JORNAL PEDAL Nº 10

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Edição de Novembro

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NÚMERO DEZ – NOVEMBRO DE 2012 Ficha Técnica: Director: Bráulio Amado (BA) [email protected] Director Adjunto: Luís Gregório (LG) [email protected] Editor: João Pinheiro (JP) [email protected] Redacção: Ricardo Sobral (RS) [email protected], João Bentes (JB) [email protected], Duarte Nuno (DN) [email protected] Colaboraram nesta edição: Capa: Münster Studio, Fotografia: Raquel Fialho, Henrique Ferreira Ilustração: Luis Gregório, Noca Textos: Tiago Carvalho, Noca Ramos, Joana Barrios Produção de Moda: Styling e Produção: Sara Mousaco Curado Fotografia: Hella Pebble Maquilhagem: Tânia Neves Modelo: Anita Teófilo Banda Desenhada: Rick Smith Revisão: Babelia Traduções babelia.pt Design e Direcção de Arte: Estúdio HHH Comunicação: Helena César [email protected] Departamento Comercial e-mail: [email protected] tlm: 915044437/933514506 Distribuição: Algarve: Bike Postal, Markko Bike Messenger. Porto: Roda Livre JORNAL PEDAL é uma marca registada / Morada: Praça Gonçalo Trancoso 2 – 2 esq, 1700-220 Lisboa Tel: 933514506/915044437 e-mail: [email protected] web: facebook.com/JornalPedal / jornalpedal.com / twitter.com/JornalPedal Impressão: Empresa Gráfica Funchalense S.A. funchalense.pt | email: [email protected]. pt Tel. 219677450 Fax 219677459 Tiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal: 340117/12 O JORNAL PEDAL faz parte da Cooperativa POST postcoop.org Jornal Pedal é uma publicação gratuita que não pode ser vendida.

É este o Pedal "X". O décimo Pedal num Novembro marcado à maneira romana, um "X" que cruza portugueses e catalães em

bastardos sortudos que fazem peças pedaleiras em Barcelona. Um "X" que se transforma em dois cassetetes em manifestações na praça pública de São Bento. O "X" que mostra uma Anita de bicicleta num editorial de moda desdobrado em fotografias forradas a cromossomas femininos. Um "X" de incógnitas quando ciclados são os passos. O "X" é neste Pedal também a medida das bicicletas de um homem que as faz, o ponto de intercepção de bicicletas habitadas e o apontar de um espaço "X" com muita vélocité.É "X" por ser este o número do Pedal onde nasce a liga das ligas, a "Liga Pedal"... Passem os olhos em tudo até encontrarem o "X".

Editorial

LIGA PEDAL

Em tempos liga de cavaleiros, depois liga de nações e até ligas que se escondem atrás de saias femininas. No entanto, esta é "a" liga. Com o carimbo do Jornal Pedal, esta é uma liga para todos, sejam pedaleiros de barba rija ou de cabelos compridos ao vento. O importante é correr em duas rodas e chegar em primeiro.Criada agora, válida para sempre, pretende organizar um renque de participantes em Alleycats espalhadas pelo território nacional e aceites na assembleia do Jornal Pedal. No fim do ano Pedal, fazem-se contas certas ao pedaleiro dos pedaleiros e distribuem-se as devidas ofertas aos três primeiros lugares. Regulamento e instruções em jornalpedal.com

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a bicicleta há um selim onde sentar. Há um guiador onde fixar os punhos e enrolar os dedos, há pedais para fazer funcionar os músculos das pernas e empurrar o composto mecânico a traçar mil caminhos, iguais ou diferentes entre visões sobrepostas de bocados da cidade. Há um ritmo próprio que leva os joelhos acima e abaixo numa musicalidade sem barulho, compassos acelerantes

ou calmantes que, por vezes, carregam uma pasta atrás e, outras, as costas ao léu, conforme cabe ou não nos bolsos o que há para levar.O vento vem à cara e leva tudo o que está na cabeça para a atenção aos gestos do que rodeia que é um aglomerado de liberdade munida de obstáculos e recheado de circunstâncias imprevisíveis que provocam a reacção repentina e que fazem entender melhor a palavra concentração. Há também pausas para os cabelos compridos que passam, para a descoberta de uma ruela nova que nunca pareceu ali estar ou até para uma troca de palavras com caras amigas. Os ruídos são como manchas no ar, por vezes mais nítidas e por vezes demasiado aguadas para serem notadas, é um misto que interage com a música própria da composição a pedais e que eleva toda a realidade a uma dimensão própria do que é andar de bicicleta.Há uma relação construída que provoca alterações no quotidiano e no próprio evento diário. Essa relação, em aproximação contínua, para além de alterar a forma de como se mantém uma relação com o meio, muda a percepção dos vários compostos do ciclo-objecto. O metal dos pedais encaixa perfeitamente na base dos pés, o selim tem um ajuste como se feito por medida às nádegas e o guiador parece ter nascido com o homem a pedal. Para além disso, também a dor se prolonga às partes cicláveis. No caso de um toque no aro ou de um furo repentino, sai um “ai” pela boca do ciclo montado, como se houvesse uma reacção nervosa, como se a dor fosse dele mesmo, e é. A palma das mãos torna-se naturalmente moldada à criatura tubular que é o guiador, a superfície interior das mesmas conforta-se com a sua presença, alivia-se até com o ser frio e metálico.Os minutos mudam para horas que se multiplicam pelos dias e o tempo de selim estica. Se é para passar pela porta que dá para a rua, é para ir a duas rodas seja para marcar presença em aulas, para experimentar uma cevada especial ou para recolher mantimentos, o quê e onde não é importante. Passar lá para fora é ir a duas rodas. Passou a ser um bem essencial ao equilíbrio cuja natureza se confunde entre física e psíquica.Existem momentos que ocupam o espaço entre os ciclo-períodos. O antes e o depois de ciclar. Alturas que obrigam o desagregar entre o ciclo-andante e o ciclo-objecto para percorrer caminho com recurso ao movimento de andar com os pés na superfície urbana.

