Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter ... · Zero, de número 15, o autor da...

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter Ano III Número 16 Curitiba, novembro de 2011 MARCO ZERO Mais que uma tatuagem A arte de tatuar o corpo vai muito além de um simples desenho. Cada tatuagem tem sua própria história para contar. ( p. 9) Os olhos de vidro de João Urban Conheça um pouco mais sobre este ícone da fotografia paranaense. (p. 3) Qual o futuro do jornal impresso? Será que o jornalismo impresso está com seus dias contados ou ainda há espaço para este tipo de veículo de comunicação em meio aos avanços tecnológicos? (p. 6 e 7) Arquivo pessoal Raphael Fioravanti

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Curitiba, novembro de 2011 MARCO ZERO 1

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano III • Número 16 • Curitiba, novembro de 2011

MARCO ZEROMais que uma tatuagem

A arte de tatuar o corpo vai muito além de um simples desenho. Cada tatuagem tem sua própria história para contar. (p. 9)

Os olhos de vidro de João UrbanConheça um pouco mais sobre este ícone da fotografia paranaense. (p. 3)

Qual o futuro do jornal impresso?Será que o jornalismo impresso está com seus dias contados ou ainda há espaço para este tipo de veículo de comunicação em meio aos avanços tecnológicos? (p. 6 e 7)

Arquivo pessoal

Raphael Fioravanti

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20112

Ao leitorEDITORIAL

Expediente

ARTIGO

O jornal Marco Zero é umapublicação feita pelos alunos doCurso de Jornalismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter)

* Melhor jornal-laboratório do Paranáem 2010: primeiro lugar no Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná

Coordenador docurso de Jornalismo:Tomás Barreiros

Professores responsáveis:Roberto NicolatoTomás Barreiros

Diagramação:André Halmata (7º período)

Facinter: Rua do Rosário, 147CEP 80010-110 • Curitiba-PRE-mail: [email protected] Telefones: 2102-7953 e 2102-7954.

Boca no trombone!

Esta edição do Jornal Marco Zero aborda o contraste entre quantidade e qualidade nas instituições de ensino su-perior no país, cujo número que teve um significativo aumento na última década. Veja ainda um pouco da história do experiente fotógrafo João Urbam, que já registrou momentos históricos, como na épo-ca da ditadura, e fez também fotos publici-tárias. Atualmente, é fotografo documental. Ele fala também sobre o período de roman-tismo que marcou época com a Cinelândia Curitiba. Você vai conhecer as constantes reclamações quanto à TV a cabo, desde queixas sobre serviços a cobranças indevi-das. E que um novo projeto aprovado pela presidente Dilma Roussef define cotas de produção nacional para as emissoras de TV pagas. Há também uma reportagem es-pecial sobre o futuro do jornal impresso e um pouco do cotidiano de 11 angolanos cegos que vivem, cantam e estudam juntos em Curitiba há dez anos. E para quem gosta de tatuagens, uma matéria sobre a arte milenar de marcar o corpo, rein-ventada ao longo do tempo. Tão antiga quanto misteriosa, a tatuagem continua a fascinar gerações pelo mundo e tornou-se uma forma de expressão artística e cultu-ral do homem moderno. Boa leitura!

Cláudia HeinO Censo da Educação Supe-rior de 2010 revelou que, no Brasil, existem 6.379.299

pessoas matriculadas no Ensino Su-perior, tanto na rede pública quanto na rede privada. Esse número corres-ponde a um crescimento de 110% do total de universitários se comparado aos dados de 2001. Os números coletados tam-bém revelam que alunos matricula-dos em universi-dades particulares correspondem a 74,2% do núme-ro total de estu-dantes, enquanto 25,7% consegui-ram uma chance de graduação em universidades pú-blicas, sejam elas federais, estaduais ou municipais. É interessante ressaltar a su-perlotação do mercado de trabalho atual e questionar a qualidade do en-sino oferecido pelas universidades criadas nesse intervalo de dez anos. Outro ponto relevante é que, apesar de o número de universitários ter aumentado, o número de graduados sem emprego também cresceu con-sideravelmente. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, existem atu-almente, no Brasil, 56,4 mil desem-pregados que pos-suem diploma do Ensino Superior. Além disso, não é difícil achar alguém que se formou em uma faculdade e que, no desespero para encontrar um trabalho, candida-ta-se a uma vaga de emprego que não exige tal qualificação. A avaliação aplicada pelo Conselho Regional de Medicina do estado de São Paulo em outubro de 2011 reprovou 46% dos formandos em Medicina. No mesmo caminho,

Quantidadesem qualidadeLarissa Corumbá está a prova da OAB (Ordem dos

Advogados do Brasil), o Exame de Ordem, que garante o exercício da profissão de advogado para forma-dos em Direito. Em 2011, o exame alcançou o menor índice de aprova-ção da história: somente 10% dos inscritos de todo o Brasil foram aprovados. Deve-se comemorar o au-mento do número de instituições públicas de ensino superior criadas nos últimos dez anos, ou seria me-

lhor pôr em xe-que a qualidade do que está sendo construído com o dinheiro público? Se entrar em pau-ta a alegação de que os impostos e taxas estão sendo usados em prol

da educação, por que rejeitar a qua-lidade do que se está sendo feito? Por que se contentar com menos? Resta instigar a população a ficar atenta para a qualidade do que se está sendo produzido no país. Faculdades que não formam bons profissionais devem ser descartadas do panorama educacional brasilei-ro, pois os alunos estão terminando sua graduação sem preparação ne-nhuma para enfrentar um possível mercado de trabalho ou para serem capazes de exercer sua profissão de

maneira compe-tente e eficaz. Quem assu-mirá o controle do país nos próxi-mos anos serão os jovens formados agora. E, desde já, muitos deles não vêm mostrando bom desempenho. Isso revela uma

situação alarmante para a educa-ção brasileira. Enquanto o número de alunos matriculados no Ensino Superior não vier acompanhado de qualidade em mesma proporção, de nada adiantará comemorar 110% de crescimento.

De pior, os trombadinhas e os pedintes; e de melhor,o comércio, que tem muitas lojas que agora no final ano ficam abertas até mais tarde, o que é muito bom.

Marli Fagundes, 36 anos,operadora de caixa

Acho que o que tem de pior é a polícia e a falta de segurança, e melhor é a limpeza do centro da cidade.Luiz Carlos de Souza, 60 anos, serralheiro

De melhor, é o monitoramento. Depois que foram colocadas as câmeras de vídeo, a bandidagem acalmou um pouco. E de pior são os moradores de rua.

Maria Reis, 49 anos, pipoqueira

De melhor, a abrangência cultural, com museus, espaços de dança e escolas como as da Fundação Cultural, além das praças arborizadas. De ruim, as calçadas.

Juliana Moraes, 25 anos, estudante

O que o centro de Curitiba tem de melhor e de pior?

