Jrihur ao onsecã e^y BERIBÉRI - Repositório … * * Apesar do muito que a respeito desta doença...
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Jrihur ao onsecã
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BERIBÉRI (BREVE ESTUDO)
DISSERTAÇÃO INAUGURAL
APRESENTADA A
Escola Med ico-C i ru rg ica do Porto
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PORTO- IMPRENSA NACIONAL Rua da Picaria, 35
1906
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ESCOLA MEDICO-GIRUR&ICA DO PORTO DIRECTOR
ANTONIO JOAQUIM DE MORAES CAUDAS SECRETARIO- INTERINO
José Alfredo Mendes de Magalhães
CORPO DOCENTE
Lentes Cathedraticos
i." Cadeira —Anatomia desciipiiva S e r a ' Luiz de Freitas Viegas.
s." Cadeira - Physiologia . . . Antonio Piacido da Costa. 3." Cadeira —Historia natural dos
medicamentos e materia me-d lCi l Illydio Ayres Pereira do Valle.
4." Cadeira— Patliologia externa e therapeutica externa . . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas.
5.» Cadeira —Medicina opetatoria . Clemente J. dos Santos Pinto. 6.» Cadeira— Partos, doenças das
mulheres de parto e dos re-cem-nascidos Cândido Augusto Corrêa de Pinlio.
7.» Cadeira—Patliologia interna e therapeutica interna . . . José Dias d'Almeida Junior.
8.» Cadeira —Clinica medica . . Antonio d'Azevedo Maia. 9-a Cadei ra-Cl in ica cirúrgica . . Roberto B. do Rosário Frias.
to." C a d e i r a - Anatomia pathoto-S l c a Augusto H. d'Almeida Brandão.
n . * C a d e i r a - Medicina legal . . Maximiano A. d'Oliveira Lemos. 12.* Cadeira —Patliologia geral, se-
meiologia e historia medica . Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. 13.* Cade i ra -Hygiene . . . . João Lopes da S. Martins Junior. 14. Cadeira - Histologia normal . José Alfredo Mendes de Magalhães. 15.* Cadeira — Anatomia topogra-
P h i c a • • ' Carlos Alberto de Lima. Lentes jubilados
Secção medica J o s é d . A n d r a d e G r a m a x o .
Secção cirúrgica | P<dr<> Augusto Dias. ( Dr. Agostinho Antonio do Souto.
Lentes substitutos Secção medica j Thiago Augusto d'Almeida.
' i Joaquim'Alberto Pires de Lima. Secção cirúrgica j ̂ aga.
I Antonio Joaquim de Souza Junior. Lente demonstrador
Secção cirúrgica Vaga.
A Esciila não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.
(Regulamento da Escola, de 23 de abril de 1840, art. l55.°)
AO MEU DIGNÍSSIMO PRESIDENTE DE THESE
O III."•" e Ex.'"o Sm:
P H O F E S S O R
^t)t. Csaitxaa d'cyCâneicL
ESBOÇO HISTÓRICO
Quando as epidemias do beribéri, nos meiados do século passado, attrahiram a attenção dos medicos sobre a sua origem, julgou-se encontrar os primeiros vestígios do seu estudo nos trabalhos de Bontius (1642).
Hoje a historia do béribéri está melhor conhecida, ainda que seja quasi impossível fixar a época do seu apparecimento.
Segundo Maggowan, o béribéri encontra-se des-cripto com o nome de Kioh-Ki (perna malarica) no livro chinez Neiching, attribuido a Hwangti, cerca de 2:600 annos antes de Jesus Christo.
Scheube, professor em Tokio, attribue a origem do béribéri a uma época mais recente, ao anno 330 antes de Jesus Christo. Para outros auctores japone-zes, como o barão Saneyoshi, o béribéri teria uma
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origem ainda mais recente, 200 annos antes de Jesus Christo.
Esta doença fez durante séculos estragos consideráveis nas províncias marítimas da China, onde é igualmente, conhecido pelo nome de Bing-thang (perna inchada) e de Mac-thang (inchação). Hoje parece tender a desapparecer n'este paiz, tendo a sua gravidade diminuído muito.
No Japão, segundo a these de Hassimoto, o béribéri ou Kakke, nome pelo qual é conhecido n'este paiz, só appareceu no IX século. Contrariamente ao que se passa na China, a doença n'aquelle paiz grassa com grande intensidade.
Do que levamos dito vê-se que a China e em seguida o Japão constituíram os focos iniciaes do béribéri.
Só muito mais tarde, em 1642, época em que o béribéri se desenvolveu nas índias, é que na com-municaçâo de Bontius, dirigida á Companhia Neer-landeza, nos apparece a primeira descripção regular da doença com a sua significação actual.
Bontius não teve suecessores immediatos, pois só a partir do começo do século passado é que os medicos inglezes retomaram o estudo d'esta doença. Rogers, dirigindo a sua attenção para a dyspneia e edema, publicou o trabalho De Hydrope asthmatica; Carter (1847), julgando util uma nova denominação, estudou o béribéri sob o nome de Marina asthma; Mason Good, Scott e Malcolman igualmente se oc-cuparam d'esta doença sob nomes différentes.
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Em i860, com as terríveis epidemias succedidas a bordo dos navios de emigração indica, apparece grande numero de trabalhos sobre o beribéri, como os de Golfier, Guy, Fossagrives, Rochard, François, Verginaud, Feris, Corre, Laboulbéne, etc.
O mesmo se deu no Brazil com as epidemias da Bahia (1866) e Rio de Janeiro (1869), apparecendo successivamente os trabalhos de Rodrigues Moura, Silva Lima, Pacifico Pereira, Domingos Freire, Lacerda e outros.
Em 1883 publica-se em Utrecht o tratado das doenças infecciosas de Van der Heyden, onde o beribéri é muito bem estudado.
Em 1888 os professores hollandezes Pekelharing e Winckler tornaram conhecidos os resultados das suas investigações sobre a etiologia e pathogenia do béribéri.
