Jornal Lampião - 8ª Edição

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LAMPIÃO Jornal Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 3 - Edição Nº 8 - Fevereiro de 2013 A última gota d’água páginas 6 e 7 Desafios para os novos prefeitos - pagina 9 Precisa ir à farmácia? Vai ter que caminhar! - página 4 Falta de estrutura prejudica volta às aulas - página 3 A arte de viver a vida - página 11 LUÍS FERNANDO BRÁULIO

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O Jornal Lampião é uma publicação laboratorial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto. Produzido pela turma 2010.1, 8ª Edição - Fevereiro de 2013.

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Page 1: Jornal Lampião - 8ª Edição

LAMPIÃOJornal Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 3 - Edição Nº 8 - Fevereiro de 2013

A última gota d’águapáginas 6 e 7

Desafios para os novos prefeitos - pagina 9

Precisa ir à farmácia? Vai ter que caminhar! - página 4

Falta de estrutura prejudica volta às aulas - página 3

A arte de viver a vida - página 11

Luís fernando BráuLio

[email protected]

Page 2: Jornal Lampião - 8ª Edição

2 Edição: Jéssica Romero, Tuanny Ferreira e Yumi Inoue

Arte: Aline Barreíra

Fevereiro de 2013

Jornal Laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto – Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Ednéia Oliveira. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Prof. Dr. Ricardo Augusto Orlando – Professores responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem), André Carvalho (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editor-chefe: Arthur Gomes da Rosa. Subeditora: Isadora Rabello. Editora de fotografia: Isadora Faria. Editora de arte: Lívia Almeida. Editor Multimídia: Fábio Brito. Reportagem: Adriana Souza, Ana Carolina Meirelles, Alexandre Anastacio, Ana Luísa Rodrigues, Ana Luiza Batista, Bárbara Costa, César Raydan, Cíntia Adriana, Filipe Barboza, Joyce Afonso, Laís Queiroz, Lorena Costa, Nicole Alves, Patrícia Botaro, Patrícia Souza, Paula Peçanha, Rolder Wangler. Fotografia: Bruna Mattos, Isadora Faria, Jéssica Clifton, Laura Ralola, Lázaro Borges, Luís Fernando Braulio, Marcelo Sena, Nara Bretas, Rodrigo Pucci, Tamara Martins. Diagramação: Aline Moreira Barreíra, Ana Paula Rodarte, Caroline França, Isabela Azi, Jamylle Mol, Luísa Carolina Oliveira, Mariana Mendes, Núbia Cunha, Rafa Buscacio. Revisão: Jéssica Romero, Tuanny Ferreira, Yumi Inoue. Multimídia: Ramon Cotta, Paulo Victor Fanaia. Monitora: Yasmini Gomes. Colaboração: Lucas Salum, Murilo Amati. Impressão: Sempre Editora. Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, n° 166, Centro. Mariana - MG. CEP 35420-000.

A música “Planeta Água”, de Guilherme Arantes, ilustra justamente o contrário do que acon-tece em Mariana. A água, aquela que se faz necessá-ria para tudo, está escas-sa na cidade. Esse tema é o que você verá na es-pecial dessa edição do LAMPIÃO. Falta água na casa de gente humilde e de gente abastada, e so-bra indignação. Má gestão dos serviços públicos, cai-xas d’água fantasmas e as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia demonstram que esse transtorno está longe de ser solucionado.

O que fazer com cida-des que não querem falar? São prefeituras que não

é a maior aventura que o cotidiano permite. Por-que atravessar a ponte é, de fato, fazer história. Nin-guém está lá apenas por estar.

Talvez o que mais se pareça com a ponte escon-dida no cantinho da cidade seja um jornal. Não na es-trutura, para alívio dos cé-ticos. Um é madeira, prego, ferro e concreto, combina-dos a fim de seguir a plan-ta elaborada por um en-genheiro ousado, a mando de um prefeito sedento por placas de inauguração. O outro é papel, palavra, tin-ta, imagens e um punhado de ideologia, combinados para seguir a pauta elabo-rada por um repórter ousa-do, com uma mente seden-ta pela vontade de mudar o mundo.

A ponte escondida no cantinho da cidade só tem sentido se alguém passar por lá. Se não fosse por ela, o maquinista da Ma-ria Fumaça jamais conhe-ceria as paredes que os anos destruíram. Da mes-ma forma, o cachorro en-costado na porta da casa invadida pelo tempo nun-ca saberia que o trem car-rega pessoas de um lugar para outro. Um jornal es-condido num cantinho da cidade só tem sentido se alguém abrir suas pági-nas e se render ao charme das manchetes. Se não fos-se por ele, as pessoas ja-mais conheceriam os per-sonagens que constroem a

A partir de agora, quem acessar o endereço

www.jornalismo.ufop.br/lampiao terá em primei-ra mão o material extra de todo conteúdo do jor-nal impresso. Bastidores, cobertura das reportagens e entrevistas com os en-volvidos na produção são as novidades que esperam por você. Dessa forma, o LAMPIÃO torna público o seu processo de apuração das notícias, além de for-necer uma ferramenta que

aumente a relação entre seus leitores e a produção laboratorial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.Como todo jornal possui um espaço limitado de tex-to e foto, o site será útil tanto para publicar mais reportagens quanto para acrescentar galerias de im-agens e vídeos, ilustran-do ainda mais a informa-ção que está na versão im-pressa. Para a edição do site, o LAMPIÃO possui agora uma equipe multimídia des-

De um lado, na casa da esquina, três portas e uma janela se equilibram na pa-rede em ruínas. Do outro, o trilho da Maria Fumaça dá a certeza de que esta-mos em Minas Gerais. O chão de madeira esconde a água turva que o rio leva em seu constante passeio pela cidade. Enquanto isso, de cima, uma cruz de pe-dra cercada de flores aben-çoa as tábuas largas, com uma fé colorida que pare-ce contradizer a frieza do seu concreto. É nesse ce-nário, no centro de Maria-na, que a primeira ponte de Minas Gerais repousa, no auge dos seus 300 anos de história.

Alphonsus de Guima-raens ou Manoel Ramos, ponte de tábua ou de ma-deira. A diversidade de no-mes só não é maior que o número de passos que já caminharam por lá: pés fir-mes dos bandeirantes com seus ouros falsos e sorri-sos contidos, andar tranqui-lo das freiras em dia de missa, a criança que lar-gou a mão da mãe para seguir a retreta da banda e o menino que equilibra os pneus da bicicleta entre um suspiro e outro. Todos eles, cada qual em um mo-mento, atravessaram a pon-te. E atravessar é fazer his-tória, é começar em um canto e desafinar em ou-tro. Para muitos, estar so-bre essas madeiras combi-nadas no interior da cidade

história. Da mesma forma, os personagens sequer ima-ginariam que há histórias para serem criadas.

Quem atravessa a pon-te vê além do que está em uma das margens do rio. Quem lê um jornal enxer-ga mais longe do que o seu próprio quintal. A pon-te está na rua. O jornal, para ter sentido, também deve estar. A ponte serve ao povo e, por isso, não faz distinção entre os pas-sos descalços do morador de rua e os sapatos engra-xados de quem não anda de ônibus. O jornal? Ora, o jornal também está a ser-viço de todos os passos, embora, às vezes, se es-queça disso e meta os pés pelas mãos. A cada dia, a ponte se renova. Ainda que sejam as mesmas madeiras e os mesmos pregos, o rio que corre lá embaixo já é outro e as pessoas que ca-minham são diversas. Em toda manhã, o jornal se reinventa. Embora sejam o mesmo papel e as mesmas letras, as vidas que preen-chem os textos são outras e o mundo está diferente do dia anterior.

Ponte e jornal: embo-ra estáticos, são passagem. Instrumentos que unem, eles levam, juntam, reve-lam. A ponte transforma o cenário de quem anda. O jornal faz com que as pes-soas caminhem para alte-rar seus próprios cenários. Ambos são sempre um meio, não um fim.

ignada para as publicações online. A produção envolve gráficos interativos, matéri-as especiais e produtos au-diovisuais.Você é nosso convidado especial. Boa leitura!

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TravessiaJamylle mol

EDITORIAL

CHARGE

EDIÇÃO ONLINE

CRÔNICAJéssica clifton

mostram suas metas, em-presa que não cobra pelo consumo da água, mas também não a fornece a toda população. São esses alguns dos problemas pe-los quais a nossa equipe se deparou enquanto bus-cava um direito dos cida-dãos, além de enfrentar a dificuldade de acesso a in-formações públicas.

Essa edição trata tam-bém de temas polêmi-cos, como a problemática das drogas em Mariana e Ouro Preto, onde os índi-ces de consumo cresceram 20% e 43%, respectiva-mente, em 2012. Crack: a mais nova epidemia nacio-nal. Como ele afeta o cor-po e a mente do usuário,

como é a experiência de quem está no início do tra-tamento e a de quem con-seguiu se livrar da droga.

A redação do Jornal LAMPIÃO registra o seu mais profundo pesar e to-tal solidariedade às vítimas da tragédia que se abateu sobre a cidade de Santa Maria (RS), com o incên-dio na boate Kiss, no últi-mo dia 27 de janeiro. Nesta hora difícil e de sofrimen-to, o nosso pensamento está em particular com as famílias enlutadas e com os demais jovens que, as-sim como nós, fazem par-te de uma vida universi-tária repleta de projeções. Que sejamos mais cautelo-sos com nossas vidas.

“Águas que banham aldeias, e matam a sede da população...”

“Aparentemente, o eleitorado de Maria-na e de Ouro Preto escolheu a experiência para assumir suas administrações munici-pais”. Adriano Cerqueira, professor da Ufop, coordenador do Neaspoc - Pág. 8

“A rede municipal de ensino se encontra desgastada, não por falta de verba, mas sim por falta de investimento”. Elizabeth Cota, secretária de Educação de Mariana - Pág. 3

“Não podemos deixar morrer essa tradição”. Lú-cio da Silva André (Tiço), vice-presidente da Esco-la de Samba Acadêmicos de São Cristóvão - Pág. 9

“O momento mais difícil é saber que você é dependen-te químico. Depois disso, vêm as perdas: família, esposa, fi-lhos, caráter e identidade”. Raimundo Pimenta, dependente em recuperação - Pág. 5

Page 3: Jornal Lampião - 8ª Edição

3Edição: Adriana Souza, Alexandre Anastácio e Rodrigo Pucci

Arte: Ana Paula Rodarte

Fevereiro 2013

Falta de estrutura nas escolas atrasainício das aulas em MarianaInstabilidade governamental deixa projetos políticos em aberto e prejudica o desempenho dos alunos

Na escola Dom Oscar de Oliveira, no Bairro Prainha, faltam livros de literatura na biblioteca

AlexAndre AnAstácio

Das 21 escolas da rede municipal de ensino, 13 es-tão sem as condições estru-turais mínimas para recebe-rem os alunos nesse início de ano. A estrutura físi-ca de algumas delas está em péssimo estado. Há lo-cais, como a Escola Muni-cipal Dom Oscar de Oli-veira, onde salas de aula ficam inundados quando chove. Obras estão sendo feitas para contornar os ca-sos mais críticos, mas com o atraso delas o retorno às aulas, que iriam come-çar dia 4 de fevereiro, teve que ser adiado. A data pre-vista para o início é dia 18, quando o calendário le-tivo de 2013 será iniciado.

Falta de bibliotecas, sa-las de aula, espaço para

lazer e prática de espor-tes, problemas nos enca-namentos e estruturas mal conservadas empobrecem a qualidade do ensino em Mariana. A educação pú-blica na cidade se sustenta principalmente com a von-tade de professores, direto-res e funcionários que se esforçam para garantir às crianças e aos adolescen-tes esse direito básico e indispensável.

Nas escolas da perife-ria a situação se agrava. Além de enfrentar proble-mas estruturais, professo-res e alunos estão inseridos em um contexto completa-mente diferente das locali-zadas no centro da cidade. A importância de outros elementos necessários para a formação dos estudantes, como alimentação adequa-da, acesso à cultura e ao esporte é ainda maior. Pau-lo Rogério Dias é profes-sor de História na Escola Municipal Wilson Pimenta Ferreira, que fica no Bairro Prainha, cuja nota 2,8 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2011, foi a menor pon-tuação entre as escolas mu-nicipais de Mariana. “Um problema que enfrentamos aqui é o pouco acesso à cultura. No máximo, temos um DVD que mal funcio-na”, ressalta.

