Judo Da Historia a Pedagogia Do Esporte

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Jud: da histria pedagogia do esporte

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS FACULDADE DE EDUCAO FSICA

RAFAEL VIEIRA DE ARAJO

JUD: DA HISTRIA PEDAGOGIA DO ESPORTE

Goinia2005

JUD: DA HISTRIA PEDAGOGIA DO ESPORTE

Monografia apresentada Faculdade de Educao Fsica da Universidade Federal de Gois, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciado em Educao Fsica, sob a orientao do Prof. Ms. Alcir Horcio da Silva.

Goinia2005

RAFAEL VIEIRA DE ARAJO

JUD: DA HISTRIA PEDAGOGIA DO ESPORTE

Monografia apresentada Faculdade de Educao Fsica da Universidade

Federal de Gois, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciado em

Educao Fsica, aprovada em

de de , pela Banca

Examinadora constituda pelos seguintes professores:

Prof. Dr. Renato Sampaio Sadi FEF-UFG. Prof. Ms. Walter Celestino Junior FEF-UFG. Prof. Ms. Alcir Horcio da Silva CEPAE - UFG

In memoriam: Urbano Vieira de Jesus + 2002 (tio materno).

Manoel Pereira de Arajo +2003 (av paterno). Ins Alves Vieira +2004 (av materna).

SAUDADES SIM, TRISTEZA NO!

DEDICATRIA

Agradeo a Deus que ilumina todos os dias meus caminhos.

Um sonho se concretizou, o esforo, a dedicao, a luta dos meus pais para nossa educao a cada dia que passa est se materializando, ganhando forma, formando engenheiros e professores. minha famlia, meus pais, irmos(Rildo e Dalton) e sobrinhos (Ricardo e Gabriel) que so tudo para mim e que sempre estiveram ao meu lado nas horas boas e ruins da minha vida.A verdadeira humanizao comea com um colo quente de uma me amorosa (Maria de Lourdes Vieira Arajo), com a mo de um pai interessado (Roberto da Silva Arajo) e com professores sonhadores e idealistas.Quebramos uma grande barreira a de formar em um curso superior federal em que a elite domina em nosso pas. Somos humildes, mas somos guerreiros. Superamos dificuldades inauditas e desafiamos limites. Passamos por momentos difceis no decorrer desse caminho de formao acadmica, pois pessoas importantes nos deixaram e partiram para a Universidade de Deus. O que os grandes momentos tm de bom que depois de senti-los ainda nos resta a felicidade de record-los...Eu no posso esquec-los desses entes queridos: Minha av Ins (+2004) que tanto me deu apoio e sabedoria para vencer com suas palavras sbias; Meu tio Urbano (+2002) que nos deixou de herana: o amor e a perseverana; e meu av Manoel (+2003) de quem herdamos: a fibra, a raa e vontade de vencer na vida.A todos os funcionrios da Biblioteca Cora Coralina (localizado no Setor Campinas, Goinia Gois), que com dedicao possibilitaram o meu caminho para a Universidade.Agradeo a todos os meus familiares principalmente minha av Gercina, que me ensinaram os valores humanos e a perseverana de viver, minha madrinha Albertina, que nos ajudou bastante nesse caminho, juntamente com meu tio Zezinho que foi o primeiro da famlia dos Arajo a fazer parte das camadas dos intelectuais (tenente coronel e formado em direito), passando sua sabedoria de vida, de fora de vontade, honestidade, de busca pela vitria, nos mostrando o que certo ou errado. Ele foi o espelho da famlia juntamente com sua mulher tia Aland e seus filhos que considero primos irmos para mim (Daniel e Anglica). Eles que nos proporcionaram

AGRADECIMENTOS

f e auto-estima.Agradeo ainda a todos da imensa famlia da minha me, os do Vieira. Fao parte dos Arajo e Vieira, simples, humildes, mas ricos em sabedoria intelectual e valores da vida.Aos meus professores que participaram da construo dessa monografia: orientador prof. Ms.Alcir Horcio da Silva, o sensei prof. Ms. Walter Celestino Junior com toda sua sabedoria e o prof. Dr Renato Sampaio Sadi, juntamente com o Grupo de Pesquisa Pedagogia do Esporte: em busca de novos caminhos. E a discente que participou como voluntria no projeto do Prolicen Brbara Torres Sacco, me apoiando com sua dedicao e fibra.E os conselhos amigos de uma irm amiga que eu ganhei Regiane de vila Chagas.Agradeo a turma da Fef de Jata e de Goinia que favoreceu um caminho cheio de esplendor, saudades, alegria e triunfos. Formei uma grande famlia: com meus alunos de jud; com meus amigos da FEF e, por fim, agradeo a todos os docentes e servidores do CAJ (Campus Avanado de Jata) e da FEF de Goinia.Nopoderiaesquecerdacomunidadejudostica.LvaimeuArigat

Gozaimasu (Obrigado)!

muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcanar triunfos e glrias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de esprito que nem gozam muito nem sofrem muito porque vivem nessa penumbra cinzenta que no conhece vitria nem derrota.

Theodore Roosevelt.

RESUMO

O presente trabalho busca analisar, verificar e traar novos caminhos para o ensino-aprendizagem do jud, tendo como objeto de estudo o jud na formao humana. O interesse pelo tema partiu da minha experincia pessoal com este esporte antes e durante o estudo acadmico. Na reflexo dialtica-histrica-crtica do jud na sua realidade concreta verificou-se a necessidade de esboar uma pedagogia que favorea a unidade de ensino desta modalidade de forma a (re) significar o ensino-aprendizagem desta atividade humana na sua essncia, ou seja, no seu aspecto histrico-filosfico, cultural, social e educacional, a fim de proporcionar uma prxis pedaggica adequada.Dentro dessa concepo viu-se a necessidade de no fragmentar o jud enfatizando somente a competio. Esta monografia vinculou-se ao Projeto de Pesquisa Pedagogia do Esporte: em busca de novos caminhos, elaborado, desenvolvido e contextualizado na Faculdade de Educao Fsica (FEF) Universidade Federal de Gois (UFG).Tal projeto busca tambm uma nova significao de prtica-pedaggica para o Esporte, ou seja, a formao humana, e uma metodologia de ensino para o Esporte por meio de jogos. Nessa perspectiva, elaboramos jogos para a iniciao esportiva do jud. Analizando a esportivizao, a utilizao do jogo como prtica pedaggica e estratgia de ensino nas aulas e a importncia do componente ldico como eixo facilitador da aprendizagem dos fundamentos essenciais dessa modalidade de luta.

ABSTRACT

The present work search to analyze, to verify and to draw new roads for the teaching-learning of the judo, tends as study object the judo in the human formation. The interest for the theme left before of my personal experience with this sport and during the academic study. In the dialectics-historical-critical reflection of the judo in his/her concrete reality the need was verified of sketching a pedagogy to favor the unit of teaching of this modality so that it looks for (reverse) to mean the teaching- learning of the judo in his/her essence, in other words, in his/her aspect historical- philosophical, cultural, social and education and that he can provide with an appropriate pedagogic prxis.Inside of those possibilities he/she saw himself the need to sketch a new Pedagogy of the Judo to look for to work him/it pedagogicamente for the human formation through the social totality and no fragmented seeking only the competition. This project monogrfico also adhered to the Projeto Pedagogia of the Sport: in search of new roads, elaborated, developed and contextualizado in the Federal University of Gois. THE Project Pedagogy of the Sport also looks is the new significance of practice-pedagogic goes the Sport, in other words, the human formation, proposing the teaching methodology goes the Sport the work with love in the sporting initiation. In that perspective, it is also relevant to propose games for sporting initiation of the judo. This work monogrfico has as objectives the analysis of the esportivizaao of the judo, the use of the game as pedagogic practice and teaching strategy in the classes and the importance of the component ldico as facilitative axis of the learning of the essential foundations of that fight modality.This work is, therefore, of great contribution and social relevance for the education and pedagogic development of the judo.

SUMRIO

RESUMO ABSTRACT INTRODUO.........................................................................................................101.0ASPECTOS TERICOS DO JUD..............................................................15

1.1A ESSNCIA DO JUD................................................................................15

1.2ESPORTIVIZAO DO JUD..............................................................27

1.3PEDAGOGIADOESPORTEEOJUD:EMBUSCADENOVOS CAMINHOS............................................................................................................. 331.4OJOGONOPROCESSODEENSINO-APRENDIZAGEMDO JUD...................................................................................................................... 401.5LUDICIDADE NO JUD............................................................................... 46

2.0A PRTICA PEDAGGICA DO JUD....................................................... 51

2.1PROCEDIMENTOS METODOLGICOS...................................................... 51

2.2ANLISE DE DADOS.................................................................................... 53

CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................64

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................... 68

ANEXOS................................................................................................................... 72

INTRODUO

Um dos principais desafios para desenvolver este trabalho monogrfico Jud: da Histria Pedagogia do Esporte foram as situaes e fatores que esto ligados minha vida judostica e acadmica. Como sou graduado na faixa preta1dan e praticante de jud Confederado e Federado h dezoito anos, no transcorrer dessa prtica e experincias vivi vrios momentos no jud: Como aluno (criana), judoca inferior em graduao ou conhecimento (Kohai), judoca superior em graduao ou conhecimento (Sempai), atleta, acadmico e como Professor de Jud (Sensei) dentro do Projeto de Extenso Festival de Lutas realizado pela UFG (Universidade Federal de Gois) na Faculdade de Educao Fsica no Campus Avanado de Jata e nas academias da cidade de Jata e no decorrer deste ano (2005) no projeto Ludicidade no Jud do Programa Bolsa de Licenciatura (PROLICEN) da Universidade Federal de Gois em Goinia.Com os conhecimentos empricos e epistemolgicos, vivncias e prticas desenvolvidas por meio do jud e da universidade, verifiquei a necessidade de elaborar uma pedagogia que favorecesse a unidade de ensino do jud. Para isso importante conhecer a realidade concreta da academia e da escola a fim de se observar como se sistematiza os conhecimentos desta prtica corporal japonesa dentro de cada realidade. Compreendendo essas realidades, tanto da academia, como da escola, relevante esboar uma pedagogia que busque a re-significao ou reconstruo dos princpios filosficos e culturais que norteiam as aulas de jud e que possa favorecer seu entendimento visando a formao humana em seus aspectos da totalidade, no fragmentando o jud, mas estudando e intervindo com uma nova proposta de ensino, ou seja, realizando a fuso do tradicional com alternncia das atividades ldicas por meio de jogos com os fundamentos essenciais do jud. Esse processo poder ocorrer se houver uma prtica pedaggica adequada ao processo ensino-aprendizagem dessa modalidade de luta esportiva educacional dentro da iniciao esportiva.Este estudo monogrfico tem como mtodo a compreenso do jud pela totalidade social, cuja idia central do texto a discusso de questes gerais e no especficas do jud para no abrir mo de elementos importantes que constituem o

conhecimento de todo o conceito educacional, social, filosfico e esportivo do jud como prtica social evitando assim sua fragmentao.

