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JOVEM GUARDA E INDÚSTRIA CULTURAL EM CURITIBA NOS ANOS 1960 Aluno: Felipe Cavalcanti Zibetti de Souza Orientador: Prof. Dr. Renato Lopes Leite Palavras-Chaves: Rock, Indústria Cultural, Curitiba. O objetivo do presente trabalho é refletir sobre a apropriação 1 da música popular em Curitiba nos anos de 1960. Principalmente sobre as relações da Jovem Guarda com a indústria cultural. A pesquisa está divida em três partes, o primeiro capítulo trata da contextualização da cultura jovem nos EUA e na Europa. O segundo capítulo da relação entre História e Música, para no terceiro consumar análise da apropriação da Jovem Guarda em Curitiba. Utilizando como fonte recortes de Jornais e artigos sobre o tema, publicados no livro A [dês] Construção da Música na Cultura Paranaense , organizado por Manoel J. De Souza Neto 2 . A década de sessenta fora um período de grande transformações econômicas, políticas, de costumes, enfim, de reestruturação em diversos campos da vida humana. Os EUA e a Europa apresentaram-se protagonistas de tais transformações. Segundo Sean Purdy, o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos cresceu 250% entre os anos de 1945 e 1960 3 . Com a renda familiar crescente e baixas taxas de desemprego e inflação, no final da década de 50 o país contava com 6% da população mundial e consumia um terço dos bens e serviços disponíveis. Esta cultura do consumo é uma das grandes influências dos Estados Unidos no mundo capitalista. Ligadas também a esta cultura do consumo estão as idéias de liberdade e de felicidade, que perpetuaram o século XX até os dias de hoje. A Europa teve seu crescimento e expansão no período que ficou conhecido como “os trinta gloriosos” ou “os anos dourados” 4 . O desenvolvimento econômico proporcionou um ambiente favorável ao jovem e sua rebeldia, sobravam empregos e circulavam muitas idéias. Nestes trinta anos a Europa passou por um crescimento no turismo, nas comunicações (a popularização do telefone), nos transportes (com a popularização do automóvel e o combustível barato), nas tecnologias, enfim, o cotidiano estava se alterando com transformações nos mais diferentes âmbitos da vida. Nos Estados Unidos as agitações da juventude vêm ocorrendo desde a década de 1950. Uma geração desenvolvida em uma sociedade com excedentes econômicos 1 Utilizando aqui este conceito a partir da obra de Roger Chartier, O Mundo com Representação, onde o autor coloca a apropriação na relação com a obra literária. Uma relação onde o leitor na recepção da obra (o que pressupõe a circulação desta) a recria, em suas interpretações atravessadas por variáveis complexas formativas do sujeito. Roger Chartier. O Mundo Como Representação. In: Revista de Estudos Avançados, v. 5, n.11. São Paulo : Instituto de Estudos Avançados (USP), 1991, p.173-191. 2 Manoel J. De Souza Neto é um paulista radicado em Curitiba, onde desde 1990 atua como produtor de musica. É também pesquisador da cultura e da música popular paranaense. Os 39 autores deste “misto de coletâneas de artigos, fanzine, revista, documento histórico, cartilha ideológica e didática.” São “ ... alguns iniciantes, outros considerados os maiores especialistas no assunto, membros da comunidade musical do estado(pesquisadores, professores, historiadores, músicos, jornalistas)” NETO, Manoel J. De Souza. A [des]Construção da Música na Cultura Paranaense. Curitiba: Ed. Aos Quatro Ventos, 2004. P. 10. 3 PURDY, S. O Século Americano. In. História do Estados Unidos: das origens ao século XXI. - Leandro Karnal ... [et. al.] São Paulo: Contexto, 2007. p. 239. 4 HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o Breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Parte 2, capitulo 9.

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JOVEM GUARDA E INDÚSTRIA CULTURAL EM CURITIBA NOS ANOS 1960

Aluno: Felipe Cavalcanti Zibetti de Souza Orientador: Prof. Dr. Renato Lopes Leite

Palavras-Chaves: Rock, Indústria Cultural, Curitiba.

