Jornal Atenção - 14ª Edição

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www.jornalatencao.org.br Novembro de 2011 Edição Nº 14 Suplemento Infantil Atenção | entrevista Conheça Élzio, carpinteiro, produtor rural e assentado da Comuna da Terra Elizabeth Teixeira {pág 16} Seguro-desemprego tem novas regras {pág 03} Operação tenta calar a voz das rádios {pág 11} 4ª Edição da Mostra Luta começa dia 5 de novembro {pág 09} Movimentos populares se unem na luta por trabalho e moradia na região de Sumaré Ocupação Dandara do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, em Hortolândia e trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô, em Sumaré, realizaram atos nas cidades

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www.jornalatencao.org.br

Novembro de 2011Edição Nº 14

Suplemento Infantil

Atenção | entrevista

Conheça Élzio, carpinteiro, produtor rural e assentado da Comuna da Terra Elizabeth Teixeira {pág 16}

Seguro-desemprego tem novas regras {pág 03}

Operação tenta calar a voz das rádios {pág 11}

4ª Edição da Mostra Luta começa dia 5 de novembro{pág 09}

Movimentos populares se unem na luta por trabalho e moradia na região de SumaréOcupação Dandara do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, em Hortolândia e trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô, em Sumaré, realizaram atos nas cidades

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02 /opinião

Jornal Atenção – Publicação da Associação Centro de Memória Operária e Popular - Tiragem: 5.000 exemplares Edição Coletiva - Fábrica Ocupada Flaskô | Coletivo de Comunicadores Populares | Coletivo Miséria [email protected] jornalatencao.org.brTelefone: (19) 3854 7798 / 3832 8831 / 3864 2624

De que lado está a lei?

Esgoto em Sumaré é a céu aberto

Um morador do Parque Bandeirantes enviou um carta para nossa redação, recla-

Reclamação!

Despejo da ocupação Dandara do MTST (24/10/2011)

Fotos: Natasha Mota

Uma coisa está mais que óbvia: a justiça brasileira está a favor dos ricos e contra os pobres e trabalhadores.

Se um pobre comete um delito, fica jogado na ca-deia durante anos. Se um rico rouba milhões dos cofres públicos, passa no máximo algumas horas detido e já é liberado.

Se um rico invadir irregularmente terras públicas pra plantar cana, soja ou laranja pra exportação, pra ge-rar lucro pra meia dúzia, e assim financiar campanhas dos políticos, ele pode. A justiça fica do lado dele. Se um trabalhador quiser ocupar um pedacinho de terra pro sustento da família, ele leva porrada da polícia. E com ordem do Juiz!

Se um trabalhador ocupar uma terra que está há anos parada, como foi o caso dos trabalhadores da ocu-pação Dandara do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto em Hortolândia, ele não pode. O juiz, o prefeito e a polícia ficam contra ele. Agora, se o dono do terreno – rico como o juiz e o prefeito – quiser deixar a terra parada durante anos, com o único objetivo de valorizar essa terra, pouco se lixando pros tantos brasileiros que não tem um teto pra morar, ele é ajudado pela justiça. No caso da ocupação Dandara em Hortolândia, o juiz nem aceitou que o proprietário sentasse pra conversar com o movimento e chegar a um possível acordo.

Se um trabalhador quiser manter seu emprego, quando o patrão bandido não paga seus direitos e sa-lários, a justiça atrapalha. É o caso da fábrica ocupada Flaskô. Está há 8 anos sendo gerida pelos trabalhado-res e o judiciário insiste em leiloar máquinas da fábrica. Agora também quer novamente penhorar o fatura-mento.

São muitas as injustiças cometidas pela justiça bra-sileira. Nesse número do jornal Atenção mostramos a luta de comunidades, coletivos e trabalhadores contra a violência do estado no Brasil e no mundo.

Com a união cada vez maior dos movimentos po-pulares da região, o Jornal Atenção passa a mostrar cada vez mais o que a imprensa burguesa não vai mostrar.

Editorial

mando de um proble-ma em seu bairro.

“Esgoto no Parque Bandeirantes existe?

Existe da casa até o muro e depois corre a céu aberto pelas ruas até as partes mais bai-xas do bairro. E nem pensar em andar nos dias de chuva nas ave-nidas, pois você vê

até canoa deslizando pelas ruas nas águas. Eu me pergunto até quando vai continuar assim?”, reclamou o morador.

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03/brasil

É verdade que o desemprego é o pior cenário para o traba-lhador. É quando ele quer vender sua força de trabalho, mas não consegue. O que faz da situação tão grave não é a falta de traba-lho, mas a necessidade de uma renda, que de outro modo o traba-lhador não tem se não vendendo sua força de trabalho.

Com a desculpa de combater fraudes e agilizar o sistema de emprego, as novas regras impostas ao sistema de seguro-de-semprego são apenas mais um ataque aos direitos dos trabalha-dores. O Governo Fe-deral determinou que para ter direito a esse benefício, o brasilei-ro precisa antes tentar encontrar um trabalho em pelo menos três empresas. No momen-to em que o trabalha-dor pede o seguro--desemprego, o nome e o perfil profissional constam automatica-mente no cadastro do Sine, um cadastro on-line que contém vagas oferecidas por empre-

ROLETA BRASILEIRA

Com as novas regras impostas ao seguro-desemprego trabalhadores brasileiros sofrem mais um ataque

sas e comércios locais. O novo sistema já

está funcionando no Piauí. Os dados serão cruzados e, se identifi-cadas oportunidades, o trabalhador tem de fazer a entrevista sob pena de ficar sem o be-nefício. "Se, por duas vezes, o trabalhador for convocado para aquela vaga de empre-go e não aparecer, sem justificativa, o seguro é cancelado", explicou Paula Mazulo, da Su-perintendência Regio-nal do Trabalho.

