Jornal das Ciências - número 19

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Ribeirão Preto, julho de 2009 - nº 19 Ano 09 PROJETO EDUCACIONAL CTC FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA Alunos do Adote um Cientista desvendam para o público a importância da doação de sangue atra- vés da peça teatral “Relíquias do Sangue e Sara”. Pág.3 Alunos do “Adote” são aprovados em vestibulares A Casa da Ciência comemora a aprovação de seis alunos em uni- versidades públicas. Pág.4 A Reprodução Humana Entenda os processos envolvidos na reprodução humana e aprenda um pouco mais sobre duplica- ção celular e DNA. Pág.4 Emoção e música: como o cérebro reage Pianista e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto fala das rea- ções emocionais entre o músico e o público. Pág.5 Informação por meio da arte Roda da Ciência promove interação entre alunos da rede básica e pesquisadores Alunos do Adote um Cientista, um programa da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto, que promove a interação entre alunos do ensino básico e pós-graduandos, participaram do primeiro “Roda da Ciência” gra- vado. Os alunos entrevistaram o Prof. Dr. Marcus Lira Brandão da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), que pesquisa neuro- biologia do medo e da ansiedade. O Roda, iniciado em janeiro de 2006, tem o objetivo de se- dimentar os conhecimentos ad- quiridos pelos alunos dos gru- pos temáticos do Adote. Nele, pesquisadores são convidados a esclarecer as dúvidas dos alunos no final do semestre, esta ativida- de é associada aos Murais, que são apresentações dos trabalhos dos grupos e seus orientado- res. Agora, o “Roda da Ciência” está sendo registrado e difundido através de um formato multimí- dia. “Tanto no desenvolvimento do programa quanto durante sua gravação abrem-se perspecti- vas multidirecionais de trans- missão de conhecimento entre os envolvidos”, explica Cleiton Lopes Aguiar, um dos idealiza- dores do programa multimídia. Rafael Ruggiero, pós-gradu- ando em neurociência e colabo- rador do Adote um Cientista, ex- plica que alunos são essenciais em todos os passos do desen- volvimento do programa. “Eles Alunos participaram com perguntas so- bre medo, ansiedade e estresse. Caio Margarido Carlos Cruz

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O Jornal das Ciências está de cara nova. A última página, que normalmente é composta por entrevistas com professores da USP, traz uma conversa com um pós-graduando em neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que explica como é realizada sua pesquisa em plasticidade sináptica. Aproveitando o ensejo neurocientífico, temos uma matéria que fala das reações emocionais sob os aspectos neurológicos da música com Márcia Higuchi, musicista e doutoranda em neurociências pela USP de Ribeirão Preto. O suplemento “Trilha da Ciência” apresenta “Relíquias do sangue e Sara” – peça teatral que trata dos componentes do sangue e a importância de sua doação. Tem ainda a aprovação de seis alunos frequentadores do “Adote um Cientista” em universidades públicas. O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto distribuído gratuitamente aos professores da rede básica de ensino de Ribeirão Preto e região.

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Ribeirão Preto, julho de 2009 - nº 19 Ano 09

PROJETO EDUCACIONAL CTCFACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA

Alunos do Adote um Cientista desvendam para o público a importância da doação de sangue atra-vés da peça teatral “Relíquias do Sangue e Sara”.

Pág.3

Alunos do “Adote” são aprovados em vestibulares

A Casa da Ciência comemora a aprovação de seis alunos em uni-versidades públicas. Pág.4

A Reprodução HumanaEntenda os processos envolvidos na reprodução humana e aprenda um pouco mais sobre duplica-ção celular e DNA. Pág.4

Emoção e música: como o cérebro reagePianista e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto fala das rea-ções emocionais entre o músico e o público. Pág.5

Informação por meio da arte

Roda da Ciência promove interação entre alunos da rede básica e pesquisadoresAlunos do Adote um Cientista,

um programa da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto, que promove a interação entre alunos do ensino básico e pós-graduandos, participaram do primeiro “Roda da Ciência” gra-vado. Os alunos entrevistaram o Prof. Dr. Marcus Lira Brandão da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), que pesquisa neuro-biologia do medo e da ansiedade.