O objetivo do presente trabalho é refletir sobre a apropriação1 da música popular em Curitiba nos anos de 1960. Principalmente sobre as relações da Jovem Guarda com a indústria cultural. A pesquisa está divida em três partes, o primeiro capítulo trata da contextualização da cultura jovem nos EUA e na Europa. O segundo capítulo da relação entre História e Música, para no terceiro consumar análise da apropriação da Jovem Guarda em Curitiba. Utilizando como fonte recortes de Jornais e artigos sobre o tema, publicados no livro A [dês] Construção da Música na Cultura

Paranaense , organizado por Manoel J. De Souza Neto2. A década de sessenta fora um período de grande transformações econômicas,

políticas, de costumes, enfim, de reestruturação em diversos campos da vida humana. Os EUA e a Europa apresentaram-se protagonistas de tais transformações.

Segundo Sean Purdy, o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos cresceu 250% entre os anos de 1945 e 19603. Com a renda familiar crescente e baixas taxas de desemprego e inflação, no final da década de 50 o país contava com 6% da população mundial e consumia um terço dos bens e serviços disponíveis. Esta cultura do consumo é uma das grandes influências dos Estados Unidos no mundo capitalista. Ligadas também a esta cultura do consumo estão as idéias de liberdade e de felicidade, que perpetuaram o século XX até os dias de hoje.

A Europa teve seu crescimento e expansão no período que ficou conhecido como “os trinta gloriosos” ou “os anos dourados”4. O desenvolvimento econômico proporcionou um ambiente favorável ao jovem e sua rebeldia, sobravam empregos e circulavam muitas idéias.

Nestes trinta anos a Europa passou por um crescimento no turismo, nas comunicações (a popularização do telefone), nos transportes (com a popularização do automóvel e o combustível barato), nas tecnologias, enfim, o cotidiano estava se alterando com transformações nos mais diferentes âmbitos da vida.

Nos Estados Unidos as agitações da juventude vêm ocorrendo desde a década de 1950. Uma geração desenvolvida em uma sociedade com excedentes econômicos

1 Utilizando aqui este conceito a partir da obra de Roger Chartier, O Mundo com Representação, onde o autor coloca a apropriação na relação com a obra literária. Uma relação onde o leitor na recepção da obra (o que pressupõe a circulação desta) a recria, em suas interpretações atravessadas por variáveis complexas formativas do sujeito. Roger Chartier. O Mundo Como Representação. In: Revista de

Estudos Avançados, v. 5, n.11. São Paulo : Instituto de Estudos Avançados (USP), 1991, p.173-191. 2 Manoel J. De Souza Neto é um paulista radicado em Curitiba, onde desde 1990 atua como produtor de musica. É também pesquisador da cultura e da música popular paranaense. Os 39 autores deste “misto de coletâneas de artigos, fanzine, revista, documento histórico, cartilha ideológica e didática.” São “ ... alguns iniciantes, outros considerados os maiores especialistas no assunto, membros da comunidade musical do estado(pesquisadores, professores, historiadores, músicos, jornalistas)” NETO, Manoel J. De Souza. A [des]Construção da Música na Cultura Paranaense. Curitiba: Ed. Aos Quatro Ventos, 2004. P. 10. 3 PURDY, S. O Século Americano. In. História do Estados Unidos: das origens ao século XXI. -Leandro Karnal ... [et. al.] São Paulo: Contexto, 2007. p. 239. 4 HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o Breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Parte 2, capitulo 9.

que possibilitam um mercado cada vez maior de consumidores unidos por uma idéia de cultura juvenil, veiculada nos aparelhos de televisão, cada vez mais populares no país. O Rock and Roll se apresenta enquanto o ritmo desse novo estilo de vida. Pautado por ideais da contracultura como a liberdade, o trabalho como lazer, o anti consumismo, o hedonismo, a valorização da experiência e do sentir, o pacifismo, a liberação sexual, a defesa dos movimentos das minorias, etc.

