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LONDRINA 2016 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS JÚNIOR CEZAR CASTILHO A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS UMUARAMA: LIMITES, IMPASSES, DESAFIOS SOBRE O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

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LONDRINA 2016

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

JÚNIOR CEZAR CASTILHO

A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS UMUARAMA: LIMITES, IMPASSES, DESAFIOS

SOBRE O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

JÚNIOR CEZAR CASTILHO

Cidade ano

AUTOR

Londrina 2016

A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS UMUARAMA: LIMITES, IMPASSES, DESAFIOS

SOBRE O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM.

Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Orientadora: Drª Samira Fayes Kfouri

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca do Instituto Federal do Paraná – Campus Umuarama)

Castilho, Júnior Cezar

J352a A Avaliação no Instituto Federal do Paraná, Campus Umuarama: limites, impasses, desafios sobre o processo ensino-aprendizagem/ Júnior Cezar Castilho. – Londrina, 2016.

100f. il.

Orientadora: Profa. Dra. Samira Fayes Kfouri

Dissertação (mestrado) - Universidade Norte do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, 2016.

1. Avaliação. 2. Ensino. 3. Instituto Federal. I. Kfouri, Samira

Fayes. II. Universidade Norte do Parana. III Titulo. CDD 21. ed. 371.26

Catalogação Na Fonte Elaborada pela Bibliotecária Ana Flávia Costa CRB 9/1483

Júnior Cezar Castilho

A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS UMUARAMA: LIMITES, IMPASSES, DESAFIOS SOBRE O PROCESSO

ENSINO-APRENDIZAGEM. Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área de concentração em Ensino como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:

_________________________________________ Prof. Dr. Samira Fayes Kfouri

UNOPAR

_________________________________________ Prof. Dr. Flávio Bento

UNOPAR

_________________________________________ Profª. Drª. Irandi Pereira

(UNIBAN)

Londrina, 05 de fevereiro de 2016.

AGRADECIMENTOS

À Professora Samira Fayes Kfouri, pela orientação, humanidade e confiança. Aos Professores Flávio Bento e Irandi Pereira, pelas valiosas contribuições no Exame de Qualificação. À Viviane, minha morena, que sabe o motivo e quanto foi difícil. Que Deus nos conserve unidos para sempre! Aos meus filhos Felipe e Bárbara, pois souberam esperar. Agora podem ligar o videogame e descer os livros infantis da estante, que estou voltando! À Dona Francisca, minha mãe, pelas orações, pelo incentivo e pela satisfação com minhas conquistas. Aos meus irmãos Sid e Claudio, pois sempre que me viram nervoso, me levaram para pescar. À Professora Edilomar, a grande culpada por esse trabalho existir, literalmente. Obrigado pela simpatia e pela contribuição histórica. À professora Silvia Basso, parceira nos estudos e publicações sobre a rede federal. Aos professores do IFPR, Campus Umuarama, que participaram da pesquisa. Estamos juntos! À Talita, Terezinha, Karla e Karlinha, pois tiveram que aplacar a ira dos espíritos Xetás na minha ausência. Meninas, nós somos os TAES! À Ana, que abriu as portas da biblioteca para que os livros pudessem ser ouvidos. Ao IFPR, Campus Umuarama, nas figuras de seus Diretores Geral e de Ensino, pela flexibilização da minha jornada de trabalho em 2014 (Zanatta e Miloca) e pelo afastamento em 2015 (Alan e Diane), fato que viabilizou o desenvolvimento desse estudo. Ao Magister Aécio Flávio de Carvalho, com quem tenho uma dívida eterna de gratidão, respeito e admiração.

CASTILHO, Júnior Cezar. A Avaliação no Instituto Federal do Paraná, Campus Umuarama: Limites, Impasses, Desafios sobre o Processo Ensino-Aprendizagem. 2016. 100 fls. Dissertação (Mestrado em Metodologias

para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) – Universidade Norte do Paraná, Londrina, 2016.

RESUMO

Esta pesquisa, inserida na linha de Pesquisa Formação de Professores e Ação Docente em Situações de Ensino do Programa de Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias da UNOPAR, procurou investigar as práticas pedagógicas da avaliação do processo ensino-aprendizagem, no Instituto Federal do Paraná, Campus Umuarama. O foco desta pesquisa foi refletir sobre as concepções e práticas de avaliação da aprendizagem em cursos técnicos de nível médio. Buscou-se responder ao seguinte problema: que limites, impasses e desafios são encontrados nas práticas avaliativas dos professores que atuam nos cursos técnicos concomitantes ou subsequentes de nível médio do IFPR, Campus Umuarama, ao utilizarem portaria 120/2009 como instrumento norteador do processo de avaliação? O objetivo geral foi identificar e analisar desafios e perspectivas nas práticas avaliativas e suas relações com a formação pedagógica dos professores que atuam nos cursos técnicos concomitantes ou subsequentes de nível médio do IFPR. Trata-se de uma abordagem de pesquisa qualitativa com estudo exploratório-descritivo: com base principalmente em Ramos (2011), Saviani (1997, 2008), Kuenzer (2009), Pacheco (2011), Hoffman (2001, 2007), Luckesi (1998, 2006) e Perrenoud (1999) e a análise dos dados buscou uma aproximação possível com a proposta dialética de Minayo (2012). Foram consultados, por meio de questionários com questões abertas e fechadas, 18 docentes que lecionam no ensino técnico da instituição envolvida. Nas análises foi constatado que na perspectiva dos professores, existem duas concepções sobre avaliação da aprendizagem: uma voltada à pedagogia tradicional, e a outra voltada à avaliação como processo formativo. Ficou evidenciado que a ausência de conhecimento pedagógico específico sobre o processo de avaliação se reflete diretamente nas práticas docentes. Quando observados numa perspectiva dialética, é possível identificar que os limites, impasses e desafios da avaliação da aprendizagem no IFPR, Campus Umuarama configuram-se como elementos motivadores de avanços na direção de uma avaliação formativa. Palavras-chave: Avaliação. Ensino. Institutos Federais

CASTILHO, Junior Cezar. The evaluation at the Federal Institute of Paraná, Campus Umuarama: Limits, Deadlocks, Challenges on the Teaching-Learning Process. 2016. 100 fls. Dissertation (Master's Degree in

Methodologies for Teaching Languages and their Technologies) - University of Northern Paraná, Londrina, 2016.

ABSTRACT

This paper is inserted in the research line of the Teacher Training and Teaching Activities in Teaching Situations of Master's Degree in Methodologies for Teaching Languages and their Technologies. Intends to investigate the educational practices of the assessment of the teaching–learning process, in Federal Institute of Paraná, Campus Umuarama. The focus of this research was think over the conceptions and practices of assessment for learning in high school technical education. An answer was sought to the following problem: what limits, deadlocks and challenges are found in the assessment practices of teachers who work in concurrent or subsequent technical in high school courses of a IFPR, Campus Umuarama, the use ordinance 120/2009 as a guiding instrument of the evaluation process? The general objective was to identify and analyze challenges and perspectives in assessment practices and their relationships with the pedagogical training of teachers who work in concurrent or subsequent technical courses in high school of a IFPR. This is a qualitative research approach with an exploratory and descriptive study: based mainly in Ramos (2011), Saviani (1997, 2008), Kuenzer (2009), Pacheco (2011), Hoffman (2001, 2007), Luckesi (1998, 2006) and Perrenoud (1999) and the data analysis sought a possible approach to dialectics proposed of Minayo (2012). Eighteen teachers who teach in technical education the institution involved were consulted through questionnaires with open and closed questions. In the analysis it was found that the perspective of teachers, there are two conceptions of learning assessment: one focused on traditional pedagogy, and the other focused on evaluation as a learning process. The study revealed that the absence of specific pedagogical knowledge about the evaluation process is directly reflected in teaching practices. When observed in a dialectical perspective, it is possible to identify the limits, deadlocks and challenges of learning evaluation in IFPR, Campus Umuarama are configured as motivators advances toward a formative evaluation.

Key words: Evaluation. Education. Federal Institutes

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Localização das unidades do IFPR .................................................. 27

Figura 2 - Campus Umuarama ......................................................................... 30

Figura 3 - Organograma do Campus Umuarama ............................................. 31

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Matrículados por Curso ................................................................... 29

Tabela 2 - Servidores Efetivos do Campus Umuarama.................................... 30

Tabela 3 - Distribuição Orçamentária 2015 - Campus Umuarama ................... 31

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Dados da Caracterização ................................................................ 56

Quadro 2- Respostas sobre função da avaliação da aprendizagem ................ 64

Quadro 3- Descrição da Formação Pedagógica sobre a Portaria 120/2009,

IFPR ................................................................................................................. 70

Quadro 4 Dificuldades de Avaliação mediante a Portaria 120/2009 IFPR ...... 73

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Formação Profissional de Nível Superior – Graduação ................... 58

Gráfico 2 - Nível de Pós-graduação Docente no IFPR, Campus Umuarama ... 59

Gráfico 3 - Regime de Trabalho Docente no IFPR, Campus Umuarama ......... 59

Gráfico 4 - Tempo de Experiência Profissional como Docente no IFPR, Campus

Umuarama ........................................................................................................ 60

Gráfico 5 - Tempo de Experiência Profissional como Docente - anterior ao IFPR

......................................................................................................................... 60

Gráfico 6- Formação Pedagógica Curricular Específica sobre Avaliação ........ 61

Gráfico 7 - Funções da Avaliação .................................................................... 66

Gráfico 8- Formação pedagógica específica sobre avaliação da aprendizagem

estipulada na portaria 120/2009, do IFPR ........................................................ 70

Gráfico 9 - Dificuldades para Avaliação mediante a Portaria 120/2009 IFPR .. 75

Gráfico 10 - Registro do desempenho acadêmico na formação escolar superior

......................................................................................................................... 76

Gráfico 11 - Registro de Desempenho por Notas ou Conceitos ....................... 77

LISTA DE ABREVIATURAS

CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão

CONSUP – Conselho Superior

ET-UFPR - Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná

IFPR – Instituto Federal do Paraná

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação

MEC - Ministério da Educação

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PDI - Projeto de Desenvolvimento Institucional

PREPEX - Pró-reitoria de Ensino, Pesquisa e Extensão

PROENS - Pró-reitoria de Ensino, Pesquisa e Extensão

SETEC - Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

SISTEC – Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e

Tecnológica

UFPR – Universidade Federal do Paraná

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14

1 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA ............................................. 21

1.1 O IFPR: História e Cenário Político Institucional ..................................... 26

1.2 O Campus Umuarama ........................................................................... 29

2 . ESTADO DA ARTE ..................................................................................... 34

3. A AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO IFPR:

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ........................................................................ 40

3.1 Marco Conceitual .................................................................................... 40

3.2 Avaliação Tradicional .............................................................................. 42

3.3 A Avaliação Formativa ............................................................................ 44

3.4 A Avaliação na Legislação Brasileira ...................................................... 46

3.5 A Portaria 120/2009 - IFPR ..................................................................... 49

. 4. A AVALIAÇÃO NO IFPR: RESULTADOS E ANÁLISE ............................... 52

4.1 Métodos e procedimentos ....................................................................... 53

4.2 Caracterização dos Sujeitos ................................................................... 56

4.3 A avaliação na perspectiva docente do IFPR, Campus Umuarama ....... 62

4.3.1 Avaliação do Processo de Ensino-Aprendizagem ............................ 63

4.3.2 Formação Pedagógica Docente para Avaliação; ............................. 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 80

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 85

APÊNDICES ..................................................................................................... 90

APÊNDICE A .................................................................................................... 91

Termo de consentimento livre e esclarecido e questionário de pesquisa ........ 91

ANEXOS ..........................................................................................................95

ANEXO A ..........................................................................................................96

Portaria 120/2009 IFPR .................................................................................... 96

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INTRODUÇÃO

O processo educativo é cativante. Basta se observar o olhar de

qualquer criança prestes a ir pela primeira vez à escola. Impossível não se

encher de uma esperança utópica na humanidade. Não é à toa que muitos,

indiferentes a questões de falta de credibilidade que a profissão atualmente

possui, ainda teimam em ser professor. Sonhar, ousar a utopia, trabalhar com

gente, ensinando a aprender sobre o mundo que se descortina. Pensar como

Caetano Veloso na canção: “gente é pra brilhar”.

Mas, a experiência da vida, o dia-a-dia e as leituras tanto do

mundo, quanto dos livros na academia, paulatinamente, fazem os educadores

perceberem, como relata Saviani (1997), que o ser humano se constitui numa

trama de relações sociais, como um ser ativo, social, histórico e crítico na

medida em que ele adquire o seu modo de ser, agindo no contexto das

relações sociais nas quais vive, produz consome e sobrevive.

Saviani (1997) relata que esse processo de transformação

envolve múltiplas relações em determinado momento histórico, assim, o ser

humano acumula experiências e em decorrência dessas, produz

conhecimentos que são transmitidos de geração a geração. A transmissão

dessas experiências e conhecimentos se dá por meio da educação e da

cultura. Sobretudo, esses saberes são construídos pelo trabalho, entendido

como ação intencional do homem em suas relações sociais.

Logo, as relações existentes entre os indivíduos não são

naturais, mas construídas historicamente por intermédio de um processo

histórico-cultural no qual o conhecimento humano, em suas mais diferentes

formas, é influenciado pelo modo de produção da sociedade vigente, gerando,

de acordo com Saviani (1997) uma concepção de homem, ideologia, cultura e

sociedade.

Entretanto, no modelo capitalista de sociedade, o

conhecimento científico é posto em destaque com o intuito de legitimar o poder,

pois, como é produzido de forma desigual, serve a interesses políticos,

econômicos e sociais da classe dominante, não sendo acessível a toda

população. Nesse sentido, a ciência não é neutra, ela é produzida em torno de

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discordâncias e disputas que são percebidas no processo histórico, que ora

reproduz o sistema ideológico vigente, ora pode transformá-lo.

Esse processo dialético efetiva-se por intermédio de uma

educação voltada à transformação social, essa libertadora, crítica e

humanitária, que oportuniza ao educando um conhecimento científico, político e

cultural, visando formar um cidadão crítico e consciente de seus direitos e

deveres, preparado para a vida. Culturalmente, essa função cabe à escola.

Saviani (1997) relata que a escola é instrumento de

apropriação do saber e esse é o melhor serviço que se presta aos interesses

da comunidade, já que pode minimizar a seletividade social e torná-la

democrática. Nessa perspectiva, cabe à escola a função social de garantir o

acesso aos saberes científicos acumulados e permitir que os estudantes

desvelem a realidade, saibam nela atuar e transformá-la por meio do trabalho.

Mas, para que esta ação discente possa efetivar-se, o trabalho

do professor deve ser colocado em destaque, pois ele é o responsável por

ensinar os valores tradicionais e éticos do passado, e, concomitantemente,

possibilitar a seus estudantes a especificidade técnica dos conteúdos de suas

áreas.

Nessa perspectiva, é premente a formação de um professor

com sólida preparação técnico-científica e geral, capacitado para desenvolver

novas tecnologias e absorvê-las, com domínio pedagógico, como também

capaz de estimular a visão crítica do discente, a fim de aproveitar os saberes e

conhecimentos “por eles produzidos, criados, construídos reproduzidos e

repassados”, sem perder de vista as disciplinas e o seu corpo de conhecimento

historicamente acumulado, conforme comenta Mazzeu (1998).

Entretanto, essa formação docente não tem se efetivado.

Existe uma séria defasagem nos currículos de formação de licenciados que

atendam as exigências da contemporaneidade no que diz respeito ao ensino

profissional técnico de nível médio. A situação se agrava ainda mais quando os

professores são tecnólogos ou bacharéis, sem formação específica para a

docência e, no processo de ensino-aprendizagem, devem fazer uso da

avaliação.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia têm

sua gênese com a publicação em 20 de dezembro de 2008 da lei federal

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11892, que também instituiu a Rede Federal de Educação Profissional.

Significativamente, houve em todas as regiões do país um incremento na oferta

de vagas para estudantes, docentes e técnicos em educação.

Esse cenário promoveu um movimento de interiorização da

educação profissional, que levou a construção de escolas técnicas e a abertura

de novas vagas escolares a regiões distantes dos grandes centros

metropolitanos. Também postos de trabalho docente foram criados, com a

abertura de concursos destinados a selecionar profissionais de diversas áreas

do conhecimento para lecionarem na educação profissional e tecnológica, em

cursos de formação inicial e continuada, de formação técnica de nível médio,

superior e pós-graduação.

A relação existente entre o binômio educação e trabalho,

historicamente, tem sido dialeticamente discutida nos textos legislativos

educacionais, sendo uma das finalidades a qualificação do educando para o

mundo do trabalho.

Segundo Figaro (2008), mundo do trabalho é o conjunto de

fatores que engloba e coloca em relação a atividade humana de trabalho, o

meio ambiente em que se dá a atividade, as prescrições e as normas que

regulam tais relações, os produtos delas advindos, os discursos que são

intercambiados nesse processo, as técnicas e as tecnologias que facilitam e

dão base para que a atividade humana de trabalho se desenvolva, as culturas,

as identidades, as subjetividades e as relações de comunicação constituídas

nesse processo dialético e dinâmico de atividade.

Nesse cenário, cabe socialmente à educação profissional ter

como primazia desenvolver nos egressos aptidões produtivas que extrapolem a

repetição contínua de tarefas, outorgando-lhes formação humana que os

capacite a pensar e agir sobre o trabalho, visto que educação e trabalho são

direitos fundamentais a todo e qualquer cidadão, garantidos

constitucionalmente.

Uma dessas escolas é o Campus Umuarama do Instituto

Federal do Paraná (IFPR). Segundo o site institucional, a missão do IFPR é

promover a educação profissional e tecnológica, pública, de qualidade,

socialmente referenciada, por meio do ensino, pesquisa e extensão, visando à

formação de cidadãos críticos, autônomos e empreendedores, comprometidos

17

com a sustentabilidade, oferecendo cursos de formação inicial e continuada, de

formação técnica de nível médio, superior e pós-graduação, nos diversos

campi que compõem a rede no estado. No do Paraná, o IFPR possui,

atualmente, 20 campi e 8 campi avançados.

Não obstante, para que essa missão seja realmente tangível,

a avaliação do processo ensino-aprendizagem, no que diz respeito a sua

função, deve ser clara ao corpo docente e compactuada pelos técnicos e

gestores. Entretanto, no IFPR, talvez mais que em outras escolas, esse tema é

bastante polêmico devido a uma portaria interna (portaria 120 de 06 de agosto

de 2009) que estabelece os critérios de avaliação do processo ensino-

aprendizagem do IFPR.

