JULIANA MENDES YULE VICENTE - teses.usp.br · Medicina da Universidade de São Paulo para...

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JULIANA MENDES YULE VICENTE Análise dos eventos tônicos e fásicos do sono dessincronizado em ratos Wistar com lesão medular contusa São Paulo 2009

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  • JULIANA MENDES YULE VICENTE

    Anlise dos eventos tnicos e fsicos do sono dessincronizado em ratos Wistar com leso medular contusa

    So Paulo

    2009

  • JULIA

    NA

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    S

    YULE

    VIC

    EN

    TE

    Anlise dos eventos tnicos e fsicos do

    sono dessincronizado em ratos W

    istar com

    leso medular contusa

    DOUTORADO FMUSP

    2009

  • JULIANA MENDES YULE VICENTE

    Anlise dos eventos tnicos e fsicos do sono dessincronizado em ratos Wistar com leso medular contusa

    Tese apresentada a Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    rea de concentrao: Fisiopatologia Experimental

    Orientadora: Dra. Angela Cristina do Valle

    v.1

    So Paulo

    2009

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Vicente, Juliana Mendes Yule

    Anlise dos eventos tnicos e fsicos do sono dessincronizado em ratos Wistar com leso medular contusa / Juliana Mendes Yule Vicente. -- So Paulo, 2009.

    Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias.

    rea de concentrao: Fisiopatologia Experimental.

    Orientadora: ngela Cristina do Valle.

    Descritores: 1.Sono REM/fisiologia 2.Traumatismos da medula espinal 3.Ratos Wistar

    USP/FM/SBD268/09

  • FOLHA DE APROVAO

    Juliana Mendes Yule Vicente

    Anlise dos eventos tnicos e fsicos do sono dessincronizado em ratos Wistar com leso medular contusa

    Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    rea de concentrao: Fisiopatologia Experimental

    Aprovada em:______________________

    Banca Examinadora

    Prof. Dr._________________________________________________________

    Instituio:________________ Assinatura:____________________________

    Prof. Dr._________________________________________________________

    Instituio:________________ Assinatura:____________________________

    Prof. Dr._________________________________________________________

    Instituio:________________ Assinatura:____________________________

    Prof. Dr._________________________________________________________

    Instituio:________________ Assinatura:____________________________

    Prof. Dr._________________________________________________________

    Instituio:________________ Assinatura:____________________________

  • Esta tese, que a sntese de um trabalho cientfico pessoal de alguns anos visando obteno do grau de doutor, dedicada com grande afeto e

    muitssimo respeito:

    Aos pais, Guilherme e Isley

    Ao marido, Srgio

    Ao filho, Joo

    Ao mestre, Csar Timo-Iaria (in memorian)

  • AGRADECIMENTOS

    Considero o processo de elaborao de uma dissertao de doutorado, ser fruto de um esforo coletivo, embora de seu desenho at a finalizao de sua redao, inmeras responsabilidade e stress sejam predominantemente individual. Vrias pessoas contriburam para que este trabalho chegasse neste ponto. A todas elas manifesto minha imensa gratido.

    Aos pais, Guilherme e Isley, pelo exemplo a ser seguido e pela doao de educao e instruo que sem dvida a origem deste processo de amadurecimento profissional e pessoal.

    Ao marido, Srgio, pelo incentivo incansvel, sem o qual vrias das minhas conquistas no aconteceriam como aconteceram.

    Ao filho, Joo, pela razo do meu viver.

    s tias: Claudete, pela crena interminvel e pelo brilho nos olhos ao me incentivar e apoiar a cada tombo e derrapagem. Eliza, pela alegria de me ensinar a ver as coisas como elas podem vir a ser. Cleusa, que mesmo como tia postia e agregada manifestou seu orgulho e me incentivou a nunca desistir.

    amiga Gabiroba, pelo tombo, pelo afago, pela coragem, pela determinao, pela tcnica e muito, muito mais.

    Ao Prof. Dr. MaVi, pelo puxo de orelha e pelas aulas da escola da vida.

    Prof. Dra. Cinthia Itiki, pela recepo calorosa e acolhedora.

    Ao Prof. Dr. Tarcsio Eloi Barros Filho. e Dr. Rafael Marcon, pela autorizao e apoio na utilizao do NYU Impactor no LETRAN.

    Ao Prof. Dr. Irineu Tadeu Velasco, pela autorizao de uso de material e processamento histolgico no LIM-51.

    s tcnicas, Ftima e Sueli, pelo processamento do material histolgico no LIM-51.

    Prof Dra. Elia Tamaso Espin Garcia Caldini, pelo incentivo e orientao.

    Aos iniciantes cientficos, Taisa, Vivian e Victor, pela opo escolhida.

    secretaria da Fisiopatologia Experimental, Tnia e Snia.

    CAPES, pela contemplao da bolsa institucional.

    orientadora, Dra. Angela Valle, pela oportunidade.

  • Querem que vos ensine o modo de chegar cincia verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que no se sabe, saber que no se sabe; na

    verdade este o saber.

    (Confsio)

  • RESUMO

    Aps a leso medular (LM) ocorre reorganizao estrutural local e em mltiplos nveis do sistema nervoso central (SNC). Comprometimento das funes sensrio-motoras bem como alteraes significativas de outras funes neurais so normalmente relatadas aps um trauma seguido de LM. Os ritmos circadianos, em especial, o ciclo viglia-sono so freqentemente afetados aps um trauma ou interveno no SNC, no entanto, poucos estudos tem relacionado a influncia da leso medular sobre a fisiologia do sono. Estudos fisiopatolgicos so atualmente baseados em modelos experimentais os quais tem possibilitado o esclarecimento dos mecanismos subjacentes a vrios fenmenos biolgicos. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo apresentar, primeiramente, uma anlise sistemtica do ciclo viglia-sono em um modelo animal de LM contusa moderada e, em segundo lugar, por ser o sono dessincronizado uma fase importante pela ocorrncia de movimentos espontneos, estudar detalhamente a influencia da LM sobre os eventos tnicos e fsicos desta fase. Para tal, foram realizados registros eletroscilogrficos das reas corticais sensrio-motora (A7) e hipocampais (CA1) de ambos os hemisfrios e, registros eletromiogrficos dos trapzios, elevadores da asa do nariz, gastrocnmios e epicantos oculares. Os resultados mostraram significativo aumento na quantidade total das fases sono sincronizado (p

  • ABSTRACT

    After a spinal cord injury (SCI), structural reorganization occurs locally and at multiple levels of the central nervous system (CNS). Compromising of sensory motor functions and significant alterations of other neural functions are normally related after a SCI. The circardians rhythms, specially the sleep-wake cycle are frequently affected after a trauma or intervention in CNS. Few studies have approached contusive SCI in sleep physiology. Nowadays, physiopatological studies are based on experimental models which offer several possibilities to obtain new signs related to mechanisms to several biological phenomena. Thus, the present research aimed to present a systematic analysis of the sleep-wake cycle in a SCI animal model to detail the influence of SCI over tonic and phasic events during desynchronized sleep (DS), since this sleep phase is important for the occurrence of spontaneous movements. In order to do that, electroencephalogram (EEG) records of the sensory motor cortex (A7) and dorsal hippocampus (CA1) of both hemispheres were carried out, and electromyography (EMG) records of the trapezium, rostrum, gastrocnemius and eyes. The results showed significant increase of total time of synchronized sleep (p

  • i

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Foto de soquete e eltrodos........................................................ 27

    Figura 2 Representao grfica cartesiana das reas cito-arquitetnicas 28

    Figura 3 Representao grfica do crtex frontal do encfalo de rato...... 29

    Figura 4 Representao esquemtica dos msculos utilizados para implante........................................................................................

    30

    Figura 5 Representao por fotos das etapas do procedimento cirrgico de implantao de eltrodos enceflicos.....................................

    32

    Figura 6 Foto de ventilador criado para secagem de acrlico.................... 33

    Figura 7 Foto do aparato NYU Impactor para procedimento de leso medular........................................................................................

    34

    Figura 8 Apresentao de traado de 20 segundos de viglia atenta pr-leso medular ..............................................................................

    49

    Figura 9 Apresentao de traado de 20 segundos de viglia relaxada pr-leso medular .......................................................................

    50

    Figura 10 Apresentao de traado de 20 segundos de sono sincronizado pr-leso medular...................................................

    50

    Figura 11 Apresentao de traado de 20 segundos da transio do sono sincronizado para sono pr-paradoxal pr-leso medular ..........

    51

    Figura 12 Apresentao de traado de 20 segundos de sono dessincronizado pr-leso medular ............................................

    52

    Figura 13 Apresentao de traado de 20 segundos de viglia atenta ps-leso medular...............................................................................

    52

    Figura 14 Apresentao de traado de 20 segundos da transio de viglia relaxada para sono sincronizado ps-leso medular........

    53

    Figura 15 Apresentao de traado de 20 segundos da transio de sono sincronizado para sono pr-paradoxal ps-leso medular..........

    53

  • ii

    Figura 16 Apresentao de traado de 20 segundos de sono dessincronizado ps-leso medular.............................................

    54

    Figura 17 Representao grfica do tempo total e nmero de fases do ciclo viglia-sono da anlise longitudinal pr e ps leso medular .......................................................................................

    57

    Figura 18 Representao grfica dos ciclos completos e incompletos da viglia-sono da anlise longitudinal pr e ps leso medular ......

    58

    Figura 19 Representao grfica dos eventos fsicos do sono dessincronizado da anlise longitudinal pr e ps leso medular........................................................................................

    65

    Figura 20 Apresentao grfica dos trechos de dois segundos utilizados para anlise espectral e a representao das trs bandas de freqncia utilizada na anlise longitudinal pr e ps leso medular e entre grupos com e sem eventos fsicos durante o sono dessincronizado..................................................................

    67

    Figura 21 Representao grfica da freqncia delta da anlise longitudinal pr e ps leso medular e entre grupos com e sem eventos fsicos durante o sono dessincronizado........................

    69

    Figura 22 Representao grfica da freqncia beta da anlise longitudinal pr e ps leso medular e entre grupos com e sem eventos fsicos durante o sono dessincronizado........................

    72

    Figura 23 Representao grfica das freqncias sigma e beta da anlise longitudinal pr e ps leso medular e entre grupos com e sem eventos fsicos durante o sono dessincronizado........................

    74

    Figura 24 Representao grfica da evoluo da escala BBB ps leso medular........................................................................................

    79

    Figura 25 Foto da histologia por Cresil Violeta do posicionamento dos eltrodos hipocampais.................................................................

    80

    Figura 26 Representao grfica por Blox Plot da descrio histolgica de caracterizao da leso medular............................................