O processo de construo da totalidade concreta implica eliminar aspectos especficos do fenmeno para ver o essencial (universal). No se pode pedir, portanto, que a totalidade concreta tenha todos os elementos especficos (singular) de um particular (objeto). Ela totalidade, como essncia, exatamente porque deixou de lado aspectos especficos. Mas, o essencial (universal) est presente em cada momento do particular, na sntese entre o universal e o singular (ESCOBAR, 2002, p.5).

Por isso interessante entender e analisar quais as mudanas ocorridas no mundo que influenciaram no processo de desenvolvimento do jud desde sua fundao no Japo em 1882. Analisando esses processos ocorridos na histria da humanidade e do jud desde o sculo XIX, fcil identificar quais aspectos que o jud ganhou e perdeu com esse desenvolvimento da sociedade de um sistema feudal para um mundo globalizado.O propsito tambm enfocar o jud e as suas razes filosficas sob o ponto de vista das suas possibilidades educacionais.A inteno aqui saber porque os senseis (professores) de jud mais antigos se preocuparam em manter as tradies e os aspectos filosficos que esto sendo desvirtuados no meio judostico.Nesse intuito, o estudo do Jud no pode ser abordado superficialmente. preciso entender como os princpios filosficos podem contribuir para a formao humana de seus praticantes. Segundo Robert (1976, p.492), O jud um todo que deve ser estudado, compreendido e dominado. Mestre Kano, ao cri-lo, f-lo um sistema de educao integral da personalidade.Nesse todo est a formao do aluno enquanto ser social e de todos os conceitos, contedos que o jud proporciona atravs da sua filosofia e de sua prxis pedaggica.Este trabalho investiga a importncia da essncia do jud no processo educativo, assim como a busca da unidade de ensino, aderindo ao Projeto Pedagogia do Esporte: Descobrindo novos caminhos1 que enfoca os seguintes

1 Desenvolvido pelo professor doutor Renato Sampaio Sadi, docente na Faculdade de Educao Fsica da Universidade Federal de Gois. Esse Grupo de pesquisa tem como objetivo central: Construir uma educao fsica e um esporte escolar de qualidade no Brasil. A pedagogia do esporte

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objetivos: Re-significar e investigar o jud no seu contexto histrico, filosfico e sua tradio e seu processo de esportivizao; verificar e analisar a existncia de metodologias de ensino aplicadas na prtica do jud; discutir o jud como instrumento pedaggico em busca de uma unidade de ensino; relacionar e analisar o ensino do jud no esporte escolar atravs da pedagogia do esporte; identificar a importncia do componente ldico nas aulas de jud; avaliar o jogo como estratgia de ensino nas aulas de jud.Para o cumprimento destes objetivos necessrio repensar e analisar o referencial terico-prtico do jud, bem como sua realidade da prtica social em seus princpios bsicos e sua relao com as dimenses pedaggicas e tendo como estratgia de ensino nas aulas de jud para crianas o emprego do ldico para tentar resgatar os valores culturais, sociais, e educacionais do jud. Com isso diferencia-se o esporte alto-rendimento do esporte-formao. Assim o projeto tem por objetivo: Analisar e Re-significar as aulas de jud para esboar uma nova pedagogia que busque a unidade de ensino dessa modalidade de luta para a formao humana dentro do Esporte Escolar.O presente estudo est dividido em dois captulos. O primeiro captulo, que trata sobre os aspectos tericos do jud, foi dividido em subttulos para uma seqncia lgica e compreensvel que engloba: A essncia filosfica do jud que busca nas razes da tradio, costumes, cultura e aspectos filosficos do mundo oriental entender os princpios que orientaram Jigoro Kano ao fundar um novo sistema de luta voltado para a educao; O processo de esportivizaao do jud, ou seja, qual foi a funo do jud no decorrer da histria e quais caractersticas e representaes que ele obteve (arte marcial, educao e modalidade olmpica) durante um determinado fato histrico ao buscar novos caminhos atravs da Pedagogia do Esporte que pode contribuir para construo da Pedagogia do Jud sendo que as duas pedagogias tm a mesma preocupao da educao esportiva que a formao humana; Ao esboar essa pedagogia do jud, houve a

reformulada implica em novas conceituaes e prticas. Tanto no campo profissional como no acadmico, a pedagogia do esporte ser desenvolvida a partir das experincias locais de Goinia e, posteriormente, de outras localidades brasileiras. Objetivos especficos: Ensinar esportes por meio de jogos; sintonizar-se com o debate mundial sobre o tema; mapear referncias importantes na literatura; mapear prticas esportivas de duas escolas pblicas; promover o intercmbio, a cultura e o conhecimento sobre o assunto; apresentar produtos finais listados no projeto.

necessidade de discutir o jogo no processo de ensino-aprendizagem do jud e o ldico como ferramenta facilitadora nas aulas dessa arte suavizante.O captulo 2 trata da Prtica Pedaggica que expe o procedimento metodolgico do trabalho e aborda a anlise de dados, com as entrevistas e os relatrios de observao do projeto Prolicen. Nessa anlise pode-se perceber as opinies dos senseis de Goinia que tiveram grande relevncia para diagnosticar a realidade do atual jud e a construo dos jogos no ensino-aprendizagem do projetoProlicen pelo professor e pelos prprios alunos que tiveram um ganho riqussimo de valor pedaggico para as aulas de jud.Jud uma palavra japonesa que compe-se de dois termos: JUque significa princpio da suavidade e da gentileza; DO que significa a via, o caminho.Por isso o jud a via ou caminho da suavidade e do conhecimento. Sua origem oriental, sendo fundado pelo professor Jigoro Kano que percebeu a necessidade da tica e da moral no processo pedaggico para ensinar o jud. Sendo este fundador das primeiras escolas modernas desse esporte, em 1882, o professor Jigoro Kano se deteve em trs princpios bsicos para o aprendizado do jud: Ju-Suavidade (no sentido de flexibilidade); Jita Kyoei Bem estar e benefcios mtuos e Seryoku Zenyo- O melhor uso da energia. Segundo Kano apud Sugai (2000, p. 217, vol. 1), Jigoro Kano, ao discorrer sobre o Jud e seus princpios bsicos, assim o definia: Eu dei a todos esses princpios o nome de Jud. Ento, Jud no seu maior e mais completo significado, o estudo de um mtodo de treinamento da mente e do corpo, de maneira a regular a vida e os afazeres.As competies e outros assuntos como o componente ldico que deve marcar a pedagogia do jud, os jogos, as metodologias de ensino nas aulas de jud, as caractersticas do Esporte Escolar, a formao de professores no ensino do jud, pedagogia do esporte e outros conhecimentos que so pertinentes para a compreenso do ensino do jud so temas arrolados nesta monografia. Os conhecimentos epistemolgicos adquiridos em seminrios, congressos, palestras e suporte terico bibliogrfico so importantes para fazer um paralelo com as aulas de jud, buscando e refletindo uma nova metodologia para o ensino e aprendizagem dos fundamentos dessa modalidade, principalmente aqueles relacionados s crianas de uma forma geral, tendo a realidade como interpretao de problematizar os dados atravs dos referenciais tericos e da pesquisa emprica.

Autilizaodoldicoparaosfundamentosiniciaisdojud (amortecimentos de quedas, os princpios filosficos, equilbrio, noo de espao e tempo, solidariedade, golpes iniciais, etc.) caracterstica central num processo de iniciao que leve em conta a autonomia do sujeito. Assim, toda a atividade que estiver ao alcance das crianas e adolescentes, de forma adequada e progressiva, torna possvel a adequao de escolhas dentro do esporte. O desenvolvimento de metodologia de ensino na iniciao esportiva um processo que envolve mais do que o ensino-aprendizagem de gestos motores, isto , envolve uma pedagogia esportiva ainda pouco explorada pela pesquisa e interveno profissional. Justifica se ento o presente projeto por se tratar de um tema exploratrio e atual e relevante para o campo da Licenciatura em Educao Fsica.

CAPTULO 1

ASPECTOS TERICOS DO JUD

1.1 A essncia do jud

O objetivo deste tpico apresentar alguns aspectos gerais da evoluo histrica do jud no Japo bem como sua base dos princpios filosficos e culturais. No se trata de um estudo detalhado, pois alguns fatos menos relevantes podem ter sido omitidos para entendimento mais fcil do contexto em que o jud foi desenvolvido e fundado. Tambm monografias da Universidade Federal de Gois do curso de Educao Fsica da cidade de Goinia j abordaram consideravelmente a evoluo scio-histrica do jud, principalmente a monografia do autor Orozimbo Cordeiro Junior2. Nesse caso, mais relevante partir do que j foi analisado para refletir sobre aspectos ainda no abordados como a essncia da doutrina filosfica que Jigoro Kano considerou para construir os princpios filosficos do jud.

No oriente, a filosofia est centrada na concentrao interior, na comunho entre o esprito, corpo e mente sendo difcil separar a noo de religio e filosofia; princpios e vida diria; o eu e o todo. Por isso diferente da cultura lgica ocidental, no qual o oriental desafia essa lgica pela essncia do que ela formada enquanto que no ocidente o indivduo no incentivado a conhecer-se e trabalhar sua energia interna.Portanto, a longa histria do Japo produziu uma cultura significamente diferente de outras naes, em geral por uma mistura indissocivel da tradio autctone (nativo) com formas chinesas e ocidentais. Entretanto, as maiores contribuies dos princpios filosficos japoneses vieram da cultura filosfica milenar da ndia e da China. Entre os representantes da doutrina filosfica oriental destacam-se a sabedoria e o pensamento dos intelectuais chineses como Confcio (Confucionismo) e Lao-Ts (Tao). A unio do Xintosmo (religio natural do Japo) que significa O Caminho dos Deuses com o Budismo, o Taosmo, o Confucionismo, formam a arte Zen. Somada essa unio com o idealismo dos samurais e a sistematizao do jiu-jitsu, pesquisada e analisada pelo professor Jigoro Kano que era um estudioso incansvel e nunca se mostrava satisfeito com os

2 Cf: Cordeiro Jnior (1999).

resultados obtidos, h uma compreenso dos aspectos culturais filosficos que formaram a essncia da filosofia do jud com os princpios de tica e moral que tanto seu fundador preocupava, por ter um valor educativo enfatizando a disciplina e a educao. Todo esse conhecimento pode ser abordado na arte Zen. Segundo Sugai (2000, p.47, vol.1), As artes Zen, como as artes marciais, podem ser de grande valor quando usadas para uma finalidade educacional, pois cada uma delas tem como objetivo descontrao fsica e espiritual que conduz a uma mudanainterior.

