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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA - UNEB

    DEPARTAMENTO DE EDUCAO CAMPUS X

    O PAPEL DO EDUCADOR NA FORMAO DO LEITOR DAS SRIES INICIAIS NAESCOLA FLORESTAN FERNANDES: Um enfoque na educao do campo

    JUARA ALMEIDA COSTA

    Teixeira de Freitas-Bahia2012

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    JUARA ALMEIDA COSTA

    PAPEL DO EDUCADOR NA FORMAO DO LEITOR DAS SRIES INICIAIS NAESCOLA FLORESTAN FERNANDES:Um enfoque na educao do campo

    Monografia apresentada ao Departamento de

    Educao Campus X, Uneb como exigncia parcial

    para obteno do titulo de Licenciada em Letras

    Vernculas.Orientadora: Prof. Msc. Guilhermina Elisa Bessa

    da Costa

    Teixeira de Freitas-Bahia2012

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    JUARA ALMEIDA COSTA

    O PAPEL DO EDUCADOR NA FORMAO DO LEITOR DAS SRIES INICIAISNA ESCOLA FLORESTAN FERNANDES:Um enfoque na educao do campo

    Monografia apresentada ao Departamentode Educao Campus X, Uneb comoexigncia parcial para obteno do titulo deLicenciada em Letras Vernculas.

    Orientadora: Prof. Msc. Guilhermina ElisaBessa da Costa

    APROVADO EM ___DE____ DE____

    COMISSO EXAMINADORA:

    ____________________________________

    Prof Msc. Guilhermina Elisa Bessa da Costa

    (orientadora)

    ____________________________________

    ____________________________________

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    Dedico primeiramente a Deus, a

    minha famlia, que muito contribuiu

    para a minha formao.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus em primeiro lugar, fonte inesgotvel de bondade, misericrdia, por sera razo de minha existncia, pela oportunidade de realizar um sonho, por ter

    colocado pessoas especiais no decorrer do meu percurso e por ter sido o meu

    baluarte e o meu socorro nas horas difceis, a Ele toda honra, toda glria.

    A minha me pelo apoio, pela pacincia e pelas suas intersees em meu

    favor e por ter cuidado de meu filho no decorrer de minha ausncia.

    A meu filho Thallys Luan por est ausente no perodo de sua adolescncia

    As minhas irms Gilcileide, Gilmara,Jandira, e meu irmo Farias que direto ouindiretamente me ajudaram.

    A minha irm Geny pedagoga especialmente por ter contribudo em alguns

    trabalhos.

    Aos irmos em Cristo que me sustentaram com suas intercesses.

    Ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra da Bahia, que me

    oportunizou com a realizao desse curso.

    Aos meus mestres, que contriburam para o meu crescimento profissional e

    pessoal e que me fizeram acreditar que ainda h esperana. Pela amizade e

    respeito a ns dispensados.A professora e orientadora Prof. Msc. Guilhermina

    Elisa Bessa da Costa pela dedicao e profissionalismo guiando-me na execuo

    deste trabalho.

    A Secretaria Municipal de AratacaBA, pela liberao nos dias de curso.

    Aos meus alunos, a razo da minha profisso por me fazerem acreditar que minha

    luta no em vo.

    A Escola Florestan Fernandes no Assentamento Terra Vista, onde trabalho.

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    RESUMO

    A leitura um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo deconstruo do significado do texto, a partir de seus objetivos, do seu conhecimentosobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a lngua. Trata-se de umaatividade que implica, necessariamente, compreenso nas quais os sentidoscomeam a ser constituda antes da leitura propriamente dita. Formar um leitorcapaz de fazer a leitura de mundo, encarando-a como uma prtica social, capaz deselecionar entre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender auma necessidade sua, uma tarefa para o educador que deve trabalhar com umadiversidade de textos e de combinaes entre eles, trabalhar com a diversidade deobjetivos e modalidades que caracterizam a leitura. Segundo a minha pesquisa, asprincipais dificuldades que os educandos apresentam para aprender a ler e escrever

    decorre da falta de pacincia, ateno e maior dedicao as dificuldades peculiaresde cada um por parte dos educadores, bem como responsabilidade da famlia emmanter as crianas na escola. O objetivo geral desse trabalho analisar aimportncia das prticas de leitura nas sries iniciais para a formao de um leitorconsciente. E como objetivos especficos investigar como se processa a leitura nocontexto da concepo da escola; compreender a leitura como prtica social, bemcomo verificar a prtica pedaggica no sentido de permitir a formao de um leitorcrtico direcionado para a leitura de mundo. A metodologia utilizada foi a pesquisabibliogrfica e de campo centrada em leituras de autores comprometidos com atemtica e coletas de dados atravs de questionrios e entrevistas aplicados aoseducadores e educandos. Em sntese, ainda que haja avanos quanto insero daeducao do campo na agenda poltica, o grande desafio est na formao deprofessores e nas condies infra-estruturais das escolas do campo. A pesquisaindicou que a educao mais um direito social que, quando garantido, propicia aampliao da formao humana e da dignidade da pessoa. Diante dosdeterminantes estruturais e conjunturais da sociedade brasileira, no ser aeducao que permitir aos povos do campo continuar no campo, mas, sem dvida,ela um direito humano fundamental para que eles tenham dignidade e meios delutar pelas condies bsicas de vida, no lugar em que escolheram para viver.Conclu-se esse trabalho averiguando que para se formar educandos leitores exigeantes a formao de um educador leitor e que deve incentiv-los a fazer qualquer

    tipo de leitura como ato de prazer e no feita por obrigao.

    Palavras- chave: Leitura. Formao do Leitor, Papel do Educador, Educao docampo.

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    RESUMEN

    La lectura es un proceso en el que el jugador realiza una activa labor deconstruccin del significado del texto, de sus objetivos, sus conocimientos sobre eltema, sobre el autor, todo lo que sabe sobre el idioma. Esta es una actividad queimplica necesariamente la comprensin de los sentidos, donde comienzan aformarse antes de la lectura en s misma. La formacin de un lector capaz de leer elmundo, considerndolo como una prctica social, capaces de seleccionar entre lostextos que circulan socialmente, aquellos que pueden satisfacer una necesidad que,es una tarea para el educador que debe trabajar con una variedad los textos ycombinaciones entre ellos, trabajar con la diversidad de objetivos y enfoques quecaracterizan a la lectura. Segn mi investigacin, las principales dificultades que losestudiantes tienen que aprender a leer y escribir por la falta de paciencia, atencin y

    dedicacin a las mayores dificultades propias de cada uno de los educadores y laresponsabilidad de la familia en mantener a los nios en la escuela . El objetivogeneral de este trabajo es analizar la importancia de las prcticas de lectura en laprimera serie para formar un lector consciente. Y como objetivos especficos parainvestigar cmo la lectura se lleva a cabo en el contexto de la escuela de diseo,entender la lectura como prctica social, y para verificar la prctica pedaggica a finde permitir la formacin de un lector crtico dirigido al mundo de la lectura. Lametodologa utilizada fue la literatura de investigacin y de campo centrados enlecturas de autores comprometidos con el tema y la recopilacin de datos a travsde cuestionarios y entrevistas aplicadas a los educadores y estudiantes. Enresumen, aunque se est avanzando en la integracin de la educacin rural en laagenda poltica, el reto es la formacin de los profesores y las condiciones deinfraestructura de las escuelas rurales. La investigacin ha indicado que laeducacin es ms un derecho social que, una vez concedida, permite la expansinde la formacin y la dignidad humana. Teniendo en cuenta los determinantesestructurales y coyunturales de la sociedad brasilea, no la educacin que permita alas personas a seguir en el campo del campo, pero sin duda es un derecho humanofundamental a la dignidad y tienen los medios para luchar por condiciones de vidabsicas, en el lugar que escogieron para vivir.Llegamos a la conclusin este trabajo mediante la determinacin de que losjugadores a los estudiantes de posgrado requiere la formacin previa de un lector y

    el maestro debe animarlos a hacer cualquier tipo de lectura como un acto de placer ysin compromiso.

    Palabras clave: la lectura. Formacin Reader, El papel del educador, campo de laEducacion

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    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    UNEB UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

    MST - MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA

    EJA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS

    PPP PROJETO POLITICO PEDAGGICO

    INCRA - INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAO E REFORMA AGRRIA

    PCN PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS

    CNE CONSELHO NACIONAL DE EDUCAO

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    INTRODUO

    Para orientar o processo de desenvolvimento de estratgias de leitura eficientes do

    educando, o educador precisa definir tarefas cada vez mais complexas, porm

    possveis de resoluo desde que o educando tenha orientao. Gradativamente o

    educador vai retirando os suportes e o educando redefinindo as tarefas para si

    prprio, constituindo-se a aprendizagem de estratgias de leitura.

    A compreenso, nestas etapas, no ocorre necessariamente durante o ato de ler do

    educando, mas durante a realizao da tarefa, na interao com o educador, ao

    propor atividades que criam condies, para o leitor em formao retomar o texto e,

    na retomada, compreend-lo.O educador exerce um papel de extrema significao como formador de leitores,

    portanto deve verificar se a leitura atraente, se ela contm no seu contexto algo do

    interesse do educando e averiguar se ele se aproxima do leitor virtual inserido no

    texto. Deve mostrar o que realmente a leitura criando estratgias para que o

    educando se dedique a leitura, bem como valorize a leitura no seu cotidiano.

    Em nossa prtica como educadora no Assentamento Terra Vista, comeamos a

    questionar qual a causa dos alunos sarem de uma srie para outra com poucapratica de leitura, pois a ausncia desta era muito grande na vida dos educandos. A

    quatro anos atrs sai de sala de aula para a coordenao dessa mesma escola e do

    setor de educao na Regional Sul da Bahia do MST, e passamos a observar as

    prticas dos educadores na formao dos leitores da Escola Florestan Fernandes

    com mais abrangncia e merece uma interveno para mudar essa realidade e isso

    nos motivou a pesquisar para superar esta realidade.

    Mediante as idias, levanta-se o seguinte questionamento: qual o papel do educadorno processo de formao do leitor?

    Dessa forma, o objetivo geral desse trabalho analisar a importncia das prticas

    de leitura nas sries iniciais para a formao de um leitor consciente. Como

    objetivos especficos destacam: investigar como se processa a leitura no contexto da

    concepo da escola; compreender a leitura como prtica social, bem como verificar

    a prtica pedaggica no sentido de permitir a formao de um leitor crtico

    direcionado para a leitura de mundo.