Resta instigar a população a ficar atenta para a quali-dade do que se está sendo

produzido no país. Faculda-des que não formam bons profissionais devem ser

descartadas do panorama educacional brasileiro

ERRATA - Na edição anterior do Marco Zero, de número 15, o autor da resenha A fabulosa expressidade de “Planeta dos Macacos”, publicada na página 11, é, na verdade, o estudante André Vinícius Be-zerra e não Gabriel Eloi de Marchi, como divulgado.

Alunos matriculados em universidades particulares correspondem a 74,2% do

número total de estudantes, enquanto 25,7% conseguiram uma chance de graduação em

universidades públicas

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PERFIL

Os olhos de vidro de João Urban

Em sua primeira experiência com câmeras fotográficas, o equipamento quebrou. Seu

único intuito para com a fotogra-fia era o de, simplesmente, registrar suas viagens. Daí em diante, os 40 anos de experiência fotográfica de João Urban estão nas poucas linhas que seguem, mostrando sua trajetó-ria. Tudo na companhia de sua fiel amiga, a cachorrinha Pépe. A foto-grafia documen-tal se tornou pai-xão após anos de dedicação e em-penho em sanar as curiosidades sobre o mundo das imagens. No tempo em que a fotografia era feita em películas, era necessário muito conhecimento para saber manusear um equipamento. Porém, foi na década de 70 que o renomado fotógrafo passou a se dedicar pouco a pouco às co-berturas durante a ditadura militar. Seu trabalho era simples: registrar os momentos de resistência e arre-

“As grandes histórias serão contadas por quem tem o exercício da fotografia”

Hamilton Zambiancki cadar fundos para os esquerdistas. “Como eu tinha uma noção boa sobre fotografia, eles me convida-ram para fazer a cobertura de ações contra o militarismo”. Foi a partir de então que Urban passou a pen-sar: “Isso dá dinheiro. Quem sabe posso viver disso”. A razão para associar esse ramo da comunicação à vida pro-fissional veio depois de ser demiti-do do já extinto banco Bamerindus, por ter participado de uma greve. Começou, então, a dedicação ao la-

boratório de fo-tografias. Apesar de atuar no ramo d o c u m e n t a l , seus primeiros trabalhos foram fotos publicitá-rias. A grande surpresa foi que

seu primeiro cliente era o mesmo banco que há algum tempo antes o havia demitido. Embora hoje não atue na publicidade, Urban pode afirmar que essa habilitação da comunicação foi a principal ferra-menta para que hoje se tornasse um ícone da fotografia documental. Ao falar sobre o seu ingres-

so nas lutas de resistência ao regi-me militar e o que inúmeros fotó-grafos fazem atualmente, Urban diz com convicção: “Hoje não tem nem comparação com o tempo da década de 70, da ditadura”. Com os anos de experiência, o fotógrafo, que comemorou em 2011 68 anos de idade, afirma que a chegada da fotografia digital de-mocratizou o setor. “Acabou aquela preparação forte sobre a fotografia para se tornar um fotógrafo. Mas é fato que para se tornar profissional é necessário muita dedicação e es-tudo. É o mesmo que dizer que nin-guém vira escritor graças ao Word”, exemplifica. Para João Urban, ser um fo-tógrafo documental é ser um con-tador de histórias do cotidiano, registrando em imagens a vida de pessoas simples ou famosas. Mas, para isso, é necessário ter o bom olhar que faz toda a dife-rença. É necessário olhar com ou-tros olhos: as lentes, no caso. “As grandes histórias serão contadas por quem tem um exercício da fo-tografia”, defende. Para conhecer os trabalhos do artista, basta acessar www.joao urban.com.br.

“É fato que para se tornar profissional é necessária muita dedicação e estudo. É o mesmo que dizer que

ninguém vira escritor graças ao Word”

• Bóias-Frias, “Tageluhner in Suden Brazilien”, Edition Diá, St. Gallen e Wupertal, 1984.

• Bóias-Frias, Vista Parcial, Edition Dia e Fundação Cultural de Curitiba, 1988.

• Tropeiros, Editoração Publicações e Comunicações, São Paulo, 1992.

• Aparecidas (João Urban e Suzana Barretto), Tempo d´Imagem, Rio de Janeiro, 2002.

• Tui i Tam - Memórias da Imigração Polonesa, Edições Mirabilia, Curitiba, 2004.

• João Urban, Coleção Senac de Fo-tografia, N° 8, São Paulo, 2005.

• Rios por Onde Passo – Mater Na-tura, Instituto de Estudos Ambientais, Curitiba, 2007.

• Mar e Mata – A serra, a floresta e a baía, seus homens e suas mulheres, Edições Água Forte, Curitiba 2009.

Livros publicados

Para o fotógrafo João Urban, ser um fotógrafo documental é ser um contador de histórias do cotidiano, registrando em imagens a vida das pessoas simples ou famosas

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20114

Em 27 de agosto de 1897, foi inaugurada a primeira sala de cinema em Curitiba. Para

muitos, o cinema se tornou naquela época um sinônimo de diversão e um motivo para estar com os amigos ou para flertar. O aposentado Luiz Can-to, de 74 anos, cheio de nostalgia, lembra-se da primeira vez em que foi ao cinema, vindo de São Paulo para Curitiba, em 1950. Ele conta que assistia a todos os filmes e que suas salas preferidas eram o Cine Luz e o Cine Ritz. “Tar-zan Contra o Mundo”, para ele, foi o filme que mais marcou na época, isso no ano de 1940, quando a guerra ainda era muito presente. A Cinelândia era ponto de encontro dos curitibanos nas tardes de domingo. Meninos ficavam para-dos na frente dos cinemas esperan-do vender ou trocar os seus gibis por ingressos para verem seus filmes fa-voritos, realidade bem diferente dos dias de hoje. Os cinemas de rua também formaram muitos casais, pois na-quela época esse era um dos meios de se encontrarem. A aposentada Ju-dite da Cruz, de 70 anos, conta sua história de amor. “Era primavera, me lembro até hoje. A Cinelândia já estava à toda, e eu na verdade não era muito de frequentar as salas de

cinema. Mas um dia uma amiga me convidou e aceitei o convite. Quan-do me deparei com aquele lugar, com as pessoas, em um primeiro momento me encantei, e assim co-mecei a frequentá-lo. Ali conheci meu esposo, já falecido. Apaixonei-me por ele à primeira vista, foi algo tão forte! De início, namorávamos pelo olhar. Como se sabe, naquela época, os namoros eram muito di-ferentes de hoje. Até que um dia ele resolveu falar comigo. Assim, come-çamos a namorar com a permissão do meu pai, e tivemos três filhos. E digo que fui muito feliz. Agradeço minha querida amiga, pois graças a ela fui feliz por muitos anos.” Havia várias salas. A tam-bém aposentada Elizabete Fetzer, de 79 anos, diz que o cinema que mais a marcou foi o Cine Ópera, e seus olhos brilham ao falar dele. Lá, ela conheceu uma amiga, Alda Baptis-ta, com a qual manteve contato até pouco tempo atrás, quando a amiga faleceu. “Eu conheci Alda na entrada do cinema. Estávamos esperando um filme começar, não lembro bem qual, e ela se aproximou de mim e pergun-tou se eu sabia”. A partir desse dia, as duas continuaram conversando todas as semanas. Alda tinha chegado a Curi-tiba havia pouco tempo. Elizabete fez questão de lhe mostrar a cida-de. “Adoro fazer novas amizades até hoje!”, exclama.