O momento antes de ciclar é mais fácil, é relaxado e natural, mas depois de saltar ao selim o ciclo-composto fica completo e a reacção entre as coisas mais estável. Isto faz do depois de ciclar um acto consequente da boa relação com as ciclo-partes. São passos ciclados em que andar pela calçada se torna uma dança de ritmos desajeitados como se os próprios músculos não estivessem preparados para o desafio, como se apresentassem uma desconexão entre eles e as partes mais rijas do corpo. O triângulo nasal apresenta uma ruptura, um escorrer líquido que tenta recuperar a temperatura e a humidade da ciclo-velocidade.A descida de degraus acontece mais vezes mas de forma insegura que resulta do ângulo estranho de relação com a gravidade. As pernas são atiradas para a frente como blocos, como presenças externas ao resto do corpo que se esforça por manter uma postura direita. Fica-se com os pés entalados nos movimentos torneados da pedaleira, como se o pé e o pedal fossem parte do mesmo molde, tudo junto numa peça só. Faz frio nas costas, resultado de um esforço extra para subir uma montanha do percurso ciclado e que provocou o suspirar dos ombros que molha agora a camisola. Os cheiros são intensos, sente-se mais o odor próprio que se envolve no fumo das castanhas assadas ao fogo e com os perfumes dos risos laterais.O contacto com o mundo que rodeia é agora mais prolongado, desconcertante. Não há onde meter as mãos. Estas recorrem ao bolso e tocam repetidas vezes na chave do “U” que guarda a bicicleta num qualquer poste. Não há um quadro de tubo frio que protege e faz encher o ego, a troca de palavras é mais sentida, absorvida de forma estendida, como se a tocar toda a curva de entoações que constroem interpretações na mente. As pausas ficam maiores, levam o pensamento a lugares despropositados, a ideias indesejadas e à proposta de assuntos desconexos. Está ausente aquele escudo metálico, que ora barra as bocas mais sujas, ora aconchega o piropo manso e que guarda e organiza o pensamento. Ciclado, o passo tem um outro olhar em que há mais para ver. É provocada a busca da concentração nos elementos que agora são imensos e que levam ao enjoo por demasia de informação ocular à alma que se encontra sem rodas. A liberdade é conduzida de uma forma mais aleatória, faz falta uma outra velocidade de experimentação, o conforto do vento que isola dos maus ruídos e que conduz à absorção do próprio momento ciclado. Não há o balanço que faz não parar e obriga a manter o equilíbrio em cima de dois aros circulares, há agora um balanço sem sentido com os pés que arqueiam à procura de um pedal para descansar.Fora do selim é andar no limbo.

Passos Ciclados João Bentes

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a sua origem etimológica, habitar é uma palavra que aponta para uma síntese entre os lugares, as coisas e o homem. Habitar, no sentido próximo de vivência, designa essa inevitável teia de relações que o homem, enquanto criador, vai tecendo com aquilo que o rodeia; por sua vez, em modelando o espaço que o circunda, também as suas condutas e a pertença aos lugares e dos objectos é paulatinamente alterada. Eis o

que o parentesco de palavras próximas à sua raiz nos revela: have, behave, habit, inhabit em inglês ou haver, hábil e hábito em português. Habitarmos alguma coisa é então prestarmo-nos a determinadas relações duradouras de pertença, comportamento e posse. É assim que podemos estabelecer que habitar a cidade não é simplesmente morarmos nela. O habitar pressupõe o exercício público de um domínio ético e estético; pressupõe também um convívio entre homens e mulheres iguais, orientado para a discussão e proposta de políticas que estejam em acordo com um determinado tipo de habitar. É essa a herança, ainda actual, da imagem da ágora grega, em que cidadãos livres dialogavam acerca das coisas da polis. Ora, dado que a vivência em cidades se torna cada vez mais multímoda, também a dimensão do habitar vai acumulando essa progressiva complexidade. O morador transforma-se todas as manhãs no precário a recibos verdes, ou no investigador, ou no empresário e, após algumas horas, transforma-se novamente num peão, num condutor ou num ciclista. O habitar é por conseguinte também afectado pelo meio de transporte que adoptamos. Nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, a viatura particular é ainda o transporte predilecto. Não devemos conceber a cidade como um simples receptáculo de mais e mais viaturas; é precisamente por o automóvel estar tão popularizado que a cidade se vai adoptando à sua própria lógica. Tal organização da cidade provoca alterações concomitantes na percepção do espaço e do tempo, já que surge alinhada com as dimensões próprias desse habitar: as ruas perdem escala e transformam-se em estradas; o espaço público é sacrificado na procura por lugares de estacionamento; os percursos cancelam as paragens entre quaisquer dois pontos porque pressupõem um deslocamento motorizado; as vivências são progressivamente industrializadas pela motorização; a construção social da “pressa” e da eficiência produtiva legitima-se.Por sua vez, qualquer condutor de um veículo subtrai-se ao exterior através do habitáculo metalizado onde reside, e ao qual cada vez mais se vai habitando. A interacção com o exterior é feita exclusivamente através da visão, de buzinadelas ou de outros indicadores no painel de bordo. O motor vence subidas íngremes, pisos irregulares, lonjuras consideráveis; graças ao ar condicionado e a este isolamento ficcionado, o automóvel passeia-se como se não houvesse, no mundo real, frio ou calor, borrascas e aguaceiros. Não tarda a que surjam hábitos e condutas familiares a este habitar, como a consideração de que os centros históricos, lugares anteriores ao aparecimento dos automóveis, sejam perspectivados não pelo que são, mas pelo que não têm; ruas amplas e rectilíneas, oferta de estacionamento, grandes garagens e escadas rolantes, como se fossem simulacros dos centros comerciais e das auto-estradas vizinhas. Esta lógica do habitar automóvel vai criando átomos sociais, impondo a normalização de velocidades elevadas, transformando cidadãos livres em consumidores de espaço e tempo e em cúmplices passivos da sua distorção. A criação de novos e bizarros territórios sucede-se como natural.Por outro lado, é também evidente que a escolha de adoptar uma bicicleta como meio de transporte urbano provoca a consciência, no seu utilizador, de uma nova percepção da cidade e da maneira como esta tem sido arquitectada para outras mobilidades e vivências aceleradas. Adoptarmos a bicicleta é introduzirmo-nos e permitirmo-nos a uma lenta e hábil medição humana da cidade, de acordo com o