Entre os trabalhos mais recentes citaremos as discussões feitas sobre a etiologia e a natureza infecciosa do béribéri no XIII Congresso Internacional de Medicina em Paris no anno de 1900, em que tomaram parte os snrs.: Fajardo, Cassagnon, Clarac, Nogué, Le Dantec, Kiket e Saneyoshi. As opiniões ficaram divididas entre- a theoria alimentar e a theo-ria microbiana. Um facto, porém, ficou assente: que o beribéri era uma polynévrite peripheric»: Depois apparecem numerosos trabalhos, sendo os principaes os de Le Dantec, Kermorgant, Hamilton Wright, Bolton, Preux, Le Guen, Patrick Manson, Vivian Dangerfield e Gerrard.
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Apesar do muito que a respeito desta doença se tem escripto e investigado, ainda se não conhecem perfeitamente todos os capítulos da nossa historia.
D'ahi a difflculdade em concrétisai- n'uma fórmula a definição precisa do mal. Passemos em revista as definições apresentadas pelos diversos au-ctores que ultimamente se teem dedicado ao estudo do béribéri.
Diz Roux: «Adoptaremos com algumas modificações a definição proposta por Baelz. O béribéri é uma doença raramente aguda, geralmente sub-aguda ou chronica, caracterisada por grande fraqueza, anasarca, derrames serosos nas cavidades splanchnicas e por perturbações da motilidade, da sensibilidade, da circulação e das secreções.»
Segundo Brun, «o béribéri é uma doença provavelmente infecciosa, endémica em certas regiões in-tertropicaes, de marcha rápida ou lenta, caracterisada por uma symptomatologia muito variável, cujos principaes elementos são a rigidez e o entorpecimento dos membros inferiores, dyspneia e muitas vezes também Um edema ás vezes irregular na sua marcha e nas suas localisações, edema susceptível de se généralisai- rapidamente.»
Para Brault «o béribéri, que é provavelmente uma doença infecciosa, está longe de ser ainda bem co-
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nhecido. É uma doença proteiforme, cujos sympto-mas principaes são: a rigidez e entorpecimento dos membros inferiores, as perturbações da sensibilidade e a dyspneia.»
Le Dantec opina que «o béribéri é uma doença d'origem alimentai-, caracterisada sob o ponto de vista anatómico pela existência de névrites periphe-ricas e sob o ponto de vista clinico por perturbações da sensibilidade, da motilidade e da trophicidade.»
O dr. Kermorgant entende que «o béribéri é uma doença de forma epidemica. Tem a mesma marcha d'uma névrite peripherics, attingindo ao mesmo tempo os nervos mixtos, e particularmente o sympathico e o pneumogastrico. As perturbações da sensibilidade podem ligar-se a lesões medullares.»
O dr. Bolton julga que «o béribéri é uma doença contagiosa e infecciosa, cujo gérmen vegetal ou animal pôde ficar no estado latente durante mezes, até ao apparecimento de condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Os germens proliferam e dão nascença aos symptomas característicos—fraqueza e entorpecimento dos membros inferiores, edema e perturbações cardíacas. »
A Patrick Mamou parece que «o beribéri é uma forma especifica de névrite peripherica múltipla, pro-duzindo-se endemicamente ou sob a forma de epidemias na maior parte dos climas tropicaes, subtropi-caes e ainda, sob certas condições artificiaes, nos pai-zes temperados. Os seus principaes symptomas são: edema das pernas, perturbação da motilidade e da
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sensibilidade com perda em geral dos reflexos profundos.»
O dr. Hamilton Wright refere que «o béribéri é uma doença aguda, especifica e infecciosa, proveniente d'um gérmen que penetra pela bocca e se desenvolve no tubo digestivo (estômago e duodeno), segregando uma toxina. Esta, sendo absorvida, actua por atrophia sobre as terminações periphericas dos nervos afférentes ou efferentes.»
Vivian Dangerfleld diz no seu recente trabalho que «o béribéri é uma doença tropical infecciosa, contagiosa e epidemica, caracterisada ás vezes pela presença, no sangue, de germens pathologicos pertencentes á família das coccaceas e ao género micrococcus— o micrococcus beribericus.»
Consideradas, pois, todas estas definições, pare-ce-nos mais razoáveis aquellas que, como a de Roux, só se baseiam na symptomatologia da doença, sem se préoccupai' com factos ainda hoje insufficiente-mente averiguados, como sejam a sua etiologia e pa-thogenia.
Etiologia e Pathogenia
É este um dos capítulos mais difflceis do nosso trabalho. Pôde dizer-se que o beribéri tem sido at-tribuido a todas as espécies de causa. Apesar de se haverem feito sobre esta doença muitos estudos proficientes, n'estes últimos an nos, ainda não foi possível descobrir-se a sua etiologia e pathogenia, pois todas as hypotheses formuladas teem sido refutadas, por não se acharem suficientemente fundamentadas.
Citaremos em primeiro logar as causas, que n'esta doença parecem ter uma acção predisponente. Taes são:
0 clima. — A acção do clima tem grande importância não só sobre o desenvolvimento do béribéri, mas também sobre os indivíduos já attingidos d'esta doença.
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Segundo Vivian Dangerfield, a área geographica do beriberi forma em volta do globo uma verdadeira zona comprehendida entre 35o latitude norte e 35o
latitude sul. D'entre os paizes comprehendidos n'ella que teem duas estações, fria e quente, é n'esta ultima que geralmente a doença apparece sob a forma epidemica. Nos outros em que o calor é constante, o béribéri desenvolve-se mais intensamente nos períodos das chuvas.
Também são vulgares os casos de indivíduos atacados d'esta doença, nos primeiros períodos, melhorarem consideravelmente mudando d'estes climas para outros mais temperados. A mudança de logar é um dos meios indicados no tratamento geral do beribéri.
A alimentação. — Como veremos mais adiante, no decorrer d'esté capitulo, parece que a alimentação tem grande importância na génese d'esta doença; importância tal, que ainda hoje vários pathplogistas julgam ser esta a causa productora do béribéri.
Idade, sexo, raça. — Segundo a maior parte das estatísticas, parece ser o sexo masculino o mais at-tingido por este mal; comtudo, os vários auctores ainda hoje não estão de accordo a este respeito, pois se para uns é este sexo o mais atacado, para outros é antes o feminino.
Na mulher gravida esta doença traz-lhe graves consequências, não só pelas extensas lesões nervosas e cardíacas produzidas, mas também pela difflculda-
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de que os edemas, por vezes consideráveis, dos or-. gãos genitaes externos, provocam no mecanismo do parto.
