografia ficam certamente embas-cados com a colecção de máquinas e acessórios antigos e os amantes de cinema encontram livros com uma variedade incrível de temáticas. E qual-quer pessoa pode dar por si a olhar em volta e a descobrir coisas tão díspares como um passe de 1921 da Companhia dos Carris de Ferro do Porto, um saquinho de berlindes ou uma máquina de escrever. Jorge Cordeiro já vendia em feiras há 15 anos, mas há 2 que abriu a loja, onde diz que en-tra todo o tipo de gente. A coqueluxe do momen-to é um estojo de viagem que pertenceu a um Ministro dos Negócios Estrangeiros de D.Manuel: contém escovas para o bigode e, pasme-se, um ferro para torcer o mesmo. }

Nos tempos que correm nem todos andam à procura dos mais recentes gadgets, do último grito da moda, ou mesmo de inovações de culinária. Bem pelo contrário, há uma fatia do público que procura um cheirinho a outros tempos em roupas vintage, livros antigos ou água de colónia dos cavalheiros de antigamente. E não é preciso irmos bisbilhotar os baús dos nossos avós ou passar horas na internet para encontrar pérolas: elas encontram-se bem perto, na baixa do Porto. O JUP foi visitar 3 lojas onde o tempo parece parar por um momento para deixar o passado imiscuir-se no nosso presente.

texto Vera Quintasfotografia Ângela Ribeiro

Page 20: JUP Março 2012

{ parêntesis jup março 201210/gadgets

Ball Camera

Timex Expedition E-Tide Temp Compass

Nesta era das tecnologias a fotografia digital tem um sucesso inquestionável, com o constante lan-çamento para o mercado de novos modelos para todos os gostos, tanto para amadores como para profissionais. Mas no meio da guerra dos mega-píxeis surgem também ideias que se tentam di-ferenciar pelo conceito e não pelas estatísticas, como é o caso da Ball Camera, que faz uso de sim-ples sensores de câmara de telemóvel.

A Ball Camera tem um objectivo único: fazer fotografias panorâmicas esféricas. Para isso in-corpora 36 sensores numa estrutura esférica al-mofadada. A câmara funciona ao ser atirada ao ar e, no ponto mais alto da trajectória, quando está momentaneamente parada, um acelerómetro faz disparar os sensores, que recolhem as imagens de todas as direcções. A câmara é depois apanhada de novo e as imagens podem ser descarregadas para o computador, para uma visualização da cena capturada. O software cria um mosaico esfé-rico que pode ser movimentado pelo utilizador e ampliado para a observação de detalhes.

Infelizmente nem tudo é fácil para quem tem ideias alternativas. Tendo sido inventada por uma pessoa não ligada à indústria, a Ball Camera ainda está à procura de financiamento para se lançar no mercado. Há já um protótipo funcional, que pode ser visto em acção no site, mas ainda não se sabe quando ocorrerá o lançamento comercial. Há ain-da que lembrar as limitações resultantes da utili-zação de sensores de telemóvel, que perdem para a concorrência de câmaras mais sérias.

jonaspfeil.de/ballcamera

03

040201

Desde que se tornaram populares no início do século XX, os relógios de pulso já tiveram incon-táveis encarnações, entre analógicos e digitais, caros e baratos, simples ou peças de design. Se é verdade que com o aparecimento dos telemóveis muitas pessoas deixaram de dar uso aos seus re-lógios, a indústria não está de modo algum de má saúde. Em particular, produtos de nicho têm sem-pre saída, como é o caso deste Timex Expedition, para os entusiastas do analógico.

Como o nome sugere, este relógio conjuga di-versas funções sem, no entanto, ser de leitura di-fícil. No mostrador encontram-se os três pontei-ros habituais, para as horas, minutos e segundos e existe ainda um quarto que agrega as restantes funções. Pressionando os botões de controlo é possível fazer com que este ponteiro actue como bússola ou então que indique, numa escala in-terior, a temperatura actual ou a altura da maré. Este modelo não está no entanto sem limitações: o sensor de temperatura é influenciado pela tem-peratura corporal pelo que, para se obter uma me-dição correcta, é preciso retirá-lo do pulso duran-te alguns minutos, o que torna esta função mais numa curiosidade do que em algo prático.

Para além das funções mais extravagantes, este Timex partilha aspectos com muitos outros relógios, como sejam a iluminação do visor para utilização nocturna, ponteiros fluorescentes e um mecanismo regulado por quartzo. Estranhamen-te ausente está o cronómetro. Pode ser comprado por 120€.

www.timex.co.uk

O mundo dos modelos de rádio controlo tem nu-merosos fãs, desde os que pretendem apenas ter uma pequena distracção aos mais sérios compe-tidores profissionais. Modelos que têm vindo a ganhar popularidade junto do público em geral mais recentemente são os helicópteros. Tanto que a Swann, companhia anteriormente conhe-cida por fabricar equipamento de segurança e vigilância, decidiu agora lançar-se no mercado com uma série deles. Aqui o destaque vai para o Missile Strike.

O Missile Strike pode até ser equipado com um sistema de equilíbrio Gyro ou com um controlo de 6 direcções, mas não são certamente estas as características que o diferenciam. Na verda-de, quem compra um tem provavelmente uma ideia muito precisa em mente: dar uso aos mís-seis com que vem equipado. Com 6 pequenos projécteis que o constituem, disparados com o carregar de um botão no comando, o Missile Stri-ke torna qualquer um num general de sofá. Na embalagem vêm ainda dois alvos de treino, mas certamente que os mísseis encontrarão rapida-mente o caminho para incomodar os colegas de estudo ou trabalho ou para aterrorizar os animais lá de casa.

O helicóptero usa uma bateria carregada atra-vés de uma porta USB mas o comando necessita de um conjunto separado de pilhas AA. O úni-co senão desta configuração é que, para manter o helicóptero leve, a bateria é de muito pouca duração. Uma hora de carga oferece um tempo de voo de apenas cerca de 8 minutos. Pode ser comprado por cerca de 30€.

www.swann.com/helicopters

O arco-íris é um fenómeno que desde sempre fas-cinou o Homem. Tido como um bom presságio, à sua volta foram criadas numerosas lendas. E mesmo que o pote de ouro não passe de mito fica, pelo me-nos, sempre bem numa fotografia. Agora os aman-tes das cores podem trazer o arco-íris para dentro de casa com o Rainbowmaker da Kikkerland.

O Rainbowmaker baseia-se numa ideia muito simples: ter um cristal (Swarovski) exposto à luz para a dividir através de refracção e mostrar todas as cores do espectro. Mas como esta ideia já é ve-lha, a Kikkerland decidiu aproveitar o facto de o Rainbowmaker ter que receber luz para o tornar mais interessante. Um pequeno painel solar gera electricidade que movimenta as engrenagens colo-ridas e faz rodar os cristais, movimentando assim os arco-íris por toda a sala e criando um bom en-tretenimento. Há que ressalvar que não se formam verdadeiros arcos completos mas antes pequenas zonas em que se vêem todas as cores projectadas.

Uma vez que o Rainbowmaker tem que estar exposto à luz, vem equipado com uma ventosa para o fixar numa janela. Inclui também um fio para quem o pretender pendurar em outro lugar. É importante que receba luz solar directa, pelo que, infelizmente, as salas com janelas voltadas a Sul não vão ver arco-íris acrescentados à decoração. A Kikkerland comercializa modelos com um ou dois cristais e também modelos especiais com cristal em forma de coração. Podem ser encontrados a partir dos 28€.

www.kikkerland.com

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Rainbowmaker

Page 21: JUP Março 2012

2012 março jup parêntesis } crítica/11

Noites Brancas

cin

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sica

livro

sExtremely Loud and Incredibly Close

O juno 60 – Nunca teve fita

Orlando – Uma Biografia

Millennium 1- The Girl with the Dragon Tattoo

Metals

“Porque as gajas do porto são mais giras do que eu. Porque o rio tem salmonelas”, alguns dos versos da música Pare-des de Coura, de Pega Monstro. Duas irmãs de Lisboa, Jú-lia e Maria, que fazem parte do colectivo Cafetra Records. Este colectivo faz música entre amigos, todos participam, tocam e se organizam sem uma grande editora.

Músicas simples, despreocupadas, num registo de banda de garagem ou de casa, duas raparigas, uma gui-tarra e uma bateria e um álbum entusiasmante cheio de bons ruídos. A Maria e a Júlia produziram este álbum em 2011, sem grandes aparatos técnicos e sem grandes pretensões, demostrando que não é preciso muito para fazer boa música.

As Pega Monstro e Kimo Ameba (outra banda do co-lectivo Cafetra) vão estar no Porto, dia 9 de Março, às 22h no Plano B e o preço do bilhete é 5 euros. Podem ouvir este álbum da banda Pega Monstro em pegamonstro.band-camp.com e saber mais sobre a Cafetra Records em cafe-trarecords.bandcamp.com ou procurá-los no facebook. } Miriam Sousa

Um livro extraordinário, com um sentido de humor mui-to particular, muito inteligente e ainda mais inteligível. Este livro narra a história de Orlando – homem, mais tarde, mulher – e as suas atribuladas viagens, quedas, transformações, paixões, desilusões amorosas e viagens através de vários séculos. Tudo isto tendo em conta o contexto cultural e social, as muitas restrições e impo-sições de género, a vida de um homem/mulher que vai ganhando consciência da construção de género. Entre não poder herdar propriedade quando é mulher, a pedir a uma mulher, Sasha, que fuja com ele para sempre – dei-xando toda a sua vida para trás –, a querer fugir da prisão do amor heterossexual.

Virginia Woolf, feminista, intelectual, escritora, en-saísta, escreve este livro em 1928 e não podia ser mais actual em 2012. Sobre a luta pela emancipação, sobre a incompreensão do porquê de uma mulher e um ho-mem serem forçados a caber num papel de género pré--determinado, é sobretudo um ensaio sobre a libertação. } Miriam Sousa

Um remake de um filme sueco que, por sua vez, se ba-seia na trilogia do sueco Stieg Larsson, chega-nos “Mil-lennium 1 – Homens que odeiam as mulheres”, mais um filme de David Fincher, com a violência como tema. Um policial, numa atmosfera estranha, numa Suécia de nazis, no qual a personagem de Lisbeth (qual super--mulher punk/hacker) e Mikael se movem por um sub-mundo misógino e fascista.

O filme é banal, sem qualquer utilização da camara particular, lembrando, por vezes, Harry Potter (nos pla-nos dos comboios) ou a série Vingadora. Contudo, este filme problematiza o machismo como forma de exer-cício de poder e a violência. Por fim, a personagem do director do jornal é interpretada pelo novo James Bond o que, como é óbvio, retira a credibilidade ao jornalista activista, Mikael, que nos aparece como um boneco bo-nito, com um ar vagamente intelectual, os seus casacos de lã e óculos de massa.

Ainda assim, vale a pena ver, sobretudo pelo argu-mento e pela personagem de Lisbeth. } Miriam Sousa

Adaptação do livro homónimo de Jonathan Safran Foer, por Eric Roth (“Forrest Gump”) e realizado por Sthephen Daldry (“The Reader”) conta-nos a história de um rapaz hiper-activo e precoce de 11 anos, Oskar Schell (Thomas Horn), que num cenário de uma Nova Iorque pós-11 de Setembro, tenta compreender e lidar com a morte do pai através da sua percepção ligeiramente autista do mundo.

Depois de encontrar uma chave misteriosa, que Oskar acredita ser uma última pista na sua “expedição de re-conhecimento” (jogo criado pelo seu pai para o ajudar nas suas interacções sociais), embarcamos numa busca obsessiva e frenética (até um pouco inverosímil) pelas ruas de Nova Iorque á procura de uma última mensagem.