Pode-se analisar o valor educativo atravs da etimologia e significado dos termos como, por exemplo, as palavras jiu-jitsu e jud que so escritas com dois caracteres chineses cada uma. O ju em ambas o mesmo e significa "suavidade" ou "via de ceder". O significado de jiu-jitsu "arte, prtica". Do significa "princpio ou caminho", entendendo o conceito de caminho como sendo a prpria vida. O jiu jitsu pode ser traduzido como "arte suave" e com a implicao de ter significado final, unicamente, de vencer o oponente. Jud interpretado como o "caminho da suavidade" e mais que uma arte de ataque e defesa, , portanto, um estilo de vida.Provavelmente essa era a idia de Jigoro Kano quando ousou transformar o jiu-jitsu, uma arte guerreira, em instrumento educativo e, posteriormente, em caminho de autoconhecimento. Em 1898, em uma de suas primeiras palestras, o fundador do jud pronuncia sua idia ao sistematizar os conhecimentos do jiu-jitsu e fala do processo de evoluo e de transformao do jiu-jitsu em jud, pautando duas razes pelos quais ele evitou o termo jiu-jitsu:

O Jiu-Jitsu era algo que no poderia ser usado por jovens ou por homens inexperientes. Eu desejava mostrar que o que eu ensino no perigoso e no necessariamente iria machucar uma pessoa. No o Jiu-Jitsu como era ensinado. Isso o Jud, uma coisa totalmente diferente.A segunda razo que os mestres de Jiu-Jitsu ganharam a vida organizando tropas que eram compostas pelos seus seguidores, colocando as brigas em exibio, e ainda cobravam ingresso para as pessoas assistirem. Outros foram mais longe, aos estgios de lutas profissionais de Sumo e Jiu-Jitsu. Tais prticas degradantes de prostituio das artes marciais so repugnantes para mim. Ento resolvi evitar o termo Jiu-Jitsu e adotei o Jud (KANO apud SUGAI, 2000, p.211, vol.1).

De fato, Jigoro Kano acreditava que todo problema poderia ser resolvido pelo melhor ou mais eficiente uso da energia fsica ou mental. Acreditava que as

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tcnicas desenvolvidas pelo Jud colaborariam para o homem melhorar os aspectos de sua vida, ajudando-o a viver mais racionalmente e enfatizou que o jud o caminho do autoconhecimento e da formao integral do ser humano.

O Jud foi concebido pautado em valores ticos e humanitrios profundos, os quais buscam uma prtica de equilbrio entre o corpo e a mente, esboado na disciplina, nos movimentos harmoniosos da fsica comosmolgica, no esquecimento do eu individual, na superao do aspecto marcial, na fraternidade, no desenvolvimento interior, na esttica e eficincia, na superao da fora, dentre outros princpios antigos e firmemente alicerados na cultura milenar japonesa, por que no dizer dos mestres orientais (BORGES,2005, p.2).

Pelo exposto acima, o jud, cuja definio o caminho da suavidade, possui valores humanitrios, morais, ticos e educacionais oriundos das razes culturais e filosficas das tradies orientais. Portanto, a filosofia do jud fortemente influenciada pela filosofia de vida oriental, a qual transforma a disciplina e o equilbrio em formas de viver e encarar o semelhante, ou seja, ensina aos praticantes dessa arte suavizante: o equilbrio do corpo e da mente, respeito s pessoas mais velhas, saber perder e ganhar, conter a ansiedade, agilidade, reflexo, pensamento rpido, coordenao motora, esprito de coletividade, amizade e prosperidade mtuas, eficincia no uso da energia e outras caractersticas. Isso proporcionaodesenvolvimentodoaprendizadohumanodosjudocas conscientizando-os em utilizar as tcnicas de forma correta com a finalidade de promover um melhor desempenho tanto no Doj (sala de treinamento) como no dia dia em todos os afazeres cotidianos.O Zen, um produto da mente oriental, a base da vida oriental e de quase todas as artes marciais, principalmente o jud, que na formao dessa palavra tem toda uma essncia filosfica, no qual o prefixo ju significa suavidade e d o caminho, ou seja, o jud o caminho da suavidade, do autoconhecimento que contribui para a formao do cidado.

O do o caminho ou, simplesmente, o mtodo de ensinamento que permite o judoca amadurecer e compreender a natureza da prpria existncia e da conscincia de si mesmo, do seu papel histrico e da dimenso filosfica e poltica da prtica dialtica na e da qual sujeito e objeto. O jud, na verdade, o caminho que conduz, quem sobre ele caminha, ao descobrimento do ego adormecido (o pequeno eu, o eu limitado) em sua dinmica relao com o alter, maneira de construo da personalidade maior, mais completa, saudvel (CARVALHO, 2003, p.11).

A sabedoria de Confcio influiu muito na organizao da sociedade japonesa que com certeza nele se inspirou, principalmente no que tange educao. O Budismo, juntamente com o Confucionismo, foi uma das filosofias que ajudaram a fertilizar o solo japons para bem acolh-la. O Tao foi outra influncia muito importante na formao da cultura e da mentalidade japonesas, contribuindo muito na concepo do Zen.Conforme Sugai (2000), Zen significa meditao que se refere a um grau de conscincia elevado, um estado de ser ntegro, da transcendncia e elevao do esprito, num estado tranqilo e desperto. No s o jud, mas todas as artes marciais d (caminho) tm o objetivo de trabalhar o zen, como o Aikid, porexemplo.

Para compreender a arte Zen necessrio conhecer brevemente as correntes filosficas que formam essa arte:

Correntes

Taosmo - Tao originalmente significa "o Caminho". o caminho do Universo. Buscando atravs das polaridades Yin (o nebuloso e sombrio) e Yang (o que brilha ou o luminoso) a soluo dos conflitos. Qualquer que seja o ngulo sob o qual se considera o jud: arte, treinamento fsico, mental ou espiritual predomina sempre o princpio do equilbrio dos fatores opostos. Assim ocorre, na realidade, em todas as coisas do Universo.

Confucionismo - Doutrina de Confcio nascido na China em 551 a.C, uma filosofia de natureza no religiosa. um sistema de cunho moral, poltico e social mostrando a razo do viver individual e social; tendo como base a famlia.

Budismo - Doutrina filosfica da ndia fundada por Buda nascido em 563 a.C e constituda por dois grandes instrumentos o Prajna - sabedoria transcendental ou inteligncia intuitiva - e o Kuruna - o amor e a compaixo; com objetivo de buscar sabedoria iluminada ou a verdade. (SUGAI, 2005).

Todas essas correntes influenciaram sistematicamente o contedo da formao filosfica do jud. Sem essas concepes, o jud no seria o jud na sua essncia, pois o ideograma todo embasado nessas correntes filosficas.

O Jud tem muito dos princpios taostas, como ceder para poder vencer, procurar utilizar a fora do adversrio (SEI RYOKU ZEN YO o melhor uso da energia), puxar quando se empurrado, empurrar quando se puxado, saber cair para poder se levantar. Todos esses preceitos esto contidos na palavra Ju (suave), que devem ser levados para nossa vida cotidiana (HIRATA, 2005, p.1).

O professor Jigoro Kano, ao discorrer sobre o jud e seus princpios bsicos, foi definindo a parte filosfica do jud: jud a mxima eficincia do uso da mente e do corpo para o beneficio e o bem-estar mtuos, ou seja, tudo unidade.

Segundo Kano apud Sugai (2000, p. 218, vol.1),

Examin-lo como um conceito nico, posso ver que o objetivo do beneficio e do bem-estar mtuo deve ser includo no objetivo da mxima eficincia. Embora parea ter duas faces, em essncia, esse objetivo tem como base apenas uma nica doutrina, permeando todo o preceito. A mxima eficincia aplicada a todas as atividades e afazeres da vida humana. E no existe nada mais.

O esprito do Jud composto por duas mximas e nove princpios extrados de um documento mimeografado sem data que, segundo Virglo, 1986, so:

Seryoku Zeny (Mxima eficcia com o menor desprendimento energtico) e Jita Kyoei (Prosperidade e benefcios mtuos) afirmam que deveriam ser praticados e levados para a sociedade, os nove princpios:

1. Conhecer-se e dominar-se triunfar

2. Quem teme perder j est vencido3. Somente se aproxima da perfeio, quem a procura com constncia, sabedoria e, sobretudo, humildade

4. Quando verificares com tristeza que nada sabes, ters feito teu primeiro progresso no aprendizado.5. Nunca te orgulhes de haver vencido um adversrio. O que venceste hoje, poder derrotar-te amanh. A nica vitria que perdura a que se conquista sobre a prpria ignorncia.6. O judoca no se aperfeioa para lutar, luta para se aperfeioar.

7. O judoca o que possui inteligncia para compreender aquilo que lhe ensinam, pacincia para ensinar o que aprendeu aos seus semelhantes, e f para acreditar naquilo que no compreende.8. Saber cada dia um pouco mais e us-lo todos os dias para o bem, o caminho do verdadeiro judoca.9. Praticar Jud educar a mente com velocidade e exatido, bem como o corpo a obedecer com justia, o corpo uma arma cuja eficincia depende da preciso com que se usa a inteligncia.

Foi nessa perspectiva de formao humana que Jigoro Kano, em 1882, fundou sua escola que deu o nome de Kodokan que significa, literalmente, "escola para estudar o caminho", marco da fundao do Jud. Este templo budista foi construdo pelo fundador para nortear todo o ensinamento filosfico e prtico do Jud. Englobando o sistema de autodefesa dos samurais, uma disciplina que educa o corpo e o esprito. Nesse ponto de vista de toda filosofia (autoconhecimento) Jigoro Kano, atravs do Bushid ou Caminho do Samurai, se inspirou para fundar uma nova arte da suavidade e do conhecimento.

Alm dos princpios filosficos que nortearam os estudos de Jigoro Kano, outros elementos bsicos se unem para a concretizao do que venha a ser o jud, ou seja, o caminho para formao humana em seus aspectos gerais, tanto prticos

como tericos. Os contedos fundamentais que do forma e identificam essa luta como sendo o caminho da suavidade so os seguintes: o local de treinamento e estudos(Dojo), a vestimenta (judogi), as saudaes(a forma de cumprimentar-se), a tica e etiqueta, a hierarquia, a disciplina,a importncia dos rolamentos e amortecimentos de quedas, a finalidade das tcnicas, o verdadeiro sentido da competio e a conscientizao de ser judoca.O primeiro elemento entender a importncia do local de treinamentos e estudos (Dojo) para os judocas sendo relevante ressaltar alguns pontos: O termo Do significa caminho ou via e o termo J designa um lugar preciso, donde dojo o caminho essencial e preciso para a prtica do jud. Segundo Robert (1976, p.27), Dojo um termo de provenincia budista. A sala de meditao de certos templos budistas chama-se dojo. tambm o nome da sala onde se estuda uma artemarcial.

No Dojo so fixados um ou mais emblemas simblicos: a flor de cerejeira, um sabre de samurai, a foto de Jigoro Kano, bandeira do Japo e da nacionalidade. Esse local deve ser tranqilo, no qual proporciona paz, harmonia e concentrao para os judocas.Conforme Lasserre (1951, p. 36), O Dojo, para os praticantes de Jud, um osis no deserto do tumulto extenuante da vida, livre de distines e formalidades, tanto do ponto de vista social, racial, nacional, como do ponto de vista poltico e religioso.A vestimenta de suma importncia para a prtica do jud , ou seja, alm da proteo que possibilita, a alma do judoca , pois o Judogi (quimono) a expresso do prprio judoca formando uma unidade para a ao de ser judoca . Deve sempre estar limpo e vestido de maneira correta, com a faixa (obi) amarrada adequadamente.