A idade em que os indivíduos são atacados de preferencia, é a de 15 a 45 annos; comtudo, ha casos, e muitos, de creanças e velhos contrahirem o béribéri, sendo aquellas as que melhor resistem.
Algumas creanças amamentadas por mães béri-béricas podem contrahir esta doença; porém muitas vezes basta desmamal-as para os symptomas desap-parecerem por completo.
O béribéri observa-se em todas as raças. E certo que as estatísticas accusam maior numero de casos nos indivíduos de raças amarella e preta. Esse excesso, porém, deve ser attribuido não só ao facto da permanência d'elles na zona privativa da doença, mas ainda á inferioridade das suas condições de vida, como seja a má alimentação, habitação, vestuário, etc.
Hereditariedade. — Ainda hoje não está averiguado se o béribéri é uma doença hereditaria. Em geral os filhos de pães béribéricos são fracos e enfesados. Os abortos nas mães béribéricas são frequentes. O leite é muito pobre em saes e matérias gordas.
A falia de hygiene, as agglomerações de indivíduos, as depressões moraes, os vicios, os traumatismos, as feridas, a pobreza, a miséria, etc. — Todas estas causas, que produzem uma decadência orgânica, predispõem o individuo a contrahir o béribéri.
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Passaremos em seguida a expor as theorias apresentadas acerca da etiologia e pathogenia do béribéri.
Theoria alimentar. — Varias substancias alimentares, como o peixe avariado, o peixe salgado e principalmente o arroz, este pelo facto de ser a alimentação exclusiva ou predominante dos povos de certos paizes orientaes, como a China, o Japão e a índia, onde o béribéri grassa com grande intensidade, teem sido incriminadas por vários auetores como produ-ctoras d'esta doença.
O modo como a alimentação era capaz de produzir o béribéri, é-nos explicado differentemente segundo os vários auetores que sustentam esta theoria.
Assim, Takaki diz-nos que o béribéri é devido a uma alimentação carente de azote. Para Le Dantec seria a alimentação exclusiva de arroz; para Brad-don, a ingestão d'um organismo especifico que sé desenvolve no arroz; para Eykmmn, o grão de arroz, uma vez introduzido no organismo, seria atacado pelos micróbios intestinaes, que originariam uma toxina produetora da doença. Mas também nos diz este auetor que na casca do arroz ha uma substancia an-ti-toxica annulladora d'esta toxina, o que torna este cereal inoffensivo quando ingerido com a casca.
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Para outros seria antes uma feita de gordura na alimentação.
Diversos factos nos apresentam estes auctores, para justificarem a sua theoria, como os de epidemias de béribéri desenvolvidas a bordo de navios de emigração indica, em que só esta foi attingida, ficando a tripulação incólume. Verificada qual a alimentação d'uns e d'outros, notou-se que a dos primeiros era exclusiva de arroz e peixe salgado, ao passo que a dos segundos era mais variada. E como estes muitos outros factos análogos.
Analysados d'uma maneira mais attenta todos estes exemplos, dados como demonstrativos da origem alimentar, viu-se que nem todos os indios que tinham a mesma alimentação foram attingidos pelo béribéri. Notou-se mais que contrahiram a doença aquelles que viviam em peores condições hygieni-cas, como em grande agglomeração em porões pequenos, sujos, com mau cheiro, sem luz nem ventilação.
De resto são muito frequentes os casos de indivíduos, que teem uma boa e variada alimentação, contrahirem o béribéri.
Nos últimos trabalhos de Hamilton Wright vê-se nas suas estatísticas o seguinte: indivíduos em cuja alimentação a proporção de azote era de i para 12 de carbone ; indivíduos em que o arroz entrava no regimen alimentar, mas cozido a vapor sob pressão; indivíduos em que nem o arroz nem o peixe salgado ou avariado entravam no seu regimen alimentar.
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Estes indivíduos também foram attingidos pelo béribéri, ainda que em menor numero.
Todos estes factos parecem justificar que a alimentação tem um papel importante na etiologia d'esta doença, não como causa productora, mas sim como causa predisponente.
Theoria microbiana. — Esta é hoje a mais seguida pelo maior numero de pathologistas e bacteriolo-gistas.
Os medicos hollandezes, Pekelharing e Winckler, dizem ter encontrado uma bacteria no sangue dos béribéricos, cuja cultura injectada repetidas vezes em diversos animaes, produzia-lhes symptomas análogos aos do beribéri.
Estas experiências porém foram refutadas por outros auctores com o fundamento de nunca terem encontrado no sangue dos béribéricos a referida bacteria.
O mesmo succedeu com os trabalhos dos illustres medicos brazileiros Pacifico Pereira e Baptista de Lacerda. O primeiro refere ter encontrado no sangue dos béribéricos um micróbio espheroidal.
Para o segundo, o agente d'esta doença seria o bacillus beribericus, que se encontra em forma de filamentos, no sangue e no tecido medullar dos homens e dos animaes attingidos.
O dr. Hamilton Wright sustenta que o béribéri é devido a um organismo especifico, que penetra na economia pela bocca e se desenvolve no tubo diges-
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tivo (estômago e duodeno), segregando uma toxina e eliminando em seguida pelas fezes. Esta toxina absorvida actua por atrophia sobre as terminações periphericas dos nervos afférentes ou efferentes.
Este gérmen, depois de expulso com as fezes, conserva ahi uma vida latente até de novo ser ingerido.
Um dos trabalhos mais recentes, a que recorremos, é o de Vivian Dangerfield, que representa o producto de sete annos d'estudos sobre esta doença na ilha da Reunião.
Este auctor assevera que o agente productor da doença é uma bacteria pertencente á familia das coccaceas e ao género micrococcus, a que dá o nome de micrococcus beribericus.
Esta bacteria apresenta-se sob a forma de cellu-las redondas, cujas dimensões variam de 0,2 a 1,5 micras (forma ordinária), reunidas duas a duas por um ponto de sua circumferencia, pela sua face plana, em zoogleias quando os elementos estão mortos, ou apresentando um aspecto alveolar ou lacunar por um artificio de preparação.
Estas différentes modificações de aspecto dependem de condições de idade, de meio e de technica, mas em nada influem nas qualidades proprias e dif-ferenciaes da espécie.