O cinema se tornou símbolo de modernidade, glamour e também teve o poder de influenciar a socieda-de em seus costumes. Em Curitiba, as salas de cinema foram criadas tam-bém para isso. Ao todo, eram sete, e, uma a uma, todas foram fechando até restar o Cine Plaza que, por decreto da Câmara, foi vendido em 2007. O local hoje conhecido por “Boca Maldita” perdeu boa parte de seu encanto e romantismo. Ele foi o palco de várias salas de cinemas e de muito glamour. O gosto pelo cinema era tanto que os jovens “enforcavam” aula para irem ao Cine Curitiba. O Cine Luz, na época, era mais especializado

Nostalgia cinematográficaA Cinelândia curitibana marcou uma época em que o centro da cidade tinha outra característica, o romantismo.

Juliani FlyssakSuzelly Ribaski

TRILHAS DO TEMPO

em apresentar filmes mexicanos, com destaque pela beleza dos cenários, dos trajes usados pelos artistas e pe-las músicas. Conta-se que, sempre que chovia forte em Curitiba, a Praça Zacarias alagava, e para sair do local era preciso esperar a enchente baixar ou enfrentar a água. O aposentado Loreno Stueh-ler, de 80 anos, afirma que “os cine-mas de hoje não são nada se compa-rados com aos daquele tempo”. Diz que se lembra de ir ao Cine Palácio e ver aquela confusão de pessoas e carros. “Eu amava aquilo! Os de hoje não impressionam. Parece que falta beleza”.

O Cine Ópera levou multidões ao cinema e era um dos principais pontos de encontro de Curitiba Cartazes dos filmes de Tarzan com o célebre ator Johnny Weissmuller

O Cine Avenida em 1929

Divulgação

Divulgação Divulgação

Boca Maldita concentrava salas

Curitiba, novembro de 2011 MARCO ZERO 5

Tv a cabo lidera reclamaçõesAs queixas dos usuários quanto aos serviços de televisão por assinatura emCuritiba são crescentes e vão de problemas com o sinal até cobranças indevidas

Pior que não ter os serviços como desejados é reclamá-los e não receber uma resposta sa-

tisfatória. O Serviço de Atendimento ao Consumir (SAC) de várias empre-sas de telecomunicações desagrada cada vez mais os consumidores. O site Reclame aqui – órgão que faz intermediação entre as reclamações dos consumidores e as empresas – vem registrando um número alarmante no que diz respeito às queixas contra as empresas de TV por assinatura. Um exemplo típico é a Telefônica (Spee-dy TV), que teve 12.552 reclamações nos últimos 12 meses, e está no sexto lugar no ranking das empresas cujo serviço é mal prestado, considerando-se o número de reclamações dos usu-ários. A Net está em sétimo lugar com 11.556 queias, a Oi telefonia – Velox em nono, com 11.261, e a Sky na déci-ma posição, com 8.173 queixas. O grande conflito é o mau atendimento. Os serviços de ajuda ao consumidor de algumas dessas em-presas vêm fugindo de uma norma há pouco tempo incluída no Código de Defesa do Consumidor, segundo a qual o cliente não pode esperar mis de um minuto para ser atendido. Mas não é o que acontece. A autônoma Maria José Alves, de 49 anos, disse já ter es-perado por mais de meia hora para co-municar-se com uma empresa de TV a cabo da qual é cliente. Maria afirma também que em algumas ocasiões a ligação caiu: “Várias vezes, eu esperei por muito tempo e, quando consegui contato, logo fui transferida, e a liga-

ção caiu. Assim, eu desisti”, comenta. A autônoma também já teve problemas com promoções confusas e mal explicadas. Ela conta que, cer-ta vez, foi contatada para mudar para um plano cujo número de canais era maior, com preço atrativo. Porém, quando recebeu a fatura, se assustou com o valor. Maria alega que o valor cobrado não era o informado na pro-moção. Ela também já teve problemas com faturas confusas e letras miúdas. “Não entendia o que eu havia gasta-do”, queixa-se. Há quase dois anos, a Net, maior operadora de TV a cabo do país, alterou o gráfico de suas fatu-ras como forma de tentar amenizar a má visualização do que os seus consu-midores gastaram ou não. Outro problema é a queda constante de sinal, principalmente em dias chuvosos, como relata o assinante Roberto Filho, que mora em Curitiba e tem 18 anos: “É só começar a cho-ver um pouco mais forte que a TV sai do ar e às vezes demora mais de uma hora para voltar ao normal”. Conforme orienta a Procon, antes de o consumidor interessando em ter tais serviços assinar um contra-to, é prudente consultar órgãos de re-clamação para orientar-se sobre como anda a satisfação daqueles quem têm o serviço. Além disso, a Procon infor-ma que empresas de TV a cabo são obrigadas a disponibilizarem telefone gratuito para reclamações, disponível 24 horas, todos os dias da semana. E devem informar previamente qualquer valor novo instituído pela empresa.

SERVIÇOhttp://www.procon.pr.gov.br/http://www.anatel.gov.br

Allyson DolengaIan perussolo

Projeto prevê cotas de produção nacional nas redes privadas

A presidente da República, Dilma Roussef, aprovou no começo de setembro um projeto que define cotas de produção nacional para as emissoras de TV por assinatura. A lei, que define horários específicos para exibição desses programas nas emis-soras, divide opiniões. A lei (PLC 116) define cotas para a exibição de produções nacio-nais. Em tese, as emissoras deveriam exibir durante três horas por semana, em horário nobre, produtos de entre-tenimento inteiramente produzidos no país. Além disso, uma hora e 45 mi-nutos desse tempo seriam ocupados por programas feitos por produtoras independentes. O projeto, porém, vem causando discussões calorosas. Para os donos de emissoras independentes, a lei é um bom co-meço, uma vez que os investimentos para tais produções cresceriam e, consequentemente, a visibilidade e a concorrência seriam maiores. Existe também o saldo positivo de que, com

o investimento maior e a competição do mercado, os serviços de telecomu-nicação em geral (TV a cabo, banda larga e telefonia) seriam barateados, e tais preços reduzidos seriam repassa-dos para o consumidor final. Também, seria o fim do monopólio de empresas do segmento. A discussão que predomina, porém, sobre o assunto é quanto à escolha daquilo que o telespectador quer assistir. Para a corrente contrária ao projeto, sua aplicação efetiva em-perraria e limitaria a escolha, além de os usuários se sentirem “obrigados” a assistirem tais produções. A universitária Suhellen dos Santos, que usa serviços de TV por assinatura, discorda do projeto. “Já existem canais inteiramente específi-cos para a produção brasileira, acho a lei desnecessária”, destaca. Para ela, a lei alteraria ainda a grade das emissoras, que geralmente as mon-tam conforme os horários de quem as-siste. “Mudaria a programação inteira, deixando os programas aos quais já somos habituados em horários ina-cessíveis”, afirma Suhellen.