O Roda, iniciado em janeiro de 2006, tem o objetivo de se-dimentar os conhecimentos ad-quiridos pelos alunos dos gru-pos temáticos do Adote. Nele,

pesquisadores são convidados a esclarecer as dúvidas dos alunos no final do semestre, esta ativida-de é associada aos Murais, que são apresentações dos trabalhos

dos grupos e seus orientado-res. Agora, o “Roda da Ciência” está sendo registrado e difundido através de um formato multimí-dia. “Tanto no desenvolvimento do programa quanto durante sua gravação abrem-se perspecti-vas multidirecionais de trans-missão de conhecimento entre os envolvidos”, explica Cleiton Lopes Aguiar, um dos idealiza-dores do programa multimídia.

Rafael Ruggiero, pós-gradu-ando em neurociência e colabo-rador do Adote um Cientista, ex-plica que alunos são essenciais em todos os passos do desen-volvimento do programa. “Eles

Alunos participaram com perguntas so-bre medo, ansiedade e estresse.

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Editorial

Roda da Ciência teve participação de alunos da rede básica de ensino.

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mostraram um interesse crescen-te por temas como medo, depres-são e ansiedade”, relata. Depois de constatar essas dúvidas e a grande inquietação dos alunos para aprender sobre o tema, um especialista na área foi convi-dado para ser questionado por eles. Antes da gravação do pro-grama, os alunos também partici-pam de aulas introdutórias sobre medo, ansiedade e estresse com estudantes da pós-graduação.

O “Roda da Ciência” incor-porou duas novas vertentes, a música e as artes plásticas. “É importante divulgar a mistura en-tre ciência e artes, pois, apesar destas atividades parecerem tão distantes entre si, elas são frutos da mesma inquietação humana”, explica Lézio Bueno Júnior, dou-torando em neurociência e tam-bém colaborador do programa.

Para coordenar a participação de artistas plásticos no “Roda”

foi convidado o Prof. Dr. Norberto Garcia Cairasco, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). O professor realizou pin-turas digitais, por meio de softwa-res e data-show, na gravação do primeiro programa e criou, junto com a artista plástica Luciane Strambi, a logomarca do novo “Roda”. Cairasco já tem experiên-cia nessa mistura entre ciência e artes plásticas, pois criou em 2002 a Oficina Da Vinci, que pretende unir esses dois elementos distin-tos. A parte musical ficou por con-ta do psicólogo e músico André Perin, que apresentou algumas de suas canções no programa.

Apresentado pelo biólogo,

ator e diretor, Milton Ávila, o “Roda” conta com a colaboração dos pós-graduandos do proje-to Adote um Cientista, Casa da Ciência, Hemocentro de Ribeirão Preto, Instituto de Neurociência e Comportamento (INeC) e Oficina Da Vinci. O “Roda” está em fase de finalização e será disponibili-zado no site da Casa da Ciência e INeC. Cada aluno participante receberá um DVD com a primei-ra edição e as atividades extras referentes ao programa, como as aulas sobre medo e ansiedade e a visita dos alunos ao laboratório que realiza pesquisa nesta área.

A difusão do conhecimento faz parte do avanço científico e tem se popularizado na internet. O “Roda da Ciência” tem como ob-jetivo associado a apresentação da principal estratégia educa-cional da Casa da Ciência, que são as formas de interação entre ensino e pesquisa, feitos por educadores e cientistas. O novo “Roda” agrega tam-bém o valor de ser um material multimídia, o que exigiu mais trabalho e

uma equipe afinada aos propósitos atuais.

Prof. Dr. Cairasco realizou pinturas digi-tais durante o programa.

O Jornal das Ciências está de cara nova e com uma pro-posta editorial diferente. A úl-tima página, que normalmen-te é composta por entrevistas com professores da USP, traz uma conversa com um pós-graduando em neurociências da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que explica como é realizada sua pesqui-sa em plasticidade sináptica. Aproveitando o ensejo neuro-científico, temos uma matéria que fala das reações emocio-nais sob os aspectos neuroló-gicos da música com Márcia Higuchi, musicista e doutoran-da em neurociências pela USP de Ribeirão Preto.