“ A cultura jovem tornou-se a matriz da revolução cultural no sentido mais amplo de uma revolução nos modos e costumes, nos meios de gozar o lazer e nas artes comerciais, que formavam cada vez mais a atmosfera respirada por homens e mulheres urbanos.” 5

Na década de 1950 surgiu um movimento, os beats, que seria, segundo

Leuchetenburg, o “primeiro tiro de rebelião da ‘contracultura’ que iria abalar a década de 1960”6. Os beatniks partilhavam uma vida desregrada e de excessos. Tiveram sua maior relevância com o movimento literário nas figuras de Jack Kerouac, Allen Ginsberg, tido como papa do movimento, Gregory Corso, Lawrence Ferlingheti e Willian Burroughs. Esse movimento foi importante na medida que influenciou as bases formativas dos movimentos da contracultura da década de 60.

“A novidade da década de 1950 foi que os jovens das classes alta e média, pelo menos no mundo anglo-saxônico, que cada vez mais dava a tônica global, começaram a aceitar a música, as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que tomavam por tais, como seu modelo.” 7

Percebemos na explosão do Rock and Roll a maior expressão dessa

reviravolta. Expressão esta que tem suas raízes na música popular negra dos Estados Unidos: o Jazz, Blues, e Rhytm & Blues. O Rock foi produzido por negros pobres nos guetos americanos, e acabou por se tornar o gênero que embalou muitos bailes das classes altas e média. Foi a bandeira dos movimentos da juventude e da contracultura.

A mídia teve um papel importante na divulgação e transformação desta cultura jovem. Dentre as visões acerca dessa influência, a parcela mais conservadora da sociedade da época acusava à mídia o papel de estar incentivando e disseminando a cultura de rebeldia para a juventude. Por outro lado notou-se a deturpação das ideologias feita pela mídia, ao perceber como a revolução jovem se tornou um produto de alta rentabilidade. O Rock and Roll transformado em cifras milionárias no mercado fonográfico, e o movimento Hippie em uma moda com saias longas e estampas coloridas. Enfim, modificando ideais de luta em modelos e signos mercadológicos8. Acredito que ambas as concepções se envolveram e se desenvolveram em meio a cultura jovem a partir da mídia, assim ao mesmo tempo em que se divulgaram certas concepções e idéias de juventude, estas foram transformadas e reduzidas a produtos de vitrine.

Com os novos formatos de gravação (o LP e as Fitas Magnéticas), o rádio, a televisão, a influência midiática e por conseguinte da indústria cultural, os ritmos e gêneros musicais se difundiram, se confundiram, se transformaram, por ao redor do

5 HOBSBAWM, Eric. Op. Cit. p.323. 6 LEUCHTENBURG, Willian. “Cultura de Consumo e Guerra Fria” In. O século inacabado: a América desde 1900. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976, p. 809 7 HOBSBAWM, Eric. Op. Cit. p. 324. 8 GROPPO, Luís Antonio. MIDIA, SOCIEDADE E CONTRACULTURA, Revista da INTERCOM- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, XXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Campo Grande- MS.

mundo. Percebo que a indústria cultural também seguia formando esses movimentos musicais e tecnologias, numa relação de interdependência e inter-formação complexa, relacionada com as culturas de massa.

Tal como no resto do mundo, a década de sessenta no Brasil foi marcada por inúmeras movimentações sociais, educacionais, populacionais, políticas e econômicas, que transformaram o país. Durante o período das ditaduras militares, 1964-1985, principalmente na década de 60, o país passou por uma ruptura da tendência nacionalista-populista e um cerceamento nas artes e intelectualidade. Ao passo que o aumento da industrialização e internacionalização continuou em desenvolvimento, paralelo ao ideal de integração nacional.