    81

  • iii

    Figura 27 Foto da histologia por Hematoxilina Eosina da caracterizao da leso medular e imuno-histoqumica por GFAP para caracterizao de comportamento glial aps leso medular.......

    82

  • iv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Tempo e ocorrncia de nmero de fases, em cada fase do ciclo viglia-sono..................................................................................

    56

    Tabela 2 Quantidade de ciclos de viglia-sono: total, completos e incompletos.................................................................................

    58

    Tabela 3 Quantidade de transies de sono para as demais fases do ciclo viglia-sono..........................................................................

    61

    Tabela 4 Quantidade dos diversos tipos de eventos fsicos durante o sono dessincronizado.................................................................

    64

    Tabela 5 Freqncia de registros EEGs, banda , em cada regio e lado mensurado..................................................................................

    68

    Tabela 6 Freqncia de registros EEGs, banda , em cada regio e lado mensurado..................................................................................

    71

    Tabela 7 Freqncia de registros EEGs, banda /, em cada regio e lado mensurado..........................................................................

    73

    Tabela 8 Potncia dos registros EEGs, banda , em cada regio e lado mensurado..................................................................................

    76

    Tabela 9 Potncia dos registros EEGs, banda , em cada regio e lado mensurado...................................................................................

    77

    Tabela 10 Potncia dos registros EEGs, banda /, em cada regio e lado mensurado........................................................................

    78

    Tabela 11 Intensidade dos achados na medula espinhal aps leso da medula espinhal..........................................................................

    81

  • v

    LISTA DE SIGLAS

    VA Viglia atenta

    VR Viglia relaxada

    SS Sono sincronizado

    PP Sono pr-paradoxal

    SD Sono dessincronizado

    LM Leso medular

    EEG Eletroencefalograma

    EOsG Eletroscilograma

    OMS Organizao Mundial da Sade

    CVS Ciclo viglia-sono

    SNC Sistema nervoso Central

    SPI Sndrome das pernas inquietas

    RF Formao Reticular

    LCa Locus Cerleo

    PGO Ponto genculo ocipitais

    SLD Ncleo pontino sub-laterodorsal

    NGC Ncleos gigantocelular

    RPC Ncleo caudal da rafe

    RPO Ncleo oral da ponte

    GFAP Protena cida fibrilar glial

    A7 Crtex associativo sensrio motor

    CA1 Hipocampo dorsal

    C Msculo trapzio

    R Rostrum

  • vi

    O Olhos

    PPe Pata posterior esquerda

    PPd Pata Posterior direita

    CROPP Eventos fsicos dos grupos musculares Cabea, Rostrum, Olhos e Patas

  • vii

    SUMRIO

    1. INTRODUO ...................................................................................... 1

    1.1 Ciclo Viglia-Sono Sono........................................................................ 5

    1.2 Leso Medular ..................................................................................... 15

    2. OBJETIVO.............................................................................................. 25

    3. MTODO ............................................................................................... 26

    3.1 Animais................................................................................................. 26

    3.2 Implante de Eltrodos........................................................................... 26

    3.2.1 Eltrodos........................................................................................... 27

    3.2.2 Coordenadas Estereotxicas............................................................. 28

    3.2.3 Implante Musculares......................................................................... 29

    3.2.4 Anestesia ......................................................................................... 30

    3. 2.5 Assepsia .......................................................................................... 31

    3.2.6 Procedimento Cirrgico..................................................................... 31

    3.2.7 Profilaxia............................................................................................ 33

    3.2.8 Manuteno dos animais ................................................................ 34

    3.3 Leso Medular...................................................................................... 34

    3.3.1 Anestesia.......................................................................................... 35

    3.3.2 Laminectomia.................................................................................... 35

    3.3.3 Assepsia............................................................................................ 36

    3.3.4. Nvel de leso ................................................................................. 36

    3.3.5 Profilaxia............................................................................................ 37

    3.3.6 Manuteno dos animais................................................................... 37

    3. 4 Registros eletroscilogrficos................................................................ 37

    3.4.1 Habituao ....................................................................................... 37

    3.4.2 Registros eletroscilogrficos.............................................................. 38

  • viii

    3.5 Anlise comportamental........................................................................ 39

    3.5.1 Etologia.............................................................................................. 39

    3.5.2 Escala BBB........................................................................................ 40

    3.6 Anlise espectral ................................................................................. 41

    3.7 Histopatologia....................................................................................... 42

    3.7.1 Colorao por violeta cresil................................................................ 43

    3.7.2 Colorao HE ................................................................................... 43

    3.7.2 Dosagem de GFAP............................................................................ 44

    3.8 Anlise estatstica................................................................................. 45

    4. RESULTADOS........................................................................................ 47

    4.1 Ciclo viglia-sono................................................................................... 47

    4.1.1 Caractersticas eletrofisiolgicas....................................................... 47

    4.1.2 Tempo total............................................................................................. 54

    4.2 Nmero de fases do ciclo viglia sono ................................................. 55

    4.3 Ciclos completos e incompletos........................................................... 55

    4.4 Transio entre fases.......................................................................... 59

    4.4.1 Alternncia da viglia para as demais fases do ciclo viglia-sono...... 59

    4.4.2 Alternncia de sono para as demais fases do ciclo viglia-sono....... 60

    4.5 Eventos fsicos.................................................................................... 63

    4.6 Anlise espectral do SD....................................................................... 66

    4.6.1 Freqncias...................................................................................... 66

    4.6.1.1 Banda delta (0.5 4.0 Hz).......................................................... 66

    4.6.1.2 Banda teta (5,0 11,0 Hz).......................................................... 70

    4.6.1.3 Banda sigma e beta....................................................................... 70

    4.6.2 Potncias.......................................................................................... 75

    4.6.2.1 Banda delta.................................................................................... 75

  • ix

    4.6.2.2 Banda teta..................................................................................... 75

    4.6.2.3 Banda sigma e beta....................................................................... 75

    4.7 Escala BBB.......................................................................................... 79

    4.7 Histopatologia....................................................................................... 80

    5. DISCUSSO.......................................................................................... 83

    5.1 Ciclo viglia-sono.................................................................................. 83

    5.2 Anlise Espectral.................................................................................. 89

    5.3 Escala BBB.......................................................................................... 92

    5.4 Histopatologia....................................................................................... 93

    6. CONCLUSO.......................................................................................... 94

    7. ANEXOS................................................................................................. 95

    8. REFERNCIAS........................................................................................ 97

  • 1

    1. INTRODUO

    O sono de indivduos portadores de leso medular (LM) ou qualquer

    limitao motora tem recebido maior ateno por parte de especialistas. As

    alteraes no sono influenciam diretamente a qualidade de vida dos portadores

    de LM. So vrios os fatores que influenciam o sono; estresse, ansiedade, que

    surgem por modificao do estilo de vida. As alteraes no padro do sono

    relacionam-se com o comprometimento da capacidade de locomoo

    independente e com o prejuzo na interao social

    Segundo dados da Organizao Mundial de Sade (OMS) de 2001, o

    nmero de pacientes com LM que apresenta algum tipo de transtorno do sono

    alto, representando um elevado custo para a rea da sade (70 bilhes

    anuais nos EUA) (Smith e Haythornthwaite, 2004). Indivduos portadores de LM

    apresentam uma queixa comum referentes de dificuldade de dormir. Estes

    indivduos apresentam frequentemente sndrome das pernas inquietas,

    queixam-se de espasmos, dificuldade de iniciar e manter o sono, roncos,

    freqentes, despertares nas horas iniciais da manh e como conseqncia

    incapacidade de retornar ao sono, e durante o dia estes sentem-se cansados e

    sonolentos (De Mello e cols., 1996; Bara-Jimenez e cols., 2000; Clemens e

    cols., 2006; Bampi e cols, 2008;).

    Podemos assim elencar alguns fatores negativos exibidos em

    portadores de LM para a qualidade do sono como a posio de dormir supina,

    tendncia obesidade e uso de sedativos. Em tetraplgicos, apnia obstrutiva

    do sono e desaturao de oxignio arterial contribuem para a interrupo do

  • 2

    sono e pode ser responsvel por diversos sintomas diurnos de desconforto.

    (Biering-Srensen e Biering-Srensen, 2001). Todos estes aspectos dificultam

    a reintroduo destes indivduos na sociedade e geram um grande desafio para

    a economia no sentido de que suas capacidades produtivas esto diminudas,

    assim como, os custos se mantm aumentados e em asceno para os

    cuidados aos quais so necessrios para a sua manuteno.

    Ressalta-se o fato de que a LM a qual, normalmente, causa um

    acentuado comprometimento das funes sensrio-motoras promove, tambm,

    alteraes significativas de outras funes neurais, nas quais se inclui os ritmos

    circadianos, em especial, o ciclo viglia-sono (CVS). Estas funes esto

    frequentemente afetadas aps leses ou qualquer tipo de interveno no

    sistema nervoso central (SNC) (Scheer e cols., 2006; Kim e cols., 2006;

    Herbert e cols. 2007; Esteves e cols., 2007).

    Algumas evidncias sugerem a existncia de uma estreita correlao

    entre as alteraes do sono e LM, contudo, no se sabe, ainda, como o sono e

    seus componentes so influenciados, tampouco como eles podem influenciar

    outras funes e o comportamento aps a LM (Biering-Srensen e Biering-

    Srensen, 2001; De Mello e cols., 2002; Scheer e cols., 2006; Esteves e cols.,

    2007).

    Um importante fato observado em indivduos com LM consiste no

    aumento da movimentao das pernas durante o sono dessincronizado,

    tambm chamado de sono paradoxal ou sono REM Rapid Eyes Movements,

    sobretudo, aps reabilitao e atividade fsica.

  • 3

    Essa movimentao das pernas durante o sono conhecida como

    Sndrome das pernas inquietas (SPI). A SPI pode ser um distrbio tanto

    primrio como secundrio. A forma primria da SPI frequentemente

    hereditria enquanto que a secundria esta principalmente associada com

    uremia, deficincia de ferro, gravidez, alm de ultimante ter sido associada com

    LM (De Mello, 2007, Scheer e cols., 2002). A maioria dos pacientes com SPI

    apresentam tambm uma movimentao peridica das pernas durante o sono.

    A patognese de ambos os eventos de movimentao de pernas prvia e

    durante o sono continua especulativa. (Hartmann e cols., 1999). Existe a

    possibilidade de a SPI ser apenas um achado coincidente em pacientes com

    LM.