O jornal exibe ainda uma matéria sobre o programa mul-timídia “Roda da Ciência”, que pretende divulgar a interação e troca de conhecimento entre alunos da rede básica de en-sino, pesquisadores da USP, músicos e artistas plásticos de Ribeirão Preto.

O suplemento “Trilha da Ciência”, que traz as realiza-ções de exclusividade dos alu-nos, apresenta “Relíquias do sangue e Sara” – peça teatral que trata dos componentes do sangue e a importância de sua doação. A peça já foi en-cenada em Campinas, durante a 60º reunião da SBPC e em Brasília na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

Ainda no trilha, temos uma matéria sobre as dúvidas que surgiram nos encontros de reprodução humana e a apro-vação de seis alunos freqüen-tadores do Adote um Cientista em universidades públicas.

O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP e dis-tribuído gratuitamente nas escolas. É parte do Projeto Educacional CTC/CEPID/FAPESP. Coordenadores: Dimas Tadeu Covas, Marco Antonio Zago e Marisa Ramos Barbieri. Coordenadora da Casa da Ciência e MuLEC: Marisa Ramos Barbieri. Jornalista responsável: Gisele S. Oliveira. Diagramação: Gisele S. Oliveira e Vinicius Moreno Godói. Equipe da Casa da Ciência: André Perticarrari, Daiane M. A. de Carvalho, Flávia F. do Prado, Fernando Trigo, Gisele S. Oliveira, Maria José de Souza G. Vechia, Renata A.P. Oliveira, Vinícius M. Godói. Apoio: Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, Fundação Vitae, Fapesp e BT – Coseas/USP. Endereço: Rua Tenente Catão Roxo, 2501. CEP: 14051-140. Ribeirão Preto. Telefone: (16) 2101-9308. Site: www.hemocentro.fmrp.usp.br/casadaciencia. E-mail: [email protected] Tiragem: 3.500 exemplares. Distribuição Gratuita. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.

Algumas questões dos alunos que foram respon-didas pelo Prof. Dr. Marcus Lira Brandão:

O estresse, o medo e a ansiedade po-dem ser benéficos? (Desire Carla Barato). Uma pessoa pode possuir pré-dispo-sição genética à ansiedade? (Natália Monteiro de Jesus). O que é o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)? Os animais possuem o TOC? (Ana Paula Carvalho).

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Informação por meio da arte

Os elementos do sangue e a im-portância de sua doação, esses são os assuntos tratados em “Relíquias do Sangue e Sara”. Na peça os alu-nos da Casa da Ciência informam e esclarecem o público por meio da arte cênica, cada personagem é um componente do sangue e se mostra indispensável para o funcionamento deste importante fluido.

Na história, Sara, a protagonista, adormece e viaja pelo “mundo do sangue” desvendando suas diversas funções. Até a garota explicar para todas células do sangue que ela não é um microorganismo, o público é estimulado a conhecer cada elemen-to e entender também suas funcio-nalidades. Com muita descontração e dança, a platéia é levada a refletir

sobre a importância da doação de sangue e a superar os pre-conceitos embutidos nessa prá-tica que pode salvar vidas.

Daianne Maciely, autora do texto e atriz que interpreta Sara, explica que a peça possui lingua-gem de fácil acesso e é voltada para todas as idades. “Sempre conseguimos deixar a mensa-gem principal, que é a importân-cia da doação. Com a peça as

pessoas passam a conhecer o que tem dentro do próprio sangue, pois às vezes não sabem da importância por não conhecerem” conta.

O grupo teve orientação do diretor de teatro Gilson Brigagão da Cia Ribeirão em Cena e Espaço Santelisa Vale.

A peça já foi apresentada na 60º reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na cida-de de Campinas em julho de 2008 e em outubro foi ence-nada em Brasília, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Alguns dos atores dessa monta-gem encenaram também a peça “Agonia de uma célula”,

criada em 2002 e que apresenta te-mas relacionados à célula, vírus e sistema imunológico

“Relíquias do Sangue e Sara” busca envolver o público em uma prática de aprendizagem diferente, conscientizando por meio do teatro. Ao final da apresentação cada per-sonagem explica sua função e res-ponde as perguntas do público. “As pessoas sempre nos recebem muito bem e gostam de conversar depois da peça. É um jeito diferente de ensi-nar porque foge um pouco do que é a aula”, explica Ádamo Siena, ator que interpreta a Célula Dendrítica.