O Judogi deve ser sempre de cor branca, pois esta cor representa a pureza de esprito. No Japo feudal era comum o uso do Kimono preto. O sensei Jigoro Kano, porm, introduziu o uso do Judogi branco para os treinamentos de Jud com o objetivo de atrair boas vibraes e boas energias. Por este motivo no se deve usar Judogi de outras cores durante os treinamentos de Jud (MORANDINI NETO, 2003, p.08).

Entretanto, por causa da esportivizao e ocidentalizao do jud aderiu se ao judogi azul para diferenciar os competidores durante a luta, ou seja, para facilitar a arbitragem e o pblico que assiste, tornando essa modalidade maiselitizada.As saudaes e as reverncias so as que mais caracterizam as tradies orientais, ou seja, no ato de inclinar-se de frente para a pessoa sem nenhum contato fsico.

Existem duas maneiras bsicas de saudao: o Ritsu-Rei (em Tyoku-Ritsu

- em p) e o Za-Rei (em seiz - sentado). Ambas sempre devem ser realizadas com a melhor postura e o mximo respeito. Alm disso, elas devem ser feitas da forma mais natural possvel, sem tenso muscular, porm com convico e firmeza. A maneira correta de fazer o Ritsu-Rei e o Za-Rei so: Ritsu-Rei - Em Tyoku-Ritsu (calcanhares juntos, pontas dos ps ligeiramente afastadas e corpo ereto) posicione as mos junto lateral do corpo, incline o corpo a partir da cintura com as costas retas deslizando as mos em direo aos joelhos (na frente do corpo) soltando a respirao. O olhar deve ser fixado em um ponto imaginrio no solo a cerca de dois metros sua frente. Aps tocar a linha dos joelhos com a ponta dos dedos, volte vagarosamente posio inicial com as mos posicionadas ao lado do corpo, junto s pernas.O Ritsu-Rei normalmente usado quando se entra no Dojo, quando se sobe no Tatame, no incio ou encerramento de algum treinamento com um companheiro e nos Shiais (Competies). Alm disso, tambm deve ser usado para cumprimentar os professores, faixas pretas e colegas.Uma observao que os homens devero fazer a posio Za-Rei mantendo uma distncia de dois punhos cerrados entre os joelhos. J as mulheres podem manter os joelhos juntos.

Os cumprimentos no devem ser um ato mecnico, porque seu simbolismo profundo. As vrias formas de cumprimentos fazem parte de um s ato, a integrao com todos e com o Todo; um gesto de reverncia essncia nica em cada um de ns (OIDE apud SUGAI, 2000, p.52, vol.2).

Considerando os fundamentos tcnicos, os amortecimentos de quedas (ukemis) e os rolamentos so de importncia primordial para saber cair de vrias formas corretamente, tanto no jud como na vida em geral.Durante os treinamentos, o judoca est sempre caindo e levantando, porque se a vida te derrubar, saiba cair e amortecer, refletindo o que aconteceu de errado e, em uma rapidez, conscientemente d um ippon (golpe mximo no jud) nessas dificuldades dirias, buscando sempre o equilbrio.

Aprender a cair no constitui somente a base das projees, mas de todas as tcnicas do Jud. Saber cair indispensvel para saber projetar.De fato, somente atravs de inmeras quedas se consegue escalar os degraus do equilbrio e, conseqentemente, toda a eficcia do Jud (LASSERRE, 1951, p.30).

Depois dos amortecimentos de quedas e rolamentos, a parte tcnica de fundamental importncia na prtica do jud. O ensino-aprendizagem das tcnicas a condio essencial que esses movimentos, ainda que assimilados perfeitamente, no se limitem a uma repetio mecnica e sim conscientizao do que fazer. Portanto, a cincia e a filosofia se unem para o desenvolvimento do jud, ou seja, atualmente existem estudos ou pesquisas riqussimas na rea de biomecnica, cinesiologia, fisiologia e nutrio para o jud, pois essa arte elenca vrios aspectos da fsica como: equilbrio e desequilbrio, alavancas, centro de gravidade etc. No obstante, o jud possui um conhecimento vasto que precisa ser explorado, estudado e pesquisado em todas as reas do conhecimento: biolgicas, exatas e principalmente humanas.O mais importante no o domnio da tcnica em si, mas a verdadeira comunho corpo, mente e esprito. Em relao parte tcnica do jud Kodokan que ficou pronta em meados de 1887, Jigoro Kano enfatizou: O princpio da mxima eficincia do corpo e da mente o princpio fundamental que governa todas as tcnicas de jud.

A arte do jud no pode ser entendida a partir dos estreitos limites de um mero manejo de suas tcnicas.As virtudes ticas postas no Bushid, guardadas as propores, so importantes afirmao desta arte de educar como arte de enfrentar. Pois, salvo melhor juzo, as virtudes ticas tm na prtica social o meio de construo de um corpo forte, fundamental para o caminho em construo, de um esprito aguerrido, intemerato, acostumado a arrostar os perigos postos pela vida em dada sociedade (CARVALHO, 2003, p.12).

A tica e a etiqueta dentro do Jud esto diretamente associadas sua expresso mxima: a educao, a prosperidade e o respeito mtuo.Como instrumento de educao, o Jud formado por um conjunto de atitudes e posturas, que tem sua prtica associada tanto tcnica quanto filosofia. Do respeito a esse conjunto de atitudes e posturas que depende a sobrevivncia da essncia e do verdadeiro esprito do Jud.Normalmente o judoca aprende a se conduzir dentro do Dojo de forma intuitiva, vendo e repetindo posturas e atitudes. A Etiqueta vem sendo transmitida, muitas vezes informalmente, de gerao para gerao, dentro dos princpios que deram origem ao Jud.

A verdadeira tica est na responsabilidade, sensibilidade e no esprito do Judoca. A verdadeira filosofia est na amizade, no relacionamento com os amigos, com a famlia, com os superiores, e com os subordinados. Ela est na humildade, no respeito e no reconhecimento dos limites de cada um (acima de tudo dos nossos prprios limites).Nosso entendimento autntico dessa filosofia ser da medida certa e da forma exata com que olhamos nossos semelhantes.De como vivemos a vida.De como encaramos o prprio mundo (MORANDINI NETO, 2003, p.6).

Retomando os principais pontos apresentados pelo autor em relao filosofia e tica do jud, fica claro que o princpio do jud contribuir com o processo de formao humana dos judocas, conscientizando-os em relao s atitudes que levem prosperidade de desenvolvimento do grupo como o respeito, disciplina, organizao e mtodo para conseguir lutar e construir sua cidadania de forma participante e til para a sociedade atravs de suas aes pensantes e prtica no cotidiano.Assim, foi elaborado um breve manual de conduta para uniformizar a postura dos judocas e orientar os visitantes sobre as normas bsicas dentro do Dojo. Com o ttulo de Dojo Etiquette, este pequeno 'guia' traz algumas orientaes do que e do que no permitido ou aconselhvel fazer.Toda essa norma, conduta e o cdigo moral foram embasados na filosofia oriental e nos padres de organizao e desenvolvimento da sociedade (Ver Anexo 1).Os judocas, conscientizados sobre o exposto acima, facilitam o ensino

aprendizagem das tcnicas na luta propriamente dita, pois os alunos sabem que

para haver a luta precisa do outro companheiro e isso denota responsabilidade de ambos para que ocasione o aprendizado de forma consciente no qual o judoca respeite o limite e a integridade fsica de seu oponente.Essas caractersticas so identificadas na realizao do aperfeioamento da tcnica em p atravs do Randori (prtica livre), ou seja, a forma de treinamento durante a qual se procura desenvolver a rapidez de ao e habilidade. O Randori uma "prtica livre", os praticantes, aos pares, disputam um contra o outro como se estivessem em competio. Eles podem projetar, imobilizar, estrangular e aplicar chaves de brao, mas no podem dar pancadas, chutes e empregar outras tcnicas apropriadas somente nos combates reais. As principais condies no randori so que os participantes tomem cuidado de no causar leses um ao outro e que sigam a etiqueta do Jud, que obrigatria para quem deseja obter o mximo benefcio de randori.Em randori, a noo de derrota ou vitria desaparece. Trata-se, acima de tudo, para cada um, de progredir. A arte do tai-sabaki, o emprego superior da energia, a posse do kiai (grito) so de enorme importncia.Praticar o randori conhecer as complexas relaes fsico-mental existentes entre os companheiros. Centenas de valiosas lies podem ser extradas deste estudo. No randori, aprendemos a empregar o princpio da mxima eficincia, mesmo quando podemos, facilmente, sobrepor um oponente. Naturalmente, muito mais precioso vencer um oponente com a tcnica adequada do que com a fora bruta. Essa lio igualmente aplicvel na vida diria: o praticante deve compreender que a persuaso suportada por argumentos lgicos (bom senso) , no final das contas, mais efetivo do que o uso da fora.Jigoro kano colocou o jud como luta no solo quando um formidvel ju jitsuka, chamado Tanab, derrotou regularmente todos os campees do kodokan. Especialista no combate no solo, ele conseguia atirar os seus adversrios ao cho e aproveitando as suas posies deitadas, estrangulavam-nos num relmpago. Dessas derrotas, Kano tirou uma lio: precisava aperfeioar o jud no solo e todo judoca deveria conhecer a luta tanto na posio de p como deitado.Os shiais (competies) so desejveis para aqueles que podem percorr los, mas somente uma elite chegar ao fim. O jud de competio endereado somente a uma minoria. No shiai, visa-se a vitria pela habilidade adquirida no Randori. Qualquer que seja o resultado, vitria ou derrota, deve ser considerado

como matria de experincia para o estudo, um passo para escalar os degraus do progresso.Na realidade, Jigoro Kano no concebeu o Jud competitivo. Pensou no Shiai, que tem o conceito totalmente diverso, conduzido pelo esprito reverente de teste de habilidades em que o praticante deve refletir acerca de suas emoes (efeitos da tenso nervosa), acertos e erros. Portanto, a filosofia do Shiai, em que perder e ganhar tm o mesmo sentido pedaggico. Contudo, nossa maior glria no est em nunca cair, mas em nos levantarmos cada vez que cairmos.Em relao aos termos japoneses utilizados no jud, eles devem ser conservados, pois, a linguagem oficial do jud que conserva sua identidade oriental e filosfica, to banalizada atualmente no ocidente.Com certeza, buscar o Jud nas suas razes, alm de ser o caminho certo para se obter autonomia, seria uma valiosa contribuio ao processo de aprendizagem da arte. Por isso importante conservar a essncia do jud: sua filosofia, tradio, normas e hierarquias que o judoca tem que seguir no Doj (Local de treinamento) ou em qualquer local que estiver. Porque assim que funciona o sistema de uma sociedade democrtica que procura o desenvolvimento, ou seja, no jud h a questo da hierarquia, do respeito, cumprir o horrio, da disciplina, higiene, da amizade etc.Contudo, a arte Zen chamada jud, o caminho da delicadeza ou caminho suave, decidamente no conhecida pela sociedade leiga e at mesmo pelos prprios judocas porque o jud visto meramente como valor competitivo.