    Entretanto, existem associaes temporais estreitas entre o incio da

    movimentao das pernas com paraparesias. Aps a realizao de cirurgia

    para a remoo das massas lesionais das paraparesias ocorre o

    desaparecimento completo da SPI ou mudanas severas de acordo com a

    evoluo clnica da mielopatia posterior ao procedimento cirrgico o que

    reafirma uma suposta relao de causa e efeito entre LM e SPI. (Lee e cols.,

    1996)

    Pesquisas revelam que a atividade fsica e exerccios podem ser

    importantes para uma reduo do risco nas condies de comorbidades da SPI

    (Silva e cols., 1995). Entretanto, os efeitos de tais exerccios na severidade da

    SPI ainda so desconhecidos. Alm disto, o tratamento atual da SPI

    primeiramente de natureza farmacolgica. Recentemente pesquisas tm

    mostrado que programas de exerccios mostram-se eficaz na melhora dos

  • 4

    sintomas da SPI. (De Melo e cols., 1999; Esteves e cols., 2004; Aukerman e

    cols., 2006).

    Os estudos clnicos tm apresentado informaes relevantes, porm

    limitadas, que no permitem uma interpretao adequada ou completa da

    fisiopatologia comum ao sono e LM. Dessa forma, torna-se imprescindvel a

    busca por modelos experimentais que mimetizem os diversos aspectos desses

    fenmenos e possibilitem o estudo aprofundado dos mecanismos subjacentes

    s relaes entre eles.

    Na atual prtica de pesquisa, so os modelos experimentais um

    instrumental valioso para a busca de ferramentas capazes de sugerir indcios

    de respostas conclusivas para diversas perguntas. Estes modelos podem ser

    definidos como a materializao de uma parte da realidade, por meio da

    representao simples de uma ocorrncia recente ou antiga.

    O desenvolvimento de modelos experimentais torna-se importante na

    medida em que estes auxiliam na compreenso dos fenmenos naturais. Na

    cincia mdica permitem o melhor conhecimento da fisiologia, da etiopatogenia

    das doenas, da ao de medicamentos ou dos efeitos das intervenes

    cirrgicas. Sua maior importncia est relacionada ao respeito barreira tica

    de no interveno primria experimental em anima nobile. Nesse sentido, o

    modelo experimental deve ser funcionalmente, o mais semelhante possvel ao

    que se objetiva estudar (Ferreira e cols., 2005).

    Existem diversos modelos experimentais utilizados em pesquisas

    clnico-cirrgicas, tais como, culturas de clulas e tecidos (pesquisa in vitro),

    animais de laboratrio (pesquisa in vivo) e estudos anatmicos, geralmente em

    cadveres de seres humanos (Hochamann e cols., 2004).

  • 5

    1.1. Ciclo Viglia-Sono

    O estado de viglia se manifesta subjetivamente pela concincia do que

    ocorre no meio externo ou no prprio corpo. O alerta, no se caracteriza por

    componentes motores e necessariamente no envolve manifestaes motoras,

    so os estmulos externos (seja sensorial ou de ateno) ao organismos que

    definem o comportamento motor ou no. O alerta inespecfico permite a

    programao de um comportamento seqencial e exploratrio (Morgane e Ster,

    1972).

    J durante o sono, a principal caracterstica a grosso olhar a

    imobilidade. Ao contrrio do se imagina nesta fase o sistema nervoso sede

    de intensa atividade, Para manuteno deste comportamento de quietude, o

    sistema nervoso processa inibio de vrias funes e ativao de outras.

    Alternando-se ritmicamente com o estado de viglia, o sono se desenrola em

    diversas fases consecutivas que se repetem ciclicamente (Hodes e Suzuki,

    1965).

    A gnese do sono uma questo que vem ocupando pesquisadores h

    muitos anos. Tanto que na antiguidade era considerada a possibilidade de que

    o sono fosse causado pela sada da alma do corpo material. Desde aquela

    poca so vrias as hipteses para a explicao do sono. Aristteles

    acreditava que o sono ocorria por evaporao de matria nutritiva, para aliviar

    o corao que para ele era sede da mente (Timo-Iaria, 1992).

    No sculo XVIII Willis e Morgagni aventaram a hiptese de que o sono

    ocorresse por congesto cerebral, isto , por acmulo de sangue no sistema

  • 6

    nervoso central (SNC). J no sculo XIX, Howel acreditava que o sono

    resultasse do contrrio, isto , de anemia do SNC (Timo-Iaria, 1992).

    Com a descoberta da sinapse por Cajal, acreditava-se que o sono

    resultava da retrao dos botes terminais, desligando os neurnios essenciais

    ao estado de viglia. Um pouco mais tarde, Pavlov aventou a hiptese de

    inibio cortical. J nos fins do sculo XIX, Mauthner props a hiptese de que

    o sono resultava do bloqueio ativo das informaes sensoriais ao crtex

    cerebral. A criao da eletrencefalografia, nos anos de 1920 e 1930, por Hans

    Berger, favoreceu o estudo dos mecanismos do sono e suas manifestaes.S

    ento a proposta de Mauthner foi abordade na dcada de 30 por Bremer, que

    reafirmou, por meio experimental, que na transeco mesenceflica ocorria

    visualizao eletroscilogrfica de sono no crtex cerebral, o crebro isolado

    (Valle, 1992, Valle, 1995).

    Uma vez postulada a hiptese de coexistncia de sono e leso da regio

    mesodienceflica, Mauthner e Von Economo admitiam que exisita nessa regio

    neurnios capazes de produzirem sono. Essa hiptese sugere que o

    hipotlamo anterior quem contm um centro gerador ou pelo menos

    facilitador de sono, enquanto que o hipotlamo posterior abriga um centro

    alertante (Timo-Iaria, 1992).

    Em medos dos anos 50, Monnier e Pappenheimer verificaram a

    produo de peptdeos que causam sono no lquido cfalo-raquidiano e

    espaos ventriculares. Em seguida, so dcadas de pesquisas descrevendo

    cada uma novas descobertas com relao a funo do tronco enceflico na

    gerao do sono (Timo-Iaria, 1992).

  • 7

    A estimulao eltrica em diversas reas como o ncleo lateral do

    tlamo e tegmento mesenceflico (Parmeggiani e Zanocco, 1963), rea pr-

    ptica, ncleo caudado, ncleos anteriores da rafe (Morgane e Stern, 1972),

    interfeririam diretamente no sono, com induo ou com abolio do mesmo.

    Concomitante descoberta dos centros geradores ou abolidores de

    sono tambm se descreve o sono dessincronizado (SD), e se inicia uma

    grande produo cientfica em diversas reas de conhecimento, como a

    neurofisiologia, neuroanatomia e neurofarmacologia.

    Loomis, Harvey e Hobart (1930), fisiologistas americanos, realizaram o

    primeiro estudo sistemtico dos padres eletrencefalogrficos durante o sono

    humano, e descreveram as fases do que denominamos sono sincronizado ou

    sono de ondas lentas (Valle, 1992, Valle, 1995).

    Outrossim, na Frana, em 1950, Passouant descreveu, pela primeira

    vez, o sono dessincronizado; fato detalhado, trs anos depois (em 1953), por

    Kleitman e Aserinsk. O sono dessincronizado, em humanos, foi chamado de

    sono REM e definido por movimentos oculares rpidos. O resto do sono foi

    chamado de sono no-REM, sem movimento ocular rpido (Jankel e

    Niedermeyer, 1985).

    Muitas pesquisas consideravam que o sono REM representa o sono

    mais profundo, primariamente pelos achados que para a ocorrncia do

    despertar seria necessrio um estmulo muito intenso durante o sono REM do

    que durante o sono sincronizado (sono de ondas lentas) (Aserinsky e Kleitman,

    1953). Posteriormente, foi confirmado que o estmulo para exibio de

  • 8

    movimentos cortico-espinhais baixo em animais acordados, aumenta no

    animal sonolento e ainda maior no animal dormindo (Hodes e Suzuki, 1965).

    Jouvet demonstrou interesse pelo estudo do sono REM, chamado de

    paradoxal em gatos, pelo fato de este apresentar a caracterstica da

    dessincronizao, tal como na viglia (Jouvet, 1967).

    A dessincronizao cortical consiste em aumento da frequncia dos

    potenciais e reduo de sua voltagem o que indica uma evidente ativao

    neuronal; a sincronizao, ao contrrio, caracteriza-se pela presena de ondas

    de baixa frequncia, mas de alta voltagem, o que, em geral, significa reduo

    da ativao neuronal (Roldan e Weiss, 1962; Timo-Iaria e cols., 1970; Valle e

    cols., 1992).

    Um dos primeiros estudos do ciclo viglia-sono em ratos data de 1962,

    quando Roldan e Weiss, produziram um relato preliminar. Eles descreveram 3

    diferentes fases do ciclo por meio de eletroencefalograma (EEG): 1) baixa

    freqncia e alta voltagem no neocrtex, hipocampo e formao reticular. 2)

    dessincronizao cortical e ritmo teta no hipocampo e formao reticular

    durante o sono. 3) viglia combinada com dessincronizao neo-cortical e

    tambm ritmo teta durante comportamento ativo ou dessincronizao no

    hipocampo.

    Uma vez identificado padres eletroscilogrficos no rato, a utilizao

    deste animal como modelo tornou-se de extensa produo cientfica. Desde

    ento, a estrutura do ciclo viglia-sono em roedores tem sido amplamnete

    estudada nas ltimas quatro dcadas (Jouvet, 1963, 1967; Timo-Iaria e cols.,

    1970; Clancy e cols., 1978; Timo-Iaria e cols., 1990; Valle e cols., 1992;

  • 9

    Gottesman, 1992; Valle, 1992 e 1995; Giuditta e cols., 1995; Esteves e cols.,

    2004; Esteves e cols., 2007; Lesku e cols., 2009).

    A classificao do sono, em fases bem definidas, (sono de ondas lentas

    e sono REM), reflete a predominncia estatstica dos respectivos padres

    eletroscilogrficos1, visto haver evidente oscilao desses padres ao longo do

    tempo.

    O rato adulto um animal de hbitos noturnos com maior prevalncia de

    viglia, principalmente viglia atenta (VA) durante os comportamentos

    exploratrios e sono diurno (Rosemberg e cols., 1976; Coenen e cols., 1983;

    Andersen e Tufik, 2003). Assim, por meio de mtodos de implantes crnicos de

    eltrodos bipolares em mltiplos pontos do encfalo e minuciosa anlise

    eletroscilogrfica, foi possvel realizar a caracterizao do ciclo viglia-sono de

    ratos (Timo-Iaria, 1970). Tal caracterizao possibilitou descrever as fases e os

    estados, classificando-os em: viglia atenta (VA) e relaxada (VR); sono

    sincronizado (SS), de acordo com a prevalncia de fusos (S), fusos e ondas

    delta (SW) e ondas delta (W); sono pr-paradoxal (PP) e sono dessincronizado

    (SD) (Timo-Iaria e cols., 1970, Valle 1992, Valle e cols., 1992, 1995, Santos e

    cols., 2008).