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Apresentação da peça “Relíquias do Sangue e Sara na SNCT em Brasília.

Vírus (Paulo Teodoro e Daniele Viola) - seu corpo é capsídeo,

formado por proteínas, e possui material genético

em seu interior. É parasitando células de outros organismos que

os vírus conseguem reproduzir-se.

Anticorpos (Marina Viola e Mara Elisama) - são proteínas produzidas pelo Linfócito B que destroem os agentes estranhos. Há cinco tipos diferentes de anticorpos e cada um tem uma resposta específica para cada tipo de invasor.

Sara (Daianne Maciely) - garota que des-cobre a importância da doação em uma aventura dentro de seu próprio sangue.

Célula Dendrítica (Ádamo Siena) - são célu-las que fazem parte do sistema imunológico, sua principal função é capturar e transpor-tar os antígenos para até os linfonodos.

Hemácias (Késsia Moraes, Alexia Rodrigues e Isabella Mendonça) - tem como função o transporte de oxigênio através da proteína hemoglobina existente em seu interior. Os íons de ferro presentes na hemoglobina são responsáveis pela cor averme-lhada das hemácias.

Linfócito T (Diego Sanchez) e Linfócito B (Danilo Sanchez) - são células presentes no sistema imuno-lógico capazes de destruir muitos ti-pos de antígenos (corpos estranhos, bactérias e vírus).

Plaquetas (Jeferson Silva e Jaqueline Iqueda) - atuam na coagulação do san-gue e se originam a partir das células megacariócitos (células da medula ós-sea responsáveis pela produção de pla-quetas sanguíneas).

Entenda as personagens

NKs (Renata Oliveira e Rafael Furlan) - tem como função eliminar células infectadas por antígenos ou com defeito de função, evitando assim a multiplicação dos vírus.

Alunos/atores durante a 60º reunião da SBPC em Campinas.

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Curiosidade dos alunos surpreendeCom imensa curiosidade e

muita vontade de aprender, os alunos do programa Adote um Cientista estão sempre em busca de respostas para suas dúvidas. Daniel Blassioli Dentillo, doutor na área de genética humana, co-ordenou um grupo de reprodução humana e se surpreendeu com as inúmeras questões que surgiram durantes as aulas. “As perguntas brotavam sem parar: A célula lê as letrinhas A, T, C e G? Se o pai tem nariz grande e a mãe tem na-riz pontudo, então o filho vai ter nariz grande e pontudo? Por que o peixe tem mais cromossomos do que o homem se ele é menor e não pensa como a gente? – estas são apenas algumas das quais me recordo”, relata Dentillo.

Nas aulas os alunos apren-deram sobre o DNA, como os

genes se expressam, sobre os cromossomos, como as células se multiplicam e a formação de gametas. Também aprenderam como funciona o genoma e as variações de características do ser humano.

Durante a aula de replicação de DNA e RNA surgiram mais dúvidas: “Por que o DNA tem

duas fitas e o RNA só tem uma? Por que o RNA tem U e o DNA não tem? É verdade que o DNA veio de outro planeta, trazido por extraterrestres?”.

As aulas do Adote são guiadas pela curiosidade dos alunos, os assuntos abordados são prepara-dos e pensados exclusivamente para o grupo, mas são os alunos que conduzem o andamento das aulas, através de seus questio-namentos. “O mais interessante do projeto não é a conclusão que o professor imagina, mas sim o rumo que os próprios alunos dão ao projeto, o final são eles que constroem”, afirma Dentillo.

No site da Casa da Ciência está disponível uma matéria que explica os processos da reprodu-ção humana: www.hemocentro.fmrp.usp.br/casadaciencia.

Casa da Ciência

Alunos durante encontro de reprodução humana.

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Seis alunos freqüentadores do programa “Adote um Cientista” da Casa da Ciência foram aprovados neste ano em universidades públi-cas, alguns são velhos conhecidos da “Trilha da Ciência”, como os “ví-rus” Paulo César Teodoro Junior e Daniela Rocha Viola, e a “célula dendrítica” Ádamo Davi Diógenes Siena, atores da peça “Relíquias do sangue e Sara” apresentados na página anterior.