No último Ideb, que analisou a qualidade do en-sino das escolas públicas municipais, em 2011, Ma-riana ficou com nota média de 3,7 em uma avaliação que varia de 0 a 10. Esse

foi um dos resultados mais baixos dos últimos anos. A cidade, que tem uma ver-ba municipal de cerca de R$ 60 milhões destinados à Educação, ficou atrás de cidades menores com ver-bas muito inferiores.

Segundo a secretária de Educação de Mariana, Elizabeth Cota, um “gra-ve sintoma” dos problemas na área sempre foi a fal-ta de investimento efetivo da pasta de Educação nas escolas, tanto em recursos materiais quanto humanos. “A rede municipal de en-sino se encontra desgasta-da, não por falta de verba, mas sim por falta de inves-timento em capacitação de profissionais, em merenda escolar de qualidade e na compra de materiais esco-lares básicos”, afirma.

Para a professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Regi-na Magna, a educação so-fre um reflexo da instabili-dade política que a cidade viveu nos últimos anos. “A cada novo mandato o se-cretário de Educação é tro-cado e, a cada novo secre-tário, novos diretores são nomeados. Com isso, fica muito difícil a elaboração e continuação de projetos por parte dos novos direto-res”, explica.

Entenda a nota do Ideb

AdriAnA souzA

O número de lixeiras e telefones públicos não é sufi-ciente para atender a população. O maior problema que implica na quantidade reduzida destes itens, segundo a empresa de telefonia Oi e a Secretaria de Serviços Urba-nos, diz respeito ao vandalismo. Esse crime é pratica-do, na maioria das vezes, por moradores e visitantes lo-cais que também fazem uso desses serviços.

Dados da Oi apontam que, de janeiro a dezembro de 2012 foram danificados, em média, 18% dos cerca de 85 mil orelhões instalados em Minas Gerais. Na cidade, são depredados cerca de dez aparelhos por ano num total de 166 instalados.

O mesmo problema acontece com as lixeiras. Apesar de substituídas por um material mais resistente, são dani-ficadas com frequência, principalmente no centro históri-co. A Secretaria de Serviços Urbanos vai abrir um pro-cesso licitatório para a compra de novas lixeiras para a região central, enquanto os demais bairros receberão so-mente em escolas, praças e postos de saúde. Além disso, uma campanha educativa será lançada para tentar acabar com este problema na cidade.

A secretária adjunta da pasta, Denise Almeida, disse que os novos modelos de lixeiras e o plano de amplia-ção já estão sendo pensados, porém não tem previsão de quando isso será feito, pois existem outras questões emer-genciais a serem resolvidas.

Bens públicos sofrem com vandalismo

Laura raLoLa

Insatisfação nas agências bancárias

Santa Bárbara 5,4

Conselheiro Lafaiet-e 5,3

Itabirito 5,3

Ouro Branco 4,9

Ouro Preto 4,6

Congonhas 4,5

Barão de Cocais 4,4

Viçosa 4,2

Ponte Nova 3,8

Mariana 3,7

Notas do Ideb 2011 na Região dos Inconfidentes. Ciclo final do Ensino Fundamental da Rede Municipal (6º ao 9º ano)

CIDADE

(Des)serviço prejudica população

Alô? Eu gostaria de fazer uma reclamação

PAulA PeçAnhA

Segundo dados do Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), de Mariana, a Oi é a operadora campeã de reclamações sobre o mau funcionamento de seus serviços. Em 2012 foram registradas 251 queixas, e os problemas mais comuns diziam respeito à instabili-dade de sinal e descumprimento da velocidade vendida.

A estudante do curso de Economia da Universida-de Federal de Ouro Preto (Ufop), Bruna Diniz, 23 anos, mora no Bairro Cruzeiro do Sul, em Mariana, e recla-ma: “Contratei cinco megas de velocidade, mas o máxi-mo que chegou foi um mega. Quando ligo para reclamar, um atendente passa a ligação pra outro setor e desligam”. A gerente da loja autorizada da Oi, Melissa Campos, ex-plica. “A Oi Velox permite que a pessoa possa ter até dez megas, mas não significa que vai ter, porque aqui só chegam dois megas. Mas, mesmo sabendo disso, alguns clientes querem pagar a internet de dez”, diz.

O “mega” é uma unidade que mede a velocidade de processamento na internet. Para verificar a velocidade da sua conexão e registrar, junto ao órgão responsável, se estiver abaixo do que você paga, acesse o site “http://www.testesuavelocidade.com.br/”.

Segundo o Procon, as reclamações são feitas por te-lefone e são resolvidas. Quando isso não ocorre é aberto um processo administrativo. O cliente que se sentir afeta-do deve comparecer ao Procon local e fazer sua queixa.

AlexAndre AnAstácio

O Índice de Desenvol-vimento da Educação Bá-sica (Ideb) foi criado em 2007 para medir a quali-dade de ensino das esco-las brasileiras. O indicador é calculado através da apli-cação de provas de Portu-guês e Matemática nas es-colas do país pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais (Inep). A avaliação é feita a cada dois anos pelo Ministério da Educação (MEC), que busca através do teste uma melhoria na educação bási-ca nacional. O objetivo é atingir uma nota média de 6, no ano de 2022, o que

corresponderia a mesma nota que recebem escolas de países desenvolvidos.

Em Mariana, escolas com boa estrutura e qua-lidade de ensino elevam o índice para a estimativa do Governo Federal, mes-mo que o município pos-sua escolas em péssimas condições, como afirma a professora do Departamen-to de Educação da Uni-versidade Federal de Ouro Preto (Deedu/Ufop), Mar-gareth Diniz. “Os resulta-dos obtidos com esse tipo de cálculo são superficiais, pois não analisam o con-texto social dos alunos. Precisamos sempre questio-

nar as avaliações externas, pois elas podem produzir resultados mascarados que são utilizados como ferra-mentas políticas”.

Na última lista com os resultados do Ideb, de dez cidades da Região dos In-confidentes, nos anos fi-nais do ensino fundamen-tal, Ouro Preto ocupa a sexta posição e Mariana, a última. Apesar do baixo ín-dice, a cidade ainda está dentro da meta de cresci-mento nacional, porém, a nota média que recebeu não examina a diferença existente entre a qualidade de ensino das escolas bem e mal avaliadas.

AdriAnA souzA

Demora no atendimento, caixas eletrônicos com de-feito e filas nos bancos são problemas que prevalecem no início do mês e geram constante insatisfação entre os usuários. Um exemplo é o trabalhador da construção ci-vil, Jovenir Martins, 50 anos, que aguardou o atendimen-to presencial por mais de uma hora, de pé, em uma fila do lado de fora do banco, exposto à chuva. Saiu da agên-cia cansado e, mesmo insatisfeito com o serviço, não sa-bia com quem reclamar.

Assim como ele, muitas pessoas desconhecem a Lei 14.285/2002, do Estado de Minas Gerais, que regula o tempo para atendimento bancário em 15 minutos con-tados do momento em que o usuário entrar na fila. Os bancos que receberam maior número de queixas no Ór-gão de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), de Mariana, como o Banco do Brasil, Itaú e Bradesco, ar-gumentaram que dispõem de serviços alternativos para o atendimento, como telefone e internet, e que os demais problemas já estão sendo solucionados.

O cidadão que se sentir desrespeitado deve compare-cer ao Procon Municipal, localizado na Prefeitura. Para fazer a reclamação é necessário levar cópia da senha de atendimento do banco e o comprovante de operação re-alizada no caixa. O Procon recomenda também um Bo-letim de Ocorrência realizado no local, que comprove o caso na presença de testemunhas.

VEJA FOTOS NA VERSÃO ONLINE

Lucas saLum

Page 4: Jornal Lampião - 8ª Edição

4 Edição: Bárbara Costa, Rolder Wangler e Tamara Martins

Arte: Isabela Azi

Fevereiro de 2013

Nessa rua tem um semáforo que se chama confusão

CIdAdE

tes, isso é muito. Tem também os ônibus de turismo, coletivos e das mineradoras”, diz.

IrregularidadesDe acordo com o Manual

Brasileiro de Sinalização, antes de decidir pela adoção de um semáforo, deve-se tentar implan-tar outras formas de controle. Como alternativas têm-se placas de preferência e parada obriga-tória ou, ainda, a faixa de tra-vessia para pedestres. O Manu-al também diz que a sinalização semafórica deve vir acompanha-da por uma linha de retenção, o que não existe na Rua do Catete.

Kele Cristina admite que a implantação de uma placa de pa-rada obrigatória seria o mais in-dicado. Porém, segundo ela, op-tou-se pelo semáforo “por uma questão de gestão”. Ainda de acordo com a comandante, não seria possível colocar uma faixa de pedestres próximo à Ponte de Pedra e ao cruzamento.

Já a ausência da linha de re-tenção justifica-se, segundo ela, pelo fato de o semáforo ser ape-nas uma solução temporária. “Precisamos de um projeto que leve em conta toda a situação do trânsito em Mariana, mas depen-demos de contrato com uma em-presa terceirizada”, diz. Ela res-salta que, por esse motivo, não é possível determinar um prazo para que o projeto fique pronto.

A aposentada Maria Gualberto, 70 anos, mo-radora do Distrito de Ri-beirão do Carmo, desco-briu que tinha diabetes e pressão alta há cinco anos. Devido à doença, o médi-co lhe receitou três remé-dios de uso contínuo e in-dispensável. Próximo a sua casa não existem farmácias e a única opção é ir ao centro da cidade buscar o medicamento. Essa é uma situação recorrente entre os mais de 54 mil moradores de Mariana.

A cidade conta com 27 estabelecimentos para co-mercializar remédios entre os 28 bairros e distritos. Dois deles são administra-dos pela Prefeitura, funcio-nam nas policlínicas e dis-tribuem medicamentos sem custo algum ao consumi-dor, desde que ele pas-se pela assistência médica. Há também as drogarias e farmácias particulares,

RoldeR WangleR além das populares - cria-das através de um progra-ma do Ministério da Saúde - que vendem medicamen-tos a preços mais acessí-veis. Juntas, formam um dos aglomerados mais pre-sentes no Centro Histórico.

ContrasteConsiderando o núme-

ro de farmácias existen-tes na cidade, seria possí-vel ter uma por bairro. No entanto, cerca de 70% – 20 estabelecimentos – concen-tram-se no Centro, região economicamente mais ati-va de Mariana. Há bairros que possuem apenas uma ou duas farmácias e ainda atendem a demanda de ou-tros locais. Esse é o caso do Cabanas. O bairro, ain-da que disponha somente de duas farmácias e uma policlínica, atende também o Cartuxa.

Para Geraldo Tomás Ferreira, 41, morador do Bairro Fonte da Saudade, Farmácia 24 horas

em Mariana

Há quanto tempo: Seis meses.Onde: Drogaria Brasil.Endereço: Avenida Salvador Furtado, nº 18, Centro.Entrega em domicí-lio: Não faz. A pes-soa deve ir ao lo-cal para buscar os medicamentos.

Sinal de trânsito, falta de faixa de pedestres e imprudência de motoristas causam transtornos na Rua do Catete

Saúde comercialE agora? Cadê meus documentos?

loRena Costa

BáRBaRa Costa

Dificuldade para atravessar a rua e congestionamento são constantes em frente a um dos campi da Ufop, em Mariana

Ausência de faixa de pedes-tres, semáforo com tempo cur-to para travessia e calçada com desnível. Essas são as princi-pais dificuldades de quem circu-la pela Rua do Catete, no Centro de Mariana. Tais problemas, so-mados à imprudência dos moto-ristas e aos constantes congestio-namentos, fazem dessa uma das vias mais críticas da cidade.

Em outubro do ano passa-do foi implantado um semáforo na rua, entre a Ponte de Pedra e o Instituto de Ciências So-ciais Aplicadas (ICSA), da Uni-versidade Federal de Ouro Pre-to (Ufop). Pela via - principal acesso ao centro da cidade - car-ros, motos, ônibus coletivos e de turismo dividem espaço com os cerca de 1,3 mil alunos do Instituto.