    (KLEIMAN, 1998). concebem o ato de ler como atribuio voluntria de sentido

    escrita, entendendo a leitura como prtica social. A leitura comea na compreenso

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    do contexto em que se vive. Nesse sentido, a leitura de mundo precede a leitura da

    palavra. A leitura posterior no pode dispensar a comunidade da leitura anterior,

    posto que a linguagem e a realidade tenham um fluxo dinmico. Compreender o

    texto atravs da leitura crtica implica sem perceber as relaes entre o texto e o

    contexto (FREIRE, 1982).

    Nesse cenrio, o educador do campo tem um papel importante na formao do

    leitor, devendo em sua prtica pedaggica trabalhar a leitura com atividades

    centradas em atos libertadores, como processo de humanizao, assegurando que

    perguntas e respostas faam parte do programa. O educador do campo deve

    conduzir sua prtica no sentido de construir sentido, o que significa construir

    respostas pessoais para a identificao de um mundo humano, considerando nessatarefa as idias, os sonhos, os sentimentos e a imaginao do sujeito leitor em

    dilogo com outros homens.

    Mas, geralmente, no contexto escolar, o texto no concebido como representao

    simblica das produes humanas nas mais diversas prticas sociais. Alm disso,

    h tambm uma incompreenso do significado do ato de ler, reduzido tarefa de

    simples reconhecimento de um nico sentido, para o texto (KLEIMAN, 1998).

    Engajado na perspectiva libertadora, surge a educao no campo vinculada aotermo Pedagogia da Terra, que apresenta o significado ao atrelar o sentido da

    palavra terra para muito alm de solo, por se constituir de um lugar onde os

    sujeitos do campo recriam as suas presenas e reconstroem sua identidade. A

    palavra pedagogia indica presena da dimenso educativa na relao do ser

    humano com a terra de cultivo e de luta, ambiente livre sem limites com extenso

    multiplicidade de pessoas. Essa concepo se desvincula da idia unicamente

    econmica e alavanca a luta pela existncia da terra, vista como um espao deproduo de vida e relaes vividas, um novo espao de inveno. (CARVALHO;

    ROCHA, 2006)

    Na luta pela terra, a educao assume um significado mpar no decorrer dos anos,

    desde o surgimento de suas primeiras ocupaes no tocante a garantia da posse

    da terra. Na militncia do acesso e direito ao trabalho, no bastava apenas posse,

    era necessria a continuidade da luta, que exigia conhecimento para assuntos

    prticos como financiamento bancrio e aplicao de tecnologia (CALDART, 2004).

    Com isso, na perspectiva de oferecer com esta pesquisa ao educador elementos

    que favoream uma mudana em sua prtica no sentido de uma leitura como

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    possibilidade de abertura ao mundo e caminho para um conhecimento mais

    aprofundado do leitor sobre si mesmo, sobre o que o cerca e sobre o campo, que

    se justifica a escolha do tema.

    A metodologia utilizada foi pesquisa bibliogrfica e de campo utilizando como

    instrumento para coleta de dados a aplicao de um questionrio para educadores

    (as) e educandos (as) das sries iniciais e de cunho exploratrio.

    Sobre o assunto em questo, tendo como base autores comprometidos com a

    temtica como: FOUCAMBERT (1994), FREIRE (1987), KATO (1995), KLEIMAN

    (1998), MARTINS (1994), SILVA, (2002), MAROTE E FERRO (2002), CARVALHO;

    ROCHA (2006), ZILBERMAN E SILVA (2006) dentre outros.

    Para Nascimento (2005, p.12) a pesquisa bibliogrfica fornece instrumento analtico

    para qualquer outro tipo de pesquisa, mas tambm pode esgotar-se em si mesma.

    Nessa perspectiva Marconi e Lakatos (2002, p.21) salientam que na pesquisa

    bibliogrfica o pesquisador vale-se de opinies j formatadas por diversos autores a

    respeito do assunto.

    Segundo Koche (2008) a pesquisa bibliogrfica tenta explicar um problema,

    utilizando o conhecimento disponvel a partir das teorias publicadas em livros ou

    obras congneres. Pela pesquisa bibliogrfica o investigador levanta conhecimentosdisponveis na rea, identifica as teorias produzidas, analisa e avalia sua

    contribuio para auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da

    investigao. Tem por objetivo conhecer e analisar as contribuies tericas j

    existentes sobre um determinado tema. Esse tipo de leitura permitiu mostrar que o

    grande desafio da escola inserir a idia da importncia da leitura e do hbito de ler

    e por conseqncia deste, as competncias bsicas no mundo de significaes do

    educandoO trabalho est estruturado em trs captulos, a introduo, a concluso e as

    referncias bibliogrficas consultadas.

    No primeiro captulo encontre-se o referencial terico da pesquisa subdividindo-se

    em tpicos sendo que o 1.1 falam da leitura no contexto escolar, salientando que a

    viso da escola sobre o que ler reflete-se necessariamente na posio de seu

    ensino, de maneira que, quando se analisa a evoluo das atividades de leitura mais

    freqentes. O 1.2 esto voltados para o papel do educador como mediador de

    leitura, sugerindo que ele deve utilizar suas estratgias, a fim de direcionar o

    educando a ser um leitor experiente com caractersticas bsicas. J o 1.3 ressaltam

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    a importncia da leitura na vida dos educandos, onde mostra que a escola deve

    oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores proficientes e prticas de leitura

    eficazes.

    O segundo captulo por sua vez aborda sobre a histria da educao do campo no

    Brasil, mostrando que a mesma tem caractersticas e necessidades prprias para o

    aluno do campo no seu espao cultural. O 2.1- volta-se para a prtica pedaggica da

    escola do campo, que entendida como uma dimenso da prtica social, sendo

    gerada no estabelecimento de relao entre os conhecimentos do processo de

    formao inicial dos profissionais da educao e os conhecimentos adquiridos no

    conjunto das aes desenvolvidas no mundo da escola e da poltica local de

    educao. Nos 2.2- aborda as prticas de leitura na educao do campo,ressaltando que a questo da leitura passa tambm pela questo individual de cada

    sujeito, inserido em um contexto histrico e sociocultural que deve ser levado em

    considerao no momento das indicaes de leituras.

    No terceiro captulo faz-se uma descrio histrica da escola Florestan Fernandes

    do Assentamento Terra Vista, apresenta a unidade escolar j nos o histrico da

    unidade escolar aborda a luta e a conquista do MST, em 25 anos de luta no Brasil

    em que um dos desafios maior a questo da educao na contextualizao local, oAssentamento Terra Vista foi uma luta e conquista histrica, em maro de 1993 os

    trabalhadores rurais sem terra, organizados e conscientes do que queriam deram

    incio a um grande acampamento. O 3.1- relata o papel dos educadores na formao

    de leitores na escola Florestan Fernandes onde o professor deve mostrar ao aluno

    que a leitura requer cuidados. E por fim o 3.2- descreve a coleta de dados feita

    atravs do questionrio aplicado com educandos (as) e educadores (as) das sries

    iniciais.

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    CAPTULO I

    .

    REFERENCIAL TERICO

    1.1- A LEITURA NO CONTEXTO ESCOLAR: UMA ABORDAGEM REFLEXIVA

    O desenvolvimento cognitivo do educando, desde o primeiro dia, se opera

    pela inferncia do sentido de certos elementos de uma situao fortemente

    envolvente. A partir das situaes nas quais interage, o educando cria um sistema

    provisrio que lhe permite antecipar ndices pertinentes para a classificao, a

    denominao, a ao.Ler no consiste em encontrar o oral no escrito, nem mesmo nos pases em

    que a escrita, por motivos muito pouco relacionados leitura, tem uma

    correspondncia aproximativa com o oral. Tanto no Brasil como em qualquer outro

    pas, a escrita a linguagem que se dirige aos olhos e funciona e evolui para a

    comodidade dessa comunicao visual. A correspondncia aproximativa com o oral

    uma caracterstica suplementar, que no afeta os processos de leitura

    (FOUCAMBERT, 1994).A concepo que a escola tem sobre o que ler reflete-se necessariamente

    na posio de seu ensino, de maneira que, quando se analisa a evoluo das

    atividades de leitura mais freqentes, pode-se ver sua correspondncia com a

    evoluo dos conceitos envolvidos nessa aprendizagem.

    Kleiman (1998, p. 31) salienta que:

    A concepo de leitura que a considera como uma atividade a ser ensinadana escola, no como mero pretexto para outras atividades e outros tipos deaprendizagem, est embasada em modelos j bem definidos sobre como seprocessam as informaes. Esses modelos lidam com os aspectos ligados relao entre o sujeito leitor e o texto enquanto objeto, entre linguagemescrita e compreenso, memria, inferncia e pensamento.

    Esses modelos tentam incorporar aspectos socioculturais da leitura, uma vez

    que vo desde a percepo das letras at o uso do conhecimento armazenado na

    memria. Contudo, esses modelos se voltam para os complexos aspectos

    psicolgicos da atividade, apontando para as regras do ato de ler, para a atividadeintelectual em que o leitor ideal se engajaria. Ela comea pela apreenso do objeto

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    atravs dos olhos e com o objetivo de interpret-lo.

    No entendimento de Kato (1995, p. 31):

    O conhecimento do aspecto psicolgico, cognitivo da leitura importanteporque ele pode nos alertar de maneira segura, contra as prticaspedaggicas que inibem o desenvolvimento de estratgias adequadas paraprocessar e compreender o texto. Esse conhecimento pode ainda nosalertar para os obstculos compreenso que decorrem de aspectos dotexto, que por diversas razes, tornam o processamento mais difcil.

    O professor que tem conhecimento sobre o desenvolvimento humano e sobre

    os processos de aprendizagem encontra-se em melhores condies para

    compreender seus alunos e atender s suas necessidades. Alm disso, poder

    selecionar metodologias adequadas para fornecer as oportunidades escolares de

    que a criana necessita para seu desenvolvimento comum ser em sua totalidade.

    H muitas outras implicaes prticas no estudo do desenvolvimento da criana.

    Podemos examinar diferentes fatores na vida de uma criana e tent-la imagin-la

    em sua vida adulta, em seu comportamento futuro.

    Do ponto de vista de Piaget, o professor, ao compreender como o sujeito

    constri o conhecimento de cada estgio de seu desenvolvimento, tornam-se capaz

    de adequar os mtodos de ensino as habilidades de seus alunos. Dessa forma, possvel identificar desse processo os fatores que interfere na aprendizagem: Tanto

    os que potencializam quanto os que prejudicam.