1.2 Esportivizao do Jud

O enfoque aqui no discutir se o jud um esporte, uma luta ou arte marcial, mas sim relatar e analisar os fatos histricos que institucionalizaram o jud, enquanto uma modalidade esportiva e olmpica.O processo de esportivizao do jud deve ser analisado em dois fatores: no foco das idias do professor Jigoro Kano em relao ao jud competitivo, no qual sua principal meta era divulgar o jud pelo mundo na perspectiva educacional e de formao humana; o outro foco a ser analisado o contexto dos fatos histricos, tanto do Japo como do mundo que o jud transcorreu, ou seja, entender como o jud se configurou no momento das duas guerras mundiais, os primeiros campeonatos de jud at chegar como uma modalidade esportiva olmpica nos jogos olmpicos em 1964 no Japo e quais as mudanas que ocorreram com influncias polticas, econmicas e culturais at o momento atual pelo seu processo de institucionalizao.Primeiramente, relevante compreender a carreira profissional de Jigoro Kano, pois foi o primeiro japons a fazer parte do Comit Olmpico Internacional para entender qual o objetivo que ele divulgava para o mundo, principalmente oocidental.

O professor Jigoro Kano era formado em Letras, falava o idioma ingls de forma impecvel, em 1893 foi nomeado conselheiro do Ministrio da Cultura, diretor da Escola Superior da Educao, em 1909 foi convidado pelo baro Pierre de Coubertin (professor francs, idealizador e presidente do Comit Olmpico Internacional), para ser o primeiro delegado japons e oriental dos Jogos Olmpicos. Segundo Robert (1976), em 1937, o prprio Kano anuncia, pela rdio do Cairo, que o Japo seria em 1940, a sede dos Jogos Olmpicos entretanto, quando voltava para o seu pas, faleceu aos 78 anos.Voltando a fevereiro do ano de 1882, quando Jigoro Kano com 22 anos de idade instalou e fundou a primeira academia de Jud (o Kodokan), o Japo passava por uma abertura poltica, educacional, econmica com o ocidente, por isso relevante fazer um paralelo de como era a funo do jud naquela poca para a sociedade japonesa. O fundador do jud tinha como um dos seus objetivos, o de mostrar para o povo japons, que o jud era uma luta em que nela estava inserida todo um bojo cultural. A importncia deste objetivo foi pelo fato de o Japo ter vivido

um perodo de mudanas dramticas e conturbadas, tanto no aspecto social como no poltico, e as lutas, mesmo com todas as suas tradies, estarem sendo relegadas a um segundo plano pelas pessoas mais intelectualizadas na poca.Pelo fato de o fundador do jud ter um conhecimento catedrtico, tanto universitrio como das artes marciais, viu-se a possibilidade de inserir o jud no processo educativo para aumentar o patriotismo dos jovens incrementando a disciplina e a moral desses educandos. Assim, melhorava-se para o desenvolvimento da nao exercendo a cidadania em busca da autonomia.

Pela influncia do Professor Jigoro Kano, que chegou a ser alto funcionrio do Ministrio da Educao, jud foi includo dentro do currculo escolar, tornando-se aos poucos o centro das artes marciais do Japo. Lanou ainda no 31 Meiji (1898) a revista educativa para jovens kokushi. O objetivo desta revista foi definido como:"ApsarevoluodeMeiji,Japomodernizou-se rapidamente com a introduo de culturas estrangeiras. No entanto, urge ainda igualarmos com a Europa e as Amricas o nvel cultural, poltico, econmico e recursos a ponto de no nos sentirmos inferiores a eles. Para isso, necessrio investirmos na educao dos infanto-juvenis, formando o maior nmero possvel de kokushi, ou seja, jovens capazes de conscientizar-se da situao atual e do futuro da nao, e que lutam para a concretizao do ideal". Depositou sua esperana nos jovens para colocar o Japo como um pas do primeiro mundo, numa poca anterior guerra sino japonesa e russo-japonesa, em que o ocidente desprezava aquele pas como sendo do terceiro mundo. Dessa forma, jud no era somente mais uma arte marcial, visava tambm a formao de uma elite patriota (SONOO, 2005, p. 1).

O jud , por fim, ensinado oficialmente nas escolas. Uma sntese harmnica comea fazer sentido nos costumes nipnicos. O pblico sente a necessidade de se fortalecer numa arte de viver, sbria e disciplinada. A cultura do corpo e do esprito passa a ser uma necessidade; O jud parece ser a soluo indicada. Contribui assim por seu valor interno, para a restaurao de muitas das artes marciais e como currculo nas escolas japonesas. Nessa tica, o jud caracterizado com valor educativo.Centrado na poltica de que "jud educao", erigiu-se os trs seguintes

mtodos:

1.Mtodo de luta: renovar o mtodo didtico tradicional de jiu-jutsu que o da transmisso de pensamento, explicando cientificamente a fora da gravidade,

segundo rigorosas leis da dinmica, advertindo contra golpes baseados na fora que contrariem tais leis.2.Mtodo de educao fsica: treinar para se ter um desenvolvimento harmonioso de cada parte do corpo, evitando golpes perigosos.3.Mtodo de Desenvolvimento Moral: dar importncia postura de respeito entre os aprendizes e transmitir a relao entre os ensinamentos da Moral e o jud.Portanto, Jigoro Kano tinha como objetivo definir melhor a finalidade da Educao Fsica, aprofundando o estudo de suas metas: Sade, Fora, Utilidade e Treinamento Espiritual, incluindo o que ele denominou de fases moral e esttica.O Kodokan dotado de associaes culturais, de comisses de pesquisas, encontro de diversas escolas de ju-jitsu e para verdadeiros concursos em que os vencedores se tornavam professores da polcia. Em 1897, o governo japons instituiu uma escola nacional de todas as artes marciais, o Butokukai, transformando em rival do Kodokan. As escolas Superiores e Profissionais, patrocinadas pela Universidade Imperial de Tquio, formaram outra federao: o Kosen, tambm rival do Kodokan.

No final da dcada de 1870 e incio de 1880, Jigoro Kano inicia um estudo sistemtico das artes marciais, j com a iniciativa de montar sua prpria escola o Kodokan . Notava o empirismo das escolas e dos mtodos da poca, estas estando muito mais preocupadas com seus segredos e em ignorar os valores de outras, que propriamente progredir na busca da perfeio tcnica e moral. A rivalidade entre escolas foi to grande que uma procurou destruir outra a qualquer meio. Kano preocupou-se com a falta de tica e moral do Jiu-Jitsu e tambm a inexistncia de princpios pedaggicos e cientficos e ainda mais os perigos que essas tcnicas representavam. Assim retirou-se com alguns alunos para o templo budista de Eishosi onde estudou e analisou as tcnicas mais evidenciadas na poca, separando o que havia de bom, criando novas quando necessrio e surgindo ento, um novo mtodo para fuso de tcnicas do antigo Jiu-Jitsu e dos princpios pedaggicos, morais e ticos (MURABAC; TAMBUCCI, 1955, p. ).

Contudo, o Kodokan continua sua ascenso. Em 1909, o Kodokan torna

se uma instituio pblica.

Em 1938, o clima poltico deixa pressentir a guerra e os militaristas reabilitam as virtudes guerreiras. O Butokukai torna-se todo poderoso e forma em todas as camadas da populao o esprito de bushido, ensinado em verdadeiro esprito guerreiro.

Depois da 2. guerra mundial, o Japo sofre interveno pelos norte americanos quando esses mesmos interditaram todas as atividades inspiradas no bushid. Os judocas no podiam treinar seno nas escolas.

Em 1946, os professores do Kodokan foram autorizados a ensinar jud (...) s tropas americanas. Depois o jud foi permitido na condio de se apresentar, no como uma arte marcial, mas como um desporto (ROBERT, 1976, p. 23).

Jigoro Kano fez numerosas demonstraes e conferncia na Europa e na Amrica, mas obteve um xito muito limitado. Nos Estados Unidos, o mestre Yamashita chegou a ter como aluno o presidente Teodoro Roosevelt.Entretanto, o jud espalhou-se pelo mundo (Estados Unidos, Frana, Inglaterra, etc). Foi na Frana que o jud sofreu algumas mudanas como incremento das cores das faixas que incluiu o processo de esportivizaao, ou seja, melhor arrecadao financeira para as federaes e confederaes.Aps a segunda Guerra Mundial, a hostilidade do povo inicia o perodo mgico do jud. A frmula A defesa do fraco contra o agressor fez furor.

O perodo desportivo comeava. Cada pas organizava a sua prpria federao nacional; os primeiros campeonatos foram realizados, em Paris teve, lugar em 1951, o primeiro campeonato da Europa, ao qual assistiu Risei Kano, filho do fundador do jud, e que foi nomeado, presidente da Federao Internacional.(ROBERT, 1976, P.26)

Tquio.

do Japo.

Em 1956 o Japo organiza os primeiros campeonatos do mundo, em

Em 1964, o Jud torna-se uma modalidade olmpica nos jogos olmpicos

Com o incremento da popularidade do Jud, principalmente com o

advento de competies esportivas, surgiram algumas interpretaes errneas sobre a prtica. Esta deturpao do Jud normalmente ocasionada por uma viso distorcida ou de total ausncia do conhecimento das tradies que o impregnam.

A vinda do jud ao Brasil no foi diferente e ainda no possui dados precisos, ou seja, trabalhos elaborados sobre a Histria do Jud dentro do Brasil so muito raros, sendo poucas publicaes especficas.O que se identifica na literatura dessa arte marcial que o jud veio com a imigrao japonesa, em 1908.O personagem que mais possui crdito para ser considerado o precursor do jud no Brasil o Conde Koma, cujo nome seria Mitsuyo Maeda, que ofereceu seus servios academia militar, ensinando jud aos integrantes do exrcito nacional.A partir dessa imigrao, o jud divulgado e espalhado em todo o pas no qual culminou na fundao da primeira Federao de Jud a Federao Paulista em 1958, comeando o processo de esportivizaao dessa arte marcial no Brasil. Como esporte, surgiu a necessidade de aglutinar as diversas federaes espalhadas pelo pas. Assim, em 1969, foi fundada a Confederao Brasileira de Jud, cuja sede no Rio de Janeiro. Portanto, o jud ganha um carter competitivo cujos treinamentos dos judocas so centrados em competir esquecendo-se da essncia filosfica de que o jud formado.A preocupao dos senseis em relao perda da essncia do jud, seus costumes, suas tradies significante. Desta forma, globalizada como o jud vem sendo praticado, os seus valores tradicionais passaram a fazer parte de uma cultura tambm globalizada, em que o seu ensino e seus valores culturais so vistos apenas dentro de um aspecto histrico. Atualmente os estilos de jud se misturam nas competies internacionais, com atletas, das mais distantes e diferentes partes do mundo, adaptando ao jud algumas tcnicas de lutas tpicas de seus pases, tornando-o desta maneira, uma prtica muito diferente daquela dos seus primrdios, em que os princpios tericos e tcnicos do jud esto ficando cada vez mais distantes dos ideais firmados por Jigoro Kano.Portanto, o jud visto como uma mercadoria em busca de um lucro que o produto final fazer campees aderindo ao esporte institucionalizado que ganhar de qualquer forma, mesmo excluindo grande parte da populao judostica. Isso que ocorre com o jud e outros esportes visa o alto-rendimento e esquece os princpios que consolidaram e restringe a oportunidade para todos praticarem. No caso do jud, como uma arte do autoconhecimento e da formao humana.