Esta bacteria é essencialmente aerobia. A exposição de tubos semeados com a cultura d'ella á temperatura de o° durante algumas horas, basta para os micrococcus perderem a sua vitalidade. Esta tam-
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bem começa a ser attingida a + S o ° ; e a + 6 o ° a exposição durante um minuto d'uma cultura recente, faz-lhe perder toda a faculdade de se reproduzir. A temperatura mais favorável é a de + 3 7 ° ; comtudo ella pôde variar entre + 2 2 ° e + 4 5 ° .
Diz-nos também este auctor que o meio mais favorável para a cultura d'esta bacteria é o de Jensen modificado; composto de gelatina gelosada ad-dicionada com a agua de arroz. Esta obtem-se cozendo o arroz em agua e sal ; esmagando este em seguida em agua distillada estéril, e por fim filtrando o composto. Este meio dá bellas culturas brancas, opacas, côr faiança, cremosa.
Nem todos os animaes são atacados da mesma sorte por esta bacteria. Alguns animaes, como o gato e o coelho, parecem possuir uma certa immu-nidade; pelo contrario, a gallinha e os pombos são muito sensíveis á invasão da bacteria.
Esta segrega uma toxina solúvel, cuja acção sobre o homem é comparável á d'um envenenamento chronico como o do alcool.
As culturas do micrococcus beribericus são alcalinas; teem quando velhas um cheiro especial, que lembra o dos doentes attingidos por esta doença. Estas culturas tomam muito difficilmente o Gramm, des-córam-se só muito lentamente pelo alcool e pela acetona; só tomam a reacção do Indol quando novas e em caldo.
O micrococcus beribericus encontra-se no homem e animaes quer vivos ou mortos.
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No homem vivo encontra-se no sangue, no tubo digestivo e no liquido cephalo rachidiano; também é frequente achar-se nos vómitos, escarros, matérias fecaes e mucosidades vaginaes.
Nos cadáveres apparece sempre associado com outros micróbios, devido á rapidez com que elles chegam á putrefacção nos paizes tropicaes.
Também nos diz Vivian Dangerfleld que este micrococcus parece ter uma acção directa e indirecta nas lesões anatomo-pathologicas d'esta doença. Assim, as lesões endotheliaes das artérias, as embolias cerebraes e pulmonares, os infartos medullares, as tromboses e suas consequências, seriam devidas á sua acção directa. Pelo contrario, a acção pathoge-nica parece sei- indirectamente a consequência d'uma toxihemia nos casos de degenerescência dos tecidos do systema neuro-muscular, nas lesões dos diversos plexos e na proliferação polynevritica da bainha de Schwan.
Patrick Manson não tendo nunca encontrado, nas suas investigações, micro-organismo algum que podasse considerar como agente d'esta doença, diz-nos no seu tratado de Maladies des Pays chauds, que o béribéri é produzido por um gérmen, que não vive no organismo, mas no solo ou nas habitações dos paizes onde grassa esta doença.
Segrega uma toxina que, ingerida pelo homem, produz-lhe uma névrite análoga á produzida pelo alcool.
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A muitas outras causas tem sido attribuido o béribéri, como: á malaria, ao escorbuto, ao parasita intestinal ankilostoma duodenal, a intoxicação arse-niacal, ao rheumatismo, á anemia, etc. ; causas que hoje estão por completo banidas do quadro etiológico da doença.
Symptomatologia
Distinguiremos na symptomatologia do béribéri três períodos: i.° o de incubação; 2.° o de invasão ou de estado; 3.0 o de separação ou de morte.
Período de incubação. — Tanto a duração como os primeiros symptomas d'esté período, são variáveis segundo os vários auctores, que consultamos para escrever o nosso trabalho.
O professor Gerrard considera a duração do período de cinco a quinze dias, e como primeiros symptomas as perturbações digestivas e a febre de typo irregular.
Para Baelz este seria mais longo, estendendo-se de duas semanas a mezes.
Como acima dissemos, Gerrard considera a febre
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como um dos primeiros symptomas, encontrando-a em /6 % dos casos observados por elle.
Hoje, parece estar demonstrado pela maior parte dos auctores que o beribéri é uma doença apyretica. Se alguma vez apparece febre quer no começo quer na evolução d'esta doença, a sua causa deve ser procurada em outra qualquer doença que se desenvolva conjunctamente com o béribéri. Muitas vezes ella é devida ao impaludismo, tão frequente na zona onde existe o béribéri.
Na maior parte dos casos este período passa despercebido, por as manifestações symptomaticas ap-parecerem bruscamente.
Vivian Dangerfield diz que os únicos podromas n'esta doença são um começo de insensibilidade e fraqueza nos membros inferiores e as perturbações digestivas.
Período de invasão ou de estado. — É n'este que a grande variedade de symptomas característicos da doença nos apparecem d'uma maneira mais ou menos intensa.
Começaremos pela descripção das perturbações digestivas, consideradas, conforme vimos, como um dos primeiros symptomas da doença. Estas são ca-racterisadas por anorexia, appetite caprichoso, dor epigastrica, augmentando por pressão na região py-lorica. O estômago geralmente apresenta-se dilatado; as digestões são difficeis e demoradas. Os vómitos são frequentes. Muitas vezes a ingestão de alimentos
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é seguida por sensações de calor, frio ou de dores surdas. D'ordinario existe diarrhea só ou alternada com períodos de constipação.
Um dos symptomas muito importante é a perda dos movimentos. Esta começa pelos membros inferiores, podendo attingir todo o corpo. A doença pôde começar por um simples ataque de paresia, mas esta paresia pôde terminar muitas vezes n'uma paraplegia total.
Os doentes começam por sentir nos membros inferiores uma sensação de fraqueza e cançaço análoga á provocada por uma longa caminhada ; que se vae accentuando cada vez mais, assim como as dores musculares, que, de leves a principio, se tornam violentas, augmentando por pressão, o que nos indica perturbações de sensibilidade muscular.
Ao mesmo tempo que estas perturbações de sensibilidade muscular, surge uma hyperesthesia cutanea, que se traduz por sensações de formigueiros e de queimaduras.