Habitar a Bicicleta

seu ritmo próprio e consentâneo com a sua escala; tornamo-nos mais próximos à cidade e ao seu tecido pela persistência dos nossos músculos e pulmões. Estamos perante algo muito maior do que a mera bicicleta-objecto, e é pelo seu uso contínuo que vamos expandindo esse horizonte, até que possamos criticar as deformações com que outras lógicas do habitar vêm actuando na cidade. Em suma, a bicicleta pode propiciar um habitar estético e ético da cidade porque, além de unir sensorialmente a cidade ao seu utilizador, devolve-lhe a consciência perdida do exercício político que é a expressão e expansão dos seus direitos a utilizá-la. Estes dois aspectos podem unir-se no sentido de que muitas vezes só estamos propensos a pugnarmos por alguma coisa por ela fazer parte do nosso quotidiano. Raros são os críticos da bicicleta como meio de transporte que se tenham dedicado a umas pedaladas frequentes. Em Lisboa, creio que os primeiros anos da Massa Crítica demonstram esta união, este habitar pleno da bicicleta. Talvez tal se tenha devido à impressão de que se estava ainda num começo de algo maior do que todos os envolvidos e com largo potencial para crescer. Nesses passeios iniciais, com algumas dezenas de pessoas, a distribuição de panfletos, a troca de ideias e o trautear de bordões era bastante frequente. Neste fervilhante cadinho situa-se a génese de alguns movimentos, colectivos ou associações actuais. É decerto bastante interessante verificar como também a defesa e a preservação de espaços pedonais se tornou íntima a bastantes utilizadores de bicicleta, creio que por semelhança de ambas as vivências. Por vários e diversos efeitos, entre os quais se destacam o trabalho de casa empático que é o boca-a-boca dos entusiastas das duas rodas e a crise financeira e económica, a bicicleta veio para ficar; mas é na permanência desse habitar que se detecta um divórcio mais claro entre hábitos comuns de outrora, entre o ético e o estético, com a consequente pauperização da consciência política e cívica e o empolamento da imagem e da moda da bicicleta. O próprio mercado é aliás um óptimo indicador. Muitos escaparates já instalaram a bicicleta da praxe, que dá um ar caseiro e neo-tradicional a quaisquer produtos a serem vendidos. O aparecimento de várias lojas de bicicletas permite a aquisição de produtos acessórios e a satisfação das idiossincrasias pessoais, a respeito da indumentária ou do desenho da bicla. Há até quem garanta que é necessário despender pelo menos uma ou duas centenas de euros para pedalar em condições. “Chique a valer”, como diria Eça, é pedalar com estilo e sem stress, seja em corridas vertiginosas, em brandas bicicletadas ou até à próxima festa de e para ciclistas; pelo meio, o chavão “ecológico” também cai bem. Tudo isto decorre de uma tentativa meritória de afastar a bicicleta à exclusividade do lazer ou do desporto e de torná-la tão corriqueira e única ao portador como uma peça de roupa. Mais ainda, de celebrá-la.Não descuro o poder do carisma das binas para atrair adeptos. Apenas que andar de bicicleta não é sinónimo de pedalar. Será habitando a bicicleta que se pratica um exercício crítico maior do que o regozijo afirmativo de uma imagem. Deve ser também um compromisso solidário com uma visão de diálogo confrontacional com o poder, de como este condiciona esse meio de transporte e como vem modelando a cidade e o território de forma unilateral e com escalas carro-cêntricas, obrigando a dependências fúteis e ao definhamento da cidadania. Se a crise é também sinónimo de oportunidade, não se deverá subestimar a mole humana que tem surgido, entre precários, imigrantes e reformados, e para quem pedalar funciona porque é gratuito ou saudável, não porque haja uma imagem associada. Como é fácil falar sobre o futuro deveremos estar de prevenção: não saberemos se andar de automóvel ou mota vai ser mais fácil ou barato do que é agora. E é por esse motivo que é necessário actividade e talento político para captar adeptos da bicicleta que não se desvaneçam quando a moda findar ou quando o poder de compra possa crescer o suficiente para que a compra de um automóvel ou passe de transportes públicos se torne mais acessível.