ProblemasDe acordo com a comandan-

te geral da Guarda Municipal de Mariana, Kele Cristina Araújo, os constantes congestionamentos e o excesso de veículos de gran-de porte motivaram a instalação do semáforo.

Embora tenha melhorado a condição do motorista no cruza-mento, o sinal não facilita a tra-vessia de pedestres. A secretária do ICSA, Maria Helena Cardoso, reclama da dificuldade para atra-vessar a rua. “Não estou vendo melhora com o semáforo, acho

inclusive, que piorou. Não tem faixa, o tempo é muito curto e o motorista nunca cede para nós”, diz.

Para o sargento Carlos Al-berto dos Santos, do 52º Bata-lhão da Policia Militar, o pe-destre que circula pela Rua do Catete “está jogado às traças”. E o problema vai além das condi-ções da rua. “Falta conscientiza-ção por parte dos motoristas e dos pedestres também”, lembra o Sargento. Segundo a comandan-

te Kele Cristina, o Departamen-to de Trânsito da cidade já tem um setor educativo. “Além de blitz, desenvolvemos um traba-lho com as escolas, fazemos pa-lestras, simulamos situações que ocorrem no trânsito, como avan-ço de sinal e abuso de velocida-de”, afirma.

O perigo, no percurso da Rua do Catete, é constante. O funcio-nário da Eletrônica Zak, Lindou-ro Ferreira da Silva, já presen-ciou vários acidentes em frente

ao estabelecimento, localizado na via. “Já tive que socorrer mui-tas pessoas. O trânsito aqui é uma tristeza, é muito perigoso”, afirma.

Kele Cristina lembra que o risco é, também, consequência da grande quantidade de automó-veis existentes na cidade, somada ao costume que o morador tem de fazer, quase sempre, o mes-mo trajeto para chegar ao centro. “São mais de nove mil veículos de passeio para 54 mil habitan-

Era véspera do Dia dos Namorados. A jornalista Nívia Machado, 30 anos, foi à procura de um pre-sente. Quando se deu con-ta, a mochila que carrega-va nas costas estava aberta e a carteira havia sumido. Imediatamente, ela regis-trou um Boletim de Ocor-rência (BO) na Polícia Ci-vil e ligou para o banco, solicitando o cancelamento do cartão de crédito.

Esse é o caminho para quem vivenciou o mesmo transtorno, alerta a guar-da municipal de Mariana, Rosaline Marília. Segundo ela, após fazer a ocorrên-cia, a pessoa deve ir aos órgãos competentes e so-licitar a segunda via do documento.

Há casos, porém, de pessoas que acham seus documentos na própria Guarda Municipal. “Geral-mente deixam aqui com a gente e também nas rádios da cidade”, conta Rosaline. Por isso, ela lembra a im-portância de procurar o ór-gão antes de solicitar um novo documento.

Para os que não tiverem a sorte de recuperar seus pertences, a saída é cor-rer atrás de uma nova via.Em Mariana, os interessa-dos podem tirar a carteira

de identidade (CI) no Cen-tro de Atendimento ao Ci-dadão (CAC). Para isso, é preciso agendar um horário pelo telefone 3558-5158 e, em seguida, levar os do-cumentos necessários: BO; certidão original de nasci-mento ou casamento; Do-cumento de Arrecadação Estadual (DAE) pago e duas fotos 3x4. Segundo a funcionária do CAC, Gis-laine Francisco da Silva, a identidade demora cerca de 20 minutos para ser feita.

Já para tirar uma nova via da carteira de traba-lho é preciso ir até o Sis-tema Nacional de Emprego (Sine), portando os mes-

mos documentos necessá-rios para tirar o CI. Além deles, também é preciso que o trabalhador leve o número dos fundos do Pro-grama de Integração So-cial (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pa-sep), além do comprovante de residência e do número da sua antiga carteira.

A novidade é que o CPF pode ser gerado atra-vés do site da Receita Fe-deral (http://www.receita.fa-zenda.gov.br). Desde 2011, o documento não é mais emitido no formato de car-tão plástico.

1. Polícia Civil (registrar o BO)

2. Guarda Municipal e Rádio Mariana FM (achados e perdidos)

Onde procurar o documento:

Não encontrou? Saiba como fazer a segunda via:

1. Para Identidade, procure o CAC.

2. Carteira de Trabalho, procure o Sine.

3. Para CPF, acesse o site:http://www.receita.fazenda.gov.br

a situação vem se tornan-do cada vez mais compli-cada. “Eu descobri que te-nho pressão alta há alguns anos e venho fazendo uso de medicamento controlado desde então, porém, como meu bairro dispõe de uma farmácia que, além de ser longe de casa e insuficien-te, eu tenho que ir ao Cen-tro buscar ou retirar na po-liclínica”, afirma.

Segundo o atual secre-tário de Saúde, Germano Zanforlim de Araújo, essa situação está relacionada à concentração histórica de atividades no centro da ci-dade. “A localização do estabelecimento comercial, drogaria ou farmácia, salvo se por algum risco de ex-posição à saúde ou restri-ção do plano diretor, é do livre arbítrio do comercian-te”, afirma.

Para a especialista em Saúde Mental e professo-ra da Universidade Fede-ral de Ouro Preto (Ufop), Cristiane Tomáz, a distri-buição dos estabelecimen-tos é desproporcional. “Há de se pensar sobre a desi-gualdade social da popula-ção de Mariana, uma vez que as farmácias se con-centram em locais onde as

pessoas têm condições de consumir mais”, afirma.

Para Germano Zanfor-lim, a concentração no centro de Mariana não im-pede que o cidadão seja atendido e usufrua de seus direitos. “O município con-ta com cerca de 30 unida-des de saúde, entre postos, básicas e avançadas, e um hospital”, afirma.

Por que no Centro?

Tamara marTins

Page 5: Jornal Lampião - 8ª Edição

5Edição: Marcelo Sena e Lázaro Borges

Arte: Luisa Oliveira

Fevereiro de 2013

Realidade que assombra

Um caminho que tem volta Cíntia adriana e

isadora Bruzzi

“O momento mais difí-cil é saber que você é de-pendente químico. Depois disso, vêm as perdas: famí-lia, esposa, filhos, caráter e identidade”, afirma Rai-mundo Pimenta, 46 anos. Aos 16, ele teve o primei-ro contato com drogas e hoje quer mudar o rumo de sua história. Depois de passar momentos difíceis no vício, resolveu procurar ajuda na Casa São Fran-cisco de Assis, em Ouro Preto, onde está há qua-tro meses.

O dependente em re-cuperação precisa voltar a confiar em si e ver que é capaz de recomeçar. Para

drogas. “Hoje, meus filhos me veem com olhos dife-rentes do que antes”, diz.

AssistênciaSituações como essas

não são incomuns. Muitas vezes, as drogas são a sa-ída para os problemas, e cair em si para procurar tratamento não é uma deci-são simples. Em Ouro Pre-to e Mariana existem casas e comunidades terapêuti-cas que auxiliam usuários com dificuldade para largar o vício. É o caso das ca-sas São Francisco de Assis e Lírios do Campo, locais que oferecem ajuda psico-lógica, suporte à família, alimentação e moradia para pacientes. O atendimento

Hermógenes apoia o filho Adriano na recuperação do crack

rayana almeida

Há quatro anos, quando Ana – nome fictício – che-gou a Ouro Preto com os três filhos, não conhecia o crack. Depois de se casar, ela queria fugir dos apeli-dos colocados pelo marido por estar acima do peso. Após sucessivas crises de depressão, acabou sendo le-vantada pelas influências e usou a droga pela primeira vez. Ana é bonita, tem os cabelos loiros, bem cuida-dos, e uma casa bem arru-mada. A mãe de três filhos se deparou com conflitos dentro de sua casa. Muitas vezes, as brigas eram pro-vocadas pela agressividade resultante de sua dependên-cia. Hoje, ela luta contra o vício.

Além dos usuários se-rem alvo de doenças pul-monares, neurológicas e circulatórias, o crack tam-bém expõe essas pessoas a condições de perigo e vio-lência. A maioria das mor-tes é relacionada a situa-ções de conflito em que o indivíduo se arrisca para conseguir a droga ou cau-sa acidentes por perder a noção da realidade duran-te o torpor. Casos de atro-pelamentos de dependentes são comuns, assim como pequenos furtos realizados para a compra da droga.

Segundo dados das polí-cias Civil e Militar, o cra-ck é a droga mais consu-mida na região de Ouro Preto e Mariana e é utili-zado cada vez mais por jo-vens entre 15 e 25 anos.

Em 2012, Mariana teve um crescimento de 20% nas ocorrências relacionadas ao uso de drogas em compa-ração a 2011, aumentando de 76 para 91 o número de registros. Já em Ouro Pre-to foram computados alar-mantes 43% de acréscimo, passando de 70 para 100 ocorrências, no mesmo pe-ríodo. Com o crescimen-to do consumo, aumentou também a demanda por au-xílio para os que desejam largar o vício.

A Prefeitura de Maria-na não quis falar com a reportagem do LAMPIÃO sobre o assunto. As secre-tarias de Saúde e de De-senvolvimento Social e Ci-dadania foram procuradas, mas não quiseram fornecer informações a respeito das políticas públicas adotadas pela cidade. Entretanto, as prefeituras podem ajudar na prevenção e no combate à droga, lançando progra-mas sociais que informem e tratem as pessoas envol-vidas. Já a Prefeitura de Ouro Preto auxilia o Cen-tro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece atendi-mento médico, apoio para as famílias, além de distri-buir remédios.

A Polícia Militar, por exemplo, oferece palestras nas áreas afetadas de am-bas as regiões e atua atra-vés do Programa Educa-cional de Resistência às Drogas e à Violência, que é um curso desenvolvido para as crianças, jovens e adultos nas escolas creden-

isso, o auxílio da família é fundamental. Hermógenes da Silva, 52, descobriu que seu filho Adriano da Silva, 31, estava envolvido com drogas e buscou apoiá-lo na recuperação. “Eu perce-bi que estava fazendo tudo errado. Adriano chegava em casa drogado e tudo o que eu queria era bater e xingar. Com o tempo, per-cebi que isso não adiantava e queria mostrar ao meu filho o quanto o amava”.

A casa de recuperação foi fundamental. “Eu sou um alcoólatra em recupe-ração, lutei contra o vício durante 20 anos por mi-nha conta e não consegui. No momento em que eu encontrei Deus, as coisas

mudaram. Não se tornaram fáceis, mas mais simples. E, assim como teve jeito pra mim, eu sabia que te-ria jeito para o meu filho”, conta o pai.

Adriano começou a usar drogas ainda jovem e aos 18 anos conheceu o crack. O rapaz, que já havia sofri-do três princípios de over-dose e passado três vezes pela prisão, percebeu que o vício estava tirando tudo que tinha. Durante um ano ficou na Casa São Francis-co de Assis que hoje é seu local de trabalho. Ele pre-tende ajudar outros depen-dentes. O pai de três fi-lhos pretende dar a eles o exemplo que não deu en-quanto era dependente das

CIDADE

SISTEMA NERVOSONo cérebro, as áreas responsáveis por pensamento, planejamento e controle dos impulsos são destruídas. Os vasos sanguíneos in�amam e podem levar a AVC's e a convulsões.

SISTEMA CARDIOVASCULARO abuso da droga aumenta a pressão arterial e acelera os batimentos cardía-cos, podendo causar infarto e outras complicações.

SISTEMA PULMONAROs alvéolos dos pulmões são destruí-dos, facilitando infecções como tuber-culose, pneumonia e hemorragias.

SISTEMA DIGESTIVOO crack atrapalha a digestão e afeta o �gado e os rins, provocando náuseas e ausência de apetite.

Comunidade Lírios do Campo: (031)

3557-0010 e (031) 8772-0127 / Rua Vereador José T. Carvalho, s/n – Bair-ro Santa Cruz, Ouro Preto.

Casa São Francisco de Assis: (031) 3551-6749 / Rua das Orquídeas, nº1 - Bairro Santa Cruz, Ouro Preto.

Caps Ad Ouro Preto: (031) 3552-6317 / Rua Nossa Senhora do Parto, nº 50 – Bairro Padre Faria, Ouro Preto.