Apesar de não ser uma obra memorável, esquiva-se da exploração da premissa do 11/9 para contar uma his-tória de perda e como supera-la e a persistência de um rapaz compreender o mundo que o rodeia não esque-cendo que “if things were easy to find, they wouldn’t be worth finding”. } Joana Caria

Feist lançou em Setembro de 2011 “Metals”, depois do sucesso de “The Reminder” em 2007. Um álbum cheio de contradições, súbitas explosões de guitarras e vozes masculinas como em “a commotion” (faixa 5 do álbum) – faixa que parece sintetizar o ambiente do álbum. Entre a suave voz e as tranquilas guitarras, num tom quase bucólico e a ameaça de explodirem e darem origem a algo como “a commotion”. A voz sempre num limite, entre a tranquilidade, o conforto e o desespero de libertação. Uma voz em vias de se extinguir, para de-pois quase se estender ao limite da calmaria, lembrando paisagens (daí o bucólico) em musicas como “anti-pio-neer” (faixa oito).

Um álbum muito bom, para ouvir e ver, também, no site listentofeist.com, onde vemos pequenas curtas para as músicas do álbum. O que nos sugere a dimensão ci-nematográfico deste álbum, como um disco para uma banda sonora de uma eminente implosão.

Feist vai tocar no Coliseu do Porto, dia 19 de Março, é para aproveitar. } Miriam Sousa

Este livro com o subtítulo “romance sentimental – das memórias de um sonhador”, é sobre isso mesmo: um re-lato de um desgosto amoroso de um homem em estado transitório nas noites de verão, em que o sol não se põe nem dá descanso a um sujeito errante, mergulhado na mais profunda solidão, num amor fruto da sua imagina-ção, nunca correspondido. Entre o sonho que o aprisiona e a incapacidade de viver no mundo real, “Noites Bran-cas” é um retrato das deambulações solitárias de um ho-mem em Petersburgo e da forma como se apaixona por uma jovem mulher, também ela aprisionada em casa.

A acção decorre em quatro noites – que dividem o livro – e uma manhã final, a manhã da desilusão: “As minhas noites acabaram de manhã. O dia estava feio.” É durante quatro noites claras e uma manhã que acompanhamos a história da aproximação e afastamento dessa miragem do amor, a insónia e o regresso à solidão da vida na cidade. } Miriam Sousa

Pega Monstro

de Stephen Daldry de David Fincher

de Virginia Woolf de Fiódor Dostoiévsky

Feist

Page 22: JUP Março 2012

10 sábadoHard ClubShadowsphere+Gwydion+Thee Orakle22H — €12

11 domingoCentro Cultural Vila Flor Thurston Moore&John Moloney&Keith Wood

14 quarta-FeiraHard ClubThe Jon Spencer Blues Explosion22H — €18

19 segunda-FeiraColiseu do Porto Feist21H — Desde €27

emMÚSICA TEATRO VÁRIOSEXPOSIÇÕES

2 a 27moinHo da Ponte FerreiraMostra de Teatro Amador do Concelho de ValongoSEXTA-FEIRA E SÁBADO 21:45H; DOMINGO 17H

16 a 24teatro Helena sá e CostaA Bailarina vai às ComprasQUINTA-FEIRA, SEXTA-FEIRA E SÁBADO ÀS 21:30HDOMINGO ÀS 16H

26 segunda-Feiraauditório muniCiPal da PóVoa do VarzimDia Mundial do Teatro

27 a 30mosteiro de s. bento da VitóriaEsta é a minha cidade e eu quero viver nelaTERÇA-FEIRA A SEXTA ÀS 21:30H

5 a 11 red bull musiC aCademy Porto HUB 2012

10 e 11Cine-teatro Constantino neryEncontro de contacto improvisação – workshop+jam (dança)

14 quarta-FeirabiblioteCa muniCiPal de gondomarCiclo de Cinema Façam o favor de ser felizes15H

14 quarta-Feira Parque da Cidade9.ª Corrida Dia do Pai10H

24 sábadobiblioteCa PúbliCa muniCiPal do PortoPáginas do Porto: A cidade nos livros18H

atÉ dia 18 PaVilHão rosa motaO Mundo dos DinossaurosSEGUNDA A SEXTA-FEIRA 10H ÀS 18H; SÁBADOS,DOMINGOS E FERIADOS DAS 10H ÀS 20H

atÉ dia 18 Centro Português de FotografiaHabitar a Escuridão TERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 12:30H E DAS 15H ÀS 18H; SÁBADO, DOMINGO E FERIADOS DAS 15H ÀS 19H

atÉ dia 25serralVesOutra vez não, Eduardo Batarda

atÉ dia 25Centro Português de FotograFiaJoão Silva: AfeganistãoTERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 12:30H E DAS 15H ÀS 18H; SÁBADOS, DOMONGOS E FERIADOS DAS 15H ÀS 19H

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Cláudia Seabra

Março

Page 23: JUP Março 2012

JUP — MARÇO 2012

AGENDA

14 DE MARÇO Concerto: “Ciência com Termografia”Edifício da Reitoria da U.Porto, Salão Nobre, 21h00Músicos: Lanina Khmelik (Violino) e Dj IUREntrada livre

15 DE MARÇO A 19 DE MAIOExposição fotográfica: “Detalhes da Fascinação Egípcia” Edifício da Reitoria da U.Porto (FEP), Sala de Exposições Temporárias (3º piso) Comissária: Maria do Carmo SerénEntrada livre

19 A 23 DE MARÇO Ciclo de Cinema Africano FrancófonoEdifício da Reitoria da U.Porto (FEP), Auditório Ruy Luís Gomes (4º piso) Parceria: Centro de Estudos Africanos da U.Porto, Institut Français e Alliance Française de Porto Entrada livre

22 A 25 DE MARÇOX Mostra de Ciência, Ensino e Inovação da U.Porto Pavilhão Rosa MotaPelo décimo ano consecutivo, as faculdades e centros de investigação da U.Porto voltam a “juntar-se” para dar a conhecer a toda a população a Ciência e o Conhecimento produzidos na maior universidade portuguesa.Horário: dias 22 e 23, das 10h00 às 19h00; dia 24, das 11h00 às 20h00; dia 25, das 11h00 às 19h00.Entrada livre Mais informações em http://mostra.up.pt/

26 DE MARÇOCiclo de Conferências: “O(s) futuro(s) da Governação da Universidade” “Políticas do Ensino Superior e Universidade”. Com Artur Santos Silva e Alberto Amaral Faculdade de Economia da U.Porto (FEP)Horário: 18h30 Entrada livre

31 DE MARÇOVisitas guiadas pela História do Porto“O Porto dos Judeus”, Pelourinho do Terreiro da Sé (ponto de encontro), 10h00Última sessão do programa de visitas guiadas pelo historiador Joel Cleto a locais históricos da cidade. Inscrições e mais informações através do e-mail [email protected] ou do telefone 220408195

EM PERMANÊNCIAExposição: “Coleção Egípcia do Museu de História Natural da Universidade do Porto”Edifício da Reitoria da U.Porto Horário: 2ª feira a 6ª feira, das 10h às 17h. Entrada livreMais informações em http://centenario.up.pt.

U.PORTO 11

Centenário despede-se com nota artística

Os 100 anos do Orfeão

O culminar da festa do Centenário da U.Porto coincide com o arranque das ce-lebrações de outro Centenário de grande

relevância para a história da Academia e, espe-cialmente, para os seus estudantes: o do Orfeão Universitário do Porto (OUP).

Criado em março de 1912, o OUP afirmou-se ao longo dos anos como instituição charneira na vida académica da cidade e palco privilegiado para o talento de milhares de estudantes da U.Porto. Uma história que, cem anos depois, será agora celebrada através de um leque alargado de ativi-dades dirigidas a toda a população.

As celebrações arrancam no próximo dia 6 de março com uma cerimónia oficial no Salão No-bre da Reitoria da U.Porto, e prosseguem a 10 de março, com a apresentação pública de todos os grupos artísticos do Orfeão no tradicional Sarau Anual do OUP, no Teatro Rivoli. Na segunda metade do ano começa por se des-tacar a exposição comemorativa que, a partir de setembro, vai levar à Reitoria da U.Porto um acer-vo inédito de fotografias e documentos raros que testemunham a vida do Orfeão. Já em outubro, dia 13, o Coliseu do Porto acolhe mais uma edição

– a XXVI - do FITU - Festival Internacional de Tu-nas Universitárias - "Cidade do Porto". É também nessa data que, pouco antes do Porto “parar” para uma Serenata em honra dos 100 anos do Orfeão, tem início uma Semana de Conferências sobre "O OUP, passado, presente e futuro”.

Estes são contudo apenas alguns dos concertos, exposições, conferências entre outros eventos que, até março de 2013, vão recordar a história do Orfeão um pouco por todo país. O programa completo pode ser consultado em HYPERLINK "http://orfeao.up.pt/" http://orfeao.up.pt/.

Ao longo dos últimos meses, a festa dos 100 anos da Univer-sidade do Porto foi o pretexto para o encontro entre a maior universidade portuguesa e a comunidade envolvente. Mais

de 50 eventos depois, a U.Porto prepara-se para encerrar as comemorações do Centenário e, mais uma vez, convida toda a comunidade académica a associar-se à efeméride.

Na despedida do Centenário, todos os cami-nhos vão dar, no próximo dia 22 de março, ao Edifício Histórico da U.Porto (Praça Gomes Tei-xeira), palco da Sessão Solene do Dia da Univer-sidade. Pelo Salão Nobre da Reitoria vão passar, durante a tarde, personalidades da vida acadé-mica e pública do país, unidas pelo 101º aniver-sário da maior universiade portuguesa.

O cientista Alexandre Quintanilha é o orador convidado de uma sessão que contará com as in-tervenções do Reitor da U.Porto e dos presidentes do Conselho Geral e do Conselho de Curadores da Universidade. Pelo meio terão a palavra Luís Rebelo e o escritor valter hugo mãe, em repre-sentação dos estudantes e dos antigos estudantes da U.Porto, respetivamente. Ao longo da sessão serão ainda entregues os Prémios Incentivo aos melhores estudantes do 1º ano da U.Porto, o Pré-mio Excelência e-Learning U.Porto e a primeira edição da Medalha de Mérito da Universidade.

O Desenho contado em cinco séculosO Dia do Universidade coloca assim um ponto (quase) final no conjunto de eventos que, desde o início de 2011, levam as celebrações dos 100 anos da U.Porto a toda a cidade. Um programa que, an-tes de 22 de março, terá novo ponto alto aquando da inauguração de “Cinco Séculos de Desenho na Coleção da Faculdade de Belas Artes da U.Porto”, título da exposição que promete marcar o cartaz cultural da cidade nos próximos meses.

A proposta é tão ambiciosa quanto simples: dar a conhecer, através do desenho, toda a Histó-ria do pensamento. Na prática, falamos da mais valiosa coleção de desenho alguma vez apre-sentada por uma Escola portuguesa, resultado da reunião de 250 peças – algumas nunca antes expostas ao público - no Museu Nacional Soares

dos Reis (MNSR) e na Faculdade de Belas Artes da U.Porto. É ali que o visitante será convidado a traçar um percurso único desde a Florença do Renascimento até ao Porto do século XX, tendo como fio condutor o Desenho, entendido como a “disciplina nuclear” do ensino artístico.

Coordenada por Francisco Laranjo, diretor da FBAUP, a exposição estará dividida em três núcle-os, correspondentes a diferentes períodos da his-tória da Arte. O primeiro é dedicado aos desenhos italianos dos séculos XVI e XVII - incluindo um de Leonardo da Vinci! -, e estará patente nos espa-ços da FBAUP de 15 de março a 22 de abril de 2012. Os restantes núcleos vão habitar as salas do MNSR de 21 de março a 20 de maio e contemplam os 232 anos de história do ensino artístico no Porto.