Para as novas for-mas de organização do trabalho, em que rei-nam as terceirizações, a flexibilização das leis trabalhistas e os con-tratos temporários, as novas regras do segu-ro-desemprego caem como uma luva. Se antes o trabalhador ti-nha ainda um refúgio no seguro desempre-go como forma de, em muitos dos casos, não aceitar condições mais precárias e predatórias de exploração do tra-balho, agora querem tirar dele até mesmo esse direito. Os patrões cavam o buraco cada

Para onde vai a grana do FAT?

O FAT é o Fundo de Amparo ao Trabalhador. É de onde sai a grana para pagar o seguro-desemprego. O Governo diz que to-mou essa decisão de impor novas regras para evitar as fraudes que aconteciam em todo o país. Mas a quem realmente servem estas reformas? Por acaso essa “economia com as fraudes” será revertida em mais direitos ou benefícios aos trabalhadores? Por acaso faz parte de um conjunto de medidas para aumento dos salários? Vemos que não. Recentemente, por exemplo, imensas quantias de dinheiro do FAT foram desviadas para ampliação da planta produtiva da empresa JBS (o maior frigorífico do planeta) em Lins-SP. Como divulgamos na edição passada, essa empresa é campeã em condições precárias de trabalho, acidentes graves e mutilações.

vez mais fundo, e o go-verno empurra os tra-balhadores para o abis-mo. As novas medidas do seguro-desemprego contribuem para a per-da de direitos: cada vez mais contratos tempo-rários, cada vez menos efetivos. Dessa forma gira a roleta brasileira. Se o Governo se mos-tra preocupado com as fraudes, por que não combate os contratos temporários perma-nentes?

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/brasil04

A comunidade indígena Santuário dos Pajés habita há 40 anos uma das últi-mas áreas de cerrado na-tivo do Distrito Federal. Esta comunidade exige de-marcação de uma área de 50 hectares no local. Mas o interesse de grandes cons-trutoras quer acabar com isso. As empreiteiras que-rem construir um bairro para pessoas de altíssima renda na região.

O Laudo Antropológi-co da área, encomendado pela Funai, ficou pronto e concluiu que a área é tra-dicional. Recomendou-se que o processo de demar-cação fosse iniciado para regularizar a área em favor da comunidade Santuário dos Pajés. Após essa infor-mação, a direção da Funai afirmou publicamente que o estudo é fraco e em segui-da sumiu sem pronunciar--se sobre a demarcação ou encaminhar o laudo para os órgãos legais.

Desde então algumas questões acirraram ainda mais o conflito. A Empla-vi, empresa especialmen-te interessada em retirar a comunidade indígena do local, invadiu a área em processo de demarcação e iniciou a construção irre-gular de um prédio.

A comunidade buscou apoio e começou a organi-zar ações contra as irregu-

Santuário dos Pajés luta contra a especulação imobiliária no Distrito Federal

laridades da Emplavi. Um grupo amplo de apoiadores do Santuário dos Pajés pas-sou a fazer ações em defesa da demarcação dos 50 hec-tares reivindicados. A Em-plavi realizou manobras le-gais, avançou em decisões jurídicas e recomeçou a construção. O movimento radicalizou suas ações e no dia 12 de outubro reocu-

pou a área, destruindo as construções já realizadas.

Na manhã do dia 13, a Construtora Brasal, em solidariedade à Emplavi, invadiu uma área a menos de 100 metros do núcleo do Santuário dos Pajés. A segurança privada da em-presa, junto com a polí-cia, realizou um conjunto de agressões muito mais

violentas. Dezenas de pes-soas ficaram feridas, um apoiador teve um corte na cabeça, um indígena foi es-pancado até ser rendido e preso. Outro apoiador foi desmaiado também sob detenção. A construtora passou com o trator nas estradas de acesso ao San-tuário dos Pajés, de forma que não se pode chegar de

carro ao local.Apesar dos ataques das

empresas e do estado, a luta dos moradores e apoiado-res continua na região.

Pra ver mais acesse http://sagradaterraespeculada.

blogspot.com/(fonte: passapalavra.info; texto de Paíque reescrito

por Jornal Atenção)

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05/brasil

A greve deflagrada em se-tembro pelos trabalhadores faz parte da campanha sala-rial da categoria. Os trabalha-dores exigem aumento sala-rial para compensar a perda sofrida pela categoria desde 1994 no salário real além de melhores condições de tra-balho. Mas além dos direitos reivindicados pela categoria, os trabalhadores lutam contra a política de privatização do governo iniciada nos gover-nos FHC e que os governos seguintes, do PT, continuam a fazer. Funciona assim: o governo não dá os reajustes e aumentos da categoria, deixa a empresa quase quebrada e

Trabalhadores se mobilizam por salário, melhores condições de trabalho e contra a privatização dos Correios

precariza o serviço público ao ponto da população e dos trabalhadores não mais su-portarem a situação. Daí pro-põe a privatização da estatal como solução e, em boa parte das vezes, essa privatização é financiada com o próprio di-nheiro público (do BNDES e/ou Fundos de Pensão). Isso aconteceu com Telesp (vi-rou Telefonica); Vale do Rio Doce (virou Vale); Embraer e CSN (essas duas mantiveram o nome), etc. E a mesma coi-sa o Governo pretende fazer com os Correios (Empresa de Correios e Telégrafos – ECT). Em nome da agilidade e efi-ciência do serviço ocorre a

privatização. Mas quem paga a conta? Em primeiro lugar é a população em geral, mas depois principalmente são os trabalhadores que per-dem seus direitos e passam a trabalhar sem estabilidade. Em nome da eficiência do serviço ocorre um aumento da exploração dos trabalha-dores. Mas o que se escon-de por trás de tudo isso é o grosso das finanças que vai para os patrões em forma de lucro ou de repasse do go-verno ao invés de se repas-sado para saúde, educação, saneamento básico, habita-ção, ou para o próprio servi-ço dos Correios. Manifestação dos trabalhadores: “Por um Correios público e de qualidade.