TiagoCarvalho

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Eu não percebo o estado a que as coisas chegam!

Eu e o Saraiva aderimos à greve geral porque isto não pode continuar assim. Fomos ao desfile e tudo. No fim, concentrámo-nos no largo de São Bento. Ficá-mos lado a lado amarrados a um poste e daí mostrámos a nossa indignação com o estado a que sucessivos governos meteram Portugal. Já era noite e nin-guém arredava pé do sopé das escadarias da Assembleia da República. O Sa-raiva só me dizia, “Pena não estar cá mais gente”. Olho para as escadarias e reparo que está um muro surdo de escudos transparentes e pensei “De que se escondem eles? O escudo é transparente”. Um clarão azul irrompe na noite e os tímidos que estavam por de trás dos escudos transparentes revelam-se agres-sivos, descuidados e tudo, e neste caso estou a falar de pessoas, o que estava à sua frente é varrido à vontade do cassetete. Batendo só em quem estava a cau-sar desacatos, diziam eles. Batendo em toda a gente, digo-vos eu e o Saraiva se ele não tivesse ido parar à oficina. Quando não conseguiam empurrar mais as pessoas, ficaram por momentos atónitos. “E agora?” era o que diziam os seus olhos. Já os seus walkie-talkies diziam: “É para limpar toda a gente do largo!”

Assim o fizeram.

Se as paredes dessem para atravessar, as pessoas atravessavam com medo de apanhar uma bastonada desses seres mal ordenados. As pessoas pareciam que estavam num funil com quatro saídas bem apertadas e ainda por cima com os bastões a pedirem: “Por favor não se revoltem, porque isto não está tão mau.

E quem está lá dentro sabe o que fazer.”Pior foi quando esses bastões pediram gentilmente para eu e o Saraiva sairmos daí. Ficámos parvos com o pedido. O que é que nós estávamos a fazer de mal? Para mais, estávamos amarrados com um daqueles cadeados em “U”, que nada nos arranca dali. Estava a mostrar a um agente de “ordem” que estava preso, quando apanhei logo com uma bastonada mesmo na forqueta. Era nova. A partir daí foi dar como se não houvesse amanhã. O Saraiva foi quem apanhou mais, porque estava à minha frente. “Não estão a ver que estamos amarrados?” Ainda tentei ver se tinha comigo a chave suplente mas nada. Assim como nos começaram a bater, pararam. Pareciam uns bebés que quando se acena com outra coisa se es-

quecem do que estavam a fazer. Mas aí nenhum de nós estava consciente.

Eu acordei já em casa. Pelo que percebi, o Saraiva ainda estava na oficina. Estavam-lhe a soldar o quadro. Isto não se faz!

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Feito em Barcelona, para vestir ao guiador por todo o lado

ENTREVISTA: DUARTE NUNO E JOÃO PINHEIROTEXTO: JOÃO BENTESFOTOGRAFIA: RAQUEL FIALHO flickr.com/photos/xkelx

Lucky Bastërds

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Bastardos sortudos é a assinatura dos jovens ibéricos que a partir de Barcelona criam roupa ciclável. São dois portugueses e uma catalã que desde Novembro de 2009, depois de lançarem o primeiro produto no primeiro Campeonato Internacional de Bike Polo em Barcelona, deram início à aventura Lucky Bastërds.Neste momento são três os Bastardos. A Maria é catalã, o Rodrigo e a Catarina são de Lisboa, todos na ordem dos trinta anos de idade. O nome da marca que criaram vem da sorte que tiveram em fundir objectivos de carreira e da sorte que tiveram em arranjar ferramentas de trabalho para iniciarem o projecto. Acerca da origem, Catarina responde-nos: “éramos quatro pessoas com trabalho no nosso ramo de formação, mas com vontade de explorar os nossos gostos e criatividade em alguma coisa nossa, um projecto onde seríamos os nossos próprios chefes”. Rodrigo acrescenta: “Andava louco com a explosão do fixed gear aqui em Barcelona, ainda pensei que ser bike messenger seria uma boa ideia. Já nem me lembro como me surgiu a ideia de fazer mochilas de bike messenger...“. Entrou em contacto com a Maria por saber das suas competências na área têxtil, conta-nos Maria: “O Rodrigo veio um dia falar comigo sobre fazer mochilas. E eu adoro mochilas!” As conversas passaram a reuniões que depois passaram a sessões de trabalho que vieram a aumentar exponencialmente. Provenientes de diferentes áreas de formação que se complementam, Maria veio do design têxtil, trabalhou antes numa empresa onde era padronista e onde conheceu também a Catarina que é designer de produto. Rodrigo é designer gráfico, andou a saltar por vários estúdios ao longo de onze anos e é Director de Arte numa outra empresa, para além de responsável pelo trabalho de comunicação na Lucky Bastërds.Sobre a implementação da marca afirmam que “é mais fácil do que a maioria das pessoas imagina”. Resumem o sucesso à determinação e à vontade de concretização de uma linha de pensamento, no entanto “nem tudo são rosas”, dizem-nos. “Há que encarar tudo de uma forma positiva, saber ultrapassar os desafios e os problemas que vão surgindo, não querendo fazer tudo de uma vez só”. Embora fossem quatro na altura, o primeiro ano foi complicado. Tinham o tempo dividido entre o trabalho de sete dias de semana e as horas de fim-de-semana dedicadas à marca que estavam a construir. “Foram muitas horas, muitos fins-de-semana, muitas pizzas e cervejas!!!” No entanto, é esforço que se transforma hoje em orgulho, ao ver os seus produtos na rua e todo o reconhecimento no meio. Mesmo não tendo a experiência de ter uma empresa em Portugal, afirmam parecer-lhes que em Espanha é menos burocrático e mais fácil. Para além disso, apanharam a onda do “ciclo boom” espanhol de 2008 com as primeiras Alleycats e torneios de Bike Polo que lhes deram um empurrão no meio. Acrescentam: “De qualquer forma, não podemos comparar o tamanho entre os dois países. Em Portugal só desde o ano passado se está a passar por esse boom ciclista que esperemos que venha para ficar”.É num pequeno estúdio em Barcelona que as peças da Lucky Bastërds são desenhadas e produzidas, há um controlo de qualidade próprio de uma produção não massificada e local que procuram preservar, para além da colaboração com artistas e artesãos regionais quando não têm ferramentas apropriadas para o trabalho desejado. Dizem-nos: “Não produzimos de forma massiva por convicção porque para nós é muito importante comprar e produzir tudo a nível local para obter a qualidade que desejamos e poder controlar todos os processos até ao produto final.” Apologistas da filosofia “Do it Yourself”, organizam os projectos de forma a contribuírem todos no início dos projectos e daí em frente, cada um trabalha o seu