É esta última história que começará por ser desvendada pelos desenhos da Academia, um conjunto de obras dos séculos XVIII e XIX assi-nadas por estudantes da Aula de Debuxo e De-senho e da Academia Portuense de Belas Artes, como Vieira Portuense ou Henrique Pousão. O terceiro núcleo integra mais de 150 obras doadas especialmente para a exposição por artistas - e famílias de artistas - modernos e contemporâ-neos (séculos XX e XXI), formados na Escola de Belas Artes do Porto. Integram este espólio no-mes como Júlio Resende, Fernando Lanhas, Siza Vieira, Álvaro Lapa, Nadir Afonso, entre muitos outros.

O que ainda falta celebrarMas há outras propostas que não poderás per-der nesta despedida do Centenário. Já no dia 10 de março, podes festejar os 100 anos do Orfeão Universitário do Porto (ver mais informações ao lado) no Sarau Anual do OUP, no Teatro Rivoli. No caminho encontra os mistérios do Antigo Egito em pleno edifício da Reitoria, residência permanente da “Coleção Egípcia da Universi-dade do Porto”. Ainda em 2012 está previsto o lançamento das últimas “Edições do Centená-rio”, uma série de obras dedicadas a figuras e instituições que marcaram a vida da U.Porto nos últimos 100 anos.

Para mais informações consulta o portal do Centenário em http://centenario.up.pt/.

textos Tiago Reis/ Gabinete de Comunicação da Reitoria da U.P.

CELEBRAÇÕES DOS 100 ANOS DA UNIVERSIDADE DO PORTO ENCERRAM A 22 DE MARÇO. ANTES, A U.PORTO ABRE MAIS UM TESOURO À POPULAÇÃO.

A Universidade do Porto está à procura das melhores ideias de negócio geradas no seio da academia. Se te sentes à altura

do desafio só tens que enviar, até 27 de março, a tua candidatura a mais uma edição do iUP25K, o Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto.

Criado com o objetivo de promover e gerar oportunidades para o surgimento de novas inicia-tivas empreendedoras na U.Porto, o iUP25k pro-põe um conjunto de prémios no valor total de 25 mil euros, o que perfaz um dos maiores prémios do género no país. Para te habilitares só tens que reunir uma equipa de quatro empreendedores” (atenção: pelo menos um elemento deve ser es-tudante ou antigo estudante da U.Porto) e definir uma ideia para um produto e/ou serviço inovador e com elevado potencial para desenvolvimento.

À espera da melhor ideia está então um Prémio de 15 mil euros, patrocinado pelo Banco Santan-der Totta. A concurso estão também dois prémios de 5 mil euros para as melhores ideias provenien-tes de equipas compostas, maioritariamente, por elementos do sexo feminino ("Empreendedoris-mo Feminino") e estudantes do primeiro ciclo da U.Porto ("Empreendedorismo Jovem"). Haverá ainda uma Menção Honrosa para a ideia mais vo-

tada pelo público presente na sessão final do con-curso, que terá lugar no Salão Nobre da Reitoria da U.Porto e maio deste ano.

Para chegarem a esse momento, as equipas têm que ultrapassar uma Etapa Geral, onde um painel de peritos vai selecionar as melhores ideias. Pelo meio, os 10 finalistas participarão numa acção na EGP--UPBS – o Pich Me UP-, onde vão preparar o exercí-cio a apresentar na sessão final, o “elevator pitch”.

Os interessados deverão submeter um formulá-rio e produzir e remeter um vídeo sobre a ideia de negócio através do portal da TVU, da Universida-de do Porto. Para mais informações consulta o re-gulamento do concurso em HYPERLINK "http://iup25k.up.pt/"http://iup25k.up.pt/.

Nesta 3ª edição do concurso, a U.Porto, através do seu Clube de Empreendedorismo (CEdUP) e da UPIN - Universidade do Porto Inovação, vol-ta assim a apostar no envolvimento de toda a comunidade académica (estudantes e alumni) no ecossistema empreendedor da Universidade. “Possibilitamos também um retorno de investi-mento que a sociedade faz em ensino e investiga-ção, através da criação de empresas e de emprego, que são geradas a partir da U.Porto”, aponta Maria Oliveira, coordenadora da UPIN.

iUP25k: qual é a tua ideia!?

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JUP — MARÇO 2012SOCIEDADE12

MEMbROS DO GOvERnO SUGEREM qUE A EMIGRAÇãO POSSA SER UMA SOlUÇãO PARA O DESEMPRE-GO, PRInCIPAlMEntE EntRE OS JOvEnS. EMIGRAR OU nãO EMIGRAR, é nA vERDADE UMA SOlUÇãO?

Com o desemprego a bater recordes históricos (os números oficiais apontam para 14%) sobretudo entre a juventude, com Portugal em 4º lugar como país da OCDE com mais precariedade

laboral (são já perto de dois milhões o numero de trabalhadores precários), com os apoios à habitação cortados pelas medidas de austeridade, com as propinas dos ciclos de estudo mais altos (mestrados, doutoramentos, pós-doutoramentos) cada vez mais caras e sem limite que as impeça de aumentar, ao mesmo tempo que diminuem as bolsas disponíveis para a acção social e para a investigação, este não parece ser um cenário de eleição para quem tenta começar agora uma vida, sair de casa dos pais, seguir uma carreira profissional.

Como em todos os períodos históricos de crise económica e social, em que as dificuldades apertam, ao poder politico acrescem responsabilidades das decisões a tomar sobre os rumos de desenvolvimento do país. Não deixa de ser, por isso, significativo que do actual Governo tenham surgido insistentemente, por parte de vários Secretários de Estado, Ministros e até o próprio Primeiro-Ministro Passos Coelho, convites para a emigração.

Pode parecer estranho e será certamente uma novidade: nunca o poder politico tinha, até hoje, com tanta eloquência, explicado, uma e outra vez, que a emigração pode ser encarada mesmo uma solução para os jovens e para o desenvolvimento do país.

Segundo dados do IEFP, o numero de jovens licenciados que anulou a inscrição para emigrar aumentou 49% entre 2009 e 2011. Sobretudo, a emigração não é uma realidade una: existe a emigração de altos quadros técnicos (a chamada fuga de cérebros) relacionado com o escasso investimento na Ciência, com as precárias condições de trabalho na Ciência mas também com a baixa aposta em Investigação & Desenvolvimento (I&D) no sector empresarial; e depois temos também a realidade muito significativa nos grupos profissionais do operariado, artíficies e trabalhadores similares, pessoal dos serviços de protecção e segurança e trabalhadores não qualificados dos serviços e comércio. Encontrando emprego nos lugares mais baixos da divisão social do trabalho, a verdade é que encontram, ainda assim, salários bem mais elevados que em Portugal.

Daí a dúvida que subsiste: estará a 'geração à rasca' portuguesa condenada a emigrar, como fizeram os avós durante a ditadura? O JUP quis saber como alguém emigrado vê esta apresentação da emigração como solução. Por isso, foi falar com a Catarina Príncipe.

JUP: Porque saíste do país?Catarina Princípe: A ideia de sair do país já vinha fazendo caminho há alguns anos. Em grande parte, pela vontade de estudar em algum sítio onde a educação seja ainda uma prioridade. Ou seja, onde Bolonha não tenha sido aplicada às três pancadas, sem qualquer atenção ao que devem ser os currículos, sem valorizar o conhecimento crítico dos estudantes e a gestão autónoma dos seu tempos de aprendizagem, onde as experiências colectivas na escola ainda existam. E depois acabamos a Licenciatura e vemo-nos deparados com um vazio extraordinário: não há "mercado de trabalho" para nós, as licenciaturas equivalem a bacharelatos e ninguém do dito "mercado de trabalho" nos aceita. Mas quem quer fazer um mestrado tem que ter possibilidades económicas para isso: a existência de propinas e os cortes na Acção Social deixam cada vez mais gente de fora. Para se poder estudar, muita gente tem que trabalhar. E como não há trabalho, e as taxas de desemprego jovem aumentam de dia para dia (e o senhor Presidente da República espanta-se...), ou tudo o que se possa arranjar é precário (o que não permite, muitas vezes, aos estudantes terem estatuto de trabalhadores-estudantes quando o são), então não restam muitas hipóteses. Digamos que se torna um tanto impossível. Já para não falar que a minha escolha de especialização não existe realmente em Portugal.

JUP: Olhas a tua ida como uma oportunidade?CP: Oportunidade não será talvez o termo certo. Quando no nosso país não nos restam muitas possibilidades, a saída não é bem uma escolha. Nesse sentido, olho a minha ida como uma possibilidade que neste momento não existe em Portugal.

JUP: Achas que os jovens da tua idade deveriam fazer o mesmo?CP: A emigração não é um processo fácil, sobretudo quando ela não é bem uma escolha, mas quase a única possibilidade. E acho que hoje, quem sai, não leva na mala os sonhos de um futuro melhor e a ideia de voltar quando for mais velho. Quem sai, sai por desespero. Não pensa se volta ou se quer voltar; não há hipótese nem tempo para isso, porque o futuro é completamente incerto. Quem sai, não creio que tenha muita esperança de um dia voltar a encontrar alguma coisa em Portugal. E isto terá, com certeza, danos culturais pesadíssimos. Por isso, não aconselho nem desaconselho. Não é o meu papel dizer que sim ou que não a uma decisão que acarreta consequências muito difíceis.

JUP: O que achas das recentes declarações de membros do governo que indicam a emigração como uma possibilidade para os jovens?CP: Elas são o assumir de que se está, de facto, a destruir um país mas não se quer ser responsável pela vida das pessoas. São declarações totalmente irresponsáveis: supostamente um governo não quer "extinguir" a sua própria população. Para além disso, dizer aos jovens para emigrarem é piorar as condições em que estamos e que eles criaram. Por exemplo, o que eles dizem sobre o esgotamento da Segurança Social devido a demasiadas "regalias" sociais, para além de não ser verdade (dado que quase a totalidade da dívida é de empresas incumpridoras e é a essas empresas que estão prestes a ser perdoados 5,6 mil milhões de euros), como é que se resolve com menos gente a trabalhar e a descontar? Pois é, não resolve. Pois é, piora. Para além disso, sabemos que muitas das pessoas que estão a sair são jovens com qualificações elevadas. Ou

seja, pessoas que estudaram em Portugal, para as quais o Estado despendeu muito dinheiro (e bem! Apostar na Educação significa que achamos colectivamente que uma sociedade com mais educação é uma sociedade com mais possibilidades, mais desenvolvida). Mas se essas pessoas, com a educação que foi paga (cada vez menos, mas ainda assim em grande parte) pelo Estado Português, vão trabalhar para o estrangeiro, significa que não vão descontar, consumir e participar, "dando de volta" aquilo que Estado apostou nelas e permitindo que mais gente estude e que, consequentemente, o país se desenvolva mais. Portanto, é uma proposta que, para além de irresponsável, é estúpida. É o caminho para o abismo. É uma lógica sem lógica, a não ser a da destruição do Estado Social e da vida das pessoas. •

por José Mirandailustração Marta Sofia Nunes

Catarina Príncipe

26 anos / Nasceu no Porto / Emigrou para Berlim / Licenciada em Estudos Comparatistas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa / Uma das caras da manifestação da “Geração à Rasca” em Lisboa .

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JUP — MARÇO 2012SOCIEDADE 13

Contestação na Internet faz PS recuar na Cópia Privada

A 14 de Dezembro dá entrada, na Assembleia da República; a 4 de Janeiro é discutido em

plenário; dois dias depois baixa à res-pectiva comissão. Esta continua a ser a história do Projecto-Lei nº 118 do Partido Socialista (PS). O objectivo é aprovar um regime jurídico para a Có-pia Privada e alterar o Código do Direi-to de Autor e dos Direitos Comuns. O assunto tem agitado os ânimos dentro e fora do parlamento.

