Jornalismo Especializado No Brasil12!4!2015
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JORNALISMO ESPECIALIZADONO BRASIL
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Jornalismo especializado no Brasil: teoria, prtica e ensino
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULO
Diretor GeralRobson Ramos de Aguiar
Conselho DiretorPaulo Borges Campos Jr. (Presidente), Aires Ademir Leal Clavel(Vice-Presidente), Esther Lopes (Secretria)
Titulares:Afranio Gonalves Castro, Augusto Campos de Rezende, Jonas
Adolfo Sala, Marcos Gomes Trres, Oscar Francisco Alves Jr.,Ronilson Carassini, Valdecir Barreros
Suplentes:Anelise Coelho Nunes, Renato Wanderley de Souza Lima
Reitor: Marcio de Moraes
Pr-Reitora de Graduao: Vera Lcia Gouva StivalettiPr-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa:Fbio Botelho Jos-grilberg
Escola de Comunicao, Educao e HumanidadesDiretor:Nicanor LopesCoordenadora do Programa de Ps-Graduao em Comunicao:Marli dos Santos
Conselho de Poltica EditorialMarcio de Moraes (presidente), Almir Martins Vieira, Fulvio
Cristofoli, Helmut Renders, Isaltino Marcelo Conceio, Mrio
Francisco Boratti, Peri Mesquida (representante externo),Rodolfo Carlos Martino, Roseli Fischmann, Snia MariaRibeiro Jaconi
Comisso de PublicaesAlmir Martins Vieira (presidente), Helmut Renders, Jos
Marques de Melo, Marcelo Mdolo, Rafael Marcus Chiuzi,Sandra Duarte de Souza
Editor ExecutivoRodrigo Ramos Sathler Rosa
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Jornalismo
especializado no Brasil:teoria, prtica e ensino
Marli dos Santos
Wilson da Costa Bueno
Organizadores
Umesp
So Bernardo do Campo, 2015
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J769 Jornalismo especializado no Brasil: teoria, prtica e ensino /Organizao de Marli dos Santos, Wilson da Costa Bueno.So Bernardo do Campo : Universidade Metodista de So Paulo,2015.330 p.
BibliografiaISBN 978-85-7814-315-2
1. Jornalismo especializado 2. Jornalismo cientfico - Brasil 3.Imprensa brasileira 4. Comunicao - Brasil I. Santos, Marli dos II.Bueno, Wilson da Costa
CDD 070.4495
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
(Biblioteca Central da Universidade Metodista de So Paulo)
EDITORA METODISTA
Rua do Sacramento, 230, Rudge Ramos 09640-000,So Bernardo do Campo, SP Tel: (11) 4366-5537
E-mail: [email protected] www.metodista.br/editoraCapa: Cristiano Freitas
Editorao eletrnica: Maria Zlia Firmino de SReviso: Paulo Roberto Salles Garcia
As informaes e opinies emitidas nos artigos assinados so de inteiraresponsabilidade de seus autores, no representando, necessariamente,
posio ofcial da Universidade ou de sua mantenedora.
AFILIADA
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SUM
RIO
Apresentao 7
Jornalismo agropecurio: do xodo da grande mdia sobrevivncia no jornal local sob o comando das assessorias 9
Ana Maria Dantas de Maio
Jornalismo em sade: abscessos a serem drenados 31Arquimedes Pessoni
A cincia na mdia: um estudo de caso da cobertura miditicada Semana Nacional de Cincia e Tecnologia de 2012 nosprincipais jornais paulistas e mdias governamentais 61Carina Pascotto Garroti
Jornalismo e cincia no interior do Brasil: novos caminhospara a divulgao cientfica 91Danielle Tavares Teixeira
Discursos da divulgao cientfica: o conhecimento a servioda qualidade de vida 119Elizabeth Moraes GonalvesSueli Longo
Divulgao cientfica e democratizao do saber: anlisedas aes de uma unidade de pesquisa 149Giuliana CapistranoCunha Mendes de Andrade
Fraudes na cincia: tica e boas prticas de cientistase jornalistas 169Graa Caldas
Jornalismo especializado, conferncias ambientais e processosde agendamento: a Rio+20 na Folha de S.Paulo e noO Estado de S.Paulo 191Katarini MiguelVincius dos Santos Flres
Jane M. Mazzarino
Jornalismo especializado em cincia na sala de aula 223Marli dos Santos
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A dinmica da divulgao cientfica em quatro blogsde cincia brasileiros 245Rafaela Sandrini
Jornalismo especializado: resgatando conceitos e prticas 279Wilson da Costa Bueno
Divulgando a pesquisa das universidades brasileiras:lacunas, desafios e possibilidades 303Wilson da Costa Bueno
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APRESENTAO
A cobertura jornalstica tem, ao longo do tempo,assumido diferentes perspectivas, migrando de umaproposta que, em alguns momentos, incorporou um tommarcadamente panfletrio, meramente noticioso ou opi-nativo, como nos tempos do Imprio e dos primrdios doperodo republicano brasileiro, para outra mais recente,mais refinada, com o objetivo de dar conta da complexi-dade de algumas temticas, com um vis essencialmentetcnico-cientfico.
A presena expressiva na imprensa brasileira de
temas abrangentes e complexos, situados no campo dacincia, tecnologia e inovao (mudanas climticas, clo-nagem, cosmologia e astrofsica, alimentos transgnicos,sociobiodiversidade, nanotecnologia, agrotxicos etc.)fortaleceu uma modalidade do jornalismo especializadodenominada jornalismo cientfico, e ensejou a criaode subreas, com relativa autonomia (jornalismo emsade, jornalismo ambiental, jornalismo agropecurio,jornalismo em informtica etc.).
Essas subreas tm se legitimado pela criao deeditorias especficas no jornalismo impresso (notadamen-te na grande imprensa) e de veculos segmentados, e poragrupar profissionais que cobrem exclusiva ou priorita-riamente essas temticas, muitos dos quais reunidos emassociaes que promovem, periodicamente, eventos e/
ou editam publicaes especializadas.Essa situao repercute nos ambientes de formaodos futuros jornalistas, com a implantao de disciplinas
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obrigatrias ou optativas nos cursos de Jornalismo, emesmo com a oferta crescente de cursos de extenso ede especializao lato sensu voltados para esses recortes
da cobertura. Em muitos programas de ps-graduaoem comunicao social, so definidas linhas de pesqui-sa para o estudo e a anlise dessas temticas, criam-segrupos de trabalho especficos nas entidades da rea emultiplicam-se os grupos de pesquisa com esse foco deinteresse cadastrados no diretrio do CNPq.
Apesar da validao dessas modalidades de co-bertura jornalstica, agora tambm objeto de estudo e
investigao, a literatura abrangente a respeito do jor-nalismo especializado, com ateno a conceitos, prticase formao bsica, permanece reduzida.
Este trabalho, resultado da articulao de inmerosprofissionais, pesquisadores e docentes, tem este objetivo:abrir espao para a sistematizao desse novo espao deestudo e cobertura. Ele rene 12 captulos que trazem
desde uma viso ampla a respeito do jornalismo especiali-zado at recortes especficos que contemplam algumas dastradicionais modalidades (jornalismo cientfico, ambiental,em sade, agropecurio etc.), todos eles identificados coma trajetria acadmica e profissional de seus autores.
Ele no tem a pretenso de esgotar o largo espec-tro de temas e de perspectivas que tipificam o jornalismoespecializado, mas abre espao para um amplo e profcuo
debate sobre este novo campo. Visa convidar professores,pesquisadores e jornalistas para uma reflexo acercadessa tendncia que ganha corpo na teoria e na prticado jornalismo brasileiro.
Boa leitura, e vamos ao debate.
Marli dos SantosWilson da Costa Bueno
Organizadores
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Jornalismo agropecurio:do xodo da grande mdia
sobrevivncia no jornallocal sob o comando
das assessorias
Ana Maria Dantas de Maio*
INTRODUO
O jornalismo especializado em agropecuriaou agronegcios neste artigo tratado abrevia-damente de agro vem passando por profundas
transformaes no Brasil. Na dimenso da grandeimprensa tem seu espao e seu valor ameaados como fechamento de suplementos agrcolas e de jornaisespecializados e at mesmo com o encerramentode tradicionais programas de TV. J nos jornais depequenas e mdias cidades1h sinais de resistn-cia. Embora no to frequente como no passado,
a editoria sobrevive em sites noticiosos de algunsdesses municpios, redutos do chamado jornalismode proximidade, conforme ser detalhado adiante.
* Doutoranda em Comunicao Social pela Universidade Metodistade So Paulo e jornalista da Embrapa Pantanal (Corumb-MS). Mes-tre em Comunicao pela Universidade Estadual Paulista e graduadaem Comunicao Social, habilitao Jornalismo, pela Universidade
Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] Adotamos a classificao do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tstica (IBGE) para as definies de cidades pequenas (de 500 a 100mil habitantes) e mdias (de 100.001 a 500 mil habitantes).
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A proposta deste artigo avaliar as circuns-tncias em que esses contedos so produzidos, pormeio de um mapeamento da autoria deles: seriam
os prprios jornalistas de redao os responsveispelos textos publicados? Ou os releases, preparadospelas assessorias de comunicao, estariam reinandono mundo agro? Quem, afinal, elabora contedosde jornalismo agropecurio propagado por sites denotcias das regies Centro-Oeste e Sudeste do
Brasil? A resposta pode servir de indicador para atendncia do jornalismo agro no pas.
AS PISTAS, AS BUSCAS, OS MTODOS
O levantamento das autorias dos textos pu-blicados por sites de notcias em suas editorias de
agro foi realizado na primeira semana de outubro de2014. A escolha das regies Sudeste e Centro-Oestedo pas se justifica pela vivncia desta autora nessaslocalidades. Natural do interior paulista e atualmentetrabalhando no interior de Mato Grosso do Sul, etendo atuado diretamente com comunicao do setoragro nas duas localidades, ela ponderou que teria
mais afinidade para avaliar realidades j conhecidas.Como a inteno identificar uma possvel
associao entre jornalismo agropecurio e jorna-lismo de proximidade, foram selecionados veculosde comunicao de cidades pequenas e mdias edescartados os jornais de capitais e grandes centros,
bem como do Distrito Federal. Com base nessecritrio, a escolha dos sites foi intencional procu-rando aqueles que tivessem um link direcionando
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para o contedo agropecurio. Veculos sem essaeditoria especfica foram desconsiderados.