    De acordo com esses estudos, os ratos apresentam ciclos completos e

    incompletos; os primeiros ciclos de uma seqncia de registros

    eletroscilograficos apresentam alta variabilidade quanto durao dos ciclos

    1Em nosso laboratrio, criou-se a expresso eletroscilogramas (EOsGs), para denominar as oscilaes de potenciais de populaes neuronais de qualquer regio do sistema nervoso, incluindo o eletrocardiograma, eletroencefalograma, eletroespinograma, etc. Eletroscilograma substitui com grandes vantagens a expresso atividade eltrica cerebral, imprpria, pois restringe a atividade ao crebro e exclui as demais regies enceflicas e medula espinhal.

  • 10

    de sono e a sequncia de estgios, quando, ento, os ciclos so geralmente

    incompletos e o sono dessincronizado frequentemente irregular e breve.

    Quando eles se tornam completos, a variabilidade da durao diminui e a

    sequncia de fases tende a ser mais regular. Durante o dia, a viglia atinge

    20% da durao do ciclo; o sono sincronizado 60%; o sono pr-paradoxal 7% e

    o sono dessincronizado 14% (Roldan e Weiss, 1962; Parmeggiani e Zanocco,

    1963; Timo-Iaria e cols., 1970; Clancy e cols., 1978).

    Os estudos sobre esse tema progrediram em conjunto com o imenso

    salto tecnolgico que teve como marco inicial a segunda metade do sculo XX,

    permitindo o aprofundamento dos conhecimentos sobre os processos da viglia

    e do sono, o que favoreceu uma descrio detalhada do SD, que se caracteriza

    por uma constelao de eventos os quais incluem: (1) um padro de

    dessincronizao da atividade eletroencefalogrfica cortical; (2) um ritmo teta

    no hipocampo; (3) acentuada atonia nos msculos posturais; (4) potenciais de

    campo na ponte, ncleo geniculado lateral e crtex occiptal espcula ponto-

    genculo-occiptal (PGO); (5) movimentos rpidos dos olhos; (6) espasmos

    mioclnicos, mas aparentes na face e musculatura de membros distais; e (7)

    oscilaes cardiorespiratrias acentuadas (Roldan e Weiss, 1962; Vertes,

    1981, 1984 e 1988, Giuditta e cols., 1995).

    Conforme relatos, no sono dessincronizado de ratos, o crtex pr-frontal

    est, sobretudo, dessincronizado, enquanto as ondas teta aparecem sobre

    outras reas corticais e hipocampais. Uma das principais caractersticas do

    sono dessincronizado a dessincronizao cortical equivalente da viglia e

    ritmo teta hipocampal (Parmeggiani e Zanocco, 1963; Timo-Iaria e cols, 1970,

    Clancy e cols., 1978).

  • 11

    Achados tm sido revisados e discutidos em detalhes, apontando que:

    (1) a dessincronizao cortical do sono dessincronizado controlada pela

    regio mesenceflica da formao reticular (RF); (2) o ritmo teta hipocampal

    controlado pelos ncleos oral pontinos da formao reticular (RF); (3) a tonia

    muscular controlada pela rea peri-alpha do locus cerleo (LCa); (4) as

    ondas PGO so, primariamente, controladas pela rea 10 (A10); os

    movimentos oculares rpidos so controlados pelo ncleo peri-abducem da

    formao reticular (RF); abalos musculares pelo ncleo gigantocelular e caudal

    do ncleo caudal da ponte; e (7) respostas caridiorespiratrias encontram-se

    sob o controle do complexo parabraquial (Vertes, 1981 e 1984, Velayos e cols.,

    2007).

    A completa atonia muscular e a ocorrncia de movimentao

    espontnea de vrios segmentos do corpo constituem-se caractersticas muito

    importantes do sono dessincronizado. Tais alteraes, na atividade tnica

    espontnea, so similares s mudanas nos reflexos espinhais proprioceptivos.

    importante esclarecer que reflexos monossinptico e polissinptico so

    tonicamente deprimidos durante o sono dessincronizado. Esses efeitos

    ocorrem devido ao aumento da inibio exercida por estruturas supraespinhais

    no arco reflexo espinhal, manifestando, consequentemente, a atonia no sono

    dessincronizado (Gassel e cols., 1964; Gassel e cols., 1965).

    Durante o sono dessincronizado, paradoxalmente, os abalos mioclnicos

    da musculatura somtica apresentam ativao muscular pelo aumento da

    atividade fsica em diferentes estruturas, que se projetam para a medula

    espinhal, ativando motoneurnios-, tais como: os do trato piramidal, do ncleo

    rubro, da formao reticular e os ncleos vestibular lateral e medial (Gassel e

  • 12

    cols., 1964). A ativao muscular fsica de tal via descrita, por diversos

    autores, como uma manifestao onrica durante o sono dessincronizado

    (Timo-Iaria e cols., 1990; Slegel e cols., 1990; Valle, 1992; Valle 1995; Simes

    e cols., 1996; Timo-Iaria, 1997; Coenen, 2002).

    Ressalta-se que estudos voltados descrio dos mecanismos do sono

    dessincronizado em ratos demonstraram que o ncleo pontino sub-laterodorsal

    (SLD) (que equivalente ao cerleo e sub-cerleo em gatos) a principal

    estrutura responsvel pela atonia observada durante o sono(Boeve e cols.,

    2007). Neurnios glutamatrgicos do SLD projetam-se para interneurnios na

    medula oblonga e medula espinhal, recaem para os motoneurnios do corno

    ventral, produzindo hiperpolarizao, o que resulta na atonia durante o sono

    dessincronizado (Taepavarapruk e cols., 2003, 2008).

    A maioria das espcies estudadas (humanos Slegel e cols., 1991;

    Koyama e cols., 1994; gatos Shouse e Siegel, 1992; Mrquez-Ruiz e

    Escudero, 2008; ratos Simes e cols., 1996; Koyama 2001) apresentam

    abalos e atividade motora localizada (eventos fsicos) durante o sono

    dessincronizado, geralmente relacionado atividade onrica, embora a intensa

    inibio promovida por centros pontinos e bulboespinhais resulte em completa

    atonia.

    Verificou-se, nos estudos em ratos em nosso laboratrio, que os

    movimentos do focinho, durante o sono dessincronizado, caracterizam a

    atividade onrica e predominam acentuadamente sobre a dos olhos, a relao

    de 3:1, o que sugere que o rato, como animal macrosmtico, tem muito mais

    sonhos olfativos e tcteis do que visuais (Timo-Iaria, 1990).

  • 13

    Em outra pesquisa, conduzida em nosso laboratrio, avaliou-se a

    prevalncia de movimentao de vrias partes do corpo do rato durante o sono

    dessincronizado, o que se deu na seguinte ordem: focinho (62%), olhos (26%),

    patas anteriores (6%), orelhas (3.8%), cabea (1,2%) e patas posteries (1%)

    (Timo-Iaria, 1995).

    O ritmo teta hipocampal constitui-se uma das caractersticas

    eletroscilogrficas do sono dessincronizado. Ele apresenta um padro

    sinusoidal da atividade eltrica com frequncias que abrangem dos 5 aos

    10Hz. Aparentemente, o ritmo teta est presente no sono dessincronizado e

    durante condies de viglia, em todos os mamferos. O teta da viglia, por

    exemplo, parece estar associado com movimentos voluntrios no rato e no

    cachorro; com processos atencionais no gato e com o despertar no coelho

    (Vertes 1984 e 1995; Velayos e cols., 2007).

    A descoberta do ncleo oral da ponte, como principal foco de gerao

    deste ritmo, advm de um trabalho em que foram estimulados os ncleos

    gigantocelular (NGC), caudal (RPC) e oral da ponte (RPO). O POR, quando

    estimulado, aumentou, tanto a voltagem como a frequncia do ritmo teta, de 6

    para 9Hz (Vertes, 1981).

    Alm desses fatos, existe uma relao estreita entre movimentos fsicos

    durante o sono dessincronizado e ritmo teta hipocampal. Por ocasio da

    movimentao fsica, ocorre um evidente aumento na voltagem e frequncia

    do ritmo teta hipocampal (Sano e cols., 1973; Sei e Morita, 1996). Em ratos,

    acredita-se que esse ritmo influencie na modulao plstica e eficcia

    sinptica. Alm disso, pesquisas sugerem que a frequncia e a amplitude do

  • 14

    ritmo teta hipocampal sejam controladas por diferentes ncleos envolvidos,

    diferentemente, no processo de aprendizado e memria. Presume-se, portanto,

    a existncia de um gerador comum de eventos fsicos durante o sono

    dessincronizado (Timo-Iaria e cols., 1997; Karashima e cols., 2004;

    Montgomery e cols., 2008).

    Nesse sentido, surge, ento, uma hiptese sobre um gerador de eventos

    fsicos que altera a dinmica do ritmo teta hipocampal. De fato, existe uma

    regio na formao reticular, o ncleo tegmento-pednculo-pontino, que

    poderia afetar a dinmica dos eventos fsicos, como, tambm, o ritmo teta

    hipocampal (Datta, 2000).

    Percebe-se que essas caractersticas fsicas do sono dessincronizado

    parecem preservadas em animais que sofreram trauma, independente do

    segmento medular, apesar de a LM significar a interrupo do fluxo de

    informaes sensorial e motora.

    Para resumir o tpico, o sono um estado peridico de quiescncia, na

    qual h um processamento mnimo de informao sensorial e nenhuma

    interao com o ambiente ou outrm. Ainda que o sono tenha uma marca

    registrada como a suspenso de atividade do estado de viglia, ele mais do

    que a ausncia de estar acordado ele um processo regulado. Mantendo-se

    o estado de viglia h o aumenta propenso (tambm conhecida como

    presso de sono), como exemplo: necessidade ou prontido para dormir,

    apesar de que o excesso de sono tenha um efeito contrrio. Considerando o

    tempo gasto no sono, em humanos aproximadamente um tero da vida, este

    processo deve ser importante.

  • 15

    Todavia, o propsito e funo do sono esto entre o mais obscuros dos

    problemas da neurocincia e biologia. Nos ltimos 50 anos, muito tem se

    descoberto sobre a estrutura do sono, muitos candidatos para induo qumica

    endgena do sono tem sido propostos e interaes circadianas e

    homeostticas influenciam a regulao do sono j foi esclarecida. Entre as

    explies do propsito do sono, duas principais, porm no exclusivas e

    mutuamente, a hiptese que domina a literatura: que o sono restaurador

    para o metabolismo cerebral e que ele serve como consolidador de memria.