Paulo Teodoro, que está cur-sando Geografia na USP em São Paulo, sempre estudou em esco-la pública e conheceu a Casa da Ciência em 2005 através de uma amiga. O aluno atribui sua esco-lha em prestar vestibular ao conta-to com os pós-graduandos e com a universidade fornecidos pela Casa da Ciência e deseja conti-nuar próximo ao programa. “Eu pretendo continuar ligado à Casa da Ciência para saber dos estudos sobre o ensino desenvolvidos pela professora Marisa e os outros do-centes”, diz Paulo.

Daniele Viola, que conheceu o programa através da professora de biologia Márcia Aparecida Souza do ensino médio, foi aprovada

em Educação Física na USP de Ribeirão Preto. Daniele fala dos pontos positivos de sua frequência ao “Adote”, até mesmo durante a graduação: “Um professor estava explicando como seriam as aulas de laboratório e eu disse que já tinha visto aquilo, pois no ‘Adote’ nós fomos ao laboratório algumas vezes. Muitas coisas eu consegui entender por já ter participado do programa”, conta Daniele.

“Espero ter condições e oportu-nidade de ser orientador do ‘Adote um Cientista’ para poder contribuir com essa ideia tão produtiva que dá oportunidade a jo-vens interessados”, diz Ádamo Siena, que foi aprovado no curso de biologia na Unesp de Jaboticabal e co-meçou a freqüentar a Casa da Ciência em 2000, por indi-cação da professora de biologia Leonízia Nakamura.

Cursar uma uni-versidade pública é um sonho de quase todos os alunos que

terminam o ensino médio, mas alcançar este objetivo não é fácil. Este ano, os números da Fuvest revelam crescimento na participa-ção dos alunos da rede estadual de ensino nos 11302 candidatos aprovados pela USP, 22.6% con-tra 19% do ano passado.

Outras três alunas frequenta-doras do “Adote um Cientista” fo-ram aprovadas em universidades públicas. Rafaela Camargo Baldo, que frequentou o programa em 2006, foi aprovada em Psicologia na Unifesp, Jéssica Paiva de Souza, está cursando Ciências

Sociais na Unesp de Araraquara e Heloísa Spagnoli foi aprova-da em Informática Biomédica na USP de Ribeirão Preto. Heloísa represen-tou o “Centríolo” em “Agonia de uma Célula”, primeira peça montada na Casa da Ciência. Em 2008, a estudante foi respon-sável pela sonoplas-tia da peça “Relíquias do Sangue e Sara”.

Alunos do “Adote” são aprovados em vestibularesOs alunos Ádamo Diógenes Siena, Heloísa Spagnoli, Jéssica Paiva de Souza, Daniele Rocha Viola e Paulo César Teodoro.

Rafaela Baldo em atividade do “Adote um Cientista” em 2006

Casa da C

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Casa da C

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Emoção e música: como o cérebro reage

Você já escutou uma música e sentiu uma tristeza muito forte ou uma alegria muito grande? A música, normalmente, imprime algum tipo de emoção e tem a capacidade de causar várias reações no estado físico, mental e emocional do ser humano.

Márcia Kazue Kodama Higuchi, pianista e doutoranda em neuro-ciências pela USP de Ribeirão Preto, explica que desde muito

tempo é difundida a ideia de que a expressividade musical (capa-cidade de transmitir uma emoção através da música) está relacio-nada à composição musical (mú-sica). Porém, só a composição musical em si não seria suficiente para que seus sentimentos fos-sem transmitidos aos ouvintes. Uma grande parte dos profissio-nais da área musical defende que a emoção do intérprete exerce um papel importante neste pro-cesso. Atualmente, algumas áre-as da psicologia e a neurociência propõem algumas explicações a respeito do processamento da expressão interpretativa musical.