    O processamento do objeto comea pelos olhos, que permitem a percepo

    do material escrito, sendo que esse material passa ento a uma memria de

    trabalho que o organiza em unidades significativas.

    A concepo de que a escola tem do que ler reflete-se necessariamente na

    proposio de seu ensino, de maneira que, quando se analisa a evoluo dasatividades de leitura mais freqentes na escola, pode-se ver sua correspondncia

    com a evoluo dos conceitos envolvidos nessa aprendizagem.

    A lecto-escrita estabeleceu um marco histrico no processo da comunicao

    humana.

    Foi o signo impresso que nos permitiu avanar para alm do uso da memria

    como forma de conservao do conhecimento produzido. Nesse sentido, a leitura e

    a escrita tm grande importncia como prtica social e cultural e, por esse motivo,no podem ser vistas pelas aes mecanicistas, mas, por meio atravs de um

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    sujeito cognoscente, inserido num meio que lhe proporciona conflitos para que

    possa desenvolver-se.

    Vygotski (1984) salienta que toda a aprendizagem deve ter significado,

    sentido para acriana e precisa surgir de uma necessidade interior para ser,

    posteriormente, necessria e relevante para ela. Para existir uma aprendizagem da

    linguagem escrita, imprescindvel que o ato de leitura e de escrita permita ao

    indivduo o pensamento e a expresso de suas idias, opinies e sentimentos.

    Essa compreenso reflexiva s apropriada com uma aprendizagem da lecto-

    escrita que tenha significado, que satisfaa as necessidades reais e insira-se em

    uma prtica social, dessa forma, ela ser um meio de ampliar as possibilidades de

    comunicao, de acesso ao conhecimento e de descoberta do prazer de ler e deescrever (GARCIA & PREZ, 2001).

    Como a lecto-escrita se constitui num dos objetivos da instruo bsica,

    relevante para todos os profissionais envolvidos com a educao da criana, o

    entendimento dos processos e das formas mediante as quais a criana chega a

    apropriar-se da leitura, da escrita e do sistema ortogrfico.

    A aprendizagem tradicional da lecto-escrita sustenta-se, em trs pressupostos

    bsicos, que determinam a idia do que a lngua escrita, do que ler e do que ensinar. No conceito de Colomer e Campos (2002, p. 58), os pressupostos so:

    Acredita que a relao entre a lngua oral e a lngua escrita a de

    simples traduo dos signos grficos aos signos.

    Entende a leitura como um processo centrado no texto do qual o leitor

    deve extrair o significado atravs de um sistema de oralizao de suas

    unidades lingsticas, para atribuir-lhes posteriormente o significado que

    se vai construindo por um processo ascendente.

    Parte de uma teoria pedaggica que concebe a aprendizagem como a

    recepo passiva do sabe do professor por parte do educando.

    Segundo Colomer e Campos, assumir ou adotar esses pressupostos gera

    uma prtica escolar que, percorre os seguintes passos: o educando inicia a

    aprendizagem da lngua escrita como um fenmeno absolutamente novo para ele. A

    escola a depositria desse saber, e ela que programar segundo uma

    progresso cuidadosamente determinada que consista, basicamente, na

    aprendizagem das correspondncias entre fonemas da lngua e os signos grficos,desde as unidades mais simples e mais abstratas, at as mais complexas.

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    A decifrao em voz alta dessas correspondncias permitir que o educador

    controle seu domnio e o progressivo desenvolvimento da velocidade de traduo

    que dever conduzir, a saber, ler, objetivo entendido tanto no sentido de ser capaz

    de oralizar um texto como no entender o significado a partir de ouvir-se dizer a si

    mesmo.

    necessrio compreender a leitura, tentando desmistific-la, por meio de

    uma abordagem despretensiosa, mas que possibilite avaliar aspectos bsicos do

    processo, dando margem a se conhecer mais propriamente o ato de ler. Esses

    aspectos no dizer de Martins (2004, p. 36),

    Relacionam-se prpria existncia do homem, incitando a fantasia, oconhecimento e a reflexo acerca da realidade. O leitor, entretanto, poucose detm no funcionamento do ato de ler, na intrincada trama de inter-relao que se estabelecem. Ms, propondo-se a pens-lo, perceber aconfigurao de trs nveis bsicos de leitura, os quais so possveis devisualizar como nveis sensorial, emocional e racional. Cada um desses trsnveis corresponde a um modo de aproximao do objeto lido.

    Considerando-se que a leitura dinmica e circunstanciada, esses trs nveis

    so inter-relacionados, seno simultneos, mesmo sendo um ou outro privilegiado,

    segundo a experincia, expectativas, necessidades e interesses do leitor e das

    condies do contexto geral em que se insere (KATO, 1995).

    Esses trs nveis de leitura no acontecem separadamente e dentro de uma

    hierarquia, mas simultaneamente e, portanto, inter-relacionados. A leitura sensorial

    est diretamente relacionada aos sentidos; a emocional lida com todas as emoes

    e a racional concentra-se na parte intelectual, reflexiva, dinmica e questionadora,

    que fazem com que se compreenda o texto como ele se apresenta (KATO, 1995).

    Ao se inter-relacionarem, os nveis de leitura acontecem e trazem riqueza ao ato deler. No contexto escolar, estes nveis devem estar presentes, pois a leitura envolve a

    todos e a escola pode utilizar o nvel sensorial para incentivar os educandos no

    gosto pela leitura, visto que sempre se faz uso dela em diversas situaes e com

    finalidades as mais diversas. Esse nvel muito rico para ser explorado no mbito

    da escola, seja atravs do texto, de msica, de jogos, pois todos so modos de

    leitura que podem ser trabalhados em sala de aula, pois ao se trabalhar o sensorial,

    simultaneamente, se auxilia o desenvolvimento do nvel emocional, a partir dasleituras propostas caminhando assim para a formao de um leitor crtico.

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    Entender que o professor um modelo de leitor torna-se importante para os

    alunos, por isso ele deve compartilhar com as crianas as leituras realizadas em

    livros, jornais e revistas, desde que se interesse pelo o assunto, e ler para e com

    elas quantas vezes quiserem o mesmo texto ou outros textos diferentes .

    Explicar o motivo da leitura se o texto divertido, se o final inesperado, se

    informa sobre algo que est sendo estudado pela turma, se uma histria

    emocionante, se um poema bonito, entre outros.

    Demonstrar entusiasmo com a leitura realizada, voltando ao texto para reler a

    parte mais interessante os trechos que no foram entendido

    Para formar leitores, primeiramente deve-se ter paixo pela leitura. Conformaafirmado por Bellenger (1978, p. 17), que a leitura se baseia no desejo e no prazer:

    Em que se baseia a leitura? No desejo. Esta resposta uma opo. tanto

    o resultado de uma observao como de uma intuio vivida. Ler

    identificar-se com o apaixonado, com o mstico. ser um pouco

    clandestino, abolir o mundo exterior, deportar-se para uma fico, abrir o

    parntese do imaginrio. Ler muitas vezes trancar-se (no sentido

    figurado). manter uma ligao atravs do tato, de olhar, ate mesmo doouvido. As pessoas lem com seus corpos. Ler tambm sair transformado

    de uma experincia de vida, esperar alguma coisa. um sinal de vida, um

    apelo, uma ocasio de amor sem a certeza de que se vai amar. Pouco a

    pouco, o desejo desaparece sob o prazer.

    O educando no gosta de fazer aquilo que difcil demais, nem aquilo do qual

    consegue extrair o sentido. Essa uma boa caracterizao da tarefa de ler em sala

    de aula, pois para uma grande maioria dos educandos ela difcil demais,justamente porque ela no faz sentido (SILVA, 1986).

    Ningum gosta de fazer algo que acredita ser difcil demais, nem aquilo de

    que no consegue extrair sentido. dessa forma que, geralmente, a tarefa de ler e

    escrever so vista e vivida em sala de aula: difcil demais, porque no faz sentido.

    Conversando com alunos de nveis de ensino diferentes, percebemos que os

    mesmos no gostam de ler, porque sabem que ao final da leitura tero que

    responder uma lista de questes que no fazem sentido para eles. Em alguns casos,realmente, as perguntas no fazem sentido; porm, na maioria das vezes, falta

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    algum conhecimento por parte dos educandos para que possam chegar aos

    implcitos do texto.

    Kleiman (1998, p. 16) afirma que:

    Para a maioria, a leitura no aquela atividade no aconchego do lar, nocanto preferido, que nos permite nos isolarmos, sonhar, esquecer, entrar emoutros mundos e que tem suas primeiras associaes nas histrias que anossa me nos lia antes de dormir. Pelo contrrio, as primeiras lembranasdessa atividade, so as cpias maantes, a procura cansativa, at os olhosarderem, das palavras com o dgrafo que dever ser sublinhado naqueledia.

    Essas prticas sustentadas por um entendimento limitado e incoerente do que

    seja ensinar portugus, entendimento este tradicionalmente legitimado tanto dentrocomo fora da escola, so desmotivadoras, pelas conseqncias nefastas que

    trazem, provm, basicamente de concepes erradas sobre a natureza do texto e da

    leitura.

    Necessrio se faz, portanto, que o primeiro passo de educador seja negociar

    para poder ensinar a ler, a resistncia do educando. A leitura precisa ter seu

    espao no contexto escolar de maneira diferente, com uma viso mais ampla,

    dinmica, como afirma Freire (1982, p. 30): a leitura do mundo precede sempre aleitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele.

    Nos currculos da Lngua Portuguesa, identifica-se e constata-se facilmente o

    preenchimento do espao da leitura, visando consecuo de determinados

    objetivos educacionais, o que tem sido motivo de crticas e polmica.

    Sem o atendimento objetivo e equilibrado dessas condies ou pr

    requisitos de trabalho, ou o espao no produzir leitura e conseqentemente,

    leitores. Caso venha a produzi-los, a produto final, a termos qualitativos e

    quantitativos, ficar seriamente comprometido e prejudicado.

    Seguindo essa linha de analogias deve-se refletir um pouco sobre as

    sementes (os textos) que se est plantando no terreno curricular das escolas a fim

    de favorecer o surgimento e o conhecimento da leitura e do leitor.

    Os textos devem ser escolhidos de acordo com a realidade do educando, que

    possam interagir com ele e contribuir para estimular a sua vontade de ler,

    contemplando os elementos lingsticos que so de grande importncia para que se

    estabelea coerncia.