Allyson Dolenga

CONSUMIDOR

Allyson Dolenga

A universitária Suhellen diz ser contra a lei: “Já existem canais próprios”.

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20116ESPECIAL

O futuro do jornal impressoPesquisadores discutem: daqui a 20 anos, ainda sobreviverá esse veículo de comunicação?

Entre os diversos problemas que envolvem os meios de comunicação impressos, mui-

tos analistas e pesquisadores têm sus-tentado que os jornais logo deixarão de circular de mão em mão, passando a ser publicados apenas on-line. Será mesmo possível que o jornal impresso deixará de existir? Será que o primeiro veículo de notícias de massa do mun-do vai desparecer? No turbilhão dessa discussão, observa-se o crescimento de um setor diferente da mídia im-pressa, que não tem custo para o lei-tor. São os jornais de bairro, que vem ganhando espaço junto aos leitores, principalmente os que se interessam diretamente por assuntos relaciona-dos à sua comunidade. Será que eles também serão engolido pela crise que afeta alguns grandes jornais? O radialista e jornalista Ednei Linhares, de 39 anos, da Rádio Mas-sa FM, de Londrina, diz acreditar na possibilidade de os jornais impresso chegarem ao fim, mas que isso ainda vai demorar uns dez anos ou mais. Para ele, se não houver alguma ino-vação, o tempo pode até se encurtar. Ele afirma que é preciso haver uma reformulação na mídia impressa. Li-nhares conta que, em sua cidade, um jornal inovou em suas publicações. Os textos, antes longos e detalhados, passaram a ser mais objetivos, além de abrirem um espaço enorme para a in-teração com o leitor. Isso, de acordo com o radialista, fez o jornal assumir a liderança entre o público leitor da re-gião. Ele reconhece os jornais co-munitários como ótimas opções, que podem fazer grande trabalho de co-municação em prol da sociedade. Acrescenta que devem ser olhados de maneira peculiar e com muita atenção, pois facilitam a divulgação do comér-cio local. “Recentemente, alguns gran-des migraram para versões on-line. En-tendo como uma tendência, fica bem mais fácil a consulta nesse suporte”. Já o jornalista Rafael Ramos, de 25 anos, da revista Show da Fé, do Rio de Janeiro, diz não acreditar no

Marcio Nonato Rodrigues

fim do jornalismo impresso. “É a mes-ma coisa que falaram do rádio quando a TV surgiu. Creio que todas as mídias vão partir para a convergência. Além do mais, o impresso ainda tem um pú-blico fiel. Alguns da geração chamada baby boomers ainda não se adaptaram a essa modernidade, e muitos da nova geração, como eu, por exemplo, ain-da gostam de ter o prazer de folhe-ar um bom e em-poeirado jornal.” Para ele, apesar da evolução tecnoló-gica pela qual as mídias passam em uma velocidade assustadora, não é necessário pensar em uma vertente apocalíptica de que os mass-media sucumbirão. A internet é o grande veículo onde texto, áudio, vídeo e imagem se encontram. Sobre a influência dos jornais de bairro no meio informativo im-

presso, o jornalista diz acreditar que “os jornais de bairro possam ser de grande ajuda nesse meio. Afinal, é a chance de mobilizar a comunidade e fazê-la conhecedora de si mesma.” Ele não acredita, entretanto, que os jornais de bairro sozinhos possam dar conta do grande nincho informativo

e publicitário que o meio impresso oferece. Afirma que há uma gran-de diferença de estrutura entre os jornais tradicionais de grande porte em relaçao aos de bairro. O jornalista

Wanderley Vieira, de 47 anos, funda-dor e diretor do jornal Amigos do Bair-ro, veículo que atende a região sul de Curitiba, é enfático ao discordar das declarações de que todos os jornais deixarão de ser impressos e passarão a ser on-line. Ele usa o exemplo do jor-

nal Metro, que agora é distribuído em Curitiba. Em sua opinião, “o que vai mudar é a forma de distribuição dos jornais comerciais, que poderão ser distribuídos gratuitamente”. Vieira diz haver diferenças entre os jornais de bairro e os gran-des jornais. Para ele, a população tem o acesso mais facilitado aos “jornais bairristas” por serem gratuitos e es-tarem disponíveis em vários pontos comerciais e públicos. E o anunciante, consequentemente, tem mais visibili-dade, pagando muito menos para ter sua mercadoria exposta. “Isso tudo facilita muito a sobrevivência dos jor-nais de bairro, pois quem paga para ele circular são os anunciantes. Dessa for-ma, dispensamos gastos do leitor, que recebe a informação de seu bairro, e os anúncios que possam interessá-lo também estão ali. Tudo isso traz mais facilidade para a sobrevivência do jor-nal, pois o jornal valoriza o bairro, e o bairro valoriza o jornal”, destaca. Vieira enfatiza que “nem todos os jor-

“o que vai mudar é a forma de distribuição dos jornais comerciais, que

poderão ser distribuídos gratuitamente.”

Wanderley Vieira, diretor do jornal Amigos do Bairro

Cláudia Bilobran

Muitos especialistas acreditam na sobrevivência do jornal impresso, mas afirmam que o veículo terá de se adaptar aos novos tempos

Curitiba, novembro de 2011 MARCO ZERO 7ESPECIAL

nais de bairro trabalham com notícias de gaveta”. Afirma que várias solicita-ções e matérias publicadas pelo jornal Amigos do Bairro trouxeram melhorias para a comunidade do Sítio Cercado. Como exemplo, cita as promessas da prefeitura de construção de rotatórias no cruzamento das ruas Tijucas do Sul, Lupionópolis e Nova Esperança. A reivindicação foi feita diretamente pelo jornal, em apoio à comunidade, depois de muitos acidentes e atropela-mentos no local. Veira diz também que ha um diferencial dos jornais de bairro para os “comerciais”, pois os de bairro vi-vem diretamente ligados à sociedade e conhecem as necessidades da comu-nidade, podendo prestar um serviço de assistência de qualidade aos mo-radores, coisa que muitas vezes não interessa à grande mídia. No entanto, ressalta que, se não houver uma atua-lização dos jornais de bairro em busca de melhorias na informação, investi-mentos e atualizações, e se não se ade-quarem às novas tecnologias, muitos poderão fechar as portas. Em 2006, para dar mais credi-bilidade e transparência à mídia comu-nitária, o jornalista fundou a Associa-ção dos Jornais de Bairro de Curitiba. Diz que tal associação existe para fis-calizar os jornais de bairro e fortale-cer a categoria, para assim poderem ter mais competitividade no mercado. “Hoje contamos com 22 jornais asso-ciados em toda Curitiba e alguns tam-bém da Região Metropolitana,” con-ta. Vieira explica os procedimen-tos para fazer parte da associação. O jornal precisa existir há mais de um ano, apresentar notas fiscais dos úl-timos três meses e ter um jornalista responsável. Não são cobradas men-salidades. Atualmente, a Associação funciona como uma agência de publi-

cidade: a cada anúncio fechado pela associação 20% são retidos para as despesas.