Foram selecionados dois sites por estado, sem-
pre de cidades diferentes, e analisados os dois textosde agro mais recentes disponibilizados na editoria,independentemente do gnero jornalstico (repor-tagem, artigo, nota etc). Do Centro-Oeste foramescolhidos veculos de Alta Floresta e Rondonpolis(MT); Dourados e Corumb (MS); e Jata e Pires do
Rio (GO); no Sudeste, municpios que atenderamaos critrios foram Gara e Assis (SP); Uberabae Varginha (MG); Resende e Cantagalo (RJ); eCachoeiro do Itapemirim e Santa Maria de Jetib(ES). No total, foram avaliados 14 sites e 28 textos.
Como nem todas as reportagens tm autoriaidentificada, realizou-se uma busca por pistas que
indicassem as provveis fontes. Uma delas era apossvel replicao do mesmo texto em outros sitese novas investigaes de identificao. Com essatcnica, foi possvel descobrir, por exemplo, queo artigo Agora h menos caf e mais consumido-res, publicado pelo jornal Comarca de Garasemassinatura no dia 4 de outubro, havia sido escrito
por Juan C. Dominguez e publicado originalmenteno site Portafolio, da Colmbia. Trs dias antes deo jornal do interior paulista disponibilizar o texto,o site Cafepointo havia publicado, traduzido por
Juliana Sartin, e indicando a origem.Tcnicas de anlise de discurso tambm foram
teis para caracterizar a autoria de alguns textos.Foi o caso, por exemplo, do artigo O planeta cabena urna, de Coriolano Xavier, da Escola Superior
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de Propaganda e Marketing (ESPM), publicado pelojornal A Tribuna Mato Grosso, de Rondonpolis.No site, o autor se autoidentifica como membro
do Conselho Cientfico para Agricultura Susten-tvel (CCAS) e professor do Ncleo de Estudosdo Agronegcio da ESPM. No entanto, a anlisediscursiva permite averiguar que Xavier se considerauma liderana do setor, ao enunciar que essa uma iniciativa s nossa, s das lideranas do agro,no tenha dvidas. O uso do pronome possessivonossa e a subsequente associao s lideranas do
agro denunciam essa autoconstruo da imagem.Apesar de toda a investigao e cuidados to-
mados na pesquisa, no possvel atribuir as autoriascom total preciso porque os 14 sites no foramcontatados para confirm-las. Apenas uma entrevistasemiestruturada foi feita por telefone com a jornalistaRenata Baldo, do jornal Voz da Terra, de Assis (SP),
na tentativa de se certificar das autorias e verificarinformaes sobre a rotina de produo de notciasagro nesse veculo2. No entanto, as tcnicas utilizadasnas buscas e a experincia na produo de releases eclippings permitem inferir que as fontes ou autoriasidentificadas so bastante provveis.
Complementa a metodologia a pesquisa bi-bliogrfica sobre jornalismo agropecurio e so-
bre jornalismo de proximidade, a qual permitiufundamentar teoricamente as constataes dolevantamento realizado, bem como atualizar odesenvolvimento recente do noticirio agro emgrandes veculos de comunicao.
2
A jornalista declarou que estava em frias no perodo em que asmatrias avaliadas foram produzidas, mas disse acreditar que seusubstituto tenha elaborado as entrevistas e textos ou, no mnimo,modificado o contedo de provveis releases.
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A NOVA REFERNCIA DO RURAL
No apenas a cobertura jornalstica de agro-
pecuria que sofre processo de mudana no Brasile no mundo. A prpria atividade do agronegcioencontra-se em pleno desenvolvimento, aliceradapela multiplicidade de pesquisas e investimentos eminovaes tecnolgicas. O novo perfil do mundo agrointerfere na economia e na gerao de empregos dosetor, conforme anuncia Castells (2001, p. 244, grifo
do autor) ao descrever a sociedade em rede:
importante observar que, embora o nvel deemprego rural devesse declinar para 2,5% dototal de empregos, espera-se que as profissesrelacionadas agricultura cresam. Isso por-que, enquanto se estima que haja uma reduode 231 mil trabalhadores rurais, espera-se um
aumento de 331 mil empregos para jardineirose conservadores de reas verdes: a suplantaodo emprego do setor rural pelo emprego emservios ligados a esse setor na rea urbanasalienta o quanto as sociedades informacionaisassumiram sua condio ps-rural.
O socilogo explica que o que mudou no foi
o tipo de atividades em que a humanidade est en-volvida, mas sua capacidade tecnolgica de utilizar,como fora produtiva direta, aquilo que caracterizanossa espcie como uma singularidade biolgica:nossa capacidade superior de processar smbolos(CASTELLS, 2001, p. 110-111).
Quando essa capacidade torna-se imperativa
para imprimir a supremacia da sociedade em redee da sociedade da informao, obtm-se o que
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Baudrillard (1991, p. 13) denomina de simulacro,isto , nunca mais passvel de ser trocado porreal, mas trocando-se em si mesmo, num circuito
ininterrupto cujas referncia e circunferncia seencontram em lado nenhum.
A sociedade contempornea fundamentada emsignos e smbolos atribui, assim, outros significadostambm para o conceito de rural. Maio (2005, p. 28)afirma que repensar a ruralidade e rever o campoterico da comunicao rural foram medidas cruciais,
j que o espao dessa populao tambm sofreu oimpacto da revoluo tecnolgica e da globalizao.
O deslocamento que atinge o vis tradicionalda ruralidade descrito por Fonseca Jnior (2002,p. 105), pesquisador de comunicao rural, queprope uma reviso paradigmtica da concepo derural pelo seu uso e no pela sua origem,
[...] o que permite a abordagem de temasestreitamente relacionados com a problem-tica rural, mas at ento ignorados por nose enquadrarem nas categorias de anlisetradicionais, geralmente a agricultura e o es-pao rural. Seguindo essa linha, assuntos todiversos como a emergncia do turismo ruralno Pantanal, a nudez de Dbora Rodrigues na
revista Playboy3
[Figura 1], os dias de camporealizados pela Embrapa e a presena doszapatistas na Internet4poderiam ser conside-rados temas de estudo na Comunicao Rural.
3 Dbora Rodrigues era militante sem-terra e provocou indignao nomovimento pela reforma agrria ao posar nua para a principal revistamasculina do pas em outubro de 1997.
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Em 1994 entraram em conflito no Mxico o Exrcito Zapatista deLibertao Nacional, formado por rebeldes camponeses, e o governo.Os camponeses, na maioria indgenas marginalizados, usam a Inter-net para comunicar suas reivindicaes ao mundo.
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Dessa forma, o novo paradigma introduz aruralidade em diferentes editorias, e o noticirio,que antes se restringia ao agrcola, agora ocupa as
pginas de economia, cidades, esportes, poltica,gastronomia, cincias e outras. No prprio levan-tamento de autoria realizado para este artigo, foilocalizada uma matria sobre um campeonato defutebol rural amador, no municpio de Gara (SP):a notcia estava na editoria de agro.
Figura 1: Nova concepo de rural na revista Playboy5
As prprias assessorias de comunicao do se-tor de agronegcios vm buscando canais alternati-vos de divulgao. A Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuria (Embrapa), ligada ao Ministrio da
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Imagem disponvel em: .Acesso em: 9 out. 2014.
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Agricultura, Pecuria e Abastecimento e uma dasprincipais instituies de pesquisa do pas nessesetor, tenta inovar em suas aes de comunicao
organizacional, direcionando parte de suas desco-bertas a editorias especializadas em outras reas eno mais confinando o contedo aos canais vincula-dos agropecuria. Matrias originadas na empresatm sido divulgadas em revistas como Piau6, BoaForma, Sade, Claudiae at mesmo Playboy, que
em sua edio on-linede 27 de setembro de 2011apresentou a organizao como responsvel poruma triagem em uma grande degustao de vinho.
Alm de produzir releases customizados, nota--se que as organizaes tambm esto preocupadasem capacitar o jornalista de redao para cobriragro. Um projeto desenvolvido pelas unidades da
Embrapa no Paran entre 2008 e 2009 havia atin-gido no primeiro ano de execuo cerca de 1.600jornalistas e estudantes de jornalismo por meio deseminrios itinerantes. De acordo com Nascimentoet al. (2009, p. 13), como os eventos tiveram umaexpressiva participao de alunos de graduao importante ressaltar que a iniciativa possivelmente
seja a nica oportunidade para conhecerem umpouco mais sobre o universo rural e os impactospara a sociedade urbana.
Algumas faculdades de jornalismo mantmdisciplinas que buscam aproximar o estudante datemtica rural.
6 A grafia do nome utiliza p minsculo; a publicao se identificacom o jornalismo literrio.
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A UFMS [Universidade Federal de MatoGrosso do Sul] oferece a disciplina de jornalis-mo rural, que todos os anos coloca estudantesem contato com o ambiente rural, mas sempre
em propriedades prximas rea urbana. AUFMT [Universidade Federal de Mato Gros-so] no optou pela comunicao rural emsua grade curricular, mas oferece a disciplinacomunicao global, regional e local, quecontempla a realidade prxima. A formaodiferenciada desses estudantes para atuaremna cobertura jornalstica do Pantanal insere--se, assim, na proposta curricular das duasinstituies. (MAIO; SOARES, 2012, p. 161)
A Embrapa Pantanal, localizada em Corumb(MS), uniu-se em 2010 e 2011 s duas instituiescitadas acima em um projeto que buscou capacitar89 estudantes de comunicao para a cobertura
sobre a pecuria praticada na plancie pantaneira.Como se pode observar, algumas assessorias decomunicao procuram, na atualidade, suprir oucomplementar a formao universitria no campo daruralidade e da proximidade. Ainda no possvelconstatar se essas aes de comunicao organiza-cional vo exercer influncia sobre o jornalismo de
proximidade, caracterizado por uma identificaonatural com a realidade local.