Fim da exploração. Não à privatização.”

Bancários fazem maior greve dos últimos 20 anos

res dos Correios. “Durante a greve, enquanto os ban-

cos privados ameaçavam os trabalhado-res e promoviam práticas anti-sindicais (como de costume, aliás), a mídia tratava de buscar reverter o apoio da população ao nosso movimento, incitando o gover-no a descontar o salário dos trabalhado-res em greve”, nos contou Rafael Prata, bancário.

Os bancários resistiam e ampliaram a mobilização. Os bancos retomaram as negociações com os bancários, após 17 dias de greve. A proposta - que foi aceita pela categoria nas assembléias – chegou

em 9% de reajuste salarial (1,5% de au-mento real), aumento do piso (entre 10% e 14%, dependendo do banco) e PLR maior do que em 2010.

“Não conseguimos avançar mais por-que o governo Dilma orientou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a endurecer contra o movimento sin-dical, para deleite dos bancos privados. Usou os companheiros dos Correios como boi-de-piranha de uma política contrária aos reajustes salariais - política que tende a se aprofundar nos próximos anos, devido ao desenrolar da crise capi-talista mundial.”, afirmou Prata.

Os bancários fizeram a maior greve dos últimos 20 anos, fechando mais de 9 mil agências e locais de trabalho durante 21 dias, em todos os estados do Brasil e no Distrito Federal. Realizaram piquetes, atos e passeatas em várias cidades e se so-lidarizaram com a greve dos trabalhado-

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/mundo06

Wall Street é o centro financeiro do Mundo. Lá, todos os bancos podero-sos do planeta se reúnem e planejam as políticas eco-nômicas mundiais. Wall Street fica em Nova Ior-que, nos Estados Unidos.

O aumento do preço do feijão no Brasil, a falta de carne em Cuba, o aumen-to da fome na África. Tudo isso tem a ver com as po-líticas tomadas por esse centro financeiro. Os paí-ses têm pouca autonomia. Se não aceitam as decisões políticas dos banqueiros de Wall Street, sofrem ata-ques. É o caso de Cuba, Venezuela e outros países.

E lá, nesse centro finan-ceiro nos Estados Unidos, milhares de pessoas es-tão fazendo ocupações de praças, ruas e prédios pú-blicos. Os manifestantes são pessoas que tiveram a casa tomada por não con-seguirem pagar as hipo-tecas durante a crise, são estudantes endividados que desistem dos cursos no meio por não conse-guir pagar, são os desem-pregados e muitos que não conseguem se inserir no mercado depois da crise. Muitos sindicatos e orga-nizações de bairro soma-ram-se a essa luta.

Este movimento surgiu da crise, desemprego e mi-séria nos Estados Unidos. Os Estados Unidos têm 46

Ocupações tomam ruas e praças em mais de 70 cidades nos Estados Unidos

milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. A taxa de desem-prego é de 9,1%. A crise começou em 2008 e nunca foi resolvida.

Começaram as mani-festações em setembro e foram duramente reprimi-dos pela polícia. Mesmo assim as manifestações cresceram e tomaram mais cidades dos Estados Uni-dos. Em outubro já eram mais de 70 cidades. Hoje vemos experiências seme-lhantes no Brasil e em di-versos países.

Segundo o jornalista Nathan Schneider, os mi-lhares de manifestantes querem criar assembléias do povo, tirar o poder des-ses poucos banqueiros e políticos que são donos do mundo. Querem um novo tipo de organização políti-ca para os Estados Unidos – contra a influência do dinheiro das grandes em-presas.

(fontes: passapalavra.info, texto de Charles-André Udry “EUA: Occupy Wall Street, prenúncio de um ‘novo bloco social’?” de 16/10/2011w w w. o u t r a s p a l a v r a s .net, entrevista de Nathan Schneider para o The Nation, traduzido por Vila Vudu, de 6/10/2011)

Primeiro as pessoasUma das palavras de ordem desse movimento é «Nós somos os 99%», significando que,

neste sistema, há 1% da população que manda e que dele tira as maiores vantagens. Esta rela-ção de 99% para 1% simboliza a repartição da riqueza social produzida nos Estados Unidos. Outra palavra de ordem é «Os bancos foram salvos. Nós fomos vendidos.». Ou seja, é posta em questão a política do governo e dos “senhores de Wall Street”.

Banco Mundial é uma espécie de congresso de agiotas. Os donos de bancos e políticos mais poderosos do mundo se reúnem para tomar decisões sobre as políticas econômicas do planeta. Depois tentam enfiar goela abaixo dos países. Na grande maioria das vezes o Banco Mundial consegue fazer o que quer.