Os critérios visam unificar o processo em todos os campi,

contudo, a multiplicidade de formação do corpo docente (licenciados, bacharéis

e tecnólogos), atuando no ensino básico, técnico e tecnológico, tanto quanto

licenciaturas e pós-graduação, nos mais variados eixos, com atuação prevista

também para pesquisa e extensão, tem tido nas práticas fator determinante na

perspectiva funcional do modo de conceber a avaliação. Assim, a portaria que

deveria figurar como documento norteador tem sido alvo de inúmeras críticas.

Ora, seria a portaria a grande vilã dessa história, ou o modo do grupo conceber

a avaliação do processo ensino-aprendizagem difere da proposta desta escola

que apenas começa dar seus primeiros passos?

Foi para (re)pensar a avaliação frente a esse quadro em que se

desenhou a educação profissional no IFPR, mais precisamente no Campus

Umuarama, que propomos este estudo. A oportunidade de participar do

Programa de Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas

Tecnologias, da UNOPAR, propiciou-nos subsídios de investigação sobre a

avaliação do processo ensino-aprendizagem do IFPR, Campus Umuarama,

colocada como proposta de pesquisa.

Participar do programa de mestrado possibilitou-nos uma maior

aproximação tanto sobre a legislação concernente à educação profissional no

Brasil, quanto em relação ao tema sobre avaliação. A linha de pesquisa em

Formação de Professores e Ação Docente em Situações de Ensino, que

objetiva entender o processo de formação dos profissionais da educação nas

dimensões históricas, políticas, culturais e sociais, bem como seu papel no

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sistema educacional, propiciou condições de análise dos princípios teóricos e

metodológicos da ação docente em estudo, auxiliando na interpretação dos

dados. Além disso, a convivência com colegas de outras instituições, durante

os créditos, ampliou o diálogo sobre esse tema com outros profissionais da

educação.

Posto isso, apresentamos o seguinte questionamento: que

limites, impasses e desafios são encontrados nas práticas avaliativas dos

professores que atuam nos cursos técnicos concomitantes ou subsequentes de

nível médio do IFPR, Campus Umuarama, ao utilizarem portaria 120/2009

como instrumento norteador do processo de avaliação?

Temos como hipótese que a ausência de formação pedagógica

específica sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem, aliada à

multiplicidade de formação docente no IFPR é fator determinante das

dificuldades na aplicabilidade dos critérios avaliativos da aprendizagem,

norteados pela portaria 120/2009 IFPR.

Nesse sentido, o objetivo geral foi identificar e analisar desafios

e perspectivas nas práticas avaliativas e suas relações com a formação

pedagógica dos professores que atuam nos cursos técnicos concomitantes ou

subsequentes de nível médio do IFPR.

Para consecução desse objetivo, foram delineados os

seguintes objetivos específicos: analisar a história da educação profissional no

Brasil, por meio de pesquisa bibliográfica; analisar a perspectiva teórica de

avaliação da aprendizagem presente na portaria 120/2009 IFPR; identificar se

a formação pedagógica docente é fator determinante de dificuldades no

momento da prática avaliativa da aprendizagem.

Esta dissertação está organizada em quatro capítulos. O

primeiro apresenta uma reflexão sobre a legislação educacional e sobre o

histórico da educação profissional no Brasil. Em seguida, apresenta o IFPR,

sua história e contexto político, bem como o Campus Umuarama. No segundo

capítulo é apresentado um estado da arte, apresentando trabalhos acadêmicos

que versam sobre avaliação da aprendizagem em Institutos Federais

semelhantes ao apresentado neste estudo, como os realizados por Marques

(2010), Menchik (2012), Pena (2014), Mendonça (2014). No terceiro capítulo, é

apresentada uma revisão literária sobre avaliação da aprendizagem, tendo

19

como foco duas perspectivas teóricas: o modelo tradicional e o modelo

formativo de avaliação. O quarto capítulo descreve o percurso metodológico

que foi traçado para execução dos objetivos. São descritos o contexto da

pesquisa, os participantes, bem como os procedimentos metodológicos

utilizados, seguindo-se da análise e discussão dos resultados obtidos a partir

da realização da pesquisa. Nas considerações finais, apresentamos os

resultados obtidos.

No que diz respeito ao quesito finalidade, a pesquisa proposta

é de natureza aplicada. Segundo Gil (2010), é “voltada à aquisição de

conhecimentos com vistas à aplicação numa situação específica”, uma vez que

vai a campo para identificação do problema de pesquisa abordado.

Quanto a seu objetivo, a pesquisa proposta é de caráter

exploratório, pois propõe proporcionar maior familiaridade com o problema,

com vistas a torná-lo mais explicito ou a construir hipóteses. No caso dessa

pesquisa, analisar o caso da prática docente, mais precisamente as

dificuldades teórico-metodológicas vivenciadas pelos professores do Instituto

Federal do Paraná do Campus Umuarama na utilização da portaria 120/2009,

que estabelece os critérios de avaliação do ensino-aprendizagem no IFPR.

Essa abordagem, segundo a natureza dos dados, caracteriza-

se como qualitativa, pois além da tabulação de dados adquiridos em entrevista

semiestruturada com os docentes do IFPR, Campus Umuarama, será

fundamental a análise teórico-metodológica guiada à luz da categoria teórica

da avaliação da aprendizagem.

Quanto ao seu procedimento, constitui-se tanto pesquisa

bibliográfica, pois é elaborada a partir das legislações sobre o ensino

profissional no Brasil e discussões teóricas sobre avaliação da aprendizagem já

publicados, como também levantamento de dados, uma vez que se procede à

solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas, docentes do

IFPR (licenciados, tecnólogos, bacharéis) acerca do problema estudado para,

em seguida, mediante análise qualitativa, obterem-se as conclusões a respeito

dos dados coletados.

Entendendo-se a realidade da pesquisa como resultado de um

processo histórico e cultural, o materialismo histórico será a vertente teórica

20

que guiará as discussões propostas, visto que múltiplas determinações

influenciam o objeto de análise.

Os estudos, sobre o histórico da educação profissional no

Brasil, estão pautados em autores que são referência nos estudos de

educação, educação profissional e ensino médio. É, portanto, um estudo sob a

perspectiva marxiana, mediado por autores como Demerval Saviani,

Gaudêncio Frigotto, Marise Nogueira Ramos, Acácia Kuenzer, e Eliézer

Pacheco, entre outros.

Sobre avaliação da aprendizagem, baseado em autores como

Hoffmann, Libâneo, Luckesi, Perrenoud entre outros, pretende-se como critério

teórico-metodológico constituir a função da avaliação como categoria de

análise dos dados coletados.

De posse dos dados, será realizado o cruzamento das

informações, com vistas a descrever as análises e considerações observadas

no estudo proposto.

Acreditamos que a realização deste estudo acerca da

avaliação da aprendizagem pode, de alguma forma, contribuir para que o IFPR,

Campus Umuarama, seu corpo pedagógico, docente e discente, reflitam sobre

este tema e possam (re)pensar as práticas avaliativas, vislumbrando a melhoria

da qualidade do processo ensino-aprendizagem, criando condições para se

promover a educação enquanto política pública comprometida com a

transformação da realidade local onde os campi estiverem, de forma

significativa à comunidade estudantil.

.

21

1 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA

Quando se busca nos documentos oficiais, no site do Ministério

da Educação do Governo Federal de Brasil, o ponto inicial da educação

profissional brasileira, encontra-se o Decreto Nº 7.566 (BRASIL,1909),

assinado pelo presidente Nilo Peçanha, que além dar gênese às primeiras

escolas técnicas, propôs um ensino primário, profissional e gratuito. Nesse

decreto vislumbrava-se também reparar mazelas sociais, oportunizando

formação profissional para uma massa crescente de desvalidos.

Essa necessidade foi oriunda do despreparo da população

brasileira para o trabalho livre, uma vez que a economia do país, no final do

século XIX, baseava-se na exploração de bens primários, como açúcar, minério

e café, tendo na força de trabalho dos escravos sua base de produção de

riquezas. Com o final do regime escravocrata em curso e os intensos debates

políticos que apontavam para o início do período republicano, ficou premente a

necessidade preparação de mão de obra às atividades econômicas

características desse novo regime de governo.

Outro ponto preconizado nos debates políticos da transição do

Império para a República focava-se na necessidade de se criar uma identidade

nacional brasileira, capaz de unificar os cidadãos. Essa premissa era o fator

motivador da educação, tanto da livre ou daquela a cargo do Estado, que viam

no trabalho um instrumento de transformação política e social.

[...] É nesse contexto que a educação do povo é apontada como elemento fundamental na formação para a cidadania, cabendo ao Estado a sua propagação com o objetivo de tornar a sociedade mais participativa e democrática; (SCHELBAUER, 1998. p.59).

Todo esse processo histórico propiciou que, em 1909, fossem

criadas “em cada uma das capitais do Estado da República uma Escola de

Aprendizes Artífices”, pelo Decreto nº 7.566, apontando a importância do

ensino profissional para o Brasil, garantindo uma escola em cada uma das 19

províncias, estabelecendo uma espécie de rede educacional profissionalizante.

Como justificativa, o decreto apresentava três considerações:

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[...] que o aumento constante da população das cidades exige que se facilite às classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência; que para isso se torna necessário, não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, como faze-los adquirir hábitos de trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade ignorante, escola do vício e do crime; que é um dos primeiros deveres do Governo da Republica formar cidadãos uteis à Nação (BRASIL, 1909).

As primeiras linhas do decreto já revelam uma preocupação de

caráter sociopolítico com a aglomeração de pessoas nas cidades e os

problemas de ordem social que ela causava. Cabia naquele momento uma

dupla função para a educação para o trabalho. Segundo Pereira (2003) não se

sabia qual a mais importante para o governo, a qualificação profissional dos

trabalhadores ou o controle da disciplina social.

Esse modelo dual manteve-se até o início da década de 30,

quando a economia agroexportadora brasileira começou a perder espaços

mediante a crise mundial que teve seu auge em 1929. O novo arranjo

econômico forçado pela crise propiciou o surgimento de novos cenários à

economia brasileira, como o incremento na produção industrial na área têxtil.

Pereira (2003) relata que foi a partir desse momento que o

ensino técnico e profissional deixou de ter um caráter assistencialista ou fabril

para posicionar-se como projeto para o desenvolvimento do país, exigindo uma

atuação mais profícua do Estado no processo de formação dos trabalhadores.

Segundo Basso e Castilho (2014) a concepção desse novo

momento da política educacional profissionalizante brasileira começou em

1930, durante o governo de Getúlio Vargas, com o estabelecimento de um

ministério que integrava as pastas de Educação e de Saúde Pública. Dois anos

depois surgiu um manifesto de educadores que denunciava a elitização e a

desorganização do ensino, bem como apontava a necessidade premente de se

estruturar uma escola única, laica, pública e gratuita para o Brasil, que ficou

conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Educação. Com a força ministerial,

a educação foi enfim sistematizando-se ao propor leis que implicavam em

mudanças para todo o país.

O ministro Francisco Campos empreendeu uma reforma

educacional que estruturou o ensino secundário, e deu grande ênfase ao

23

ensino superior. Também o ensino profissional foi disseminado, objetivando

formar mão de obra profissionalizada.

Contudo, foi em 1942 que o então Ministro Gustavo Capanema

empreendeu uma reforma em todo o sistema educacional, estabelecendo o

ensino primário no Brasil como obrigatório, relegando ao ensino secundário o

papel de caminho para a universidade, que objetivaria a formação das futuras

gerações brasileiras. Na proposta, coube à educação profissional o papel de

formação do cidadão trabalhador, eficiente e disciplinado.

De acordo com Schwartzman (1984) um projeto engendrado

pelo Ministério do Trabalho culminou na criação do Decreto nº 6.029/49, que

regulamentou a instalação e funcionamento de cursos profissionais no Brasil,

categorizando as escolas profissionais em dois modelos. Uma destinada aos

trabalhadores da indústria, com pouco tempo para o estudo, e a outra, em

período integral, destinada àqueles estudantes com tempo dedicado à escola.

Embora tenha havido no período um considerável avanço com

a sistematização do ensino profissional no Brasil, essa educação ainda

guardou marcas determinantes de posição e prestígio social. Os trabalhadores

e seus filhos permaneceram na condição social que a força do trabalho braçal

e repetitivo lhes proporcionou, enquanto os filhos das classes dominantes

foram preparados para cargos de direção e decisão, tanto para as indústrias,

quanto para o país.

Essa barreira social imposta pela educação profissional só foi

minimizada com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), de 1961, que estabeleceu como equivalentes os cursos

técnicos e os secundários, dando garantias para que os egressos dos cursos

de educação profissional pudessem progredir também ao ensino superior.

Esse contexto, aliado ao pensamento utilitarista advindo com o

golpe militar em 1964, acabou criando um ambiente profícuo para

generalização da profissionalização no ensino secundário. Durante este

período, a dualidade do ensino secundário deixou de existir legalmente, pois a

ideia de ensino profissional como forma de caridade e também como

desenvolvimento de mão de obra precisou ser “desligada” (CUNHA, 2000).

Não obstante, pressões de escolas tradicionais que trabalhavam com formação

profissional aliada a certas parcelas da sociedade, fizeram com que a oferta

24

tornasse-se optativa a partir do início dos anos 80. Nesse período, iniciou-se

um processo de transformação das Escolas Técnicas Federais em Centros

Federais de Educação Tecnológica – CEFETs.

A década de 1980 contribuiu para significativas mudanças na

ordem mundial. O fim da guerra fria e o desmembramento do sistema soviético

acabaram oportunizando condições para que o capitalismo fosse tomado como

forma hegemônica de organização econômica mundial. No Brasil, o período foi

marcado pelo declínio do governo militar e início do processo de

redemocratização do país.

Esse ambiente propiciou um espaço de amplo debate

educacional, congregando professores, estudiosos e pesquisadores da área de

educação, cujas propostas resultaram em conteúdo motivador à elaboração

tanto da Carta Magna de 1988, quanto da atual LDB, em 1996.

A Constituição Federal de 1988 trata da Educação em seu

Capítulo III – Seção I. No texto, as esferas governamentais federal, estadual e

municipal devem nortear-se por um espírito de complementaridade, contudo,

“compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação

nacional” (artigo 22, XXIV). No Capítulo III, Seção I, o Art. 214 também

faz referência à formação para o trabalho.

Como materialidade da comprovação das descontinuidades

das políticas referentes à educação profissional no Brasil, na LDB (1996)

ressurge nova ruptura, normatizada pelo Decreto 2.208, de 17 de abril de 1997.

A partir dele, o ensino médio (antigo secundário) deveria ser desmembrado da

formação técnica pelas escolas, reestabelecendo assim a dualidade.

Entretanto, com a mudança do governo Fernando Henrique

Cardoso para o Governo Luiz Inácio Lula da Silva, em menos de 10 anos, com

o Decreto Nº 5.154, de 2004, situação volta a ser alterada, permitindo às

instituições a opção pela educação profissional, e a forma de oferta: integrada

ao ensino médio, concomitante ou subsequente a ele.

De acordo com Ramos (2011), com a transição política e os

debates educacionais, esperava-se que a sociedade civil se mobilizasse em

torno do tema, para que o processo instrucional profissionalizante de formação

da classe trabalhadora tivesse um caráter emancipatório. Entretanto, a autora

pontua que a mobilização esperada não ocorreu.

25

Embora ciente das estagnações, da problemática do tema e

das limitações de gestão governamental da educação, a autora apresenta

novas perspectivas oriundas da ampliação da Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica, mobilizada na Lei n. 11.892/2008 que

criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

Essas instituições são definidas na referida lei como entidades

capazes de oferecer educação básica, superior e profissional, cuja

especialidade seja a oferta de educação profissional e tecnológica nas

diferentes modalidades de ensino, conjugando conhecimentos técnicos e

tecnológicos com práticas pedagógicas correspondentes.

Pacheco (2011) traz a defesa dessa instituição como inovadora

em relação às experiências anteriores das práticas de formação na história da

educação profissional no país:

Recusamo-nos a formar consumidores no lugar de cidadãos, a submeter a educação à lógica do capital, colocando o currículo como instrumento do simples treinamento de habilidades e técnicas a serviço da reprodução capitalista. Como agentes políticos comprometidos com um projeto democrático e popular, precisamos ampliar a abrangência de nossas ações educativas. A educação necessita estar vinculada aos objetivos estratégicos de um projeto que busque não apenas a inclusão nessa sociedade desigual, mas também a construção de uma nova sociedade fundada na igualdade política, econômica e social. Essa sociedade em construção exige uma escola ligada ao mundo do trabalho numa perspectiva radicalmente democrática e de justiça social (PACHECO, 2011, p.7-8).

Embora os Institutos Federais possuam uma fundamentação

teórica alicerçada na linha histórico-crítica, esses 5 primeiros anos de sua

criação e implantação têm gerado algumas dificuldades no que diz respeito a

sua missão visto que e os docentes concursados são frutos de formação

educacional inconstante, como inconstantes são as políticas governamentais e

suas legislações educacionais.

Ferreti (2011) afirma que para se efetivar realmente uma

educação de caráter progressista e politécnico, como se preconiza na proposta

de criação dos Institutos Federais, diversos fatores ainda necessitam ser

trabalhados. Entretanto, o autor aponta que, em linha filosófico-pedagógica, o

grande desafio seja convencer o corpo docente a apropriar-se dos

26

fundamentos, valores e da ideologia política proposta de integrar formação

geral e técnica, bem como operacionalizar esse processo numa perspectiva

dialética.

Os Institutos Federais, devido ao pouco tempo de existência,

ainda começam a dar os primeiros passos na concretização de seus Projetos

Pedagógicos Institucionais dentro da perspectiva filosófico-pedagógica

histórico-crítica. Talvez por isso, embora a organização curricular do ensino

profissional seja norteada por lei, Ferreti (2011) relata que nem mesmo existe

um ajustamento integrador entre os diversos cursos de uma determinada área

do conhecimento, muito menos entre os professores dos componentes

curriculares de formação técnica e geral.

Acácia Kuenzer (2013), questiona se os Institutos Federais

serão capazes de fazerem a leitura da realidade na qual foram criados e estão

inseridos, bem como que vivem num processo dialético de contradição. A

autora também afirma que é somente a partir dessa compreensão que se abre

espaços à superação da histórica fragmentação do ensino profissional no

Brasil.

1.1 O IFPR: HISTÓRIA E CENÁRIO POLÍTICO INSTITUCIONAL

O Instituto Federal do Paraná (IFPR) é uma instituição pública

federal de ensino vinculada ao Ministério da Educação (MEC) por meio da

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC). É voltada a

educação superior, básica e profissional, especializada na oferta gratuita de

educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades e níveis de

ensino.