“São esses jornais quedão voz à comunidade”

A jornalista Nívea Bona, que também é professora da Faculadade Internacional de Curitiba (Facinter), afirma não poder assegurar com cla-reza se o meio impresso vai ou não encontrar seu fim, pois, segundo ela, esse é um assunto delicado. Mas acres-centa que, se não houver um reposi-cionamento, é provável que dentro de alguns anos não vejamos mais o jornal impresso como hoje. O comunicador Hildon de Souza, de 41 anos, repórter da Rádio Princesa AM, de Francisco Beltrão, e colunista do jornal Aqui Sudeste, crê que o impresso vai acabar, mas que ainda há muitas pessoas que gostam de segurar o jornal nas mãos para ler. Porém, argumenta que num futuro próximo haverá mais publicações on-line do que impressas. Já o leitor Cristiano Rodri-gues, de 29 anos, técnico de informá-tica, morador da região do Sítio Cer-cado, afirma que sempre vão existir os jornais impressos, principalmente os de bairro, pois para ele, que possui um pequeno comércio no ramo de in-formática, são viáveis as propostas de veiculação comercial nesses veículos. Ademais, além de trazerem notícias de interesse dos moradores da região, tais veículos facilitam o co-nhecimento da população sobre as ca-rências do bairro. Ele conta que, por intermédio desses jornais, é possível conscientizar e mobilizar a população para reivindicar direitos diante das autoridades municipais, tais como as exigências de saneamento básico edu-cação e saúde. “Na mídia comunitária,

o povo tem o direito de ter voz”. O corretor de imóveis Pedro Deodato, de 59 anos, diz que o jornal impresso de bairro é de grande utili-dade, pois é nessa mídia que ele expõe o seu produto de trabalho. Diz não acreditar que essa mídia deixará de ser impressa um dia, mas concorda que, com o crescimento da internet, muitos jornais migrarão para a grande rede.

Porém, acha que os jornais não deixa-ram de circular no papel. Conta que a mídia de bairro é importante para os pequenos empreendedores, pois os preços para publicação de anúncios são acessíveis. Deodato acredita que o jornal impresso sempre terá o seu público leitor fiel. Para ele, são esses veículos que traduzem melhor as ne-cessidades da comunidade.

Abertura de mentes O que, quem, quando, onde, como e por que. Seis perguntas que, ne-cessariamente, ditam as regras do bom jornalismo. É dessa forma que as matérias devem ser iniciadas, a fim de que o leitor sinta-se instigado a ler tudo desde o início. Como foi feito, literalmente, neste texto, ini-ciado com todas as perguntas do batidíssi-mo lead. Com relação a ser o jeito “certo” de começar um texto, bem, essa regra é a primeira aprendida pelos alunos de jor-nalismo. Tudo o que eles já sabem sobre começar a escrever um texto cai por terra ao ingressarem na faculdade. É tudo muito direto, muito dinâmico. Não se pode permi-tir que o leitor desista, afinal de contas. Isso é ensinado como bom jornalismo: é neces-sário prender a atenção do público desde a primeira palavra escrita ou dita, a primeira vírgula, o primeiro parágrafo, a primeira pá-gina. Sem que tal missão seja cumprida, de nada adiantou perseguir a notícia. E, para isso, o lead é a principal ferramenta. Uma vez mais, não custa lembrar: pelo menos, assim é dito nos cursos de jornalismo. Por que as coisas precisam ser assim, tão rápidas, diretas, fáceis, tão sim-ples? Qual a justificativa apresentada para o jornalista apenas transmitir a informação como se utilizasse um manual de instru-ções? É interessante conjeturar a res-peito dessa metáfora. Muitos jornais têm os famosos manuais de redação e estilo. É o jeito encontrado pelos veículos para padronizarem o trabalho dos jornalistas e situarem suas atividades na empresa. De certa forma, é também uma maneira de desumanizar o jornalismo. Não há um nariz-de-cera sequer, nenhuma abertura diferenciada, nenhuma pitada de roman-ce, nada lírico. Somente a matéria pura e seca. O lead e o “gancho”. A pirâmide invertida. Uma tecla desgastada desde os bancos universitários. A fórmula antiga que deixa o jornalismo com cara de ciên-cia exata. Nossa área é a das humanas, alguém se lembra? A isso se propõe a mágica e im-previsível vertente introduzida por Truman Capote e seu livro “A Sangue Frio”. Um romance sobre um assassinato em série. Em sua obra, o jornalista Capote usa e abusa de técnicas literárias para fazer as reportagens. Não há lead. Não há gancho.

Não existe a receitinha de bolo escrita no papel de pão. Mas há jornalismo. E há lite-ratura. Quem foi que disse que ambos não podem ser combinados? Bravo, Capote! Seus belos ver-sos mudaram o conceito jornalístico que seria passado pelos bancos universitários como o único e legítimo. São linhas que, ainda que carregadas pelo lirismo carac-terístico dos romances, não deixam de ser jornalísticas. Não nos esqueçamos de que o conteúdo de “A Sangue Frio” não é fictício. Tudo foi pesquisado e apurado. O compromisso com a verdade foi mantido. Há, supostamente, honestidade no relato. Isso é jornalismo. Não interessa se Capo-te não começou sua obra com o repetiti-vo lead. Ele não é obrigatório. Da mesma forma que a regra da pirâmide invertida seria incabível em seu livro. Como assim, começar “A Sangue Frio” com o clímax da história? Provavelmente, leitor nenhum se-guiria o livro até o final das vidas e mortes dos personagens. Capote foi o exemplo utilizado, mas há outros, como Tom Wolfe e Gay Talese, que publicavam na revista Esqui-re matérias que mais se assemelhavam a contos. Apesar de criticados, não desisti-ram de dar continuidade à caminhada do promissor New Journalism. Tanto que Ta-lese sintetizou o que era o movimento no prefácio de seu livro Aos olhos da multidão: “O New Journalism, embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser, tão verídico como a mais exata das re-portagens, embora buscando uma verda-de mais ampla que a possível, através da mera compilação de fatos comprováveis”. A onda iniciada na metade do século XX não pode parar. Que as univer-sidades adotem o New Journalism como disciplina. Não somente por uma questão histórica, tão importante para o jornalis-mo atual, mas também por bom senso. Já existe fartura do ensino da área como emoldurada, enclausurada e enquadrada dentro da regra de lead, gancho e pirâmide invertida. É preciso ampliar os horizontes. Jornalismo é uma profissão abrangente demais para ficar restrita a dogmas. Afinal, a objetividade absoluta é um mito já derru-bado por vários teóricos que se propuse-ram a pensar a Comunicação. Que a liber-dade do jornalismo literário ganhe corpo e a verdade se faça!