    Esses elementos permitem, entre outras coisas, que se ativem os

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    conhecimentos armazenados na memria, elaborem-se inferncias, captando-se a

    orientao argumentativa dos enunciados que compem o texto.

    Outro elemento considerado como um pr-requisito bsico para o cultivo da

    leitura o educador, responsvel pela preparao do terreno da leitura e pelo

    combate s pragas que podem colocar em risco todo o produto, ou seja, a leitura e o

    leitor.

    O educador no contexto da concepo de leitura o intelectual que segundo

    Zilberman e Silva et al (2004, p. 58):

    Delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a suapresena atuante, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente

    chegar a produzir o benefcio que a sociedade espera e deseja, ou seja,leitura e leitores assduos e maduros.

    Estudos realizados pelos autores, Silva (1986) e Zilberman (1982) mostram

    que o repertrio de leitura do professor de Lngua Portuguesa limitado e est

    estagnado, o que o leva a reproduzir mecanicamente sempre as mesmas indicaes

    e prticas de leituras junto a seus educandos.

    Silva (2002, p. 19) fazendo analogias, salienta que:

    A prpria formao do professor para o ensino da leitura deixa muito adesejar, levando a imitar procedimentos antigos ou aplicar tcnicas deensaio e erro em suas aulas. Com esse professor enfraquecido pelascircunstancias, as sementes no vingam e as ervas daninhas, juntamentecom outras pragas, comeam a se alastrar por toda rea do terreno daleitura.

    Dentre esses obstculos, situam-se os sentimentos de desnimo, apatia e

    frustrao do educador, a transferncia de responsabilidades entre os educadores, o

    autoritarismo e a estagnao de toda escola.

    A leitura no contexto da concepo escolar apresenta problemas e

    contradies que precisam ser superados para que se possam formar leitores

    conscientes e direcionados para uma leitura de mundo. O enfrentamento desses

    problemas, visando sua superao, requer a conjugao de diferentes frentes de

    trabalho, cada uma fornecendo subsdios e executando aes em prol da

    transformao, para melhor, desse espao (BELLENGER, 1978).

    Ao tratarmos da formao do leitor na escola, importante analisarmos quais

    so as concepes de linguagem, texto e leitura que caracterizam suas prticas. Os

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    estudos no campo do ensino de lngua materna nos mostram que, durante muito

    tempo, predominou a concepo de linguagem enquanto cdigo/estrutura e a de

    texto enquanto uma justaposio de palavras e frases. H mais ou menos trs

    dcadas, a linguagem passou a ser entendida como uma forma de interao situada

    em contextos scio-histricos especficos; o texto, por sua vez, visto,

    independentemente de sua extenso, como uma unidade de sentido resultante de

    processos interativos entre os sujeitos da linguagem (MARTINS, 1994).

    O trabalho do educador merece maior ateno, pois sem um educador que

    alm de se posicionar como um leitor assduo, crtico e competente, que entenda

    realmente a complexidade do ato de ler, as demais condies para a produo da

    leitura perdero em validade, potncia e efeito (COLOMER, 2002).Filosoficamente falando, o homem possui uma conscincia voltada para a

    busca incessante da verdade, para a descoberta do mundo e para a transformao

    dos elementos na heterogeneidade. E, os educadores sabem que essa afirmao

    irrefutvel, pois convivem cotidianamente com a curiosidade e a atividade dos

    educandos. Diante de um texto instigante, que fale s suas experincias e aos seus

    problemas reais, o educando se embala e se embola naturalmente sem a

    necessidade de tecnicismos pretensamente motivadores (KATO, 1995).A escola teria muito a ganhar, se os educadores retornassem, a uma tomada

    de conscincia, refletindo sobre a sua histria de leitura, despojando-se dos

    entraves burocrticos institucionais, questionando os atuais objetivos do ensino e

    tomando a leitura, segundo Orlandi (1988, p. 37) como o momento crt ico da

    constituio do texto, o momento privilegiado de interao verbal, uma vez que

    nele que se desencadeia o processo de significao. Assim, recuperando a

    naturalidade do ato de ler e eliminando obstculos enraizados na escola, como faltade material didtico e paradidtico, salas de leituras adequadas, dentre outros,

    parece ser possvel a encarnao da leitura no contexto de vida dos educandos.

    1.2 - O PAPEL DO EDUCADOR COMO MEDIADOR DE LEITURA

    Considerando-se que a leitura um ato individual de construo de

    significado num contexto que se configura mediante a interao entre autor e leitor,

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    ou seja, entre os dois, enunciao e dilogo verificam-se que as estratgias que o

    educador deve criar e utilizar na perspectiva de formao de leitor devem ser

    bastante significativas.

    Vale ressaltar que o educador necessita ser visto pelo poder pblico, no

    sentido de oferecer-lhe condies para que possa atuar como um verdadeiro

    educador. Dando-lhe condies de trabalho, salrios dignos, oferecendo recursos

    que auxiliem o trabalho pedaggico de maneira eficaz.

    Catani (1986, p. 33) retrata no texto a seguir alguns condicionamentos que

    so pertinentes a realidade do educador:

    A educao do educador um processo difcil, importante que se percebae que est acontecendo na sociedade brasileira de hoje. O educador est sereeducando em grande parte por sua ao militante, medida que aceita acondies de assalariada, que proletriza sua conscincia, portanto seusmodos de ao. Isto apesar de ser uma pessoa da pequena burguesia ou declasse mdia. Ele rompe com seus padres ou ento passam por umcomplicado processo de marginalidade cultural, porque compartilha de duasformas de avaliao; uma que mais ou menos elitista e outra que maisou menos democrtica e divergente. Nesta situao, o professor se vobrigado a redefinir sua relao com a escola, com o contedo da educao,sua relao com o estudante, com os pais do estudante e com acomunidade. Isso muito importante, quer dizer, assiste-se a um processonovo, um processo que desnivelamento econmico, social e poltico criou a

    possibilidade de que o professor defina a sua humanidade em confronto coma tradio cultural e com a opresso poltica.

    Parece consenso que uma parcela bastante significativa de educadores vem

    se atentando dos determinantes sociais relacionados s continuas opresses vividas

    na escola, buscando compreender suas razes histricas no sentido de enfrent-los

    e super-los. Existe um conjunto de aspectos que afetam o trabalho do educador e

    que podem gerar conseqncias nefastas nas esferas do ensino-aprendizagem,

    contribuindo ainda mais para a reproduo da ignorncia e da injustia no contextoda sociedade brasileira.

    As estratgias de leitura das quais fala Kleiman (1998, p. 4),

    So operaes, regulares para abordar o texto. Estas estratgias podemser inferidas a partir da compreenso do texto, por sua vez inferida a partirdo comportamento verbal e no verbal do leitor, isto do tipo de respostas,que ele d a perguntas sobre o texto, dos resumos que ele faz, de suasparfrases, como tambm da maneira com que ele manipula o objeto: sesublinha se apenas folheia sem se deterem parte alguma, se passa os

    olhos rapidamente e espera a prxima atividade comea se rel.

    As estratgias do leitor classificam-se em cognitivas e metacognitivas. As

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    primeiras so aquelas operaes inconscientes do leitor, no sentido de no ter

    chegado ainda ao nvel consciente, que ele realiza para atingir algum objetivo de

    leitura. Exemplificando o assunto, Marote e Ferro (2002, p. 32) enfatizam:

    O fatiamento sinttico uma operao necessria para a leitura, que o leitorrealiza, ou no, rpida ou cuidadosamente, isto , de diversas maneiras,dependendo das necessidades momentneas, e que provavelmente nopoder descrever. J o processamento consiste em procedimentos para osquais utilizamos conhecimento sobre o qual no temos reflexo nemcontrole consciente, , portanto realizado estrategicamente e no atravsde regras.

    Quanto s estratgias metacognitivas so aquelas realizadas segundo algum

    objetivo, sobre as quais se tem controle consciente, no sentido de ser capaz de dizere explicar a sua ao. Assim, ao se concordar que as estratgias metacognitivas da

    leitura, so primeiras, auto-avaliar constantemente a prpria compreenso, e

    segundo, determinar um objetivo para a leitura, deve-se entender que o leitor que

    tem controle consciente sobre essas operaes saber dizer quando ele no est

    entendendo um texto e para que ele est lendo um texto.

    Dentro dessa viso do processo de leitura, como um conjunto de estratgias

    cognitivas e metacognitivas de abordagem do texto, Kleiman (1998, p. 50) salienta

    que,

    O ensino estratgico de leitura consistiria, por um lado, na modelagem deestratgias metacognitivas, e, por outro, no desenvolvimento de habilidadesverbais subjacentes aos automatismos das estratgias cognitivas. Esseltimo de instruo seria realizado atravs de anlise textual caractersticada desautomatizao do processo.

    A caracterstica mais saliente do leitor proficiente sua flexibilidade na leitura.

    Ele no tem apenas um procedimento para chegar aonde ele quer, ele tem vrios

    possveis, e se um no der certo, outros sero ensaiados. Por isso, o ensino e

    modelagem de estratgias de leitura no consistem em modelar um ou dois

    procedimentos, mas em tentar reproduzir as condies que do a esse leitor

    proficiente essa flexibilidade e independncia, indicativa de uma riqueza de recursos

    disponveis.

    Para tanto, o educador deve utilizar suas estratgias, a fim de direcionar oeducando a ser um leitor experiente com caractersticas bsicas que, de acordo com

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    Zilberman e Silva (2004, p. 111),

    Tornam a sua leitura uma atividade consciente, reflexiva e intencional, ondeprimeiro ele l porque tem algum objetivo em mente, isto , sua leitura

    realizada sabendo para que esteja lendo, e, segundo, ele compreende oque l, o que seus olhos percebem seletivamente interpretado, recorrendoa diversos procedimentos para tornar o texto inteligvel quando noconsegue compreender.

    Considerando-se que o leitor tenha objetivos para a sua leitura, as estratgias

    de progresso da compreenso sero desenvolvidas naturalmente. Somente nesse

    caso, o leitor ficar ciente de um problema de compreenso, porque passar o olho

    pela pgina no o levar a atingir seu objetivo.

    O trabalho com leitura deve ser dirio. H inmeras possibilidades para isso,

    pois a leitura pode ser realizada de forma silenciosa, individualmente, em voz alta

    (individualmente ou em grupo) quando fizer sentido dentro da atividade e pela

    escuta de algum que l (FOUCAMBERT, 1994).