Caps Mariana: (031) 3558-2229 / Rua Dezesseis de Julho, s/n – Cen-tro, Mariana.

LEGENDA

Exposição de trabalhos das oficinas terapêuticas do Caps Ad

O crack é a droga mais consumida em Ouro Preto e Mariana e já é considerado uma epidemia

bruna mattos

Investimentos na áreaEm 2012 foram inves-

tidos R$ 476 milhões em Minas Gerais referentes ao programa do Governo Fe-deral “Crack: É possível Vencer”. Até 2014 esse re-passe será transformado em redes de Atenção Psicosso-cial em cidades de todo o Estado. Ouro Preto e Ma-riana já receberam o va-lor de tabela do Ministério para implantar o serviço.

Segundo a Secretaria

de Saúde de Minas Gerais, Ouro Preto terá três Caps, uma Unidade de Aten-ção Infantil, um Núcleo de Apoio a Família e uma Unidade de Serviço Resi-dencial Terapêutico.

Já Mariana contará com um Caps e uma Unidade de Atenção Adulto. Os va-lores repassados para os municípios não foram in-formados pela Secretaria Estadual de Saúde.

ciadas da região. O com-bate também é feito pela

Polícia Civil através da in-vestigação do tráfico

feito pelas casas visa inser-ção do dependente na so-ciedade para que ele possa voltar à sua rotina. Os pa-cientes realizam trabalhos como produção de bloco, sabão e plantam verdu-ras para consumo próprio e venda. As casas aceitam doações de alimentos, rou-pas e produtos de limpeza.

Outra saída para aqueles que precisam de ajuda é o Centro de Atenção Psicos-social (Caps), em Mariana, e Centro de Atenção Psi-cossocial Álcool e Droga (Caps Ad), em Ouro Pre-to. Segundo o psiquiatra do Caps Ad, Lucas Paiva Go-

mes, o usuário de drogas é entrevistado para que seja analisado o estágio de sua dependência e o tipo de ajuda que ele precisa.

O tratamento é feito no local, que não funcio-na como moradia. É dis-ponibilizado atendimen-to psiquiátrico, psicológico, serviço de enfermagem, alimentação, local para ba-nho, reuniões e atividades para incentivar o trabalho. Enfrentar a dependência química é uma etapa difí-cil para o usuário, mas é possível com o suporte da família e a procura de um tratamento.

marcelo sena

Contato

IlustraÇao:murIlo amatI

marcelo sena

COMO A DROGA AFETA O ORGANISMO

Page 6: Jornal Lampião - 8ª Edição

6 Edição: Nara Bretas

Arte: Caroline França

Fevereiro de 2013

“Eu já tive que tomar banho na casa dos outros por

conta da falta d’água na minha rua”.

Falta não é o único pro-blema relacionado à água em Mariana. Má adminis-tração, manutenção inexis-tente do sistema de abas-tecimento, ausência de planejamento e desapareci-mento de arquivos técnicos são algumas das deficiên-cias encontradas no Serviço Autônomo de Água e Es-goto (Saae) da cidade, res-ponsável pelo tratamento e distribuição de água.

A constante falta d’água em diversos bairros do mu-nicípio é a campeã de re-clamações do órgão. (Leia mais na reportagem abai-xo). A justificativa para este problema é a precarie-dade do sistema de abas-tecimento, consequência da falta de planejamento e de manutenção, informou o novo diretor executivo do Saae, Valdeci Fernandes Junior, que foi o primeiro gestor da instituição criada em 2005.

Para ele, “o Saae foi

deixado às traças”, e, hoje, um dos principais obstá-culos para a execução de projetos é o desapareci-mento de arquivos técni-cos da instituição, conten-do, por exemplo, mapas da rede de distribuição de água e o número de domi-cílios atendidos. O sumiço dos arquivos foi registra-do em boletim de ocor-rência na Polícia Militar (PM), mas eles não foram recuperados.

O armazenamento e a distribuição da água são indicadores de sua quali-dade, o que tornam neces-sárias fiscalizações e ma-nutenções constantes, como limpezas e consertos. De acordo com o diretor, isso não estava sendo feito.

Além de precário, o sis-tema de distribuição da ci-dade é ramificado. O chefe de departamento de Novos Negócios da Companhia de Saneamento de Minas Ge-rais (Copasa), Cláudio Dot-ti, informa ser essencial

desenvolver um sistema de abastecimento centraliza-do e integrado. Isso tor-naria possível que fossem feitas manobras, por exem-plo, de remanejamentos do fluxo d’água, para a solu-ção de eventuais problemas de abastecimento.

A justificativa para tan-tas atribulações seria a ins-tabilidade política do mu-nicípio, já que o cargo de diretor depende de nomea-ção do prefeito. LAMPIÃO apurou que também hou-ve falhas na administração interna do órgão. Recursos do Ministério da Saúde, da ordem de R$ 41 milhões, encontravam-se reservados para a execução de obras de tratamento de esgoto e instalação de hidrômetros em Mariana, mas não fo-ram repassados porque o Saae não apresentou ne-nhum projeto.

O diretor Valdeci Fer-nandes esclareceu que es-tão em execução levanta-mentos para a elaboração

“Moro no Rosário há 18 anos. Na minha rua vejo faltar água há 18 anos”, a afirmação é da vendedora Denise Fonseca, 39 anos, moradora da Rua Guatema-

la, no Bairro Rosário. A situação evidencia um pro-blema recorrente em várias localidades de Mariana, com situações mais graves em determinadas regiões.

Segundo o último levan-

tamento realizado pelo Ser-viço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana (Saae), na primeira quinzena de ja-neiro de 2013, a instituição recebeu 35 reclamações (14% de um total de 250 chamadas) em relação à falta d’água em moradias. Os bairros Rosário e Caba-nas, localizados nas regiões altas da cidade, foram os mais atingidos. Para suprir o abastecimento, foi preci-so realizar 51 viagens com caminhões pipa.

Segundo o presidente da Associação de Morado-res e Amigos do Rosário (Amar), João Bosco Ma-ciel, 40, o bairro enfrentou a maior escassez dos últi-mos anos. “O Rosário já passou por várias fases de falta d’água. Sempre faltou, mas eu nunca vi uma situ-ação tão grave como a que ocorreu do final do ano passado para o início desse ano”, afirma.

de um inquérito sanitário, que irá oferecer um diag-nóstico da atual situação da cidade para que seja criado o projeto executivo. O pra-zo previsto para a criação do projeto é de um ano e para a solução dos proble-mas é de quatro.

CobrançaO Comitê da Bacia Hi-

drográfica do Rio Doce, da qual Mariana faz par-te, acordou, em 2011, que os usuários de água da ba-cia sujeitos a outorga de-vem pagar pela captação, a

Do outro lado da ci-dade, no Bairro Cabanas, o aposentado Pedro Ju-lião, 43, relata os mes-mos problemas vivencia-dos por Denise Fonseca, moradora do Rosário. “Eu vejo faltar água aqui na Rua Conselheiro Lafaiete há oito anos. Hoje mes-mo, na minha casa, está faltando água; estou pegan-do do vizinho. Aqui um tem que ajudar o outro”, conta Pedro.

AlternativasChamar o caminhão

pipa ou pedir ajuda para vizinhos são escolhas co-muns para os morado-res que ficam sem água em suas casas. Mas, algu-mas pessoas estão apostan-do em diferentes estratégias para sanar esse transtorno, já que não encontram solu-ções efetivas por parte do poder público.

“A opção que encontrei

foi comprar uma piscina de plástico de 8 mil litros e colocá-la em um espaço da minha garagem. Ela fica coberta e montada o ano inteiro. Serve como reser-vatório para mim e minha família”, ressalta Denise, que mora com o marido e dois filhos.

Já o carregador Vicente Inocêncio, 62, morador do Bairro Cabanas, vai mais longe. “Eu busco água em um córrego próximo à Ca-choeira da Serrinha e ar-mazeno em tambores de plástico”, conta.

O mecânico Juarez Ro-mão Junior, 20, morador da Rua Ébano, no Rosá-rio, encontrou outra saída. “Aqui em casa instalamos quatro caixas de água de 2 mil litros para ter abaste-cimento o dia inteiro. Mas eu penso: quem não tem condições de comprar es-sas caixas, como fica? Sem água?”, questiona.

Filipe BarBoza

Joyce aFonso

Muito descaso e nenhuma solução

“Eu tenho

açougue no meu comércio e

preciso manter a higiene do local. Sem água eu não consigo

lavar nada”.

fim de recuperar os manan-ciais e racionalizar o uso da água.

O diretor adjunto de administração do Comitê, Ronaldo Camelo, esclare-ce que o valor trimestral pago pelo Saae gira em torno de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Essa quantia pode ser repassada aos usuários da água por meio de ta-rifas mensais. Como essa cobrança não acontece em Mariana, o valor ainda é pago pela prefeitura, já que a institução não possui or-çamento próprio.

População sofre as consequências

Em situação crítica, Vicente Inocêncio armazena água em um tambor de plástico

Saae, em Passagem de Mariana: ferrugem nos equipamentos e lodo nas paredes denunciam a falta de manutenção periódica

Mariana é conhecida, além do seu caráter histórico, por ser uma cidade onde não se paga pela água. Ou seja, o consumo desse recurso não é tarifado. O LAMPIÃO investigou a gestão e a distribuição da água e descobriu que, no final das contas, o marianense paga muito caro por ela. Isso quando o serviço chega, de fato, à sua casa.

Glauciene Santos, moradora do Bairro

Cabanas

João Lizardo, morador do Bairro

Rosário

Luís Fernando BráuLio

nara Bretas

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Por uma gota de dignidade

Page 7: Jornal Lampião - 8ª Edição

7Edição: Nara Bretas

Arte: Caroline França

Fevereiro de 2013

Não é difícil caminhar por Mariana sem deixar de notar irregularidades na es-trutura da cidade. Há quem diga que este problema se tornou “tradição” nas ad-ministrações municipais. O Sistema Autônomo de Água e Esgoto (Saae) tam-bém contribui para o agra-vamento deste transtorno.

Um exemplo são as duas caixas d’águas que seriam construídas pelo Saae, nos bairros Cabanas e Águas Claras, e que fo-ram iniciadas em 2011, na gestão do ex-prefeito Ge-raldo Sales (PDT), e inter-rompidas durante o manda-to da ex-prefeita Terezinha Ramos (PTB), em agosto do mesmo ano.

Segundo a declaração do ex-diretor do órgão Da-vidson Miranda, as obras são “descartáveis”, pois não há como retomá-las devido às péssimas condi-ções em que se encontram. Não se sabe, ainda, o mo-tivo da paralisação.

Em entrevista ao LAM-PIÃO, o atual diretor do órgão, Valdeci Luiz Fer-nandes Júnior, anunciou re-visão das construções. “Nós

estamos avaliando se essas obras estão dentro do novo plano”, disse, completando em seguida: “Se proceder, nós vamos dar continuida-de, mas se estiverem fora do plano de água, não há necessidade, é dinheiro jo-gado fora”, enfatizou.

As caixas seriam cons-truídas para sanar parte do problema de distribuição de água na região. Des-de sua criação em 2005, o Saae recebeu da Prefeitu-ra R$ 60 milhões para in-vestimento em sua infraes-trutura. Porém, passaram-se oito anos e os problemas ainda persistem.

CPIEm novembro de 2012

foi criada, na Câmara de Vereadores, uma Comis-são Parlamentar de Inqué-rito (CPI) para investigar essas obras e outras irregu-laridades administrativas do órgão nas gestões passadas. Contudo, não foi finaliza-da no ano passado, como previsto.

Segundo o então presi-dente da comissão, o ve-reador Fernando Sampaio (PRB), o atraso na entre-ga dos documentos contra-

tuais foi uma das razões que inviabilizaram o térmi-no da investigação. Ainda não há previsão de quan-do a CPI voltará, porém, o vereador diz que “o que se espera é que seja feita neste ano uma CPI com-pleta para que se investi-guem melhor as denúncias do Saae”.

A instauração da CPI ocorreu após uma declara-ção, na 34ª Reunião Ordi-nária da Câmara, do ex-diretor do Saae, Davidson Miranda, na qual apontou

indícios de fraudes e irre-gularidades na instituição. “Não estou aqui para jo-gar a culpa em ninguém, mas tenho documentações de várias questões irregula-res no Saae”, afirmou ele, na época.