André Vinícius Bezerra

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 20118

Onze almas, duas nações e um mesmo idiomaConheça um pouco do cotidiano de 11 estudantes universitários angolanos cegos que vivem, cantam e estudam juntos em Curitiba há dez anos

Quatro dos angolanos radicados em Curitiba, em fotomontagem com o Parque Barigui ao fundo

Rafael Giuvanusi

Há cerca de dez anos, vin-dos de Angola, chegavam a Curitiba Wilson Madeira,

hoje com 25 anos de idade, Emília Cussama, 19, Prudêncio Tumbika, 21, e mais oito colegas, todos cegos. A cegueira tem diferentes causas: para alguns, o sarampo, no caso de Madeira, uma granada jogada em sua casa durante a guerra civil de Ango-la. Com a esperança de recuperar a visão e conquistar espaço na socie-dade angolana graças à educação, os 11 africanos conheceram a dificul-dade de enfrentar o frio curitibano e entender o que o povo daqui fa-lava. “Eu pensei que era inglês, de-pois percebi que não era isso. Então achei que fosse algum dialeto indí-gena, não dava para entender nada”, conta Madeira. Passados os anos, hoje, todos adultos, estudam em faculdades de Curitiba, em cursos como Psicologia, Direito e Jornalismo, custeados pelos governos de Angola e do Paraná. O caminho percorrido até a sala de aula é feito em ônibus e passa pelas esca-das de casa e da instituição de ensino. No caso de Emília, que sai do bairro Vista Alegre até o centro de Curitiba para cumprir suas obrigações no pri-meiro período de Jornalismo, segun-do ela, não há dificuldades. Madeira, que estuda Psicologia, relata, entre-tanto, já ter se perdido em meio à rua XV de Novembro quando ia para a faculdade, porém, não sofreu para encontrar ajuda. Segundo as tradições angola-nas, a mulher é submissa ao homem e, portanto, exerce todas as funções do lar, como cozinhar e lavar. Porém, isso não acontece na casa desses es-trangeiros, já que homens vão para a cozinha, e as mulheres ajudam a consertar mesas. As tarefas são todas divididas. “O Wilson cozinha muito bem”, relata Kellen Ribeiro, amiga dos angolanos. Tarefas de casa feitas e estudos semanais cumpridos, só lhes resta fazer duas coisas: cantar

e dormir. O grupo formado pelos 11 estudantes, nomeado Cantores de Angola, nas horas vagas, quando não está em uma apresentação, está dormindo. “Meu hobby é dormir”, relata Prudêncio Tumbika. Descobertos logo que chega-ram ao Paraná, e incentivados pelos amigos, começaram a se apresentar pela cidade em festas de conhecidos até chegarem aos eventos do governo. Apoiados pelo então governador do estado, Roberto Requião, pelo qual têm profunda amizade, os angolanos tornaram seus nomes conhecidos na cidade e, por isso, no próximo ano pretendem profissionalizar o grupo. Já que suas visões não podem ser recuperadas, outro sonho e desa-fio em suas vidas é criar uma insti-tuição de apoio aos cegos angolanos, motivo que explica os cursos univer-sitários nas mais diversas áreas do saber. Não acreditam poder voltar a enxergar e se acostumaram com essa realidade, apesar de contarem para seus familiares que ainda fazem o tratamento, pois consideram a visão como sinônimo de independência. Suas famílias estão do outro lado do oceano Atlântico e, de alguns, nem se sabe onde estão. A companhia de uns aos outros faz com que o sobrado na rua João Tschanerl se torne um lar onde vivem 11 irmãos na completa escuridão, mas que fazem questão de ter uma cortina alaranjada na janela de frente para o quintal.

O estudante de jornalismo Pru-dêncio Tumbika, de 21 anos, perdeu a visão ainda jovem, aos sete anos. Ao acordar em um hospital angolano de-pois de quatro meses em coma, devi-do a um acidente de carro, percebeu que não enxergava mais. A cegueira de Tumbika foi um fator importante para que seus pais chegassem à separação, já que isso desagradava seu pai, que gostaria de ver seu filho no exército, como ele. Hoje, o estudante não tem mais contato com o pai e também não guar-da lembranças. Cuida de sua webrádio e deixa as coisas da vida acontece-rem. “Tudo que é bom passa, tudo que é ruim se esquece”, conclui.

O filho fora do exército

Kellen Ribeiro

Apesar de um dos principais motivos por terem vindo para o Brasil ter sido o fato de contar com mais re-cursos para os estudos, alguns dos an-golanos pretendem voltar para Angola antes mesmo de concluirem o curso. Wilson Madeira, de 25 anos, estuda Psicologia, tem planos de montar um projeto de assistência aos cegos e acha que esta é a me-lhor hora para isso, pois Angola está em uma boa fase e em um momento de paz, que possibilita a inclusão e a liberdade. “Quero ajudar quem não teve a oportunidade que eu tive”, diz Madeira. Ele declara que pretende in-vestir na carreira política futuramente. Mas, enquanto nada está confirmado, os estudantes angolanos ficam no Brasil e seguem seus estudos à es-pera da volta para casa.

Os cantores de angola

Giselle Teixeira

Integrantes do grupo Cantores de Angola.

O grupo angolano que emo-cionou o ex-presidente Lula com suas canções surgiu de uma brincadeira em 2002. Proposta que deu certo, pois os garotos já se apresentaram em diver-sos lugares, fazem sucesso e encan-tam pela música e, sobretudo, pela su-peração das dificuldades enfrentadas todos os dias. É composto por Maurício (ba-teria), Ari (violino), Marcela (violão), Emília (violão), Wilson (teclado), Ja-cob (violão) e Prudêncio (contrabaixo). Os Cantores de Angola, mesmo com todos os problemas, ainda ajudam o próximo, fazendo shows beneficentes em clínicas de reabilitação e para a Secretaria de Educação. No ano que vem, o grupo pretende lançar seu se-gundo CD profissional.