    A leitura colaborativa uma atividade em que o professor l um texto com a

    classe, durante a leitura, questiona os educandos sobre as pistas lingsticas que

    possibilitam a atribuio de determinados sentidos. Trata-se, portanto, de uma

    excelente estratgia didtica para o trabalho de formao dos leitores (SILVA, 2002). particularmente importante que os educandos envolvidos na atividade

    possam explicitar para os seus parceiros os procedimentos que utilizam para atribuir

    sentido ao texto: como e por quais pistas lingsticas lhes foi possvel realizar tais ou

    quais inferncias, antecipar determinados acontecimentos, validar antecipaes

    feitas, etc. (COLOMER, 2002).

    A possibilidade de interrogar texto, a diferenciao entre realidade e fico, a

    identificao de elementos discriminatrios e recursos persuasivos, a interpretaode sentido figurado, a inferncia sobre a intencionalidade do autor, so alguns dos

    aspectos dos contedos relacionados compreenso de textos, para os quais a

    leitura colaborativa tem muito a contribuir (FOUCAMBERT, 1994).

    Marote e Ferro (2002, p.74) salientam que:

    A contribuio crtica depende em grande medida desses procedimentos.Atividades Seqenciadas de leitura so situaes didticas adequadas paramover o gosto de ler e privilegiadas para desenvolver o comportamento do

    leitor, ou seja, atitudes e procedimentos que os leitores assduosdesenvolvem a partir da prtica de leitura: formao de critrio paraselecionar o material a ser lidas, constituio de padres de gosto pessoal,

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    rastreamento da obra de escritores preferidos, etc. Funcionam de formaparecidas com os projetos e podem integr-los, inclusive, mas no tm umproduto final predeterminado: neste caso o objetivo explcito a leitura emsi.

    Orlandi (1988) ressalta que, nas atividades seqenciadas de leitura pode-se,

    temporariamente, eleger um gnero especfico, um determinado autor ou um tema

    de interesse. J as atividades permanentes de leitura, so situaes didticas

    propostas com regularidade e voltadas para a formao de atitudes favorveis

    leitura. Um exemplo desse tipo de atividade a ora de... (histria, curiosidades,

    noticiais, etc), pois os educandos escolhem o que deseja ler, levam o material para

    casa por um tempo e se revezam para fazer a leitura em voz alta, na classe.

    Dependendo da extenso dos textos e do que demandam em termos de preparo, a

    atividade pode se realizar semanalmente ou quinzenalmente, por um ou mais

    educandos a cada vez. Quando for pertinente, pode incluir tambm uma breve

    caracterizao da obra do autor ou curiosidades sobre a vida.

    Outro exemplo o que se pode chamar "roda de leitores": periodicamente os

    educandos tomam emprestado um livro (do acervo de classe ou da biblioteca da

    escola) para ler em casa. No dia combinado, uma parte deles relata suas

    impresses, comenta o que gostou ou no o que pensou, sugere outros ttulos do

    mesmo autor ou conta uma pequena parte da histria para vender o livro que o

    entusiasmou aos colegas. Dessa forma, a estratgia acima relatada uma maneira

    eficaz de despertar nos educadores o interesse em ler a obra explicitada pelo

    colega.

    Assim, o professor encarregado compulsoriamente de aproximar o

    educando da leitura; porm, fundamental que ele faa esta mediao, mostrando o

    texto como algo prazeroso e no como instrumento de avaliao e tarefa. Almdisto, se o professor no for [...] crtico, sensvel, consciente e um bom leitor, jamais

    poder passar o prazer do texto, literrio ou no literrio (JOS, 1992, p.203).

    preciso ler com gosto, porm, o que acontece quotidianamente que, muitas vezes,

    o professor no tem tempo para refletir que o seu papel [...] na intermediao do

    objeto lido com o leitor cada vez mais repensado: se, da postura professoral lendo

    para e/ou pelo educando, ele passar a ler com, certamente ocorrer o

    intercmbio das leituras, favorecendo a ambos, trazendo novos elementos para ume outro (MARTINS, 1983, p.33).

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    Kato (1995) ressalta que qualquer leitor experiente que conseguir analisar sua

    prpria leitura constatar que a decodificao apenas um dos procedimentos que

    utiliza quando l: a leitura fluente envolve uma srie de outras estratgias como

    seleo, antecipao, inferncia e verificao, sem as quais no possvel rapidez e

    proficincia.

    Um leitor competente algum que, por iniciativa prpria, capaz de

    selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender

    a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratgias adequadas para abord-

    los de forma a atender a essa necessidade.

    Assim, formar um leitor competente supe formar algum que compreenda o

    que l; que possa aprender a ler tambm o que est escrito, identificando elementosimplcitos; que estabelea relaes entre o texto que l e outros textos; que consiga

    justificar e validar a sua leitura a partir da localizao de elementos discursivos.

    Nesse sentido, Martins (2004) explicita que um leitor competente s pode constitui-

    se mediante uma prtica constante de leitura de textos de fato, a partir de um

    trabalho que deve se organizar em torno da diversidade de textos que circulam

    socialmente. Esse trabalho pode envolver todos os educandos, inclusive aqueles

    que ainda no sabem ler convencionalmente.Nesse sentido, Foucambert (1994, p.63) diz que:

    A leitura na escola tem sido fundamentalmente, um objeto de ensino. Paraque possa constituir tambm objeto de aprendizagem, necessrio quefaa sentido para o educando, isto , a atividade de leitura deve responderdo seu ponto de vista, h objetivos de realizao imediata. Como se trata deuma prtica social complexa, se a escola pretende converter a leitura emobjeto de aprendizagem deve preservar sua natureza e sua complexidade,sem descaracteriz-la. Isso significa trabalhar com a diversidade de textos ede combinaes entre eles. Significa trabalhar com a diversidade de

    objetivos e modalidades que caracterizam a leitura, ou seja, os diferentes"para qus"resolver um problema prtico informar-se, diverti-se, estudar,escrever ou revisar o prprio texto e com as diferentes formas de leitura emfuno de diferentes objetivos e gneros: ler buscando as informaesrelevantes, ou o significado implcito nas entrelinhas, ou dados para asoluo de um problema.

    A escola deve oferecer materiais de qualidade, modelos de leitores

    proficientes e prticas de leitura eficazes. Essa pode ser a nica oportunidade de

    esses educandos interagirem significativamente com textos cuja finalidade no seja

    apenas a resoluo de pequenos problemas do cotidiano. preciso, portanto,

    oferecer-lhes os textos do mundo: no se formam bons leitores solicitando aos

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    Leite (2002, p.36) enfatiza que:

    preciso que antecipem que faam inferncias a partir do contexto ou do

    conhecimento prvio que possuem que verifiquem suas suposies, tantoem relao escrita, propriamente, quanto ao significado. disso que seest falando quando se diz que preciso "aprender a ler, lendo": de adquiriro conhecimento da correspondncia fonogrfica, de compreender anatureza e o funcionamento do sistema alfabtico, dentro de uma prticaampla de leitura. Para aprender a ler, preciso que o educando se defrontecom os escritos que utilizaria se soubesse mesmo ler com os textos deverdade. Os materiais feitos exclusivamente para ensinar a ler no so bonspara aprender a ler: tm servido apenas para ensinar a decodificar,contribuindo para que o educando construa uma viso empobrecida daleitura.

    De certa forma, preciso agir como se o educando j soubesse aquilo que vaiaprender. Entre a condio de destinatrio de textos escritos e a falta de habilidade

    temporria para ler automaticamente que reside a possibilidade de, com a ajuda

    dos j leitores, aprender a ler pela prtica da leitura. Trata-se de uma situao na

    qual necessrio que o educando ponha em jogo tudo que sabe para descobrir o

    que no sabe, portanto, uma situao de aprendizagem. Essa circunstancia requer

    do educando uma atividade reflexiva que, por sua vez, favorece a evoluo de suas

    estratgias de resoluo das questes apresentadas pelos textos.

    Contudo, Colomer (2002, p.152) ressalta que:

    Essa atividade s poder ser realizada com a interveno do educador, quedever colocar-se na situao de principal parceiro, agrupar seuseducandos de forma a favorecer a circulao de informaes entre eles,procurar garantir que a heterogeneidade do grupo seja um instrumento aservio da troca, da colaborao em classes numerosas nas quais no possvel atender a todos os educandos da mesma forma e ao mesmo

    tempo. A heterogeneidade do grupo, se pedagogicamente bem explorada,desempenha a funo adicional de permitir que o educador no seja o nicoinformante da turma.

    Para formar educandos leitores, portanto, preciso interagir com a

    diversidade de textos escritos, testemunharem a utilizao que os j leitores fazem

    deles e participar de atos de leitura de fato; preciso negociar o conhecimento que

    j se tem e que apresentado pelo texto, o que est atrs e diante dos olhos,

    recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes com metodologia de leitura

    inovadoras, capaz de despertar no educando o interesse pela leitura.

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    A leitura, como prtica social, sempre um meio, nunca um fim. Ler

    resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal (KATO, 1995). Fora da escola,

    no se l s para aprender a ler, no se l de uma nica forma, no se decodifica

    palavra por palavra, no se responde pergunta de verificao do entendimento

    preenchendo fichas exaustivas, no se faz desenho sobre o que no gostou e

    raramente se l em voz alta. Isto no significa que na escola no se possa

    eventualmente responder a perguntas sobre a leitura, de vez em quando desenhar o

    que o texto lido sugere, ou ler em voz alta quando necessrio. No entanto, uma

    prtica constante de leitura no significa a repetio infindvel dessas atividades

    escolares (MARTINS, 2004).

    Uma prtica incessante de leitura na escola pressupe o trabalho com adiversidade de objetivos, modalidades e textos que caracterizam as prticas de

    leitura de fato. Diferentes objetivos exigem diferentes textos e, cada qual, por sua

    vez, exige uma modalidade de leitura. H textos que podem ser lidos apenas por

    partes, buscando-se informao necessria; outros precisam ser lidos

    exaustivamente e vrias vezes.

    Bellenger (1978) aponta que h textos que se podem ler rapidamente, outros

    devem ser lidos devagar. H leituras que em que necessrio controlar atentamentea compreenso, voltando atrs para certificar se do entendimento; outras em que

    se segue adiante sem dificuldade, entreguem apenas ao prazer de ler.