O IFPR possui natureza jurídica de autarquia, detentora de

autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e

disciplinar, vinculado ao Ministério da Educação.

A instituição foi criada em dezembro de 2008 através da Lei

11.892, que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e

os 38 institutos federais hoje existentes no país. Com a Lei em vigor, a Escola

Técnica da Universidade Federal do Paraná (ET-UFPR) foi transformada no

IFPR, que hoje possui autonomia administrativa e pedagógica.

27

Organizado para atuar na modalidade multicampi (Figura 1),

possui atualmente 20 (vinte) campi distribuídos nos municípios de Assis

Chateaubriand, Campo Largo, Capanema, Cascavel, Colombo, Curitiba, Foz

do Iguaçu, Irati, Ivaiporã, Jacarezinho, Jaguariaíva, Londrina, Palmas,

Paranaguá, Paranavaí, Pinhais, Pitanga, Telêmaco Borba, Umuarama e União

da Vitória, além da Diretoria de Educação a Distância. Estão sendo

implantadas também unidades avançadas nas cidades de Astorga,

Bandeirantes, Barracão, Coronel Vivida, Goioerê, Guaíra, Lapa e Quedas do

Iguaçu.

Figura 1 - Localização das unidades do IFPR Fonte: http://reitoria.ifpr.edu.br/menu-institucional/institucional/

Segundo o Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI)

2014-2018 do IFPR, a história do Instituto Federal do Paraná alia-se ao

desenvolvimento da cidade de Curitiba, desde a vinda dos imigrantes da

Alemanha, passando pelos fatos sociais – locais e mundiais – que

influenciaram o desenvolvimento da Educação do Paraná. No ano de 1869, a

Colônia alemã de Curitiba pôs em funcionamento regular a Escola Alemã, com

o objetivo de atender aos filhos dos alemães instalados na cidade.

Já no século XX, em virtude dos conflitos provocados pela

Primeira Guerra Mundial e o consequente enfraquecimento dos alemães, a

comunidade brasileira foi conquistando espaços dentro da Escola Alemã.

Iniciou-se, em 1914, um processo de nacionalização da escola, que passou a

se chamar Colégio Progresso.

28

Em 1936 foi criado o “Curso Comercial”. Este curso é

considerado, segundo o site institucional, o ponto de partida da história do

IFPR.

Dois anos após, o Colégio Progresso passa a se

intitular “Sociedade Colégio Progresso“. A instituição se rompe em 1938 e o

patrimônio e os alunos do colégio são incorporados a diversas instituições de

ensino, encerrando suas atividades em 1943. A maior parte dos bens ficou

para a Faculdade de Medicina do Paraná, pertencente à Universidade Federal

do Paraná.

O “Curso Comercial” que funcionava no período noturno do

Colégio Progresso, passou a denominar-se Academia de Comércio Progresso,

em 1941. No ano seguinte, por ato do Ministério da Educação e Cultura, o

curso passou a ser dirigido pela Faculdade de Direito da Universidade do

Paraná, sob a dominação “Escola Técnica de Comércio anexa à Faculdade

Federal do Paraná”.

Em 1950, com a federalização da Universidade do Paraná, a

escola continuou sendo mantida pela Faculdade de Direito. Anos mais tarde,

por decisão do Conselho Universitário, a escola foi integrada à Universidade

Federal do Paraná, vinculando-se ao Setor de Ciências Sociais Aplicadas, em

22 de janeiro de 1974, sob a denominação de Escola Técnica de Comércio da

Universidade Federal do Paraná. Já, em 1990, passou a ser nominada

de Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná.

Em 1994, por decisão dos governos Federal e Estadual, a rede

pública de ensino deixou de ofertar cursos técnicos. Com isso, a demanda da

Escola Técnica da UFPR aumentou expressivamente, passando de 360 alunos

para 1.453 em 1998. Durante este período, em 1997, a Escola Técnica foi

elevada à categoria de Setor da UFPR.

Em 19 de março de 2008, o Conselho Universitário da UFPR

autorizou a implantação do Instituto Federal do Paraná a partir da estrutura da

Escola Técnica. Com isso, a Escola Técnica foi autorizada a desvincular-se da

UFPR para aderir, sediar e implantar o Instituto Federal do Paraná.

Em dezembro do mesmo ano, o presidente da República Luiz

Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.892, que criou 38 institutos federais de

Educação, Ciência e Tecnologia.

29

No ano seguinte, o primeiro Reitor do IFPR, Prof. Alípio Leal,

iniciou a instalação provisória da nova reitoria, buscando espaço para

acomodar o Campus Curitiba e dar continuidade à instalação dos Câmpus

Paranaguá e Foz do Iguaçu. Em seguida, aprovou o estatuto do IFPR e sua

regularização perante os órgãos do governo.

Após esse período, novas obras foram projetadas e o Instituto

passou a se instalar nas demais localidades do Paraná.

1.2 O CAMPUS UMUARAMA

O Campus Umuarama encontra-se localizado às margens da

rodovia PR-323, km 310, Parque Industrial do município. Iniciou suas

atividades em maio de 2010 com três cursos técnicos e 160 estudantes.

Atualmente, possui 352 estudantes matriculados em seis cursos técnicos

presenciais (tabela1): Design de Móveis, Desenho da Construção Civil,

Agronegócio (subsequentes ao ensino médio), Química, Informática

(integrados ao ensino médio) e Licenciatura em Ciências Biológicas.

Tabela 1 - Matrículados por Curso

CURSO EM CURSO

Licenciatura em Ciências Biológicas 29

Técnico em Agronegócio 63

Técnico em Desenho de Construção Civil 50

Técnico em Design de Móveis 23

Técnico em Informática 80

Técnico em Química 107

TOTAL 352 Fonte: SISTEC de 9/10/2015

A infraestrutura atual do IFPR - Campus Umuarama está

instalada em uma área de 7,7 hectares, sendo 3.500m² (três mil e quinhentos

metros quadrados) de área construída, 1.800m² (mil e oitocentos metros

quadrados) de espaço para estacionamento e o restante ainda por ser

utilizado. O Campus (figura 2) possui três prédios que, juntos, compõem a

seguinte estrutura:

30

15 salas de aula 01 laboratório de marcenaria 04 laboratórios de informática 02 salas de Educação a Distância 01 laboratório de química 01 sala de professores 01 laboratório de física 01 biblioteca 01 laboratório de biologia 01 sala de direção 01 laboratório de maquetaria 01 sala para Secretaria, Direção de Ensino e Administrativa 01 sala de desenho 10 banheiros com acessibilidade Estacionamento para 100 vagas

Figura 2 - Campus Umuarama Fonte: http://info.ifpr.edu.br/unidades-ifpr/umuarama/

Há a previsão entrega de mais um bloco, já construído, de mais

2.700m² (dois mil e setecentos metros quadrados) de área que abrigará

biblioteca, sala de professores, salas de direção, salas de coordenação,

espaço de convivência, praça de alimentação e miniauditório.

Quanto aos recursos humanos, o campus conta atualmente

com 81 servidores, entre técnicos administrativos em educação e docentes

(tabela 2).

Tabela 2 - Servidores Efetivos do Campus Umuarama

SERVIDORES QUANTIDADE

Docentes 49

Técnicos Administrativos 32

TOTAL 81

Fonte: Portal da Informação do IFPR

Disponível em: http://info.ifpr.edu.br/unidades-ifpr/umuarama/

31

Quanto à organização administrativa, as funções do quadro de

servidores do Campus Umuarama estão identificadas em seu organograma, na

figura 3.

Figura 3 - Organograma do Campus Umuarama Fonte: http://reitoria.ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2011/09/Organograma-IFPR.pdf

De acordo com o Plano de Distribuição Orçamentária de 2015,

os recursos destinados ao IFPR, Campus Umuarama foram detalhados na

tabela 3:

Tabela 3 - Distribuição Orçamentária 2015 - Campus Umuarama

(continua)

Detalhamento Valor

14 - Diárias

14 Diárias no País 60.200,00

16

Diárias no Exterior

0,00

18 - Auxílio a Estudantes - Auxílio Financeiro a Estudantes 0,00

20 - Auxílio a Pesquisadores - Auxílio Financeiro a Pesquisadores 0,00

30 - Material de Consumo - Material de Consumo 183.323,13

31 - Premiações - Premiações 0,00

32 - Distribuição Gratuita - Material de Distribuição Gratuita 0,00

01 Passagens para o País 20.000,00

33 - Passagens e Transporte 02 Passagens para o Exterior 0,00

32

09 Transporte – Locação 241.000,00

35 - Consultoria - Serviços de Consultoria 0,00

02 Colaboradores Eventuais (Diárias) 2.000,00

36 - Pessoa Física 07 Estagiários 32.000,00

- Demais Serviços de Pessoa Física 0,00

01 Apoio Administ., Técnico e Operacional 111.779,89

37 - Terceirizações 02 Limpeza e Conservação 315.448,30

03 Vigilância 269.861,00

39 - Pessoa Jurídica - Pessoa Jurídica 314.387,68

47 - Obrigações Trib. e Contrib. - Obrigações Tributárias e Contributivas 0,00

48 - Outros Auxílios - Outros Auxílios Financeiros 0,00

92 - Exercícios Anteriores - Despesas de Exercícios Anteriores 0,00

93 - Indenizações e Restituições - Indenizações e Restituições 0,00

39 - Aquisição de Software - Aquisição de Software 0,00

51 - Obras e Instalações - Obras e Instalações 0,00

52 - Material Permanente - Equipamentos e Material Permanente 388.356,43

Total Custeio 1.550.000,00

Total Capital 388.356,43

Fonte: PDO 2015 IFPR

Disponível em: http://reitoria.ifpr.edu.br/wp-content/uploads/2012/05/PDO-2015.pdf

No IFPR, as atividades docentes são normatizadas pela

Resolução 002/2009 - CONSUP, cujas diretrizes têm como objetivo orientar o

planejamento, a execução, o acompanhamento e a avaliação das atividades de

Ensino, Pesquisa e Extensão exercidas pelos docentes do Instituto Federal do

Paraná.

Em seu artigo 2º, a resolução aponta que o regime de trabalho

docente no IFPR compreende-se em: tempo parcial, com 20 horas semanais

de jornada de trabalho; tempo Integral, com 40 horas semanais de jornada de

trabalho (em dois turnos); dedicação exclusiva, com 40 horas semanais de

jornada de trabalho (em dois turnos e com impedimento de exercer qualquer

outra atividade remunerada).

A carga horária total do docente é distribuída em Atividades de

Ensino, Pesquisa e Extensão, equacionadas de acordo com o regime de

trabalho. Como Atividades de Ensino são compreendidas as ações diretamente

vinculadas aos cursos e programas regulares, em todos os níveis e

modalidades de ensino, ofertados pelo IFPR, como aulas, atendimentos

discentes e manutenção das atividades docentes. As Atividades de Pesquisa

33

são as ações realizadas individualmente ou, preferencialmente, em grupos de

pesquisa, atendendo as demandas dos arranjos produtivo, social e cultural do

território em que o campus está inserido e de interesse institucional. Já as

Atividades de Extensão são as ações de caráter comunitário, não

remuneradas, atendendo as mesmas demandas e interesses da pesquisa.

Neste primeiro capítulo procuramos descrever um panorama

histórico da educação profissional no Brasil. Para tanto, percorremos na

legislação brasileira e em autores os caminhos teóricos e legais que

apresentam seus limites e horizontes. Também descrevemos o contexto da

criação dos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia, mais precisamente o

IFPR. Findamos o capítulo com o detalhamento da estrutura física, humana e

orçamentária do Campus Umuarama, local de nosso estudo.

Na sequência, passaremos à análise descritiva do Estado da

Arte desta pesquisa, na qual relatamos os estudos mais significativos que

dialogam com a proposta apresentada.

34

2 . ESTADO DA ARTE

A avaliação da aprendizagem é um tema amplo, complexo e

que possui inúmeros estudos dedicados a ele nos mais diversos ramos e

modalidades do ensino. Numa pesquisa básica nos bancos de teses ou em

bases de dados, é comum encontrar-se artigos, teses ou dissertações já

publicadas que versam sobre o tema. Não obstante, quando refinamos a

pesquisa e nos reportamos à avaliação da aprendizagem nas escolas oriundas

da expansão da rede federal de educação técnica e tecnológica (Institutos

Federais de Educação, Ciência e Tecnologia), talvez pela recente criação da

mesma, constatamos que o tema é pouco abordado pelos pesquisadores,

resumindo-se a poucas obras.

Esse ramo da educação, como vimos na primeira parte desse

estudo, carrega influências históricas de políticas públicas descontinuadas, que

de acordo com a ideologia do governo em exercício, ora tende a uma prática

meramente tecnicista, visando suprir mão de obra para o trabalho, ora tenciona

formar os estudantes para serem cidadãos críticos, capazes de atuar no mundo

do trabalho com autonomia.

Na atual conjuntura política, o governo federal tem investido

consideravelmente suas atenções na expansão da rede federal que oferece

esse ensino, que ideologicamente, está centrado numa perspectiva sócio-

crítica. Pacheco (2011) sintetiza a proposta desta escola, propondo a execução

de um currículo que não sirva como instrumento do simples treinamento de

habilidades e técnicas a serviço da reprodução capitalista, mas que preveja

ações educativas voltadas à construção de uma sociedade fundada na

igualdade política, econômica e social. Mas, para que essa perspectiva se

concretize, não apenas os currículos, mas principalmente a formação

pedagógica do corpo docente no que se refere à educação profissional deve

ser repensada.

Nesse sentido, o MEC pelo Decreto nº 2208/97, que

regulamentou os artigos da LDB 9394/1996, determina em seu artigo 9º que:

Art 9 º As disciplinas do currículo do ensino técnico serão ministradas por professores, instrutores e monitores

35

selecionados, principalmente, em função de sua experiência profissional, que deverão ser preparados para o magistério, previamente ou em serviço, através de cursos regulares de licenciatura ou de programas especiais de formação pedagógica (BRASIL, 1997).

Logo, como prerrogativa legal para atuar como docente nos

cursos técnicos das escolas profissionalizantes da rede federal, o pré-requisito

inicial é a formação específica da área de atuação, seguida do recebimento de

formação específica para o magistério. Entretanto, a emergencialidade da

dinâmica acadêmica nas escolas, amparada pelo próprio Decreto nº 2208/97

tem permitido que docentes entrem em sala e lecionem sem conhecimento

pedagógico específico até que realizarem essa formação.

O formato e o período para a formação pedagógica requerida

para a educação profissional de nível médio está disposto na Resolução nº 06

CNE/CEB, de 20 de setembro de 2012, que define as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. O artigo 40

orienta que a formação inicial para a docência seja realizada em forma de

cursos de graduação e programas de licenciatura ou outras formas. Dentre

essas outras formas, a referida legislação permite, até 2020, aos professores

em efetivo exercício, que apresentem, como equivalência às licenciaturas,

certificados de “pós lato sensu, de caráter pedagógico”, ou experiência docente

de mais de 10 anos como professor da Educação Profissional.

O cenário até então levantado permite-nos observar que,

embora por força de lei seja necessária uma formação pedagógica específica

para se lecionar na educação profissional e técnica de nível médio, essa não é

pré-requisito no momento da contratação do docente, gerando situações

conflitantes de profissionais que estão há anos em sala de aula sem ainda ter

formação pedagógica básica para tanto.

A situação se torna ainda mais preocupante quando se

entende a avaliação como elemento norteador de todo o processo de ensino-

aprendizagem, pois é nele que se definem, dentro de uma perspectiva

formativa, os limites, impasses e desafios definidores dos rumos a uma

educação significativa para formação do cidadão, dentro dos preceitos

ideológicos vigentes para a educação profissional brasileira.

Em pesquisa realizada no banco de Teses da Capes pudemos

36

perceber que esta preocupação está presente também em estudos como os

realizados por Marques (2010), Menchik (2012), Pena (2014), Mendonça

(2014), que buscam entender como se efetiva o processo de avaliação em

algumas unidades federais de educação profissional e tecnológica da rede.

O trabalho realizado por Marques (2010) foi desenvolvido no

Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola da Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro. O autor procurou investigar as práticas pedagógicas

da avaliação do processo ensino-aprendizagem, a partir das reformas da

educação profissional no Campus Barreiros do Instituto Federal de

Pernambuco, tendo como foco o ensino técnico na área de Agropecuária, a

partir da implantação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nº 9394 de 1996, do

ensino por competência e avaliação formativa.

A pesquisa retratou o período de reformulação do projeto

curricular institucional do campus, no que diz respeito à implantação do

processo de avaliação centrado no ensino por competências, dentro de uma

concepção formativa de avaliação, revelando as dificuldades dos sujeitos

envolvidos nessa prática.

A pesquisa de Menchik (2012), desenvolvida no programa de

Mestrado em Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste

do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), discute o processo avaliativo

praticado pelo Instituto Federal Farroupilha – Campus Panambi, RS. O autor

utiliza como pressuposto norteador a experiência institucional de aplicação do

Projeto Integrador como ferramenta capaz de agregar as disciplinas, dentro da

perspectiva do currículo integrado. Metodologicamente amparado em um

estudo de grupo focal, o autor observou que embora se busque um processo

formativo do ato de avaliar, os docentes envolvidos mantiveram seus hábitos

centrados numa perspectiva tradicional classificatória de avaliação.

O estudo de Pena (2014) trata-se de uma tese apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Educação: conhecimento e inclusão social, da

Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. A autora

analisa a docência na Educação Profissional e Tecnológica, considerando as

especificidades do magistério nos cursos de Educação Profissional Técnica de

Nível Médio e o perfil dos professores das disciplinas técnicas na Rede

Federal.

37

A autora constatou que se tratam, em sua maioria, de

profissionais com diferentes formações em cursos de bacharelado e

qualificação em cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) em suas

áreas de conhecimento específico, mas sem formação voltada para o ensino. O

objetivo do estudo foi identificar e analisar as estratégias de didatização e o

conhecimento pedagógico do conteúdo na prática docente de professores de

disciplinas técnicas.

Como se tratava de um estudo de caso sobre a prática de 6

professores, sua história de escolarização e seus procedimentos de

transposição didática foram o norte, sem um enfoque específico no processo

de avaliação. Entretanto, nas análises das observações relatadas das práticas

dos sujeitos, pode-se perceber que ainda é forte uma avaliação centrada no

modelo tradicional.

Como resultados, a autora observou a importância da formação

pedagógica para os docentes, articulada aos demais elementos do processo

formativo. Além disso, o estudo indica a relevância de uma política de Estado

para a formação docente para essa modalidade de ensino, bem como de

programas de formação continuada que tenham por base a reflexão sobre a

prática docente, com vistas a contribuir para a profissionalização dos docentes

da Educação Profissional e Tecnológica no país.