Os músculos vão-se atrophiando, começando esta amyotrophia pelos membros inferiores e n'estes pelos músculos da perna (solear, gémeos, peroneos late-raes e extensores). A desigualdade d'esta amyotrophia, juntamente com a fraqueza que o doente sente nos membros inferiores, faz com que na marcha tome posições viciosas.
Assim, é vulgar desviar-se para dentro a ponta do grande artelho e para fora a face dorsal do pé. O doente para andar é obrigado a arrastar os pés
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como se marchasse dentro d'agua até aos joelhos. Muitas vezes precisa d'urh ponto de apoio.
Conforme a gravidade dos casos, estas perturbações estendem-se a todo o corpo, invadindo succes-sivamente o tronco, os membros superiores e a cabeça. Quando as mãos são attingidas, também se deformam, tomando o aspecto de garras. O mesmo se dá na face, tomando os doentes uma physionomia característica, determinada pela paralysia do masse-ter e do levantador da aza do nariz e do lábio superior.
Estes phenomenos, como já dissemos, podem ir desde a diminuição dos movimentos até á sua perda completa. São devidos ás lesões de degenerescência dos nervos motores.
Mais symptomas existem devidos a perturbações nervosas, como a diminuição ou abolição dos reflexos tendinosos; sensações extravagantes sentidas pelos doentes nas mucosas, como as de calor, frio e formigueiros. Muitas vezes teem a illusão de terem a lingua cheia de cabellos. Na pelle nota-se por exploração mecânica, calórica ou eléctrica, zonas de anesthesia e analgesia.
As perturbações cerebraes existem, ainda que raramente; as faculdades psichicas são attenuadas.
Os doentes queixam-se de falta de memoria. A palavra torna-se difficil e pesada; comtudo, a
aphasia nunca foi notada. A emissão dos sons ás vezes é enfraquecida. As dores de cabeça são vulgares, tornando-se
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por vezes muito violentas. Nas formas agudas pôde haver delido.
A visão também pôde ser attingida, sendo frequente os casos de ambyolopia, estrabismo, dyplopia.
Outro symptoma importante, é o edema que caractérisa a forma edematosa.
Localisado a principio nos malleolos e face dorsal do pé, estende-se em seguida aos membros inferiores, órgãos genitaes externos, onde pôde tomar proporções enormes, abdomen, thorax, membros superiores e cabeça. Á medida que este edema se estende em superficie, vae infiltrando as camadas profundas, o tecido cellular subcutâneo, os interstícios musculares e as bainhas dos feixes vasculo-nervo-sos; pôde chegar a attingir o myolema, o nevrilema e muitas vezes o periosseo.
O edema dos órgãos traduz-se por ascite, derrames pleuraes e pericardicos.
A serosidade d'esté é de côr branca ou levemente citrina, de reacção alcalina, contendo chloreto de sódio; é desprovida de albumina, fibrina, acido úrico e urêa.
Mecanicamente produz grandes obstáculos não só aos movimentos mas ainda á respiração ; e, como já dissemos, na mulher gravida ao mecanismo do parto.
Vivian Dangerfield diz que este edema parece ser devido á alteração dos nervos trophicos vasculares, que, compromettendo ou abolindo a tonicidade das paredes vasculares, deixam transsudar o soro sanguíneo.
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As palpitações cardíacas em regra são um sym-ptoma constante no béribéri.
O exame do coração revela-nos um augmento da zona de som basso, produzido pela sua hyper-trophia ou pelo derrame pericardico.
A ponta do coração encontra-se abaixada. Os ruidos cardíacos são irregulares e tumultuosos. É vulgar ouvirem-se sopros cardíacos, assim como o triplo ruído Silva Lima, caracterisado por um sopro systolico, seguido ao desdobramento do segundo ruído.
O pulso é frequente, pequeno e fraco. A sua frequência não está em relação com a ausência dos phenomenos pyreticos, nem a sua fraqueza e pequenez com as palpitações violentas que os doentes experimentam.
As perturbações respiratórias também são muito frequentes. Pôde observar-se bronchite, tosse, .dys-pneia, orthopneia, signaes de edema pulmonar e pleu-resia.
Também se observam perturbações de innerva-Ção pulmonar. A cintura beriberica, phenomeno caracterisado por uma dyspneia intensa, dôr epigastri-ca, peso sobre o peito e construcção perithoraxica. Este phenomeno é assim denominado por produzir aos doentes uma sensação análoga á que teriam se tivessem o thorax apertado n'um colleté de ferro.
Também se observam pleurodynias, nevralgias intercostaes, espasmos da glotte e diaphragma.
Como perturbações urinarias nota-se geralmente
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uma diminuição no volume das urinas que pôde chegar á anuria. Também se pôde notar polyuria nas formas edematosas, quando o edema está em via de desapparecimento.
As urinas são geralmente acidas; conteem indicai) e são desprovidas de albumina, glicose, acido úrico em excesso ou matos.
As sensações do gosto muitas vezes são pervertidas.
As funcções genitaes são profundamente perturbadas, a potencia genital é abolida.
A laryngite é também um symptoma frequente: é devida á paralysia das cordas vocaes e ao edema da glotte.
Período de separação ou de morte. — Nos casos de tendência para a cura, os symptomas vão-se atte-nuando gradualmente, mas a recuperação das funcções perdidas ou simplesmente compromettidas é de ordinário lenta.
O doente pôde curar-se por completo, recuperando todas as suas funcções abolidas ou gravemente compromettidas; porém, casos ha em que algumas lesões ficam, como por exemplo, a dilatação do coração, ou a atrophia dos membros, com as deformidades correspondentes.
Comtudo, nunca se devem considerar completamente curados os indivíduos que contrahiram esta doença, por serem vulgares as recidivas.
Também é frequente apparecerem doenças inter-BÉRIBÉRI 3
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correntes durante a evolução do béribéri, que retardam geralmente a cura.
Nos casos fataes, a morte pôde sobrevir bruscamente ou lentamente.
No primeiro caso é consequência d'uma syncope ou d'uma embolia.
Quando a doença termina lentamente, é por asphyxia que geralmente se morre.
A dilatação cardíaca também é uma causa habitual da morte, assim como a laryngite.
Consideram-se como symptomas graves: a an-ciedade precordial intensa; a irregularidade, a fraqueza excessiva e a frequência do pulso; os ruidos tumultuosos do coração, a tachicardia, a hypothermia, a persistência dos phenomenos asphyxicos, a anuria funccional e as perturbações nervosas bul-bares.