    Uma prtica constante de leitura na escola deve admitir vrias leituras, pois

    outra concepo que deve ser superada a do mito da interpretao nica, fruto do

    pressuposto de que o significado est dado no texto. Kleiman (1998) afirma que o

    significado, no entanto, constri-se pelo esforo de interpretao do leitor, a partir

    no s do que est escrito, mas do conhecimento que traz para o texto. necessrio que o educador tente compreender o que h por traz dos diferentes

    sentidos atribudos pelos educandos aos textos: s vezes porque o autor "jogou

    com as palavras" para provocar interpretaes mltiplas; s vezes porque o texto

    difcil ou confuso; s vezes porque o leitor tem pouco conhecimento sobre o

    assunto tratado e, a despeito do seu esforo, compreende mal.

    H textos nos quais as diferentes interpretaes fazem sentido e so mesmo

    necessrios: o caso de bons textos literrios. H outro que no: textos

    institucionais, enunciados de atividades e problemas matemticos, por exemplo, s

    cumpre suas finalidades se houver compreenso do que deve ser feito (MARTINS,

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    2004).

    "Num contexto onde a escrita e a leitura fazem parte das prticas cotidianas, a

    criana tem a oportunidade de observar adultos utilizando a leitura de jornais, bulas,

    instrues, guias para consulta e busca de informaes especficas ou gerais; o uso

    da escrita para confeces de listas, preenchimento de cheques e documentos,

    pequenas comunicaes e atos de leitura dirigidos a ela (ouvir histrias lidas). A

    participao nessas atividades ou a observao de como os adultos interagem com

    a escrita e a leitura gera oportunidades para que a criana reflita sobre o seu

    significado para os adultos". (AZENHA, 1999, p. 44).

    Para tornar os educandos bons leitores para desenvolver, muito mais do quea capacidade de ler, o gosto e compromisso com a leitura. A escola ter de mobiliz-

    los internamente, pois aprender a ler e tambm ler para aprender requer esforo.

    Precisar torn-los achar que a leitura algo interessante e desafiador, algo que,

    conquistado plenamente, dar autonomia e independncia. Precisar torn-los

    confiantes, condio para poderem se desafiar a "aprender fazendo". Uma prtica de

    leitura que no desperte e cultive o desejo de ler no uma prtica pedaggica

    eficiente (FREIRE, 1999).Motivar na escola levar os alunos a se aplicarem no que precisam aprender.

    Segundo falco (1986), a motivao um conjunto de aplicaes, auto-conservao

    e auto-espanso, pois o homem na vida procura projetar-se para o futuro em busca

    do mais e melhor no campo escolar deve-se buscar vrios fatores que envolvam

    respeito, simpatia e afinidade entre professores, alunos, pais e funcionrios.

    As atividades devem ser de forma atraente e clara, que motive os interesses

    de todos os alunos e ajude-os a estabelecer hierarquias de valores.

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    CAPTULO II

    BREVES APONTAMENTOS SOBRE A EDUCAO DO CAMPO NO BRASIL.

    A Repblica no Brasil em 1889 estabeleceu um embate scio-pedagogico que

    acabou por culminar com a vitria do liberalismo contemporneo nas dcadas de

    1940/1950 (TORRES, 2006).

    Formando assim a Repblica Educadora, estabeleceu a escolarizao como

    alavanca para o progresso, criando na sociedade brasileira da poca um novo

    projeto de vida. Com isso as elites dominantes tiveram que abrir mo da

    escolaridade formal, dando espao s escolas pblicas. J no que se refere o meiorural, o processo escolar continuou interrompido e desordenado como sempre fora

    (SOARES, 2008).

    Com o movimento migratrio interno 1910/1920. Um grande nmero de

    rurcolas deixou o campo em busca das reas onde se iniciava um progresso de

    industrializao.

    Embora os problemas da educao no estejam localizados apenas no meio

    rural, neste a situao mais grave, pois alm de no considerar a realidade scioambiental onde cada escola est inserida, esta foi tratada sistematicamente, pelo

    poder pblico, como resduo, com polticas compensatrias, programas e projetos

    emergenciais, e muitas vezes ratificaram o discurso da cidadania e, portanto, de

    uma vida digna reduzida aos limites geogrficos e culturais da cidade, negando o

    campo como espao de vida e de constituio de sujeitos cidados.

    O modelo de desenvolvimento implementado no campo brasileiro foi to

    excludente que marca at hoje o modelo de educao adotado no Brasil. A escolabrasileira, de 1500 at o incio do sculo XX, serviu e serve para atender as elites,

    sendo inacessvel para grande parte da populao rural. Para as elites do Brasil

    agrrio, as mulheres, indgenas, negros (as) e trabalhadores (as) rurais no

    precisavam aprender a ler e escrever, pois, para desenvolver o trabalho agrcola o

    letramento era desnecessrio.

    Segundo Gadotti (2000, p.27), surgiu o Ruralismo Pedaggico. Uma escola

    integrada s condies regionais, cujo objetivo maior era promover a fixao do

    homem no campo. Na Era Vagas, tais idias viriam a ser substitudas pela

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    interpretao nacionalista, cuja prioridade estava na instalao de um processo

    industrial de base (bens de produo).

    Calazans (1993, p.40) salienta que:

    O ruralismo pedaggico pode ser caracterizado como uma tendncia depensamento articulada por alguns intelectuais que, no perodo em questo,formularam idias que j vinham sendo discutidas desde a dcada de vintee que, resumidamente, consistiam na defesa de uma escola adaptada esempre referida aos interesses e necessidades hegemnicas.

    Ao que parece nessa poca, a grande misso do professor rural seria a de

    demonstrar as excelncias de vida no campo, convencendo o homem a permanecer

    marginalizado dos benefcios da civilizao urbana.

    A implementao das Diretrizes Operacionais para Educao Bsica do

    Campo (CNE/CEB n1. 3/04/02), aprovadas pelo Conselho Nacional de Educao a

    partir do dilogo com movimentos sociais a tarefa prioritria da agenda da

    Coordenao-Geral de Educao do Campo. A meta pr em prtica uma poltica

    de Educao que respeite a diversidade cultural e as diferentes experincias de

    educao em desenvolvimento, em todas as regies do Pas, como forma de

    ampliar a oferta de educao de jovens e adultos e da educao bsica nas escolasdo campo.

    Entre seus objetivos est a valorizao do campo, que engloba os espaos da

    floresta, da pecuria, das minas, da agricultura, os pescadores, dos caiaras, dos

    ribeirinhos e dos extrativistas como espao de incluso social, a partir de uma nova

    viso de desenvolvimento. A formao de professores do campo discutida e

    trabalhada pela coordenao de Educao do Campo, como principal estratgia

    (GADOTTI, 2000).De acordo com Caldart (2004) os movimentos sociais, expressivamente o

    Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), demandam do Estado

    iniciativas no mbito da oferta de educao pblica e da formao de profissionais

    para trabalhar nas escolas localizadas no campo. Nos dias atuais, Secretarias

    Municipais e Estaduais de Educao tm organizado eventos de formao

    continuada de professores e seminrios objetivando a discusso/ construo de

    polticas pblicas da educao do campo.

    Carvalho (2006) ressalta que o Setor de Educao responsvel pela

    elaborao da proposta pedaggica do Movimento Sem Terra adota como referncia

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    Paulo Freire. Os sujeitos atuantes colocam em questo a estrutura que o

    capitalismo impe sociedade e cultura. A pauta baseada na concepo de Freire

    defende uma educao problematizadora que se fundamenta na relao dialgica

    dialtica, constituda de um dilogo vivo por ultrapassar os limites entre educador e

    educando. So as referncias que o Movimento sustenta em seu mtodo. O

    conhecimento deve surgir como novo, a partir da realidade do educando, onde ele

    reelabore e reordene seus prprios conhecimentos (GADOTTI, 1989).

    Diante do contexto, percebe-se que a educao do campo tem caractersticas

    e necessidades prprias para o aluno do campo no seu espao cultural, sem abrir

    mo de sua pluralidade como fonte de conhecimento em diversas reas.

    2.1- A PRTICA PEDAGGICA DA ESCOLA DO CAMPO

    A prtica pedaggica, entendida como uma dimenso da prtica social

    gerada no estabelecimento de relao entre os conhecimentos do processo de

    formao inicial dos profissionais da educao e os conhecimentos adquiridos no

    conjunto das aes desenvolvidas no mundo da escola e da poltica local deeducao. As prticas pedaggicas que se identificam com o posicionamento dos

    movimentos sociais quanto educao do campo e prticas reproduzem iderios do

    Brasil urbano (CAMPARATO, 2007).

    O planejamento das escolas do campo realizado com base na proposta

    pedaggica das prprias escolas com o auxlio dos Parmetros Curriculares

    Nacionais e tambm com base em aspectos da realidade da comunidade, do

    assentamento. Quanto s orientaes pedaggicas, geralmente se tem a presenada Secretaria Municipal da Educao e em algumas escolas existe a presena de

    lideranas do MST, que contribuem no momento do planejamento educacional

    (CALDART, 2004).

    Porm observa-se que a produo educacional do MST no chega s

    escolas. H um conflito a ser trabalhado no que se refere cultura, hierarquia e

    burocracia escolares. As secretarias municipais de educao "olham" com ressalvas

    para a produo do MST ou pouco conhece dela. O professor em geral no tem

    contato com tais materiais nos cursos de formao de professores ou no ensino de

    educao superior. Assim, boa parte das reflexes produzidas pelos movimentos

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    sociais sobre educao do campo no chega at aqueles que, de fato, fazem a

    realidade escolar (GOHN, 1994).

    Em relao aos contedos escolares muitos professores do relevncia aos

    aspectos da comunidade e da realidade local na seleo dos contedos escolares,

    embora o livro didtico seja o instrumento central no trato dos contedos. Morissawa

    (2001) salienta que os PCNs so citados como proposta, embora sejam um

    documento que oferece indicadores para o desenvolvimento de uma educao na

    esfera nacional. Percebe-se a importncia que a formao continuada de

    professores e de educadores poderia exercer para aqueles que atuam no campo,

    pois seria um espao propiciador de problematizao da experincia e angstias

    pedaggicas vividas, um espao de trocas e de construo de novos conhecimentoseducacionais e de apropriao de contedos escolares.

    Gohn (1994) ressalta que nas escolas onde possuem o MST os contedos

    so elaborados a partir da "realidade" dos alunos, da comunidade, "temas

    essenciais para o dia-a-dia do educando". Contedos tais como: lixo, gua, limpeza,

    atividades econmica, meio ambiente, famlia, classes sociais, direitos e deveres das

    comunidades, entre outros. Na referenciao aos temas, possvel perceber a

    preocupao com o sentido do contedo/conhecimento para a vida do aluno,embora fundamentados nas orientaes curriculares locais ou nacionais oficiais.