Entretanto, os documen-tos citados por Davidson não foram entregues à CPI. A instituição se negou a apresentar cópias contratu-ais alegando que, no total, eram mais de 105 mil do-cumentos e que não have-ria dinhiero suficiente para

De acordo com o Mi-nistério da Saúde, muitas doenças transmitidas para o ser humano são causa-das por ingestão de água contaminada. Dentre elas: diarréias e disenterias; fe-bre tifóide e paratifóide; leptospirose; amebíase; he-patite infecciosa; e ascari-díase (lombriga). Existem também doenças associadas à falta d’água (fato que di-ficulta a higiene pessoal), como tracoma e tifo, que se caracterizam por infec-ções na pele e nos olhos.

O consumo de água fora das condições ideais está entre as principais causas da mortalidade infantil no Brasil. Segundo a Orga-nização Mundial de Saú-de (OMS), para cada dólar investido em saneamento, economizam-se cinco dóla-

César Diab

Obras abandonadas e CPI comprometem Saae

imprimir esse material. Para o advogado Frede-

rico Ozanan, autor do Blog do Ozanan, a situação na instituição é reflexo da ins-tabilidade política enfren-tada por Mariana ao lon-go dos anos. Segundo ele, “a autarquia deveria cobrar pela água, mas como ela é gratuita, depende sem-pre da verba da Prefeitu-ra para realizar esse tra-tamento mentiroso”. Algo que, de acordo com Frede-rico, facilita fraudes e irre-gularidades licitatórias.

Abandonada há um ano e meio, obra da caixa dágua do Cabanas pode não ser retomada

Lei Federal

de Saneamento Básico garante água de qualidade para todos.

Caixa d’água na Rua Jatobá, Bairro Rosário, é utilizada também como depósito de lixo

res nos dez anos seguin-tes em hospitais, postos de saúde e médicos.

A farmacêutica e dou-toranda em Epidemiologias e Doenças Parasitárias, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Ga-briela Lana, ressalta que o cloro não mata todos os parasitas que podem conta-minar a água. Além do tra-tamento, o armazenamento e abastecimento da água devem ser monitorados. Os reservatórios e encanamen-tos precisam receber lim-pezas periódicas, para que não haja contaminação nes-sas etapas.

Gabriela indica a lava-gem das caixas d’água a cada seis meses e, em ca-sos onde a água não este-ja em condições adequadas para consumo, ela sugere sua fervura.

Saneamento básico: uma questão de saúde pública

Construções abandonadas, desperdícios frequentes e denúncias administrativas. Esses são alguns dos obstáculos enfrentados pela cidade, cuja administração negligencia um recurso básico e de qualidade ao morador. Mesmo com os anos de descaso sobre o problema, resta agora saber quando essa herança irá por água abaixo.

Distribuição de água em

Mariana foi criada para comportar 20

mil moradores. Hoje, a cidade possui cerca de

60 mil cidadãos e poucas transformações foram

feitas em sua estrutura.

Nara Bretas

Luís FerNaNdo BráuLio

Por uma gota de dignidade

JoyCe afonso

Page 8: Jornal Lampião - 8ª Edição

8 Edição: Ana Nepomuceno, Nicole Alves e Rodrigo Pucci

Arte: Cinthya Meneghin

Fevereiro de 2013

Cresce, mas não se desenvolveNova gestão encara problemas com a Copa e crescimento desordenado

O ano de 2013 come-ça para as cidades brasi-leiras com as expectativas aumentadas em decorrência da posse dos novos pre-feitos, eleitos no ano pas-sado. Em Mariana e Ouro Preto, os candidatos ven-cedores são políticos expe-rientes e que já assumiram as respectivas prefeituras, em outros tempos. Aparen-temente, o eleitorado des-sas cidades escolheu a ex-periência para assumir suas administrações municipais. Qual seria seu recado?

Primeiramente, os novos governantes deverão cuidar bastante da questão políti-ca, pois suas cidades pas-saram por forte comoção. Além disso, deverão ter

AnA nepomuceno

Além dos problemas en-frentados por toda admi-nistração municipal, como trânsito, educação e se-gurança pública, a antiga Vila Rica também apre-senta dificuldades herdadas de sua história, que impe-dem mudanças profundas no espaço urbano. A popu-lação cresce, mas a estrutu-ra necessária não consegue acompanhar o ritmo, o que acaba por gerar conflitos e situações como ocupações desordenadas de encostas.

Esse é um dos obstá-culos que o prefeito José Leandro Filho (PSDB) irá enfrentar em seu terceiro mandato à frente do Exe-cutivo Municipal, pois o crescimento da população também exige melhorias na oferta de serviços públicos. O saneamento básico é um exemplo, visto que o úni-co aterro sanitário contro-lado da cidade está aban-

muita atenção com a de-licada situação econômica que o Brasil está passan-do, e em especial, as eco-nomias muito dependentes da exportação de commo-dities, como o minério de ferro. Mariana e Ouro Pre-to mudaram muito e pedem prefeituras mais competen-tes e responsáveis com a boa administração.

Adriano Cerqueira Professor do curso de História da Ufop

PolítiCA

donado e a coleta seletiva não é eficaz no município.

Outra questão recorren-te é a saúde. O setor so-fre com a falta de médicos especialistas, equipamen-tos adequados, remédios de fornecimento obrigatório e demora no agendamento de exames. Pacientes de radio-terapia, hemodiálise e qui-mioterapia enfrentam horas de viagem para conseguir atendimento adequado em outros locais.

José Leandro também tem de lidar com uma eco-nomia desaquecida e com cada vez menos oportuni-dades para os jovens re-sidentes. Sem contar que a administração precisa co-locar a “casa em ordem” para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e isso envolve a execução do Plano Municipal de Turis-mo, que possui metas a se-rem cumpridas ao longo de dez anos.

MEIO AMBIENTE“A principal demanda do meio ambiente é a qualificação. A administração tem que criar cargos técnicos para lidar com Ouro Preto, pois a cidade é cercada de Unidades de Conservação. A Prefeitura tem que dar atenção a essas Unidades já implantadas porque todas precisam de manutenção periódica e funcionários qualificados. Também acredito que só a Secretaria de Meio Ambiente não consegue lidar sozinha com algumas questões devido ao pouco recurso revertido para a pasta. Eu acho que não há nada melhor que trabalhar as secretarias juntas para melhoria da educação ambiental e da questão sanitária”. Edenir Monteiro, 33 anos, geógrafo e instrutor de Bombeiro Civil.

o que os moradores esperam da nova administração?

EDUCAÇÃO“Sobre o que espero, eu não acho que é diferente do que outras pessoas desejam: primeiro, um ensino de qualidade do ponto de vista pedagógico, que os professores tenham capacitação, sejam bem remunerados e possam se dedicar mais a sua profissão. A outra questão é esperar uma boa gestão administrativa, pois os prédios precisam de reformas pensadas do ponto de vista do que é adequado à escola. Quem essa instituição abriga? São crianças? Então, tenho que priorizar rampas. O que eu tenho que ter para ter uma escola prazerosa para o aluno?”.Sandra Fosque, 50 anos, professora de História da Arte e da Arquitetura Brasileira na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop).

SAÚDE“No Brasil, nós temos leis perfeitas, agora, o problema é que as pessoas não as obedecem, portanto, eu espero que a gestão apenas cumpra as leis que regem os procedimentos do setor, pois a saúde seria maravilhosa se as normas fossem obedecidas. Eu sei que a gestão passada deixou problemas de contratos cancelados de fornecimento de medicamento, exames e prestação de serviços, por isso, vai ser um começo difícil. Outra coisa que eu espero é que eles deem instrução para as pessoas que trabalham na Saúde, pois para trabalhar nessa área é necessária uma capacitação ao atender pacientes que já estão abalados”. Maria de Lourdes Rasmussen, 75 anos, professora aposentada.

PATRIMÔNIO“No governo anterior, criou-se a Secretaria de Patrimônio e Desenvolvimento Urbano, que tinha um trabalho constante de fiscalização e trabalhou no intuito de atualizar o plano diretor da cidade, além de fazer um controle da ocupação. É imprescindível que se mantenha a pasta com profissionais capacitados, pois vem aí a Copa do Mundo, e Ouro Preto tem de se preparar. Então, fica aqui o meu apelo para que a Prefeitura não feche essa secretaria, pelo contrário, aumente o seu poder para que essa pasta possa dar um maior suporte a preservação”.Margareth Monteiro, 50 anos, chefe da sessão de difusão do acervo e promoção cultural do Museu da Inconfidência.

nicole Alves

Mariana possui uma sé-rie de dificuldades decor-rentes, em sua maioria, do quadro de instabilidade que a cidade passou: foram seis prefeitos nos últimos quatro anos. Celso Cota (PSDB) assumiu a prefei-tura em 2013 pela segun-da vez, e encontrou um município defasado em di-versos setores. No entan-to, quais são os problemas mais graves e qual a ori-gem deles?

Por um lado, a cida-de tem grande parte da sua renda dependente da mineração. E com a de-saceleração da economia mundial, a receita do mu-nicípio foi afetada de for-ma significativa.

Por outro, é possível re-verter parte destas perdas desde que haja investimen-to no turismo. Para isso,

é necessário aproveitar os próximos eventos que irão ocorrer no Brasil, como a Copa do Mundo, em 2014.

Outra questão referente às mineradoras é que elas atraem grande contingen-te de pessoas, geram em-prego, mas deixam os im-pactos ambientais para os moradores. Em 40 anos de exploração de seus recur-sos naturais, Mariana ga-nhou apenas dois bairros para abrigar os trabalhado-res dessas empresas.

A expansão da Univer-sidade Federal de Ouro Preto também gera um excedente populacional e, consequentemente, mais problemas, como a falta de moradias.

Além disso, existem ou-tros obstáculos relacionados à educação, saúde, meio-ambiente e à preservação do patrimônio histórico.

MEIO AMBIENTE“O primeiro desafio refere-se à qualidade da água fornecida à população. Não é possível que a cidade, que possui uma boa arrecadação para os padrões mineiros, continue fornecendo água barrenta para ser consumida. Em toda chuva forte a caixa d’água vira uma imundice. Os resíduos entopem a boia que controla o volume de água. Resultado: ou entra água barrenta ou não entra nada. O segundo problema refere-se à situação do Ribeirão do Carmo. Em Ouro Preto, foram construídas estações de tratamento de esgotos que irão melhorar a qualidade da água lançada no rio. Água tratada e com qualidade e o cuidado com o Ribeirão do Carmo são dois problemas que espero que a nova gestão trate como algumas de suas prioridades.” Kleverson Lima, 40 anos, professor de História.

EDUCAÇÃO“O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Mariana é o pior da região. Em um projeto que participei nas escolas, observei que havia crianças acima de oito anos que não sabiam ler! A obrigação do prefeito é alfabetizar estas crianças. Além disso, há uma defasagem grande de profissionais alfabetizadores e é preciso dotar as escolas de recursos. Acredito que a escola deve ser um local de civilidade, por isso, é preciso trabalhar a prática dos professores orientada para o lado teórico e auxiliar aqueles que têm problemas com alunos. Defendo também que deve haver uma forma criativa de chamar o aluno para as escolas e, se possível, usar a tecnologia a favor e fazer a coisa de modo que eles se interessem”. Hebe Rola, 81 anos, pesquisadora, professora, defensora do Patrimônio.

SAÚDE“Espero que melhore cada vez mais. Tenho plano de saúde, e não procuro os serviços médicos da Prefeitura porque não vale a pena. Demora muito para conseguir marcar consulta com os especialistas, como ginecologista, cardiologista, otorrino. Já tem oito anos que eu tenho plano de saúde e sempre vejo as pessoas reclamando. Esse hospital aqui é bom, sempre tem médico. Mas outro dia, a menina veio me falar que teve que sair de casa à 5 horas para tentar marcar um consulta com o cardiologista. Prefiro ir para Belo Horizonte do que me consultar aqui. Os médicos, às vezes, nos tratam com descaso e não conseguem resolver problemas mais sérios”.Maria Geralda Teixeira, 56 anos, servente escolar.