    Muitas peas destes quebra-cabeas so conhecidas, mas nem todas revelam

    a figura final.

    1.2. Leso Medular

    A leso medular (LM) considerada um assunto de abrangncia nos

    contextos social, econmico e psicolgico. Seus efeitos so devastadores para

    o indivduo portador, para a sociedade e para o Estado. O custo econmico e

    social para o atendimento de pessoas portadoras de LM assombroso, pois

    soma o atendimento mdico-hospitalar de urgncia ao perodo de reabilitao.

    Nos Estados Unidos, existe desde 1937 o National Spinal Cord Injury

    Database, que registra informaes oriundas de 21 centros federais de

    atendimento a pacientes com LM. Por seus dados, estima-se que a incidncia

    anual de LM est entre 30 e 40 casos novos por milho de habitantes. Para

    uma populao em torno de 158.000.000 habitantes, poderamos imaginar

    cerca de 6.000 casos anuais no Brasil. A prevalncia estimada em torno de

  • 16

    700 casos por milho de habitantes, o que daria uma populao de 100.000

    pessoas convivendo com esse problema em nosso pas (Vialle e cols., 1999).

    As leses medulares so cada vez mais freqentes devido

    principalmente ao aumento da violncia urbana. Dentre as causas, o acidente

    de trnsito e a agresso por arma de fogo so as mais comuns. Os pacientes

    acometidos, em sua maioria, so jovens, do sexo masculino, solteiros e

    residentes em reas urbanas. Tais leses causam perda parcial ou total da

    motricidade, sensibilidade e funes autonmicas (vasomotora, intestinal,

    vesical e sexual). Alm de sua gravidade e irreversibilidade, exigem um

    programa de reabilitao longo e oneroso, que na maioria das vezes no leva

    cura, mas adaptao do indivduo sua nova condio (Greve, 1999; Bampi

    e cols., 2008).

    A histria nos mostra que por ocasio da I Guerra Mundial, soldados

    com LM completa no sobreviviam. Aps 3 anos de leso, 80% dos soldados

    britnicos com paraplegia traumtica morreram. Os sobreviventes eram

    doentes crnicos e extremamente dependentes e, por suas perspectivas serem

    to lgubres, no foram desenvolvidos programas de reabilitao intensos.

    Mesmo nos anos iniciais da II Guerra Mundial, a maioria dos soldados e civis

    com LM morriam de sepsia entre 2 e 3 anos, devido a infeces na bexiga e

    rins e lceras de decbito, consequncias, essas, inevitveis nas leses

    medulares naquela poca (Guttmann, 1976 apud Houle e Tessler, 2003).

    Tendo em vista que 94% dos pacientes com LM sobrevivem ao primeiro

    ano aps a leso, e dos que sobrevivem ao perodo de hospitalizao em

    unidades especiais, 93% so suficientemente independentes e apresentam

    condies de retornar sociedade (DeVivo, 2002).

  • 17

    Para a Organizao Mundial de Sade (OMS), qualidade de vida a

    percepo do indivduo de sua posio na vida, no contexto da cultura e

    sistema de valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos,

    expectativas, padres e preocupaes (Andrade, 2001).

    No Brasil, ainda so poucos os trabalhos relacionando qualidade de vida

    e leso medular. No entanto avaliar a qualidade de vida de grande

    importncia para essas pessoas. Uma das principais ferramentas utilizadas

    mundialmente para a avaliao de qualidade de vida o questionrio SF-36.

    (Ciconelli, 1999). Porm, este questionrio no avalia a qualidade e eficcia do

    sono nestes indivduos, a qual uma importantssima medida de qualidade de

    vida.

    Posteriormente, elaborou-se o instrumento World Health Organization

    Quality of Life 100 (WHOQOL100) e sua verso abreviada o WHOQOL-bref

    de 1998. No estudo indito no Brasil, Bampi e cols., pesquisaram em nossa

    populao de lesados medulares por meio deste questionrio e desta vez,

    quantificaram a medida sono. E para a surpresa o resultado manifestou uma

    boa qualidade de sono naquela populao, o qual os autores descrevem como

    sono preservado (Bampi e cols., 2008).

    Mesmo com este incio no seguimento de pesquisas que relacionam

    sono e LM ainda so raros os estudos que observem a fisiologia do sono.

    Sabe-se, entretanto, que alteraes fisiolgicas e psicolgicas causadas pela

    LM podem levar a mudanas no padro do sono. Brito realizou um

    levantamento que mostra que 43% dos indivduos com LM apresentam

    distrbio de sono.

  • 18

    Desse modo, as estratgias de reabilitao motora devem ser

    otimizadas visando melhorar a qualidade de vida e favorecer condies para

    execuo das tarefas do dia-a-dia e, por consequncia, para que ocorra o

    retorno ativo no papel scio-econonmico (Rossingnol e cols., 2007).

    Para Hulsebosch (2002), a LM uma ocorrncia devastadora e pode

    apresentar uma variedade de efeitos fisiopatolgicos dependendo da gravidade

    e o nvel espinhal da leso. As conseqncias da LM causam debilitamento

    fsico, dependncia e, consequentemente, perda de auto-estima

    As disfunes motoras e sensoriais distais, abaixo do nvel da LM, so o

    resultado final de um processo fisiopatolgico complexo e se distingue em trs

    fases: aguda, secundria e crnica.

    A fase aguda abrange o momento da leso e se extende por alguns

    dias, ocasio em que se inicia uma imensa variedade de processos

    fisiopatolgicos. Essa fase comea imediatamente aps leso mecnica a qual

    afeta, tanto o tecido neuronal (neurnios e glias) assim como o endotlio

    celular e vascular. Como resultado do insulto mecnico e isqumico ocorre

    morte celular por necrose e, consequentemente, na leso contusa, parece

    estar mais evidente na substncia cinzenta do que na substncia branca, uma

    vez que, normalmente a sustncia cinza danificada visualizada envolta por

    um anel de substancia branca preservada no stio da contuso (Hulsebosch,

    2002; Smith e cols., 2006).

    Nos minutos que se seguem aps a leso inicial, o potencial de ao

    das clulas neuronais sofre uma interrupo induzida pela leso. Essa

    caracterstica de barreira eltrica ocorre devido substituio eletroltica,

  • 19

    envolvendo, especialmente, ctions monovalentes de Na+ (a concentrao

    intracelular aumenta), K+ (a concentrao extracelular aumenta) e Ca2+ (a

    concentrao intracelular aumenta a nveis txicos), contribuindo com a falha

    na funo neuronal, o que leva ao choque medular. Esse choque dura at 24

    (vinte e quatro) horas e representa falha generalizada da circuitaria neuro-

    espinhal (Anderson e Hall, 1993; Hulsebosch, 2002; Hubscher e Johnson,

    2006).

    Ainda na fase aguda da LM, ocorre hemorragia com edema localizado,

    perda da microcirculao por trombose, vasoespasmo e leso mecnica, alm

    da perda da auto-regulao vascular. Todos esses eventos exacerbam a leso

    neuronal (Hulsebosch, 2002; Smith e cols, 2006).

    Na fase secundria (que ocorre ao longo de minutos a semanas), as

    caractersticas fisiopatolgicas so a morte celular isqumica, substituio

    eletroltica e o edema contnuo da fase aguda. Aps 15 minutos de leso,

    ocasionadas pela destruio celular, as concentraes extracelulares

    glutamatrgicas e outros aminocidos excitatrios atingem concentraes

    txicas que so de seis a oito vezes maiores que o nvel basal. Alm disso, as

    vias mediadas por glutamato, perioxidao lipdica e produo de radicais livres

    tambm ocorrem como resultado da ativao dos receptores glutamatrgicos,

    subsequentemente (Anderson e Hall, 1993; Hulsebosch, 2002; Becker e cols.,

    2003).

    Outra caracterstica da fase secundria a apoptose que ocorre e

    envolve gliose reativa que inclui o aumento da expresso da protena cida

    fibrilar glial (GFAP) e proliferao astrocitria. Somado a isso, os neutrfilos

  • 20

    secretam mieloperoxidase que invadem o parnquima espinhal em 24 horas,

    seguidos por linfcitos (os quais secretam uma variedade de citocinas e fatores

    de crescimentos) que invadem e atigem picos mximos em 48 horas. Essa

    invaso de clulas inflamatrias aumenta a concentrao local de citocinas

    (cito = clula; cina = pequena protena) e quimiocinas (citocinas quimiotxicas).

    Alm disso, fatores inibitrios e/ou barreiras regenerao so expressas no

    stio peri-lesional. A leso cresce em tamanho a partir da regio central, onde

    ocorreram as mortes celulares das clulas em risco ou em apoptose na regio

    peri-lesional, criando-se uma regio mais ampla de provvel morte celular

    (Anderson e Hall, 1993; Hulsebosch, 2002).

    Finalmente, na fase crnica, que se caracteriza ao longo de dias a anos,

    continuam os processos de apoptse em ambas as direes, antergradas e

    retrgradas, incluindo regies enceflicas; a variedade de receptores e canais

    inicos alterados em seus nveis expressos e estatos ativos, favorece a

    formao cicatrizes e barreiras fsicas na medula; a desmielinizao resulta em

    uma condio debilitante; formam-se cistos em regies adjacentes leso

    (20%); a recuperao axonal ocorre e se extende por apenas 1mm; circuitos

    neuronais mantm-se alterados devido a mudanas na informao aferente e

    eferente, tanto inibitria quanto exitatria; e, em muitos outros tipos de clulas,

    desenvolve-se hiper-excitabilidade permanente, resultando em dor crnica na

    maioria dos pacientes com LM (Anderson e Hall, 1993; Christensen e cols.,

    1996 e 1997).

    Classicamente, neurnios do sistema nervoso central foram

    considerados incapazes de processos de regenerao. Hipteses indicavam

    que projees centrais de fibras de aferncia primria poderiam se ramificar na

  • 21

    medula espinhal. Ou seja, aps todas as fases descritas acima, ou

    concomitante a elas, h uma tentiva intrnseca de recuperao do sistema

    nervoso central (Anderson e Hall, 1993; Hulsebosch, 2002).

    A habilidade intrnseca de neurnios do sistema nervoso central est

    embasada, essencialmente, na presena de protenas envolvidas nos processo

    de alongamentos de neurites (protena associada ao crescimento - GAP-43,

    expresso imediata por genes recentes, e a proto-oncogene - Bcl-2) para

    demonstrar a regenerao axonal (Hulsebosch, 2002). Em algumas

    populaes neuronais, sobretudo naquelas sem mielina, pode ocorrer a

    regenerao em ramificao na medula espinhal (Christensen e cols., 1996 e

    1997).