Ao estudar a mdia comunitria e a mdia lo-cal, Peruzzo (2002, p. 53) define o local como umespao determinado, um lugar especfico de umaregio, no qual a pessoa se sente inserida e partilhasentidos. o espao que lhe familiar, que lhe diz
respeito mais diretamente, muito embora as demar-caes territoriais no lhe sejam determinantes.
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De acordo com a autora, as redaes da mdia localpromovem a cobertura de um espao determinado,geralmente excludo ou pouco explorado pela
grande imprensa. Em geral, assuntos tratados nosgrandes meios costumam ter sua repercusso localou regional publicada na localidade.
O conceito de jornalismo de proximidadedesvinculou a ideia de local do territrio fsico, em-bora, para alguns estudiosos, a dimenso geogrfica
ainda seja relevante para demarcar essa categoria. o caso de Dornelles (2010, p. 238), que, ao estu-dar o localismo em jornais do interior, pondera serdeterminante o papel que a geografia desempenhana definio de informa o local. J Peruzzo (2005,p. 74) relativiza essa importncia, colocando quedimenses como as de familiaridade no campo das
identidades histrico-culturais [...] e de proximidadede interesses [...] so to importantes quanto as debase fsica.
O conceito de jornalismo de proximidade foiretomado recentemente pelo pesquisador portugusCarlos Camponez. Para ele, esse movimento se ca-racteriza por uma forma distinta de posicionar-se
perante os acontecimentos.
Impe-se reconhecer que o jornalismo de pro-ximidade surge intimamente ligado a questesepistemolgicas e ticas, que no possveliludir, relacionadas, nomeadamente, com oestatuto da verdade e da objetividade no jor-nalismo, com a importncia da proximidade
como uma forma diferente de olhar o mundo,ou com a funo social das notcias. (CAM-PONEZ, 2012, p. 43)
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Torna-se pertinente aproximar a concepo dejornalismo agropecurio da prtica do jornalismo deproximidade, na medida em que a agricultura ainda
cultiva laos profundos com a histria, a identidade,a cultura e a sociabilidade de inmeras localidades.Ainda que a urbanizao represente um fenmenoirreversvel, a produo de alimentos, a gesto daterra e a gerao de empregos no campo ou emfuno dele tendem a atrair o interesse de leitores,
ouvintes, telespectadores e internautas.
ENFIM, OS (PROVVEIS) AUTORES
Um dos retratos mais atuais e completos sobrea prtica do jornalismo agropecurio no Brasil foielaborado por Silva (2005) em sua dissertao de
mestrado intitulada Da conversa na praa ao viasatlite: a busca por informao agropecuria. Apesquisadora avalia os meios de comunicao maisconfiveis, mais utilizados e os preferidos pelosatores de diversas cadeias produtivas do agroneg-cio e conclui que na internet que eles costumamprocurar contedo relacionado s suas atividades7.
As respostas consagraram a internet como omais importante meio para agentes de pra-ticamente todos os setores e segmentos deatuao (produtor rural, profissional da in-dstria de insumos, da indstria processadora,atacadista dentre outros). Em sentido inverso,o rdio, a TV e jornais regionais so os menosutilizados, inclusive pelos produtores rurais
entrevistados. (SILVA, 2006a, p. 14)7 Essa informao justifica o interesse deste estudo pelos veculos
on-line.
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J no quesito confiana, os informativos es-pecializados aparecem na liderana da prefernciadesse pblico, seguidos das relaes interpessoais e
da prpria internet (SILVA, 2006a). A autora tam-bm analisou, na poca, o desempenho da coberturaagro de jornais de grande circulao. De acordocom Silva (2006b, p. 15),
A baixa classificao atribuda por pblicosegmentado aos contedos agro da Folha e
do Estado pode decorrer do foco abrangentedesses jornais, voltado a pblicos bastantedistintos. J a Gazeta e o Valor foram bemavaliados, indicando que os demandantesagropecurios tendem mesmo busca pelosveculos segmentados. Esses jornais compemuma evoluo razovel dos mercados das gran-des commoditiesagropecurias, privilegiandoos produtos de maior expresso econmica. J
os de abordagem geral, em seus cadernos deeconomia, se restringem s pautas oficiais doagro, mas trazem uma diversificao positivade temas em seus cadernos segmentados.
O estudo de Silva no captou parte das mu-danas que se consolidariam posteriormente. Ocaderno Agrofolha, da Folha de S.Paulo, e o Suple-mento Agrcola, do jornal O Estado de S.Paulo, dei-xaram de circular em 2002 e 2011, respectivamente.O Agrofolha ainda sobreviveu durante alguns anoscomo uma pgina semanal no caderno Dinheiro,mas sucumbiu na reforma editorial implantada em23 de maio de 2010.
A Gazeta Mercantil veculo especializadoem economia que, assim como o Valor, ofertavaslida cobertura de noticirio agro encerrou suas
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atividades em maio de 2009. A editoria de agro-negcios do Valorpermanece ativa, com equipeprpria e cobertura diria. Entretanto, nem mesmo
na televiso, em que alguns programas resistiaminclumes, a editoria d sinais de continuidade.No dia 8 de outubro de 2014 a Rede Globo anun-ciou o encerramento das edies dirias do GloboRural, um dos programas mais antigos da emissora.A edio dominical, que em janeiro de 2105 com-
pleta 35 anos de transmisso, ser mantida, mas onoticirio agro exibido nas manhs de segunda asexta-feira desde o ano 2000 ser substitudo aindaem 2014 por um novo telejornal. A justificativa daemissora a maior TV aberta do pas a guerrade audincia (CASTRO, 2014).
Encerrada essa atualizao sobre o jornalismo
agro na grande mdia, segue uma breve contextuali-zao da editoria em veculos de menor circulao.
Jornais de cidades de mdio porte do interior pau-lista com mais de 200 mil habitantes em 2014 ,que tradicionalmente cobriam a editoria de agro,desistiram de institucionalizar a especialidade. Essefenmeno se intensificou entre o final da dcada
de 1990 e os primeiros anos da dcada de 2000,conforme acompanhamento informal realizado emcidades como So Jos do Rio Preto, Bauru, Marlia,Sorocaba, Jundia, Araraquara, Ribeiro Preto ePresidente Prudente, entre outras. Veculos dessesmunicpios seguiram a tendncia da grande impren-
sa de pulverizar as reportagens sobre o mundo ruralem outras editorias, razo por que foi problemticolocalizar links para o noticirio agro no levantamen-
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22
to realizado sobre a autoria dos textos publicadosali e tambm em sites hospedados em pequenosmunicpios.
Embora o foco desta pesquisa no seja quan-titativo, um dado numrico torna-se relevante paracompreender a dimenso atual do jornalismo agronas regies estudadas: dos 28 textos analisados, 17foram provavelmente produzidos por assessorias decomunicao, o que representaria cerca de 60%.
Apenas seis teriam sido supostamente elaboradospor equipes prprias dos sites de notcias, e os outroscinco teriam origens distintas, como o portal espe-cializado em agronegciosNotcias Agrcolas, o PortalBrasil, o site empresarial (Friato) e artigos assinadospor especialistas e/ou lideranas. As informaes ob-tidas no levantamento so apresentadas nas Tabelas
1 (Regio Centro-Oeste) e 2 (Regio Sudeste).A jornalista Renata Baldo, do Voz da Terra,
diz atuar na cobertura de agro e de outras editoriaspara a verso impressa do jornal cujas matriasso disponibilizadas no site por outra profissional8.De acordo com ela, espordica a publicao dereleases na ntegra, situao que s ocorre quando
no h condies de investir na produo prpriae quando a assessoria prxima da realidade local,como o sindicato rural e a regional da AgnciaPaulista de Tecnologia dos Agronegcios (Apta),descrita como excelente parceira.
8
A jornalista, formada em 1997 no curso de Comunicao Social daUnimar (Universidade de Marlia), prestou as informaes em en-trevista por telefone na tarde de 8 de outubro de 2014. Ela informouque a redao do jornal Voz da Terraconta com quatro jornalistas.
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Tabela1:M
atriaseautoriasdejornalism
oagropecurionaRegioCe
ntro-Oeste,out.2014
Mun
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Popu
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Editoria
Ttu
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Da
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Fon
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l
Alta
Floresta
MT
49.877
Dirio
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s
www.diarionews.com.
br
Agropecu-
ria
1:
Juntocomparcerias,Prefeitura
realizar2DiadeCampoProgram
a
Ba
ldeCheio
29.08.14
Assessoria
daPrefeitura
2:
Diadecamposersobretcnicasde
irr
igao
27.08.14
Redaop
rpria
Rondonpolis
MT
211.718
ATri
buna
Mato
Grosso
www.atribunamt.
com.br
Agropecu-
ria
1:
Oplanetacabenaurna(artigo)
04.10.14
Coriolano
Xavier(ESPM)
2:
MovimentoPr-Logsticacomple
ta
cincoanoscomconquistas
04.10.14
Assessoria
Aprosoja
Dourados
MS
210.218
Progresso
www.progresso.com.br
Rural
(Caderno
A)
1:
SenarcapacitaosprodutoresdeMS
05.08.14
Assessoria
Famasul
2:
AgronegciocolocaIvinhemaem
alta
17.06.14
Redaop
rpria(reper-
cusso
dematria
da
Veja)
Corumb
MS
108.010
Corum
bO
nLine
www.corumbaonline.
com.br
Agropecu-
ria
1:
SbadotemFeiradoProdutorna
Pr
aadaIndependncia
26.09.14
Assessoria
daPrefeitura
2:
IncraapresentaPlanoSafraeinicia
ofertadecrditoparaassentadosda
reformaagrria
16.09.14
Por
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federal)
Jata
GO
94.890
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dosudoeste.
jor.br
Agrofolha
1:
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de
caprinos
29.09.14
Redaop
rpria
2:
Custosdaproduodesojaesto
maisaltosemJata
29.09.14
Site
Notcias
Agr
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Pires
doRio
GO
30.469
Jornal
doSu
deste
www.jorna
ldosudeste.
com.br
Agroneg-
cios(Not-
cias)
1:
EmbrapaProdutoseMercadobusca
pa
rceirosparacomercializaodo
maracujBRSProladoCerrado
25.09.14
Assessoria
daEmbrapa
2:
AempresaFriatodestaque
no
pas(nota)
09.09.14
SitedaFriato
Fonte:Prod
uzidapelaautora(estimativa
depopulaopara1dejulhode2014IBGE,publicadonoDOUde28/08/2014).