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Para não abrir novo capitulo, additarei aqui a classificação mais seguida da doença. Baseia-se no différente aspecto clinico que o béribéri toma, conforme a predominância d'um symptoma ou d'um grupo de symptomas.
Assim, pôde o béribéri apresentar as seguintes formas clinicas: a edematosa ou hydropica, caracte-risada por predominarem os edemas d'uma maneira mais intensa; a. forma paralytica, atrophica ou secca
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em que sobresáem as alterações dos phenomenos sensitivos e motores ; a forma mixta, em que existem simultaneamente os dois grupos de symptomas d'uma maneira intensa.
Comtudo, é vulgar o facto, d'uma forma se transformar n'outra.
Anatomia pathologica
Exame macroscópico. — O habito externo varia segundo a forma clinica da doença. Ou ha um emma-grecimento muito pronunciado, como na forma paralytica; ou, pelo contrario, na forma hydropica todo o corpo se encontra edematisado, escoando-se ao corte uma quantidade enorme de liquido citrino.
Na cavidade craneana nota-se derrame intraventricular; as meninges espessas, hypermiadas, infiltradas e inflammadas, principalmente a arachnoidea e a pia-mater. Esta adhere em alguns pontos á camada cortical do cérebro, que ás vezes é molle e friável.
A medulla espinal é igualmente congestionada e semeada de manchas echimoticas; ha hydrorachis.
O coração apresenta-se de côr de folha morta; sempre hypertrophiado ou dilatado, principalmente
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nas cavidades direitas, que conteem por vezes coalhos molles. É frequente encontrar-se placas de atheroma na origem da aorta e derrame na cavidade pe-ricardica.
Os pulmões são infiltrados e engorgitados de sangue negro.
A cavidade abdominal é séde d'uma ascite considerável se o beribéri toma a forma hydropica.
As mucosas estomacal, principalmente nas visi-nhanças do pyloro, e duodenal apresentam-se hyper-meadas, tumefactas, recobertas de mucosidades vis-ceraes e muitas vezes escoriadas, com focos hemor-rhagicos e zonas de descamação. O seu epithelio des-taca-se facilmente.
O fígado e baço podem hypertrophiar-se, mas geralmente conservam-se normaes.
Os rins apresentam-se hypermiados e algumas vezes hypertrophiados.
A bexiga é normal. Os músculos encontram-se atrophiados e anemia-
dos. Certos nervos, como o sciatico e o pneumogas-
trico, apresentam-se augmentados de volume e avermelhados por partes do seu trajecto.
Exame microscópico. — Os músculos encontram-se quasi que reduzidos ao sarcolemma; as fibras são reduzidas em numero, atrophiadas ; a estriação transversal desapparece, tomando o aspecto granuloso.
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As fibras cardíacas são atacadas de degenerescência gordurosa.
E no tecido nervoso que as lesões produzidas por o béribéri são mais intensas. Estas lesões encontram-se em todo o tecido nervoso.
As cêllulas nervosas da medulla são invadidas pela proliferação da nevroglia, soffrendo a degenerescência granulo-gordurosa. A par das cêllulas assim modificadas encontram-se corpúsculos pseudo-amy-laceos; a transformação dos elementos essenciaes e accessorios em tecido de degenerescência e corpúsculos pseudo-amylaceos encontra-se generalisada a toda a medulla; cordões anteriores, lateraes e posteriores; cornos anteriores e posteriores. Notam-se também tanto na substancia cinzenta como na branca.
As lesões dos nervos pertencem á categoria de lesões de nutrição e lesões d'inflammaçao. As primeiras são caracterisadas pela fragmentação da bainha de myelina e sua infiltração de elementos amy-loides, pela destruição do cylindro eixo e hyperplasia da bainha de Schwan. As lesões inflammatorias são caracterisadas por uma hypertrophia notável de certos nervos, pela hyperhemia e pela congestão do ne-vrilema.
Exame do sangue. — O sangue apresenta-se escuro, mais fluido e menos coagulavel. Os glóbulos vermelhos encontram-se modificados, alterados e diminuídos em numero; estes tomam a forma globulo-sa, espherica e ovóide.
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Algumas vezes apresentam-se dentados, canelados, etc., e muito mais pequenos que no estado normal.
Os glóbulos brancos são augmentados em numero; encontram-se leucocytos mono e polynucleares, eosinophils e neutrophilos. A sua actividade amilóide é sensivelmente augmentada. O sangue contém menos fibrina que normalmente.
Diagnostico
De ordinário o diagnostico do béribéri não é dif-flcil. Em geral a doença apresenta-se com um ou mais dos seus symptomas característicos. Casos ha em que se torna mais difficultoso, como nas formas frustes, nas esporádicas ou ainda n'aquellas em que os symptomas d'uma doença intercurrente venha mascarar os do béribéri.
Com muitas doenças foi confundido o béribéri : o lathyrismo, o ergotismo, a pellagra, a trichinose, o mixoedema, o rheumatismo, o impaludismo, etc. ; porém estas teem uma symptomatologia e uma etiologia tão différente, que não é fácil haver confusão no seu diagnostico.
Passaremos em revista algumas das doenças com que o béribéri se pôde confundir.
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Tabes dorsalis. — A marcha do tabetico diffère notavelmente da do béribérico. O primeiro, quando caminha, lança a perna ao acaso, d'uma maneira brusca, deixando-a em seguida cahir fortemente no chão sobre o calcanhar. O segundo tem um andar arrastado : parece que não pôde com as pernas. No tabes, os músculos dos membros inferiores não são atrophiados; existem perturbações de bexiga; a abolição dos reflexos tendinosos é mais vulgar; a evolução d'esta doença é mais lenta.
Myélites. — A integridade dos esphingteres, as dores ao longo dos membros inferiores e não no ra-chis, a apyrexia e a desigual repartição das perturbações motoras predominando sobre os músculos ex-tensores, são phenomenos que afastam um diagnostico de myélite.
Polynévrite alcoólica. — Pela historia do doente, pela ausência de edema e de perturbações respiratórias, estabelece-se o diagnostico differencial entre esta doença e o béribéri.