    H indcios que esta habilidade seja mediada pela reorganizao

    estrutural do espraiamento no sistema motor, na recuperao espontnea da

    funo motora. Essa remodelao compensatria ocorre em mltiplos nveis do

    sistema nervoso central (Raineteau e Schwab, 2001).

    Tais habilidades espontneas foram observadas no crtex

    sensoriomotor de adultos, em resposta a alteraes nas aferncias sensoriais

    perifricas ou manipulao comportamental. Muitas linhas de pesquisa

    sugerem que a conectividade sinptica no crtex sensoriomotor pode estar

    modificada aps LM. Observou-se, nos estudos experimentais de leses

    espinhais utilizando gatos e primatas, a redistribuio do mapa cortical de

    representao sensorial (Zai e cols., 2005). Exames de imagem funcional e

    estimulao magntica transcraniana demonstram significantes alteraes na

  • 22

    conectividade entre o crtex motor e a medula espinhal em humanos, assim

    como, nas leses medulares (Kim e cols., 2008).

    O substrato celular e/ou anatmico sobrevivente ao processo de LM e a

    possvel induo de plasticidade cortical ainda no foram totalmente

    esclarecidos. O desmascaramento e a potencializao de conexes existentes

    podem contribuir para a plasticidade em curto perodo de tempo Alm disso,

    alteraes na conectividade cortical, por meses a anos, podem envolver

    crescimento de novos axnios e processos dendrticos (Florence e cols., 1998).

    De acordo com estudos de Kim e cols. (2006 e 2008) as mudanas

    dinmicas na densidade e morfologia dos espinhos dendrticos participam na

    reorganizao da conectividade sinptica do crtex motor aps LM. Vias

    neurais neocorticais sofrem um desarranjo dinmico em resposta a leses ao

    sistema nervoso; esse desarranjo, entretanto, pode promover alteraes na

    funo cortical, incluindo a reorganizao sensorial e motora aps a LM.

    Informaes aferentes sensoriais para o encfalo ficam alteradas e

    reduzidas, aps LM, como resultado de um trauma aos neurnios na medula

    espinhal. Essa deaferentao est associada com a reorganizao das

    estruturas espinhais para ajustar as mudanas nas funes sensrio-motoras

    do encfalo (Christensen e Hulsebosch, 1997). Vale esclarecer que a perda da

    informao aferente pode resultar em tentativas de reorganizao que permite,

    a ela mesma, ser responsvel pela plasticidade neuronal, levando a processos

    patolgicos (Herbert e cols., 2007). Para exemplificar, alguns autores revelaram

    a relao entre a plasticidade neuronal do crtex somatossensorial e o

    desenvolvimento de sndromes de dor crnica pela exibio de aumento na

  • 23

    plasticidade em ambos os domnios, motor e somatossensorial, em amputados

    com dor fantasma no membro amputado (Lendvai e cols., 2000; Endo e cols.,

    2007; Kim e cols., 2008;).

    Outros estudos indicam a existncia de alteraes na atividade eltrica

    de regies enceflicas aps LM e tm-se demonstrado que pessoas com LM

    apresentam alteraes na atividade neuronal talmica, incluindo regies do

    tlamo que perderam a aferncia devido LM comparada com indivduos no-

    lesados, (Lenz e cols. 2000; Endo e cols., 2007).

    Tambm, estudos em modelos animais demonstraram mudanas na

    atividade talmica e cortical no processamento de informaes somato-

    sensoriais aps LM (Weng e cols., 2000; Gerke e cols., 2003).

    Tais pesquisas, tanto em humanos como em modelos animais, revelam

    que a LM encontra-se associada alterao dos ritmos nos circuitos tlamo-

    corticais.

    Ressalta-se, que a eletroencefalografia (eletrocorticogramas) apresenta-

    se como um importante e poderoso instrumento nos estudos de plasticidade

    cortical, alm de permitir a identificao de processos patolgicos.

    Entretanto, apesar de algumas infomaes que sugiram a partir de

    estudos eletrofisiolgicos em pacientes portadores de traumas existem lacunas

    importantes para uma melhor compreenso dos mecanismos fisiopatolgicos

    subjacentes aos processos de LM. Poucos estudos correlacionam as variaes

    nos registros eletroencefalogrficos humanos basais aps LM. Em um estudo

    bastante elegante os autores encontraram uma reduo na atividade do ritmo

  • 24

    alfa (8-13Hz) e em sua magnitude total de banda, em pessoas com LM (Tran e

    cols., 2003).

    Herbert e cols. (2007) observaram uma diminuio significativa na banda

    alfa e aumento na banda beta, na tentativa de avaliar todas as bandas de

    frequncias do eletroencefalograma humano, aps LM. Os mesmos autores

    sugerem que, aps LM, no ocorrem alteraes significativas nas bandas de

    baixas frequncias (delta e teta).

    Admite-se que o melhor animal para essas experincias seja o rato e

    que a nica forma de comparar resultados a partir de leses padronizadas e

    em grande volume de espcimes (Vialle e cols., 2002; Tebet e cols., 2003;

    Diante da relevncia de se conhecer os mecanismos subjacentes a esse

    fenmeno e, assim, propiciar subsdios para melhor compreenso da interao

    de sono e LM, propomo-nos, primeiramente, apresentar uma anlise

    sistemtica do ciclo viglia-sono de ratos portadores de LM contusa moderada

    e, na sequncia, estudar detalhamente a influncia da LM sobre os eventos

    tnicos e fsicos do sono dessincronizado (SD), visto essa fase do sono ser

    importante pela ocorrncia de movimentos espontneos.

  • 25

    2. OBJETIVO

    Poucos estudos relacionam a influncia da leso medular contusa

    incompleta na fisiologia do sono.

    Diante da relevncia de se conhecer os mecanismos subjacentes a esse

    fenmeno e dessa forma propiciar subsdios para melhor compreenso da

    interao de sono e leso medular, propomo-nos:

    primeiramente, apresentar uma analise longitudinal do ciclo

    viglia-sono de ratos portadores leso medular contusa moderada;

    em segundo lugar, por ser o sono dessincronizado a fase do sono

    em que observa-se a ocorrncia de movimentos espontneos,

    estudar detalhadamente a influncia da leso medular sobre os

    eventos tnicos e fsicos do sono dessincronizado.

  • 26

    3. MTODO

    3.1. Animais

    Para o presente estudo foram utilizados dez (10) ratos Wistar (Ratus

    norvergicus) adultos jovens, machos com peso entre 250 a 280gr no incio do

    protocolo, fornecidos pelo Centro de Bioterismo da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo (FMUSP).

    Os ratos eram mantidos em caixas individuais e em condies

    controladas de temperatura (24C) e ciclo de 12 horas claro-escuro (7:00 s

    19:00), alimentao e gua eram oferecidos ad libitum. Todos os

    procedimentos experimentais foram aprovados pela Comisso de tica para

    Anlise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) do Hospital da Clnicas da

    Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (HC-FMUSP) sob n

    827/05.

    3.2. Implante de Eltrodos

    A fim de se registrar os eletroscilogramas de algumas regies do

    sistema nervoso central concomitantemente com os movimentos expressos

    durante os comportamentos exploratrios e durante o sono dessincronizado

  • 27

    dos animais, foi realizada cirurgia estereotxica para implante crnico de

    eltrodos e posterior monitoramento eletrofisiolgico.

    3.2.1. Eltrodos

    Os eletrodos, bipolares de derivao curta eram confeccionados com fio

    de nquel-cromo 150m de dimetro e totalmente isolados com teflon montados

    em pares solidrios paralelos. Nos eletrodos corticais as pontas eram dobradas

    em T e nos terminais, o isolamento era removido em cerca de 0,5 mm de

    extenso. Os eletrodos sub-corticais eram mantidos paralelos ate as

    extremidades distais, que eram cortadas de modo que as duas pontas, sem

    isolamento, distassem 0,5 mm uma da outra. As extremidades proximais dos

    eletrodos eram soldadas aos pinos de um soquete fmea de 32 pinos, cortado

    para abrigar as 20 conexes (10 pares de eletrodos) do presente protocolo

    (Figura 1).

    D

    Figura 1: A: Soquete preparado com eltrodos corticais e musculares; B: Eltrodos sub-corticais; C e D: Escala para eltrodo corticais e sub-corticais.

  • 28

    3.2.2. Coordenadas Estereotxicas

    Os eltrodos foram implantados no crtex associativo sensrio-motor

    (A7) e hipocampo dorsal (CA1) de ambos os hemisfrios.

    Para implantao no encfalo era feito, com broca de 1/8, orifcios com

    cerca de trs milmetros de dimetro nas posies previamente determinadas

    segundo coordenadas do mapa cortical (A7: AP=-3,5mm; L=4,0mm) ou do

    mapa estereotxico para os eletrodos sub-corticais (CA1, AP=-3,8mm;

    L=2,0mm; H=3,0mm) (Figuras 2 e 3).

    Figura 2: Grfico cartesiano com a representao esquemtica das regies corticais do rato de acordo com as reas cito-arquitetnicas segundo Krieg, 1946 (lado direito) e reas funcionais segundo Zilles, 1990 (lado esquerdo). Escalas a direita e acima em milmetros, em relao aos zeros estereotxicos anteroposterior (AP) e mdiolateral (L), respectivamente. Local de implante cortical - rea somato-sensorial (A7) destacada em amarelo na figura.

  • 29

    Figura 3: Esquema de corte frontal do encfalo de rato em que aparece a regio hipocampal dorsal (CA1). O posicionamento para implante dos eletrodos sub-corticais esta destacada em amarelo na figura.

    3.2.3. Implantes Musculares

    Os registros musculares foram obtidos por meio de eltrodos de 70m

    implantados nos msculos trapzios, elevadores da asa do nariz, epicantos

    oculares e gastrocnmios (Valle e cols., 1992; Valle, 1995; Andersen e cols.,

    2001) (Figura 4).

    Os eletrodos destinados ao registro dos movimentos oculares eram

    suturados subcutaneamente nos cantos externos dos olhos e os do rostrum

    eram conduzidos por agulha de injeo ate a musculatura elevadora da asa do

    nariz. Os eletrodos para registro da movimentao da cabea eram suturados

    nos msculos trapzios de cada lado e dos membros eram suturados nos

    gastrocnmicos, levados por uma agulha 9x100, no interior da qual eram

    conduzidos sob a pele desde o soquete (onde eram soldados) ate os msculos.

  • 30

    Figura 4: Desenho esquemtico dos grupos musculares do rato nos quais eram implantados os eletrodos para monitoramento dos movimentos. A: Trapzio; B: Rostrum; C: Olhos; D: Gastrocnmios.