campo de especialidade até que, ao chegar ao fim do processo, poderão estar os três a coser.Quando se fala dos desafios dos próprios produtos Lucky Bastërds, as opiniões dividem-se. Para Rodrigo, um dos projectos que mais gozo lhe deu foi o chapéu “Lisboa” com os Matilha Cycle Crew, "por ser com um colectivo português com quem me deu imenso gozo trabalhar e porque é sobre e para a minha cidade!“ Quanto ao projecto mais completo, tem preferência pela colaboração com a Laser Barcelona de onde surgiu uma colecção e até um evento que reuniu participantes com ciclo-especialidades diferentes. Nesse seguimento, para Catarina, o trabalho mais interessante é exactamente o que provém dos eventos. Diz-nos: “Aqui temos a oportunidade de explorar a nossa criatividade e fazer coisas diferentes e exclusivas onde experimentamos técnicas e combinações novas”. Dá ainda o exemplo de trabalhar a partir da desconstrução do cartaz do evento, remata a ideia: “E o prazer que advém de poder participar no evento, conhecer as pessoas que estão atrás de uma organização e criar esta "comunidade" de amigos bike friendly”. Maria refere ainda a colaboração com uma marca de bicicletas catalã que traz à tona a sua infância, a Panther Rabasa, uma típica BMX em espanhol. Diz Maria: “basicamente, a marca ressurgiu o ano passado e tivemos a hipótese de desenvolver uma linha de chapéus e straps exclusiva para eles que será lançada em Dezembro”. No fundo, os trabalhos reúnem o reflexo de uma ciclo-comunidade local. Nela integrados e para ela são pensadas as peças da Lucky muito influenciadas pela vivência de Barcelona. As reacções têm sido boas, aqui e ali recebem elogios das peças fabricadas por eles, referem até uma conversa que tiveram em Lisboa no Bicycle Film Festival: “Tivemos uma óptima conversa no meio da festa do BFF: "És dos Lucky Bastërds? Qual é que é a diferença dos straps V1 para os V2? Queria saber porque tenho os vossos V1 há dois anos e funcionam lindamente. Quando os comprei achei um pouco caros mas se, na realidade, duram tanto é porque vale a pena. Parabéns!". Sempre

apostaram na atenção ao detalhe do desenho, ao cliente e à qualidade do produto que estão a vender, e as pessoas apreciam a atitude.Os Bastardos tentam sempre estar presentes em eventos diferentes onde, para além de estabelecerem contacto com lojas locais para a apresentação do material Lucky Bastërds, utilizam as circunstâncias como meio de conhecer outros projectos dentro da mesma iniciativa. Estão também envolvidos em projectos locais cuja filosofia se ligue à sua marca, como a Bici Escola, uma escola de bicicletas para adultos, ou o projecto de uns amigos que querem abrir um cycle café & workspace em Madrid e que estão a fazer uma acção de crowdfunding. Fizeram ainda parte da organização do Campeonato Europeu de Bike Polo, comunidade da qual fazem parte de forma activa em Barcelona.Ao explorar a relação dos criadores da Bastërds com o ciclo-objecto, encontram-se uns rijos utilizadores da bicicleta, têm até, mais do que uma bicicleta para as diferentes actividades que praticam. Para Rodrigo, a utilização vai desde a rotina diária até ao lazer e à prática desportiva de bicicleta de montanha. No dia-a-dia, utiliza uma Orbea fixed gear restaurada e pintada pelo próprio e na montanha uma Mondraker. Maria tem uma Oregon, “a melhor bicicleta para cidade”, afirma, e uma BH Bionica, uma vintage para os passeios urbanos. Catarina utiliza as duas rodas essencialmente para lazer, diz-nos: “Há cerca de dois anos começámo-nos a aficionar ao cicloturismo, primeiro com a rota do Danúbio, depois com algumas voltas em Espanha e este ano fizemos o Douro, de Miranda do Douro ao Porto”. Tem uma BH adoptada para cicloturismo, uma Sirla convertida para a prática de Bike Polo e ainda uma Hercules, uma bicicleta alemã de passeio que planeia restaurar durante este Inverno.Entre Barcelona e Lisboa, Maria refere a Barceloneta e a linha de praias como lugares predilectos para ciclar e diz nunca ter percorrido Lisboa de bicicleta, “Só andei no 28 e escadinhas”, diz-nos. Rodrigo prefere a Collserola de