PATRIMÔNIO“O poder público de Mariana passou por momentos de descrédito, instabilidade e esvaziamento político. As mudanças que estão acontecendo na cidade passam pela mobilização da sociedade civil. Se você me perguntar onde é que estão as grandes novidades, o que tá acontecendo de positivo, eu vou te falar: é a sociedade que está se organizando através de alguns movimentos, tipo Mariana Viva. As novidades passam também pelas atividades que a Ufop está desenvolvendo, tanto em Mariana como em Ouro Preto. Existem atividades de extensão, que estão buscando esse diálogo com a sociedade, e aí eu acredito mais até do que o próprio programa da Prefeitura que eu desconheço, até por falta de credibilidade mesmo”.Virgínia Buarque, 44, professora de História.

Desafios de Mariana

Entrave histórico

Prefeito eleito vai gerir cidade pequena com grandes problemas

Lázaro Borges

EM MARIANA

EM OURO PRETO

MarCeLo sena

MarCeLo sena

rodrigo puCCi

rodrigo puCCi rodrigo puCCiANÁLISE POLÍTICA

leia a opinião completa online

Lázaro Borges

rodrigo puCCi

Page 9: Jornal Lampião - 8ª Edição

9Edição: Lais Queiroz, Patrícia Botaro e Paula Peçanha

Arte: Jamylle Mol

Fevereiro de 2013

Ei, você aí, me dá um dinheiro aí!

E agora, José? A festa acabou...Escolas de Samba de Ouro Preto ficam sem verba para realizar desfile e têm seu Carnaval cancelado esse ano

sociado (entre barraqueiros, am-bulantes, towneiros e similares) fica responsável pelo seu alvará autorizado pela Secretaria Muni-cipal de Fazenda. A associação foi criada para garantir o direito do vendedor ambulante. O valor total das vendas por associado varia de acordo com a apresen-tação e com o estado do produ-to. “A renda de quem trabalha nessa área é boa, porque a pro-cura é grande e alguns conse-guem pagar dívidas e fazer lista durante seis meses”, ressalta a presidente Adriana.

Esse ano, cada integrante da Acetop pagou o valor de R$40 para adquirir a camisa e o cra-chá de identificação. Essa quan-tia ajudou a pagar, também, a documentação para a mudança do nome da entidade, chamada anteriormente de Associação de Barraqueiros, Ambulantes e To-wneiros de Ouro Preto (Abatop).

De acordo com o gerente da Receita Municipal, Rafael Men-des, a Prefeitura espera, ao final do Carnaval, uma arrecadação de R$110 mil em Impostos So-bre Serviços de Qualquer Natu-reza (ISSQN), levando em con-sideração o valor arrecadado no último exercício fiscal.

Ouro Preto recebe muitos tu-ristas durante o Carnaval. Mas, você já parou para pensar como gira a economia da cidade no fe-riadão? Hotéis, pousadas, comér-cio local e ambulantes. Como eles conseguem aumentar sua renda durante os dias de folia?

A presidente da Associação Brasileira da Indústria Hotelei-ra da Regional de Ouro Preto (ABIHOP), Sônia Vianna, expli-ca que nesses últimos anos a procura de turistas por hotéis e pousadas tem baixado. Contudo, a demanda aumenta muito nes-se período carnavalesco, pois é o maior feriado prolongado do ano e é necessária a contratação de funcionários temporários para reforço. Outro fator que colabo-ra para esse aumento são as fé-rias, época em que muitas famí-lias optam por visitar a cidade.

Um levantamento feito nas principais distribuidoras de cer-veja de Ouro Preto mostra que, no Carnaval, a venda aumenta em até 30% em relação a outras datas. Na maioria dessas distri-buidoras a saída de gelo é supe-rior a de bebidas, uma vez que os blocos e as repúblicas com-pram direto com os fabricantes.

O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ouro Preto (Aceop), Raimundo Sarai-va, disse que a entidade ainda não tem uma pesquisa sobre a renda gerada pelo comércio du-rante esse grande evento, mas é visível que as vendas aumentam nas lojas de produtos específicos

para o Carnaval. “Nas lojas que se preparam para a data, a de-manda é maior, mas no comér-cio normal a renda não aumen-ta”, afirma o presidente.

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, responsável pela organização do Carnaval, cadastra os vendedores ambulan-tes da cidade. A presidente da Associação de Comerciantes em Eventos Temporários de Ouro Preto (Acetop), Adriana Cristi-na Gomes, explica que cada as-

A luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e o ouro-preta-no ficou sem o tradicional desfi-le das Escolas de Samba da ci-dade. Além de não terem saído à Praça Tiradentes, onde aconte-ciam as apresentações, algumas escolas pagaram as dívidas do que foi gasto com o próprio or-çamento, na esperança de que a festa acontecesse, e outras deixa-ram de se apresentar em escolas municipais e blocos de rua.

Tudo isso por conta do não- repasse da verba que deveria ser efetuado pela Prefeitura de Ouro Preto, no valor de R$ 297 mil, solicitada pela Liga das Escolas de Samba de Ouro Preto (Lesop) para a realização dos desfiles.

De acordo com o vice-pre-sidente da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristóvão (ESASC), Lúcio da Silva André, o Tiço, foram gastos na produ-ção das fantasias em torno de R$ 7 mil. “Começamos a pro-dução em junho do ano passa-do”, afirmou. A ESASC possui sede própria e, segundo o pre-

Este ano eu estava contando para ir e não teve. Não achei bom não, todos se divertem no Carnaval, né? E a gente? Em vez de melhorar está piorando mais”, disse.

A caçula dentre as escolas é a União Recreativa do Santa Cruz, fundada em 2009, e por não ter sede nem barracão pró-prios conta com a solidariedade dos moradores do Bairro Santa Cruz. De acordo com a repre-sentante da escola, Kelly Mar-tins, os materiais ficam distri-buídos em cinco casas e numa garagem alugada.

Eunice Lelis é uma das mo-radoras que cede sua casa para guardar os materiais. “A gen-te gosta de ajudar porque que-remos a união do pessoal. Não queremos deixar a escola morrer porque ela faz muita falta pra gente”, afirmou.

Ainda com todos os proble-

sidente da escola, Éder Kenne-dy, o espaço também é utiliza-do para eventos da comunidade e alugado para particulares. “A dívida que temos ainda é possí-vel pagar, porque temos a ren-da da sede da escola, mas e as outras que não têm?”, questiona.

O barracão onde é feita a produção das fantasias fica na

casa de Tiço e conta com o tra-balho voluntário dos seus fami-liares. A agremiação possui pou-co mais de 30 anos e quem a acompanha há tempo também não está satisfeito. Maria Efigê-nia Lourenço Simões, 82 anos, é uma das pessoas que desfila para a ESASC desde o seu iní-cio. “Isso é uma injustiça né?

Patrícia Botaro

Laís Queiroz

JEssica clifton

Folia de vendas

Mariana se beneficia da pro-ximidade com Ouro Preto, cidade que atrai muitos turistas na épo-ca do Carnaval. Um levantamen-to feito pelo LAMPIÃO em uma distribuidora de bebidas na cida-de mostra que a venda de cerve-ja aumenta 92% no período. As vendas são dividas em 260 mil litros para blocos, 20 mil para repúblicas e 180 mil para pontos de vendas e barracas.

Para o presidente da Associa-ção de Feirantes e Vendedores Ambulantes de Mariana, Vander-lei dos Santos, a entidade so-fre com a vinda de vendedores de fora. Segundo ele, a associa-ção foi feita para reprimir a vin-da dessas pessoas, porque “elas não deixam dinheiro na cidade”. Já os associados, que são ca-dastrados, fazem com que o di-nheiro gire em torno da cidade, “Compramos bebidas, balas, car-ne, tudo em Mariana. A renda fica aqui”, ressalta.

Vanderlei ainda acrescenta: “Em cada barraquinha que mon-tamos é necessário pelo menos umas quatro pessoas para ajudar. Contratamos gente daqui da ci-

dade pra trabalhar”, defende. “A renda de quem trabalha na área é boa, conseguimos cerca de R$ 5 mil durante essa época”, con-tabiliza o presidente.

O gestor administrativo da Associação Comercial Indus-trial e Agropecuária de Mariana (Aciam), Helielcio Vieira, con-firma o aumento em todos os segmentos. “Como no Carnaval aumenta a população, o acrésci-mo vai ser na cadeia toda. Do pão que o folião come, ao espa-radrapo que ele usa no pé”, diz. “Farmácias, padarias e restau-rantes são beneficiados com a vinda de pessoas para a cidade. Todos os produtos e serviços aumentam”, completa Helielcio.

mas, o foco das associações ago-ra é a preparação para o Carna-val do próximo ano. “A gente não vai deixar o Carnaval mor-rer, vamos correr atrás para vol-tarmos ano que vem com toda força”, explica Kelly. Tiço re-

força. “Não podemos deixar morrer essa tradição, as esco-las são deles (referindo-se aos ouro-pretanos)”.

Que venha 2014 e, tomara José, o desfile das Escolas de Samba de Ouro Preto.

O riso não veio

PauLa Peçanha

Devido ao não-repasse da verba de R$ 297 mil, solicitada pela Liga das Escolas de Sam-ba à Prefeitura de Ouro Preto, com no mínimo 60 dias antes do Carnaval, não houve tem-po hábil para a preparação das agremiações para o desfile. Se-gundo o secretário municipal de Turismo e Cultura, Jarbas Ave-lar, o problema não foi a falta de verba, e sim a liberação do orçamento por parte do Ministé-rio da Fazenda para o novo Go-verno municipal. Os representan-

tes da Liga afirmam que fizeram a primeira reunião com o con-selho de transição, no qual esta-vam presentes representantes do governo passado (ex-prefeito Ân-gelo Oswaldo), e do atual (pre-feito José Leandro), no dia 9 de outubro de 2012, para que o Carnaval não fosse afetado devi-do à mudança de gestão.

Ainda segundo a representan-te das escolas, vários outros en-contros foram feitos a fim de buscar solução para o problema, mas nada foi resolvido.

“Nas lojas que se preparam para o Carnaval a demanda é maior, mas no comércio normal a renda não aumenta”.

Raimundo Saraiva

CArNAvAL

arquivo / acadêmicos dE são cristóvão

Acadêmicos de São Cristóvão no desfile de 2011

Lúcio da Silva André, o Tiço, recolhe as fantasias e materiais que seriam usados no Carnaval desse ano

Para mais informações sobre o Carnaval, acesse:

www.carnavalouropreto.com

www.ouropreto.mg.gov.br/portaldoturismo

www.mariana.mg.gov.br

“A gente não vai deixar o Carnaval morrer, vamos correr atrás para voltarmos anoque vem com toda força”.

Kelly Martins

Page 10: Jornal Lampião - 8ª Edição

10 Edição: Ana Luiza Batista, Bruna Mattos e Patrícia Souza

Arte: Núbia Cunha

Fevereiro de 2013

AnA luizA BAtistA

A prática deste esporte não requer um equipamen-to especial, é possível se praticar ao ar livre e ain-da é uma ótima maneira de melhorar o condicionamen-to físico, emagrecer, pre-venir doenças, melhorar o equilíbrio, entre outros be-

Entraves na partidaESPORTE

PAtriciA souzA AnA luizA BAtistA

Sem grades, arquibanca-das, vestiários e cheio de entulhos. É assim que se encontra o campo localiza-do no Bairro Cabanas, que

deveria proporcionar lazer para a comunidade. Em 2008, o campo munici-pal foi transferido do Bair-ro Colina para o Cabanas, mas a construção foi feita de forma improvisada, sem

Bairro Cabanas é prejudicado por obras inacabadas no campo de futebol; moradores não têm áreas de lazer

Do lixo às pistas

A corrida como benefício para a vida

AnA luizA BAtistA Logo pela manhã ela

já está a todo vapor, indo para seus treinamentos. Pode ser em uma acade-mia ou à beira do asfal-to, partindo de Ouro Preto a Mariana. Assim come-ça o dia de Lourdes Maria Fernandes, mais conhecida como Lourdinha, 54 anos, uma ex-catadora de pape-lão, nascida em Ouro Pre-to, que, em 2000 repaginou sua vida e decidiu ser ma-ratonista. Desde então, ela já ganhou mais de 300 tro-féus e 600 medalhas, e foi considerada a quarta me-lhor do mundo na sua cate-goria, 50-54 anos, em uma competição na Austrália.