O trabalho de Mendonça (2014) trata-se de uma dissertação

desenvolvida no Programa de Mestrado em Educação da Universidade

Estadual de Londrina. A pesquisa reflete sobre as concepções e práticas de

avaliação da aprendizagem em cursos técnicos de nível médio, buscando

compreender quais as dificuldades encontradas nas práticas avaliativas pelos

professores que atuam nos cursos técnicos concomitantes ou subsequentes de

nível médio do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São

Paulo.

Nas análises realizadas pela autora, foi constatado que, tanto

nas perspectivas dos alunos quanto dos professores, estão presentes duas

vertentes sobre avaliação da aprendizagem: uma voltada à pedagogia

tradicional, baseada na verificação, no produto final e a outra voltada à

avaliação como processo integrante do ato educativo.

Foi verificado que os cursos ofertados de formação pedagógica

38

aos professores pela instituição possibilitaram à maioria dos docentes, que o

cursaram, melhorarem suas práticas avaliativas.

Como podemos perceber até o momento, os estudos

apresentados são recentes, datam do mesmo período de início das atividades

dos Institutos Federais. Sob a égide da lei de criação dos mesmos, da LDB

atual e de seus projetos pedagógicos, a perspectiva de uma avaliação do

processo ensino-aprendizagem presume-se, em toda rede federal, focado

numa compreensão formativa, centrada no processo e não no resultado.

Entretanto, as práticas docentes relatadas nos estudos

elencados revelam que nos Institutos Federais esta proposta ainda não se

efetiva, uma vez que o corpo docente é síntese de um processo histórico cujo

modelo tradicional de avaliação ainda persiste e se reproduz. Prova disto é a

constatação de que, nos estudos relatados, embora se busque uma concepção

de avaliação formativa, ainda os registros de desempenho acadêmico são

realizados por notas e, no modelo por competências apresentado por Marques

(2010), havia uma “tabela de conversão” de notas para conceitos, para

discriminar o resultado do memorial de desempenho acadêmico num indicador

de composição de competências.

Outro fator a se considerar é que em nenhum dos estudos

apresentados foi relatada a existência de um documento institucional específico

que visasse nortear a avaliação do processo de ensino-aprendizagem dos

Institutos Federais estudados.

Esse ponto é um fator distintivo desta pesquisa que propomos,

visto que no IFPR existe uma portaria interna (portaria 120 de 06 de agosto de

2009) que estabelece os critérios de avaliação do processo ensino-

aprendizagem na instituição.

Os critérios visam unificar o processo em todos os campi do

IFPR, contudo, a portaria que deveria figurar como documento norteador tem

sido alvo de inúmeras críticas do corpo docente, principalmente por determinar

que a forma de registro do desempenho acadêmico seja por conceito.

Foi para (re)pensar a avaliação frente a esse quadro em que se

desenhou a educação profissional no IFPR, mais precisamente no Campus

Umuarama, que propomos esse estudo.

Temos como hipótese que a ausência de formação pedagógica

39

específica sobre avaliação e educação profissional, aliada à multiplicidade de

formação docente no IFPR (licenciados, tecnólogos, bacharéis), em maior ou

menor grau, é fator determinante das dificuldades na aplicabilidade dos

critérios avaliativos da aprendizagem, norteados pela portaria 120/2009 IFPR.

Diante dos estudos expostos até aqui, podemos constatar que

a avaliação do processo ensino-aprendizagem está relacionada diretamente

com a formação pedagógica para docência que os professores pesquisados

possuíam. A escolha pela avaliação do processo ensino-aprendizagem no

IFPR, Campus Umuarama, refletindo sobre seus limites, impasses e desafios,

se deu por a considerarmos vital tanto para sua comunidade acadêmica quanto

para colaborar com o estado da arte.

Assim, o próximo capítulo buscará amparar teoricamente a

pesquisa, com base em autores como Hoffmann, Libâneo, Luckesi, Perrenoud,

e outros que têm dado sua contribuição nesta área, bem como na legislação

educacional vigente e na apresentação da Portaria 120/2009 o IFPR.

40

3. A AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO IFPR:

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Este capítulo tem o objetivo de amparar teoricamente a

pesquisa, com base em autores como Hoffmann, Libâneo, Luckesi, Perrenoud,

e outros que têm dado sua contribuição nesta área, bem como na legislação

educacional vigente, nacional e na apresentação da Portaria 120/2009 o IFPR.

A escolha por estes autores, considerados clássicos sobre o

tema, se deve ao fato de que tanto a legislação educacional brasileira vigente

sobre a rede federal de educação técnica e tecnológica, quanto a portaria

analisada, são amparadas teoricamente na vertente discutida pelos mesmos.

3.1 MARCO CONCEITUAL

Ao se pesquisar a história educacional brasileira, sobre o tema

avaliação da aprendizagem, um ponto recorrente em todos os estudiosos que

se lançam nessa seara teórica na busca de uma possível conceituação para o

termo é a identificação como sinônimo de provas, testes, listas de exercícios e

trabalhos.

Hoffmann (2007) relata que essa perspectiva de avaliação foi

principalmente desenvolvida no Brasil nos anos 60, nos cursos de formação de

professores, fundamentada numa perspectiva comportamentalista que

pressupunha a avaliação como a prática de registro de resultados sobre o

desempenho do aluno. A autora também afirma que esta concepção continua

presente nos dias atuais, em currículos desatualizados de licenciaturas bem

como reproduzidas nas práticas pedagógicas nos meios educacionais.

Não obstante, outro ponto convergente entre os teóricos é a

necessidade urgente de se ressignificar essa ideia de avaliação, visto seu

anacronismo na perspectiva sócio-histórica de homem que se pretende formar,

materializada na legislação atual, esta amparada nos avanços teóricos sobre a

aprendizagem e a importância da educação para a sociedade moderna.

Luckesi (2006) entende avaliação como um juízo de qualidade

do professor sobre dados relevantes, oriundos do processo de ensino-

aprendizagem, tendo em vista uma tomada de decisão. Nessa perspectiva, o

41

professor tem condições de acompanhar e conhecer cada um de seus alunos,

identificar o seu desempenho e suas dificuldades para sempre melhorar o

processo de ensino-aprendizagem. O autor, entretanto, acredita que a prática

tradicional seja difícil de ser mudada, uma vez que a mesma fundamenta os

interesses da burguesia.

Para Hoffmann (2007), somente será possível dar um novo

rumo à avaliação, na perspectiva de melhores resultados de aprendizagem, se

for oportunizado aos professores uma reflexão real sobre a própria prática de

avaliar.

Já Perrenoud (1999) concebe a avaliação num movimento

dialético entre duas forças. Se de um lado a avaliação se apresenta a serviço

da quantificação, de outro se coloca a serviço qualitativo da aprendizagem. A

síntese desse embate revela que o ato de avaliar encontra-se no centro das

contradições existentes no sistema educacional.

Por fim, Libâneo (1991) comenta que os professores não

conseguem, por ausência de formação, estabelecer um equilíbrio entre os

aspectos quantitativos e qualitativos da avaliação. Assim, suas práticas

avaliativas ficam ancoradas na medida ou perdidas na subjetividade.

Esse equilíbrio, requerido por Libâneo, poderia ser

exemplificado nas três funções da avaliação da aprendizagem elaboradas

Scriven (1967) a) avaliação diagnóstica, realizada no início do processo, para

investigar se o aluno possui ou não os pré-requisitos necessários para

aprender; b) avaliação formativa, realizada durante o processo, para informar

como o aluno está aprendendo para, então, orientar ações que promovam a

efetiva aprendizagem; c) avaliação somativa, realizada no final do processo,

para informar sobre o desempenho final do aluno.

A leitura do referencial teórico deste estudo, aliado à análise da

legislação brasileira sobre a educação, mais precisamente sobre a avaliação

do processo ensino-aprendizagem, permitem observar a constatação da

existência de duas concepções de avaliação que, dialeticamente, vêm se

contrapondo na atual conjuntura da educação brasileira. A primeira consiste na

existência e perpetuação de uma concepção tradicional de avaliação com

caráter classificatório, arraigada apenas no resultado quantitativo do processo

cuja prática insiste em definir o sucesso ou o fracasso do estudante. A

segunda, por sua vez, considera que a avaliação incide, justamente, sobre o

42

processo ensino-aprendizagem, cujo foco está na aprendizagem

individualizada do estudante como sujeito do processo, tendo seu caráter

formativo.

3.2 AVALIAÇÃO TRADICIONAL

Para Luckesi (2006), a avaliação no modelo tradicional é fruto

de uma prática avaliativa arraigada em modelos educacionais presentes no

Brasil nos séculos XVI e XVII, e que ainda exercem influência no discurso e na

prática avaliativa de muitos professores ainda nos dias atuais. Segundo o

autor, essas práticas fundamentadas na pedagogia jesuítica e comeniana eram

rigorosas e solenes, centradas na figura do professor como o detentor do saber

historicamente construído, com rituais de provas e exames que objetivavam o

estimular os estudos, tendo o medo como um instrumento de controle para

manter a atenção e a disciplina dos alunos.

A avaliação num modelo tradicional tem como meta verificar se

os objetivos educacionais foram atingidos, não se preocupando com o

processo de aprendizagem do aluno, mas com o resultado desta

aprendizagem, que é o produto final. Essa avaliação é realizada ao final de

todo o processo de ensino-aprendizagem ou ao final de cada conteúdo

trabalhado, valorizando mais o aspecto cognitivo.

Como o foco desta perspectiva incide no resultado final global

da aprendizagem, o que importa é uma média quantitativa para aprovação ou

reprovação para o grupo de estudantes. Os professores que a utilizam,

segundo Luckesi (2006), não sabem se o aluno individualmente está

aprendendo, como ele está aprendendo, o motivo de não estar aprendendo, e

o que fazer para promover a aprendizagem do mesmo. Por isso, para o aluno,

não importa ter aprendido ou não o conteúdo, mas sim se alcançou a média

necessária para “passar de ano”.

Segundo Luckesi (2006), no modelo tradicional de avaliação, o

professor parte do pressuposto, mesmo que inconsciente, de que todos os

estudantes aprendem no mesmo ritmo e da mesma forma. Assim, aplica

atividades avaliativas iguais para todos, tendo ainda na prova escrita o principal

instrumento de avaliação.

43

De posse dessas provas, basta corrigi-las de acordo com um

gabarito pré-estabelecido, calcular uma média com as notas das demais

atividades para se obter o resultado final de cada estudante, classificando-o

como aprovado ou reprovado, nota azul ou vermelha, conceito A ou D. Para

Hoffmann (2001), essa prática avaliativa figura como um processo de controle

autoritário, sem diálogo. Enquanto o professor detém o conhecimento e o poder

de aprovação ou reprovação, cabe ao estudante apenas obedecê-lo.

Segundo Luckesi (2006), existe um ritual histórico que norteia a

prática tradicional de avaliação dos estudantes. Após certo tempo de aula e

exercícios repetidamente praticados, os professores formulam os instrumentos,

geralmente provas escritas que documentem essa ação e sirvam realmente

como “provas” da quantidade de conteúdos que os estudantes estão

“captando” dos trabalhados. O autor ressalta ainda que, dependendo do humor

ou da empatia do professor em relação à turma, as provas podem ser mais ou

menos difíceis.

Essas provas são aplicadas em um dia previamente marcado,

ou “de surpresa”. De uma forma ou de outra, é um momento que, segundo

Luckesi, gera medo e ansiedade em muitos estudantes.

Entretanto, certos professores, temendo macular a própria

imagem ou para não quererem ficar no término do ano letivo envolvidos com

estudantes em recuperação, costumam adiantar durante as aulas prováveis

perguntas ou exercícios que “cairão” na prova.

Depois de aplicadas, os professores corrigem as provas,

atribuindo a elas um valor gradativo de zero a dez, conforme o número de

acertos que cada aluno obteve, registram as notas numa planilha ou caderno.

No final do bimestre, somam-se as notas obtidas ao longo do período letivo,

calculam-se as médias para a obtenção do resultado final. Se aprovado, o

estudante prosseguirá para a etapa seguinte dos seus estudos. Se não, fica

retido na série em que se encontra.

Luckesi (2006) ressalta que como a legislação brasileira prevê

estudos de recuperação, o estudante retido antes de ser considerado

reprovado, tem o direito a uma nova oportunidade para demonstrar sua

apropriação dos conhecimentos exigidos para a etapa. Segundo o autor, o

conteúdo que foi trabalhado num ano ou num período é revisado em poucas

44

horas de aula e então é aplicada uma nova prova. Em alguns casos, a mesma

anteriormente aplicada para “facilitar a vida do estudante”.

Esse argumento figura retoricamente sempre a favor do

professor, pois, se o aluno conseguir a nota mínima para passar, é aprovado,

caso contrário, será sumariamente retido “comprovando” que não havia

absorvido os conhecimentos necessários para a aprovação.

Nesse ponto vale ressaltar que, atualmente, segundo Hoffmann

(2001), apesar de muitos professores criticarem o modelo tradicional de

avaliação, esses mesmos professores perpetuam a prática da mesma forma

que a vivenciaram quando eram alunos, reproduzindo, de modo inconsciente,

as mesmas injustiças com que foram tratados nos bancos escolares.

3.3 A AVALIAÇÃO FORMATIVA

A avaliação num modelo formativo, segundo Perrenoud (1999,

p. 103), “é toda avaliação que ajuda o aluno a se desenvolver, ou melhor, que

participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de

um projeto educativo”. O foco desse modelo encontra-se centrado no processo

de aprendizagem, e não no produto final. A avaliação é realizada de maneira

contínua, considerando o aluno nos aspectos cognitivos, psicomotores e

afetivos.

Para Perrenoud (1999), ao passo que o professor vai obtendo

as informações a respeito da aprendizagem de cada estudante, seus pontos

fortes e limitações, vai realizando concomitantemente as intervenções

necessárias para promovê-la.

Nessa perspectiva, há o estabelecimento de uma relação de

cumplicidade entre professor e estudante, pois ambos são agentes envolvidos

com a aprendizagem. Assim, ao demonstrar suas dificuldades ao professor, o

estudante acredita que será respeitado seu ritmo de aprendizagem e que as

atividades avaliativas servirão para atender as suas especificidades.

Nesse modelo formativo de avaliação, segundo Perrenoud

(1999), as notas e os conceitos não são elementos definidores de um resultado

terminal, mas figuram como indicadores necessários para os constantes

45

ajustes e reajustes permanentes das estratégias de ensino utilizadas pelo

professor, que tem sempre como elemento norteador a aprendizagens dos

alunos. Esses, nesta perspectiva, precisam ser incentivados à auto-regulação

de seu processo de aprendizagem.

Desse modo, não há na perspectiva formativa de avaliação um

ritual a ser seguido, pois segundo Perrenoud (1999), essa prática necessita de

uma intervenção diferenciada do professor, pois introduz uma ruptura ao

sistema tradicional ao deslocar a preocupação dos resultados para o das

aprendizagens, do nível global para a individualização.

Embora a nomine como mediadora, Hoffmann (2001) concorda

que essa perspectiva avaliativa ocorre durante todo o processo educativo,

cabendo ao professor acompanhar e avaliar cada aluno no seu próprio tempo e

ritmo de aprendizagem, para oferecer-lhe as orientações e apoio pelo tempo

que precisar.

Como não existe um modelo fixo, Perrenoud (1999) afirma que

cada professor deve criar seu próprio sistema individualizado de observação,

de acompanhamento e de intervenção, pois a avaliação formativa deve

considerar as necessidades e o tempo de cada um. Nesse sentido, para o

autor, também os instrumentos utilizados para coleta de dados para o ato de

avaliar devem ser diversificados, uma vez que cada instrumento possui sua

especificidade na orientação da aprendizagem do estudante.

Entretanto, os sistemas de registro das atividades acadêmicas

das escolas brasileiras estão amparados, ainda, no modelo tradicional. É

necessária a inserção de dados quantificativos (notas ou conceitos) para

referendar a progressão ou retenção dos estudantes às séries ou etapas

seguintes.

Para tanto, definir qual forma de registro é mais adequada à

avaliação formativa, sejam notas ou conceitos, é irrelevante, pois ambos

possuem um alto grau de subjetividade, além de estimular uma competição

sem sentido que rotula estudantes como “bons, maus ou medíocres”. Hoffmann

(2001) afirma que tanto notas e conceitos são superficiais, pois não

representam realmente as aprendizagens conquistadas pelos alunos, mas

apenas as generalizam.

Sob esse ponto de vista, Hoffmann (2007) adverte que

46

acreditar em escolas que utilizam conceitos no seu processo de avaliação

estão mais próximas da perspectiva formativa pode ser um equivoco, visto que

muitos professores avaliam “por notas” e no final transformam-nas em

conceitos decodificados de escalas numéricas. A autora afirma que existe

inclusive até uma escala oficializada de notas e conceitos nas escolas, para

que o professor possa fazer essa transformação. Luckesi (2006, p. 79)

denomina essa ação de transformar conceitos em notas em “contrabando

indevido de qualidade para quantidade”.

Em síntese, os autores apresentados analisam e discorrem

sobre a existência de duas concepções de avaliação, uma de linha

classificatória e outra formativa. Não obstante, dialeticamente, podemos

observar que a primeira, certamente por servir aos interesses de uma

sociedade capitalista hegemônica, ainda prevalece por efetivar-se como

mecanismo de controle social, mantenedora dos interesses dessa sociedade.

3.4 A AVALIAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A legislação brasileira sobre educação sistematizada é recente,

data do início do século XX. Quando se trata do quesito avaliação, é flagrante

a distinção histórica em dois momentos Um primordial, que se baseia num

modelo classificatório, também conhecido como tradicional, focado no

resultado. Outro, mais recente, preocupado com o processo, também

conhecido como formativo.

Segundo Biazzi (2006) a primeira reforma educacional no

Brasil, a Reforma Francisco Campos, data de 1931. Tinha como foco a herança

característica de modelos, centrados no processo de mensuração das

atividades dos estudantes. A avaliação era concebida como medida, no qual se

buscava quantificar de 0 a 10 a aprendizagem do aluno. Todas as atividades

durante certo período eram somadas e divididas. A média era o quesito de

aprovação para a próxima etapa dos estudos.

No que diz respeito à avaliação, a Reforma Capanema, de

1942, manteve a mesma concepção de avaliação da aprendizagem expressa

na Francisco Campos.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 4.024/61

47

não se reportava textualmente sobre a avaliação da aprendizagem, muito

embora os Pareceres do Conselho Federal de Educação desse período

sugerissem o uso de instrumentos diversificados para avaliação dos alunos,

além de provas e exames.