Desde 1998 existe uma lei que es-tipula a inclusão de uma “quantia destinada a beneficiar os actores, os artistas intérpretes ou executantes, os editores, os produtores fonográficos e os videográficos”, no preço de venda de aparelhos que permitam a repro-dução de obras, bem como nos mate-riais virgens analógicos. Essa quantia estava fixada, por lei, nos 3%.

A proposta de alteração do PS pre-vê a alteração do valor da taxa; que passem a ser considerados também aparelhos digitais, como sendo pens, cartões de memória, discos rígidos a

partir dum terabyte (TB), entre outros; e que seja reforçada a impossibilidade dum autor ser obrigado a prescindir dos seus direitos contractualmente.

A discussão, principalmente na rede social Twitter, gerou-se instantânea-mente com a tag #pl118, e continua. A deputada e ex-Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, foi a responsável pelo projecto. Em declarações, tentou desdramatizar dizendo que a diferença de preço gerada pela alteração propos-ta “não é significativa”. No entanto, os opositores do projecto referiram-se à própria premissa do projecto, dizendo tratar-se de uma lei “paga o justo pelo eventual pecador”. Uma das razões de contestação foi também a alteração de preços que, no caso de discos rígidos, pode chegar aos 20€ por cada TB.

O líder da bancada do PS, Carlos Zorrinho, foi um dos grandes visados no Twitter, tendo chegado a partilhar que a sua relação com o Projecto-Lei é apenas a de Líder Parlamentar, e que “a origem da PL118 são os deputados [da] Comissão de ética e cultura.”

No dia 6 de Janeiro, após a sua dis-cussão em plenário dois dias antes, o PS decidiu não levar a proposta a votação e a requerer que baixasse à respectiva comissão (Educação, Ciência e Cultu-ra) para uma nova apreciação e para mais audições. Na discussão, apenas o Bloco de Esquerda anunciou ser contra o Projecto-Lei. Entretanto, a bancada do CDS anunciou o seu voto contra o projecto, e a bancada do PSD afirmou que dificilmente será aprovado pelos deputados sociais-democratas.

Neste momento, após dois pedidos de prorrogação de prazo, o PL118 con-tinua na Comissão, não havendo ainda data estipulada para a sua votação fi-nal. No entanto, uma petição contra a aprovação do PL118, que já conta com 8 mil assinaturas, tendo como primei-ro signatário Rui Seabra, Presidente da Associação Nacional de Software Livre, será apresentada em breve na Assembleia da República. • Nuno Moniz

U ma iniciativa legislativa cida-dã chegou ao parlamento e os partidos irão ter de decidir

como votar sobre ela. Esta é apenas a segunda vez na história da democra-cia portuguesa que este instrumento é acionado: um conjunto de cidadãos conseguiu recolher mais do que as 35 mil assinaturas exigidas para di-rigir diretamente uma proposta de lei à Assembleia da República. Este processo surge após o 12 de Março, a manifestação da Geração à Rasca, e é uma proposta de lei no sentido oposto à evolução das políticas para o traba-lho nos últimos anos no nosso país – marcadas pela profunda desregulação e precarização, o relatório da OCDE de 2010 já coloca Portugal como o 4º país com maior taxa de precariedade entre os jovens, atingindo mais de me-tade dos jovens que trabalham. Indica portanto o quão ambiciosa esta lei é. O processo de recolha de assinaturas foi desenvolvido principalmente por ativistas de vários movimentos: Pre-cários Inflexíveis (PI), Farto/as destes Recibos Verdes (FERVE), Movimento 12 de Março (M12M) e Intermitentes do Espetáculo e Audiovisual).

Num momento em que a precarie-dade atinge já perto de dois milhões

de trabalhadores portugueses, a Lei Contra a Precariedade centra-se em três focos intensos de precariedade: nos falsos recibos verdes, na contrata-ção a prazo para funções permanentes e o recurso abusivo ao trabalho tempo-rário. Na primeira questão, a proposta pretende tornar imediato o contrato de trabalho quando é detetada um situação de falsos recibos verdes. No segundo, pretende-se impedir a reno-vação abusiva de contratos a prazo ao fim de três contratos de seis meses; ou seja, ao fim de ano e meio de trabalho, obriga a entidade empregadora à con-tratação do trabalhador. Por último, procura-se a integração dos trabalha-dores nas respectivas empresas em que trabalham ao fim de um ano ou 20 meses nos últimos dois anos.

Sobre a pertinência desta lei para alterar a precariedade no país, Tiago Gillot dos Precários Inflexíveis expli-cou à imprensa presente, após a en-trega das mais de 35 mil assinaturas à presidente da Assembleia, Assunção Esteves, que esta lei é uma proposta que “atua em mecanismos que defen-dem os trabalhadores e que permitem que numa situação de precariedade ilegal eles tenham recursos e meios para dela saírem”, garantindo ainda

que com a entrega das assinaturas co-meça uma “etapa forte e determinada, de forma a que a lei possa ser conside-rada, aprovada e implementada”.

Até este momento apenas os Ver-des, o Bloco de Esquerda e o PCP se pronunciaram favoráveis a esta inicia-tiva; o CDS e o PSD ainda não anun-ciaram o seu sentido de voto e o PS ainda não se mostrou disponível para a discussão com os movimentos que organizaram a petição.

O instrumento da iniciativa legisla-tiva cidadã é de flexibilidade limitada, uma vez que obriga à recolha de 35 mil assinaturas. Para alterar este limite, em Janeiro foi apresentada uma pro-posta no parlamento que contou com o voto contra da maioria PSD-CDS, sendo chumbada. É, no entanto, con-sensual entre os vários partidos que o número atualmente exigido é muito elevado e que este instrumento deve-ria estar mais acessível. Menos con-sensual deverá ser a discussão sobre o sentido de voto nesta lei. Mas por ago-ra, todos aguardam o agendamento da votação pela da Presidente da Assem-bleia Assunção Esteves. • José Miranda

Mais informação em: http://www.leicontraaprecariedade.net/

O coletivo Es.Col.A que desde Abril de 2011 se instalou na antiga escola primária locali-

zada no centro do bairro da Fontinha para trabalhar com a comunidade lo-cal, recebeu nova ordem de despejo acionada pelo executivo camarário. O espaço estava cedido pela Câmara do Porto desde Julho de 2011 ao coletivo que agora tem até ao final do mês de Março para abandonar o espaço, se-gundo comunicado da Câmara.

Esta não é a primeira vez que o es-paço tenta ser ocupado pela Câmara do Porto, que legalmente detém a pro-priedade que albergava o equipamento público e que se encontrava abando-nada há 5 anos. Foi na fase inicial do projeto em Abril de 2011 que o conflito se fez sentir mais forte, quando a polí-cia despejou pela força as pessoas en-volvidas no projeto. Ao longo de várias semanas, o coletivo que foi ganhando a simpatia dos moradores do bairro e de pessoas que aderiam ao projeto ou o procuravam conhecer, e fez intensa pressão que levou a Câmara a ceder nesse braço de ferro. A antiga escola primária foi então reocupada e nos úl-timos meses o edifício foi sendo remo-delado e tratado pelo trabalho das pes-soas que tomaram em mão o projeto.

O programa de atividades do proje-to Es.Col.A tem se centrado especial-mente no serviço à comunidade e no trabalho com as crianças do bairro da Fontinha. Muitos dos que se têm deixa-do entusiasmar são jovens estudantes que oferecem explicações e acompa-

nhamento escolar aos jovens do bairro. Mas há também workshops de pintura e de reparação de bicicletas, de capoeira, debates, filmes, aulas de música, peças de teatro, e de tudo um pouco, orga-nização que depende de quem chega e daquilo que tem para dar ao projeto. Uma lógica de participação diferente da habitual e que tem permitido que o pro-jeto subsista ao longo dos meses.

Da primeira vez que a Câmara pro-cedeu ao despejo a assembleia do pro-jecto convocou um protesto para a por-ta da reunião da sessão da Assembleia Municipal e juntou algumas centenas de pessoas em solidariedade. Na altu-ra, o argumento por parte da Câmara foi a de que o espaço estava prome-tido a um projeto social, sobre o qual nenhuma informação foi dada. Agora, a Câmara poupa-se nas justificação dadas para esta intenção de despejar o coletivo e ocupar a antiga escola pri-mária do tijolo e do vazio que a carac-terizava. No coletivo argumenta-se que nunca foi finalizado nenhum acordo com a Câmara no que toca a prazos e afirma-se que recusam a estratégia uti-lizada pela Câmara de conceder mais um mês, até ao final de Março.

Como irá terminar este braço de ferro é ainda impossível de determi-nar. Segura está apenas a vontade dos que continuam dinamizar um edifício abandonado e fechado ao domínio pú-blico e que um grupo de pessoas muito amplo decidiu devolver. • José Miranda

O JUP atravessou a Rua Miguel Bom-barda perguntando a quem encon-trávamos "tem uma boa ideia para o país?". Como responderam sempre sim, a pergunta seguinte foi "Qual?".

1 "Isenção de taxas na com-pra de tacos de baseball"

Projecto Es.Col.A em risco de ser ocupado pela Câmara Municipal do Porto

Tomá lá Passos!

Lei Contra a Precariedade foi entregue na Assembleia da República

PL118 GERA FORTE OPOSIÇÃO DOS UTILIZADORES DA INTERNET; PS RECUA E O PROJECTO BAIXA NOVAMENTE À COMISSÃO.

O PRIMEIRO-MINISTRO PASSOS COELHO FEZ UM APELO AOS CIDADÃOS PARA APRESENTAREM BOAS IDEIAS PARA O PAÍS.

MOVIMENTO CONTRA A PRECARIEDADE REUNIU 36 MIL ASSINATURAS PARA UMA INICIATIVA LEGISLATIVA DE CIDADÃOS, JÁ ENTREGUE NO PARLAMENTO.

O PROJECTO ESTÁ EM RISCO DE SER DESALOJADO, APÓS NOVA ACÇÃO DE DESPEJO.

2"Que ele se fosse embora"

3 "Mais di-nheiro para as empresas, com juros mais

baixos. Precisamos de emprego"

4 "Mais bicicletas, menos carros" 5 "Podem começar por

esta casa e reabilitar os prédios que estão a cair por todo o lado"

ilust

raçã

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Am

ador

Page 26: JUP Março 2012

JUP — MARÇO 2012INTERNACIONAL E ECONOMIA14 11

por Nuno Monizilustração Artur Escarlate

No último ano surgiram três propostas a nível internacional que voltaram a meter a liber-dade de expressão e o combate à pirataria online em confron-to. Nos EUA foram apresenta-

das duas, O SOPA no Congresso, o PIPA no Sena-do. A nível internacional, o ACTA já foi ratifi cado por vários países incluindo Portugal. Das três projectos apenas o ACTA continua e será votado em Junho no Parlamento Europeu. O SOPA e o PIPA já foram parar à “gaveta” devido à oposição dos utilizadores da Internet.

SOPA e PIPA, duas faces da mesma moeda

Stop Online Piracy Act (SOPA) ou Lei de Comba-te à Pirataria Online, foi apresentada pelo repre-sentante do Partido Republicano Lamar Smith no Congresso dos EUA em Outubro de 2011. Des-de o momento da sua apresentação surgiu um debate internacional sobre a proposta e sobre a sua infl uência na liberdade de expressão.