O sistema nervoso, ao rece-ber algum estímulo que provoca emoção, ativa automaticamente uma cadeia de reações, prepa-rando o corpo para uma respos-ta específica a cada situação. As reações consequentes das emo-ções podem influenciar a postura do corpo, a cor da pele, a feição do rosto, os gestos, a entonação da voz e a forma de expressão. Essas reações refletem também na forma de tocar o instrumen-to musical. “Ao receber alguma informação ou estímulo que pro-voque raiva, a amígdala (que fun-ciona como um depósito da me-mória emocional no cérebro) ativa

automaticamente o hipotálamo. O hipotálamo, en-

tão, envia sinais para as mudanças

fisiológicas por meio do sistema nervoso autônomo e através da liberação de hormô-nios. Portanto, existe uma forte propensão para que, quando um pianista estiver com raiva, seu corpo manifeste esse sentimento produzindo um toque mais rígi-do, um ritmo mais marcado e um

fraseado mais agressivo”, explica Márcia.

A capacidade de trans-mitir emoção através da in-terpretação musical pelos ouvintes pode ser feita pela empatia. Vários neurocien-tistas têm atribuído essa função aos neurônios-es-pelho. Márcia explica que os neurônios-espelho, en-contrados principalmente no córtex pré-frontal dos seres humanos, são acio-nados quando uma pessoa

realiza um determinado ato e tam-bém quando ela observa outra pessoa realizando o mesmo ato, facilitando a imitação e o entendi-mento de atos alheios. “Portanto, esses neurônios podem ser res-ponsáveis pela tendência de cho-rarmos ao ver outra pessoa cho-rar”, conta.

“Se a observação da expres-são facial pode desencadear uma emoção, há possibilidade de que a audição de sequências musi-cais com determinadas variações no tempo, na dinâmica, no timbre e nas articulações resultantes de alterações provocadas pelas expressões emocionais do intér-prete, possa ativar determinados neurônios-espelho”.

Se os neurônios-espelho ativa-rem as vias neurais responsáveis por expressões emocionais, este processo pode gerar uma forte emoção nos ouvintes relacionada ao sentimento passado pelo in-térprete. Assim, a emoção do mú-sico seria transmitida ao ouvinte através da interpretação musical.

Sistema Nervoso Autônomo – trata-se de uma denominação ge-nérica para um grande conjunto de neurônios, situados na medula e tronco encefálico, que se comunica com praticamente todos os órgãos e tecidos do corpo. Sendo capaz de preparar o organismo de acordo com a situação enfrentada.

Hipotálamo – região do cérebro responsável pelo controle da libe-ração hormonal, da temperatura corporal, da motivação alimentar e sexual, além de ser uma região chave no processo de ativação do Sistema Nervoso Autônomo.

Córtex pré-frontal – área do cérebro situada no lobo frontal essen-cial para o processamento de memória de trabalho, convenções so-ciais, personalidade, julgamento moral, empatia, planejamento de ações futuras, entre outros.

Arquivo Pessoal

Márcia Higuchi : pesquisadora da USP de Ribeirão Preto.

A amígdala recebe o estímulo e ativa o hipotálamo, que envia sinais

para as mudanças fisiológicas através de liberação de

hormônios.

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Jornal das Ciências - Para compreender o cérebro é ne-cessário entender as estru-turas mais simples que o for-mam e que também é objeto de sua pesquisa. Como fun-ciona a comunicação entre os neurônios?

Lézio Bueno Júnior - Os neurô-nios não são conectados de ma-neira contínua um com o outro. Eles se comunicam entre si atra-vés de sinapses, formando uma rede de comunicações. Na maior parte delas, não há contato físico entre um neurônio e outro.

JC - Como pode existir a co-municação se há um pequeno espaço entre um neurônio e outro?

L.B.J. - Através da liberação de moléculas chamadas de neuro-transmissores na fenda sináptica (espaço entre um neurônio e ou-tro). O terminal do neurônio pré-sináptico envia a informação e o botão pós-sináptico do outro neu-rônio a recebe. É nessa fenda que são liberados os neurotransmis-sores, que têm uma ligação espe-cífica com os receptores. Os re-ceptores são proteínas existentes na membrana do neurônio pós-sináptico. Dependendo do tipo de neurotransmissor e de receptor, é gerado um determinado efeito no neurônio pós-sináptico. Todo esse processo é plástico, pois tem a capacidade de ser mudado ao longo do tempo, dependendo do ambiente, da aprendizagem, dependendo até mesmo de doen-ças, do sono, etc.

JC - Como tem início esse processo de comunicação neuronal?