A LDB de 1971, Lei nº 5692/71, trouxe algumas inovações,

outorgando aos estabelecimentos de ensino autonomia para determinar seus

modos de avaliar. Previa também estudos de recuperação como forma de

assegurar a aprovação do aluno. Aparece também, textualmente, a importância

de se acompanhar o aproveitamento do aluno ao longo do período letivo,

levando-se em conta os aspectos qualitativos e não só os quantitativos,

embora não explicasse o que seriam os aspectos qualitativos.

A Lei 7044/82, no quesito avaliação da aprendizagem, manteve

o mesmo texto da legislação anterior.

A Constituição Brasileira de 1988 é fruto de um momento

histórico de transição política do país, que deixava um período de ditadura

militar para trás e começava imbuída de forte característica democrática.

No que diz respeito à educação, o Art. 206 - inciso VII define os

princípios norteadores do ensino, tais como a igualdade de condições para

acesso e permanência na escola, a garantia de padrão de qualidade, dentre

outros importantes princípios democráticos, abrindo espaços para uma

ressignificação do processo educacional. A partir dela, começou-se um debate

mais acalorado em torno da necessidade de uma perspectiva formativa de

avaliação do processo de ensino-aprendizagem.

Fruto dessa nova perspectiva educacional de direitos,

apresentada pela Constituição de 1988, a atual LDB 9394/96, no seu artigo 24,

inciso V, que trata do processo avaliativo prevê que:

V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:

a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,

com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais;

b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;

c) possibilidade de avanço nos cursos e séries mediante verificação do aprendizado;

48

d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência

paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos.

Essa nova perspectiva rompe dialeticamente o histórico

conteudista e classificatório que até então perpassava as legislações

anteriores. A avaliação, numa ação contínua, leva em conta muito mais que os

resultados finais, mas sim os progressos diários dos alunos e a maneira como

estes vão expressando seus conhecimentos ao longo do processo educativo,

que podem ser revistos paralelamente ao processo, evitando assim atrasos e

retenções características do modelo tradicional. Aqui também não se define os

critérios “qualitativos”, fator que pode causar interpretações variadas à redação

dessa passagem da lei.

Numa tentativa de se construir referências nacionais comuns a

todas as regiões brasileiras, respeitando-se as peculiaridades destas, e

respondendo a uma determinação da LDB 9394/96, em 1997 foram

apresentadas as Diretrizes Curriculares previstas para a Educação Nacional.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais compreendem a

avaliação como:

Elemento integrador entre aprendizagem e ensino; conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma; conjunto de ações que busca obter informações sobre o que foi aprendido e como; elemento de reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa; instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades [...] (PCN 1997, p.83).

As proposições tanto dos PCN quanto da LDB 9394/96, sobre

avaliação, garantem uma abordagem centrada na necessidade de

ressignificação do processo ensino-aprendizagem por parte não apenas dos

professores, mas de todos os envolvidos (técnicos, pais, alunos),

demonstrando uma preocupação formativa para o ato de avaliar.

Não obstante, mesmo com as indicações da legislação vigente

para uma perspectiva de avaliação com caráter formativo, a revisão da

literatura aponta que, nas escolas, o processo de ensino-aprendizagem

49

permanece anacrônico, perpetuando modelos avaliativos focados no resultado,

de caráter meramente classificatório.

3.5 A PORTARIA 120/2009 - IFPR

O trabalho de elaboração das normativas que visavam

estabelecer as diretrizes para avaliação do processo de ensino-aprendizagem

no âmbito do IFPR iniciou-se em 2009, quando o então reitor, Prof. Alípio

Santos Leal, solicitou que a Pró-reitoria de Ensino Pesquisa e Extensão, na

ocasião denominada PREPEX, elaborasse uma normativa para o processo de

avaliação.

Na ocasião, o IFPR contava com 3 campi, sendo Curitiba,

Paranaguá e Foz do Iguaçu. O Campus Curitiba já possuía o histórico da

Escola Técnica, numa perspectiva tradicional de avaliação, cujo registro do

desempenho dos estudantes era realizado por notas, alimentando o sistema

acadêmico desenvolvido pela Universidade Federal do Paraná. Já os campi

Foz do Iguaçu e Paranaguá haviam iniciado as atividades acadêmicas em

agosto de 2008 e estavam, naquele momento, em discussão do processo

ensino-aprendizagem.

A elaboração de um documento norteador para o processo de

avaliação era uma preocupação institucional, visto que o IFPR acabara de se

desvincular da UFPR, e tinha pela frente o desafio de criar uma nova escola

federal dentro da concepção dos institutos, conforme Pacheco (2011).

Considerando o desafio dos institutos e a transformação da

Escola Técnica no IFPR, a equipe responsável pela elaboração começou os

estudos para a proposição de um documento que atendesse esse novo

contexto. A equipe de trabalho era da PREPEX (02 diretorias, 02

coordenadorias e 01 técnico administrativo), mais a pedagoga do Campus

Paranaguá.

Os trabalhos da equipe foram iniciados em abril de 2009, com

prazo de finalização estipulado para julho de 2009. Como fio norteador,

amparada na legislação vigente sobre o processo de avaliação, conceituação e

teorias do processo ensino-aprendizagem, a equipe seguiu a orientação da

LDB, elaborando uma proposta em que o estudante fosse sujeito ativo nesse

50

processo.

A partir dessa definição, a equipe iniciou o trabalho de

discussão internamente, posteriormente estendendo o convite, em alguns

momentos, aos professores do Campus Curitiba como também aos do Campus

Paranaguá, pois estes estavam, desde outubro de 2008, discutindo o processo

de avaliação e vinham utilizando o registro por conceito. Foz do Iguaçu possuía

apenas um curso e, em algumas reuniões, o diretor geral participou das

discussões. Não obstante, não houve a possibilidade de se discutir mais

amplamente devido ao curto prazo para os trabalhos a participação docente

restringia-se mais em discutir a forma de registro, se seria nota ou conceito, do

que o processo ensino-aprendizagem e, por consequência, a avaliação.

Quanto à linha teórica de abordagem, a comissão baseou-se

na prática utilizada pelos professores participantes e a possibilidade de uma

proposta que fosse centrada no estudante como sujeito ativo do processo. Os

documentos utilizados para o embasamento teórico foram a legislação vigente,

documentos da rede federal e textos conceituais sobre processo ensino-

aprendizagem e avaliação, como: Luckesi, Saviani, Paulo Freire, Pedro Demo,

Libâneo, entre outros.

Após os estudos realizados, a comissão sugeriu a definição do

conceito como forma de registro, objetivando que a avaliação rompesse com a

herança classificatória desenvolvida pela Escola Técnica. A comissão entendeu

que, ao optar pelo conceito, haveria a necessidade de formação dos docentes

e que isso permitiria um maior comprometimento dos mesmos para estudos

continuados no processo ensino-aprendizagem e sobre a avaliação.

Findo o prazo, a equipe entregou a proposta ao reitor para que

analisasse e desse os encaminhamentos necessários, visto que então o

Conselho Superior (CONSUP) não estava ainda instalado no IFPR. A decisão

do reitor em publicar o documento em forma de portaria serviu para que todos

os campi o cumprissem, visto que o campus Curitiba, na época, não aceitava a

proposta de uma nova normativa para a avaliação do processo de ensino-

aprendizagem. Assim, os campi Paranaguá e Foz do Iguaçu iniciariam a

utilização na data de publicação da mesma e, Curitiba, em 2010, visto que não

havia como adequar o sistema acadêmico, oriundo da Escola Técnica, já em

processo. Também, os campi que iniciaram suas atividades no ano de 2010

51

seguiram conforme a normatização institucional.

No ano de 2013, devido a várias sugestões vindas de diversos

campi, a PROENS retomou o trabalho de discussão sobre o processo de

ensino-aprendizagem no IFPR. Representantes de todos os 14 campi em

funcionamento foram convidados a integrarem uma nova comissão para estudo

e elaboração de uma proposta de reformulação do documento.

Foram realizadas reuniões presenciais e por videoconferência

e mais de 85 horas de análise, discussão e síntese das 277

contribuições enviadas por meio de formulário eletrônico pelos representantes

dos campi. Além do estudo por parte dos membros nomeados e de outros

convidados, os trabalhos incluíram diversas consultas aos campi, efetuadas por

seus representantes.

Após a conclusão do trabalho da comissão, o documento foi

analisado e discutido pelos membros das diretorias da PROENS e colocado em

consulta pública interna de 28 de agosto a 12 de setembro de 2014. Terminado

o prazo, o documento foi encaminhado ao Conselho de Ensino, Pesquisa e

Extensão (CONSEPE) para aprovação. Entretanto, em dezembro de 2014, a

proposta da Comissão de Avaliação da Aprendizagem não foi aprovada

pelo CONSEPE, não sendo encaminhada, consequentemente, para apreciação

pelo CONSUP. Assim, a portaria 120/2009 continua válida como documento

norteador do processo de ensino-aprendizagem no IFPR tanto para os 20

campi atualmente em funcionamento, quanto para os 8 campi avançados.

O documento (anexo 1) está estruturado em 19 artigos, sendo

que os 5 primeiros correspondem aos pressupostos teóricos que o

fundamentam. Textualmente, os mesmos remetem a citações de excertos da

LDB, bem como a um misto de teóricos da avaliação de perspectiva formativa.

Nos artigos 6 ao 8 são descritos os meios necessários para a

operacionalização da avaliação, como a sugestão de instrumentos para

diagnóstico do processo, bem como os critérios norteadores para que o

docente possa ter parâmetros para seu juízo de valor sobre a aprendizagem

desenvolvida pelo estudante.

O artigo 9 define como são registrados os resultados da

aprendizagem, que devem ser materializados em conceitos (A – aprendizagem

plena; B – aprendizagem parcialmente plena; C – aprendizagem suficiente; D –

52

aprendizagem insuficiente).

Os artigos 10 ao 12 estabelecem os requisitos para aprovação

do estudante para as séries seguintes ou retenção na que se encontra.

Nos artigos 13 ao 15 são descritos novamente, de modo

sucinto, os critérios avaliativos, bem como a necessidade de se discutir o

resultado das avaliações em sala de aula com os estudantes e o

estabelecimento de estratégias de recuperação para aqueles que não atingiram

a aprendizagem suficiente.

Os artigos 16 ao18 estabelecem como deve ocorrer o processo

de recuperação paralela e define os papéis de professores e estudantes nesse

caso.

Como se trata de uma portaria, o artigo 19 define a data em

que a mesma entrou em vigor, dia 6 de agosto de 2009.

Findada essa apresentação, no próximo capítulo, abordaremos

a avaliação do processo de ensino-aprendizagem na visão dos docentes do

IFPR, Campus Umuarama, norteada pela portaria 120/2009, procurando

evidenciar seus limites, impasses e desafios.

.

53

4. A AVALIAÇÃO NO IFPR: RESULTADOS E ANÁLISE

Neste capítulo, abordamos a avaliação do processo de ensino-

aprendizagem na visão dos docentes do IFPR, Campus Umuarama, norteada

pela portaria 120/2009, procurando evidenciar seus limites, impasses e

desafios.

Primeiramente, demonstraremos o percurso metodológico

percorrido, seguido da caracterização dos sujeitos da pesquisa, observando a

compreensão deles a respeito da avaliação da aprendizagem, de modo geral, e

mais especificamente suas concepções acerca da avaliação do processo

ensino-aprendizagem estipulado na portaria 120/2009, IFPR.

4.1 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

Por enfocar a realidade social dos professores do IFPR,

Campus Umuarama, no que diz respeito a sua prática avaliativa do processo

de ensino-aprendizagem, esta pesquisa configura-se como de cunho

qualitativo, uma vez que seu objeto de estudo são as relações humanas, suas

representações e intencionalidades.

De acordo com Minayo (2012, p. 21) “[...] o ser humano se

distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas

ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes”.

Logo, a vertente qualitativa foi considerada a melhor opção a ser utilizada pelo

pesquisador, uma vez que possibilita uma reflexão às percepções, vivências e

experiências dos professores participantes do estudo.

A pesquisa foi desenvolvida de acordo com o modelo

exploratório fundamentando-se em conhecimentos sobre o tema e identificando

as perspectivas dos docentes para, em seguida, interpretá-los, apoiando-nos

numa proposta dialética para a análise dos dados.

Para Trivinõs (2007), na pesquisa exploratória o pesquisador

parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade

específica, para, em seguida, planejar uma pesquisa descritiva que possibilita o

conhecimento detalhado do objeto de estudo, caracterizando tanto a realidade

54

dos participantes, quanto a sua relação com as práticas nas quais estão

inseridos.

A pesquisa foi desenvolvida no Instituto Federal do Paraná,

Campus Umuarama, localizado na região noroeste do estado do Paraná,

ambiente de trabalho do pesquisador, onde exerce a função de Técnico em

Assuntos Educacionais, desempenhando as seguintes atividades: coordenação

na elaboração dos projetos pedagógicos de cursos, análise e orientação dos

planos de ensino dos professores, realização de capacitações pedagógicas,

promoção dos conselhos de classe e acompanhamento de professores e

alunos nas questões pedagógicas, bem como a obtenção de índices e

elaboração de gráficos sobre o desempenho acadêmico dos estudantes.

O IFPR, Campus Umuarama contava em 2015, ano em que

realizamos a coleta de dados, com 49 docentes efetivos, formando o universo

da pesquisa. Todos foram convidados a participarem, de forma voluntária. A

pesquisa foi realizada no período de 6 a 12 de outubro, via on-line, por meio de

um formulário eletrônico com 9 questões fechadas e 4 abertas, elaboradas em

uma planilha eletrônica do Google Docs (apêndice 1), antecedida por um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Uma vez elaborado o questionário, um link foi enviado via email

institucional para cada docente, liberando acesso à leitura do TCLE,

informando os objetivos da pesquisa, a forma de participação e a questão ética

de sigilo dos dados, o anonimato no preenchimento, bem como a possibilidade

de desistir de participar do estudo a qualquer momento. Como o formulário era

eletrônico, os professores que aceitaram participar assinalaram um campo

específico que liberava acesso ao questionário, que depois de preenchido e

enviado, bloqueava um novo acesso pelo usuário.

O questionário semiestruturado foi composto de duas partes:

Na primeira, buscou-se caracterizar os sujeitos por meio de questões fechadas

nas categorias sexo, formação profissional de nível superior (graduação e pós-

graduação), tempo de atuação docente anterior e posterior à entrada no IFPR,

regime de trabalho docente, forma de registro do desempenho acadêmico

quando estudante de graduação e pós-graduação, formação pedagógica

específica sobre avaliação da aprendizagem e sobre a portaria 120/2009 IFPR.

Na segunda parte do questionário apresentaram-se questões abertas, com

55

finalidade de identificar concepções e práticas educativas dos professores, com

foco na avaliação do processo ensino-aprendizagem, bem como a opinião dos

mesmos acerca do modo de registro do processo de avaliação.

Findo o período estipulado para o preenchimento da pesquisa,

o sistema foi bloqueado, não aceitando mais respostas. As mesmas foram

ordenadas em um banco de dados de acesso restrito ao pesquisador.

A partir das respostas, começou-se o processo de leituras e

estabelecimento de comparações entre as diferentes respostas dos sujeitos,

fundamentado em análises teóricas a fim de respaldar o tema pesquisado e

estabelecer as categorias de análise.

A amostra da pesquisa foi constituída por 18 docentes do

quadro permanente do IFPR, Campus Umuarama. Para facilitar as análises, os

respondentes desta pesquisa foram denominados doravante como D1, D2,

D3..... D18. As questões abertas da 2ª parte foram identificadas com a letra Q,

seguida do número correspondente à ordem apresentada no formulário

eletrônico publicado. Dessa forma, o questionário teve a seguinte configuração:

Q11 – Descreva, sucintamente, como foi essa formação

pedagógica recebida no IFPR sobre avaliação de acordo com a portaria

120/2009. (questão somente respondida pelos sujeitos que assinalaram sim ou

parcialmente, na questão 10).

Q12 – Qual a função da avaliação da aprendizagem de seus

estudantes para os componentes curriculares que você leciona no IFPR?

Q13 – Como docente do IFPR, qual a dificuldade em se avaliar

a aprendizagem de seus estudantes tendo a portaria 120/2009 IFPR como

documento norteador?

Q14 – Em sua opinião, qual a melhor forma de se registrar o

resultado do processo de ensino/aprendizagem, NOTA ou CONCEITO?

Além dos participantes, a pesquisa utilizou como fonte de

informação: documentos institucionais como o Plano de Desenvolvimento

Institucional – PDI do IFPR, o Projeto Político Pedagógico do Campus

Umuarama, a Portaria 120/2009 do IFPR.

56

4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS

Foram escolhidos como sujeitos da pesquisa 49 docentes do

quadro efetivo do IFPR, Campus Umuarama. Considerando que a participação

foi voluntária, responderam o questionário 18 informantes, dez do sexo

masculino e oito do sexo feminino. No quadro 1, os docentes estão

caracterizados conforme o tipo de formação, nível de pós-graduação e regime

de trabalho docente no IFPR.

Quadro 1 - Dados da Caracterização

Sujeito Curso de Graduação Curso de Pós-graduação Regime de Trabalho

D1 Licenciatura Especialização lato sensu 40 horas

D2 Licenciatura Especialização lato sensu Dedicação Exclusiva

D3 Licenciatura Doutorado 40 horas

D4 Bacharelado Mestrado Dedicação Exclusiva

D5 Bacharelado Doutorado Dedicação Exclusiva

D6 Bacharelado Mestrado 40 horas

D7 Licenciatura Doutorado Dedicação Exclusiva

D8 Licenciatura Doutorado Dedicação Exclusiva

D9 Bacharelado Mestrado Dedicação Exclusiva

D10 Tecnologia Especialização lato sensu Dedicação Exclusiva

D11 Licenciatura Doutorado Dedicação Exclusiva

D12 Bacharelado Doutorado Dedicação Exclusiva

D13 Bacharelado Doutorado Dedicação Exclusiva

D14 Licenciatura Doutorado Dedicação Exclusiva

D15 Licenciatura Mestrado 40 horas

D16 Bacharelado Especialização lato sensu 20 horas

D17 Licenciatura Especialização lato sensu Dedicação Exclusiva

D18 Licenciatura Mestrado Dedicação Exclusiva

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Ao se considerar que os Institutos Federais além da

perspectiva tecnológica de nível superior são também escolas de educação

técnica de nível médio, seria necessário que todos os docentes cumprissem a

determinação da LDB nº 9394/1996, cujo artigo 62 estabelece que “a formação

de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em

curso de licenciatura, de graduação plena [...]” (BRASIL, 1996). Entretanto,

muitos docentes são contratados considerando apenas os conhecimentos

específicos de sua área de atuação profissional e, por isso, precisam após o

ingresso na rede federal, cursar nível superior em licenciatura ou curso

equivalente, conforme consta nos editais de concurso para ingresso.