A corrida entrou em sua vida há 13 anos, logo após ser demitida do traba-lho. Como Lourdinha mes-mo diz, foi “apenas com o intuito de diminuir uma angústia, um aperto no co-

ração que estava me atra-palhando e, depois da competição, tudo na minha vida voltaria ao normal”.

Com o apoio do filho mais velho, ela foi para a corrida de Aniversário da Unimed, que aconteceu no campus da Universida-de Federal de Ouro Preto (Ufop). Mesmo sem treino e expectativa de que pu-desse vencer, conquistou o 3º lugar geral.

Para a maratonista, a competição mais importan-te foi a ocorrida na Fin-lândia, em 2012, quando conseguiu o recorde Sul-Americano na categoria 50-54 anos. Para ela, esta conquista é melhor do que ganhar na Mega-Sena. Atu-almente, além de se dedi-car as corridas, ela trabalha como funcionária pública e presta serviço à Ufop.

Muitos troféus, meda-lhas e várias barreiras fo-

nefícios. O médico geria-tra, Fausto Aloísio, acre-dita que a atividade física na maturidade é o maior benefício para a qualida-de de vida. “Hoje, prati-camente todas as doenças e deficiências que podemos ter na terceira idade, po-dem ser evitadas e preve-

Mariana contada pela arte e pela férolder WAngler

Uma das coisas que sempre me fascinou na ci-dade primaz de Minas Ge-rais foi transformar a histó-ria em memória. Mariana, o berço mineiro, vem bus-cando manter a essên-cia das cidades históricas. Como exemplo, destaca-se o Museu Arquidiocesa-no de Arte Sacra, que re-cém-completados 40 anos de vida, já ocupa a segun-da posição entre os museus de arte sacra do país.

Em meio à agitação do centro urbano da cidade de Mariana, ainda podem ser encontrados locais que re-metem há 300 anos, a his-tória das vilas que deram

início a Minas Gerais. De janelas e portas tão gran-des que quase chegam ao tamanho das paredes, o Museu hoje se divide em nove salas que contemplam o período áureo do Ciclo do Ouro, no Século XVIII.

Segundo a funcionária do Museu há sete anos, Aníveda Martins de Sou-za, 50 minutos seriam o suficiente para conhecê-lo, mas pelo volume e pela importância das obras guar-dadas ali, a visita duraria o triplo do tempo estimado. Começando pela entrada, que obrigatoriamente faz com que o visitante conhe-ça a Igreja da Sé, um te-souro do Século XVIII fin-

cado no centro da cidade, e siga para a sala da pra-taria, no primeiro piso. Lá, ele encontra relíquias usa-das pela Igreja em cele-brações anteriores ao nasci-mento da quarta geração da maioria da população local.

Afixada na parede, pró-xima a escada que dá aces-so ao segundo piso, a ima-gem de Nossa Senhora da Conceição, a primei-ra trazida pelos portugue-ses a chegar a Mariana, é uma relíquia. Que a ver-dade seja dita, mesmo en-frentando os desgastes pro-venientes do longo tempo exposto em outros locais, a sua imponência e bele-za continuam imunes. Ali-

ram vencidas, entre elas o preconceito devido à ida-de, porém, isso não a pre-ocupa. Mas a barreira que ainda é difícil de quebrar é a falta de um patrocí-nio que possa ajudá-la a participar das competições fora do país, pois a atleta não tem dinheiro suficien-te para pagar todos os gas-tos. O auxílio para partici-par das competições vem de amigos, uma bolsa que ela ganha da Universida-de, e a academia onde faz exercícios para melhorar sua resistência.

Para Lourdinha, inde-pendente das barreiras, o esporte tornou-se uma vál-vula de escape. “A corrida mudou a minha vida total-mente, da água para o vi-nho. Ela me trouxe vários benefícios como me deixar menos envergonhada, além de melhorar minha saúde”, conta, orgulhosa.

nidas com a prática de ati-vidade física”.

Dessa forma, se você se inspirou no exemplo de Lourdinha, calce seu tênis e vá correr. Não es-quecendo que toda ativi-dade física deve ser feita com o acompanhamento de um médico.

estrutura adequada, ficando esquecida. No antigo cam-po, no Colina, foi constru-ída uma quadra esportiva.

Mesmo em condições precárias, o campo do Ca-banas é utilizado por joga-

dores de futebol e atletas. O jogador do Independen-te Futebol Clube, Dou-glas Anacleto, conta que, antes dos jogos, os atle-tas precisam limpar o cam-po do lixo acumulado no local e fazer a demarca-ção da área. As traves não têm rede e o gramado é ruim, o que pode ocasio-nar lesões musculares nos jogadores. Ele disse, ain-da, que já ocorreram cenas de violência entre torcedo-res e jogadores durante os jogos. “Não dá para levar minha família para assistir (os jogos) porque não tem segurança”.

O guarda municipal, Gilmar Rocha, que traba-lha na Policlínica do Ca-banas, próxima ao cam-po, conta que “em fase de campeonatos, os jogadores fazem uma tenda improvi-sada para usar como vesti-ário, e o pessoal do atletis-mo utiliza a parte interna da caixa d’água para guar-dar materiais esportivos”.

ás, o Museu não só serve para exposição, mas tam-bém se torna um guardião de peças que possam es-tar comprometidas em ou-tras igrejas.

No segundo andar, exis-tem desde quadros sem atri-buições de autores, que não são raros, até uma sala de-dicada a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Po-de-se encontrar também pe-ças do pintor Manoel da Costa Athayde e do enta-lhador e escultor Francisco Brito, artistas importantes do estilo barroco. O Mu-seu transpira história e co-nhecimento para os 1.650 visitantes, que é sua média mensal de visitação.

O horário de funcionamento do Museu é de ter-ça a sexta-fei-ra, das 8h30 às 12h e de 13h30 às 17h. No sába-do e domingo, de 8h30 às 14h. O preço da visitação é R$ 5,00 e o bi-lhete deve ser re-tirado na entrada da Igreja da Sé.

O carpinteiro Geral-do do Carmo, morador do bairro, reclama que o lo-cal tem poucas opções de lazer. “Tem o campo, que não está acabado há qua-se seis anos. Na época de chuva só tem lama. As crianças, às vezes, vão brincar lá, mas é um pouco

perigoso. Quando começou a obra, a Prefeitura falou que ia ser um ginásio po-liesportivo e, hoje em dia, está no relento, sem segu-rança”. O LAMPIÃO este-ve no campo durante o dia e constatou a presença de usuários de drogas, que es-tavam utilizando uma das

casas próximas à pista de atletismo.

Em 2011, o então pre-feito Geraldo Sales de Sou-za, o Bambu, iniciou um processo de licitação para realizar obras no local, mas não pôde continuar porque o governo anterior havia anulado a desapropriação de uma parte do terreno, que pertencia a uma pro-priedade particular. A área ocupava o espaço de uma faixa do campo e da pista de atletismo.

O secretário de Despor-tos, Helerson Freitas, afir-ma que a Prefeitura irá de-sapropriar a área e abrir uma licitação até o fi-nal do primeiro semestre, para iniciar obras no lo-cal e transformar o campo em um estádio com arqui-bancadas, vestiários, aloja-mentos e pista de atletismo para a comunidade. “Que-remos criar uma estrutu-ra completa para atender a população e os jogadores”, afirma o secretário.

CuLTuRA

Lourdinha conquistou 600 medalhas, 300 troféus e um recorde Sul-Americano em maratonas

“Não dá para levar minha família para assistir (os jogos) porque não tem segurança’’.

Douglas Anacleto

Fundado em 1962, pelo terceiro Arcebispo de Ma-riana, Dom Oscar de Oli-veira, o Museu Arquidioce-sano de Arte Sacra é uma opção de entretenimento e cultura para os turistas que visitam a cidade, além da própria população que aca-ba conhecendo um pouco mais da história local.

Visitar o Museu é des-cobrir o porquê de Dom João V e sua mulher, a ar-quiduquesa da Áustria, Ma-ria Ana Josefa, são os res-ponsáveis pela cidade se chamar Mariana. É ter a possibilidade de se trans-portar para um período marcado pelo ouro, pela arte e pela fé.

Visitação

bruna Mattos

Com o período das chuvas, poças d’água impedem que o campo do Cabanas seja utilizado

Luis Fernando brauLio

Page 11: Jornal Lampião - 8ª Edição

11Edição: Ana Carolina Meirelles e Isadora Faria

Arte: Mariana Mendes

Fevereiro de 2013

PERFIL

Tamara marTins

isadora Faria

reprodução: isadora Faria

A arte de bordar os altos e baixos da vida Filipe BarBoza

Nunca imaginei que uma sim-ples agulha, acompanhada de carretéis de linha, serviria de instrumento para alguém con-tar histórias. Ainda mais quan-do essas histórias, desenhadas em panos e retalhos, são parte da realidade de uma pessoa que aprendeu a se redescobrir atra-vés da arte.

Conceição Aparecida Romu-aldo, 45 anos, constrói as nar-rativas da Menina do Cabelo de Flores, personagem que represen-ta suas próprias lembranças. Car-regando consigo uma bolsa, ela leva para vários lugares tecidos e algumas ferramentas para bor-dar. Conceição coloca as mãos à obra sempre que possível, seja para passar o tempo em um ban-co de praça ou para esperar o ônibus que a leva de volta para sua casa no distrito de Rodrigo Silva, em Ouro Preto.

Ao aproximar o olhar aos desenhos de Conceição é pos-sível identificar na protagonista

das suas narrativas uma crian-ça sapeca e brincalhona do in-terior, uma adolescente autênti-ca e questionadora e uma mãe que lida com a depressão após a perda de um filho. Nature-za, fé, amor e família são ca-racterísticas marcantes dentro de cada bordado. “Aqui eu me de-senhei grande diante das mon-tanhas, pois quando estou per-to delas me sinto gigante. Nelas encontro o meu habitat natural”, conta, detalhando o sentido da sua mais recente obra que rece-be alguns pontos e retoques du-rante a entrevista.

Mas como a arte, no caso dos bordados de Conceição, imita a vida (ou o seria contrário?), nem tudo são flores para a menina desenhada com o cabelo cheio delas. “Eu já me fiz na escola, nadando, vestida de noiva, grávi-da, com a minha família, mas já me desenhei em momentos difí-ceis também, como na morte do meu filho... Eu represento várias fases da minha vida, as boas e

as ruins”, explica. Parece que, para Conceição,

o bordado vai além da expres-são artística. “Quando a escuri-dão começa a vir, eu vou para o bordado. A partir daí as coisas clareiam. Eu tenho o bordado e Deus, e com ele eu já consegui sair do fundo do poço e me re-cuperar várias vezes”.

E é assim que funciona: cada pedaço de tecido, a memória de um determinado tempo vivi-do; cada contorno no desenho, uma significação daquele perío-do, uma tentativa de interpretá-lo, uma busca pela identidade que ficou esquecida em algum momento e por alguma razão. “O meu bordado é uma for-ma de desabafo. Tem sentimen-to que você não consegue colo-car em palavras. Às vezes você quer falar, mas não vem. Daí, pelos bordados, eu consigo ex-pressar isso. Sei que o desenho está saindo de dentro de mim”, diz Conceição, a Menina do Ca-belo de Flores.

da névoa e do céu azul, trans-formados em pintura...

Há 30 anos, Tunico pinta em telhas, tentando retratar o que sente a respeito da cidade, de toda poesia de Tomás Antônio Gonzaga, da beleza das pintu-ras e esculturas de artistas lo-cais, construindo sua inspiração. “É um prazer viver da arte”, de-clara ele, que aos 60 anos se diz

satisfeito com a vida e com o reconhecimento de seu trabalho.

Quem coleciona as obras de Tunico sente a essência de seu pensamento, pois são estes mi-cropontos que revelam um tra-balho pessoal e intimista, e dei-xam descobertos seu sentimento e seu olhar que transpassam pe-los telhados da belíssima cidade de Ouro Preto!