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07/mundo

O dia 15 de Outubro de 2011 ficou marcado na his-tória como o maior processo de mobilização política a ní-vel global. A chamada feita pela juventude espanhola, os “Indignados” que ocuparam a Praça do Sol em Madrid no primeiro semestre deste ano e teve eco em todos os continentes. Manifestações massivas contra os efeitos da crise mundial e a insustenta-

Dia 15 de outubro foi marcado por mobilização mundial de ocupação de praças

bilidade do sistema capitalista se unificaram na bandeira da “Democracia Real”, reunindo milhões de pessoas em todo o mundo.

Acampamentos foram ar-mados em praças centrais das principais cidades. Em 82 pa-íses foram realizados protes-tos exigindo mais democra-cia e se opondo ao poder do capital financeiro. No Brasil, mais de 80 cidades aderiram

à chamada e organizaram atos e ocupações de praças. Em São Paulo, apesar da for-te chuva, mais de 200 pessoas ergueram um acampamento embaixo do viaduto do chá e lá permanecem até hoje. Em Porto Alegre, porém, foram quase 2000 indignados.

Em Campinas, aderindo à onda de protestos globais e endossado pela profunda crise política existente no

poder público municipal (responsável pela cassação do Dr. Hélio e pelo recente afastamento de Demétrio), um acampamento foi ergui-do em frente a praça da igre-ja matriz (ao lado da 13 de maio). Os manifestantes exi-gem a cassação de Demétrio Vilagra e a efetivação da “Fi-cha Limpa” para as eleições municipais. Ao mesmo tem-po, renegam a democracia

representativa e defendem uma democracia direta, com ampla participação popular. O acampamento de Cam-pinas vem crescendo, com novas barracas chegando a cada dia, e não tem data pra acabar.

Tais manifestações, com bandeiras de amplo apelo democrático, estão ligadas a toda uma conjuntura de crise política e econômica.

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Moda de viola com os operários da fábrica, roda de Samba, recreação com as crianças, baile nostal-gia dos anos 70, oficina de fotografia, churrasco, cervejada, tênis de mesa, futebol, baile sertanejo, bateria da Flaskô, almo-ços e jantares coletivos e muita confraternização com toda galera que foi convidada.

Só tivemos um proble-ma com o transporte que ia trazer o grupo de Te-atro Os Inventivos, que não puderam vim, pois a empresa de transporte não apareceu com a van. Mais uma nova apresen-tação vai ser organizada com esses camaradas.

Essa atividade foi cha-mada de Acampamento, porque organizamos uma retomada de um dos es-paços da Fábrica de Cul-tura & Esportes. Esse espaço estava sendo mal utilizado pelo professor de judô, descumprindo todas as decisões do co-letivo do espaço cultural. Inclusive há pouco tem-po, esse professor trocou as fechaduras, ameaçou dizendo que tinha ocu-pado o espaço e que que-riam ser os “proprietá-rios”, contradizendo tudo que a gente defende no

/fábrica de cultura08

1ª Acampamento Cultural na Flaskô

Movimento de Ocupação de uma Fábrica. A deci-são dos trabalhadores é coletivizar o espaço cul-tural, abrindo para novas atividades de esportes.

Já tivemos diversos voluntários que ensina-vam capoeira, tênis de Mesa, futebol, aulas de jogos de tabuleiro, recre-ação infantil, basquete, skate, teatro, cinema e vários outros grupos que estavam se aproximando. Mas numa forma impres-sionante o professor de judô conseguiu brigar com todos eles, causando o encerramento de todas essas atividades.

Esses camaradas pro-fessores voluntários alega-ram que enquanto o pro-fessor de judô estivesse no espaço eles não poderiam continuar. O impressio-nante é que foi unânime e todos saíram, todos!

Mas agora o espaço foi re-ocupado e tenham certeza que vai ser socia-lizado, pois defendemos que o espaço seja públi-co, seja da comunidade que não tem acesso a cul-tura e ao esporte.

Venham todos e todas, ainda estamos acampa-dos aqui, mobilizados pra defender o espaço coletivo.

No dia 20 de outubro acon-teceu na Flaskô o Fórum de Dependência Química da Área Cura, organizado pelo Posto de Saúde do Parque Bandeirantes, além de outros colaboradores, como a prefeitura, igrejas e a fábrica ocupada Flaskô.

O Fórum teve como objeti-vo principal colocar em conta-to diversos setores da comuni-dade que atuam na prevenção e nos cuidados com depen-dentes químicos e dependen-tes de álcool. Foi importante para conhecer os diversos

Fórum de Dependência Química da Área Cura aconteceu na Flaskô

tratamentos e as condutas que os trabalhadores da saúde têm com essas pessoas, da aborda-gem inicial até a necessidade de internação.

Foi discutido também a necessidade da criação de um Centro de Vivência da Área Cura, que tem a função de atender a comunidade dando auxilio psicológico à família e aos usuários de drogas. Foi reafirmado também a impor-tância de atividades de lazer e formação na comunidade, como acesso à cultura e es-

portes, pois mesmo não tendo ligação direta com o combate ao uso de drogas, servem para manter longe do tráfico crian-ças e adolescentes.

Vale ressaltar que o Fórum trouxe como ponto positivo a união de vários setores da comunidade que ainda não se conheciam, o que pode servir para articular melhor futuras parcerias na Área Cura. Esta experiência deve ser levada para as demais regiões de Su-maré, é o que esperam os or-ganizadores.

Fotos: Natasha Mota

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/luta pela comunicação 09

No Xingu, indígenas, agricultores e ribeiri-nhos poderão ser expul-sos para a construção de uma grande hidrelétri-ca, mas estão resistindo. No Rio de Janeiro, famí-lias exigem Justiça con-tra o Estado que exclui e extermina. Na região de Campinas, trabalha-dores fazem ocupações reivindicando terra e moradia, enquanto os operários da Fábrica Ocupada Flaskô lutam para manter o controle operário e a produção.