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Sempre que a gente recebe um release de umaassessoria a gente tenta fazer uma entrevistalocal para acrescentar um personagem ou umaviso mais prxima. Por exemplo, se chega um
material divulgando a vacinao contra a fe-bre aftosa em todo o pas, a gente sempre en-trevista o diretor regional do EDA [Escritriode Defesa Agropecuria] para contextualizar.Mas a gente sempre tenta entrevistar produtorrural ou produzir matrias locais, pelo menosuma vez por semana9.
O levantamento de autorias mostra tambmque as assessorias envolvidas na produo de conte-do agro que abastece o jornalismo de proximidaderepresentam, em geral, prefeituras, governos estadu-ais e federal, associaes de produtores e empresasde pesquisa. No entanto, h espao para outras fon-tes, inclusive a assessoria de um deputado estadual,publicada no Jornal da Regiode Cantagalo (RJ).
Dessa maneira, infere-se que o jornalismo deproximidade, que teria o perfil para acolher o notici-rio agro no apenas pela aproximao geogrfica etemtica, mas igualmente em funo das influnciaseconmicas e sociais que a agropecuria exerce nas
regies estudadas , prioriza outras especializaesao deixar de produzir material prprio dessa editoria.Essa preferncia pode estar relacionada aos
arqutipos e esteretipos da modernizao associa-da industrializao e ao setor de servios, e, maisrecentemente, ao desenvolvimento das tecnologiasde informao, como prenunciava Castells (2001).
Ou seja, o uso e a ocupao da terra, bem como a9 Informaes obtidas na entrevista por telefone em 8 de outubro de
2014.
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Tabela2:M
atriaseautoriasdeJornalismoAgropecurionaRegioSudeste,out.2014
Munic-
pio/UF
Populao
Veculo
Editoria
Ttulo
Da
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Gara
SP
44.506
Comarca
deGar
a
www.jornalcomar-
ca.com.br
Rural
(Notcias)
1:Agorahmenoscafemaisconsumidor
es
(artigo)
04.10.14
JuanC.Dom
inguez(do
sitePor
tafo
lio,daCo-
lmbia)
2:FutebolRuralDefinidooinciodatem
po-
radacom
alteraonosistemadedisputa
04.10.14
Redaoprpria
Assis
SP
100.911
Voz
daTerra
www.vozdaterra
.
com.br
Agricultura
1:Quetalumaparadaparaumcafezinho?
1.10.14
Redaoprpria
2:AptaM
dioParanapanemaapresentavrias
novidadesaosagricultoresnaFicar
1.10.14
Redaoprpria
Uberaba
MG
318.813
Jornal
deU
berab
a
www.jornaldeub
e-
raba.com.br
Agroneg-
cios
1:Seman
aNacionaldoCavaloCampolina
em
BeloHorizonte
24.09.14
Assessoriada
Associao
deCriadores
doCavalo
2:Contro
ledopercevejocastanhodaraiz
precisade
monitoramento
24.09.14
Assessoriada
Fundao
MT
Varginha
MG
131.269
Jornal
Vargin
ha
Hoje
www.jornalvargi-
nhahoje.com.br
Agricultura
ePecuria
1:Adequaoambientalnacafeicultura:curso
temasinscriesprorrogadas
16.09.14
ADSComun
icao
Corporativa
2:IFSULDEMINASCmpusMachado
promove1SemanadasCinciasAgrrias
14.09.14
Assessoriado
Instituto
Federal
Resende
RJ
124.316
Jornal
Beira-R
io
www.jornalbeira
rio.
com.br
Rural
1:Treinamentoparafebremaculosa
12.12.13
Assessoriada
Prefeitura
2:AbreinscriesparacursodeApiculturaem
Resende
10.10.13
Assessoriada
Prefeitura
Cantagalo
RJ
19.792
Jornal
daReg
io
www.jornaldare-
giao.com
Informe
Rural(Colu-
nas)
1:Microb
aciacolheprimeirosresultadosdo
RioRural
emCarmo
1.10.14
Assessoria(g
overno
estadual)
2:Projeto
apresentadonaAlerjpretendelevar
celularpa
rarearural
24.09.14
Assessoriade
deputado
estadual
Cachoeiro
doItape-
mirim
ES
206.973
AquiES
www.aquies.com
.br
Agricultura
1:AlunosdeJernimoMonteiroconhecem
o
mercadodaCeasa/ES
02.10.14
Assessoriado
Ceasa
2:3Prm
ioConilonEspecialultrapassa350
inscries
02.10.14
Assessoriada
Conilon
Brasil
Santa
Maria
deJetib
ES
38.290
Nova
Not
cia
www.novanoticia.
com.br
Agronegcio
1:Agricu
ltoreseartessdeSoRoquedoCa-
naapren
demafazertintascomcoresdaterra
23.07.14
Assessoriado
Incaper
2:Govern
orepassaequipamentosaSanta
Leopoldin
aeSantaMariadeJetib
21.06.14
Assessoriada
Secretaria
EstadualdeA
gricultura
Fonte:Produzidapelaautora(Estimativadepopulaopara1dejulh
ode2014IBGE,publicado
noDOUde28/08/2014).
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produo de alimentos, passaram a ocupar posiosecundria no interesse do jornalismo de proximida-de como j havia ocorrido com a grande mdia. A
diferena que alguns veculos resistem e mantm acobertura institucionalizada, embora invistam poucona produo de matrias relacionadas ao tema e nacapacitao dos profissionais que cobrem o setor.
CONSIDERAES FINAIS
O jornalismo agropecurio vem sofrendo ex-pressivas modificaes e adaptaes neste incio desculo 21. Uma delas diz respeito perda de espaoque a editoria registra, especialmente na grandemdia e em jornais de cidades de mdio porte. Atendncia se ajusta s previses sociolgicas de re-
duo da atividade agrcola tal como era concebidaanteriormente emergncia da sociedade em rede.
No entanto, assim como o fenmeno da glo-balizao acaba por valorizar caractersticas dalocalidade, a cobertura jornalstica especializadaem agro encontra abrigo no chamado jornalismo deproximidade, persistindo em sites noticiosos man-
tidos em pequenos centros urbanos. O conceito dejornalismo de proximidade est atrelado a questescomo as dimenses geogrfica e temtica, a constru-o de identidades comuns e o modo diferenciadode posicionamento perante os acontecimentos.
Nesse contexto, sites especializados em agro-
pecuria proliferam na internet, porm os veculosdigitais que exploram a cobertura genrica pouco sededicam produo de material agro, embora aco-
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AGROPECURIO
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lham com relativa facilidade aquele que chega pron-to s redaes. Assim, as assessorias de comunicaopassam a figurar como significativas produtoras de
contedo no cenrio contemporneo do jornalismoagropecurio, especialmente no ambiente digital.
Levantamento de autoria de textos publicadosem veculos de comunicao das regies Sudeste eCentro-Oeste indica a predominncia de matriasproduzidas por assessorias de imprensa. O estudo
mostra tambm que as editorias de agronegcio,agropecuria ou rural se mostram cada vez maisausentes dos sites de notcias. O contedo ligadoao campo encontra-se disperso em canais comoeconomia, geral ou cidades. Em estados commenor tradio agropecuria, como Rio de Janeiro eEsprito Santo, incomum encontrar sites noticiosos
que disponibilizem links direcionando o internautapara o contedo especfico de agro.
Diante desse enquadramento, infere-se que ocontedo de jornalismo agropecurio decresce noquesito imparcialidade j to questionvel quandose trata da discusso filosfica relacionada objetivi-dade jornalstica e se aquilata perante os interesses
empresariais, polticos, ideolgicos e econmicos quese traduzem na produo da comunicao organiza-cional. O material elaborado pelas assessorias temsido publicado praticamente na ntegra, disseminan-do informaes consideradas relevantes do pontode vista da produo, indiferentes pelos canais de
distribuio e preocupantes sob a tica da recepo. na prtica do jornalismo de proximidadeque as notcias agro subsistem como referncia
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nas relaes sociais e comunitrias. Pequenas lo-calidades manifestam maior dependncia da din-mica da agricultura, ao menos daquela concepo
mais tradicional vinculada ao agrcola. Esse tipode cobertura, teoricamente mais comprometidocom a questo local, tende a garantir sobrevida aojornalismo agropecurio, ainda que os interessesempresariais se sobreponham essncia das razesrurais daquela populao.
REFERNCIAS
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DORNELLES, Beatriz. O localismo nos jornais do interior.Famecos, Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 237-243, set./dez. 2010.Disponvel em: . Acesso em: 2ago. 2014.
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AGROPECURIO
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NASCIMENTO, Lebna et al. Seminrios Itinerantes sobreComunicao e Agronegcio: contribuio para a melhoriada cobertura jornalstica sobre o meio rural no Paran. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DA COMUNI-CAO, 32, 2009, Curitiba. Anais eletrnicos... Curitiba:
Intercom, 2009. Disponvel em: . Acessoem: 29 set. 2014.PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Mdia local e suas inter-faces com a mdia comunitria. Anurio Unesco/Umesp deComunicao Regional, So Bernardo do Campo, v. 6, n.6, p. 51-78, jan./dez. 2002.