Nesses casos, as instituições federais de ensino técnico de

nível médio têm se pautado na Resolução nº 02, de 26 de junho de 1997 do

57

MEC, criando cursos equivalentes à licenciatura para que esses docentes

cumpram a legislação.

No IFPR, esse curso foi instituído pela Resolução CONSUP nº

26 de 18 de junho de 2012 que autorizou a criação do Curso de Formação

Pedagógica de Docentes para a Educação Profissional, equivalente a

Licenciatura, modalidade EAD, no Núcleo EAD, do Campus Curitiba.

O curso tinha por objetivo capacitar servidores públicos do

IFPR com formação em nível superior, em cursos de bacharelado ou tecnologia

preferencialmente, para atuarem em instituições de Educação Profissional

Técnica de Nível Médio. Foi ofertado através da modalidade de educação a

distância, com aulas presenciais virtuais durante o período vespertino das

quartas-feiras (4 horas-aula) e atividades a distância realizadas através do

ambiente virtual de aprendizagem, com uma carga horária prevista de 960

horas.

O curso teve início em novembro de 2012. Entretanto, em

agosto de 2013, o Instituto Federal do Paraná sofreu uma intervenção do MEC,

devido a suspeita de um grupo de servidores ter desviado recursos financeiros

do setor de ensino a distância, fato que ficou nacionalmente conhecido, por

intermédio da mídia, como Operação Sinapse. Como consequência da ação,

todas as atividades do EAD/IFPR foram sumariamente suspensas.

O curso somente foi retomado em maio de 2015, com seu

formato inicial alterado para especialização lato sensu, depois de quase dois

anos de paralisação. Durante esse período, os professores bacharéis e

tecnólogos que o frequentavam justamente para complementação de sua

prática pedagógica permaneceram desinformados.

A diretoria de EAD do IFPR, após análise pelo CONSEP

(Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão) e CONSUP (Conselho Superior),

obteve a aprovação do Projeto Pedagógico do curso de Docência da Educação

Profissional Técnica e Tecnológica de Nível Médio. O Curso teve como critério,

o aproveitamento das atividades realizadas no curso antigo de licenciatura e

também da carga horária já cumprida pelos docentes participantes. Entretanto,

se comparada à proposta inicial do curso de licenciatura, o novo formato

apresenta uma redução de 330 horas de formação.

58

Em relação à formação acadêmica dos pesquisados, a maior

parte do grupo, num total de 10 (dez), foi composta por docentes com formação

em licenciatura, o que equivale a 55,6% dos entrevistados. Somando-se os 7

(sete) com bacharelado e 1 (um) formado em curso de tecnologia, 44,4% dos

entrevistados ainda não possuem a formação pedagógica equivalente à

licenciatura, conforme gráfico 1.

Gráfico 1- Formação Profissional de Nível Superior – Graduação

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Mendonça (2014) afirma que, para atuarem com qualidade, os

professores do ensino técnico de nível médio precisam ter perfil próprio, com

conhecimentos específicos, pedagógicos e do mundo do trabalho. Destes,

poucos ingressam com o conhecimento pedagógico. Nas palavras da própria

autora, “os professores também são vítimas do sistema, por ingressarem

despreparados, sem o apoio necessário à docência, sendo comum se sentirem

sozinhos para resolver as demandas da sala de aula” (MENDONÇA, 2014, p.

94).

Entretanto, no quesito conhecimentos específicos, os Institutos

Federais têm recebido cada vez mais profissionais docentes com pós-

graduação. No Campus Umuarama, todos os docentes entrevistados possuem

cursos neste nível. Somados, os que possuem especialização stricto sensu

equivalem a 72,22% dos entrevistados, sendo 5 (cinco) mestres e 8 (oito)

doutores. Já a especialização lato sensu equivale a 27,78% dos entrevistados,

contando com 5 (cinco) especialistas, conforme gráfico 2.

10

7

1 0 0

0

2

4

6

8

10

12

Licenciatura Bacharelado Tecnologia Bacharelado eLicenciatura

Tecnologia eLicenciatura

Formação Profissional de Nível Superior - Graduação

Informantes - 18 docentes

59

Gráfico 2 - Nível de Pós-graduação Docente no IFPR, Campus Umuarama

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

A Lei 11.892/2008 estabelece que, além das atividades de

ensino, os Institutos Federais têm a incumbência de trabalhar com a pesquisa e

extensão de maneira indissociável. Como anteriormente citado no capítulo 1

deste estudo, esse cenário auxilia no desenvolvimento da missão do campus,

uma vez que além do ensino, as atividades de pesquisa e extensão fazem

parte do perfil profissional docente, que possui carga horária específica para o

desenvolvimento de projetos junto aos estudantes. No gráfico 3, podemos

observar que a maioria dos entrevistados (13) possui dedicação exclusiva ao

campus:

Gráfico 3 - Regime de Trabalho Docente no IFPR, Campus Umuarama

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Considerando-se que o IFPR, Campus Umuarama é uma

escola recente, cujas atividades iniciaram-se no segundo semestre do ano de

2010, os sujeitos da pesquisa encontram-se no início da experiência docente

na instituição. Dos entrevistados, 61,11% possuem entre 3 e 5 anos de

5 5

8

0

2

4

6

8

10

Especialização latosensu

Mestrado Doutorado

Pós-graduação

Informantes - 18 docentes

1

4

13

0

5

10

15

20 horas 40 horas Dedicação Exclusiva

Regime de trabalho no IFPR

Informantes - 18 docentes

60

experiência na instituição. Já os que se encontram na faixa entre os recém-

contratados, com até 3 anos de IFPR, equivalem a 38,89% dos entrevistados.

Esses números estão dispostos em escala anual no gráfico 4 :

Gráfico 4 - Tempo de Experiência Profissional como Docente no IFPR, Campus Umuarama

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Não obstante ao relativo curto tempo de docência no IFPR, a

pesquisa revelou que todo o grupo de docentes já possuía experiências

profissionais anteriores no magistério. O gráfico 5 demonstra que 66,6% do

grupo de professores já possuía experiências anteriores em sala de aula:

Gráfico 5 - Tempo de Experiência Profissional como Docente - anterior ao IFPR

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Contudo, essa média não significa, como vimos anteriormente,

formação pedagógica sistematizada voltada para o ensino, que é fator já

evidenciado em outros estudos, tais como Marques (2010), Menchik (2012),

Pena (2014), Mendonça (2014). Ao considerarmos a avaliação do processo

ensino-aprendizagem, os desafios são ainda maiores.

3

1

3

6

3 2

0

2

4

6

8

Menos que 1 Entre 1 e 2 Entre 2 e 3 Entre 3 e 4 Entre 4 e 5 Mais que 5

Tempo de Experiência Profissional como Docente no IFPR, Campus Umuarama, em anos.

Informantes - 18 docentes

6

3

5

2 2

0

2

4

6

8

Entre 1 e 5 Entre 6 e 10 Entre 11 e 15 Entre16 e 20 Mais que 20

Tempo de Experiência Profissional como Docente, em anos

Informantes - 18 docentes

61

Quando questionados se haviam recebido formação

pedagógica curricular específica sobre avaliação da aprendizagem em curso de

graduação ou pós-graduação (gráfico 6), 61% dos sujeitos desta pesquisa

alegaram não ter tido nenhuma experiência.

Gráfico 6- Formação Pedagógica Curricular Específica sobre Avaliação

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Se o relato de Mendonça (2014) sobre o despreparo

pedagógico do corpo docente formado por bacharéis e tecnólogos já evidencia

um dos desafios a serem enfrentados pelos Institutos Federais, a

especificidade da avaliação do processo de ensino-aprendizagem deve ser

ainda mais debatida.

Um docente despreparado (bacharel e tecnólogo) não saberá

atender as diretrizes institucionais sobre uma perspectiva de avaliação que se

propõe formativa, ideologicamente diferenciada das práticas classificatórias

historicamente alicerçadas no Brasil. Libâneo (1991) coaduna com essa ideia

ao afirmar que um docente com esse perfil tem suas práticas avaliativas

desiquilibradas, ora ancoradas na medida, ora perdidas na subjetividade.

Essa informação é ainda mais preocupante se cruzarmos os

dados do gráfico 6 com os do gráfico 1. Dos 10 (dez) entrevistados que

relataram ter formação acadêmica em cursos de licenciatura, 6 (seis) alegaram

paradoxalmente que durante seus cursos não lhes foi proporcionada formação

pedagógica curricular específica sobre o tema.

Logo, o alerta de Hoffman (2007) de que existe uma séria

defasagem nos currículos dos cursos de licenciatura brasileiros se comprova,

7

11

0

5

10

15

Sim Não

Formação pedagógica curricular específica sobre avaliação da aprendizagem em curso de graduação ou pós-graduação

Informantes - 18 docentes

62

uma vez que os mesmos não têm atendido as exigências da

contemporaneidade no que diz respeito à formação de professores, seja para o

ensino regular, seja para o ensino profissional técnico de nível médio.

Até o momento, constatamos que bacharéis e tecnólogos

podem iniciar suas atividades docentes na rede federal de educação, entre as

quais, a avaliação da aprendizagem, mesmo sem a formação pedagógica

obrigatória equivalente à licenciatura, presente nos editais de concurso e na

legislação brasileira.

Também observamos que a licenciatura não é predisposição

para uma formação curricular específica sobre avaliação da aprendizagem já

que, segundo Hoffmann (2001), é comum os professores perpetuarem e

reproduzirem, de modo inconsciente, a prática avaliativa da mesma forma que

a vivenciaram quando eram alunos, inclusive as mesmas injustiças com que

foram tratados.

A ausência de formação voltada para o ensino, mais

precisamente sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem, como

veremos a seguir, ainda é fator recorrente no IFPR, Campus Umuarama, e que

embora a titulação em nível de pós-graduação do corpo docente seja

significativa, esses números não são suficientes para amenizar impasses e

superar os desafios de uma instituição com uma estrutura organizacional

complexa dada a especificidade do ensino técnico e sua relação com o mundo

do trabalho.

4.3 A AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DOCENTE DO IFPR, CAMPUS UMUARAMA

A segunda parte do questionário aplicado aos docentes era

formada por questões abertas e fechadas. As contribuições foram agrupadas

de acordo com a pergunta correspondente. Depois de reunidas, realizamos a

leitura sequencial visando estabelecer uma percepção integradora do conjunto

de respostas, à luz do referencial teórico utilizado, com o objetivo de definir as

categorias de análise para o tratamento dos dados. Como categorias

norteadoras, foram escolhidas:

a) Avaliação do processo de ensino-aprendizagem;

63

b) Formação pedagógica docente para avaliação;

Definidas as categorias, as respostas foram inseridas no

conjunto apropriado, visando, nesse sentido, obter subsídios para se analisar

perspectiva docente de avaliação do processo ensino-aprendizagem no IFPR,

Campus Umuarama.

Ao se identificar quais são as concepções sobre avaliação dos

docentes pesquisados e a formação pedagógica dos mesmos sobre o tema,

buscamos entender os limites, impasses e desafios que a avaliação do

processo ensino-aprendizagem tem revelado na atuação dos docentes da

educação profissional do Campus Umuarama, segundo a abordagem

pedagógica proposta na legislação do IFPR. Temos como hipótese que a

ausência de formação pedagógica específica sobre avaliação do processo

ensino-aprendizagem, aliada à multiplicidade de formação docente no IFPR

(licenciados, tecnólogos, bacharéis) é fator determinante das dificuldades na

aplicabilidade dos critérios avaliativos da aprendizagem, norteados pela

portaria 120/2009 IFPR.

As questões Q11 a Q14 trouxeram elementos para a análise da

concepção de avaliação do processo de ensino-aprendizagem dos docentes do

IFPR, Campus Umuarama, bem como dados sobre a formação pedagógica

específica do grupo de professores sobre avaliação.

4.3.1 Avaliação do Processo de Ensino-Aprendizagem

Para se entender os limites, impasses e desafios que a

avaliação do processo ensino-aprendizagem tem revelado na atuação dos

docentes do IFPR, Campus Umuarama, é necessário discutirmos

primeiramente a concepção que os sujeitos entrevistados possuem acerca da

função da avaliação em suas práticas pedagógicas.

Como suporte teórico, utilizaremos para análise as três funções

da avaliação da aprendizagem definidas por Scriven (1967), visando identificar

dentro da tríade avaliação diagnóstica, avaliação formativa, avaliação somativa,

a concepção dos entrevistados.

A análise desse conceito é vital, uma vez que é justamente a

partir dele que os docentes compreendem o papel da avaliação, transpondo-o,

64

mesmo de forma inconsciente para suas práticas de sala. Para o levantamento

dessa informação, foi perguntado na Q12: Qual a função da avaliação da

aprendizagem de seus estudantes para os componentes curriculares que você

leciona no IFPR? As respostas seguem transcritas no quadro 2:

Quadro 2- Respostas sobre função da avaliação da aprendizagem

(continua)

Docente Transcrição das Respostas

D1 - Para saber se eu e os estudantes atingimos os objetivos propostos.

D2 - A avaliação serve principalmente para nortear o desenvolvimento das atividades e para identificar as principais dificuldades dos alunos.

D3 - Serve mais para confundir o aluno e o professor para saber em que nível ele se encontra exatamente.

D4 - É uma forma de compreender o processo ensino aprendizagem e de refletir sobre a minha ação metodológica, enquanto docente, para que o aluno possa ser "afetado" e compreender o motivo pelo qual eu estou propondo o programa de estudo. É sempre um meio, nunca um fim, para a compreensão deste processo.

D5 - Como critério para avaliar o aprendizado progressivamente.

D6 - Verificar se houve aprendizagem plena ou não dos conteúdos ministrados.

D7 - Avaliar o envolvimento, comprometimento e desempenho dos estudantes (utilizando-se de diferentes métodos de avaliação) e autoavaliar-se.

D8 - Serve para avaliar se os instrumentos utilizados durante às aulas são ou não eficientes.

D9 - A avaliação é uma ferramenta muito importante para o meu componente curricular, pois é a única forma que tenho o retorno real do que foi ensinado, como o alunos aprenderam e de que forma eles me dão esse retorno.

D10 - Entre tantas funções da avaliação considero como a principal a função norteadora ou indicativa de como devo trabalhar os componentes curriculares. Uma espécie de diagnostico das minhas aulas e da capacidade dos alunos acompanharem ou não os componentes. Tudo isso para tomada de decisão do que fazer para conseguir levar a efeito a relação ensino-aprendizagem.

D11 - As avaliações são inerentes a todos os processos de aprendizagem, sendo assim vejo que é importante haver avaliação, pois infelizmente ainda é uma maneira de se obter o resultado do conhecimento adquirido pelo aluno.

D12 - Serve para eu estipular critérios e abordagens a serem testados nos bimestres seguintes; para verificar se as possíveis dificuldades de aprendizagem são responsabilidades do docente ou do discente.

D13 - Para verificar as condições mínimas sobre um conteúdo específico do currículo.

D14 - Avaliação da aprendizagem serve para verificar se o aluno aprendeu; o que aprendeu; como aprendeu; como utiliza o que aprendeu.

D15 - Tem a função de diagnosticar o andamento da aprendizagem coletiva e individual e de orientar a prática pedagógica, promovendo ajustes ou mudanças de rumo. Embora me preocupe com as questões quantitativas e classificatórias, costumo deixá-las em um plano secundário, o que pode ser um defeito meu, como docente, ou do próprio sistema de avaliação.

D16 - Verificar a aquisição de conhecimento relativo ao conteúdo ministrado.

D17 - A avaliação visa a percepção dos alunos em relação aos conteúdos trabalhados e o quanto esses conteúdos estão influenciando sua mudança de comportamento durante suas atividades cotidianas.

D18 - Quantificar o nível de aprendizagem dos discentes.

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

65

Para Scriven (1967), a avaliação deve ser entendida enquanto

um processo composto por três etapas, uma diagnóstica, uma formativa e outra

somativa.

É considerada diagnóstica a etapa inicial do processo, quando

o que se pretende é investigar se o aluno possui ou não os pré-requisitos

necessários para aprender.

É considerada formativa a etapa realizada durante o processo,

para informar como o estudante está aprendendo para, então, orientar ações

que promovam a efetiva aprendizagem do mesmo.

É considerada somativa a etapa realizada no final do processo,

para informar sobre o desempenho final do estudante dentro de um

determinado momento pedagógico.

Apesar de apresentarem perspectivas diferentes de avaliação

em sua nomenclatura, Perrenoud (1999) com a perspectiva da avaliação

formativa; Luckesi (2006), a favor da avaliação diagnóstica, concebida como

investigação e intervenção; Hoffman (2001, 2007) com perspectiva da

avaliação mediadora; esses teóricos buscam contribuir para uma

aprendizagem significativa, oposta às práticas seculares de uma escola

tradicional fundada no resultado.

Nessa perspectiva, o foco centra-se no processo da avaliação,

cuja totalidade se constrói num movimento dialético de verificação constante,

pois sempre o desempenho final de um determinado tempo pedagógico é,

nada mais, que a etapa inicial para a permanente construção de um novo

aprendizado.

Entretanto, ao analisarmos as respostas dos docentes

entrevistados, evidenciamos a ausência de uma percepção de

complementaridade entre as etapas da avaliação propostas por Scriven. O se

se verifica é uma concepção de avaliação fragmentada (gráfico 7).

66

Gráfico 7 - Funções da Avaliação

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Na maioria das respostas, 9 (nove) dos professores revelam

como função da avaliação verificar dentro do componente curricular lecionado

o resultado do rendimento do estudante num dado momento pedagógico do

curso (função somativa).

D18, ao se referir à função da avaliação como quantificadora do

nível de aprendizagem dos discentes, a classifica como uma medida,

geralmente, representada no IFPR por meio de conceitos (como poderia ser

por notas). A mesma ideia de quantidade repete-se nas respostas de D6, D11 e

D16.

Embora D5, D7, D9, D13, D14 tenham se utilizado

semanticamente de termos representativos de um universo qualitativo como:

“progressivamente”, “envolvimento, comprometimento”, “retorno”, “aprender”,

as respostas apontam uma concepção de avaliação centrada na obtenção de

resultados, característica da metodologia tradicional, cujo objetivo tanto de

docentes quanto de estudantes é um só: aprovação ou reprovação.