Justamente o ideal de integração nacional acaba por fomentar a criação de uma rede integrada das comunicações. Inicialmente, a partir dos anos 30, fora a rede radiofônica que se consolidou com o passar dos anos enquanto um aparelho de comunicação em massa. A princípio o governo tentou estruturar esta rede sozinho, mas logo se juntou à iniciativa privada, o que deu uma dimensão comercial para o rádio. No início apenas 10% da programação era destinada a propaganda, mas:

“Com a legislação de 1952, que aumentou o percentual permitido para a publicidade para 20%, esta dimensão comercial se acentua, concretizando a expansão de uma cultura popular de massa que encontra no meio radiofônico um ambiente propício para se desenvolver ”9

Durante a década de 60 esse ideal de integração nacional influencia um novo

tipo de mídia: a televisão. O governo passa a integrar as redes de televisão, que no início, 1950, se restringia a circulação local. Esta integração se concretiza apenas no último ano da década de 60, e assim acaba por intervir mais significativamente na década de 1970.

Entendo a música, principalmente a música popular, enquanto um campo singular de estudos, ocupando um espaço na história sociocultural distinto. Palco de Intercessões, transformações, encontros étnicos, de classes e de regiões, que estruturam a grande teia brasileira da cultura, tal qual o historiador Marcos Napolitano10.

A partir das décadas de 70 e 80, o objeto histórico, música popular, é renovado com diferentes perspectivas de análises e problematizações. Percebe-se então que os estudos são relativamente recentes, principalmente ao que tange uma historiografia que problematiza mais o papel e lugar dessa música popular, buscando identificar relações e complexificando sua atuação em sociedade.

Porém a produção que conta a “história” da música, talvez aquela que narre a trajetória percorrida por esta, vem sendo desenvolvida desde muito tempo pelos próprios produtores, os músicos, e por jornalistas. Mas com certos “vícios” analíticos como concepções evolucionistas ou simplistas .

Na década de 90, a sociologia bastante influenciada pela antropologia, traz um novo conceito para se pensar música popular, o da “cena musical”, que seria:

“um espaço cultural no qual um leque de práticas musicais coexistem, interagem umas com as outras dentro de uma variedade

9 ORTIZ, Renato. A moderna tradição Brasileira. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1988, p. 40 10 NAPOLITANO, Marcos; História e Música – história cultural da música popular. 3. Ed., Belo Horizonte: Autentica, 2005, p. 07

de processos de diferenciação, de acordo com uma ampla variedade de trajetórias e interinfluências (apud Negus, 1999, p.22)”11

Este conceito de “cena musical” será muito útil para o presente trabalho. Na medida em que buscar-se-á levantar como esta cena se desenhou em Curitiba na década de 1960, focando a Jovem Guarda: Quais gêneros musicais contribuíram para um espaço cultural curitibano, onde se produzia e consumia certas músicas. E ainda: Quais músicas? quais produtores? Quem consumia esta música? Como foi apropriada?

Em Curitiba a cena musical da década de sessenta se apresenta muito dinâmica. Vários ritmos circulavam por aqui naquele tempo, jovem guarda, samba, MPB entre outros. Curitiba da época segue algumas tendências do mercado de bens simbólicos. Tanto o rádio como a indústria fonográfica, que na época tinha uma atuação limitada na capital paranaense, influenciavam e ditavam modismos da juventude.

No Brasil o Rock norte-americano ganhou a roupagem do iê-iê-iê da Jovem Guarda, tendo no rei Roberto Carlos juntamente com o “tremendão” Erasmo Carlos e a “ternurinha” Wanderléia os três principais ícones do estilo.

“De uma certa forma, a Jovem Guarda antecipou uma nova linguagem que atendesse simultaneamente o gosto popular e fosse mais condizente com os padrões globais da realidade mundializada”12

Na citação da professora Francisca Santos13 fica claro que a Jovem Guarda foi um movimento de recepção e apropriação da matéria prima estrangeira: o Rock.

Em Curitiba a Jovem Guarda aconteceu como um grande modismo juvenil atingindo jovens entre 14 e 16 anos aproximadamente14. Fora amplamente veiculada nas rádios locais por seus produtores e divulgadores. Nomes como Dirceu Graeser e Paulo Hilário se destacam neste contexto, “o rádio paranaense teve seus anos dourados entre as décadas de 1940 e 1960, sendo o veiculo de massa que imperava no estado” 15 .