______. Mdia regional e local: aspectos conceituais e tendn-cia.Comunicao & Sociedade, So Bernardo do Campo,ano 26, n. 43, p. 67-84, 1 sem. 2005.
SILVA, Ana Paula da. Da conversa na praa ao via satlite:a busca por informao agropecuria. 2005. Dissertao (Mes-trado em Comunicao Social) Escola de Comunicao eArtes, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2005. Disponvelem: .
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______. Demanda por informao: meios de comunicaomais utilizados, confiveis e preferidos por agentes do agro-negcio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DACOMUNICAO, 24, 2006a, Braslia. Anais eletrnicos...
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______. Informaes agropecurias: anlise comparativa decontedos e funes de jornais de grande circulao. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DA COMU-NICAO, 24, 2006. Braslia. Anais eletrnicos... Braslia:Intercom, 2006. Disponvel em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R0956-2.pdf. Acesso em: 29set. 2014.
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Jornalismo em sade:abscessos a serem drenados
* Ps-doutor (2014) em Medicina pela Faculdade de Medicina doABC (linha de pesquisa em Educao na Sade), doutor (2005) emestre (2002) em Comunicao Social pela Universidade Metodistade So Paulo e bacharel em Jornalismo (1984) pela mesma insti-tuio de ensino. Professor do corpo permanente do Programa deMestrado em Comunicao e tambm de graduao da Universidade
Municipal de So Caetano do Sul (USCS) e docente-colaboradorda disciplina de Sade Coletiva da Faculdade de Medicina do ABC.E-mail: [email protected].
Arquimedes Pessoni*
No segmento do jornalismo especializado,a temtica da sade vem dando grandes contri-buies, no apenas no campo profissional, mastambm no acadmico. Seu aspecto histrico, lem-brado por Azevedo (2009, p. 3), confunde-se com
a prpria histria do jornalismo. A autora ressaltaque, no sculo XIX, as cincias comearam a teralguma relevncia no contexto social: Em Portu-gal, o Jornal Enciclopdico constituiu um marcoincontornvel na histria da divulgao cientfica.No Brasil, podemos citar como exemplo o Patriota,com forte trao europeu, uma vez que fora fundado
por imigrantes, muitos deles portugueses forados
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a deixar o seu pas. A mesma autora destaca ohistrico da rea em outros pases:
Uma das primeiras manifestaes do jorna-lismo de sade europeu aconteceu por voltada dcada de 50, com uma mdica francesaa escrever semanalmente para mdicos nodirio francs Le Monde. Apesar de escreverpara mdicos, colocava em pauta assuntosde relevante interesse popular. Tal fato iriaconsolidar, anos mais tarde, na Frana dadcada de 70, a figura do doutor-jornalista.
(AZEVEDO, 2009, p. 4)
Ferreira (2004) acredita que a trajetria inicialdo jornalismo mdico no Brasil teve como trao dis-tintivo a simbiose entre negcio (interesses comer-ciais das casas editoras instaladas na Corte), poltica(conflitos relacionados a disputas pela hegemonia
poltica no contexto de consolidao do Estado Im-perial) e cincia (movimento de institucionalizaoe afirmao cientfica da medicina). Para o autor,
Mesmo ligados s sociedades mdicas da Cor-te, os primeiros jornais mdicos nacionaisencontraram srias dificuldades para sobre-viver. Faltaram-lhes colaboradores assduos
e assinantes profissionalmente vinculados medicina. Seu pblico leitor consistia, em suamaioria, de leigos que muitas vezes ousaramdialogar criticamente com o saber mdico. Aausncia de um nmero expressivo de leitoresespecializados obrigava os mdicos respons-veis pelos jornais ao confronto direto com asopinies leigas a respeito da medicina. Dessemodo, acentuava-se a necessidade de umareflexo sobre os problemas envolvidos noprocesso de legitimao social da medicinaacadmica. (FERREIRA, 2004, p. 95)
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JORNALISMO
EM
SADE:ABSC
ESSOS
A
SEREM
DRENADOS
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A sade, como tema, ganha espao no jor-nalismo por ter apelo humano e valorizado pelosleitores/ouvintes/telespectadores. Sua presena
constante na pauta se justifica, pois traz em seubojo inmeros critrios de noticiabilidade. Comobem lembra Traquina (1993, apudARAUJO, 2012,p. 18), as notcias so o resultado de um processode produo, definido como a percepo, seleo etransformao de uma matria-prima (os aconteci-
mentos) num produto (as notcias). Dessa forma,a cada dia acontecimentos viram notcia, tendoa sade como elemento aglutinador de ateno.Kuscinsky (2002) acreditava que, pelo fato de anotcia ser vendida como mercadoria, o processosocial de produo da matria jornalstica passa ne-cessariamente por fenmenos de espetacularizao,
simplificao, reducionismo, estereotipia, elitismotemtico e instrumentalizao ideolgica, entreoutros. O autor salientava que:
A cobertura da sade no escapa desse pa-dro, com duas agravantes: a crescente mer-cantilizao da prpria sade na era neoliberale a falha clssica, tradicional, que a no
abordagem pelo jornalismo, assim como pelaprpria medicina, dos processos sociais deproduo da doena e das neuroses, tratandoapenas das manifestaes desse processo.(KUSCINSKY, 2002, p. 96)
Por estar debaixo do guarda-chuva das no-tcias de cincias, a temtica sade segue alguns
protocolos comuns na hora de ser publicizada viadivulgao cientfica. Luiz (2007) relata que a di-
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vulgao das pesquisas de sade na mdia influenciao campo cientfico e cita alguns estudos divulgadosno exterior, apontando que o trabalho cientfico,
quando tratado como notcia, tem impactos posi-tivos para seus autores das bancadas acadmicas:
Phillips et al. compararam o nmero de refe-rncias no Science Citation Index de artigosdoNew England Journal of Medicineque foramdivulgados pelo The New York Timescom onmero de referncias de artigos similares
que no foram divulgados pela mdia. Os re-sultados indicaram que os artigos divulgadospelo Times receberam um nmero despro-porcionalmente maior de citaes cientficasnos dez anos subsequentes publicao nessejornal de grande circulao. O efeito foi maisevidente no primeiro ano aps a publicao,concluindo que esse tipo de divulgao am-plifica a transmisso da informao mdica da
literatura. (LUIZ, 2007, p. 718)
A mesma autora ressalta que o carter parcialdos estudos das cincias naturais em conjunto coma dinmica da prpria mdia de busca constante denovidade e uma formulao de mensagem rapida-mente compreensvel ocultam a complexidade e a
polmica inerentes produo de pesquisas cien-tficas e enfatizam alguns aspectos em detrimentode outros. Para Luiz,
Em nome da linguagem acessvel e da buscade notcias que promovam audincia, as not-cias sobre cincia acabam por se articular aouniverso simblico da sociedade, produzindoe reproduzindo os sentidos a partir dos quaisa explicao do mundo realizada. (LUIZ,2007, p. 723)
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No mesmo prisma apontado por Luiz, Eps-tein (2008) acredita que a cincia seja baseada noacervo de teorias confirmadas. Para o autor, uma
desconfirmao de uma teoria bem estabelecida algo inesperado, por isso tem um dos atributosimportantes para se tornar notcia e isso ocorretambm na comunicao pblica da cincia e dasade. Epstein (2008) afirma que a diferena estem que tal desconfirmao, no discurso da cincia,
um processo que deve ser avaliado pelos pares(peer review) aps passar por rigoroso escrutnio.Seguindo lgica diferente, o autor mostra que, parao jornalista, a tentao de anunciar esse furo grande, mesmo antes de passar pelo crivo da crti-ca interna ao prprio sistema da cincia; o mesmoocorre quando uma nova descoberta cientfica
feita. Notcia sem dvida para a cincia, mas saps criteriosa verificao. s vezes, novamente ojornalista afoito publica a nova descoberta antesmesmo de se certificar de sua confirmao (EPS-TEIN, 2008, p. 138).
Com uma viso mais europeia, as pesquisa-doras portuguesas Ruo, Lopes e Marinho (2012)
apontam que o potencial da comunicao midi-tica se assenta na capacidade de gerar, recolher epartilhar informao sobre sade. Ressaltam quea informao o mais importante recurso na pro-moo da sade pblica ou individual, porque guiacomportamentos, tratamentos e decises. Elas afir-
mam que o uso dos mediapara o desenvolvimentode uma literacia em sade tem sido defendido pordiversos autores, definindo literacia como a capa-
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cidade de entender e usar a informao escrita nasatividades dirias de modo a atingir os objetivospessoais e desenvolver o seu prprio conhecimento
e potencial (FRIEDMAN; HOFFMAN-GOETZ,2010, p. 286 apud RUO, LOPES e MARINHO,2012, p.277). E seguem afirmando que:
A literacia pode, portanto, interferir comfactores que determinam a sade individual egrupal, tais como o conhecimento acerca doscuidados de sade, a capacidade de encontrar
informao sobre sade e a competncia paratomar decises crticas. J uma literacia pobreem matria de sade est associada a elevadastaxas de hospitalizao e reduzidas prticasde preveno. Por isso, a sua promoo temsido apontada como vital para uma melhorutilizao do sistema de cuidados sade epara um controlo generalizado do bem-estardas populaes. (FRIEDMAN; HOFFMAN--GOETZ, 2010; HOU, 2010, apudRUO;LOPES; MARINHO, 2012, p. 277)
Voltando ao mundo do jornalismo segmenta-do, o interesse jornalstico definido pelos valoresnotcia pode, em alguns casos, coincidir com ascarncias de informao da sade pela populao,
mas em muitas outras situaes a agenda puramentejornalstica pouco oferece nessa direo. Epstein(2008, p. 139) acredita que essa dicotomia se revelacomo uma problemtica e que dela emergem duasquestes: 1) Como determinar e divulgar informa-es teis em sade para a populao? e 2) Como
convencer a editoria dos dirios mais importantesa reservar espaos para uma agenda que no seriapropriamente jornalstica em seu carter tradicional,
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mas especificamente direcionada a temas de sadeteis populao?