Em todos os lugares vemos movimentos de grupos se organizando contra a opressão, a ex-ploração. Mas isso não sai no Jornal Nacional, não sai na maioria dos cinemas e nem está na prateleira da maioria das locadoras.

Quando alguns gru-pos de comunicação popular se reuniram em Campinas para exi-bir trabalhos que dão visibilidade a esses processos, foi criada a Mostra Luta. O evento, organizado pelo Cole-tivo de Comunicadores Populares, chega em sua quarta versão e traz, além de filmes, quadri-nhos, teatro, fotografia,

4ª Edição da Mostra Luta começa dia 5 de novembro

Programação:5/1116h- Mesa de debate- A Memória da Luta dos Trabalhadores.18h- Abertura das exposições de fotografias, quadrinhos (organizado pelo Coletivo Misé-

ria) e materiais históricos do Centro de Documentação Vergueiro. 19h30- Filme clássico “Braços cruzados, máquinas paradas”, com a presença do diretor

Roberto Gervitz.

6/1114h- Filme “Videolência”.16h- Mesa de debate - Reflexões e Propostas sobre a luta do vídeo popular no Brasil.19h30- Ensaio aberto “Espaço de conflito”- Cia Estudo de Cena.

música e debates. Do dia 5 ao dia 13 de

novembro serão exibi-dos e discutidos temas que falam destas reali-dades. Falaremos de di-ferentes conflitos como esses citados no início do texto, além de ou-tros. Junto a isso, a Mos-tra Luta trará a discus-são sobre a memória da luta dos trabalhadores e movimentos sociais, com debates, exposições e exibição de filmes clás-sicos.

A Mostra acontece-rá no MIS (Museu da Imagem e do Som), em Campinas, localizado na Rua Regente Feijó, 859, Centro (Próximo à Catedral). A entrada é franca, claro! Todo mundo colando lá!

9/1119h30- Filmes: “Universidade em Crise” (clássico), “Nem santas,

nem putas (um dia de Marcha das Vadias)”, “Mulheres em movi-mento”, “Passeata contra a onda de estupros em Barão Geraldo!”, “Bailão”, “Sem-terrinha em movimento”, “Campanha nacional con-tra os despejos”,”Criminalizacão do artista - como se fabricam mar-ginais em nosso país”.

10/1119h30- Filmes: “Now” (clássico), “Racismo no Brasil”, “Hiato”,

“Luto como mãe”.

11/1116h30- Filme “Ciclovida”.19h30- “À margem do Xingu - vozes não consideradas”.

12/1116h- “A luta do povo” (clássico), “Movimento sem-teto ocu-

pa a Prefeitura de Hortolândia, “Nova ocupação do MST em Americana”, “Um dedo de prosa 2”, “Abuella grillo”, “America Lucha”.

19h- Pré-lançamento do filme - “Carlos Marighella: quem samba fica, quem não samba vai embora”.

13/1116h- “A pedra da riqueza” (clássico), “Tucuruí, a saga de

um povo”, “Flaskô: interesse social”, “Difusão comunitária He-liópolis”, “Migrantes”.

19h30- Encontro Cultural de Encerramento: “Marie Farrar” - Grupo de Teatro Cassandra, Flaskô Grupo de Teatro e Sam-ba de Boa.

*TODAS AS SESSÕES TERÃO NO MÁXIMO 1h30min DE FILMES.

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10 /artes

Coletivo M

iséria: Para ler m

ais charges entre em m

iseriahq.blogspot.comP

ara ler mais tirinhas entre em

tirasdamiseria.blogspot.com

SerigrafiaTrabalhos de serigrafia do artista carioca Eduardo Marinho.

Veja mais trabalhos do artista em observareabsorver.blogspot.com

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Suplemento Infantil

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Quadrinho de Quino, cartunista argentino. Acesse: www.quino.com.arQUINOTERAPIA

Desenho feito pelas crianças que participam do curso de História em Quadrinhos,realizado na Flaskô, todas quartas-feiras.

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Para Colorir

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Para mais informações falar com Batata | (19) - 9360-8220

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11/cultura

As rádios comunitárias e as rádios livres são meios de comunicação feitos por pes-soas comuns, que veiculam suas mensagens, suas músi-cas, sua arte, suas informa-ções. Serve para a galera das comunidades se comunicar, se ouvir, se identificar e poder receber algo diferente da ma-nipulação das grandes emis-soras, que mal conhecem os lugares de que falam.

Mas, infelizmente, os Governos não acham isso importante. Segundo Jer-ry Oliveira, coordenador da ABRAÇO (Associação Bra-sileira de Rádios Comunitá-rias), a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunica-ções), junto com a Policia Federal, realiza uma grande operação de fechamento das rádios no Brasil. Só na região de Campinas, os agentes ten-taram fechar nove emissoras, mas só conseguiram fazer isso com uma. Como já esta-vam sabendo das operações, os radialistas organizados conseguiram resistir e impe-dir mais fechamentos.