Sob essa perspectiva, tanto Luckesi (2006) quanto Hoffmann

(2007) entendem haver uma espécie de zona de controle que funciona como

mecanismo regulador de poder de professores sobre alunos, de escolas sobre

professores e do sistema educacional sobre as escolas. É justamente esse

mecanismo controlador que sustenta o modelo social vigente, no qual a

responsabilidade do fracasso escolar é unicamente do estudante.

A percepção de que a avaliação serve como recurso

diagnóstico de informações é citado por 5 (cinco) dos entrevistados (avaliação

diagnóstica).

27,8%

22,2%

50,0%

Funções da Avaliação

Função Diagnóstica

Função Formativa

Função Somativa

67

As respostas de D1, D2, D3, D8 e D12 referem-se a uma

preocupação com a eficiência ou não dos instrumentos e meios para a coleta

de dados propriamente ditos. Não há uma preocupação explícita nas respostas

com o processo de avaliação em curso.

Em D12, fica claro que esses dados podem ser determinantes

em “bimestres seguintes” para verificar se as possíveis dificuldades de

aprendizagem são “responsabilidades do docente ou do discente”. Já D3 afirma

que a função da avaliação da aprendizagem dos estudantes nos componentes

curriculares lecionados por ele no IFPR “serve mais para confundir o aluno” e

para o professor “saber em que nível ele se encontra exatamente”.

Mais uma vez, se essa função da avaliação não tiver como

objetivo diagnosticar as necessidades do estudante para se tomar atitudes

imediatas de recuperação significativa para aqueles com aprendizagem

insuficiente, ou de ampliação de limites para aqueles com aprendizagem plena,

dentro de um processo dinâmico, também ela se torna vazia de sentido.

Portanto, constitui-se numa prática pedagógica estagnada, incapaz de

contribuir para alteração dos paradigmas sociais vigentes.

Como já vimos no capítulo 3 deste estudo, esse é o objetivo da

linha teórica que norteia os documentos definidores dos Institutos Federais de

Educação Ciência e Tecnologia, uma escola que se propõe voltada à

transformação social e que oportuniza ao educando um conhecimento

científico, político e cultural, visando formar um cidadão crítico e consciente de

seus direitos e deveres, preparado para a vida.

Para tanto, a avaliação deve ser entendida numa perspectiva

formativa, isto é, aquela cujo professor procura observar individualmente cada

aluno, atento à dinâmica do processo de aprendizagem, buscando sempre

melhorá-lo por meio de uma relação dialógica com os estudantes. Para Luckesi

(2006), a avaliação não é neutra e necessita estar a serviço de uma pedagogia

voltada à prática social, comprometida com uma proposta histórico-crítica.

Nas respostas dadas à questão, 3 (três) professores

demonstraram conceber a avaliação sob esse enfoque.

D4 relata que compreende o processo ensino-aprendizagem de

forma dinâmica, como elemento capacitor de uma reflexão da própria ação

metodológica e voltado para o aluno. Outro ponto relevante apresentado é a

68

compreensão de que a “avaliação constitui-se um meio, e nunca um fim”, para

a compreensão deste processo.

D10 relata a compreensão da existência de diversas funções da

avaliação, mas que considera como principal a função “norteadora ou

indicativa” de como devem ser trabalhados os componentes curriculares

durante o processo para se conseguir uma efetiva relação ensino-

aprendizagem.

D15 relata que a avaliação tem a função de diagnosticar o

andamento da aprendizagem coletiva e individual, orientando a prática

pedagógica docente, promovendo ajustes ou mudanças de rumo, necessários

ao processo.

O docente, talvez por perceber-se na contramão de usos

tradicionais avaliativos, ou por não dominar a fundamentação teórica de sua

própria prática pedagógica, levanta uma dúvida com o fato de colocar a função

somativa em segundo plano: “Embora me preocupe com as questões

quantitativas e classificatórias, costumo deixá-las em um plano secundário, o

que pode ser um defeito meu, como docente, ou do próprio sistema de

avaliação.” (D15).

O diferencial na fala desses 3 (três) docentes é justamente o

fato dos mesmos entenderem a avaliação como um processo contínuo. Nas

respostas dadas, podemos identificar indícios de uma prática pedagógica que

contempla, diante de uma possível necessidade constatada, interferências

concomitantes ao processo ensino-aprendizagem, buscando sempre a

melhoria no mesmo. As falas dos demais professores não revelaram uma

perspectiva contínua, mas sim uma preocupação com a verificação do

aproveitamento do aluno em um dado momento estático.

Ao relacionarmos os resultados da análise da concepção de

avaliação dos docentes entrevistados com o perfil de formação anteriormente

discutido na caracterização dos sujeitos, podemos entender que a ausência de

formação pedagógica sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem tem

interferido significativamente nas práticas pedagógicas no IFPR.

A licenciatura, conforme Hoffmann (2001) ou uma formação

pedagógica relativa, mesmo que obrigatórias por lei, não são garantia de uma

concepção de avaliação formativa na prática pedagógica docente. Esta

69

informação se evidencia entre os três docentes que demonstraram em suas

falas uma perspectiva de avaliação formativa. Deles, apenas um possui curso

de licenciatura.

Nesse ponto indagamos, considerando que a portaria

120/2009, embora desatualizada para o momento de expansão do IFPR, é

pautada numa perspectiva histórico-critica, seria a ausência de formação

pedagógica sobre essa perspectiva o problema que tem gerado um impasse

entre os professores na hora de se discutir o processo de avaliação no

instituto?

As respostas às demais perguntas do formulário sobre o

processo avaliativo dos docentes irão compor a análise no sentido de sinalizar

o quanto esses professores se aproximam ou se distanciam da prática

avaliativa proposta na instituição.

4.3.2 Formação Pedagógica Docente para Avaliação;

Como apresentado na introdução deste estudo, nossa hipótese

sustenta que a ausência de formação pedagógica específica sobre a avaliação

do processo de ensino-aprendizagem, aliada à multiplicidade de formação

docente no IFPR (licenciados, tecnólogos, bacharéis) é fator determinante das

dificuldades na aplicabilidade dos critérios avaliativos da aprendizagem,

norteados pela portaria 120/2009 IFPR, fato que gera impasses, limites e

desafios a serem superados.

Como observamos, a ausência de formação pedagógica

específica sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem nos cursos de

graduação e pós-graduação não impedem a aprovação desses docentes em

concursos públicos. Logo, como então é suprida essa defasagem quando o

docente ingressa no IFPR e se defronta com uma normativa que é norteada

por concepção de avaliação distinta daquela praticada historicamente nas

escolas?

Para se elucidar esse impasse, elaboramos a Q10 que

questionava: “já como docente do IFPR, você recebeu formação pedagógica

específica sobre avaliação da aprendizagem estipulada na Portaria 120, de

06/08/2009 que estabelece os critérios de avaliação do processo ensino-

70

aprendizagem no IFPR?”. As repostas dos docentes participantes estão

descritas no gráfico 8:

Gráfico 8- Formação pedagógica específica sobre avaliação da aprendizagem estipulada na

portaria 120/2009, do IFPR

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Como se pode perceber, apenas um docente nega ter recebido

alguma formação específica sobre a portaria 120/2009. Entretanto, ao

observarmos os números, identificamos que 56% dos entrevistados entendem

como parcial a formação recebida, número esse que influi qualitativamente na

percepção docente sobre o processo conduzido pela instituição.

Quando no formulário on-line o docente participante escolhia a

opção “não”, o sistema o encaminhava diretamente à Q12. Os demais

respondiam na sequência a Q11 que solicitava: “Descreva, sucintamente, como

foi essa formação pedagógica recebida no IFPR sobre avaliação de acordo

com a portaria 120/2009”. Os dados seguem sistematizados no quadro 3:

Quadro 3 - Descrição da Formação Pedagógica sobre a Portaria 120/2009, IFPR

(continua)

Docente Recebeu

formação

Transcrição das Respostas

D1 Parcial Reunião com pedagogas.

D2 Parcial Por meio de um programa de formação continuada, na qual houve um trabalho básico de 20 horas sobre este tema especificamente.

D3 Sim

Recebemos a Portaria 120 por e-mail pra leitura. Em um encontro envolvendo as Pedagogas, Diretoria do Campus e novos professores, foram tiradas as dúvidas e passados os principais pontos da portaria.

D4 Sim Apresentação da Portaria 120 e tentativa de interpretação. Tentativa, pois, a portaria é muito confusa em todos os seus pontos, principalmente, no que se refere à avaliação.

7

1

10

0

5

10

15

Sim Não Parcialmente

Formação pedagógica específica sobre avaliação da aprendizagem estipulada na portaria 120/2009, do IFPR

Informantes - 18 docentes

71

Docente Recebeu

formação

Transcrição das Respostas

D5 Parcial Houve vários encontros em que foram apresentados os artigos da Portaria e as condições pedagógicas levando em consideração a missão do IFPR.

D6 Parcial

Essa formação ocorreu logo após a minha posse, pela equipe de ensino. Houve uma leitura da portaria 120 e breve esclarecimento. Após esse momento, durante todos os primeiros seis meses, houve acompanhamento da pedagoga sobre as propostas de avaliação apresentadas no plano de ensino. Depois disso, os diálogos passaram a ocorrer apenas nos conselhos de classe.

D7 Parcial

Elas aconteciam no formato de reuniões, encontros que alguns técnicos explanavam sobre o assunto, nos colocando a par da portaria e faziam alguns apontamentos sobre como ficarmos seguros com esse tipo de avaliação tão subjetiva.

D8 Não

D9 Sim Fui informado da existência da portaria 120 e que a avaliação deveria estar de acordo com ela. As discussões sobre a portaria foram em conversas informais.

D10 Sim Eu assisti a várias palestras sobre o tema em Semanas Pedagógicas.

D11 Parcial Encontros pontuais durante as semanas pedagógicas.

D12 Parcial Avaliamos a portaria, discutimos suas possibilidades e falhas, também pensamos e propomos melhorias, e até hoje não tivemos retorno.

D13 Sim Foram apresentados conceitos, aplicações e exemplos sobre avaliação contínua, competências e habilidades.

D14 Parcial Palestra em Semana Pedagógica

D15 Parcial Uma palestra, reproduzindo o conteúdo da portaria 120.

D16 Sim

Em semanas pedagógicas, em grupo de estudo montado pela equipe pedagógica do campus, em participação em comissões de estudos e através de um curso parcial de Apostilamento via EAD, que foi interrompido. Todas essas atividades foram suficientes para entender e aplicar o sistema proposto, embora eu não consiga avaliar se é bom ou não.

D17 Parcial Uma reunião que discutia a forma de avaliação e conceitos aos alunos.

D18 Sim

A Portaria 120 foi esmiuçada pelas pedagogas em vários encontros com os docentes, por meio de reuniões, discussões. Além disso, em alguns momentos, os docentes foram convidados a contribuírem com modificações por meio de consulta. No entanto, até o momento, não houve alterações/atualizações na mesma para atender aos anseios dos docentes. Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Como se pode observar nos relatos dos entrevistados, o

trabalho de formação específica sobre a concepção de avaliação proposto na

Portaria 120/2009 IFPR para os docentes do Campus Umuarama tem

acontecido sistematicamente. Apenas um dos entrevistados (D8) negou ter tido

acesso a essa formação. D15 relatou uma única palestra formativa e D9 alegou

apenas ter sido informado da existência da portaria 120/2009, sendo que as

discussões sobre a mesma teriam ocorrido em conversas informais.

72

Considerando-se o tempo de docência no IFPR relatado pelos

entrevistados, bem como as respostas dadas pelo grupo à Q11, interpretamos

as colaborações de D8, D9 e D15 como reveladoras de um impasse construído

frente ao documento norteador, talvez oriundo da própria ausência de formação

sobre o tema.

Os relatos de D1, D3, D6, D7 e D18 apontam claramente que

esta formação específica sobre o documento norteador é de responsabilidade

das pedagogas do campus. Essa constatação também é subentendida nas

participações de D2, D5, D10, D11, D13, D14 e D16. Segundo os entrevistados, o

trabalho é desenvolvido coletivamente em forma de reuniões esporádicas e em

semanas pedagógicas. Dois dos entrevistados, D2 e D6 relataram também ter

recebido essa preparação por meio de formação continuada.

Em alguns dos relatos, foram citados espaços para debates em

que foram ouvidas sugestões docentes para revisão de alguns pontos da

portaria. Não obstante, um fator recorrente entre as respostas de D12, D16 e

D18 é o fato de não terem recebido nenhum retorno sobre as propostas

apresentadas.

Sobre esse assunto, apresentamos no capítulo 3 deste estudo

o histórico da referida portaria, principalmente os enleios políticos da recente

participação de uma comissão multicampi numa proposta de reformulação do

documento, que visava atualizá-la para o atual contexto de expansão do IFPR.

Entretanto, a proposta elaborada pela comissão não foi aprovada

pelo CONSEPE, não sendo encaminhada, consequentemente, para apreciação

pelo CONSUP. Assim, a portaria 120/2009 continua válida em sua redação

original como documento norteador do processo de ensino-aprendizagem no

IFPR.

Considerando o exposto, podemos perceber que a instituição

tem cumprido de forma sistemática, por meio da ação da equipe de ensino, seu

papel formativo frente aos impasses existentes quanto à concepção de

avaliação do processo de ensino-aprendizagem contida na Portaria 120/2009,

IFPR.

Não obstante, quando um número significativo de docentes

alega que essa formação é parcial (gráfico 8), podemos inferir que o grupo

ainda se sente despreparado para desenvolver essa competência de avaliar

73

dentro da perspectiva proposta com autonomia. Esse dado também aponta

para a necessidade da instituição repensar a constância e o formato com que

conduz suas ações uma vez que as mesmas influem qualitativamente na ação

docente.

Essa constatação de que possa existir um despreparo docente

quanto à interpretação e utilização da portaria 120/2009 IFPR nos conduz à

Q13: “Como docente do IFPR, qual a dificuldade em se avaliar a aprendizagem

de seus estudantes tendo a portaria 120/2009 IFPR como documento

norteador? As respostas dadas pelos docentes participantes estão descritas no

quadro 4:

Quadro 4 Dificuldades de Avaliação mediante a Portaria 120/2009 IFPR

(continua)

Docente Transcrição das Respostas

D1 O resultado da avaliação acaba sendo subjetivo.

D2 Nenhuma, acho ótima a portaria, desde que os critérios de avaliação sejam estabelecidos desde o início do bimestre.

D3 Por se tratar de uma avaliação com conceitos, é muito subjetivo para o aluno entender o nível em que ele se encontra, muitas vezes a atuação do docente é interpretado como abuso de poder e não como um avaliador. A maior dificuldade é explicar a razão do conceito, especialmente quando é considerado baixo.

D4 Principalmente o conceito D. Que comparado com o sistema de notas vai de 0 a 59.

D5 A dificuldade é mais no momento em que o docente inicia sua carreira no IFPR e vem acostumado de avaliações por meio de notas. Como o conceito é algo muito abstrato, no início de minhas atividades eu tive dificuldade em mensurar o conhecimento de cada aluno por meio de atividades, haja visto que alunos com desempenho diferente poderiam obter o mesmo conceito, vislumbrando que pontos eu estaria avaliando de cada atividade realizada, seja ela prática ou teórica.

D6 Ter claro o que é o aprendizado do conteúdo mínimo (conceito C).

D7 A dificuldade restringe-se ao fato de que o docente não consegue avaliar por CONCEITO apenas com um instrumento (seja prova ou trabalho ou seminário), como NORMALMENTE ocorre quando a avaliação é feita por nota de 0,00 a 10,00. Por outro lado, a portaria como documento norteador não é um empecilho, até porque está em sintonia com os PCN´s, o qual sugere que a avaliação seja contínua e não estanque, incisiva.

74

(conclusão)

Docente Transcrição das Respostas

D8 Apesar de inúmeras críticas tecnicistas sobre a portaria, eu a avalio como um ganho institucional. Em nenhuma instituição trabalhada anteriormente havia uma elaboração orientativa (a portaria 120 precisa continuar ser repensada) com a que o IFPR possui. Considero como oportuna, principalmente para os professores que vêm da formação técnica.

D9 Não tenho muita dificuldade em avaliar por conceito, pois com esse critério levo em consideração todas as atividades avaliativas, a participação em sala de aula e a assiduidade.

D10 A maior dificuldade é fazer o aluno compreender que seu aprendizado não se resume a números, eles ainda não conseguem entender que não basta decorar conteúdos e que precisam se preocupar com seu crescimento pessoal, visando um futuro profissional capacitado a resolver problemas a partir do que realmente aprendeu.

D11 A maior dificuldade para os estudante é justamente a questão quantitativa, uma vez que os alunos não sabem o percentual de conteúdo por eles apreendido.

D12 A maior dificuldade é no transmitir aos alunos e aos pais que ainda são formados pela tradição matematizada de avaliação. Pois trata-se de um novo olhar sobre a avaliação.

D13 Com o uso do conceito, o professor e aluno reduz sua noção de saber em como ele se encontra no conhecimento da disciplina, visto que é totalmente subjetivo de professor a professor.

D14 A portaria é muito confusa, não é adequada como documento norteador. A maior dificuldade é essa de não nortear, ficando, assim, o docente indeciso em o que fazer!

D15 Considero a avaliação o quesito mais complexo da prática docente. O documento norteador não deveria dificultar, ao contrário, deve facilitar, direcionar, orientar.

D16 Nenhuma. Há uma reclamação ridícula de que ela não é clara. É impossível regulamentar objetivamente uma prática subjetiva de avaliação. Portanto, o conteúdo da portaria é suficiente e cabe ao professor desenvolver avaliações que se aproximem dela. Querer objetividade e clareza da portaria seria pedir por critérios rígidos. Mas ainda não fui informado de que o IFPR seja um colégio militar.

D17 A Portaria é um documento muito amplo, praticamente uma resolução. Os instrumentos avaliadores nela disponíveis são amplos, mas não há uma supervisão sobre como eles estão sendo usados. Isso deixa a possibilidade dos estudantes compararem a avaliação de um professor com outro, em que uns a usam de forma adequada, mas outros não.

D18 Não vejo problemas. Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

As colaborações docentes frente à questão das dificuldades na

utilização da portaria120/2009 IFPR como documento norteador da avaliação

do processo ensino-aprendizagem podem ser sistematizadas, em números, no

gráfico 9.

75

Gráfico 9 - Dificuldades para Avaliação mediante a Portaria 120/2009 IFPR

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Contudo, o próprio dinamismo proposto de uma avaliação mais

qualificativa faz emergir das participações dados importantes para a

compreensão do cenário avaliativo no IFPR.