O SOPA consiste no reforço de poderes do At-torney General, semelhante à fi gura dum Procu-rador-Geral da República, que permita emitir or-dens judiciais contra sites na Internet, localizados em servidores exteriores aos EUA, que estejam a infringir as leis de direitos de autor estaduniden-ses ou a facilitar esse acto. Para tal, não haveria necessidade de apreciação do caso por um juiz, bastando um pedido dum qualquer detentor de direitos de autor para desencadear o processo. A ordem judicial seria efectivada junto dos serviços fornecedores de Internet no sentido de tornar es-ses sites invisíveis para os utilizadores.

Também no Senado dos EUA foi apresen-tada, em Maio de 2011, uma proposta muito semelhante, de nome PROTECT IP Act, vulgo PIPA. Esta proposta é, no essencial, semelhante à SOPA. A sua diferença, além da câmara onde foi apresentada e o facto desta proposta ter sido maioritariamente patrocinada por senadores do Partido Democrata, é que fora direcionada ape-nas a fornecedores de domínios, companhias fi nanceiras e redes de publicidade, não fornece-dores de Internet.

O projecto SOPA foi publica e activamente apoiado por representações da indústria cine-matográfi ca, editoras e mesmo a Câmara do Co-mércio dos EUA. Em Dezembro de 2011, mais de 400 pessoas em nome individual e empresas enviaram uma carta de apoio à SOPA para o Con-

gresso dos EUA. Nesta carta, é pedida legislação que tenha como alvo “aqueles que abusam do ecossistema da Internet e colhem lucros ilegais ao roubar propriedade intelectual das inovadoras e criativas indústrias americanas”.

Do outro lado, além dos Anonymous e de no-mes como o Facebook, Google, Twitter, Yahoo e Wikipedia se terem manifestado publicamente contra a aprovação do SOPA, também foi envia-da uma carta aberta ao Congresso expressando receio sobre os possíveis abusos à liberdade de expressão. A Comissária Europeia Neelie Kroes também se juntou ao côro de críticas e através da

rede social Twitter disse "Estou satis-feita que a maré tenha virado no que toca à SOPA: não é necessária má le-gislação quando é preciso salvaguar-dar os benefícios da internet livre". A Casa Branca re-jeitou colaborar com as propostas, argumentando po-der tratar-se dum atentado à liberda-de de expressão na Internet.

A 18 de Janeiro, um dia após Lamar Smith ter dito pu-

blicamente que os trabalhos reco-

meçariam em Fe-vereiro, aconteceu o ponto alto da contestação à SOPA, tendo conseguido que o projecto fosse “posto na gaveta”.

Durante todo esse dia, o Google mostrou uma imagem de luto, com ligação para uma petição contra a proposta de legislação que teve mais de 4.5 milhões de subscrições; o site inglês do Wiki-pedia esteve indisponível, em protesto, mostran-do apenas uma frase de protesto. Além destas e outras demonstrações, houve uma mobilização muito grande com uma “chuva” de emails e tele-fonemas de cidadãos para os respectivos eleitos.

Como resultado deste protesto massivo, o re-presentante Lamar Smith anunciou que “o Co-mité Judiciário iria adiar as suas considerações sobre a lei até que houvesse um acordo amplo para uma solução”. E assim, a Lei de Combate à Pirataria Online fi cou por aqui.

ACTA, o ‘big brother’ à escala europeia

O acordo não é novo, mas só agora começa a aparecer aos olhos da opinião pública. Negocia-do em segredo, foi na protecção dos direitos de autor que o ACTA - Anti-Counterfeiting Trade Agreement - encontrou argumento e daí saltou para as páginas dos jornais de todo o mundo.

O ACTA é um tratado comercial internacional que está a ser negociado com o objectivo de es-tabelecer padrões internacionais para o cumpri-mento da legislação de propriedade intelectual. Se o tratado for implementado no espaço euro-peu os operadores de comunicações poderão vigiar todos os downloads feitos e investigar o histórico dos utilizadores que efetuem qualquer atividade na internet.

Em Janeiro deste ano, eram já 22 os países que tinham decidido assinar o acordo. Para entrar em vigor precisa de ser aprovado, em Junho, no Par-lamento Europeu.

Para a ala crítica do acordo, o que está em cau-sa é a transferência, sem precedentes, de infor-mação sobre a vida dos indivíduos e, sobretudo, um ataque à privacidade, aos direitos e às garan-tias dos cidadãos europeus que vêm os seus da-dos transferidos para empresas privadas que ga-nham a capacidade de julgar e de aplicar sanções sem que as pessoas possam recorrer a tribunal.

De acordo com os proponentes, o acordo foi criado para dar resposta “ao aumento da circu-lação global de bens falsifi cados e da pirataria de obras protegidas por direitos autorais”. Já os críticos falam num “ataque à privacidade, aos direitos e às garantias dos cidadãos”. O tema pa-rece nao reunir consenso e por todo o mundo se levantam as vozes da crítica em protesto.

A contestação e o coro de críticas à escala global

A 11 de Fevereiro o mundo sai à rua em protesto contra o ACTA. À Alemanha, Holanda, Estónia, Chipre e Eslováquia, que não assinaram o com-promisso, juntam-se agora também a Bulgária e a Holanda.

O Primeiro-Ministro polaco afi rmou que o seu governo fez "insufi cientes consultas antes de as-sinar" o ACTA; a embaixadora da Eslovénia no Japão pediu desculpas por ter assinado um acor-do "que limita em especial o futuro das nossas crianças"; o Ministro da Justiça lituano comentou "Não sei de onde veio ou como teve origem, mas não gosto que este tratado tenha sido assinado evitando habilmente a discussão na UE e na Li-

tuânia"; Kader Arif, relator do Parlamento Euro-peu para o ACTA, demitiu-se em protesto pelo secretismo e por este acordo ter sido já assinado por vários países e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, afi rmou que "o acordo tal como está não é bom".

Em resposta à forte contestação, a Comissão Europeia decidiu enviar o ACTA para o Tribunal Europeu da Justiça para que se pronuncie sobre a compatibilidade do acordo com os direitos fun-damentais e de liberdade da União Europeia rea-fi rmando, contudo, a defesa do acordo.

Para entrar em vigor, o ACTA precisa de ser aprovado no Parlamento Europeu em Junho. •

NO ÚLTIMO ANO TRÊS PROPOSTAS LEVANTARAM A DISCUSSÃO SOBRE O COMBATE À PIRATARIA ONLINE E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS À LIBERDADE DE EXPRESSÃO. O SOPA E O PIPA JÁ ESTÃO NA GAVETA. SÓ A ACTA AINDA SOBREVIVE.

� Já dizia o filósofo Charles Bukowski que “o problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e as pessoas idiotas estão cheias de certezas”. Solidário que é com a inteligência, O JUP dá-te alguns factos para te fazer pensar:

1 Embora o tema só tenha entrado na opinião pública muito recentemente, a negociação do

acordo remonta a 2007!

2 A discussão do tratado começou entre a Comissão Europeia e EUA, Japão, Canadá, etc. –

essencialmente países do hemisfério norte, precisamente onde se concentram as maiores farmaceuticas!

3 Os maiores detentores de patentes são os EUA e, num estudo que fez, um organismo

da UE chega à conclusão de que, em detrimento dos EUA, a Europa pouco ou nada beneficiará com a implementação do acordo!

SOPA e PIPA ‘pá’ gaveta; ACTA resiste

SOPA e PIPA ‘pá’ gaveta; ACTA resiste

Page 27: JUP Março 2012

JUP — MARÇO 2012 15INTERNACIONAL E ECONOMIA

O aproveitamento político da Fome

Primárias dos Republicanos : Quem será o adversário de Obama?

O segundo resgate

A “Fome” habituou-nos a ser tema de abertura dos jornais e revistas de todo o mundo.

Habituámo-nos a vê-la, quer pelas imagens televisivas, quer por a ver ora próxima, ora distante, no nosso dia--a-dia. Segundo a Organização das Nações Unidas, composta por 193 estados-membros, um bilião de pes-soas no mundo passa fome. Sabemos que a fome está associada à pobreza, e que essa pobreza é na maior parte das vezes resultado da fraqueza dos Esta-dos em garantir igualdade de oportu-nidades. A fome causa indignação em quem a vê, ou a lê. Mas não há forma de saber que sentimentos invadem quem a passa.

Em Dezembro de 2011 indígenas ra-rámuris, da Serra Tarahumara do Mé-xico suicidaram-se face ao desespero de não terem como alimentar as suas famílias. Verdade ou não, o suicídio de 50 indígenas rapidamente se tornou notícias nos jornais, revelando um outro lado bem mais negro do que a notícia em si.

Os rarámuri, tal como os wixaritari ou os nahuas têm visto as suas terras converterem-se em aterros, inunda-das por barragens ou consumidas pelo crescimento imobiliário ou mineiro. Historicamente reduzidos às zonas mais inacessíveis, hoje os rarámuri de-batem-se com a seca e com fortes ge-adas que destroem os seus cultivos, já por si precários, e agravam a desnutri-ção até a fome. A esta destruição não

se pode separar a violência do crime organizado, dos paramilitares, da polí-cia ou do exército que silenciosamen-te, pelo menos para o mundo, comba-tem a “guerra” do presidente (contra a narco-produção) e alimentam as ex-portações (na maioria ilegais) de ouro e madeira.

Na Serra Tarahumara o genocídio é real, e a fome, materializa mais um atropelo aos direitos humanos das comunidades indígenas nas mãos de uma elite politica que, em tempo de eleições, se aproveita da desgraça e da violência para fazer campanha política.

Algumas semanas depois da notícia sobre o suicídio coletivo e a cinco meses das eleições para os órgãos de governos nacionais e locais, o atual presidente Felipe Calderón visitou a região, prote-gido por milhares de polícias federais e soldados, para fazer entregas simbóli-cas de mantimentos e cobertores. Com ele encontrava-se o atual governador de Chihuahua César Duarte, quem três semanas antes fi zera a lamentável de-claração de que “há fome (mas) os ha-bitantes da serra querem viver no seu ambiente de felicidade”.

No entanto, líderes locais denun-ciam o aproveitamento político e rei-vindicam que o combate à fome pre-cisa muito mais do que discursos e ações assistencialistas de governantes como César Duarte ou Felipe Calde-rón. Precisa-se de justiça e respeito pelos direitos dos povos.• Irina Castro e

Mayrén Alavez Vargas

C om eleições à porta, no partido Republicano decide-se, atra-vés de um complexo sistema

de eleições primárias, quem concor-rerá contra o presidente em funções, o democrata Barack Obama. Mitt Rom-ney é tido como o favorito mas até agora está a ter forte concorrência de vários candidatos muito conservado-res. Entre estes as fi guras de destaque são Newt Gingrich, Ron Paul e Rick Santorum, tendo outros já desistido.

O esquema de primáriasNos Estados Unidos da América (EUA), os partidos escolhem os seus candidatos a presidente numa con-venção nacional. Durante o processo das primárias cada estado elege de-legados à convenção que apoiam um dos diversos candidatos. Uma vez que os estados não votam todos em si-

multâneo na prática quando chega a vez dos últimos votarem já está tudo decidido. No entanto, desta vez, os resultados dos primeiros estados fo-ram bastante dispersos e as nuances do sistema eleitoral podem ainda vir a ser importantes. No partido Repu-blicano cada estado fi xa a maneira de distribuir os seus delegados. Assim, nuns a atribuição de delegados é pro-porcional aos votos em cada candida-to, noutros o candidato vencedor fi ca com todos. Há ainda casos em que se vota directamente nos delegados. Para além disso, nuns estados é feita uma eleição, enquanto que noutros a esco-lha é feita através de caucus, reuniões populares em que ao longo da noite as pessoas se juntam em grupos de apoio a cada candidato e no fi m contam-se quantos estão em cada grupo.