Amyotrophia Aran-Duchene. — Diffère do béribéri em esta amyotrophia começar pelos músculos da mão, invadindo em seguida os do ante-braço, braço, espádua, lingua, lábios e músculos da pharyngé. No béribéri estas perturbações trophicas começam pelos membros inferiores.
Amyotrophia Vidpian. — Começa pelos músculos da raiz dos membros. No béribéri são os músculos das extremidades dos membros inferiores os primeiros attingidos.
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Amyotrophia de Zimmerlin. — Diffère do béribéri por se localisai- exclusivamente na parte superior do corpo.
Amyotropliia Charcot-Marie. — Differencia-se do béribéri por saltar dos membros inferiores aos superiores.
A forma hydropica do béribéri não se confundirá com as hydropisias albuminuricas, nem com a hydropisia epidemica dos paizes quentes. Nos albumi-nuricos basta a presença da albumina nas urinas para fazer o seu diagnostico. Na segunda, o edema tem uma evolução différente da do béribéri : o baço é au-gmentado de volume ; a face toma o aspecto erythe-matoso, o tronco e os membros o aspecto rubeolico, devido a um exanthema que se desenvolve passados poucos dias depois do apparecimento do edema.
Prognostico, duração e marcha
0 prognostico do béribéri deve ser sempre reservado, mesmo nos casos mais benignos. E uma doença frequente em surprezas; as recidivas e as recahi-das são vulgares.
D'uma maneira geral, o prognostico d'esta doença está em relação com a intensidade e a rapidez, com que os seus principaes symptomas se manifestam.
Assim, a irregularidade, a fraqueza excessiva e a frequência do pulso, a anciedade precordial intensa, os ruidos tumultuosos do coração, a tachicardia, o abaixamento continuo de temperatura, a persistência dos phenomenos asphyxicos, a marcha rápida de edemas, urinas raras e avermelhadas e as perturbações nervosas do bolbo, são d'um mau prognostico.
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Certas doenças anteriores mal tratadas, como a syphilis, etc., concorrem para uma terminação fatal.
A mortalidade média d'esta doença, segundo Ger-rard, é de 26,7 °/n.
O béribéri pôde apresentar uma marcha aguda ou chronica. A duração dos casos agudos seria, segundo as estatísticas de Vivian Dangerfield, de 29 dias na forma edematosa, de 135 dias na forma mixta e de 39 dias na forma paralytica.
Muitos auctores consideram ainda casos de béribéri galopante, tendo uma marcha superaguda; a duração n'estes casos seria de horas a poucos dias.
Nas formas chronicas a duração pôde estender-se de mezes a annos ; durante este período os seus sym-ptomas teem alternativas de remissão e exacerbação.
Tratamento
Dividiremos o tratamento do béribéri em geral e symptomatica
O tratamento geral consiste em collocar os doentes nas melhores condições hygienicas, dando-lhes uma habitação bem ventilada, saneada, collocada em logar secco, e uma alimentação variada, rica em azote e gordura. Como as perturbações digestivas são phenomenos vulgares na evolução d'esta doença, deve escolher-se uma alimentação que, em pequena massa, contenha uma grande proporção de azote e gordura; como os ovos, carne, leite, etc.
Outra indicação a seguir é mudar o doente de logar. São conhecidos os casos de cura ou de melhora, obtidos por indivíduos que contrahiram esta doença nos paizes tropicaes, mudando-se para outros mais temperados.
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Segundo o dr. Silva Lima, basta transferil-os para um logar secco, com uma certa altitude e nas visi-nhanças do mar.
Diz Patrick Manson, baseado na sua theoria, que deixar um béribérico no logar onde contrahiu a doença, é expôl-o a continuar a absorver a toxina geradora da doença; é o mesmo que deixai- beber alcool a um doente atacado de névrite alcoólica.
Quando esta doença apparece em qualquer estabelecimento, em que haja agglomeração de indivíduos, como escolas, prisões, navios, etc., deve-se proceder a uma desinfecção rigorosa d'estes, antes de novamente serem occupados; á melhoria da alimentação dos indivíduos que ahi residem; ao isolamento dos béribéricos e á desinfecção de todos os seus utensílios.
Hoje, ainda que não esteja provada a sua origem microbiana, está demonstrado que o beribéri é uma doença endémica, contagiosa e que em certas condições de meio se pôde tornar epidemica. Que a alimentação de má qualidade ou insufficiente, a humidade atmospherica, as habitações mal ventiladas, etc., são factores accessorios que actuam por enfraquecimento, tornando os indivíduos mais aptos a contrahir esta doença.
Muitos medicamentos teem sido indicados no tratamento do beribéri, como em geral acontece com todas as doenças para as quaes ainda não foi descoberto o remédio especifico.
Os tónicos e estimulantes (a quina, o ferro, a es-
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trychnina, o arsénio, a kola, o phosphoro, o mercúrio, etc.), teem sido os mais indicados.
Ainda hoje alguns d'estes são usados, como o cacodylato de soda em injecções hypodermicas, só ou associado com estrychnina e citrato de ferro.
O dr. Dodds diz ter tirado resultados satisfactorios com as injecções intra-musculares de permanganato de potássio.
O nitrato de prata também tem dado alguns resultados, tomado internamente.
Segundo Gerrard e Braddon, o emprego do mercúrio e estrychnina, como tratamento geral, são pre-judiciaes.
O emprego do ferro é inoffensivo, tornando-se benéfico nos casos de anemia.
O tratamento deve ser puramente symptomatico. Assim, se as perturbações digestivas predomi
nam, estão indicados os desinfectantes intestinaes (sa-lol, naphtoes, salycilatos, etc.), o bicarbonato de soda, a pepsina, os carminativos, etc. Se ha diarrhea, dão-se os compostos de bismutho, etc. Nos casos de constipação estão indicados os laxantes. Quando são os edemas que predominam, recorre-se aos diuréticos, como o sulfato, azotato ou tartarato de potassa, a theobromina, a digitalis, a scilla, etc. ; aos purgantes salinos, a jalapa, a escamonea, etc.; e aos diaphoreticos, como a pilocarpina.
Os banhos de vapor e eléctricos, assim como a massagem, teem dado bons resultados.
Se existem grandes derrames, que perturbem as BÉRIBÉRI 4
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funcções respiratórias ou cardíacas, deve-se proceder á sua evacuação.