    O professor da escola localizada no assentamento enfrenta o conflito entre

    organizar um contedo independente das orientaes oficiais do Estado ou seguir os

    documentos e livros de sua escolha, fazendo as relaes possveis.

    Soares (2008) ressalta que a metodologia de ensino utilizadas nas escolas do

    campo so geralmente as mesmas das escolas da zona urbana com a presena de

    aulas expositivas, leitura, debates, trabalhos em grupos, rodas de conversas,trabalhos prticos, pesquisas, leituras partilhadas, desenhos, ilustraes etc. Enfim,

    a interao social sob a perspectiva da racionalidade comunicativa parece ser uma

    das caractersticas metodolgicas na prtica nas escolas do campo.

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    2.2- AS PRTICAS DE LEITURA NA EDUCAO DO CAMPO: o ato de ouvir e

    contar histrias

    A leitura e a produo textual, no ambiente escolar tanto no meio urbano

    quanto rural, exigem uma sensibilidade que se desenvolve a partir dos caminhos

    possibilitados pelo professor que assume o compromisso primeiro do ofcio: auxiliar

    o educando tornar-se um leitor autnomo e um produtor competente de textos orais

    e escritos.

    A leitura de romances, contos, literatura infantil e crnica da literatura

    brasileira abriu um leque de oportunidades para os participantes (re) conhecerem

    autores e obras, alguns dos quais j haviam ouvido falar, mas nunca tiveram aoportunidade de ler, tocar, manusear (BELLENGER, 1978).

    Com todas as possibilidades de disponibilizar ao educando materiais e novas

    prticas de leitura, ainda pauta de discusso a falta de interesse pela leitura e das

    dificuldades que o ato de ler, libertrio por natureza, tem para se ajustar aos

    paradigmas escolares. correto tambm afirmar que existe uma srie de

    expectativas sociais em relao ao compromisso da escola de formar leitores.

    Estando os textos presentes em todas as disciplinas, o sucesso do aluno, no interiorda sala de aula, ou fora dela, depender, e muito, da sua competncia como leitora

    (COELHO, 2000).

    Para isso, preciso ter clareza de que compreender e interpretar textos so

    aes que o leitor realiza no prprio ato de ler. Um livro pode mobilizar intensamente

    um leitor, provocar verdadeiros terremotos internos, constitui-se em uma experincia

    fundadora, e para isso basta ler e deixar-se tocar pelas palavras. Organizar um

    projeto de leitura na escola pressupe um ponto de partida fundamental: aceitar quea leitura em si um trabalho, mesmo que no d para passar visto (NBREGA,

    2002).

    Para tornar os alunos bons leitores para desenvolver, muito mais do que a

    capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura, a escola ter que

    mobiliz-los internamente, pois aprender a ler e tambm ler para aprender requer

    esforo. Precisar faz-los achar que a leitura algo interessante e desafiador, algo

    que conquistando plenamente, dar autonomia e independncia. Precisar torn-los

    confiante, condio para poderem se desafiar a aprender fazendo. Uma prtica de

    leitura que no desperte e cultive o desejo de ler no uma prtica pedaggica

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    eficiente.

    Quando se trata da Educao do Campo, especialmente em Assentamentos,

    Dal Ri e Vieitez (2004, p.43) ressaltam que:

    Existe a preocupao de colocar disposio dos alunos interpretaesanalticas que no apenas evidenciam o papel histrico das classessubalternas, como tambm apresentam de forma positiva os seus valorese feitos, os quais aparecem contrapostos aos das classes dominantes.

    E atravs de uma proposta de leitura crtica, geradora de discusses orais em

    torno de temticas variadas possvel promover o desenvolvimento de habilidades

    para falar e ouvir, respeitando a diversidade dos pontos de vista apresentados.

    Chartier e Hebrand (1995) enfatizam que Crculos de Leitura um exemplo

    de prtica de leitura diferente que possibilita aos alunos experimentarem diferentes

    dimenses do ato de ler, compreendendo a leitura como entretenimento, mas

    tambm como ferramenta para aprender novos contedos, ampliando, de maneira

    progressiva, a sua competncia leitora. Assim como, busca desenvolver a

    capacidade de crtica, estimulando a reflexo sobre o que lido, confrontando

    diferentes olhares, principalmente quando se estava envolvidos com temas

    polmicos que expressassem anseios e preocupaes das comunidades em queesto inseridos.

    Com isso, necessrio se faz ressaltar que funo primeira do educador

    procurar oferecer ao educando, os mais variados textos, a fim de que ele tenha

    contato com discursos de caractersticas e registros de linguagem diversos, pois

    quanto mais denotativa a linguagem mais fcil e a compreenso.

    Para se ganhar e formar um leitor, preciso despertar no educando o prazer

    de realizar inmeras descobertas em um livro, uma revista, um jornal. Volumes quefalem de seus interesses individuais, da realidade de seus cotidianos, das suas

    alegrias e tristezas, das suas dores e inquietaes, dos seus sentimentos e desejos

    secretos (MACHADO, 1981).

    Para aprender a ler, portanto, preciso interagir com a diversidade de textos

    escritos, testemunharem a utilizao que os j leitores fazem deles e participar de

    atos de leitura de fato; preciso negociar o conhecimento que j se tem o que

    apresentado pelo texto, o que est atrs e diante dos olhos, recebendo incentivo e

    ajuda de leitores experientes.

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    A funo do educador, primeiramente antever o desejo e a necessidade do

    seu educando, segundo promover situaes e condies para que esse educando

    possa construir seu prprio conhecimento. Isto , fomentar e provocar um encontro

    especial entre o leitor e o texto literrio, na expectativa de formar um sujeito-leitor.

    Um leitor disposto a desvendar os mistrios do mundo e desenvolver a sua prpria

    capacidade leitora e analtica, promovendo, desse modo, o to necessrio

    autoconhecimento atravs daquilo que lido e, consequentemente, experinciado

    (KLEIMAN, 1989).

    Uma prtica constante de leitura na escola pressupe o trabalho com a

    diversidade de objetivos, modalides e textos que caracterizam as prticas de leitura

    de fato. Diferentes objetivos exigem diferentes textos e, cada qual, por sua vez,exige uma modalidade de leitura. necessrio que o professor e o educador tentem

    compreender o que h por trs dos diferentes sentidos atribudos pelos alunos aos

    textos: s vezes porque o autor jogou com as palavras para provocar

    interpretaes mltiplas; s vezes porque o texto difcil e confuso;ou porque o

    leitor tem pouco conhecimento sobre o assunto tratado e, a despeito de seu esforo

    compreende mal.

    A questo da leitura passa tambm pela questo individual de cada sujeito,inserido em um contexto histrico e sociocultural que deve ser levado em

    considerao no momento das indicaes de leituras que devem antes mesmo do

    ato de ler, agradar ao leitor (FOUCAMBERT, 1994).

    Dessa forma, o ato de contar e ouvir histrias faz parte da natureza do ser

    humano. As estrias representam um conforto para a ansiedade e a necessidade de

    compreenso do universo e da existncia, considerada tambm como uma prtica

    de leitura.Sliar (2005) comenta que o educando se abastece desse imagismo primitivo

    na construo de sua identidade. O jovem busca as histrias de aventuras que, por

    meio dos processos iniciais, que garantem o espao de superao do drama de

    assumir o mundo adulto. So formas que o homem utiliza para explicar a si mesmo e

    ao mundo. por isso que as histrias esto sempre reaparecendo de uma forma ou

    de outra na literatura infantil e juvenil.

    O Maravilhoso (conto) um dos elementos mais importantes na formao de

    um educando leitor que se sente atrado pela afetividade do contar. Scliar (2005, p.

    54) salienta que toda criana sente ansiedade diante do ato de dormir em separado

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    dos pais e que o contar estrias ameniza esta sensao tanto quanto amenizava a

    ansiedade dos povos primitivos diante da vida.

    Os contos maravilhosos descrevem uma realidade mgica na qual circulam

    personagens e seres imaginrios (fadas, anes, bruxas, ogres gigantes, reis,

    rainhas, princesas etc) que carregam toda tica valorativa das sociedades arcaicas;

    outras ainda, tais como os narrativos exemplares, revelam o mundo religioso cristo

    no dualismo da virtude e do pecado (SLIAR, 2005).

    A temtica dessas histrias sustenta-se nas necessidades bsicas do ser

    humano: a necessidade de sobrevivncia e a superao da misria, a tica do poder

    e o enfrentamento do mais forte pela astcia e esperteza, as situaes afetivas que

    exigem provas para a superao dos obstculos.A seguir Scliar (2005, p.62) apresenta algumas propostas de atividades

    possveis de serem realizadas em sala de aula. Vale lembrar que elas no so

    receitas e, por isso, necessitam ser adaptadas sua realidade de sala de aula:

    A sugesto que a professora convide seus alunos a visitarem abiblioteca da escola ou da comunidade.

    Deixar que as crianas manipulassem os livros, pois este umcontedo que tambm deve ser ensinado, uma vez que muitas crianas no

    tm esta prtica e no sabem como faz-lo.Pedir para que cada um escolha um livro de sua preferncia. Faa um

    crculo, pode ser sentados no cho, e pea para que criana diga o porquda escolha de tal livro. Seria uma avaliao diagnstica para saber apreferncia literria de seus alunos.

    Outra providncia importante seria junto com seus alunos fazer umlevantamento, na biblioteca da escola, sobre os livros que possuem contosde fadas, por exemplo.

    Levar para a sala de aula alguns desses exemplares, selecionaralguns trechos e ler para as crianas pedindo que terminem a estria emuma produo escrita. Seria interessante discutir com elas a funo donarrador, como ele conta a histria, ou de algum personagem .

    Tais observaes daro oportunidade aos educandos de perceber o grau de

    emoo, humor ou tristeza da narrativa. importante atentar para o fato de que isso

    os ajudar a procurar a melhor forma de narrar um fato ao escrever.

    Colomer e Campos (2002) refora que o clmax outro aspecto da narrativa

    que deve ser bem trabalhado, uma vez que se no for bem construdo a narrativa

    perde a possibilidade de prender o leitor. O clima de expectativa estabelecido enche

    o leitor de suspense e desejo de resolver o conflito. O significado do que se diz

    depende da forma como se diz.