O fi nanciamento da campanhaNos EUA o fi nanciamento das campa-nhas eleitorais é essencialmente pri-vado, o que dá grande importância à capacidade de angariação de fundos. A principal fonte de receitas são doa-ções de privados, com destaque para a recolha nas empresas com muitos trabalhadores. As empresas e os sin-dicatos não podem contribuir directa-mente mas podem fazê-lo através de comités de acção política, PACs, que estão sujeitos a diversos regulamen-tos. A grande novidade deste ano são os super Pacs, autorizados pelo Supre-mo Tribunal, que não estão sujeitos a limites de fi nanciamento, desde que não coordenem as acções de campa-nha directamente com os candidatos. A informação sobre as doações está disponível no site Infl uence Explorer. • Paulo Alcino

N os últimos meses, multiplica-ram-se as projecções sobre a possibilidade de um segundo

resgate a Portugal. A classifi cação de “lixo” dada aos títulos da dívida por-tuguesa pelas principais agências de rating (Moody`s , Fitch e S&P) fazem prever juros bem acima dos 5% para os títulos da dívida portuguesa nas praças fi nanceiras em 2013, o que impossibi-lita um fi nanciamento com recurso aos mercados daqui a um ano. Para além deste fator, o que sustenta a previsão de um segundo resgate é perspectiva de um acentuado decréscimo económico apontado para 2012. De facto, de acordo com as conjecturas do governo no início deste ano, a recessão será da ordem dos 3%, mas muitos economistas nacionais e internacionais apontam para uma descida do PIB próxima dos 5%. Da ha-bitual “guerra dos números” importa salientar o consenso em torno da ideia de que as políticas de austeridade estão já a produzir efeitos recessivos - parte da atual taxa de desemprego (14%) já se deve à implementação do programa da Troika e às medidas adicionais impos-tas pelo governo no último trimestre de 2011. A recessão que agora começa a dar os primeiros passos vai retirando à eco-nomia, a cada dia que passa, capacidade para pagar a dívida de 78 mil milhões de euros do empréstimo da Troika nos pra-zos e de acordo com os juros acordados.

A situação de incumprimentos é cada vez mais um cenário provável, que pode dar origem a um segundo acordo. O de-sejo de que este acordo se traduza num reforço da verba inicial tem sido expres-so, entre outros, por António Saraiva, presidente da CIP, que tem vindo várias vezes a público defender uma injeção de mais 30 mil milhões de euros.

Um segundo resgate à economia por-tuguesa poderá dar alguma “folga” or-çamental que permitirá um certo apoio às empresas, principalmente aos sec-tores exportadores. Por outro lado, este resgate traduzir-se-á num aumento da dívida. A questão passa a ser, portanto, qual o preço de um segundo acordo? Tendo em conta as receitas aplicadas na Grécia, podemos prever que um novo resgate virá de braço dado com mais desemprego e menos acesso a serviços públicos, tais como saúde, segurança social e transportes.

Na Europa, rejeita-se a possibilida-de de um segundo acordo a Portugal. “Nem mais tempo nem mais dinhei-ro” tem sido a mensagem transmitida pelos líderes da UE (Merkel e Sarkozy) e repetida por Passos Coelho. Porém, sobre esta matéria, o Primeiro-Ministro alterou recentemente o seu tom intran-sigente para um tom moderado, dizen-do agora que espera não ser necessário um segundo empréstimo. • Miguel Heleno

É [só] mais um ultimato à Grécia. Em Junho de 2011, o Eurogrupo - composto pelos ministros das

Finanças da Zona Euro - lançou um ultimato à Grécia. Caso o parlamento grego não aprovasse o plano de refor-mas fi scais e o programa de privatiza-ções acordados com a Troika (Comis-são Europeia/Banco Central Europeu/Fundo Monetário Internacional), “nem mais uma ajuda fi nanceira seria concedida à Grécia”. Meses depois, na primeira semana de Novembro, um novo ultimato. Em debate estavam os oito mil milhões de euros do sexto e último lote de crédito concedido pela EU e pelo FMI. O ultimato dirigido ao governo grego pelos principais di-rigentes europeus aconteceu após a decisão, do então atual primeiro-mi-nistro grego George Papandreou, em referendar as novas medidas acorda-das entre a Grécia e os seus credores. O anúncio do referendo que poderia derrubar o pacote de medidas acor-dado levou os dirigentes europeus a afi rmar “que ou a Grécia respeita as regras ou poderá não permanecer na Eurozona”. A pressão acabou por le-var o social democrata do PASOK, Pa-pandreou a demitir-se dando origem a um novo governo de coligação (PA-SOK-ND-LAOS) presidido por Lucas Papademos.

Meses depois, e após serem levados a contrair um segundo empréstimo, a líder alemã Angela Merkel, afi rmou que o novo empréstimo de 130 mil milhões de euros só poderia ser concedido se a

Grécia perde-se tem-porariamente a sua soberania orçamen-tal. Pressionados pelo descontentamento social, o executivo tem adiado a assinatura do acordo para novo empréstimo. A ausência de respostas face ao novo acor-do levou novamente os minis-tros das fi nanças da zona euro a lançarem um novo ultimato, considerando o acordo entre a Grécia e o presidente do Banco Central Europeu, “de insufi ciente” e conceden-do um prazo de seis dias ao executivo para cumprir um novo conjunto de me-didas, entre as quais, um corte de 15% no valor das pensões de reforma.

Os 130 mil milhões de euros que es-tão previstos chegar a partir de Março, só serão entregues caso o governo grego decida a diminuição de 150 mil funcio-nários até 2015, reduza em 20% o salá-rio mínimo e ponha termo aos 13º e 14º mês do sector privado, bem como redu-za os dias de férias, e as despesas com o serviço público de saúde. Os dias que se seguiram ao anúncio do ultimato foram de duras greves convocados pelos sindi-catos da função pública e do setor pri-vado, mas apesar das duras criticas e da contestação pública, o executivo assu-miu as novas medidas a 13 de Fevereiro.

Tudo indica que os ministros das Fi-nanças do Eurogrupo concedam o novo empréstimo. No entanto, os principais líderes europeus já se mostraram dis-poníveis para “abandonar a Grécia à

sua sorte”, caso não se atinja o nível de dívida de 120% do PIB em 2020.

A auditoria cidadã à dívida grega já afi rmou que este novo acordo arrastará ainda mais o povo grego para uma si-tuação de pobreza, reivindicando que a Grécia precisa imediatamente de sus-pender os pagamentos, caso contrário os fundos de pensões, que perdem 12 mil milhões de euros com este acordo, entram em bancarrota, enquanto se pagam aos 110 mil milhões do primeiro empréstimo de resgate da Troika.

Entretanto também o Irão lançou um ultimato à Grécia face às sanções inter-nacionais que o país tem sofrido devido ao seu programa nuclear. Em causa esta a possibilidade do Irão suspender a ven-da de petróleo a seis países europeus entre os quais, Portugal e Grécia. Sem garantias de Bruxelas e caso o governo iraniano decida deixar de exportar o seu petróleo, o ministro da Energia Grego, Giorgios Papaconstantiu já demonstrou as suas preocupações devido à grande dependência grega do petróleo irania-no. • Irina Castro

DE ULTIMATO EM ULTIMATO A GRÉCIA PERMANECE EM ESTADO DE EMERGÊNCIA INCAPAZ DE AGRADAR A CREDORES E A LIDERES EUROPEUS.

O DIA-A-DIA DAS POPULAÇÕES INDÍGENAS DA SERRA TARAHUMARA, NO MÉXICO.

COM O APROXIMAR DAS ELEIÇÕES NOS EUA EM NOVEMBRO COMEÇAM A AQUECER OS MOTORES DA CAMPANHA. NO PARTIDO REPUBLICANO DECIDE-SE QUEM SERÁ O ADVERSÁRIO DE OBAMA.

tros das fi nanças da zona euro

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JUP — MARÇO 201216 DESPORTO

A escola do Movimento sur-giu na época desportiva de 2006/2007, com origem rela-cionada com o CDUP (Centro Desportivo Universitário do Porto). Alguns dos treinadores

do antigo CDUP e do gabinete de atletismo da Universidade do Porto decidiram que o projecto deveria evoluir e criaram a Escola do Movimento. Apesar da iniciativa ter começado com poucos atletas, o facto de terem como sede a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto ajudou no desenvolvimento do projecto: “uma vez que tí-nhamos acesso a instalações que reuniam todas as condições para a prática de atletismo, optá-mos por potenciar estes atletas com os conheci-mentos que obtínhamos, aproveitando também as condições da FADEUP”, explica o Professor Filipe Conceição, um dos treinadores do clube.

Na verdade, apesar de utilizar as instalações da Universidade do Porto, o clube não tem nenhu-ma parceria fixa com a Universidade, nem com o GADUP, mas sim uma interacção e uma relação de apoio mútuo com o mesmo. Segundo Susana Bento, presidente da Escola do Movimento, “é uma espécie de apoio. Sempre que alguém vai procurar um espaço para a prática de atletismo reencaminham essa pessoa para nós. Não existe parceria oficial. Os fortes da equipa de atletismo que representa a UP são atletas da Escola do Mo-vimento”. Susana acrescenta ainda que 80% dos atletas que representam a UP em Campeonatos Universitários são da Escola do Movimento, o que revela a importância desta iniciativa para a própria universidade.

Com cerca de cem atletas, dos sete aos cin-quenta anos, a grande maioria estuda na Uni-versidade do Porto, “muitos deles são alunos da FEUP, FADEUP, FAUP, FCUP, FEP, ICBAS, mas a maioria são estudantes de engenharia e despor-to”. A Escola do Movimento tem também atletas de camadas mais jovens que acabam por conti-nuar o seu percurso do clube após a entrada para a universidade. Como tal, a divulgação do clube, para além de ser feita, maioritariamente, pelos próprios atletas, através da página do Facebook ou por aconselhamento por parte do GADUP a quem se mostrar interessado, não tem um gran-de marketing fora da Universidade do Porto. Face a este cenário um dos problemas actuais do clu-be acaba por ser a falta de apoios que condicio-nam, por exemplo, a deslocação dos atletas para as provas.

Por sua vez, o corpo técnico é constituído por treinadores com formação específica na área. “Nós absorvemos todos os nossos alunos de op-ção que fazem a especialidade sobre a orientação de treinadores seniores, na sua maioria forma-dos na FADEUP. Tanto os treinadores mais jovens como os mais experientes têm especialização”,

texto e fotografia Filipa Sousa

refere o Professor Filipe, responsável pela meto-dologia e supervisão de todo o trabalho realizado.

Muito recentemente o clube foi reorganizado para responder a novas necessidades. A presi-dente do clube, Susana, é ex-aluna da FADEUP e fez a metodologia de atletismo. Os vários órgãos directivos são ocupados por pais e atletas mais velhos que consigam assumir responsabilida-des e ajudar na gerência e crescimento do clube, tendo em conta também a via profissional que vão seguir. “Um estudante de economia pode, por exemplo, ajudar na secção de tesouraria”, explica o Professor Filipe. Esta reformulação na estrutura pretende satisfazer os objectivos do clube que, no início deste ano, conseguiu colocar tanto a equipa feminina como masculina na 2ª divisão de Campeonatos Nacionais de Clubes de Pista Coberta. “Queremos voltar a ganhar o cam-peonato regional de juniores e seniores de pista coberta e ao ar livre, manter o estatuto de cam-peões regionais e aumentar o número de atletas entre os dez primeiros nacionais em juvenis, ju-niores e seniores a nível nacional”.

Diana Carqueijo, 3º classificada no campeonato nacional de salto com vara, Óscar Monteiro no salto em altura, Francisco Cordoeiro, 3º classificado no campeonato nacional de provas combinadas e Car-los Nascimento, recordista de várias disciplinas, in-ternacional e campeão olímpico da juventude são alguns dos atletas em destaque do clube. “Somos um clube muito jovem”, afirma Susana.