Barcelona “para um bom dia de mountain bike” diz, e acrescenta que Lisboa é uma cidade para carros e que para percorrê-la “é preciso conhecer bem a cidade e aí as colinas deixam de ser um problema”. Catarina diz que a cidade catalã se transformou bastante nos últimos cinco anos, há agora mais ciclovias e mais utilizadores da bicicleta, aponta uma descida até ao Aspirina/Templo para uma noite de Bike Polo ou passear num domingo sem carros pelo Eixample como lugares preferidos para ciclar em Barcelona. Diz que em Lisboa se nota “o mau estado das estradas, os carris dos eléctricos de linhas desactivadas que não são retirados nem tapados e a falta de hábito dos carros e taxistas em conviver com as bicicletas”. Por outro lado, aponta a mudança que está em curso na capital portuguesa, a bicicleta é agora claramente uma alternativa de transporte, diz: “deixou de haver aquela visão unilateral de que a bicicleta é só para passear ou fazer desporto” e termina entre risos com “os peões têm que se habituar também a ver a ciclovia como uma faixa e não como um piso e uma cor que os atrai para passear”. “Ufff” foi a resposta quando se menciona a possibilidade de abrir uma loja num espaço físico. A ideia seria, no entanto, uma loja-workshop, num futuro que se encontra “a anos luz”, dizem os próprios, uma vez que seria um risco a sua implementação no panorama actual. Têm prevista uma colecção de Inverno com a Laser Barcelona e uma série de eventos em parceria com a Enciclika mas não se pode ir mais além no assunto por ser surpresa.Entretanto, estes sortudos e bastardos estão à venda em ciclo-produtos exclusivos nas lojas do ramo e também nas ruas da Internet em luckybasterds.es.

"…para nós é muito

importante comprar e

produzir tudo a nível local…"

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Texto e Ilustração: Noca

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Tenho-me apresentado (e é assim que quero que me vejam) como um apaixonado... alguém que gosta de se entregar de corpo e alma às suas paixões, aos seus desejos, aos seus sonhos. O "myBikes", que agora é visto por muitos como se se tratasse de um "negócio", nada mais é do que o nome que eu dei à galeria de fotos no meu Facebook onde eu ia/vou partilhando as minhas bicicletas. Um dia pediram--me para expor algumas bicicletas na Urban Designers no Porto e tive que dar um nome ao que estava a mostrar. Não faria sentido chamar outro nome que não "myBikes" porque na realidade era disso que se tratava. Não eram bikes que eu fazia para vender. Eram bikes que eu fazia para mim, para ir matando o meu bichinho pelas bicicletas... Já me perguntaram algumas vezes a razão pela qual tinha optado por "myBikes" e não "as minhas bicicletas". A razão é simples! Com o passar do tempo fui partilhando pelo mundo da Internet as minhas bikes e com isso fui ganhando muitos amigos no mundo inteiro. Pareceu-me então mais lógico usar o "myBikes". Este BOOM mediático que se desenvolveu à minha volta resultou da exposição que fiz na Urban Designers e da partilha que ia fazendo no Facebook. Penso que também foi fruto da bicicleta estar na moda nos dias de hoje. Assustei-me um pouco ao início pois mais parecia que o "myBikes" era um negócio que me estava a dar rios de dinheiro. A vontade de noticiar a coisa dessa maneira era notória (talvez assim fosse mais vendável) mas isso deixou-me um pouco triste pois tratava-se de uma das minhas paixões mais verdadeiras e não de apenas mais um negócio. Com tudo isso acabei por registar o "myBikes" mas não quero com isso que a coisa me faça perder aquela minha paixão de fazer bike a bike sem me preocupar com fazer para vender. Isso é coisa que nunca fiz. Tenho aceitado alguns projectos mas para que os aceite tenho que me identificar com o que me estão a pedir. Só dessa maneira consigo apaixonar-me pela coisa e assim entregar-me de corpo e

alma. Quero manter esta minha maneira mais romântica de estar na coisa (só consigo estar apaixonado por uma rapariga de cada vez) porque foi assim que começou e é assim que quero continuar. Não inventei a bicicleta, não faço tubos, não soldo com cuspe, não vou salvar a crise em Portugal a pedalar... Apenas tento dar corpo aos meus sonhos. Também não faço papel, não faço canetas, não faço tinta preta... apenas uso isso tudo para desenhar. A paixão pelas bicicletas quase que nasceu comigo. Sou da Gafanha da Nazaré e aqui a bicicleta é algo que faz parte da realidade de todos. O gosto pelo desenho começou também bem cedo e tem sido o que me tem guiado no meu percurso de vida. Foi esse mesmo gosto que me levou a estudar artes, arquitectura e depois mais tarde design. A disciplina de projecto foi coisa que estudei mas cedo percebi que era algo que fazia parte da minha vida. Sempre adorei projectar, fazer, experimentar, etc.. Quando era adolescente já gostava de ter as minhas bicicletas de certa