Uma vez presente nas pginas dos diversos
veculos jornalsticos, as informaes sobre sadepassam a ser de grande valia para os leitores. Comobem lembra Massarani et al. (2013, p. 2), se, porum lado, o pblico manifesta grande interesse pornotcias de sade e medicina, por outro, os veculosde comunicao dedicam espao significativo a tais
assuntos, que predominam entre os temas de cinciae tecnologia. Os autores acreditam que o jornalismoconstitui uma ferramenta importante para garantirque os cidados tenham acesso s informaes sobresade a que tm direito, e a mdia exerce um papelsignificativo na divulgao relativa epidemiologiade doenas, formas de preveno e tratamentos dis-
ponveis. Essa tambm a viso de Lopes (2012, p.9) que observa que a sade, em geral, e as doenas,em particular, so um tpico que tem motivado umacrescente ateno do campo do jornalismo.
[as notcias de sade] ocupam um espaosubstancial na esfera meditica e tm um as-sinalvel impacto junto daqueles que se cons-
tituem como fontes de informao e junto dasaudincias desses textos. No entanto, sabemosmuito pouco sobre o respetivo processo de pro-duo noticiosa e sobre o modo como as fontesde informao se organizam e percepcionam oque publicado. (LOPES, 2012, p. 9)
A mesma pesquisadora ressalta que nos lti-
mos anos o jornalismo de sade tem sido alvo demais ateno: porque os jornalistas seguem mais
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atentamente esse campo, porque as fontes especia-lizadas comearam a considerar osmediafundamen-tais para conquistarem maior visibilidade no espao
pblico. Para Lopes (2012, p. 11), apesar de osatores ligados sade estarem mais disponveis parafalar com os jornalistas e de as instituies dessecampo revelarem uma preocupao crescente coma comunicao miditica, nem sempre se estabeleceuma comunicao eficaz para ambas as partes.
A falta de profissionais do jornalismo espe-cializados na temtica da sade um dos pontoslembrados por outros pesquisadores. No sabercomo funciona essa rea to peculiar e que revelanecessidade de conhecimento por parte de quemnela atua pode impactar negativamente a qualidadedo produto informacional. Esse fato apontado por
Arajo (2012, p. 13-14) ao afirmar:Convm tambm sublinhar que o nmerode jornalistas especializados em assuntosde sade , regra geral, reduzido em vriospases [...] isso, segundo alguns autores, peem causa um jornalismo mais dinmico e dorigem a health packs, pacotes de infor-mao que so partilhados pelos jornalistas
entre si, conduzindo a uma homogeneidadede tpicos e de ngulos. Esta cooperao narecolha de dados e no recurso s mesmasfontes parece facilitar o controlo da infor-mao por parte de certas organizaes desade. Quanto menor a especializao dojornalista, maior a dependncia em relaoa este tipo de fontes especializadas.
Outra questo que perpassa a produo dematerial jornalstico no campo da sade a tica
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profissional. No existe almoo de graa, sempreh intenes por vezes escondidas e outras escan-caradas. Azevedo (2009, p. 16-17) acredita que,
nesse sentido, h pelo menos duas questes quemerecem reflexo: a primeira, de ordem econmica,que leva em conta como os rgos de comunicaopodem obter lucros com a informao em sade; asegunda, de carter poltico-cultural, que evidenciaum campo potencial, oferecido pelo tema, para sen-
sibilizar de modo dramtico o pblico, sem objetivara divulgao cientfica. Tendo a questo econmicano foco de anlise, Bueno (2001, p. 200) adverte:
Os veculos, a menos que comunguem comesta divulgao, orientada prioritariamentepor interesses comerciais, devem buscar oapoio de consultores antes de abrirem man-chetes sobre temas da rea, sob o risco defavorecerem empresas e grupos, muitas vezesem detrimento da sua audincia, estimulada acomportamentos inadequados ou prejudiciais(automedicao, por exemplo).
Analisando com microscpio comunicacionalas notcias de sade, Lopes e Nascimento (1996,p. 2) sugerem que, geralmente discriminatrias epreconceituosas quando no tendenciosas e conse-quentemente desinformativas , as coberturas esta-belecidas pelos meios de comunicao demonstramque existem dificuldades no relacionamento entre asdenominadas fontes jornalsticas (mdicos e demaisprofissionais de sade) e reprteres, refletindo-se
sobremaneira na apresentao das informaes paraa opinio pblica. Para as autoras, a questo dafonte de informao o ponto-chave nessa questo:
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As matrias divulgadas/veiculadas sobre osetor sade frequentemente so relegadas aoque podemos denominar de segundo plano distribudas pelas editorias de cidade e
polcia , caracterizadas principalmente pelodenuncismo e pela apresentao desordenadadas informaes, resultando como produtofinal para o leitor, ouvinte ou telespectadorem notcias que ao invs de aproxim-lo darealidade, instigando a sua percepo e sensi-bilizando-o a interferir ou ao menos participardiretamente do processo de transformaosocial em busca de melhorias para o setorsade, criam situaes de banalizao ou dedistanciamento do seu cotidiano, atravs desituaes alarmistas e descontextualizadas quepouco contribuem para reverter o quadro.Geralmente provocam reaes mltiplas: daestagnao ao pnico, muitas vezes iniciandouma cadeia de agressividade sem precedentes.(LOPES; NASCIMENTO, 1996, p. 2)
Seguindo nessa toada, Lopes (2012) afirmaque nesse contexto as temticas de sade renemuma sensibilidade acrescida junto dos cidados. Aautora exemplifica que qualquer referncia a umainvestigao que promete revolucionar tratamentosclnicos ou qualquer cobertura miditica sobre uma
pandemia no deixaro indiferentes os leitores deum jornal, porque o que se diz de negativo ou depositivo ter certamente repercusses na vida delesou dos que lhes so prximos. Exigem-se, por isso,rigor e contextualizao permanentes (LOPES,2012, p. 13). Se no bastasse esse risco de a infor-
mao chegar distorcida ao leitor, ainda h o medode os profissionais de sade serem mal interpretadospelos jornalistas (que nem sempre conhecem a reali-
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dade da rea da sade) e, consequentemente, pelosleitores, conforme lembra Kuscinsky (2002, p. 97):
Um segundo fator de conflito entre jornalistase trabalhadores da sade se d na esfera da lin-guagem. Os conflitos no campo da linguagemso intensos. Os mdicos e trabalhadores darea de sade no se conformam com os erroscometidos pelos jornalistas, com o tipo de lin-guagem usada, generalista, superficial e repletade equvocos. Para os trabalhadores da reade sade, os mdicos, enfermeiros e outros, a
linguagem precisa e rigorosa constitutiva domodo de pensar; no apenas uma maneirade falar, ela reflete uma maneira de pensar asade. Trata-se de uma rea de conflito muitosria, que teria que ser superada pelas duaspartes, que no entanto no o conseguem.
Kuscinsky (2002, p. 96) acredita que os jor-
nalistas, em geral, procuram os mdicos ou as au-toridades de sade para legitimar uma ideia, umaconcepo, um discurso que j est pr-elaborado,buscam a legitimao cientfica ou a legitimao daautoridade: o chefe do hospital, o secretrio de Sa-de. Castro (2009, p. 44), citando Burkett, explicaque os redatores de cincia (e sade est includa
nesse pacote) precisam compreender a cultura dasade e da medicina para escreverem de maneiraeficiente nessa rea. Importantes como as fontes denotcias so em outros campos, a cooperao dosprofissionais das reas da sade e medicina vitalpara o redator. De acordo com o autor, as redaes
cientfica e mdica tendem a ser dirigidas parafora, ou seja, para audincias situadas alm da estri-ta especialidade cientfica em que a informao se
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origina. No conhecer sobre aquilo que escreve, nocampo da medicina, pode fazer mal sade, comobem lembrado por Kuscinsky (2002, p. 98):
Muitas das distores da mdia, coisas quens atribumos a mecanismos complicados,complexos, na verdade so fruto simplesmentede ignorncia, incompetncia, falta de preparodos jornalistas. Mas essa falta de preparo no apenas ou principalmente uma disfunodo jornalismo . Ela tambm funcional, namedida em que o sistema, num certo sentido,
prefere que seja assim. No campo principal-mente do jornalismo econmico, e talveztambm no jornalismo voltado sade porquese isso fosse muito inconveniente alguma coisaj teria sido feita para consertar.
Essa mesma percepo comungada por Eps-tein (2001), quando relata que alguns obstculosdificultam a popularizao da informao mdica.Para o autor, h uma tendncia frequente entrepesquisadores e mdicos em condenar a mdia eem atribuir a desinformao do pblico coberturainadequada por parte dela. Muitos mdicos des-confiam dos jornalistas e criticam suas reportagens
acerca de suas especialidades por infidelidade,simplificao e sensacionalismo (EPSTEIN, 2001,p. 179). A qualidade da informao tambm ressaltada por Arajo (2012), quando afirma queos jornalistas que cobrem sade tm de ter umacapacidade de anlise e interpretao apuradas,para no conduzirem o leitor em erro. Para alm
disto, a informao sobre sade envolve geralmen-te conceitos muito especficos e h que encontrar
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formas eficazes de traduzir a informao para opblico em geral, para que esta se torne perceptvel(ARAJO, 2012, p. 15).
Essa necessidade de os jornalistas cuidarem daqualidade da informao, das fontes e, sobretudo,do produto final (a notcia) j era lembrada em1990, por Burkett. Em seu trabalho Jornalismocientfico: como escrever sobre cincia, medicinae alta tecnologia para os meios de comunicao,
o autor destacava:Em lugar nenhum h tendncias de empre-endimentos cientficos mais mesclados porvalores econmicos, polticos, de personali-dade e sociais do que na medicina e cinciasda sade ou suas relaes. [...] Os redatoresde cincias precisam compreender a culturada sade e da medicina para escreverem de
maneira eficiente nessa rea. Importantescomo as fontes de notcias so em outroscampos, a cooperao do pessoal nos camposda sade e da medicina vital para o redator.(BURKETT, 1990, p. 155)
E complementava:
Ao lidar com mdicos, os redatores de medi-cina deviam se lembrar que nenhuma pessoapode falar pela medicina. As opinies soestritamente individuais na medicina comoo so na poltica e nos afazeres pblicos.(BURKETT, 1990, p. 161)
Conhecer a seara alheia pode garantir quali-
dade no trabalho jornalstico. O amadurecimentoda convivncia entre jornalistas e profissionais desade se d a partir do momento em que exista o
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interesse de se conhecer um pouco mais a realidadede vida de cada um (LOPES; NASCIMENTO,1996, p. 6).