A volta para casaLigia Mara

Tumbika acessa as redes sociais

Rafael Giuvanusi

Rafael Giuvanusi

Divulgação

COTIDIANO

Curitiba, novembro de 2011 MARCO ZERO 9

COMPORTAMENTO

A arte milenar de marcar o corpoReinventada ao longo do tempo, tão antiga quanto misteriosa, a tatuagem continua a fascinargerações pelo mundo e tornou-se uma forma de expressão artística e cultural do homem moderno

Atatuagem não é uma arte re-cente, mas foi reinventada várias vezes em diferentes

momentos e lugares, com variação de propósitos, técnicas e resultados. Muitos acreditam que a arte e o gosto por tatuar-se tenha sido pas-sada através do tempo. Para entender o conceito de multinascimento, al-guns críticos supõem que ela estava na bagagem das grandes migrações de grupos humanos, por isso, passou de um povo para outro. Cristiane Takaya fez sua pri-meira tatuagem aos 18 anos. Ela tem um triskle nas costas. Ela escolheu o símbolo celta por acreditar que, como é para o resto da vida, tem que ser algo significativo: “Um triskle significa proteção e eternidade, que a vida não para nem depois da mor-te”, explica. Cristiane comenta que dois fatores a levaram à escolha do dese-nho: “Escolhi pela beleza da imagem e pelo significado. Acho que uma ta-tuagem deve ser bonita e também ter algo para contar, ainda mais porque a tatuagem serve como um adorno, só que eterno”. Cristiane decidiu tatuar porque acha bonito e por acreditar que a tatuagem dá personalidade à pessoa que a tem. O chefe de cozinha Erik Fillies tem várias tatuagens. Ele conta

Regiane SilvaPatricia Strogenski

que cada uma tem uma história. Fo-ram decididas ao longo dos anos, a partir de momentos de sua vida. “As asas nas costas foram a primeira, aos 25 anos, e simbolizam a minha liber-dade numa época em que eu estava me libertando de um monte de coi-sas e conceitos que eu tinha da vida. O chefe caveira no peito é por causa da minha profissão de chefe de cozinha, e a outra caveira can-tora, que ainda está inacabada, no ou-tro lado do peito, é pelo fato de eu cantar desde sempre em bandas... São duas facetas da mi-nha personalidade que têm muita re-levância”, justifica. De todas, sua preferida, pela estética, é a Santa Muerte que tem

no braço esquerdo. “Amo o desenho pelo significado”, diz Erik. O desenho é uma representação da carta numero 13 do tarô, a carta da morte. Além de ser, segundo ele, uma representação do inevitável: um dia vamos morrer. Ele afirma que não pretende retocar nenhuma, para que elas mos-

trem a idade que realmente têm: “Ta-tuagem é parte da sua história”. Em cada época, essa arte é utilizada com uma finalidade. Atu-

almente, é empregada de diversas formas. Muitos desenham suas pró-prias tatuagens e criam seus pró-prios significados, outros escolhem o desenho pelo simples fato de achá-lo bonito, e alguns optam pelo

“Uma tatuagem deve ser bonita e também ter algo para contar, ainda mais

porque ela serve como um adorno, só que eterno”

significado que a imagem traz. Seja por uma razão ou por outra, a tatuagem caiu no gosto po-pular. Atores, cantores, modelos, executivos, advogados, médicos, seja qual for a profissão, sempre se pode encontrar alguém com uma tatoo. Para a psicóloga Viviane Sil-va, existem diversos fatores que le-vam uma pessoa a tatuar-se: “Em muitos casos, o que leva uma pessoa a se tatuar é a estética, o modismo. É comum a pessoa ver um artista ta-tuado e querer fazer igual”. Mas ela afirma que há muitos casos em que a pessoa usa a tatuagem como me-canismo de defesa, negação: “Algu-mas pessoas podem usar a tatuagem como a representação inconsciente, a representação de um desejo realizado ou não realizado”, completa. Segundo a psicóloga, a tatu-agem pode ser usada também como processo de luto: “A pessoa perde um ente querido e, como processo de elaboração, coloca uma imagem ou o nome dele no corpo”. A tatuagem continua a fas-cinar gerações pelo mundo. Ligada ao desejo de poder na Antiguidade, ela transpôs séculos e hoje é vista como arte. Quebrando mitos e pre-conceitos, a tatuagem segue atraindo jovens, adultos e idosos, com a pro-messa de deixar uma marca única no corpo, algo que traduza um pouco da personalidade de cada um por meio de um desenho ou uma frase.

Cristiane Takaya com seu triskle, símbolo celta

Maxwell Alves Divulgação

Maxwell Alves Maxwell Alves

O “chefe caveira” nas costas do chefe de cozinha Erik Fillies

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 201110

COTIDIANO

Na rota do sertanejoVários taxistas do centro de Curitiba preferem ouvir músicas que tratam do universo rural

Passava das 10 horas quan-do um grupo de seis taxis-tas estava a postos em seus

carros no ponto da Praça Tira-dentes, região central de Curitiba. Naquele dia nublado, parecia que até o Sol gostaria de ficar em casa em frente ao fogão à lenha, espe-rando aquele cafezinho ao som das violas de Tião Carrero e Par-dinho. Na verdade, os motoristas esperavam a próxima corrida em mais uma terça-feira de trabalho no marco zero da capital parana-ense. Em meio a um trânsito in-tenso de pessoas apressadas, talvez com o pensamento de não chega-rem atrasadas ao trabalho, estava o táxi do gaúcho Nelson Boldin, de 71 anos, 28 deles dedicados ao transporte de pessoas. Com uma flanela um tanto surrada, Boldin se apresenta com muita simpatia. No seu rosto, estão os traços marcantes de alguém que passou a vida trabalhando e que co-nhece as ruas da “cidade cinza” com as linhas de sua mão. Ele está sempre com barba bem aparada e um bigode traçado milimetricamente, assim como fa-zem os barbeiros da Rua Saldanha Marinho, não muito distante dali. Muito atencioso, estampa no rosto um sorriso que demonstra que suas sete décadas foram bem vividas. “Gosto de ouvir canções gaúchas”, avisa. E entre os músi-cos de sua preferência está a gaiteira porto-alegrense Berenisse Azambu-ja, ícone da música popular do Rio Grande do Sul. Nelson Boldin explica que as canções sertanejas o acompanham em seu dia a dia, que, segundo ele, mudou muito. Dos seis filhos do taxista, somente o de 12 anos não aprecia as modas de viola popular-mente chamada de caipira.

Galera do chapéu Segundo o Dicionário do Folclore Brasileiro, do jornalista

Vinícius Camilo

Luiz Câmara Cascudo, publicado inicialmente em 1954, o termo caipira refere-se a um homem de modos rústicos, habitante do in-terior. No Paraná, tido por alguns como um estado rural, a música sertaneja agrada grande parte dos habitantes. Uma pes-quisa realizada pelo Instituto Pa-raná Pesquisa, que entrevistou 1.830 pessoas com mais de 16 anos em 65 municípios paranaenses, constatou que a música da “galera do chapéu” é a do interior. Para surpresa de al-guns, o rock ficou em quarto lugar. A explicação pode estar no êxodo rural dos estudantes que vem à ca-pital para estudar. Boa parte desses alunos tem família no norte parana-ense, em cidades como Londrina e Maringá. Dos seis taxistas presentes na praça, quatro deles têm o mesmo apreço de Boldin pela melodia ouvi-da por boa parte do povo do campo.