forma diferentes por isso arranjava sempre maneira de as pintar ao meu gosto. Quando fui estudar para o Porto é que, na realidade, percebi que na Gafanha as pessoas andavam muito mais de bicicleta do que no resto do país. Foi também nessa altura que estive mais longe da minha paixão pelas bicicletas (por falta de tempo e também por loucuras de estudante universitário que me foram afastando de uma actividade desportiva). Quando mais tarde regressei a Aveiro/Gafanha da Nazaré voltei a acordar a minha paixão pelas bicicletas. Foi nessa altura que comecei a interessar--me pelas single speed e fixed gear. Até então andava quase só de BTT. Aos poucos fui explorando toda a informação que ia encontrando na net sobre o tema. Essa procura levou-me a fóruns (Fixed Gear Portugal, por exemplo) e a sites dedicados ao tema. Quando dei por mim estava já a fazer uma single speed à qual chamei "before the bullfight" (quem me conhece bem percebe logo porquê). Foi com essa bicicleta que me fui apresentando ao mundo virtual. E foi dessa maneira que fui fazendo mais alguns projectos. Aos poucos comecei a querer algo mais... Queria levar mais longe o conceito de "algo único" e comecei a pensar

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projectar uma bicicleta de raiz e não apenas personalizar quadros já existentes. Andei a trocar e-mails com uma série de construtores (Itália, França, etc.) e mais tarde acabei por descobrir o Valdemiro, em Ovar, que me tem ajudado a dar corpo aos meus sonhos. Sempre fui um defensor do "cada macaco no seu galho" e tento sempre recorrer a quem sabe fazer bem. É claro que participo o mais possível em tudo. Não consigo imaginar-me a apenas mandar fazer. A parte da pintura é outro aspecto importantíssimo nas minhas bicicletas. A arte final é-me garantida por um amigo pintor profissional mas com isso não me "livro" de fazer todo o trabalho de preparação (algo muito mais trabalhoso do que muita gente imagina). Já me chamaram de "alfaiate" quando na realidade o alfaiate é o Valdemiro. O pintor pode então ser visto como o fornecedor de tecido. Eu prefiro que me vejam como estilista que coordena todo o processo para que a coisa vá ganhando a forma do meu sonho.Aos poucos fui começando a ser abordado para fazer bikes... Tenho recusado 90% dos pedidos (ou por não me identificar com o que me pedem ou porque me recuso a replicar bikes que fiz para mim, à minha imagem, ao meu gosto). Tenho pessoas que não se importam de esperar pela sua vez porque percebem que dessa maneira é que vamos conseguir garantir que a construção da sua bike vai ter toda a atenção possível. Uma de cada vez... um projecto de cada vez... Não começar uma bike sem ter acabado a anterior.Tenho aprendido muito com os próprios erros e dúvidas. O erro é algo que não nos pode afastar ou assustar. Para aprender precisamos de errar. Mas para errar precisamos de fazer. Isso faz-me querer aprender sempre mais. Sei que sou também um perfeccionista e isso torna-me num eterno insatisfeito. Encaro isso como algo positivo e não negativo. Quero sempre mais...Tenho conhecido muita gente na estrada... gente que nunca iria conhecer se não andasse de bicicleta. O prazer que sinto a pedalar numa bicicleta que resultou de um sonho pessoal é algo que não consigo quantificar. Apenas sei que é muito superior ao prazer que sinto a pedalar numa bicicleta comprada em loja e, por isso mesmo, igual a tantas outras. Esse prazer fica ainda maior quando reparo que partilho quilómetros e horas com gente que fui conhecendo por causa de uma paixão comum.O que eu tenho dito, quando sou convidado para participar em palestras e workshops de empreendedorismo, foca-se na ideia de sonhos pessoais. Cada vez mais acredito que há lugar para o sonho e para a paixão no mundo empresarial e de negócios. A melhor maneira de comunicar com o mundo é através de uma paixão. Dessa maneira estamos a ser realmente verdadeiros... Penso que é assim que nos vamos demarcando como pessoas singulares que todos somos. Quando partilho os meus sonhos e paixões (neste caso o "myBikes") não quero que com isso fiquem com vontade de fazer bikes e de pedalar todos os dias. É claro que adoro ver cada vez mais gente a andar de bike mas o que quero, na realidade, é que nunca percam a vontade de empreenderem em si mesmos. Apostarem nos seus desejos, nas suas paixões, nos seus sonhos... Pode até dar mais trabalho mas é algo que vão fazer com um sorriso sentido e não apenas um "fazer por fazer".É claro que precisamos de ter os pés bem assentes na terra mas com isso não se recusem a voar.

A P A I X Ã O P E L A S B I C I C L E T A S Q U A S E Q U E N A S C E U C O M I G O

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1 Punhos ESIgrips

Construídos em silicone, extremamente leves e confortáveis, disponíveis numa grande gama de cores e em duas espessuras

diferentes (Chunky e Racer's Edge). a partir de

16.00€b i n a c l i n i c a . c o m

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Desenhado para bicicletas de "estrada" com espaços curtos na forqueta e ponte de travão traseira.

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3 Bicicleta Early Rider Lite 12

Os 3,25 quilos desta bicicleta de equilíbrio tornam-na leve e ideal para crianças a partir dos 20 meses de idade.