Apesar de ser o mais jovem dos atletas acima referidos e de estar ainda a terminar o ensino se-cundário, Carlos Nascimento começou no atle-tismo através do desporto escolar e é atleta da Escola do Movimento há cerca de quatro anos. O jovem destaca o grupo de treino e o apoio do treinador que auxiliam a sua evolução e cresci-mento e diz ambicionar ir a Londres em 2012 e

preparar-se para o Rio de Janeiro em 2016. A Es-cola do Movimento “é um clube que tem todas as condições para crescer e que se afirma cada vez mais”.

O crescimento do clube, a evolução e o fortale-cimento da posição a nível nacional são os gran-des objectivos, mas a falta de apoios monetários condiciona o trabalho realizado: “Temos boas instalações mas, por exemplo, à noite treinamos

às escuras, o que é difícil principalmen-te no Inverno e inviabiliza a utilização da pista exterior. Temos tam-bém um pavi-lhão interior mas a maior dificuldade de momento é a inexistência de apoios para os atletas e com-petições”.

Tanto o Pro-fessor Filipe como Susa-na encaram o clube como “um projecto

aliciante porque envolve um clube e uma disci-plina do curso de desporto, o que faz com que isto seja o laboratório deste gabinete, pois tem atletas onde se pode experimentar novas ten-dências de treino”. Para além disso, muita in-vestigação interna realizada relaciona-se com o trabalho técnico do clube, o que beneficia a pró-

É TAMBÉM IMPORTANTE QUE A PRÓPRIA UNIVERSIDADE DÊ APOIO AOS ATLETAS, ALGO QUE NÃO ACONTECE E QUE PODE LEVAR A QUE DEIXEM DE COMPETIR

Escola do Movimento, o motor do atletismo na cidade do PortoÉ TAMBÉM IMPORTANTE QUE A PRÓPRIA UNIVERSIDADE DÊ APOIO AOS ATLETAS, ALGO QUE NÃO ACONTECE E QUE PODE LEVAR A QUE DEIXEM DE COMPETIR.

pria universidade, “não é por acaso que aqui se destaca o sector de saltos e velocidade. São duas áreas que nós aqui trabalhamos muito, embora haja uma tradição de meio-fundo e fundo. Este é um projecto também para a própria comunidade universitária que tem um espaço que pode utili-zar com profissionais altamente especializados”, justifica o Professor Filipe.

Para além da vertente competitiva, a Escola do Movimento tem disponível um espaço de ma-nutenção para todos aqueles que queiram fazer exercício sem competir. Esta iniciativa do clube pretende proporcionar a prática de exercício físi-co a quem o deseje, sem limite de idades e sem a parte competitiva.

No final, quando questionados sobre o actual panorama do atletismo nacional e a sua impor-tância relativamente a modalidades como o fu-tebol, Susana não poupa palavras: “O atletismo é o desporto nacional com mais títulos impor-tantes, muitos mais que o futebol que deve ser o que tem menos títulos. No futebol, mesmo as divisões mais fracas têm apoios e os atletas são, na sua maioria, remunerados, o que não aconte-ce no atletismo e em outras modalidades”.

Por sua vez, o Professor Filipe remete-nos para uma visão mais geral da modalidade e alerta para o futuro: “É fundamental aumentar a profundi-dade, isto é, aumentar o número de praticantes e atletas promissores para o futuro, porque atletas como a Naíde Gomes ou o Nelson Évora, daqui a pouco deixam de praticar por causa da idade. É necessário que surjam novos valores e é essen-cial continuar com o trabalho para aumentar o número de jovens praticantes. •

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JUP — MARÇO 2012 DESPORTO 17

Sport-Bit: a rede social para adeptos e atletas

O Desastre de Port-Said

H oje em dia as redes sociais são um factor comum a todos os cidadãos e a importância que

têm começa a ser reconhecida. Existem várias redes e algumas são dedicadas a temas específicos como a música (MyS-pace) ou os vídeos (Youtube), enquanto outras apenas se dedicam às relações pessoais (Facebook). No entanto, come-çam também a ser utilizadas com ob-jectivos profissionais. As empresas co-meçam, lentamente, a aperceber-se das potencialidades das redes sociais e apro-veitam para dinamizar os seus negócios através delas. Já é possível encontrar gigantes multinacionais como a Google, Microsoft ou Coca-Cola com presenças em redes sociais como o Facebook.

Foi assim que a Portugalnet/Rede Pnet, dedicada à produção e edição de páginas web, considerou importante criar “uma rede social dedicada ape-nas ao desporto, nela incluindo todas as modalidades desportivas existen-tes”, refere Vítor Coelho da Silva.

O administrador da Sport-Bit, res-ponsável pela manutenção, alojamen-to e desenvolvimento tecnológico do site, entrevistado pelo JUP, deu a co-nhecer a rede social que reúne “pesso-as adeptas do desporto, atletas, agentes desportivos, clubes, federações, insti-

tuições, treinadores e media em geral”.À semelhança do Facebook, a rede social por excelência, os utilizadores da rede Pnet (que podem ser adeptos ou profissionais) têm à sua disposição um mural onde podem colocar todo o tipo de conteúdos multimédia, aceitar e convidar amigos com quem podem interagir e ter acesso a mensagens pri-vadas. As novidades encontram-se na possibilidade de “colocar os seus Cur-riculum Vitae, notas pessoais e even-tos” nas suas páginas.

O aproveitamento profissional des-ta rede justifica a criação da chamada “zona PRO”, que se destina a “colocar todo o tipo de informação e à qual po-derão dar acesso reservado a pessoas da sua área profissional”, afirma Ví-tor Coelho da Silva. “Estar presente, ser conhecido e reconhecido”, são as vantagens apontadas pelo administra-dor para qualquer utilizador profissio-nal desportivo.

Numa altura em que surgem dia-riamente muitas notícias relacionadas com desabafos de atletas profissionais nas redes sociais como o Twitter, Vítor Coelho considera estas plataformas “muito úteis para quem as sabe utili-zar”, sendo que a adesão à Sport-Bit “está a ser progressiva, registando-se já

muitas centenas de atletas, treinadores, dirigentes de federação e jornalistas”.

A plataforma já conta com algumas parcerias e têm surgido “sugestões mui-to interessantes para introdução de me-lhoramentos nas funcionalidades exis-tentes”. Ao JUP foi revelada a intenção de “desenvolver a plataforma noutras línguas, nomeadamente a Espanhola, Francesa e Inglesa numa primeira fase”.

Para o administrador, gerir a Sport--Bit tem sido “muito fácil”, porque os “simples adeptos e profissionais, sa-bem utilizar a plataforma”, que conta ainda com um editor, a quem com-pete “gerir os relacionamentos entre membros, facilitá-los e contactar com novos potenciais utilizadores a nível nacional e internacional”. Os media nacionais e internacionais têm-se mostrado interessados em parcerias com a rede. “Decorrem conversações para a eventual dinamização e desen-volvimento de parcerias activas que possam projectar o site para os res-tantes países de língua portuguesa”, remata Vítor Coelho da Silva.

A rede Pnet conta ainda com ou-tras plataformas dedicadas a temá-ticas próprias, desde a Cidadania até ao Comércio, Cultura e Artes. •Pedro Santos Ferreira

O mês de Fevereiro começou com um dos maiores aconte-cimentos no mundo do fute-

bol e não só. Na cidade de Port Said, situada a norte do Egipto, decorria a partida para o campeonato nacional entre o Al-Ahly e o Al-Masry. Assim que o árbitro apitou pela última vez no jogo, surgiu o caos com uma invasão de campo por parte dos adeptos.

Para um país que vive uma das maiores tensões sociais da actualidade, o incidente não revelou ser uma sur-presa. Pedras, garrafas e tochas foram arremessadas pelos espectadores que pretenderam fazer parte do triste es-pectáculo. As autoridades locais foram acusadas de pouco ou nada fazerem para deter a fúria vivida no estádio. No total, 74 pessoas faleceram, com asfi-xia e traumatismo craniano apontados como as maiores causas de morte.

Manuel José, o técnico português do Al-Ahly, foi agredido no resulta-do dos confrontos mas encontra-se bem. O treinador regressou a Portu-gal acompanhado dos adjuntos Pedro Barny e Fidalgo Antunes mas depois do repouso em casa, decidiu voltar ao Egipto onde vai continuar a orientar o

clube. No entanto, o Al-Ahly não con-tinuará a presente temporada da mes-ma forma pois a Federação Egípcia de futebol suspendeu o campeonato nacional por tempo indeterminado. A juntar à suspensão da Liga Egípcia, três jogadores do Al-Ahly decidiram “pendurar as chuteiras” depois do choque que evidenciaram no jogo com o Al-Masry. A própria Federação chegou a ser suspensa pelo Governo do país mas Joseph Blatter, Presidente da FIFA, rejeitou a intenção.

O “desastre de Port Said”, como já é conhecido, estendeu-se à capital do país com uma parte da bancada a ser incendiada no jogo entre o Al--Ismailiya e o Zamalek no estádio do Cairo. Blatter já avisou para a separa-ção entre a política e o futebol para que mais incidentes como os que foram verificados não voltem a acontecer. Um ano após Mubarak sair do poder, a situação continua instável e o tu-multo social chegou ao futebol como um dos acontecimentos mais trági-cos das últimas décadas no Egipto. •Diogo Fernandes

FOI CRIADA POR UM PORTUGUÊS E REÚNE CENTENAS DE ADEPTOS, ATLETAS E TREINADORES A NÍVEL INTERNACIONAL. ASSIM FUNCIONA A REDE SOCIAL PORTUGALNET.

A AGITAÇÃO SOCIAL VIVIDA NO EGIPTO CHEGOU AO FUTEBOL COM UMA INVASÃO DE CAMPO NO JOGO ENTRE O AL-AHLY E O AL-MASRY. A TRAGÉDIA DITOU 74 MORTOS E CENTENAS DE FERIDOS.A cidade belga de Bruxelas aco-

lheu, entre os dias 10 e 11 de Fevereiro, o “FISU Seminar

- World University Championships”. Este seminário consistiu numa reu-nião dos organizadores dos Campeo-natos Mundiais Universitários que se realizarão durante o ano de 2012.

Em declarações ao site da Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU), o Vice-presidente da Federação Internacional Leonz Eder classificou o seminário como um “sucesso”, conside-rando “ser muito importante ter os orga-nizadores na mesma mesa”. Leonz Eder termina dizendo que a FISU está “an-siosa pelo trabalho que aí vem” e deseja sorte a todas as organizações futuras.

Durante o Seminário, foram apresen-tados casos de sucesso e trocadas ideias para uma melhor organização das com-petições internacionais a ocorrer no futuro próximo. Portugal foi convidado pela FISU a marcar presença, tendo sido representado pela Universidade do Porto.

Através de Bruno Almeida, director do Gabinete de Apoio ao Desporto da UPor-to (GADUP), foi apresentado o trabalho de comunicação e imagem feito por altura do WUC Rugby Sevens 2010, no estádio do Bessa, considerado o melhor mundial de sempre na categoria. Bruno Almeida considera o convite feito como “um prémio por todo o esforço e empe-nho que a U.Porto dedicou a este even-

to”, sentindo-se satisfeito e orgulhoso perante o reconhecimento internacional do trabalho feito. Apesar de esta ter sido a primeira vez que o desporto universi-tário recebeu uma distinção desta enver-gadura, o director do GADUP considera que “existe já um reconhecimento por parte da FISU e da EUSA (European University Sports Association) do bom trabalho realizado nas organizações de campeonatos mundiais e europeus uni-versitários por parte de universidades portuguesas” como provam “os inúme-ros campeonatos que anualmente são atribuídos a Portugal”. Quando questio-nado sobre o que levou ao sucesso da or-ganização do Mundial de Sevens, Bruno Almeida aponta alguns factores como a chave do sucesso. Afirma que uma grande parte da boa organização ficou a dever-se “à forte aposta e envolvimento da U.Porto neste projecto, desde o pro-cesso de candidatura que a Universidade encarou este evento como uma forma de promoção da U.Porto a nível internacio-nal e entendeu que este deveria ser uma referência futura”.