    3.2.4. Anestesia

    O implante de eltrodos era realizado durante cirurgia estereotxica sob

    anestesia de Ketamina (0,2,g/100gr, ip) precedida de Diazepam

    (0,1mg/100gr, ip) e anestesia local (Xilestesin 0,5ml 2% com vasoconstritor)

    aplicada subcutaneamente na regio da inciso. O efeito anestsico iniciava-se

    em aproximadamente cinco minutos e tinha durao de cerca de duas horas;

    em seguida eram feitas suplementaes com 10% da dose anestsica inicial

    de ketamina a fim de se manter o grau anestsico adequado durante todos os

    procedimentos cirrgicos. O plano anestsico profundo era confirmado pela

    ausncia dos reflexos da crnea e pela ausncia de reao compresso da

    cauda.

  • 31

    3.2.5. Assepsia

    Era realizado tricotomia na regio da cabea, pescoo e patas

    posteriores dos ratos, seguida por assepsia local com digluconato de

    clorexidina 2% (Hioex).

    3.2.6. Procedimento cirrgico

    Aps fixao do animal no estereotxico (David KopfTM), era realizada

    uma inciso longitudinal mediana desde a regio nasofrontal at a lambdide,

    em seguida a pele era rebatida, a facia removida para exposio das suturas

    da calota craniana e do bregma. Os pontos a serem trepanados eram

    marcados na calota de acordo com as coordenadas estereotxicas de Paxinos

    e Watson (1997). Para as trepanaes utilizou-se furadeira Dremel e broca de

    1/8 com cuidado para no lesar a dura-mter. Uma vez implantados, os

    eltrodos eram soldados a um conector fmea que posteriormente era fixado

    no crnio dos ratos com meta-acrilato de polimerizao rpida (Figura 5).

  • 32

    A B C

    D E F

    G H I

    Figura 5: A. Esquema do crnio do rato fixado no aparelho estereotxico pelas barras auriculares, introduzidas no conduto auditivo externo para impedir a mobilizao da cabea para os lados, para frente e para trs, e pela presilha nasal, que impede a movimentao para baixo e para cima. B. Inciso da pele, a fim de expor a superfcie ssea do crnio (a) barra auricular introduzida na orelha direita e a presilha (p) que imobiliza cabea, impedindo movimentos para cima e para baixo, o maxilar superior mantido imvel pelo pinamento entre a presilha (p) e a barra inferior (b). C. Exposio do crnio, com os pontos selecionados para a perfurao e introduo de eltrodos. A sutura bregmtica (b) um marco que permite calcular a posio dos implantes. D. Perfurao de um dos pontos de implantao, (br) broca na castanha do motor, j penetrando no osso parietal. E. Posicionamento do eltrodo hipocampal com fixao por acrlico. F. Posicionamento e fixao dos eltrodos corticais. G. Implantao dos eltrodos para registro dos movimentos oculares; a agulha introduzida no ponto de implante e levada at a regio subcutnea. H. Aspecto final dos procedimentos de implante dos eltrodos. I. Preparo do rato para registro.

    O procedimento cirrgico era realizado sob rigoroso controle de tempo e

    suplementaes anestsicas (Anexo 1 Ficha Cirrgica). O tempo total do

    procedimento cirrgico inicialmente era de aproximadamente dez horas. Neste

    tempo eram necessrias de seis a oito suplementaes com Ketamina

  • 33

    (0,2,g/100gr, ip). A fim de se acelerar as etapas finais dos procedimentos

    cirrgicos e com isso prevenir problemas respiratrios nos ratos devido

    hipersecreo produzida pelo anestsico, foi desenvolvido um aparato para

    auxiliar na secagem do meta-acrilato. O aparato consistia em um conjunto de

    ventiladores montados em serie e soldados a uma haste a qual era fixada nas

    torres do estereotxico (Figura 6). Tal recurso reduzia em at trs horas a

    cirurgia de implante de eletrodos.

    A

    B

    Figura 6: A: Vista diagonal do aparato para acelerao de secagem do meta-acrilato durante o procedimento cirrgico para implante de eltrodos. B. Idem, vista lateral.

    3.2.7. Profilaxia

    Como conduta profiltica administrava-se, via intramuscular 25mg/kg de

    Cefaloxina 1g (Keflin Neutro - Ely Lilly), imediatamente aps cirurgia de

    implante de eltrodos e durante cinco dias subseqentes.

    Aps a cirurgia de implantes os animais eram mantidos aquecidos at

    completa recuperao anestsica.

  • 34

    3.2.8. Manuteno dos animais

    Os animais eram mantidos em gaiolas plsticas individuais de 60X40cm,

    sob condies adequadas de higiene com gua e rao a vontade (Anexo 2

    Etiqueta de Identificao).

    3.3. Leso Medular

    O procedimento de LM era realizado no 11. dia aps a cirurgia de

    implante de eltrodos e um (1) dia aps o registro eletroscilografico basal. Para

    este estudo, adotou-se o modelo experimental de LM do Multicenter Animal

    Spinal Cord Injury Study (MASCIS) padronizado para ratos Wistar por meio de

    equipamento New York University (NYU) ImpactorTM (Rodrigues, 1999) (Figura

    7).

    A

    Fonte: Prospectos do NYU Impactor

    B

    Fonte Rodrigues, 1999

    Figura7: A. Vista latero-diagonal do aparato NYU Impactor para realizao do procedimento de LM contusa controlada e padronizada. B. Posicionamento do rato no NYU Impactor.

  • 35

    3.3.1. Anestesia

    O animal era anestesiado com Ketamina (0,2,g/100gr, ip) precedido de

    Diazepam (0,1mg/100gr, ip), e, localmente, lidocana (Xilestesin 0,5ml 2%

    com vasoconstritor). O efeito anestsico iniciava-se em aproximadamente cinco

    minutos e tinha durao de aproximadamente duas horas; tempo suficiente

    para realizao do procedimento cirrgico para LM. O plano anestsico

    profundo era confirmado pela ausncia dos reflexos da crnea e pela ausncia

    de reao compresso da cauda.

    3.3.2. Laminectomia

    A exposio da medula para contuso era realizada com auxlio de

    microscpio cirrgico. Aps a tricotomia, realizava-se uma inciso na linha

    mdia dorsal para expor os arcos posteriores da coluna vertebral, da 8

    vrtebra torcica (T8) 12 vrtebra torcica (T12). Os msculos inseridos nos

    processos espinhosos e nas lminas da 9 vrtebra torcica (T9) 11 vrtebra

    torcica (T11) eram divulsionados e desinseridos. Os processos articulares

    destas vrtebras eram expostos. A homeostasia, quando necessria, era

    realizada com um coagulador bipolar (Xilestesin 0,5ml 2% com

    vasoconstritor). Em seguida eram removidos, com micro saca-bicados, o

    processo espinhoso e a lmina da 10 vrtebra torcica (T10) e a metade do

    processo espinhoso de T9 at expor a medula e permitir o posicionamento da

  • 36

    ponta da haste do NYU-Impactor e um peso de 10g era liberado de 25mm de

    altura sobre a medula espinhal exposta a fim de se reproduzir uma leso

    contusa moderada (NYU Spinal Cord Contusion System, 1993) (Basso e cols.,

    1996). Aps o procedimento a pele era suturada e os animais eram mantidos

    aquecidos at completa recuperao anestsica e choque medular.

    3.3.3. Assepsia

    A laminectomia no nvel torcico T9-T10 foi precedida por tricotomia e

    assepsia do local com digluconato de clorexidina 2% (Hioex).

    3.3.4. Nvel de leso

    As leses medulares realizadas nesta pesquisa, foram leses

    moderadas por meio de equipamento especializado para o impacto por queda

    de peso NYU-Impactor. O modelo de impacto consiste na queda de haste de

    peso de 10g de peso de altura pr-estabelecida de 25mm entre a ponta da

    haste e a superfcie da medula espinhal, por meio de um tubo guia, de maneira

    a reduzir os fatores de impreciso.

    O aparelho foi construdo de modo a produzir um impacto de direto de

    alto rendimento, reduzir atritos e a resistncia do ar, permitindo uma contuso

    reproduzvel (Rodrigues, 1999).

  • 37

    3.3.5. Profilaxia

    Antibiticoterapia era administrada via intramuscular 0,1/100g de

    Cefaloxina 1g (Cefazolin) imediatamente aps a cirurgia e uma vez ao dia por

    sete dias. O esvaziamento vesical manual era realizado duas vezes ao dia por

    duas semanas.

    3.3.6. Manuteno dos animais

    Os animais eram mantidos em gaiolas plsticas individuais de 60X40cm,

    sob condies adequadas de higiene, alimentao e hidratao. A manuteno

    dos animais em gaiola individuais durante todo o experimento possibilitou uma

    melhor adaptao e reduo da agressividade e das auto-mutilaes

    (autofagias).

    3.4. Registros eletroscilogrficos

    3.4.1. Habituao

    Para se obter registros eletroscilogrficos que reproduzissem da melhor

    forma possvel todos os padres comportamentais da viglia e sono, os ratos

  • 38

    eram submetidos a sesses de habituao por dois dias antes do registro

    basal. Durante a habituao os animais eram levados sala de registros onde

    eram mantidos por 2hs dentro de uma gaiola de Faraday de alumnio

    (40X40X40cm) em cujo teto se encontrava o conector por meio do qual o

    animal era acoplado ao cabo de registro do aparelho eletroencefalgrafo. A

    parede anterior da cmara era livre e permitia a observao visual do rato

    3.4.2. Registros eletroscilogrficos

    Os registros com durao de 6hs eram realizados entre 9h e 15h,

    perodo de maior incidncia de sono no rato. Os eletroscilogramas eram

    obtidos por meio de um aparelho eletroencefalgrafo (EEG) Nihon-Kohden de

    21 canais modelo NK 4400 acoplado a um sistema computacional com placa

    de converso analgico-digital CAD12/32 de 12 bits e programa de aquisio

    de sinais biolgicos AqDados da Lynx Tecnologia Eletrnica (So Paulo).

    As bandas de corte para os registros corticais e sub-corticais eram entre

    35Hz e 0,1Hz, filtros passa baixa (HF) e constante de tempo (TC),

    respectivamente. Para os registros musculares utilizava-se HF de 70Hz e TC

    0,003Hz. A freqncia de amostragem era de 256 Hz e, aps o termino dos

    registros, os dados eram armazenados em formato de arquivos binrios com

    extenso *TEM. Foram utilizadas as rotinas lynxeng.m e lyninfo.m

    desenvolvidos anteriormente em nosso laboratrio para leitura dos arquivos em

    ambiente MatLab, no qual foi realizado a anlise matemtica.