Quando se aponta o critério subjetividade do conceito como

elemento dificultador do processo, podemos precipitadamente avaliar como

uma rejeição por parte do corpo docente à perspectiva formativa. Entretanto,

uma leitura mais detalhada das colaborações de D3, D4, D6, D10 e D12 revela

uma preocupação com a compreensão por parte dos alunos e de seus

familiares sobre o processo, uma vez que esses também são frutos de uma

escola classificatória.

Essa informação se torna bastante relevante para reflexão da

atuação equipe pedagógica do campus, cujas ações devem se estender para

além da formação específica com o corpo docente. Deve abranger também

toda a comunidade acadêmica (demais servidores, pais e alunos) visto que

certamente encontram-se menos preparados ainda para compreenderem o

processo.

Já, o critério falta de clareza, que surgiu em 3 (três)

colaborações (D13, D14 e D15), reafirma a necessidade de formação

pedagógica específica sobre o assunto a um grupo.

Dentre as colaborações docentes à questão, uma em

específico acaba por sintetizar as observações que realizamos até o momento:

4

11

3

0

2

4

6

8

10

12

Nenhuma Subjetividade doConceito

Falta de Clareza

Dificuldades para Avaliação

Informantes - 18 docentes

76

D5: “A dificuldade é mais no momento em que o docente inicia sua carreira no IFPR e vem acostumado de avaliações por meio de notas. Como o conceito é algo muito abstrato, no início de minhas atividades eu tive dificuldade em mensurar o conhecimento de cada aluno por meio de atividades, haja vista que alunos com desempenho diferente poderiam obter o mesmo conceito, vislumbrando que pontos eu estaria avaliando de cada atividade realizada, seja ela prática ou teórica”.

Os resultados da análise realizada acerca das dificuldades

encontradas pelos docentes para a avaliação mediante a portaria 120/2009

IFPR revelam o desafio de se avaliar numa perspectiva formativa e registrar o

desempenho dos estudantes por meio de conceitos.

De certa forma, é compreensível esse desafio uma vez que

historicamente, o registro de uma concepção tradicional de avaliação somativa

se concretiza por meio de notas. Segundo Hoffmann (2001), os professores

perpetuam a prática da mesma forma que a vivenciaram quando eram alunos,

reproduzindo, de modo inconsciente, as mesmas injustiças com que foram

tratados nos bancos escolares.

É o que podemos constatar no gráfico 10, resultado da Q8: “Em

sua formação escolar superior (graduação e pós-graduação) como era

registrado seu desempenho acadêmico?”. Nenhum dos professores

entrevistados relatou ter tido seus registros acadêmicos essencialmente

materializados em forma de conceitos.

Gráfico 10 - Registro do desempenho acadêmico na formação escolar superior

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

13

0

5

0

5

10

15

Nota Conceito Misto (nota convertidaem conceito)

Registro do desempenho acadêmico na formação escolar superior (graduação e pós-graduação)

Informantes - 18 docentes

77

13 (treze) docentes, afirmaram que sempre tiveram seu registro

acadêmico materializado em forma de nota. O restante, 5 (cinco) docentes,

afirmou ter experiência de um sistema de registro misto, isto é, notas que

posteriormente foram convertidas em conceitos. Ação que Luckesi (2006)

denomina como “contrabando indevido de qualidade para quantidade”

Aqui se apresenta um novo impasse: como podem esses

docentes avaliarem numa concepção formativa se em sua história de vida

escolar como estudantes nunca foram avaliados e nem mesmo preparados

pedagogicamente para agirem nessa perspectiva?

Para aprofundarmos ainda mais essa discussão, testando os

seus limites, é que lançamos ao grupo e docentes a Q14: “Em sua opinião, qual

a melhor forma de se registrar o resultado do processo de ensino-

aprendizagem, nota ou conceito?”

Como se pode constatar no gráfico 11, 56% dos entrevistados

opinaram ser a nota a melhor forma de se registrar o processo de ensino-

aprendizagem. Já 44% informaram preferir o conceito.

Gráfico 11 - Registro de Desempenho por Notas ou Conceitos

Fonte: Dados de pesquisa do autor (2015)

Se tomada de forma isolada, essa questão pode parecer

desnecessária ao estudo proposto, uma vez que os dados adquiridos parecem

revelar apenas uma escolha subjetiva, ilustrativa da preferência desse ou

daquele modo de registro. Ainda mais se considerarmos que para Hoffmann

(2001) ambos são superficiais, pois não representam realmente as

aprendizagens conquistadas pelos estudantes.

56% 44%

Registro de Desempenho

Nota

Conceito

78

Entretanto, ao vincularmos esses dados com contexto do

estudo, a escolha pode significar uma propensão docente à expansão dos seus

limites sobre o tema, pois dizem respeito à forma como os mesmos lidam com

as informações sobre o desempenho dos estudantes durante o processo de

ensino e aprendizagem.

Diversas contribuições nas respostas permitem vislumbrar

horizontes que superam os limites impostos pelos impasses e desafios de uma

estrutura pedagógica ainda centrada na herança de um modelo tradicional de

se avaliar, como podemos verificar em:

D3: “Conceito. Dessa forma pode-se avaliar o aluno como um todo e não simplesmente saber sua porcentagem de erros e acertos em questões que nem sempre são as mais relevantes no processo ensino-aprendizagem”.

D13: “Conceito. Contudo, não pela questão do signo número ou Letra, mas pela concepção inovadora de avaliação a qual sua organização se estrutura. Pelo IFPR ser uma escola inclusiva e libertadora para construção de um país mais consciente no âmbito da ciência e da tecnologia que também formação crítica e social.”

D16: “Conceito. Nessa proposta, o estudante tem a oportunidade de ampliar sua aprendizagem a respeito do conteúdo, por meio de atividades de recuperação paralela. Dessa maneira, ele recupera o conteúdo e não a nota”. D17: ”Conceito. É por ele que minha ação pedagógica sai da zona de conforto, construída pelo modelo tradicional de avaliação.

Indiferente à forma de registro escolhida, alguns docentes que

optaram pela nota também revelaram em suas participações uma preocupação

com o sentido real do ato de avaliar, mais próximo da concepção formativa,

como podemos observar em:

D9:”Eu acho que provas ou listas de exercícios deveriam ser registradas com notas, pois são objetivas. Acrescentadas a elas, os conceitos deveriam ser formulados a partir de itens subjetivos, como a participação em sala de aula e a assiduidade. Dessa forma, um estudante com grande potencial cognitivo poderia ter conceito B ou C pelo seu comportamento, o que é perfeitamente coerente com a educação integral do ser humano que a escola tem como função. O ideal é que o professor pudesse recuperar os conteúdos durante o período letivo até que os estudantes conseguissem conceito A, pois esse é sempre o objetivo principal do professor. Infelizmente, as turmas são heterogêneas e cada estudante tem um ritmo de aprendizado. Dessa forma, alguns não conseguem atingir o conceito

79

A naquele curto período de tempo, mesmo com recuperações paralelas”. D14: “Em minha opinião a nota é um sistema melhor, pois dá também respostas quantitativas. Entretanto sua composição não deve ser apenas embasada na apreensão do conteúdo. Para mim, um sistema ideal teria regras claras para a composição da nota, que levaria em conta o conteúdo aprendido, o altruísmo do estudante, a capacidade de trabalhar em equipe e a sua responsabilidade (ou profissionalismo, no caso do ensino técnico e tecnológico). Assim teríamos um resultado que representaria o aproveitado qualitativo e quantitativo”.

Ao considerarmos como categorias de análise dos dados a

avaliação do processo de ensino-aprendizagem no IFPR, e a formação

pedagógica docente para avaliação pudemos nos lançar aos dados buscando

indícios que procuraram identificar quais são as concepções sobre avaliação

dos docentes pesquisados e a formação pedagógica dos mesmos sobre o

tema.

Procuramos durante a análise realizada entender os limites,

impasses e desafios que a avaliação do processo ensino-aprendizagem tem

revelado na atuação dos docentes do Campus Umuarama, segundo a

abordagem pedagógica proposta na legislação do IFPR.

No próximo capítulo teceremos as considerações finais sobre

nossa pesquisa, buscando responder às questões levantadas correspondentes

aos objetivos e à hipótese de trabalho.

80

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino técnico de nível médio, graças à expansão dos

Institutos Federais tem se fundamentado cada vez mais como alternativa de

formação integral ao cidadão para o mundo do trabalho. A formação para o

trabalho, aliada a uma educação alicerçada numa perspectiva histórico-crítica,

pretende formar cidadãos que extrapolem o mero reprodutivismo histórico

mecanicista e que consigam transformar a sociedade por meio do seu trabalho.

Não obstante, para que essa missão formativa seja tangível, o

Instituto Federal do Paraná, Campus Umuarama deve privilegiar a importância

do processo avaliativo. No que diz respeito a sua função, deve ser clara e

compactuada por toda a comunidade acadêmica: corpo docente, técnico,

gestor, família e estudantes.

Entretanto, esse diálogo integrador ainda não se efetivou

plenamente pelo fato da proposta avaliativa presente na portaria 120/2009

IFPR ser incompreendida por alguns desses entes. Nesse cenário, a avaliação

é um tema que cada vez mais tem trazido grandes inquietações a todos os

envolvidos.

Não obstante, os desafios do dia-a-dia têm revelado à

comunidade acadêmica do IFPR que a formação omnilateral humana pelo

trabalho, valorizada como um dos pressupostos norteadores da instituição

constituir-se-á quando alguns dos limites estabelecidos historicamente forem

superados.

Se cabe realmente à escola o papel de transformação social,

oportunizar ao educando um conhecimento científico “libertador” significa mais

que formar técnicos competentes para o “mercado de trabalho competitivo”,

significa formar um cidadão crítico e consciente de seus direitos e deveres,

preparado para a vida.

Nesse sentido, o trabalho do professor deve ser colocado em

destaque, pois ele é o responsável por ensinar os valores tradicionais e éticos

do passado, e, ao mesmo tempo, possibilitar a seus estudantes a

especificidade técnica dos conteúdos de suas áreas e conquistá-los ao

conhecimento.

Infelizmente, existe uma séria defasagem nos currículos de

81

formação de professores que atendam as exigências da contemporaneidade no

que diz respeito ao ensino profissional técnico de nível médio. Esta é a

realidade do IFPR que constatamos nesta pesquisa.

A missão de promover a educação profissional e tecnológica,

pública, de qualidade, socialmente referenciada, por meio do ensino, pesquisa

e extensão ainda é um desafio, visto que o corpo docente, embora

tecnicamente referenciado, pós-graduado e com experiência profissional

anterior de sala de aula, ainda revela uma defasagem teórico-prática na

perspectiva da proposta filosófico-pedagógica dos Institutos Federais de

Educação, Ciência e Tecnologia.

No caso do IFPR, outro grande desafio é o processo avaliativo,

no que diz respeito a sua função, visto o impasse acerca da polêmica sobre a

aplicabilidade da portaria 120, que estabelece os critérios de avaliação do

processo ensino aprendizagem do IFPR.

Posto isso, apresentamos o seguinte questionamento: que

limites, impasses e desafios são encontrados nas práticas avaliativas dos

professores que atuam nos cursos técnicos concomitantes ou subsequentes de

nível médio do IFPR, Campus Umuarama, ao utilizarem portaria 120/2009

como instrumento norteador do processo de avaliação?

Para responder a esta questão, o objetivo deste estudo foi

analisar a avaliação do processo ensino-aprendizagem IFPR, Campus

Umuarama. Para tanto, foram delineados três objetivos específicos: O primeiro

foi fundamentar teoricamente uma análise da história da educação profissional

no Brasil, mais precisamente sobre os Institutos Federais. O segundo objetivo

específico consistiu em analisar a perspectiva teórica de avaliação da

aprendizagem presente na portaria 120/2009 IFPR. O terceiro objetivo

específico consistiu em identificar se a formação pedagógica docente é fator

determinante de dificuldades no momento da prática avaliativa da

aprendizagem.

A hipótese desse estudo de que a ausência de formação

pedagógica específica sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem,

aliada à multiplicidade de formação docente no IFPR (licenciados, tecnólogos,

bacharéis) pôde ser confirmada, uma vez que as análises revelaram que a

aplicabilidade dos critérios avaliativos da aprendizagem numa perspectiva

82

formativa, não se constituiu como conteúdo programático (nem prático) da

formação do corpo docente, seja na graduação, seja nos cursos de pós-

graduação.

Quando estudamos a avaliação do processo ensino-

aprendizagem, a pesquisa abordou duas vertentes sobre a avaliação. A

primeira amparada numa perspectiva tradicional, centrada para verificação de

resultados estáticos. A segunda pautada numa perspectiva formativa,

norteadora de todo o processo de ensino-aprendizagem. Ao analisarmos a

Portaria 120/2009 IFPR, pudemos identificar que a mesma encontra-se

fundamentada nessa concepção formativa.

Na análise dos dados colhidos por meio de um questionário

dirigido aos docentes, buscamos identificar a função da avaliação para os

professores e as dificuldades nas práticas avaliativas desenvolvidas por eles no

Campus Umuarama.

Quanto à caracterização, identificamos que os docentes

participantes da pesquisa são formados em cursos de bacharelado, tecnologia

e licenciatura, todos pós-graduados. A pesquisa também revelou que todos os

bacharéis e tecnólogos, bem como alguns dos licenciados ingressaram no

IFPR sem terem tido formação pedagógica curricular específica sobre o

processo de avaliação, seja na graduação seja na pós-graduação.

A pesquisa também revelou que todos estes docentes

participantes, ao ingressarem no IFPR, trouxeram consigo experiências de sala

de aula. Entretanto, essas experiências avaliativas anteriores eram pautadas

no modelo tradicional de avaliação. Logo, a perspectiva formativa proposta na

Portaria 120/2009 configurou-se, no momento do ingresso dos mesmos como

uma novidade desafiadora.

Também relataram no questionário que o curso correspondente

à licenciatura oferecido pela instituição para regularizar a formação pedagógica

de bacharéis e tecnólogos, por motivos políticos, foi interrompido por quase

dois anos. Durante esse período de impasse, os docentes continuaram suas

atividades normais em sala, avaliando a aprendizagem dos estudantes

segundo os critérios estabelecidos pela Portaria 120/2009. Ao retornar, o curso

foi reformulado, tendo uma redução de 360 horas no seu cronograma e

assumindo o formato de especialização lato sensu.

83

A pesquisa também revelou que, para minimizar as

consequências desse impasse, a equipe de ensino do campus ofereceu

formação pedagógica específica sobre o processo de avaliação norteado pela

portaria 120/2009 IFPR. Entretanto, a maioria dos professores participantes

alegou que esta formação aconteceu apenas de forma parcial, fato que denota

uma percepção de limites a serem superados.

Constatamos também que a instituição tem cumprido, por meio

da ação da equipe de ensino, seu papel formativo sobre avaliação. Frente aos

desafios existentes, a equipe tem proporcionado momentos de reflexão quanto

à concepção de avaliação do processo de ensino-aprendizagem, por meio de

reuniões, e formações pedagógicas. Entretanto, a análise dos dados também

revelou a necessidade da instituição repensar a constância e o formato com

que conduz suas ações e a necessidade de estendê-las a toda comunidade

acadêmica.

Quando questionados acerca da função da avaliação em suas

práticas docentes, a observação das respostas revelou que a maioria dos

docentes ainda compreende a avaliação numa perspectiva tradicional,

definidora de aprovação ou retenção. Não obstante, esse limite aos poucos

parece estar próximo de ser ultrapassado, uma vez que nas críticas docentes

contrárias ao “subjetivismo” da portaria 120/2009 podemos identificar indícios

de uma preocupação voltada à aprendizagem significativa dos estudantes.

Fator esse impactante nas práticas pedagógicas dos mesmos.

Assim, quando observamos o conjunto dos dados numa

perspectiva dialética, é possível se identificar que os limites, impasses e

desafios da avaliação da aprendizagem no IFPR, Campus Umuarama

configuram-se como motivadores para a maioria dos professores pesquisados,

cujas respostas evidenciam avanços na direção de uma avaliação formativa.

Foi para (re)pensar a avaliação frente a esse quadro em que se

desenhou a educação profissional no IFPR, mais precisamente no Campus

Umuarama, que propomos este estudo. A oportunidade de participar do

Programa de Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas

Tecnologias, da UNOPAR, propiciou-nos subsídios de investigação sobre a

avaliação do processo ensino-aprendizagem do IFPR, Campus Umuarama,

colocada como proposta de pesquisa.

84

Participar do programa de mestrado possibilitou-nos uma maior

aproximação tanto sobre a legislação concernente à educação profissional no

Brasil, quanto em relação ao tema sobre avaliação. A linha de pesquisa em

Formação de Professores e Ação Docente em Situações de Ensino, que

objetiva entender o processo de formação dos profissionais da educação nas

dimensões históricas, políticas, culturais e sociais, bem como seu papel no

sistema educacional, propiciou condições de análise dos princípios teóricos e

metodológicos da ação docente em estudo, auxiliando na interpretação dos

dados. Além disso, a convivência com colegas de outras instituições, durante

os créditos, ampliou o diálogo sobre esse tema com outros profissionais da

educação.

Acreditamos que a realização deste estudo acerca da

avaliação da aprendizagem pode, de alguma forma, contribuir para que o IFPR,

Campus Umuarama, seu corpo pedagógico, docente e discente, reflitam sobre

este tema e possam (re)pensar as práticas avaliativas, vislumbrando a melhoria

da qualidade do processo ensino-aprendizagem, criando condições para se

promover a educação enquanto política pública comprometida com a

transformação da realidade local de forma significativa à comunidade

estudantil.

85

REFERÊNCIAS

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2014. Disponível em: <http://www.senept.cefetmg.br/site/AnaisSENEPT/Anais_IV_SENEPT14/Artigo03.html>. Acesso em: 15 set. 2015.

BIAZZI MFRT. Avaliação da aprendizagem e formação do professor: concepções e experiências [dissertação]. Campinas: Pontifícia Universidade

Católica; 2006.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 15 set. 2015.

_______.Decreto nº. 7.566 de 23 de setembro de 1909. Cria nas Capitais dos

Estados da República Escolas de Aprendizes Artífices para o ensino profissional primário e gratuito. Coleções de Leis do Brasil. Imprensa Nacional: Rio de Janeiro, 31 dez. 1909. Disponível em:

<http://www6.senado.gov.br>. Acesso em: 15 set. 2013.

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90

APÊNDICES

91

APÊNDICE A Termo de consentimento livre e esclarecido e questionário de pesquisa

92

93

94

95

ANEXOS

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ANEXO A

Portaria 120/2009 IFPR

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