Outro factor importante foram as condições disponibilizadas aos partici-pantes da prova. Para além do Estádio do Bessa ter sido colocado à disposição das equipas, muitos outros pormenores foram pensados para proporcionar uma estadia de qualidade. Exemplo disso foi o facto de todas as ementas terem sido

concebidas por um nutricionista ligado à alta competição desportiva.

Bruno Almeida afirma, também, que o forte envolvimento da Câmara Municipal do Porto e a enorme visi-bilidade nos órgãos de comunicação social nacionais contribuíram para a boa organização do Mundial de Sevens. Em relação ao futuro, o director do GA-DUP mostra-se confiante para o que aí vem. Com a organização (em parceria com o IPP e a FAP) dos Campeonato Europeu Universitário de Voleibol de Praia em 2013 e do Campeonato Mun-dial Universitário de Voleibol de Praia em 2014 já garantidas, Bruno Almeida afirma que “a enorme experiência ad-quirida pela U.Porto com a organização do Mundial de Sevens poderá ser uma mais-valia para a organização destes dois eventos internacionais, aliado ao facto de tanto a FAP como o IPP possuí-rem já uma larga experiência na organi-zação de eventos de grande dimensão”. Este facto levará Portugal novamente à excelência organizativa, deixando ante-ver mais uma organização de alto nível. O director do GADUP acrescenta ainda que caso as instituições portuguesas realizem um “excelente trabalho”, o desporto português “sairá com toda a certeza mais reforçado” e o reconheci-mento internacional será inevitável. •Ricardo Norton

Dar luxo ao campeonato

No passado dia 31 de Janeiro a primeira divisão de futebol nacional assis-tiu ao regresso de dois emigrantes.

Lucho González e Yannick Djaló regressaram de França, para reforçar o FC Porto e o SL Benfica, respectivamente. O primeiro é um argentino com coração portista, um reconhecido “comandante” dos azuis e brancos, que só com o seu regresso conseguiu trazer de novo a alegria aos adeptos, pouco depois do desaire em Barcelos. O segundo é uma eterna promessa portuguesa que tem vindo a defraudar as expectativas, muito por culpa de uma perseguição constante da imprensa cor-de-rosa. Estes dois joga-dores têm em comum o facto de terem assinado a custo zero por ambas as equipas, os dois grandes de Portugal, o que deixa o alerta: afinal a crise toca mesmo a todos.

Contudo, com contratações assim, os adeptos não se chateiam, até por-que Lucho é caso raro em Portugal e na política de transferências do clube liderado por Pinto da Costa. O jogador demonstrou ter amor à camisola e também à cidade que o acolheu durante 4 anos, desde 2005 até 2009. Os números espelham a qualidade do médio que em 111 jogos no campeo-nato, marcou 31 golos e deu outros tantos a marcar. Mais do que as esta-tísticas, vale o carácter emocional que o jogador traz à equipa e à massa associativa. O mesmo serve para Djaló que fez despertar a rivalidade dos dois clubes lisboetas.

Num momento em que as notícias do dia-a-dia não são as melhores e os motivos para sorrir são cada vez mais escassos, o futebol isola-se como entretenimento da sociedade, em 90 minutos que fazem esque-cer tudo o resto.

O mercado de inverno fez ressurgir a paixão pelo jogo e de uma luta pelo título que ainda vai a meio. Ter Lucho é ter qualidade de jogo, reco-nhecida pelos rivais, mas ter Djaló (que também era desejado pelo Por-to) é ter ainda mais velocidade, numa equipa que já não sabe abrandar o ritmo de jogo.

Porto e Benfica conseguiram reforços de qualidade e é caso para dizer que os bons filhos à casa tornam.

Pedro Santos Ferreira

Universidade de Porto mostra os caminhos do sucesso organizativoA CONVITE DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE DESPORTO UNIVERSITÁRIO, A UPORTO EXPÔS O TRABALHO DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM REALIZADO NO MUNDIAL DE SEVENS, EM 2010.

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JUP — MARÇO 2012CRÓNICAS18

… ser filho do Futre

Mono-no-AwareVoto SalavizaCRÓNICA LITERÁRIACRÓNICA CINEMATOGRÁFICA

CONTA-ME COMO É…

S e até há pouco tempo alguns ig-noravam quem era Paulo Futre, hoje tal parece impossível. Em

Março de 2011, o discurso na candida-tura de Dias Ferreira à presidência do Sporting Clube de Portugal voltou as atenções para o ex-internacional por-tuguês e deu início ao crescimento de uma onda de autêntica “futremania”.

Hoje, Paulo Futre conta já com um livro lançado, participações em vários programas televisivos, entre os quais telenovelas, e um programa semanal - “A noite do Futrebol” - onde comenta momentos passados da sua carreira e o futebol atual. Estrela do futebol por-tuguês e espanhol e Bola de Prata em 1987, é hoje o sócio mais concentra-díssimo de Portugal.

Mas e ser filho do Futre, como é? Fábio Futre pode responder a isso. O mais novo dos filhos do ex-jogador partilha com ele o gosto e a paixão pelo futebol, tem uma grande admira-ção pelo pai e por isso, acedeu a falar da sua experiência ao JUP.

Simpático e com olhos azuis que herdou do pai – assim como a energia e alguns traços faciais - Fábio Futre tem atualmente 21 anos e nasceu em

Madrid, onde vive a maior parte do tempo. Tal como Paulo Futre, decidiu apostar numa carreira futebolística, mesmo tendo terminado o ensino se-cundário e feito exames de acesso à faculdade.

“Eu costumo dizer que nasci com uma bola nos pés, precisamente por ser filho de um jogador”, realça o jo-vem que jogou no Atlético de Madrid durante dez anos, clube onde o pai é visto como um símbolo, e que Fábio considera “uma grande instituição re-conhecida dentro e fora de Espanha”.

Apesar de ter passado por países como França e Itália enquanto cres-cia, afirma não ter perceção destas mudanças quando era mais jovem, mas acredita que contribuíram para o tornar mais sociável. Fábio conta que a sua vida “foi toda em Espanha, onde vivem os meus pais e o meu ir-mão mas tenho toda a restante família em Portugal” e acrescenta que gosta de viver “dos dois lados da fronteira”, justificando assim o “domínio per-feito” do português e do castelhano. “Falo correctamente o castelhano e o português. Em casa falamos sempre em português”, afirma.

Com convocatórias à seleção na-cional de sub-17 no currículo, passa-gem pelo CD Puertollano e Cádiz B e depois de várias lesões nos joelhos e de uma operação decidiu parar com o futebol e direccionar energias para outros objetivos e para uma carreira no meio artístico: “estou concentrado em fazer carreira como modelo e/ou ator”, conta.

Recentemente, Fábio tem também aparecido no programa “A noite do Futrebol”, onde ajuda e colabora com Paulo Futre nos vários conteúdos. Re-lativamente à pressão mediática, diz não ter problemas com a imprensa ou o mediatismo, especialmente devido à influência e educação recebida pelos pais. “Os meus pais sempre me ensina-ram a ser humilde e a ter os pés bem assentes na terra”, sublinha o jovem.

Conhecendo melhor a realidade de Espanha, vê a pressão mediática no país vizinho superior à de Portu-gal mas acredita que é fácil ser filho do Paulo Futre, até porque nunca foi abordado por ser filho de quem é. O membro mais novo do clã Futre afir-ma ainda que a imagem extrovertida que que o país tem do pai correspon-

de à realidade. Tanto como pessoa, como no papel de pai, Paulo Futre revela sempre a mesma alegria e boa disposição,“É muito extrovertido, brincalhão, humilde em tudo na vida, com a família não é diferente”, conta.

“Ser filho do Futre é como ter um irmão mais velho, é fantástico!”, afir-ma sem reservas Fábio Futre, demons-

trando perfeitamente a ótima relação que tem com o pai e a importância deste no seu crescimento e formação. •Filipa Sousa

U ma vez, à leitura da passa-gem do Genji Monogatari na qual o libertino herói de Mu-

rasaki Shikibu é informado do óbito daquela que fora sua única verdadeira paixão, Dama Fujitsubo, a «Dama das Glicínias», fui subitamente sacudi-do por uma espécie de epifania, algo que creio ser análogo àquela brusca e avassaladora iluminação que no Zen se chama satori.

Até então, sempre que a «Dama das Glicínias» me concedia uma entrevista, o timbre de voz que meu imaginário lhe tinha atribuído suscitava em mim uma atracção perturbadoramente familiar. Intrigado, de quando em quando, su-plicava-lhe que derrubasse os biombos, que afastasse os leques da memória através dos quais emana esta voz, atrás dos quais, quer por pudor ou capricho, bienséance ou mera frivolidade, obsti-nadamente, permanecia dissimulada.

Tenho que te dizer que, certa vez, vendo que ela persistia veemente-mente em não aceder à chantagem, frustrado, ultrajado, abandonei o Gen-ji Monogatari; e que só foi a esperança

que a próxima escapadela nocturna do Genji para os lados do «Pavilhão das Glicínias» traísse e castigasse esta «Dama» que me levou, assim feito voyeur, a regressar à leitura…

Ora, paradoxalmente, à leitura da-quela passagem, no preciso instante que soube que este timbre, o único elo que detinha para a verdade, fora silen-ciado pela morte, reconheci de ime-diato sob a persona de pó-de-arroz de Dama Fujitsubo o rosto de J., a mulher que outrora amei.

Contudo, aquilo que este satori me revelou, não foi tanto o facto que ti-nha inconscientemente personificado meu antigo amor com o do Genji; foi sim aquilo que o filólogo Motoori No-rinaga identificou como sendo o tema fulcral do Genji Monogatari, o mono--no-aware. Ao constatar que esta mu-lher a quem tinha jurado um eterno e inabalável amor tinha sucumbido ao esquecimento, foi-me revelada a avassaladora «impermanência de to-das as coisas».•Alexandre Marinho

E m 2012 o Festival de Cinema de Berlim premiou o cinema português. Em São Bento a As-

sembleia da República aprovou voto de congratulação aos artistas. Rafa, de João Salaviza, ganhou nas curtas--metragens e Tabu, de Miguel Gomes, recebeu o prémio da crítica e o prémio Alfred Bauer.

O Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale, um dos mais importantes festivais de cinema da Europa e do mundo, premiou o cinema português na sua edição de 2012. “Rafa”, de João Salaviza, venceu o Urso de Ouro na ca-tegoria de curtas-metragens e “Tabu”, de Miguel Gomes, recebeu o prémio da crítica e o prémio Alfred Bauer, atribuído a um filme que abra novas perspetivas para o cinema.

No momento em que recebeu o pré-mio, Salaviza lamentou que em Portu-gal haja “cada vez menos espaço para os filmes portugueses” nos circuitos de distribuição e na televisão.

Já Miguel Gomes fez questão de de-dicar o prémio a cineastas como Ma-noel de Oliveira, João César Monteiro, Pedro Costa, Fernando Lopes ou Paulo Rocha destacando que “nos últimos 50 anos, eles conseguiram fazer um cinema independente do poder polí-tico e do poder económico".

Em São Bento, o voto de congratula-ção do Partido Socialista (PS), do PCP e do Bloco de Esquerda (BE) aos rea-lizadores João Salaviza e Miguel Go-mes, pelos prémios conquistados no Festival de Berlim foram, a 24 de Feve-reiro, aprovados por unanimidade na Assembleia da República. • Nuno Moniz

a Raquel S.

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