No dia 15/09 a Rádio Muda (rádio livre localizada na Unicamp) recebeu a visita de dois agentes da Policia Fe-deral à paisana. Segundo uma das participantes do coletivo, eles chegaram pedindo para conhecer o lugar, mas deixa-ram cair uma carteira e foram

Operação tenta calar a voz das rádios

descobertos. Mesmo com as autoridades dentro da rádio, os programadores consegui-ram retirar o transmissor. Outros agentes tentaram se-guir o automóvel que levava o transmissor mas os pro-gramadores, no mesmo ins-tante, fizeram uma corrente e não permitiram a passagem deles. Houve uma entrevis-ta filmada com esses agentes que estavam dentro do carro, cobrando a necessidade de permissão da Reitoria para entrar no campus. Vendo que não tinham outra opção, os policiais foram embora. A Rádio Muda, logo depois, continuou sua transmissão (88,5 FM) e continua na luta.

Instalações da Rádio Muda localizada na Unicamp

Ato contra a criminalização das rádios comunitárias em frente à Rede Bandeirantes, em Campinas

Para saber mais sobre as rádios comunitá-rias, acesse abracosp.blogspot.com, para saber mais sobre as rádios livres acesse radiolivre.org. Veja também o vídeo no You Tube - “3 X 1 Rádio Muda”, feito na hora da chegada dos agentes à Rádio Muda.

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12 /fábrica ocupada

Mais uma vez a Flaskô sofre um ataque. Mais uma vez este ataque ocorre via Poder Judiciário. Já sofre-mos diversas tentativas cla-ras de fechamento da fábri-ca ocupada.

Em 2003, quando o pa-trão abandonou a fábrica, a instabilidade e insegurança eram muito grandes. Os pa-trões quiseram fechar a fá-brica, mas os trabalhadores se organizaram e garantiram a continuidade da produção e da defesa dos empregos. De lá para cá, foram mais de 200 leilões de máquinas, pre-judicando a continuidade da Flaskô, tudo para pagar dí-vidas da época dos patrões. O Poder Judiciário iniciava a contradição de cobrar dos trabalhadores a responsabi-lidade pela sonegação fiscal dos patrões.

Em 2007, o maior golpe contra as ocupações de fábri-ca veio do Poder Judiciário, com o apoio de 150 Policiais Federais. A intervenção cri-minosa acabou com o con-trole operário nas fábricas Cipla e Interfibra, em Join-ville/SC. Tentou-se destruir a Flaskô, mas esta conseguiu resistir e depois de 45 dias sem luz retomou a produ-ção e seguiu como exemplo para a classe trabalhadora. É bom lembrar o que o juiz de Santa Catarina, aliado dos

A Flaskô luta contra a injustiça do Poder Judiciário

empresários, disse em 2007: “imagina se a moda pega?”. Isso mostra o medo da clas-se empresarial em relação as experiências de gestão dos trabalhadores sem patrão.

Na Flaskô, todos estão cientes de que a luta conti-nua, pois justamente os inte-resses da classe trabalhadora são contrários aos dos capi-talistas. O Estado é seu “co-

mitê de negócios” e o Poder Judiciário é onde muitas de suas decisões são tomadas. Por isso, sabe-se que para garantir seus direitos os tra-balhadores da Flaskô esta-rão nas ruas, pressionando junto com seus apoiadores, moradores da Vila Operária, da periferia de Sumaré, com sindicalistas, militantes do MST, do MTST e do MTD,

para que as conquistas his-tóricas realizadas a partir da Flaskô continuem.

Ato público contra leilões e penhoras

de faturamentoNo último dia 07 de ou-

tubro os trabalhadores da Flaskô estiveram num ato público no centro de Sumaré

denunciando os ataques do Poder Judiciário. Desta vez, o ataque se deu com o início de mais um leilão de máqui-na da Flaskô, que caso seja arrematada, levará ao fecha-mento da fábrica, e o fim de todas as conquistas sociais, como a ocupação da Vila Operária e as atividades da Fábrica de Cultura e Esporte.

A dívida do processo em

Traballadores no ato contra os leilões do dia 7 de outubro

Foto: Cristina Beskow

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Unificação das execuções fiscais? Significa reunir todas as dívidas deixadas pelo

patrão e pagar mensalmente uma porcentagem do faturamento da fábrica.

Desconsideração da personalidade jurídica?

Significa atingir os bens dos sócios da Flaskô que fizeram a dívida na época do patrão, ao invés de insistir em leiloar os bens da fábrica ou penhorar o faturamento da gestão dos trabalhadores.

questão é de 1998, da épo-ca do patrão. A lei diz que a dívida deve ser cobrada de quem a fez. A gestão ope-rária também explicou que junto com os leilões, as pe-nhoras de faturamento são indevidas, pois já somam mais de 300%, e, neste caso, com base na lei, a Flaskô pro-pôs diversas medidas para resolver a questão, para que os credores, entre eles o Es-tado, recebam as dívidas dei-xadas pelos patrões, seja via unificação das execuções fiscais*, seja com a descons-tituição da personalidade

jurídica*. A Constituição Federal e

as demais leis demonstram que os trabalhadores não po-dem pagar pelas dívidas dos patrões, ainda mais quando os trabalhadores não têm seu direito de defesa garantido. Quando é para se defender, os trabalhadores não são reco-nhecidos pela lei como legíti-mos representantes da Flaskô. Por outro lado, quando é para responsabilizar, criminalizar, a gestão operária é reconheci-da pelos Juízes. Ora, tal con-tradição do Poder Judiciário não pode continuar!

Não há dúvidas de que o que é pedido pelos trabalha-dores da Flaskô está na lei e por isso deve ser garantido. Não é esta a função do Po-der Judiciário? A Flaskô es-tará em luta para fazer valer seus direitos e contará com o apoio de todos para que na prática suas conquistas sejam garantidas e assim avançar para a efetiva transformação social. Desta forma, seguem firmes contra o fechamento da Flaskô, dizendo “Juiz, vá cobrar as dívidas do patrão, leiloando sua fazenda e sua mansão!”