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    Zilbernam (2004) ressalta que outra sugesto comparar a linguagem das

    produes, a riqueza de detalhes s inferncias do narrador, de forma a mostrar

    uma determinada interpretao. O momento da leitura muito rico e uma forma

    importante de aprendizagem.

    A autora acima citada revela ainda que nas aulas de produo de texto,

    nunca deixar de explorar o pensamento dos alunos, dessa forma eles

    percebero com muita clareza a importncia do modo como se conta

    um fato e suas implicaes (p.85). Por isso, interessante seria propor

    para que alguns alunos leiam em voz alta para a turma e pea que o

    restante da classe descubra qual o estilo escolhido.

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    CAPTULO III

    3- A ESCOLA FLORESTAN FERNANDES NO ASSENTAMENTO TERRA VISTA

    O Centro Integrado Florestan Fernandes est situado numa rea de Reforma

    AgrriaAssentamento Terra Vista Municpio de Arataca - Bahia, as margens da BR

    101-KM2 conquistada atravs da luta de um povo inserido e organizado no

    Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.

    uma Escola que tem como mantenedor o Governo do Municpio de Arataca,

    funciona no diurno e noturno, atendendo turmas do Infantil, 1, e 2 ano, 2, 3, 4

    srie e EJA. Com extenso em dois assentamentos (Rio Aliana e Diolinda Alves.Durante esses 25 anos de luta e conquistas do MST no Brasil um de seus

    maiores desafios, talvez o maior, foi questo da Educao. Neste assentamento

    tambm no foi diferente. Com o processo de luta e conquista comea-se a dar os

    primeiros passos nesta questo to importante. Em 1993 (incio do acampamento) o

    setor de educao do MST, aproveitando a estrutura j existente na rea, viabilizou

    para que alguns militantes dessem aulas para cerca de 150 crianas em dois turnos,

    diurnos e uma turma noturna para alfabetizao de jovens e adultos.Aps muitas lutas ao governo do municipal de Arataca, o movimento

    conquistou no ano de 1994 a liberao de quatro professores para trabalharem com

    a educao infantil, 1 a 4 sries e alfabetizao de jovens e adultos. Ainda que a

    rede municipal de ensino mantivesse os professores, a militncia continuou fazendo

    o trabalho de acompanhamento, estruturando e consolidando o Setor de Educao

    na Regional do Sul da Bahia.

    Durante o ano de 1997, o MST fez muitas reivindicaes e ocupaes de

    rgos municipais, estaduais e federais, conquistou a parceria com o Governo

    Federal, com o INCRA, com o Governo Estadual, com o Governo Municipal a

    construo de uma importante infraestrutura: Um novo Colgio que recebe o nome

    de: CENTRO INTEGRADO FLORESTAN FERNANDES em homenagem ao grande

    lder socilogo e professor universitrio Florestan Fernandes, com cinco salas de

    aulas, auditrio com capacidade para 150 pessoas, um refeitrio, cozinha industrial,

    cinco banheiros, uma secretaria, um espao para recreao e um espao para umacantina.

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    O Assentamento Terra Vista resultado de uma luta herica do MST

    Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Sul da Bahia. No dia 08 de

    maro de 1993 com 350 famlias de trabalhadores rurais sem terra, oriundas dos

    municpios de Arataca, Camacan, Camamu, Itabuna e Ubaitaba, organizadas e

    conscientes dos direitos humanos, ocupam a fazenda Bela Vista no municpio de

    Arataca situada na Regio Sul da Bahia.

    Foi uma luta e conquistas histricas, pois, at ento neste municpio no se

    tinha o MST conseguido nenhum xito com a insistncia a resistncia, a fora de

    vontade, e vrias mobilizaes, manifestaes e negociaes das famlias

    acampadas, finalmente em junho de 1994, o INCRA - Instituto Nacional de

    Colonizao e Reforma Agrria - emite-se posse dessa fazenda tornando - aassentamento oficial.

    Muitas famlias se intimidaram devido a confrontos e despejos desistindo da

    luta pela terra restando apenas 29 famlias assentadas com o nome Terra Vista.

    Ficou definido aps reunies e seminrios que os assentados possuam reas

    coletivas e individuais com capacidade de trabalho na unidade familiar, sendo os

    mesmos donos dos frutos da terra.

    Dois grandes desafios podem destacar entre tantos: o primeiro est voltado produo. Com o trabalho braal as famlias se desafiam e iniciam os plantios de

    cultura de curto ciclo para a auto-sustentao. O segundo est relacionada a

    educao,mesmo com muita dificuldade, inicia-se a primeira turma mutisseriadas

    das sries iniciais.

    Mesmo com todas estas dificuldades enfrentadas, a avaliao do setor de

    educao hoje, que o rduo trabalho pr ele desenvolvido durante esses anos,

    conquistou a credibilidade da sociedade da regio.

    3.1- RELAO DO MST COM A ESCOLA

    A Escola do MST uma Escola do Campo, vinculada a um movimento de luta

    social pela Reforma Agrria no Brasil. Ela uma escola pblica, com participao da

    comunidade na sua gesto e orientada pela Pedagogia do Movimento.

    A Escola do MST aquela que se faz lugar do movimento destas Pedagogias,

    desenvolvendo atividades pedaggicas que levem em conta o conjunto das

    dimenses da formao humana. uma escola que humaniza quem dela faz parte.

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    E s far isso se tiver o ser humano como centro, como sujeitos de direitos,

    como ser em construo, respeitando as suas temporalidades.

    Para realizar a tarefa educativa de humanizao preciso perceber e levar

    em conta os ciclos da natureza e, de forma especial, os ciclos da vida humana com

    os quais estamos convivendo e queremos ajudar a formar.

    preciso tambm que a escola aceite sair de se mesma, reconhecendo e

    valorizando as prticas educativas que acontecem fora delas. (Caderno de

    Educao n09, 1999).

    importante destacar os Princpios Filosficos e Pedaggicos da Educao

    do MST, os quais norteiam todo processo educacional, ou seja, tambm so,

    automaticamente, os princpios desta escola. De acordo com o Caderno deEducao n08 do MST- 1996, podemos destacar:

    a) Princpios Filosficos dizem respeito a nossa viso de mundo, nossas

    concepes mais gerais em relao pessoa humana, sociedade, e ao que

    entendemos que seja educao.

    1. Educao para transformao social;2. Educao para o trabalho e a cooperao;

    3. Educao voltada para as vrias dimenses da pessoa humana;

    4. Educao com/para valores humanistas e socialistas;

    5. Educao como um processo permanente de

    formao/transformao humana.

    b) Princpios Pedaggicos

    se referem ao jeito de fazer e de pensar aeducao, para concretizar os prprios princpios filosficos.

    1. Relao entre prtica e teoria;

    2. Combinao metodolgica entre processos de ensino e de

    capacitao;

    3. A realidade como base da produo do conhecimento;

    4. Contedos formativos socialmente teis;

    5. Educao para o trabalho e pelo trabalho;

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    6. Vinculo orgnico entre processos educativos e processos

    polticos;

    7. Vnculo orgnico entre processos educativos e processos

    econmicos;

    8. Vnculo orgnico entre educao e cultura;

    9. Gesto democrtica;

    10. Auto-organizao dos/das estudantes;

    11. Criao de coletivos pedaggicos e formao permanente dos

    educadores/das educadoras;

    12. Atitude e habilidade de pesquisa;

    13. Combinao entre processos pedaggicos coletivos eindividuais.

    Na concepo do Movimento, entendemos por princpios algumas

    idias/convico/formulaes que so as balizas para nosso trabalho de educao

    no MST, so o resultado de prticas realizadas, das experincias que estamos

    acumulando nestes anos de trabalho. (Caderno de Educao n08, 1996).

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    3.2 - O PAPEL DOS EDUCADORES NA FORMAO DE LEITORES

    NA ESCOLA FLORESTAN FERNANDES.

    Quando os educadores tomarem conscincia de que leitura de grande

    relevncia e que todas as disciplinas tm que exercer esse papel importante na vida

    do educando, ele se sentir motivado para realizar qualquer atividade de leitura que

    proporcionar uma viagem sem sair do lugar, transformando essa leitura em ato

    prazeroso e no apenas como uma atividade obrigatria e avaliativa.

    importante o educador ter em mente que de fundamental importncia a

    elaborao de uma boa aula a ser aplicada nas sries iniciais apresentando aoseducandos informaes baseados em fatos condizentes com o seu desenvolvimento

    intelectual e com os seus interesses fazendo com que ele descubra sua capacidade

    de se envolver com a leitura conquistando a sua autonomia como leitor.

    Afirmando o que foi descrito sobre o papel do educador na formao do leitor

    Silva afirma que,

    Ns, professores de todas as reas, em vez de nos limitarmos a

    choramingar que nossos alunos no tm o hbito de leitura, devemosnos dedicar a propiciar prazer, diverso, conhecimento, liberdade,uma vida melhor, enfim.

    E essas oportunidades tero de ser tantas quantas forem necessriapara que o aluno passe a gostar de ler e, por isso, contraria anecessidade de leitura e que esta vire hbito (Silva,1998,p.15).

    3.3- Anlise da coleta de dados

    A coleta de dados foi relevante para o desenvolvimento deste trabalho

    monogrfico. Pois atravs desta, obtive respostas para os meus questionamentos a

    cerca das dificuldades encontradas pelos educandos em fase inicial da leitura, que

    servir como base nesse estudo e o aperfeioamento sobre a minha prtica como

    educadora.

    Estando eu, desenvolvendo um trabalho de acompanhamento pedaggico

    nesta Unidade Escolar, essa pesquisa, facilitar o meu desempenho juntamente comos docentes, a fim de melhorar prtica de leitura com os discentes, pois esse o

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    objetivo de uma escola participativa, qualificativa e quantitativa.

    Para Gil (1999, p.42), a pesquisa tem um carter pragmtico, um processo

    formal e sistemtico de desenvolvimento do mtodo cientfico. O objetivofundamental da pesquisa descobrir respostas para problemas mediante oemprego de procedimentos cientficos.

    a) O campo de Pesquisa:

    Os dados foram obtidos na Escola Florestan Fernandes de Ensino

    Fundamental I na Rede Municipal, localizada no Assentamento Terra Vista do

    Municpio de Arataca- Bahia.

    b) Perfil dos Informantes

    Atravs da pesquisa qualitativa, coletei informaes a cerca do tema do meu