Pensando na resolutividade das informaescontidas nas matrias de sade encontradas namdia, Kreps (2008, apudGOMES, 2012, p. 17) res-salta o papel educativo que as informaes ganhamao serem tratadas jornalisticamente:
As mensagens de Educao para a Sade
devem ser cuidadosamente elaboradas paraserem eficazes. A dificuldade na constru-o de mensagens estratgicas tem levado adaptao das mensagens de Educao paraa Sade s necessidades nicas de audinciasespecficas, assim como a orientaes comu-nicacionais particulares.
Assessorias de imprensa: a sade das redaesA lgica da produo de contedo sobre sa-de (e para outros tantos assuntos) na atualidadesegue o novo padro de mercado editorial, em queas assessorias de imprensa do o tom. Isso leva emconta que muitos profissionais esto ingressandona rea de jornalismo anualmente, e, devido ao
enxugamento das redaes, grande parte delescomeou a migrar para a assessoria de imprensa.Como h um mercado em franca expanso para essarea, o segmento da sade percebeu a necessidadede comunicar-se melhor e investiu nesse nicho.Consequentemente, por haver interesse e espaona mdia para as notcias referentes a tal segmen-to, as assessorias encontram facilidade em oferecercontedos produzidos pela rea de sade. Pessoni
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(2004, p. 7-8) j lembrava desse desenho de mer-cado h uma dcada e apontava alguns abscessos aserem drenados:
Se de um lado o mercado se apresenta recep-tivo para notcias de sade e as assessorias soprocuradas para oferecer seus servios nessesegmento, um novo problema comea a serdetectado: a comunicao entre profissionaisda comunicao e de sade. Nesse embate deegos e interesses diferentes, por vezes h umtrilogo de surdos: de um lado jornalistas
querendo informaes para ontem e culpan-do os assessores pela demora; de outro, asses-sores tentando fazer com que os profissionaisda sade compreendam o sistema de produode notcias e o cdigo das redaes, que nofunciona na mesma lgica da escola mdica e,por fim, na base dos problemas, os profissionaisda sade que acusam ambos jornalistas eassessores de incompetentes, reducionistas,apressados e despreparados para transformar asinformaes de sade em notcias corretadase no contaminadas pelo sensacionalismo quehabita as manchetes dos jornais.
Com a popularizao das assessorias de im-prensa e a criao dopress release, o trabalho do jor-
nalista ficou mais gil e fcil de ser desenvolvido ouaveriguado. Opress release consiste em uma sugestode pauta feita por uma empresa ou pessoa fsica paraque sejam divulgadas informaes j preparadas pelaassessoria de imprensa. possvel afirmar que atu-almente ele constitui uma ferramenta indispensvelpara os jornais, uma vez que faz a funo de fonte.
Sua maior importncia no processo de averiguaodos fatos, algo que encurta o trabalho dos jornalistas
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(PESSONI; CARMO, 2014, p. 3-4). So justamenteas assessorias que fazem o meio de campo entre osprofissionais de sade e a imprensa, facilitando o
acesso dos jornalistas s fontes ditas qualificadaspara obter as informaes de qualidade nas diversasmatrias sobre sade presentes nas diferentes plata-formas de informao, como bem lembram Marinhoet al. (2012, p. 28):
Por outro lado, o campo da sade, pela sua
complexidade, abre espao a outro tipo defontes: as especializadas institucionais, ou seja,fontes do campo que se apresentam em pbli-co enquanto detentoras de cargos. So fontesque dominam uma linguagem mais tcnica,muitas vezes expressa atravs de metforas,mas que podem tambm influenciar a opiniopblica atravs dos media.
Considerados por Duarte (2002) como a ma-terializao da notcia prt--porter, os press rele-asesno segmento da sade valem boas reflexes. Oprprio autor sugere que, embora qualquer tipo dematerial informativo encaminhado imprensa possaser considerado release, tradio caracteriz-lo
como o documento estruturado na forma de ma-tria jornalstica. Duarte (2002) explica que, casoo contedo seja utilizado, provavelmente no serinformada ao pblico a origem da informao (relea-se) nem identificada a autoria do texto (o assessor),ainda que divulgado na ntegra, como notcia. Dessaforma, lembra Duarte, o veculo assume as infor-
maes como material editorial e garante, com suacredibilidade, o aval s informaes enviadas pela
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assessoria. A audincia, por sua vez, interpretar anotcia como tendo sido pautada, apurada e editadapelo veculo, at porque desconhece o funcionamen-
to do sistema de informao que envolve assessoriase redao (DUARTE, 2002, p. 288).
O mesmo Duarte (2002, p. 290) relata queNilson Lage (2001, apud DUARTE, 2002), baseadoem estatsticas americanas, informava que 60% detudo o que publicado em veculos de comunicao
tm origem em fontes institucionais. Essa presenaest relacionada aos eficientes sistemas de divulga-o, um suporte onipresente, uma rede de influnciaque conquistou uma capacidade natural e, muitasvezes, imperceptvel de intervir na pauta dos ve-culos e na agenda da sociedade. Duarte acreditaque, para muitos, a proliferao e a aceitao de
releases so, em parte, responsveis pela reduo dasequipes nas redaes, j que a notcia chega pronta,gratuita, diminuindo a estrutura necessria paraidentificar pautas e produzir contedo informativo.Tambm facilita e traz comodismo na apurao. Efinaliza: O assessor de imprensa apresenta a infor-mao de maneira embalada, prt--porter, pronta
para o uso ou, pelo menos, para facilitar o trabalhona redao (DUARTE, 2002, p. 290).
Pessoni e Carmo (2014, p. 12) alertam que,por contar com fontes privilegiadas e qualificadaspara abordagem do assunto, os assessores de im-prensa do setor pblico conseguem obter espao
em mdia espontnea, uma vez que o poder pblicotem por obrigao informar a populao sobre asaes campanhas, dados qualitativos, eventos,
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aquisies, abertura de novos servios de sade e encontram nos veculos de comunicao espaode ressonncia para seu material. Para os autores,
outra caracterstica peculiar, principalmente nosveculos mais perifricos, a utilizao dos pressreleases, que deveriam ser tomados como sugestode pauta, como matrias completas reproduzidas nantegra nas pginas dos informativos. Dessa forma,aumenta ainda mais a responsabilidade do assessor
de imprensa na apurao das informaes e na pro-duo do texto, pois estar elaborando no apenas asugesto de pauta, mas, muitas vezes, o texto finalem si, que ser lido, alm do prprio portal de no-tcias da Prefeitura, em diversos veculos menores,por vezes distribudos gratuitamente populao(PESSONI; CARMO, 2014, p. 13).
A influncia das fontes da rea da sade ofe-recidas mdia pelas assessorias de imprensa comovoz qualificada para as matrias nas diversas pla-taformas ressaltada por Arajo (2012). A autoraexplica que todas as fontes encontram nos mediaum meio de difuso de informaes e criao desentido, seja ele informativo, seja educacional, seja
persuasivo, com o objetivo de promover a compre-enso relativamente aos assuntos de sade. Comotodas as fontes de informao, procuram influenciara agenda miditica e o processo de produo noti-ciosa, de modo a criar esquemas de interpretaosocial dos temas que lhes interessam. Para tanto,
recorrem a diferentes tcnicas de relaes pblicasou de assessoria de imprensa, que as tornam pro-dutoras de notcias (ARAJO, 2012, p. 12).
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Arajo (2012) acredita tambm que essaposio de fora das fontes da sade tenha sidofortalecida nos ltimos anos com recurso a tcnicas
de relaes pblicas, de comunicao estratgicaou de marketing que facilitam a conquista do es-pao pblico.
Neste contexto, destacam-se as fontes oficiais,as fontes especializadas no campo da sadee as fontes empresariais que, pelo seu poderpoltico, grau/natureza de saber ou influncia
econmico-financeira, procuram influenciardebates, agendas e audincias, controlando oacesso dos jornalistas informao. Vrios es-tudos demonstram esse aumento de atividadesdas relaes pblicas por parte das organiza-es de sade, incluindo instituies de pesqui-sa, hospitais e outras organizaes prestadorasde sade. (ARAJO, 2012, p. 12-13)
Lopes et al. (2012) analisam que, no mbitoda sade, o objetivo da informao equilibradaparece encontrar alguns obstculos. Para a autora,o acesso s fontes de sade , por muitos, descritocomo difcil. Torna-se muito importante a cons-truo de relaes slidas, com fontes acessveis,
credveis e fiveis:
Por isso, as fontes governamentais ou orga-nizaes prestadoras de sade (ditas fontesoficiais) tendem a ser colocadas na primeiralinha dos contatos. So fontes abertas e confi-veis. A sua informao clara e condensada.E so proativas na comunicao de suas est-rias. Alm do mais, ao apresentarem posiesformais, estas fontes criam uma esfera deconsenso, que parece libertar o jornalista danecessidade de aceder a vozes alternativas.