O que são:

Orquestra Filarmônica de Sumaré, que fez apresentação na Flaskô na quarta-feira, dia 26 de outubro de 2011

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14 /moradia

Neste galpão, enquanto acontecia a aula de desenho com as crianças (realizada pelo setor de cultura da fá-brica ocupada), na quarta feira, 26 de outubro, o Jornal Atenção escutou o depoimento de Lenilza, 55 anos, mo-radora da ocupação Dandara:

“Tava muito difícil a vida que eu tava levando. Meu marido ganha mil e cem reais e a gente pagava qui-nhentos reais de aluguel. Eu tenho

Assembléia do MTST na fábrica ocupada flaskô

Após despejo, MTST recebe solidariedade da Flaskô

Depoimento de moradora do Dandara

À população de Hortolândia

Desde 13 de agosto, centenas de famílias ocuparam o terreno aban-donado no Jardim Minda em Hor-tolândia, construindo ali um espaço concreto de luta e resistência frente à opressão diária ao trabalhador que reside na periferia urbana Brasilei-ra.

Após dois meses de Dandara, a polícia invadiu na segunda-feira (24/10) de madrugada com cente-

Carta do MTST a população de Hortolândia após o despejo da ocupação Dandara

3 filhos desempregados e uma neta, tomo dois remédios pra osteoporose, e a vida que a gente levava pagando aluguel era muito dura, o dinheiro não dava, a gente abria a geladeira e tava vazia, passava fome mesmo.

Depois que entrei pro movimen-to, pro MTST, parei de pagar aluguel e nunca mais passei fome. Por isso vou com o movimento onde ele for. O MTST mudou minha vida.”

nas de viaturas a ocupação, para re-alizar um despejo surpresa.

Trata-se de mais um dos inúme-ros ataques ao povo brasileiro, re-presentado aí por mais de 800 famí-lias que ali depositam esperança na luta por moradia e vida dignas.

A luta deve prosseguir e a resis-tência será fundamental para a vitó-ria das famílias.

OCUPAR! RESISTIR! E MORAR AQUI!MTST! A LUTA É PRA VALER!

Os moradores do acampamento Dandara receberam a solidariedade dos trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô e estão acampados em um galpão da fábrica, em Sumaré

Foto: Natasha Mota

Foto: Fernandão Martins

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/moradia 15

Bilhões de pessoas no mundo estão privadas de uma habitação ou de condi-ções mínimas para uma moradia digna. Essa característica revela o alcance da expropriação social do mundo globa-lizado da mercadoria, que lança seres humanos a um circuito de humilhações e sofrimentos, além de os expor a riscos de morte pela iminência de desmorona-mentos, soterramentos, deslizamentos de encostas etc. No Brasil, o problema é crônico. Dados oficiais indicam o dé-ficit de aproximadamente 6,3 milhões de moradias, contestado por muitos pesquisadores e pesquisadoras por não abarcar um quadro de degradação que é maior e mais amplo.

Mulheres e homens Sem Teto in-surgem-se contra essa situação e des-cobrem que só um processo coletivo, organizado e diversificado de lutas pos-sibilita erradicá-la. Com isso, passam a atuar como movimentos sociais, or-ganizados politicamente. Essa atuação não contém apenas o clamor de rever-ter a precariedade material: de alguma maneira, agrega também a expectativa de participar da construção da vida cotidiana em outros termos, sem a ex-propriação do tempo, do espaço e das capacidades criativas.

Diante dessa atuação crítica dos Sem Teto, o sistema econômico e o aparato de poder revelam a barbárie enraizada. O papo é reto: sem casa e tiro no Sem Teto.

Destacamos, dentre vários, três fa-tos violentos envolvendo militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que motivaram a realização desta Campanha. Além do mais, está sendo elaborado um relatório, que apresen-tará outros fatos violentos e trará mais

informações sobre os elencados neste manifesto.

No Amazonas, estado assolado pela grilagem, houve uma série de ameaças seguida de tentativas de homicídio ao companheiro Júlio César e a compa-nheira Jóia, integrantes das coordena-ções estadual e nacional do Movimento. O companheiro Júlio sofreu sete atenta-dos e encontra-se entre as trinta e uma pessoas listadas pela Comissão Pastoral da Terra, no estado, com ameaças de morte geradas da luta por terra ou mo-radia. Em virtude das ameaças, sua filha recém-nascida permanece escondida. A companheira Jóia foi ameaçada, com arma na cabeça, por policiais militares do Amazonas, que ocultaram a identi-ficação.

Em Minas Gerais, no dia 14/06/2011, a companheira Elaine (uma das coorde-nadoras do MTST no estado de Minas) e sua filha Sofia (de apenas quatro anos) sofreram uma tentativa de homicídio. A menina Sofia só não foi morta porque a arma, apontada para sua cabeça, tra-vou depois de três tentativas. Ao chegar desesperado ao local, o companheiro Lacerda, pai de Sofia, no momento da fuga com a menina foi alvo de disparos que não o atingiram. O comportamen-

to da polícia de Minas Gerais diante do horror transcorrido figura como mais um exemplo da criminalização em curso da pobreza e dos Movimentos Populares, marcado pela seletividade racial. O companheiro Lacerda, vítima de tentativa de homicídio, foi coloca-do, momentaneamente, na posição de criminoso, por meio da acusação de porte de arma e desacato à autoridade. Alguns companheiros e companheiras que presenciaram o horror e a posterior atuação da autoridade policial sofre-ram, ainda, ameaças anônimas.