No relacionar o desempenho no jud com as desigualdades sociais ou com a posio que cada indivduo ocupa no processo produtivo, refora a apologia que a prpria burguesia erigiu para justificar sua condio de classe hegemnica (CARVALHO, 2003, p. 11).

Dentro dessa esportivizaao, os treinamentos enfatizam o modelo do tecnicismo, ou seja, tradicionalmente, o ensino tem sido baseado na pura repetio (ou imitao) de movimentos.Nas aulas, verificam-se os aprimoramentos de um ou dois golpes esquecendo-se dos quarenta golpes propostos pelo seu fundador que foram estudados e analisados, ou seja, nem aperfeioamento de tcnica no , pois no h uma conscientizao no que est fazendo, h sim o aprimoramento de treinamento de foras, cujo objetivo jogar o adversrio no tatame de qualquer forma, desvirtuando outro conceito que Jigoro Kano colocava ceder para vencer usando a fora do seu adversrio para somar com a sua, ou seja, a utilizao da energia de forma eficiente e com mnimo de dispndio.Segundo Sugai (2000, p.48, vol. 2), Na nsia de aprender cada vez mais rpido, os jovens atletas no percebem os detalhes sutis de cada tcnica, e isso que faz a diferena, comprometendo assim o desenvolvimento mais harmonioso de seus movimentos.Por essa institucionalizao o Jud torna-se elitizado e a minoria no tem condies de praticar, pois tem de pagar mensalidades, e quando h projetos esses no so incentivados para prosseguir.Conforme Carvalho (2003, p.9), Em tese, sugerir vena quem jogar melhor escamotear o fato de que a falta de igualdade de condies so o obstculo principal e determinante do sucesso na escola, no trabalho e no jud.O prximo assunto a ser abordado so as metodologias de ensino para o jud, no qual foram retirados dados de uma Pesquisa do Rio de Janeiro que mostrou predominncia do estilo comando aulas de jud. Logo em seguida esboar-se novos caminhos e contribuies em relao prxis pedaggica do jud, atravs da Pedagogia do Esporte que tem como princpio a formao humana, entender a funo dos jogos no ensino do jud e o ldico como ferramenta essencial em qualquer aula, principalmente esportiva.

1.3 Pedagogia do Esporte e o jud: em busca de novos caminhos

Os setores tradicionalistas tendem a valorizar a funo educativa do jud e seus princpios pedaggicos simbolizados, em sua tica, pelos rituais e pela etiqueta, a fim de preservar a distino entre o verdadeiro jud e o esporte, em que as concepes de certos judocas traduzem de forma distinta: O jud esportivo, se no for rigorosamente re significado, circunscrito, limitado, enquadrado e controlado, pode constituir um perigo mortal para o verdadeiro jud.O jud dever ser ensinado, em seus primeiros passos, dentro de uma proposta em que o aluno aprenda a formar convices dentro de uma prtica conscientizadora, em que o mais importante ser entender os princpios filosficos, os movimentos e aprender a desenvolver estratgias para vencer a resistncia de seu companheiro que est se movimentando e oferecendo resistncia sua frente durante todo o treinamento. Estas aulas devero ser promovidas dentro de um clima prazeroso, em seus aspectos de coletividade e amizade, em que o bem estar comum deve ser sempre o ponto convergente de toda programao didtica.

No dojo, a criana aprende a conhecer-se, a discernir os seus defeitos e as suas qualidades. Aprende, sobretudo a disciplina e o gosto pelo esforo. Aprende a estimar os companheiros, a progredir com eles; encontra um escape para a sua energia, e sua turbulncia e a sua agressividade. (ROBERT, 1976, p.488).

O jud integral suficiente para dar a todos o que eles procuram. Todavia, os judocas que visualizam somente as competies no conhecem mais do que uma nfima parte do jud e ignoram o seu aspecto filosfico.Jigoro Kano prope, atravs do Jud, uma "via de ceder", um "caminho suave" no sentido de aperfeioamento moral e espiritual, alm de fsico e intelectual, preconizando a Paidia - formao integral do ser humano.Nas metodologias de ensino aplicadas ao jud, verificam-se a predominncia do estilo comando. Isso pode ser verificado por meio de uma pesquisa feita no Rio de Janeiro que teve como autor Ricardo Ruffoni (2005)3, na qual categorizou os estilos de ensino em: estilo comando, estilo descoberta guiada,

3 Professor Ricardo Ruffoni, mestre em Cincia da Motricidade Humana, Especialista em jud 6 dan- Especialista em Markenting Esportivo.

estilo descoberta convergente. Na sua pesquisa, que teve como tema: Anlise Metodolgica na Prtica do Jud, ele verificou a predominncia de um estilo de ensino baseado em questionrios e srie de 10 filmagens. A metodologia empregada foi de natureza quali-quantitativa e a amostra compreendeu 28 professores graduados em jud, licenciados em Educao Fsica ou registrados junto ao CREF (Conselho Regional de Educao Fsica) do Estado do Rio de Janeiro. Na pesquisa, os resultados apresentaram a predominncia do estilo comando com 39,3% que tem por caractersticas: o imediatismo do gesto esportivo, a hierarquizao dos valores e a padronizao no movimento do grupo, denotando uma ausncia de dilogo entre o professor e o aluno, com todas as decises tomadas pelo professor. Isso evidencia a prtica de uma tendncia metodolgica tradicionalista. Tais consideraes esto presentes na textualidade das afirmaes sobre a metodologia de ensino do jud.As aulas tornaram-se objetivas, em que o aluno faz nenhuma ou quase pouca relao do Jud aprendido com a vida diria. Mas logo todo judoca se conscientizar. No jud, culturalmente isso acontece cedo. Ainda como o praticante no aprendeu que inexiste a derrota e que a vitria passageira como a vida, logo abandonar os tatames (at certo ponto desprezado).

As razes do ensino tecnicista sustentam um iderio conservador, uma concepo de esporte para poucos e por isso torna o ensinar e o aprender um processo desgastante e penoso, j que a realizao objetiva do esporte a vitria (a incessante busca pela vitria nesse processo desgasta) Historicamente o esporte se associa a processos de trabalho repetitivos, refora a alienao e o estranhamento (relao trabalhador-produto) e camufla o sofrimento por meio dos xitos nas competies (SADI, 2005, p. 4).

Nessa perspectiva, busca-se novo caminho para a pedagogia do jud em que favorea a formao humana dos alunos e a conscincia da essncia filosfica dessa arte, que vem perdendo seu significado pela institucionalizao em virtude de fundao e organizao de Federao e Confederao que tem como objetivo central: os resultados de competies em detrimento do processo pedaggico que o jud pode oferecer em sua totalidade. Assim, o jud foi fragmentado em funo do interesse do esporte de alto rendimento: competir sem nenhum significado educacional em funo dos interesses capitalistas.

Segundo Sugai (2000, p.161, vol. 2), O Jud fora que se estabelece ganha apreciadores, um produto genuno da mente ocidental e serve aos fins a que se prope: fabricar vencedores nas competies.Portanto, o jud esportivo deve ser re-significado, pois favorece pequena parcela da sociedade, no qual, quem tem condies financeiras de pagar uma academia ou clube, ou ganham bolsas pelos seus resultados em competies federadas esto includos e os outros desconhecem essa modalidade esportiva oriental. Mesmo na escola, quando o jud sistematizado e seu ensino rpido servindo s vezes como uma vivncia que levam os professores a buscar em vrias metodologias de ensino para desenvolver uma prtica pedaggica que condiz com a realidade da escola, ou seja, o ensino-aprendizagem do jud nas escolas se aproxima de uma luta chamada jud, perdendo algumas caractersticas em sua totalidade.Verificando essas duas realidades, tanto escolar como nas academias, foi que surgiu a proposta de uma unidade de ensino do jud para a formao humana. Nessa unidade seria necessrio no apenas transmitir e ensinar tcnicas do jud com vistas a competies, mas transform-lo didaticamente. Isso inclui a compreenso e necessidade de mudana de significados, valores e objetivos. Esse caminho implica necessariamente a abordagem dialtica do esporte, avanando-se em direo a uma concepo unitria do ensino-aprendizagem do jud, ainda inexistente.Pensando o jud em sua totalidade e como esporte, viu-se a possibilidade de entrar como projeto escolar, ou seja, no Esporte Escolar, dando novos caminhos pedaggicos para o ensino do jud por intermdio dos interesses e contribuies da participao da sociedade para o desenvolvimento dessa arte suavizante. Desse modo, o processo educacional s ocorrer se os professores e pais tiverem conscincia de um processo pedaggico a mdio e longo prazo, oferecendo escolhas para os judocas. Portanto, no ficando meramente em um discurso utpico e idealizador e sim na sua realizao concreta da realidade superando barreiras e dificuldades.O jud pode ser includo na Pedagogia do Esporte, conforme Sadi et.al (2004, p.) O Esporte escolar um complemento da educao fsica escolar, sendo esta, digamos, de carter mais regular. Da mesma forma, jogo e esporte formam uma unidade de ensino. O jud, como iniciao esportiva para os estudantes, forma

junto com a sua prtica social (academias, clubes, condomnios etc) e a Escola uma unidade de ensino e essa a busca para a (re) significao do jud de uma forma geral. Como prtica pedaggica, os jogos e o ldico podem ser essenciais para oensino-aprendizagem na iniciao do jud.

Jud Formao Humana

Jud como prtica social.

ESCOLA.

- Ldico- Jogos- Filosofia- Tcnica

Compreendendo dessa forma a busca da valorizao do ser humano e o esporte como funo educativa e inclusiva, viu-se no Projeto Pedagogia do Esporte: descobrindo novos caminhos, desenvolvido na Faculdade de Educao Fsica, da Universidade Federal de Gois, uma nova perspectiva de ensino para o esporte atravs dos jogos, que busque priorizar a formao humana, sendo essa pesquisa desenvolvida pelo professor Dr. Renato Sampaio Sadi 4. Nesse projeto h pontos comuns com a pedagogia do jud, ou seja, h preocupao da prtica pedaggica do ensino do esporte e sua contribuio para a sociedade.

4 Renato Sampaio Sadi Doutor em Educao pela PUC/SP e Docente da FEF/UFG.

Para a compreenso superficial o Projeto Pedagogia do Esporte: descobrindo novos caminhos, enfatiza algumas consideraes relevantes a apontar, enumeradas e relacionadas com a pedagogia do jud:1-A pedagogia do esporte, confundida com a educao fsica, ainda uma rea virgem com potencial para pleno desenvolvimento, para a descoberta de novos caminhos, a pedagogia do esporte decorre e se sustenta em uma educao fsica de qualidade, isto , o componente curricular necessita de uma rea de apoio, a rea do esporte escolar; assim, o desenvolvimento se expressa em uma unidade educacional (educao fsica + esporte escolar).