Para as perturbações circulatórias, empregam-se os tónicos cardíacos, como a digitalis e o estrophan-tus; as inhalações de nitrito de amylo e d'oxygenio far-se-hão se ha dispnèa intensa.
Nos casos de phenomenos paralyticus emprega-se o arsénio, a estrychnina, assim como a massagem, as douches, as fricções seccas ou com líquidos estimulantes, o vinagre aromático, a terebenthina, etc.; as correntes eléctricas faradicas ou contínuas.
Na laryngite, symptoma também frequente, são indicados os collutorios de glycerina com tannino, borax, acido phenico, etc.
Como se vê, o tratamento racional etiológico do béribéri ainda hoje é desconhecido.
OBSERVAÇÃO
(Béribéri, forma mixta)
S. F . . ., 31 annos, solteiro, commerciante. Antecedentes hereditários. — Paes vivos e saudá
veis ; tem três irmãos, todos saudáveis. Antecedentes pessoaes. — Em creança teve saram
po; aos 19 annos contrahiu a syphilis; aos 22 annos teve uma anemia e impaludismo, no Alemtejo. Na Africa foi atacado outra vez pelo impaludismo e teve uma biliosa.
Historia da doença. — Conta o doente que, durante a sua estada n'Africa nos fins do anno de 1904, começou a sentir-se muito fraco, cançando bastante quando fazia qualquer esforço. Passados dias come-çaram-lhe a inchar os pés. Esta inchação, depois de estacionaria alguns dias, começou a invadir-lhe suc-cessivamente os membros inferiores, abdomen, thorax, membros superiores e cabeça. Perdeu o appetite, sentia grande peso no estômago; as digestões eram demoradas, tendo muitas vezes vómitos. Tinha grande difficuldade em respirar e sentia fortes palpitações
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cardíacas. Entrou n'este estado para o hospital de Loanda, continuando a peorar; ahi começou a ter difficuldade em fazer movimentos com os membros, chegando a ficar paralytico. Sentia grandes dores em todo o corpo, sendo preciso estarem sempre a mu-dal-o de posição. As dores de cabeça eram tão violentas, que foi necessário administrar-lhe diversos remédios para as acalmar. N'esta occasião esteve uns dias que não via, perdendo também a memoria. Conta o doente que, quando entrou para este hospital, espetaram-lhe agulhas nos membros para experimentarem a sensibilidade, não sentindo dôr alguma. Esteve cincoenta e sete dias n'este hospital, embarcando em seguida para Lisboa por consulta do medico. Durante a viagem, que durou trinta dias, começou a melhorar, não só dos edemas, que diminuíram, mas também das dores, que se tornaram muito menores. Também começou a mexer os braços e a alimentar-se melhor, desapparecendo por completo os vómitos.
Chegado a Lisboa entrou para o Hospital Colonial, onde esteve quarenta e cinco dias. Continuou a melhorar ainda que muito lentamente. Os edemas desappareceram por completo, as palpitações cardia-cas e a difficuldade em respirar diminuíram muito. Os membros inferiores é que continuavam paralysa-dos, e a falta de memoria persistia.
Para nos explicar esta falta de memoria, conta o doente que muitas vezes se esquecia de ter comido ; também não se lembrava dos nomes dos objectos que queria.
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Exame do doente. — Quando examinamos este doente, já tinha decorrido mais d'um mez da sua sahida do Hospital Colonial. Este apresenta-se bastante magro, de côr pallida. Marcha com bastante difficuldade, arrastando os pés e apoiado a uma bengala. Já não apresenta edemas; os músculos das pernas estão um pouco atrophiados. Os reflexos ro-tulianos estão diminuídos. Não se queixa de dores. Sente ainda bastante fraqueza nos membros inferiores. O estômago está dilatado. A ponta do coração bate no quinto espaço intercostal.
Por auscultação ouve-se um ligeiro sopro pre-systolico mais perceptível na ponta.
A temperatura é normal, e o pulso marca 87 pulsações por minuto.
Hesita ao pronunciar o nome d'alguns objectos, não se lembrando algumas vezes dos nomes d'elles.
Diz não sentir já palpitações nem difficuldade respiratória.
* * *
Por informações, soube que este doente tem melhorado consideravelmente, achando-se mais forte e marchando sem difficuldade.
BIBLIOGRAPHIA
— Pekelharing and Winkler. Beri-beri (Recherches concernings its nature and cause and the means of its arrests). Londres, 1893.
— Patrick Manson. Maladies des pays chauds. Paris, 1904.
— Hamilton-Wright. An inquiny into the etiology and pathology of beri-beri. Londres, 1902.
•— Hamilton-Wright. On the classification and pathology of beri-bcri. Londres, 1903.
— Almeida Magalhães. O coração no beriberi. Rio de Janeiro, 1901.
— P. N. Gerrard. Beriberi (An essay). Londres, 1904.
— Vivian Dangerfîeld. Le Beriberi. Paris, 1905. — J. B. de Lacerda. Etiologia e genesis do beri
beri. Rio de Janeiro, 1884.
PROPOSIÇÕES
Anatomia.— O principal meio de fixação do utero, é o musculo levantador do anus.
Physiologia.— A acção da saliva sobre os alimentos é mais physica que chimica.
Pathologia geral.—Considero o béribéri como uma doença microbiana.
Materia medica.— O ópio é a substancia mais importante em materia medica.
Anatomia pathologica. — A prova d'agua, como meio de apreciação de insuficiência valvular, não é segura.
Medicina operatória.— Na amputação do seio, prefiro o methodo de Halstad ao de Chalot.
Pathologia cirúrgica. — Nos traumatismos da parede abdominal, a integridade da pelle nada nos mostra sobre as lesões dos órgãos contidos na cavidade abdominal.
Pathologia medica. — O melhor tratamento da tuberculose pulmonar é o hygienico.
Partos. — Nas rupturas do pei ineo a pei ineorraphia deve ser immediata ao parto.
Hygiene. — Condemno o internato nos collegios.
Medicina legal. —A morte súbita é muitas vezes um problema insolúvel em medicina legal.
Visto. Pode imprimir-se. o>Aiacjo d'â'lmeica, íDIcotao Qcitdas,
Presidente. Director.