Do teto à parede: telhas que colorem

O artista Tunico finaliza uma obra em seu ateliê, que serve também como local de exposição de seus quadros

Conceição e sua obra Menina do Cabelo de Flores: narrativa pessoal

Dos pontinhos coloridos justapostos pode-se ver os traços da obra de Tunico dos Telhados

patrícia Souza

Descendo a Rua Bernardo Vasconcelos, logo ali na primeira esquina do Bairro Antônio Dias, estava ele, com os seus drea-dlocks grisalhos, arrumando suas obras na parede de pedra. Arte por entre a névoa que encobria Ouro Preto. O som do jazz vin-do do interior da loja envolve o ambiente das telas expostas à sinuosa rua, onde de esquina a esquina encontra-se artesanato e anjinhos barrocos. Um charme. O encanto é maior quando se olha para os quadros de Tunico de frente para a paisagem que o inspira: os telhados.

Nascido em Ouro Preto, An-tônio Marcos de Paula, o “Tu-nico”, filho de pintor e músico amador, considera-se privilegiado por cultivar suas raízes na sua cidade natal, que é inspiração de sua arte. Na infância, admirava obras do artista plástico Alber-to da Veiga Guignard e pintava com outros pintores, que saíam de seus ateliês para levar a arte para as ruas. O local onde atual-mente faz suas exposições já foi uma oficina do artista Estévão, aluno de Guignard e alguém que observava enquanto criança.

Começou a pintar profissio-nalmente aos 20 anos. Dos anos

1966 a 1968, participou de ofi-cinas e exposições nos festivais de Inverno de Ouro Preto e nos cursos de arte da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). En-volvido com o movimento hippie dos anos 60, arrumou as malas e foi para São Paulo. Lá conheceu e conviveu com diversos artistas, o que para ele foi um importante aprendizado. Vinte anos depois, retornou às suas raízes, Ouro Preto. A cidade, então já elei-ta Patrimônio Cultural da Huma-nidade, tornou-se ponto de refe-rência para todos que trabalham com arte. Neste período, Tunico revoluciona seu trabalho ao uti-lizar a técnica do pontilhismo, criada pelo impressionista Geor-ges Seurat, em meados do Sécu-lo XIX, numa abordagem moder-na da arte contemporânea.

Ele sempre retratou a cida-de de Ouro Preto de uma forma tradicional e autoral, até mesmo quando residiu em São Paulo. Mostrou sua arte nas ruas, deu aulas de pintura e participou de muitas exposições e feiras reno-madas em São Paulo, além de expor no Chile e no Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto. Ele já vendeu quadros para o mun-do inteiro.

Por que telhados? Ao passear

por livrarias à procura de livros de poesias, Tunico encontra o “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meirelles, cuja capa possui uma foto de telhados de sua cidade natal, o que fez tocar a sensibilidade do artista. E, as-sim, inspirado, colocou em tela seu olhar através da imagem que vê do topo das ladeiras ouropre-tanas, os telhados coloridos além

Page 12: Jornal Lampião - 8ª Edição

12Edição: Isadora Faria e Rafa Buscacio

Arte: Rafa Buscacio

Fevereiro de 2013

Da lembrança e do esquecimentoDIáRIo DE BoRDo

AnA CArolinA Meirelles

Sente que sua viagem não terá propriamente um retorno, sua ex-ploração ficará sempre inconclu-sa. Sempre à beira do vazio, a memória é o absoluto das ima-gens foscas, nítidas e enganosas. O perfume suave que liberta, o passo distraído que constrói o prosaico. A lembrança é um par-to contínuo, é o íntimo do es-quecimento. A reconstrução do que não existe mais. As raízes já nas profundezas das impres-sões, e a verdade então na su-perfície do real. Memória e his-tória que nascem e morrem sem se conhecerem.

Mariana, 19 de janeiro de 2013. O destino desconheci-do desassossega o olhar solitá-rio do viajante. A paisagem co-lonial contrasta a luz cinzenta de um sábado que anuncia a che-gada de uma forte chuva de ve-rão. São 14h20 quando estaciona a espreita, o ônibus que segui-ria em direção à Vargem. Sobem então colchão, vassoura, pesso-as, bebê, malas e uma bicicleta. Ali todos se conhecem. O mo-torista é o Senhor João, um ho-mem simpático que recolhe cor-dialmente os R$10 da passagem. “Sr João, você é muito merce-nário”, e ele dá um sorriso tími-do para a menina. O Samuel do banco de trás diz que são cerca de 2h30 até o lugar. Obrigada,

Samuel. Um sus-to, 2h30, em 35 Km! Segue via-gem. Sobressalta o verde tropical e a cor de ter-ra úmida na es-trada estreita que atravessa a Serra do Itacolomy. E o que há de mais bonito é o mo-vimento sorratei-ro do olhar, que se vê envolto de uma imensidão de Minas Gerais a pulsar bem de-baixo das curva-turas da estrada... A mata vai dimi-nuindo e os cam-pos vão tomando conta do lugar.

A Capela da Vargem é logo ali naquelas colinas. Bem próxi-mo, a Fazenda da Serra do Ita-colomy, onde nasceu o inconfi-dente Cláudio Manoel da Costa. Se a Capela era ali, então aque-las terras eram o desconheci-do buscado. Se o arraial não era ali, então ele simplesmen-te não estaria em outro lugar. Desassossego. Descoberta imi-nente de que o subdistrito de Vargem estava dentro das pro-priedades privadas que ficavam

longe uma da outra. Não haveria espaço público? Mas existia uma escola grande com cerca de 220 crianças... Onde é que esse povo se esconde? No entanto, era só até ali que se tinha chegado. As pessoas já desciam do ôni-bus enquanto o não lugar apare-cia sempre mais visível à medi-da que a estrada ia.

A venda D’ Dorinha, final-mente. Parada. O acampamento já ficou no passado. O que exis-te, a partir dali, é a hospitalidade mineira. Como parentes de lon-

ge, que chegam a nossa casa, às vezes, sem pedir licença, chega-mos na casa do Fábio e da Ales-sandra com a parafernália toda, assustando as crianças com as lentes objetivas gigantes, que por ora, apenas capturavam as gali-nhas carijós do quintal.

Ângela Maria Marquês e Araújo, professora interdiscipli-nar da Escola Municipal da Ser-ra do Carmo, a terceira pessoa que mais gostaria de saber so-bre a investigação da “hipóte-se dos remanescentes quilombo-

las” naquele lugar; mulher sagaz e de risada sincera. O estrangei-ro aprendera a falar a língua do imperador, ou o imperador a en-tender a língua do estrangeiro. Antes de entrar em casa, o chi-nelo sempre na porta. Mas a vi-sita não precisa, “tira não, meni-na”. De qualquer maneira, andar descalço era melhor.

Da prosa no final da tar-de, o lugar ia aparecendo. Ali era Pombal, pra cima era Serra do Carmo, antigamente chamada de Serra dos Pretos, que bifur-ca com a Serra Tiodório, a anti-ga Serra dos Brancos. Na reali-dade, Vargem do Itacolomy fica perto da Capela. Mas antes tem o Engenho. “É como se fossem, bairros”, diz a Ângela. E foi as-sim que tomou forma o mapa da Vargem, que a partir de ago-ra será Serra do Carmo. Pra de-pois da Serra tem o Arraial de Bacalhau e do outro lado dela, Santo Antônio do Salto. Das tra-dições religiosas ainda comemo-ram a Festa de Santo Antônio, do Rosário e a de São Vicen-te. E a memória, Ângela? O que este povo conta sobre sua ori-gem? Aqui já foi quilombo? Ân-gela ficou instigada e passamos a noite, na venda, formulando hipóteses que explicassem o por-quê de tantas evidências e tão pouca investigação.

19 de janeiro - O destino desconhecido desassossega o olhar solitário do viajante

20 de janeiro - O lodo de um verde incrível floreia todo o chão

A Capela de Nossa Senhora da Conceição, de perto, é mais poética. Os portões enferrujados trancam a divina recordação da pia batismal do Século XVIII. Nela, foi batizado Cláudio Ma-noel da Costa, em 29 de ju-nho de 1729, dois anos antes da construção da igrejinha. Des-ta história, todo o povo dali se lembra. Os registros ainda estão na capela... O culto chega ao fi-nal e o pessoal vai indo embora,

mas no adro da Capela a pro-sa segue. Levando a gente pelo olhar curioso, e o olhar do outro que leva a gente pra dentro da gente. Aniversário de cinco anos da Isabela, filha da Ângela e do José Geraldo. “Fica todo mundo na frente da Igreja”. Essa foto é para posterioridade. A lente grande angular registra um mo-mento bonito, o viajante solitá-rio não era tão solitário assim.

Serra do Carmo, 21 de janei-ro de 2013. O fim da socieda-de memória. A certeza de que a história precisa ser registrada. Passamos de casa em casa, per-guntando a origem da família das pessoas. Você é daqui? Seus pais são daqui? Seus avós são daqui? Todas as respostas foram sim. Mas, quando? Como? Algu-ma história pra contar? “Eu não alembro mais”, “Meu pai picava lenha para fazer carvão”, “Vou fazer um café”, “Eles foram nas-cidos todos aqui”, “Sempre fo-ram daqui”... “Trabalhavam na roça”.

O que define o povo da Var-gem? “O povo aqui é muito aco-lhedor”. Maria Pedra do Carmo e Maria Inês do Carmo ainda fa-zem a trezena de Santo Antônio. Na casa delas, bem no final do vilarejo da Serra do Carmo, elas cantam em um português, com resquícios do latim, uma reza que dura aproximadamente 40 minutos. Mas apenas dois minu-tos foram suficientes para encher os olhos d’água. Que coisa bo-nita! A grande angular focava os olhos de Dona Maria Pedra, uma senhora com um olhar lacrimo-so, de uma simplicidade que faz

arder o coração. Não queríamos sair dali. Já

tínhamos abandonado os papéis, as perguntas. Sentávamos na co-zinha das casas em que éramos recebidas como visitas rotineiras. Às vezes, o silêncio era a me-lhor linguagem, ele fazia mais sentido. O olhar corria pelos fo-gões de lenha, pela terra batida, pelas crianças que nos seguiam de soslaio sempre à espera de serem fotografadas.

A próxima visita é na casa de Dona Maria Antônia, a benzedei-ra, e da sua irmã, Maria Efigê-nia. Sentamos na cozinha, final de tarde, segunda-feira. O tempo inconsumível, sempre o melhor alimento. Fizemos as benzas, a Benza do Sol que cura dor de cabeça e Benza da Brasa que é contra mau olhado. O ritual é simples, um copo de água e um copo com as brasas. Se a água ferver no sol as dores cessam, se a brasa emergir no copo, o mau olhado é jogado no vento. Não se pode chegar perto da fumaça, tem que a deixar ir pela janela...

Todos os caminhos nos le-varam à casa do falecido Ores-tes de Souza Maia, o homem mais letrado de quem se tem

notícia ter morado no Pombal. Dona Conceição Orestes, a se-nhora de 95 anos abre-nos as portas de sua casa. Vai ao espe-lho e penteia, como uma moça de 20 anos, os seus cabelos brancos. Sensibilidade e simpa-tia que impressionam do primei-ro ao último olhar. A saudade de Senhor Orestes é latente, ela abre a canastra com os seus li-vros de prosa e poesia; versos perdidos... “A Vargem foi divi-dida entre os herdeiros, assim formando muitas fazendas; quem tinha mais dinheiro comprava dos que tinham pouca renda". Mas, como as pessoas de pouca renda tinham terras? A memória não alcança. Versos históricos... “Pombal cresceu pela união de seu povo, construindo uma sim-ples capela, agora com o projeto Brasil novo, ganhou belo prédio para escola”. E assim se esvai a viagem por entre as memórias de canastra do Senhor Orestes e pela vontade de abraçar forte a Dona Conceição.

“Por que é triste o olhar do verdadeiro viajante? Como ninguém, ele sabe que ‘o mun-do começou sem ele e acabará sem ele’”. (Lévi Strauss)

21 de janeiro - A baleia é mais segura que um grande navio

"Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal..." (Milton Nascimento)AnA CArolinA Meirelles

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Dona Maria Antônia, o pensamento longevo que a memória não alcança

A simplicidade das casas de pau-a-pique nas terras batidas de Serra do Carmo