Programas como “Clube da Juventude”, apresentado na rádio Tingui por Sensores França e mais tarde por Paulo Hilário, e “Expresso das Quintas” com Mario Vendramel pela PRB2 fizeram muito sucesso entre os adolescentes. Dirceu Graeser na Guairacá começou com o programa ”Ídolos da Juventude” e posteriormente tocou o “Favoritas da Juventude”; Mário Celso comandava o programa “Cabeludos pela Marumbi”. Também chegavam na capital paranaense programações de rádios de outros estado como a “Bandeirantes” e “Mayrink e Veiga”, ambos programas de rock.16

Além das rádios o Rock invadiu os clubes da cidade, clubes como a Sociedade Tahlia, o Concórdia, Clube Duque de Caxias, Clube recreativo entre outros. Com a chegada do Rock, mais docilizado (adjetivo muito usado para a Jovem Guarda em

11NAPOLITANO, Marcos. Op. Cit. p. 30-31. 12 SEVERINO, F. E. S. (2002) À beira do caminho: A jovem guarda prepara a mudança social. Psicologia Política p.5 13 Francisca Eleodora Santos Severino é antropóloga e doutora em Ciências da Comunicação pela USP. É docente do Programa de Mestrado em Educação, da Universidade Católica de Santos. 14 História do Rock Curitibano Parte I, Gazeta do Povo, Caderno G, pag.8, 16/01/2001 15 MANOEL, J. de Souza (ORG.) Op. Cit. p.285 16 MANOEL, J. de Souza. Op. Cit. p.290

geral) e domesticado que o estadunidense, muitas “matinês” tiveram as pistas embaladas pelo ritmo.

“O novo som da juventude circulava também em festinhas comportadas nas casas das famílias da sociedade ( as que tinham dinheiro para viajar para o exterior e comprar discos)” 17

Nas emissoras de televisão os roqueiros também tinham seu espaço. Na época

as redes de TV tinham veiculação apenas local, e não contavam ainda com uma programação cheia e nem com tantos patrocinadores. Fato que acabou propiciando a entrada do Rock na grade da programação.É certo também que a demanda da própria juventude local contribuiu para seu ingresso na TV. No canal 6 os programas eram, o do Dino Almeida, “ponto 6” de Newton Dislandes e o “Clube da Juventude” de Dirceu Graeser, no canal 12 o “Alô Juventude” de Paulo Hilário e Graeser. Mais tarde Hilário assumiu o “Festinha dos Metralhas”, e Ivo Jr. ( Ivo Rodrigues, do Blindagem) também teve seu programa o “Juventude Alegria”.

As atitudes Rock’n’Roll não chegaram junto nas ondas do rádio. Aqui aportaram apenas as melodias e modismos, que embalaram festas em clubes, sociedade, casas particulares, shows, e programas em rádios.

Nota-se então que o Rock aportou em nossa capital como um produto midiático, transformado pelo mercado e indústria cultural. As atitudes e ideologias que faziam do ritmos um movimento de rebeldia e liberação da juventude, perderam-se no processo de “fabricação” e importação na mídia.

As produções locais ficaram restritas e localizadas em Curitiba. O rádio paranaense pode ser entendido como uma mídia de “massa” dentro dos limites das próprias proporções. Neste meio o Rock’n’Roll da Jovem Guarda foi um movimento singular, justamente por ter sido apropriado pelos produtores locais. Chegou até aqui não apenas pela mídia nacional, mas também por um viés quase “direto” de comunicação com os produtores internacionais, através principalmente de discos trazidos por alguns apreciadores mais abastados. O ritmo fora difundido e incorporado na cena musical. Este estilo se produz até hoje na capital, e durante o período das décadas de 80 e 90, fora inclusive associado a uma certa identidade local, Curitiba acabou ficando conhecida pelo Brasil como um reduto do Rock underground.

17 MANOEL, J. de Souza. Op. Cit. p. 285