“Já tive um conjunto chamado Fogo de Chão”, informa o motorista com um ar nostálgico. Apesar das mudanças estéti-cas e sonoras por que a atual música sertaneja passou, ela ainda agrada o velho taxista, que, enquanto espera o

próximo passagei-ro, sacia sua fome comendo um sal-gado com refri-gerante sentado no banco frio do ponto de táxi. Na ignição do carro,

há um chaveiro com o distintivo do Sport Club Internacional, seu clube do coração e também o único moti-vo que o faz deixar a música sertane-ja um pouco de lado. Ao lado esquerdo da ca-tedral metropolitana, em frente a uma loja de sapatos, fica estacio-nado o táxi de Francisco Olivei-ra, de 62 anos. Ele é um cearense meio ressabiado que declara ser fã das “canções da roça”: “Olha, eu gosto de Roberta Miranda, Fafá de Belém e... ah, também tem aquela

‘Verdes campos’, do Agnaldo Ti-móteo”, revela o motorista. Questionado sobre por que ouve música sertaneja, ele respon-de que a melodia é muito boa para momentos de solidão. Em sua me-mória, estão lembranças dos longos anos em que trabalhou como cami-nhoneiro cortando as muitas rodo-vias desta “terra brazilis”. Enquanto fala, o taxis-ta procura uma faixa de sua pre-ferência. A escolhida é a canção “Longa estrada da vida”, da dupla Milionário e José Rico, uma péro-la do cancioneiro do sertão. Nas rápidas corridas que realiza, ele relata que frequentemente os pas-sageiros pedem para ligar o rádio durante o trajeto. “Eles até me re-comendam músicas e algumas du-plas”, informa Oliveira. Na estrada, a fé o acompanha. Um terço de cor marrom, pendura-do no volante do carro, demonstra sua crença. Em seu caminho, o ta-xista Francisco Oliveira segue como quem pede proteção divina para mais um dia de trabalho, se possível,

No Paraná, tido por alguns como estado rural, a músi-ca sertaneja agrada grande

parte dos habitantes.

Nelson Boldin, 28 anos como taxista da Praça Tiradentes: “Gosto de ouvir músicas do Rio Grande do Sul”

Vinícius Camilo

Curitiba, novembro de 2011 MARCO ZERO 11

TÁ NA WEBRESENHAClaudia Bilobran

Evelin Silva

A arte de fazer um jornal diário

O livro “A arte de fazer um jor-nal diário”, do jornalista Ricardo Noblat, é uma obra bastante didática, cujo ob-jetivo é compartilhar, por meio de expe-riências vividas na profissão, as princi-pais técnicas de apuração, entrevistas, pautas, notícias, matérias, relação com as fontes e demais conhecimentos ne-cessários para entender e conseguir diferenciar o que é ou não notícia. Lançado em 2004 pela Editora Contexto, o livro consegue ilustrar, de forma detalhada, como é o processo de elaborar e publicar um jornal dia-riamente. Tendo o veículo de mídia im-pressa Correio Braziliense como cená-rio, é possível entender e compreender, de forma concreta, as várias atividades que cercam a profissão do jornalista. Noblat também aborda a crise que a televisão e a internet geraram para o jornal impresso e aproveita para sugerir algumas modificações a fim de garantir a sobrevivência desse meio. Embora o livro tenha sido lan-çado em 2004, quando a internet e as suas vertentes ainda não estavam tão fortalecidas como nos tempos atuais, já era possível perceber na época que os jovens estavam cada vez mais de-sinteressados pela leitura. Um ponto bastante polêmi-co discutido pelo autor é a ética nos meios jornalísticos, bem como durante a produção dos seus conteúdos. Ca-sos relacionados à invasão de priva-cidade e outras formas não éticas de fazer jornalismo são amplamente de-batidos pelo autor. Com muitos detalhes e dicas

para os iniciantes, Noblat ensina quais são as características de um bom tex-to jornalístico. Cita vários escritores e traz exemplos de reportagens publica-das, mostrando que, assim como se fala, as matérias precisam ser escritas de forma direta, utilizando frases cur-tas, precisas e claras. Além disso, é necessário prestar atenção para não usar chavões e adjetivos em excesso. Ainda auxiliando na melhora da escrita, o jornalista faz um apanhado de vários títulos de matérias e de re-portagens, explicando qual a importân-cia desse item e de que forma ele pode ser útil e necessário para despertar a atenção e o interesse do leitor. Considerações sobre as mu-danças do jornal Correio Braziliense, bem como ilustrações de suas primei-ras capas, são divulgadas por Noblat, que, além de citar os principais eixos dessa reinvenção, expõe opiniões de jornalistas de outros veículos de co-municação. Para finalizar, o livro traz uma linha do tempo que analisa toda a tra-jetória da mídia impressa, desde o seu surgimento até a atualidade. “A arte de fazer um jornal diá-rio” é capaz de levar ao leitor um pou-co da rotina de trabalho do jornalista. Consegue mostrar, também, os peri-gos e fascínios dessa profissão que, embora apresente suas limitações e falhas, trabalha em prol do interesse público, sob os preceitos da ética e da seriedade.

NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. Editora Contexto, 2004.

“Ainda bem”, Marisa Monte

Marisa Monte sempre consegue se superar. Dessa vez, não foi diferente com o clipe em preto e branco da música “Ainda bem”, que conta com a partici-pação especial de Anderson Silva, lutador de MMA. Os dois dançam em perfeita harmonia, sob uma iluminação incrível. O lutador mostra que tem muita suavida-de e jeito para a dança. http://www.youtube.com/watch?v=t7M89YJAPhM&feature=related

Bala de Troco

Quem nunca teve vontade de jogar as balinhas de troco na cabeça da-quele caixa da panificadora perto da sua casa, ou do caixa daquela “lujinha” de 1,99? Este vídeo é a vingança de todos que têm vontade de fazer isso. Vale boas risadas. http://www.youtube.com/watch?v=hbTU7sumJXg&feature=related

Jogador Sincero

Marcelo Adnet encarna o típico jogador de futebol em ascensão, falando dos “pranos” para o futuro. Um personagem debochado, engraçado e infelizmen-te verdadeiro... http://www.youtube.com/watch?v=7-FQTewoVhM&feature=related

Livro mostra o dia a dia da produção de um jornal

MARCO ZERO Curitiba, novembro de 201112

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Em novembro aconteceu o Festival da Cultura Nipo-Brasileira, evento que contou com a presença de vá-rias tribos de adolescentes de Curitiba. A que mais

chamou atenção foi a tribo cosplay. O cosplay é um hobby que consiste em fantasiar-se de personagens de quadrinhos, videogames e desenhos anima-dos japoneses. Engloba ainda personagens pertencentes ao vasto universo do entretenimento, como filmes, séries de te-levisão, livros e animações de outros países. O hobby costu-ma ser praticado em eventos que reúnem fãs desse universo, como convenções de anime e games. Em Curitiba, o hobby ganhou como adeptos muitos adolescentes, que costumam se encontrar nos finais de sema-na atrás do Museu Oscar Niemeyer e nos locais escolhidos para o Festival da Cultura Nipo-Brasileira. Nesta página, estão imagens de alguns cosplayers curiti-banos.

Um hobby para excêntricos?

Textos e fotos de Claudia Bilobran