Dessa mesma forma, a pedagogia do jud, tambm em nvel de desenvolvimento e construo, acompanha esses princpios da pedagogia do esporte podendo contribuir de forma sistematizada com o ensino do Esporte como parte aliada e unificada da Educao Fsica.Quando a pedagogia do esporte prope a unidade de ensino educacional (educao fsica + esporte escolar), o jud, com todo seu embasamento cultural e educativo, pode ser uma das modalidades esportivas a compor esse quadro do esporte recebendo trato pedaggico no seu ensino-aprendizagem para iniciao esportiva dos alunos interessados a praticar o jud.

2-Os objetivos de rendimento, rendimento pessoal e rendimento profissional devem ser perseguidos pela pedagogia do esporte com o objetivo de poder contribuir com os estudantes que se destacam e se interessam pelo esporte. preciso dar densidade ao conceito de rendimento, pois alm da associao trivial ao trabalho desgastante, competitivo e de sofrimento para se alcanar resultado, o rendimento possui uma dimenso humana de busca consciente de realizao plena, de esforo permanente da qualidade da atividade. Isto no significa privilegiar, segregar e selecionar a partir da educao fsica realizada na escola, mas criar novas oportunidades de ensino, de acesso e permanncia no esporte.

O rendimento tambm o resultado do aprendizado e da evoluo de qualquer esporte, o jud pedagogicamente trabalhado enfatiza e valoriza o rendimento dos judocas na perspectiva da totalidade humana em seus aspectos

educacionais, sociais, e de aprimoramento das tcnicas, aliando a todos os setores ou grupo sociais contribuindo para a formao da cidadania dos alunos. No obstante, o rendimento no caracterizado em formar atletas mquinas, programados para ganhar, mas sim atletas humanos, criativos, questionadores, conscientizadores da sua prtica e de sua funo na sociedade.3-O esporte escolar no um apndice da educao fsica.

Aqui o autor vem explanar sobre a funo que o esporte estrategicamente planejado pode contribuir para educao dos alunos do ensino bsico com o projeto pedaggico unitrio que busque a formao humana dos alunos. Considera tambm que o esporte no-escolar, praticado em clubes, academias e associaes, tambm educativo e pode ser includo dentro da educao esportiva. Com essas possibilidades e fazendo o paralelo com o jud, importante conscientizar tanto quem trabalha no meio escolar como em clubes ou academias que o jud pedaggico no qual busque a formao humana atravs do seu embasamento filosfico e prtico que influencia e participa para a transformao da sociedade podendo ser includo no ensino-aprendizagem dessa modalidade japonesa que busca o autoconhecimento e desenvolvimento dos valores humanos dos alunos.Portanto, o esporte pode ser ofertado em escala crescente para os alunos do ensino bsico no como um apndice da educao fsica, mas como um complemento essencial na formao humana.A arte do jud e o esporte podem formar uma unidade que valorize os princpios dessa arte bem como o aspecto educativo que o esporte re-significado pode proporcionar para a formao humana. Contudo, no Ocidente o jud ganhou uma forma esportiva independente dos princpios que seu fundador sempre pautou, ou seja, os pilares ticos e morais do Suave Caminho.Segundo Sugai (2000), arte ou competio, em dado momento, se torna um conflito para quem se dedica a ensinar a arte do Jud.Entendendo que dentro da rea de educao fsica os conhecimentos relativos ao ensino dos esportes pertencem pedagogia do esporte, essa pedagogia responsvel pelo desenvolvimento de metodologias adequadas para atividades individuais e / ou coletivas.Nesse desenvolvimento, deve-se levar em considerao que as turmas so heterogneas com finalidades e interesses diferentes, ou seja, nem todo aluno quer ser atleta, por isso o professor deve priorizar a totalidade da realidade.

Segundo Sadi (2005, p.8) O objetivo do esporte escolar no a formao de atletas, mas a formao humana de cidados.O jud, na perspectiva da Pedagogia do Esporte como modalidade, faria parte do currculo no mbito escolar, sem ter seu processo de ensino fragmentado.O caminho est no planejamento do projeto poltico pedaggico da escola partindo da iniciativa do professor de que o esporte escolar pode ser realizado fora do ambiente escolar, ou seja, em clubes, associaes, espaos adequados para sua prtica. Isso s pode ser feito se o professor tratar o esporte pedagogicamente e conscientizar a comunidade da educao esportiva, ou seja, convencer os donos de clubes que a iniciao esportiva pode ser dada para aquisio de conhecimentos para a formao humana, no desconsiderando o rendimento, mas tratando pedagogicamente o ensino-aprendizagem do esporte, no caso aqui a modalidade jud. Portanto, no meramente s a prtica do jud, mas o ensino e a compreenso dos alunos (do seu fazer), tornando judocas crticos, criativos e conscientizadores do mundo global, ou seja, ensinando esporte pela compreenso.Portanto, o papel do professor fundamental nesse processo. Sem a perspectiva de uma interferncia ativa no campo metodolgico no h como manter o vnculo do Esporte Escolar fora da instituio escolar.Como complemento da educao fsica, o esporte escolar no pode ser um mero fazer por fazer nem tampouco o afunilamento para os alunos destacados nas aulas de educao fsica. Hoje, com a possibilidade de planejar a poltica social do esporte, esse formato, ainda que polmico, faz parte de uma nova sntese, de um novo momento para a educao brasileira.

Na mesma direo cabe salientar que o carter de currculo ampliado desdobrado a partir das nfases citadas, ora na educao fsica, ora no esporte escolar deve ter continuidade no processo sob pena de se perder caso a fragmentao vena a perspectiva unitria. Isso implica na negao do esporte escolar como atividade extracurricular, pois nada pode ser considerado como extra, fora, exterior ao currculo quando se pensa em unidade, antes o currculo o rumo das possibilidades concretas dos estudantes e como um bloco heterogneo e amplo destas possibilidades s pode agregar se os temas educativos forem tratados de forma inclusiva, no exclusiva (SADI, 2005, p.14).

Dessa forma, o jud inclusivo possvel dentro desta perspectiva enfatizada acima, ou seja, poderia fazer parte do currculo escolar priorizando sua totalidade.

1.4 O jogo no processo de ensino-aprendizagem do jud

Propor jogos para o ensino-aprendizagem do jud depende do entendimento, da funo, anlise para uma determinada prtica pedaggica.Os jogos devem ser propostos nas aulas de jud sem perder o foco central dessas aulas, exigindo assim qualificao do professor, pois, o jogo vem pra facilitar a assimilao de desenvolvimento da aprendizagem. Contudo, o jud ainda a parte principal e o jogo a contribuio para formar a totalidade das aulas.Os jogos devem ser utilizados como proposta pedaggica somente quando a programao das aulas possibilitar e quando puder se constituir em auxlio eficiente ao alcance de um objetivo sempre aproximando dos fundamentos do jud. De uma certa forma, a elaborao do programa deve ser precedida do conhecimento dos jogos especficos para cada fundamento do jud, e na medida em que estes aparecessem na proposta pedaggica que deveriam ser aplicados, sempre com o esprito crtico para mant-los, alter-los, substitu-los por outros ao se perceber que ficaram distantes dos objetivos.Assim, o jogo no processo ensino-aprendizagem somente tem validade se usado na hora certa, e essa hora determinada pelo seu carter desafiador, pelo interesse do educando e pelo objetivo proposto. Jamais deve ser introduzido antes que o educando revele maturidade para superar seu desafio e nunca quando o educando revelar cansao pela atividade ou tdio por seus resultados.Nas aulas de jud na perspectiva para o ensino, a utilizao dos jogos de suma importncia, porque sua definio complexa em seus termos conceituais, sendo importante considerar o jogo em sua significao primria. Segundo Huizinga (2004, p.10), O jogo uma funo da vida, mas no passvel de definio exata em termos lgicos, biolgicos ou estticos.Contudo, o jogo favorece funes importantes nas realizaes das relaes e atividades humanas em diferentes ocasies como no trabalho, lazer, como estratgia ou contedo de ensino-aprendizagem no ambiente educacional e nas outras esferas do cotidiano, ou seja, o jogo relaciona-se com a cultura

acompanhando as transformaes ocorridas no processo de desenvolvimento de um

povo.

Conforme Huizinga (2004, p.6), Encontramos no jogo na cultura, como um elemento dado existente antes da prpria cultura, acompanhando-a e marcando a desde a mais distante origem at a fase de civilizao em que agora nos encontramos.O jogo despertou interesse de vrios estudiosos que pesquisaram e pesquisam a natureza do jogo e suas caractersticas, pois a complexidade de teorizar os jogos foram fontes de vrias pesquisas para importantes autores como Huizinga, Caillois, Henriot, Fromberg, Piaget, Vygotsky, Joo Batista Freire entre outros. Muitos questionamentos podem surgir a partir desses pensadores, como por exemplo: Por que se joga? Onde se joga? Quando se joga? Para que se joga? Como se joga? Etc. As respostas a estes questionamentos que motivam e inquietam os pesquisadores que se situam nesse mbito, pois cada nova descoberta nos obriga revisar uma srie de conceitos at ento predominantes em nossacultura.

Segundo Freire (2002, p. 88), O jogo tem a propriedade de trazer as experincias do mundo exterior para o esprito humano, de maneira que, jogando com elas, a cultura possa ser criada, revista, corrigida, ampliada, garantindo o ambiente de nossa existncia.Por isso em trabalhos de vrios estudiosos e peritos sobre a funo dos jogos na sociedade h similaridades ou pontos comuns entre esses autores ao caracterizarem os jogos.Segundo Kishimoto (1996, p.27), os autores Caillois, Huizinga, Brougre, Henriot, Fromberg, Christie e muitos outros assinalam pontos comuns como elementos que interligam a grande famlia dos jogos:

1.liberdade de ao do jogador ou o carter voluntrio, de motivao interna e episdica da ao ldica; prazer (ou desprazer), futilidade, o no-srio ou efeito positivo;2.regras(implcitas ou explcitas).3.relevncia do processo de brincar (o carter improdutivo), incerteza de resultados.;4.no-literalidade, reflexo de segundo grau, representao da realidade, imaginao e5. contextualizao no tempo e no espao (KISHMOTO, 1996, p.27).