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So definidores primrios e as suas enun-ciaes beneficiam de maior aceitao peloestatuto social conferido. (LOPES et al., 2011apudARAJO, 2012, p. 13)
Os pesquisadores portugueses, que tambmtm as assessorias de imprensa na produo decontedo jornalstico como fonte da informao desade, acreditam que a proatividade seja um dosfatores que caracteriza as fontes oriundas do poder
dominante. Tom e Lopes (2012) ressaltam que taisfontes tomam a iniciativa de transmitir a informaoaos jornalistas (por meio depress releases, e-mails ouconferncias de imprensa), o que gera um grandevolume noticioso. E alertam:
No entanto, os jornalistas tero de estar muitoatentos a essa proactividade das fontes oficiais,
pois esta poder ser nada mais do que umpresente envenenado [...] As confernciasde imprensa marcadas por essas fontes poderoconstituir uma maneira muito fcil de disponi-bilizar informao sobre determinado assunto,mas tambm uma tentativa de manipulaoda agenda dos meios de comunicao social,afastando a ateno daquilo que realmentelhes poder interessar e fazer parte do interessepblico. (TOM; LOPES, 2012, p. 127).
Os pesquisadores lusitanos vo mais longe aoinferir que a relao entre os jornalistas e as fontesespecializadas tambm fundamental para o exerc-cio da sua atividade, ainda mais na rea da cincia
e da sade. Eles fazem nova observao importanteaos que transitam pelo jornalismo especializado narea da sade:
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No nos podemos esquecer que no lotedas fontes especializadas que se concentrammdicos, cientistas e grande parte dosprofissionais que constituem a vanguarda
do conhecimento cientfico. No entanto, talcomo acontece com as fontes oficiais, as fontesespecializadas tambm procuram usar os mediapara atingir determinados fins. uma realidadeo facto de que um grande nmero de fontesespecializadas fazem (sic) muitas vezes partede organizaes privadas com fins lucrativos,que pretendem crescer e ver-se distinguidasna esfera pblica. Miller (1998) alerta preci-samente para este facto e afirma que as fontesespecializadas podem tentar usar os media paraangariar fundos e membros, satisfazer neces-sidades e expectativas, resolver disputas entreas organizaes e influenciar a prtica local e/ou nacional das polticas do governo. (TOM;LOPES, 2012, p. 128).
Esse comportamento comodista e arriscadoda mdia ao aceitar os press releasesenviados pe-las assessorias de imprensa como material pronto,final, usando a tcnica do Ctrl C / Ctrl V paraque aquilo que era para ser sugesto de pauta virenotcia na ntegra, traz outros perigos apontadospor pesquisadores da comunicao. Xavier (2006)lembra que o contato com as mdias, seja por in-termdio das assessorias de imprensa institucionais,seja por outros meios, parece hoje fundamental paraque nossos bens simblicos a respeito da promo-o da sade sejam tambm inseridos na circulaodesse mercado como capital importante.
No temos realizado tal articulao comcompetncia ou eficcia. Ao contrrio, es-tamos nos tornando, com raras excees,
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especialistas em oferecer s mdias o que asmdias desejam, e no formato que desejam.Isso significa abrir mo de nosso ethos prprio,de nossos lugares de fala, ao mesmo tempo
em que compramos a iluso de que estamospautando as mdias, quando, na verdade, soelas que nos pautam. (XAVIER, 2006, p. 53)
Esse alerta vem tambm de Bueno (2001)quando revela que jornais e revistas de grande oude pequeno porte , em termos de tiragem e pene-
trao; emissoras de rdio e de televiso, de mbitonacional, regional ou local; e mesmo canais de tele-viso por assinatura, em sua maioria internacionais;encerram uma cobertura bastante generosa da reada sade, certamente em funo do interesse queela desperta na audincia. E o autor adverte:
[...] no incomum que a cobertura de sadeesteja povoada de releases emitidos por estasfontes, disfarados como matrias isentas,legitimadas pela incidncia de conceitos eresultados de pesquisas, oriundos de empresastidas como lderes e de universidades ecentros de pesquisa considerados como refe-rncia. (BUENO, 2001, p. 200)
Sobreira (2002, p. 17) avalia que, da mesmaforma que os princpios e a tcnica do jornalismoso semelhantes para todos os assuntos, na po-ltica ou artes e espetculos, as recomendaess fontes para um bom relacionamento com osjornalistas so anlogas em qualquer setor. Na rela-
o entre o jornalista e a fonte o profissional dapoltica, dos negcios, da propaganda, da Justia,da polcia etc. , os reprteres sabem que no se
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ganha informao de graa: a divulgao de umanotcia sempre tem um objetivo, que contrariauns e favorece outros. Nesse sentido, conforme
bem lembra Azevedo (2009, p. 15), quanto maisexpostos estiverem o leitor, o ouvinte ou o te-lespectador a um tema que o afeta, mais sujeitosestaro a tomar atitudes com base nas informaesrecebidas. A autora explica que o que ocorre nacobertura de sade o mesmo que acontece nos
demais campos do jornalismo: a incluso de certostemas e a excluso de outros, colocando em evi-dncia determinadas doenas e polticas pblicasem detrimento de outras. Azevedo exemplifica:
Um dos motivos da tendncia para os hardnewsda sade pode residir na noo de algunsjornalistas de que uma das funes do jorna-
lismo de sade promover a sade atravs danotcia, ou seja, indicar o que se deve ou nofazer para ter mais sade ou, ainda, curar ouevitar uma doena. (AZEVEDO, 2009, p. 13)
O DIAGNSTICO QUE APONTAPARA A CURA
Se, de um lado, o diagnstico do estado daarte do jornalismo em sade indica cuidados palia-tivos no relacionamento entre jornalistas, empresas,assessores de imprensa e leitores, parece, por outro,que a poltica de reduo de danos pode ser apli-cada se olharmos para o paciente de forma mais
holstica. Alguns pesquisadores do receitas quepodem melhorar a sade dos que transitam nessarea e que devem impactar positivamente a quali-
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dade de vida de leitores, fontes e dos profissionaisde comunicao que esto em ambos os lados.
Bueno (2001) acende a luz de alerta, acredi-
tando que as fontes, sobretudo as empresas privadase grupos de pesquisa internacionais, conseguemplantar pautas ou mesmo ver reproduzidos osseus releases, proclamando resultados e produtos,sem qualquer contestao. Para ele, na maioria doscasos, a nota ou matria jornalstica assume um tom
publicitrio to explcito que chega a incomodar osque as leem e a indignar aqueles que postulam umavigilncia informativa e uma postura crtica dosmeios de comunicao (BUENO, 2001, p. 201).O mesmo autor lembra que as informaes quecirculam nessa rea no so isentas e esto atreladasa compromissos que precisam ser desvendados para
que os comunicadores da sade e da mdia em par-ticular no funcionem, ingenuamente, como merosporta-vozes (BUENO, 2001, p. 207).
Menos alarmista que Bueno, Duarte v o ladopositivo desse imbrglio comunicacional na reada sade:
muito bem-vinda uma mediao que faapr-seleo dos acontecimentos, disponibilize-os de forma pr-produzida e com acessocompatvel com o processo de produo danotcia. [...] O resultado, para quem contra-ta o assessor, visibilidade na mdia. Para oveiculo, a notcia. Para a audincia, infor-mao. (DUARTE, 2002, p. 288)
Pessoni e Jernimo (2003) explicam que quan-do os veculos contam com profissionais especia-
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lizados nessas reas, o cuidado tende a ser maior,mas nunca assegura que as informaes publicadasvenham a ser compreendidas corretamente pelo p-
blico leitor. Em jornais de menor porte, nos quais ocarro chefe justamente o departamento comerciale pouco se questiona acerca do contedo das infor-maes enviadas, a publicao indevida de assuntosmdicos se faz mais presente. Nesses casos, a meraobservao de que a responsabilidade do material
publicado do autor no minimiza a obrigao queos meios de comunicao tm de responder pela vei-culao de assuntos ligados sade. Muitas vezes,o jornalista acaba sendo apressado na divulgaode determinada notcia cientfica e a distorce. Issoocorre, nem sempre, por ms intenes, mas pordesconhecimento do assunto, excesso de confiana
na fonte ou nsia de dar a notcia. Exemplificandoessa prtica no setor de medicamentos, Oliveira etal. (2010, p. 7) assim registram:
A cobertura na rea de medicamentos, porexemplo, considerada automaticamentecomo notcia, sem necessidade de se demons-trar sua importncia, pois faz parte da agen-
da social. Porm, a propaganda comercialque muitas vezes est por trs dos textosjornalsticos pagos pela indstria farmacuticacontribui para que parte da populao acabese automedicando sem necessidade. [...] Deacordo com Lefvre (1999), a imprensa pre-para o leitor para a consumizao da sade;que preocupante, pois as pessoas tm direitoa receber informaes sobre sade objetivas,verdadeiras, vlidas e contextualizadas de talmodo que possam ser compreendidas (CalvoHernando, 1997). O alcance de uma desco-berta, a preciso dos dados, a coerncia e
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a consequncia das informaes para cadasegmento da populao deveriam, portanto,constar nos textos jornalsticos sobre sade.
Seguindo a receita de Mafei (2004), que as-sinala que o melhor caminho para uma prticaeficiente de assessoria de imprensa talvez seja ode construir relacionamentos ticos slidos com osjornalistas, lembramos que, seja na rea da sade,seja em qualquer outro espao miditico de trnsito
profissional, os relacionamentos bem construdosno se fazem da noite para o dia: Para fazer conta-to com os jornalistas, voc precisa, primeiramente,ser perito sobre o assunto a ser divulgado (MAFEI,2004, p. 79).
Dessa forma, capacitar-se, compreender aimportncia da informao emitida e a publicada,
sobretudo aquela que pode afetar diretamente avida de milhares de pessoas, chama o profissionalque atua no jornalismo de sade para uma atitudee atuao mais responsveis, crticas, educativas,entendendo que suas informaes podem contri-buir para a melhoria do aumento da qualidade de
vida de muitas pessoas. Agir com tica, correoe ateno s fontes e contedos acessados dar,com certeza, novo flego rea do jornalismo nosegmento da sade e abrir novas possibilidadeseducativas nesse tema aos que buscarem os conte-dos elaborados pelos profissionais de comunicao.
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REFERNCIAS
ARAJO, Rita Alexandra Manso. As relaes negociais
entre jornalistas e fontes: o caso da