  • 39

    Os eletroscilogramas basais eram realizados no 10 dia ps-implante de

    eltrodos e os demais eletroscilogramas eram realizados nos 1, 3, 5, 7 e 14

    dias ps-LM.

    Concomitantemente a aquisio dos registros, os ratos eram

    cuidadosamente monitorados e todos os comportamentos emitidos por eles

    eram anotados a fim de se estabelecer uma correlao com os registros. A

    identificao e quantificao do ciclo viglia-sono eram realizadas por meio de

    anlise visual sendo que a varredura manual inclua a identificao e

    contabilizao de eventos de at 0,07s (1mm).

    3.5. Anlise comportamental

    3.5.1. Etologia

    O acoplamento da anlise comportamental com a anlise

    eletroscilogrfica fundamental para que se possa descobrir as analogias e

    compreender parte do que sucede no sistema nervoso central durante

    determinada fase do ciclo.

    Para tal, os ratos foram monitorados visualmente e por meio de um

    sistema de vdeo-cmera durante os registros. A maioria dos comportamentos

    vigis e durante o sono foram marcados para posterior anlise de correlao.

  • 40

    3.5.2. Escala BBB

    Para avaliar a funo motora em ratos com LM foi utilizada a escala

    BBB. A escala BBB uma medida para graduao locomotora na qual dois

    avaliadores observam as posies das patas e a deambulao de um animal

    em campo aberto por um perodo de 4 minutos. A utilizao deste mtodo

    amplamente aceita e reconhecida pela comunidade cientfica como o padro

    ouro para este tipo de estudo. Esta escala uma modificao do teste em

    campo aberto, a qual foi elaborada para graduar a locomoo de patas

    posteriores de zero (nenhum atividade locomotora espontnea) at vinte e um

    (movimentao normal e coordenao de marcha com posicionamento paralelo

    de membros).

    A avaliao funcional pela escala BBB (Anexo 3 Ficha da Escala BBB)

    considera os movimentos da articulao do quadril, do joelho, do tornozelo, e a

    posio do tronco, do rabo e das patas traseiras. Cada avaliador atribui pontos

    de zero a 21 (Basso e cols., 2002; Vialle e cols., 2002; Zai e Wrathall, 2005,

    Sedy e cols. 2008).

    Atribui-se uma pontuao seqencial e acumulativa de acordo

    com a observao de um movimento definido pela escala BBB e com a

    freqncia de sua ocorrncia nenhuma (0-5%), ocasionais (

  • 41

    com ou sem suporte de peso, coordenao de patas dianteiras com

    posteriores, rotao interna e externa e, paralelismo de patas na

    predominncia do contato inicial e quando a pata elevada, liberao de

    dedos, elevao de calda durante a locomoo e estabilidade do tronco.

    A avaliao foi realizada utilizando-se uma caixa de vidro transparente

    (80X80X30cm) com fundo forrado com material em cor azul marinho para

    proporcionar alto contraste com a cor branca dos ratos. Os ratos eram

    avaliados por dois pesquisadores todos os dias em que foram coletados os

    registros (1, 3, 5, 7 e 14 POs de LM).

    A utilizao desta medida comportamental propiciou uma classificao

    do comprometimento da funo motora nas fases de viglia e posterior

    correlao com os eventos fsicos do SD.

    3.6. Anlise Espectral

    Foram selecionados trechos de 2 segundos de durao de sono

    dessincronizado com presena (N=4.775) e ausncia (N=2.831) de

    movimentos dos vrios segmentos do corpo do animal. A densidade espectral

    de potncia desses trechos foi estimada pelo periodograma, que proporcional

    ao quadrado do mdulo da transformada discreta de Fourier.

    Os picos de maior potncia foram selecionados em trs bandas de

    frequncia: delta (0,5Hz 4,0Hz), teta (4Hz 11Hz) e sigma/beta (11Hz

    35Hz).

  • 42

    Para cada animal, foi salvo um arquivo texto (em formato ASCII, com

    extenso.TXT), contendo os valores dos maiores picos de potncia (V2/Hz) e

    das correspondentes freqncias (Hz) em cada uma das trs bandas. Alm

    disso, foram salvos os valores das potncias acumuladas em cada banda (V2)

    e das freqncias medianas (Hz), ou seja, das freqncias que dividem a

    densidade espectral de potncia em duas partes de mesma rea (cada uma

    com 50% da potncia).

    3.7. Histopatologia

    Para avaliao da posio dos eltrodos foi utilizada a colorao por

    Cresil Violeta e para a caracterizao da LM, foi utilizada a colorao com

    hematoxilina-eosina (HE) em cortes transversais e longitudinais,

    respectivamente. A reao imuno-histoqumica de expresso da protena cida

    fibrilar glial (GFAP) foi utilizada para averiguao do comportamento das

    clulas gliais mediante o insulto ao sistema nervoso central no segmento

    medular.

    A perfuso transcardaca foi realizada com soluo fisiolgica seguida

    por soluo de formol a 10% em tampo fosfato de Sorensen (pH neutro). Os

    ratos foram profundamente anestesiados com ter etlico P.A. e perfundidos

    por aproximadamente 15 a 20 minutos ou at serem perfundidos 250 mL de

    soluo. Aps perfuso, o enceflico e a medula espinhal foram removidos e

    imersos em soluo fixadora de formol a 10% em tampo fosfato de Sorensen

  • 43

    (pH neutro). As amostras permaneceram em soluo fixadora por, no mnimo,

    72 horas para desidratao, diafanizao e incluso em parafina.

    3.7.1. Colorao por Violeta Cresil.

    Na anlise dos hipocampos aps a montagem dos cortes nas lminas

    silanizadas, foi aguardado 20 minutos, aproximadamente, para secagem.

    Posteriormente as lminas foram imersas para hidratao na seqncia a

    seguir por dois minutos cada uma: Xilol I; Xilol II; lcool 100 II; lcool 100 I;

    lcool 95 II; lcool 95 I; lcool 70; lcool 50; H2O destilada. Para a colorao

    as lminas foram submetidas imerso de corante cresil violeta de dois a sete

    minutos e posteriormente lavadas em gua destilada. Iniciou-se a etapa de

    desidratao com imerso das lminas por 5 mergulhadas rpidas na

    seqncia a seguir: lcool 50; lcool 70; Diferenciador (1ml de cido actico

    em 100ml de lcool); Para concluso da desidratao as lminas foram

    imersas por um minuto em lcool 70, lcool 96 I, lcool 96 II, lcool 100 I;,

    lcool 100 II, xilol I e xilol II. Para a finalizao do processo, as lminas foram

    fechadas com blsamo do Canad Permount Entelan

    3.7.2. Colorao HE

    As lminas de medula foram submetidas ao procedimento padro de

    hidratao e imersas em hematoxilina de Harris por seis minutos para iniciar a

    colorao. Em seguida, foi realizada a lavagem em gua corrente, aplicao de

  • 44

    diferenciador, e novamente lavagem em gua corrente. gua amoniacal foi

    utilizada como mordente. Lavagens com gua corrente e lcool 95% foram

    feitas mais uma vez para preparar as lminas para imerso em eosina, onde

    foram mantidas por 30 a 40 segundos. Depois foram realizados dois banhos de

    lcool absoluto e trs banhos de xilol. Para finalizar foi realizada montagem

    com lamnulas com Entellan (Merck 1.07961).

    Para caracterizao e determinar da extenso da LM foi utilizada a

    pontuao de avaliao qualitativa de necrose, hemorragia, neo-

    vascularizao, degenerao da substncia micside e infiltrado celular na

    escala de (1) ausente, (2) 5 a 25% discreto, (3) 26 a 50% moderado e (4) 51 a

    100% intenso (Narazaki e cols., 2003).

    3.7.3. Dosagem de GFAP

    Cortes longitudinais histolgicos dos ratos (medula e hipocampo) foram

    colhidos em lminas silanizadas e, posteriormente, os cortes foram

    desparafinados. O mtodo de desmascaramento antignico realizado para os

    anticorpos anti-GFAP foi por meio de microondas; A peroxidase endgena foi

    bloqueada incubando-se as lminas por 30 minutos em metanol contendo 30%

    de perxido de hidrognio PA. Para a marcao imuno-histoqumica do GFAP,

    o mtodo utilizado foi o da strepto-avidina-biotina-peroxidase, sendo cada

    etapa intercalada por lavagem das lminas em soluo salina tamponada com

    fosfato. Os cortes foram incubados, em cmara mida, a 44C, por 16 horas,

    com o anticorpo primrio anti-GFAP (Camundongo anti-GFAP clone, cdigo

  • 45

    nmero M0761, Dako), padronizado na diluio 1:1000. Posteriormente, foi

    realizada a incubao dos cortes por 30 minutos com anticorpo secundrio

    biotinilado na diluio de 1:100 e, aps, a aplicao por 30 minutos do

    conjugado estreptavidina-biotina-peroxidase (Novostain Super ABC Kit,

    Novocastra - EP-ABCU), diludo em soluo salina tamponada com fosfato. Foi

    aplicada soluo substrato de peroxidase (3,3 Diaminobenzidine

    Tetrahydrochloride DAB, Sigma O5637) por 5 minutos a 37C. Finalmente,

    os cortes foram lavados, contra corados com hematoxilina, desidratados,

    diafanizados e montados com resina sinttica (Sanchez e cols., 2006). Para

    contagem da marcao celular, utilizou-se a contagem em trs campos de

    grande aumento (40x), considerando as reas de maior concentrao celular

    para determinao da mdia populacional.

    3.8. Anlise estatstica

    Para a avaliao das variveis do ciclo viglia-sono entre as condies

    pr-leso e os 1; 3; 5; 7 e 14. dias ps-leso foi utilizado teste no-

    paramtrico de Friedman com ps-teste de Dunn. O tempo total e o nmero de

    ocorrncia de cada uma das fases do ciclo viglia-sono; os eventos fsicos do

    sono dessincronizado; a transio de sono para as demais fases do ciclo

    viglia-sono; transio de viglia para as demais fases do ciclo viglia-sono e

    nmero total de ciclos completos e incompletos foram comparados entre as

    condies pr e ps-LM.

  • 46

    A comparao entre as condies pr e ps-leso das bandas de

    freqncias dos eletroscilogramas (, e /) do crtex associativo sensrio-

    motor e do hipocampo dorsal foi realizada por meio do teste no-paramtrico

    de Kruskal-Wallis, seguido pelo ps-teste de Dunn. A comparao entre os

    grupos (Grupo 1: com e Grupo 2: sem eventos fsicos) foi realizada por meio

    do teste no-paramtrico de Mann-Whitney. A comparao dos dados

    resultantes da pontuao na Escala BBB foi realizada por meio do teste de

    Friedman, seguido pelo ps-