So tais caractersticas que permitem identificar fenmenos que pertencem grande famlia dos jogos.Sendo o jogo utilizado como contedo ou estratgia de ensino para o desenvolvimento do conhecimento e do aprendizado, de suma importncia seu emprego nas aulas de iniciao esportiva do jud, principalmente na fase infantil, que pode despertar a essncia do esprito ldico dos alunos facilitando a assimilao epistemolgica do conhecimento.Em relao metodologia de ensino de jogos para o jud, aderiu-se aos conceitos da Pedagogia do Esporte (Ministrio do Esporte), que busca tambm a aquisio do conhecimento e da compreenso do esporte e no unicamente a execuo da tcnica.As habilidades dos judocas devem ser vistas por meio de conhecimentos que eles j tm sobre o assunto a ser tratado, como, por exemplo, amortecimentos de quedas, rolamentos, giros, saltos, pegadas, lutas, filosofia etc. Logo, o jogo para a aprendizagem deve ser estimulado. Jogando se aprende. Na verdade, verifica-se que os alunos querem realmente jogar e os professores no necessariamente precisam ensinar primeiro a tcnica e depois o jogo. Esta relao pode ser modificada pela aprendizagem atravs de jogos com regras adaptadas, muito prximas dos fundamentos do jud, que podem estimular a participao dos alunos por serem menos complexas e adequadas s suas possibilidades e nvel de compreenso.Atravs desta abordagem, Ensinando Jogos para Compreenso, acreditamos que os professores devam fazer o possvel para estimular os alunos a pensarem o jogo e, posteriormente, valoriz-lo porque o compreendem (SADI et al.2004).

Nessa compreenso, tem-se o jogo como o caminho de interveno pedaggica para o desenvolvimento e aprendizagem do jud.Por isso o papel dos senseis (professores) inicialmente conhecer a prtica social de seus alunos para estimular o ensino-aprendizagem, valorizando o que os alunos j sabem para alcanar e superar novos conhecimentos atravs de mediadores do ensino, isto , buscando aprender facilmente fundamentos novos para sua vida, com o aumento da sua assimilao. Esse o papel dos jogos.

Esse papel que o jogo tem como meio interacional de desenvolvimento chamado por Vygotsky de zona de desenvolvimento proximal.

A zona de desenvolvimento proximal refere-se ao caminho que o individuo vai percorrer para desenvolver funes que esto em processo de amadurecimento e que se tornaro funes consolidadas estabelecidas no seu nvel de desenvolvimento real.Portanto a zona de desenvolvimento proximal um domnio psicolgico em constante transformao: aquilo que uma criana capaz de fazer com assistncia hoje, ele ser capaz de fazer sozinha amanh (VYGOTSKI, 2003, p.113).

O jogo favorece as situaes propcias ao aprendizado do jud, pois utiliza o que os alunos gostam, aprender jogando, brincando.Sendo assim, os jogos so um espao privilegiado de interaes sociais e contribuem para a promoo do aprendizado e para o desenvolvimento da criana se for tratada pedagogicamente no jud.A Pedagogia do Esporte apresenta a seguir um quadro que visualiza o caminho da aprendizagem pela aproximao Ensinando Jogos para a Compreenso atravs dos modelos dos jogos para Compreenso, segundo (Werner, Thorpe, Bunker 1996, p.29, apud Sadi et al.2004). Teaching Games for Undestanding-Evolution of a Model, v.67, n.1,p.28-33, (Jorped,1996, apud Sadi et al.2004) cujos passos da aprendizagem do esporte/jogo podem ser analisados e propostos da seguinte forma:

1

Jogo

26

Avaliao do JogoPerformance

35

Percepo/Conscincia da TticaExecuo da habilidade

4

Tomando as DecisesApropriadasO que fazer? Como fazer?

aluno;

Etapa 1- o jogo (modificado ou no) e suas regras so apresentados ao

Nessa fase faz o levantamento de jogos que se aproximam com os fundamentos iniciais do tema a ser trabalhado, no caso aqui o jud.Etapa 2- Logo em seguida, o aluno faz uma avaliao do prprio jogo:

So verificadas as dificuldades e facilidades dos alunos durante o jogo, buscando maneiras para super-las para tornar o jogo dinmico e interessante possibilitando o caminho do aprendizado.Etapa-3- No decorrer do jogo procura-se compreender qual a ttica, o que leva ao prximo passo;

Os alunos criam passos para desenvolver melhor as atividades propostas buscando solues desencadeadas durante os jogos.Etapa-4 nessa passagem que os alunos questionam e decidemo que fazere como fazer; que os professores devem saber como ajudar o aluno a superar suas dificuldades e saber quais e como forma as respostas que fizeram com que os alunos melhorassem seus desempenhos.O professor est ciente do jogo, os alunos desenvolvem estratgias e o professor organiza variaes dos jogos.Etapa-5 Depois das decises anteriores, acontece a execuo das habilidades dos fundamentos do esporte em questo.Etapa-6 Este momento o mais importante: aps a percepo de o que fazer e como fazer, agora o aluno chega sua performance, podendo melhor-la cada vez mais, aprimorando sua tcnica atravs de desafios tticos mais complexos.Por isso os jogos tm papel fundamental no processo educativo auxiliando na construo do conhecimento. E aqui que entra um aspecto bastante interessante do jogo como educao.Conforme Freire (2002, p.82), a funo dos jogos como educao pode separar em tpicos:a) O jogo ajuda a no deixar esquecer o que foi aprendido. b) O jogo faz a manuteno do que foi aprendido.c) O jogo aperfeioa o que foi aprendido.

d) Se, durante o jogo, as habilidades podem ser aperfeioadas pela repetio, isso certamente vai fazer com que o jogador se prepare para novos desafios, Isto, para assimilar conhecimentos de nvel superior.Os jogos podem vir a contribuir para o ensino-aprendizagem do jud, se sistematizado, organizado e tematizando os objetivos com os fundamentos do jud, ou seja, o jogo tem que ser direcionado para um dado objetivo e no ser aleatrio para no perder o foco central da aula, alterando com o ensino das tcnicas. Portanto, o jogo exige aplicao, conhecimentos, habilidade, coragem e fora.No projeto Prolicen Ludicidade no Jud, os jogos foram categorizados de forma a se aproximarem dos contedos propostos e os alunos tambm contriburam para variaes e criao de alguns jogos, fazendo adaptaes de algumas regras. As brincadeiras vivenciadas foram Pique-pegue ukemi (amortecimentos de quedas), queimada com rolamento, elstico, randori com bales, pique-bandeira com ukemi e tubaro , tubaro , sempre dois nunca trs, briga de galo, sempre 1,2 e 3,

aviozinho, ne-waza com bolas, pique-rabo(elsticos), sum, puxadas, futebol americano e outros jogos que esto sendo pesquisados e propostos por algumas contribuies de professores da rea que esto presentes no prximo captulo desta monografia.Ao trabalhar ou propor jogos para o ensino-aprendizagem de qualquer rea o profissional for atuar deve considerar o jogo, suas funes e sua importncia no processo educacional, aqui no caso nas aulas de jud.Segundo Huizinga (2004, p.5), legitimo considerar o jogo uma totalidade, no moderno sentido da palavra, e como totalidade que devemos procurar avali-lo e compreend-lo.Como o pensamento da forma global a prpria oportunidade de liberdade de escolhas para as necessidades de jogo; movimentos, estratgias, tticas, relaes sociais e afetivas, dizemos que o jogo o grande mestre, ele quem ensina. Para que o professor comece a pensar e enxergar de forma global, necessrio adquirir uma postura de ouvidor e mentor, questionar suas solues prontas e interferir na conduo inteligente do processo pedaggico que tambm deve ser inteligente por parte dos alunos.Em resumo, o propsito decide o jogo e justifica a atividade. Conforme Vigotski (2003, p.135), Nos esportes, o propsito do jogo um de seus aspectos dominantes, o qual ele no teria sentido -- seria como examinar um doce, coloc-lo na boca, mastig-lo e ento cusp-lo.No obstante, o jogo essencial no ensino-aprendizagem de qualquer modalidade esportiva.

1.5 LUDICIDADE NO JUD

Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae O brincar necessrio para (levar uma) a vida humana (Toms de Aquino, Suma Teolgica II-II, 168, 3, ad 3)

A essncia do ldico pode contribuir para o processo de desenvolvimento de ensino-aprendizagem do jud facilitando a aquisio de novos conhecimentos. O importante nessa discusso que a ludicidade, vista at ento como alguma coisa sem muita importncia no processo de desenvolvimento humano, hoje estudada

como fundamental no processo, fazendo com que cada vez mais se produzam estudos de cunho cientfico para entender sua dimenso no comportamento humano para que se busquem novas formas de interveno pedaggica como estratgia favorecedora de todo o processo.

Qualquer que seja a atividade fsica, ela pode e deve ser ldica, mas de suma importncia que oriente o aluno no sentido das descobertas de si mesmo, o que por si s libertador, ao ampliar de forma considervel o seu mundo interno e sua existncia.(SUGAI,2000, p.115).

Entretanto, essa produo de estudos cientficos em relao ludicidade ainda pouca explorada. Na esfera da sociedade, a compreenso do ldico muitas vezes incompreensvel no meio educacional e em todos ambientes sociais (empresas, recreao, animadores etc.), pois o que vem a ser o ldico e a sua importncia para o ensino do jud e da sociedade? Brincar, alegria, prazer faz em parte da essncia do ldico? So perguntas assim que fazem com que o ldico muitas vezes seja tratado de forma superficial, tanto pelas pessoas leigas, como pelo prprio profissional da rea educacional, ou seja, o professor quando elabora o seu plano de aula, faz a utilizao do ldico como contedo e est correndo riscos metodolgicos, pois o ldico pode ser considerado uma ferramenta facilitadora de uma aula, no contedo, vou dar uma aula ldica. Isto aparece nas vrias expresses de pedagogos e professores. Mas como eles identificam se a aula ldica ou no? Dificilmente eles buscam as razes de todas essas manifestaes ldicas. Portanto, a ludicidade uma atividade que tem valor educacional intrnseco, mas, alm desse valor que lhe inerente, ela tem sido utilizada como recurso pedaggico.Assim como no jogo, o ldico, em termos conceituais, tem difcil definio, pois to complexo, quanto a prpria cultura. A atividade ldica uma criao humana, e no apenas um determinismo puramente biolgico. Conforme Santin (1994, p.28), No h como insistir em querer formar uma compreenso inteligvel de ludicidade, porque ela a empobrece e, talvez, a negue.O ldico tem sua origem na palavra latina "ludus" que, do ponto de vista etimolgico, quer dizer "jogo". Mas se ficasse confinado somente sua origem, o termo ldico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento

espontneo. Bem, mas o que determina o sentido de uma palavra, por certo no sua etimologia mas sim a sociedade em seu processo histrico.

Nosso ponto de partida deve ser a concepo de um sentido ldico de natureza quase infantil, exprimindo-se em muitas e variadas formas de jogo, algumas delas srias e outras de carter mais ligeiro, mas todas elas profundamente enraizadas no ritual e dotadas de uma capacidade criadora de cultura, devido ao fato de permitirem que se desenvolvessem em toda a sua plenitude as necessidades humanas inatas de ritmo, harmonia, mudana, alternncia, contraste, clmax etc. A este sentido ldico est inseparavelmente ligado um esprito que aspira honra, dignidade, superioridade e beleza (HUIZINGA, 2004, p.85).

O homo sapiens foi, sem dvida, a primeira caracterizao, momento em que se julgou racional em relao aos demais seres vivos.Mais tarde foi substitudo pelo homo faber, caracterizado pela relao com o trabalho. Huizinga revisou esta caracterizao, denominando homo ludens, p