L.B.J. - O impulso começa no axônio, que é o maior prolonga-mento do neurônio. É na base do axônio, em sua junção com o cor-po celular do neurônio, que é ini-ciado o impulso nervoso que será mandado adiante a uma velocida-de de frações de segundos.

Além do axônio, o neurônio tem vários prolongamentos menores chamados dendritos, que formam uma estrutura parecida com uma árvore. Basicamente, através dos dendritos e do corpo celular, um

único neurônio pode receber mi-lhares de terminações de outros neurônios que vêm de diversos lugares do sistema nervoso. Uma parte dessas informações favo-rece o estímulo e outra favorece a inibição. O neurônio “decide” mandar a informação adiante ou não, isso acontece de forma “de-mocrática”. Vamos supor que um neurônio recebe sete mil estímu-los de outros neurônios “dizendo” passe adiante a informação e três mil “dizendo” não, então ocorrerá a passagem da informação.

JC - Como esses impulsos elétricos dos neurônios podem ser estudados?

L.B.J. - No laboratório utiliza-mos um equipamento muito útil no estudo da eletrofisiologia (estudo das propriedades elétricas em cé-lulas e tecidos), porque ele tem a capacidade de traduzir sinais ele-troquímicos presentes no cérebro do rato, que é o animal que utiliza-mos como objeto de estudo. Estes sinais eletroquímicos são capta-dos por eletrodos implantados no cérebro do animal e amplificados por um equipamento específico, então o sinal biológico (analógi-co) passa para um conversor que o transforma em digital, possibili-tando sua leitura no computador.

JC - O eletrodo implantado no cérebro capta impulsos elé-tricos na sinapse?

L.B.J. – O eletrodo que utiliza-mos é extremamente fino, e se parece com um fio de cabelo. A ponta desse eletrodo é capaz de registrar sinais eletroquímicos de dezenas a centenas de neurônios. Este sinal corresponde à comuni-cação sináptica dentro desta po-pulação restrita de neurônios. Os registros são, portanto, resultado da atividade dos terminais pré-sinápticos (de axônios originados de outras áreas do cérebro) e dos neurônios pós-sinápticos, que estão recebendo esses axônios. Tudo isso ao redor da pontinha do eletrodo.

JC - Qual é a importância desses experimentos que o la-boratório realiza?

L.B.J. - O laboratório busca compreender a fisiologia (estudo

das funções) da plasticidade si-náptica e como ela pode ser modulada, através de estados do sono, estados de atenção ou drogas. Um exemplo disso são as diversas mudanças no padrão de liberação de neurotransmissores durante os estágios do sono, res-ponsáveis por influenciar a plasti-cidade sináptica de diversos cir-cuitos neuronais.

Em termos clínicos, nossos es-tudos também fornecem informa-ções importantes para entender os distúrbios do sono, memória e da epilepsia. Isso porque a plas-ticidade sináptica ocorre normal-mente em neurônios sadios, mas também é subjacente à formação de um circuito neuronal que pode ser defeituoso, como nos casos de epilepsia.

JC - Notícias sobre o cérebro estão sempre presentes na TV e nos jornais. Você acredita que qualquer pessoa pode aprender sobre neurociência?

L.B.J. - Sim. O assunto pode parecer complicado, mas não é. Primeiramente é preciso conver-sar com o professor, sentar e ler um texto, aprender o básico, o que é a citologia, entender o que é a célula e a membrana. A partir disso você consegue trazer esse conhecimento para o neurônio, sem precisar ser um especialista. Assim, também é possível enten-der boa parte do noticiário do jor-nal e das revistas de divulgação científica que são vendidas nas bancas. Se tiver curiosidade, cor-ra atrás, porque é interessante.

Quando você lê ou assiste alguma matéria sobre o cérebro acha tudo muito complexo e con-fuso? Fique tranquilo, o estudo do cérebro não é tão difícil quanto parece. Para mostrar como ele é estudado, o “Jornal das Ciências” conversou com Lézio Bueno Júnior, que é forma-do em Ciências Biológicas e faz doutorado em um laboratório que realiza pesquisas sobre plas-ticidade sináptica, memória, sono e epilepsia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

EntrevistaNeurociências revela importância de

pequenas estruturas

Lézio Bueno Jr. acredita que todos po-dem aprender sobre neurociência.

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