129€b i k e - t e c h . c o m

O Jornal Pedal orgulha-se em ter no seu jornal o primeiro provedor do ciclista do mundo. Não há nada como o Dr. Pedro Lebre para esclarecer de dúvidas do e para o ciclista. Se tiverem alguma dúvida ou comentário enviem um e-mail para: [email protected]

Marco Bastos: Sr. Pedro Lebre, eu moro na zona de São Bento e deixo sempre a minha bicicleta presa a um sinal de trânsito que proíbe o estacionamento. Mas esta quinta-feira, dia 15 de Novembro, quando fui para o trabalho, ela estava toda partida, esmurrada e pontapeada, como se lhe tivessem batido indiscriminadamente. É possível que as bicicletas entrem em confrontos com quem quer que seja?Pedro Lebre: Meu caro, digo liminarmente que não. A bicicleta é cientificamente considerada um ser inanimado, logo não tem vontade própria, só quem anda nela, e que tem vontade de andar mais e mais. Aconselho-o a respeitar o código da estrada e, se possível, deixar a bicicleta em casa.

André Fernandes: Sr. Provedor, um amigo meu, não sou eu, vai de bicicleta todos os dias para o trabalho, mas os colegas gozam com ele por vir de bicicleta. Acha que eu lhe deva dizer para ir de carro ou vá de transportes públicos?Pedro Lebre: Meu caro, nem pensar. “Ele” que continue a ir de bicicleta e convença os seus colegas dos benefícios da bicicleta. E já agora, não é vergonha nenhuma você andar de bicicleta.

Jafers Almeida: Sr. Lebre, sou da zona de Loulé, de um sítio que parece que nem existe. Eu sou muito de falocar mesmo quando estou a andar de bicicleta. Por vezes entra uma mosca ou um moscardo, não sei se me faz bem ingerir esses bichos.Pedro Lebre: A minha especialidade não se foca no ramo da dieta alimentar ou nutrição mas penso que não é grave engolir esses insectos. Em todo o caso, e percebi que gosta muito de falar, compre nas lojas de especialidade uma máscara que protege contra a entrada dos mesmos.

Ilustração: Luís Gregório

Provedor do Ciclista

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A Vélocité é uma daquelas lojas em que se entra e parece que se está no estrangeiro. Os portugueses adoram esse tipo de sensação. É uma coisa muito nossa, adorar o que é de fora. Mas desenganem-se: a Vélocité é inteiramente portuguesa. Os donos são portugueses, os colaboradores são portugueses, o arquitecto que a concebeu é português, o que lá se come é português e estão à venda, entre todos os estrangeiros, produtos portugueses! Uma das coisas mais interessantes na Vélocité é entender que está no melhor sítio onde uma loja de bicicletas poderia estar a esta altura do campeonato: na Av. Duque D’Ávila, esse caso raro de avenida lisboeta com saída de metro, ciclovia e uma aprazível zona pedonal, esplanadas, bens e serviços, tudo isto às costas da Gulbenkian, de ladinho para o El Corte Inglés e no coração do que pode ser considerado o business district cá do burgo. E como os tempos mudam e quem trabalha no business district já não são anónimos de fato, e se procura, cada vez mais, uma forma qualquer de abandonar o anonimato em prole da autenticidade, a Vélocité pode ajudar muito seriamente nesses casos: vende bicicletas com estilo para quem tem algum dinheiro, curiosidade, saudades, uma paixão recente ou vê todos os tumblrs e blogues e sites onde a

moda das bicicletas pegou.Sim, a Vélocité está atenta à moda. E o melhor é que não tem qualquer tipo de complexos em admiti-lo: não é em vão que combina um espaço de refeições (quem anda de bicicleta TEM de comer) com uma entrada-prolongamento de ciclovia que se estende loja adentro até à oficina (sim, além de comidas, a Vélocité tem oficina aberta a todos os ciclistas em apuros) mais limpa e arranjada que já vimos. Os rapazes das bicicletas não têm posteres de gajas nuas nas paredes. E não é por causa de possíveis susceptibilidades: é porque na Vélocité toda a gente é bem-vinda; estão postos de parte sexismos ou discriminações: todos os nichos de mercado da cena bicicletas são acarinhados da mesma forma e recebidos com os mesmos braços, sempre abertos. O espaço convida todos aqueles que nele desejem manifestar-se e está aberto a todo o tipo de sugestões. Quem fez a Vélocité não é da cena, pelo que não vive agarrado a constrangimentos ou possíveis animosidades entre as diferentes facções do mesmo grupo. A todas as qualidades deste espaço acrescem ainda factores de grande inteligência: é possível tocar e mexer e vasculhar a loja inteira sem que ninguém ande atrás de nós a rearranjar os objectos ou a perguntar

VÉLOCITÉ CAFÉ

Texto: Joana BarriosFotos: Henrique Ferreira

insistentemente se queremos ajuda, é possível alugar uma bicicleta e passear, é possível pedir aconselhamento sobre bicicletas antes de comprar e é ainda possível encontrar acessórios super cool para pimpar a bicicleta ao máximo: por exemplo, das luzes suecas Bookman aos selins da Brooks, a oferta tende a crescer, sempre voltada para as novidades de qualidade superior.É na Vélocité que se pode comprar uma Brompton.E já agora, um cadeado Kryptonite...! O bom da Vélocité é perceber, só pela montra, que é um negócio com aspecto e espírito modernos. Ainda em fase de definição estratégica, o desejo de quem faz a Vélocité todos os dias é o de manter o nível de curiosidade e permeabilidade bem altos, para que todos os ciclistas se sintam bem-vindos e se criem as condições necessárias para que a loja prospere não só como negócio, mas essencialmente como um espaço de reunião consensual de uma comunidade que conta cada vez com mais adeptos.

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