Jovem Do Sertão Da PB Realiza Sonho de Estudar Em Universidade Nos EUA - 09-03-2015 - Educação -...

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PUBLICIDADE Jovem do sertão da PB realiza sonho de estudar em universidade nos EUA SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BOSTON 09/03/2015 02h00 Escolher a universidade é tarefa difícil para os estudantes, mas não foi assim para o paraibano Matheus Augusto Silva, 22. Nascido no sertão, em uma família de pescadores numa cidade de 17 mil habitantes, ele tinha uma certeza: iria estudar nos Estados Unidos. Hoje, faz economia e engenharia química simultaneamente na renomada WPI (Worcester Polytechnic Institute), perto de Boston, nos EUA. Emilia Konert/Divulgação Matheus Augusto Silva, que é aluno de engenharia e economia nos EUA Compartilhar 672 Tweetar 47 20 Mais opções

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Jovem do sertão da PB realiza sonho deestudar em universidade nos EUASABINE RIGHETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BOSTON

09/03/2015 02h00

Escolher a universidade é tarefa difícil para os estudantes,mas não foi assim para o paraibano Matheus AugustoSilva, 22. Nascido no sertão, em uma família depescadores numa cidade de 17 mil habitantes, ele tinhauma certeza: iria estudar nos Estados Unidos.

Hoje, faz economia e engenharia químicasimultaneamente na renomada WPI (WorcesterPolytechnic Institute), perto de Boston, nos EUA.

Emilia Konert/Divulgação

Matheus Augusto Silva, que é aluno de engenharia e economia nos EUA

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Depoimento...

Tudo aqui nos Estados Unidos é muito diferente de onde eu vim. Na verdade, eunem sabia que existia no mundo um lugar como o que vivo hoje. Mas eu sabia queeu queria estudar em um lugar assim.

Nasci em Boqueirão, no sertão da Paraíba, uma cidade bem pequena na regiãometropolitana de Campina Grande. Lá, estudei em uma escola pública da cidade.Hoje, faço economia e engenharia química no WPI (Worcester PolytechnicInstitute), nos EUA, e já tenho uma espécie de diploma intermediário –o chamado"minor"– em bioquímica e em alemão.

Sempre gostei muito de química. Aos dez anos, tive de fazer um trabalho na minhaescola e acabei estudando um açude da cidade. Vi que a matéria orgânica einorgânica se acumulava no açude, ocupando um espaço que poderia ser da água.Sua remoção aumentaria consideravelmente o volume do reservatório. Acabou quefui apresentar o projeto que desenvolvi na escola para os vereadores e o manejo doaçude foi modificado por causa do meu trabalho.

Depois, mais velho, no 1º ano do ensino médio, acabei desenvolvendo, tambémpara um trabalho da escola, um sabão com base de tamarindo. É um fruto muitocomum na Paraíba, tem em qualquer esquina. E ele tem propriedades detergentes.Desenvolvi o sabão e até hoje tem gente produzindo.

Eu gosto dessa coisa de ver uma oportunidade, uma solução e sair fazendo. Haviatamarindo, a gente precisava de sabão, por que não fazer o sabão com otamarindo? Eu gosto de empreender e os Estados Unidos são um país perfeitopara isso. Eu já tinha lido sobre como as gigantes de tecnologias tinham sidofundadas aqui. Só que eu nunca tinha conhecido ninguém que tivesse estudadofora; ninguém da minha família havia chegado à universidade.

Sou descendente de uma família de pescadores, meu pai tem um pequenocomércio onde vende materiais de pesca e de construção. Em Boqueirão, meu avôé conhecido como "João dos covos" (covos é um material de pesca). Meu pai,Carlos de João dos covos. Eu sou o Matheus de Carlos de João dos covos! A pescaainda está bem presente na família. Mas eu resolvi seguir outro rumo.

Quando tinha 11 anos, comecei a pesquisar sobre ensino superior e achei, em umarevista, um ranking internacional de universidades. Vi que sete das dez melhoresinstituições de ensino do mundo estavam nos Estados Unidos.

Aí eu pensei: se naquele país estão as melhores do mundo, então é pra lá que euvou!

O problema é que na época eu falava pouco inglês. Consegui me matricular em umcurso gratuito, de extensão, na Universidade Federal de Campina Grande e viajava

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para fazer as aulas. Aprendi rápido o inglês, acho que tenho facilidade comlínguas. Hoje também falo francês, espanhol, alemão e mandarim.

Com inglês ficou mais fácil fazer as provas e entrar em uma universidade dos EUA.O problema era como eu iria me manter. Aí, tive de me virar de novo. Conseguiuma bolsa quase integral do WPI (Worcester Polytechnic Institute) e mais umrecurso da Fundação Estudar, do Brasil. É o suficiente para me manter nagraduação o curso todo.

Eu gosto de mexer nas coisas, descobrir as coisas. Lembro que uma vez meu paicomprou uma secretária eletrônica para a loja dele e eu comecei a mexer para vercomo funcionava. Acabou que o aparelho gravou, sem querer, meu pai dizendo"Para de mexer, Matheus!" E eu respondia "É mexendo nas coisas que se aprendecomo elas funcionam, pai." Quem ligava na loja por muito tempo ouvia essaconversa (risos).

Eu mexo em tudo, fuço em tudo. Eu descobri sozinho como era o processo paraingressar em uma universidade norte­americana.

Também descobri que os EUA valorizam os estudantes que tiram um ano sabáticoentre o ensino médio e a universidade. Assim que fui aprovado, decidi fazer omesmo. Pedi adiamento da matrícula e fui para a China para trabalhar e estudarmandarim.

Foi fantástico. Acabei virando representante comercial de uma empresa chinesa eviajava o mundo pela empresa. Eu tinha 19 anos. É uma cultura muito diferente.Sabia que na China você tem de pegar o cartão comercial das pessoas com as duasmãos? Se não fizer isso, é sinal de desrespeito.

Desde que me mudei para os EUA já fiz mais dois intercâmbios: no Canadá e naAlemanha. Aqui há muitas oportunidades internacionais.

Tem muito brasileiro aqui nos Estados Unidos na mesma situação que eu [em2013, havia 10.868 brasileiros em universidades dos EUA, de acordo com governodaquele país]. Fiquei pensando que era preciso conectar essas pessoas para trocarinformações e ideias para desenvolver o Brasil. Foi aí que criei a Brasa, sigla eminglês para "associação brasileira de estudantes [nos EUA]".

A ideia é unir os estudantes brasileiros nos EUA criando plataformas de impactodireto no nosso país. Já estamos em mais de 30 universidade americanas, temosmais de 600 membros e parcerias com empresas como BTG Pactual, McKinsey,AmBev e Heinz. Quanto mais ideias para melhorar o Brasil, melhor.

Eu quero voltar assim que me formar. No longo prazo, quero empreender, queromelhorar o país. Às vezes penso também em política, mas acho que vou acabarsendo empreendedor mesmo. O que me importa é construir algo que promovesse

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o desenvolvimento sustentável do Brasil.