No Distrito Federal, o companhei-ro Edson, da coordenação nacional do MTST, teve sua casa invadida por dois homens, na noite de 6 de setembro, que dispararam 18 tiros. Um dos tiros atin-giu o companheiro, de raspão. Meses antes, Edson sofreu um grave constran-gimento institucional ao ser arrolado como testemunha de defesa num pro-cesso. Inicialmente, foi objeto de uma tentativa de ser conduzido a força para depor. Ao chegar no Fórum, sofreu pressões psicológicas. O episódio foi tão absurdo que o companheiro foi manti-do no Fórum após o seu fechamento e ainda sob pressões; só foi retirado do lo-cal por causa da manifestação insistente

Sem Teto com vidaPorque o papo é reto: sem casa e tiro no Sem Teto

do advogado, acionado por mensagem telefônica, enviada às escondidas. O es-tranho ocorrido figura como mais um exemplo da criminalização em curso da pobreza, dos Movimentos Populares, marcado pela seletividade racial.

Além dos fatos denunciados, é im-portante destacarmos o papel dos inter-ditos proibitórios e tutelas inibitórias na criminalização das lutas dos Sem Teto. Esses mecanismos jurídicos já foram utilizados, por exemplo, nos municí-pios paulistas de Itapecerica da Serra, Taboão da Serra, Embu das Artes, Su-maré, Mauá para coibir o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de se reu-nir em espaços públicos e prédios dos municípios.

Ante o exposto, sem teto com vida.Participem das atividades da nossa

Campanha (a serem divulgadas), cujo início acontecerá no dia 4 de outubro de 2011, com um ato público no Senado Federal (Plenário 2, Ala Senador Nilo Coelho), às 9 h. Pedimos que assinem nosso manifesto!

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO

(MTST) E RESISTÊNCIA URBANA FRENTE NACIONAL DE

MOVIMENTOS.

Moradores da ocupação Dandara durante despejo no dia 24 de outubro

Foto: Natasha Mota

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16 /luta pela terra

O Jornal Atenção entrevis-tou Élzio, de 69 anos, carpintei-ro, produtor rural e assentado da Comuna da Terra Elizabeth Teixeira, em Limeira - SP.

Atenção - Seu Élzio, há quanto tempo você está no MST (Mo-vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)?

Élzio - Desde 2005.

Atenção - Por que você entrou no movimento?

Élzio - Eu entrei no movimen-to foi por opção, por uma ide-ologia. Foi pra fazer um traba-lho. Um trabalho de base com

Jornal Atenção | Entrevista

as crianças. Fazer um viveiro pedagógico, fazer uma carpin-taria, né? Fazer junto com os outros companheiros, pra ver se a gente consegue formar as pessoas, o que é muito im-portante. Pra poder ensinar as crianças e os demais. Pra ver se a gente consegue retorno, lá na frente, das pessoas. Não retor-no financeiro, mas retorno das pessoas.

Atenção - Então você já entrou no movimento pensando na formação das crianças?

Élzio - Isso. Tamo conseguin-do já dar os primeiros passos sobre o viveiro, a estufa e a car-

pintaria. A carpintaria tamo até com um barracãozinho feito já.

Atenção - Quantas pessoas es-tão envolvidas nesse projeto?

Élzio - Umas 10 pessoas envol-vidas, o pessoal da Unicamp tá junto com a gente. Tá difícil en-volver a criançada, mas vamo conseguir, eu gostaria muito de fazer essa formação, tamo tentando há um tempo e ago-ra vamo conseguir. Comprei as lona, fui juntar madeira pra levantar as estruturas...

Atenção - E como é que você tá enxergando o Brasil, a políti-ca, a luta pela terra...?

Élzio - Muito difícil, né? As pessoa fica tão distante, né? Porque no tempo do Fernan-do Henrique tinha uma coisa pra nóis conversar, né? Hoje tá mais difícil, o povo tá desinte-ressado.

Atenção - E como você pensa a formação?

Élzio – Tem a história de um russo, um ministro russo, que tinha um filho de cinco ano de idade mais ou menos. Daí o filho perguntava pro pai: "Pai, vamo jogá bola na praça?". E o pai respondia "Não!". "Pa-pai, vamo andar de bicicleta?", "Não!". Daí um dia o pai se

aborreceu com o filho, pegou um mapa do mundo, rasgou o mapa inteirinho, e disse pro filho: "O dia que cê conseguir montar esse mapa eu vou sair com você, vou na praça com você" . Uma hora depois volta o menino com o mapa pronto, montadinho. O pai dele disse assim: "Meu filho, foi seus ir-mão que te ajudou?" "Não, pai" "Foi a mamãe que te ajudou?", “Não, pai. É que do outro lado do mapa tinha a figura de um homem e eu reconstitui o ho-mem. Eu sei onde tá a cabeça dele, as perna os braço e re-constitui o homem. Quando virei tava o mapa pronto". Daí

Foto: Natasha Mota

Foto: Natasha Mota

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15/luta pela terra 17

A presidente Dilma não desapropriou nenhuma fazen-da até agora desde que come-çou seu mandato. Já rejeitou 90 processos de desapropria-ção. Apenas o governo de Fernando Collor tinha ficado tanto tempo sem desapropriar uma área para assentamento rural.

Duas ocupações foram rea-

Unidos, presentepoesia de André e Isaque, jovens do acampamento Helenira Rezende

Movimento Sem Terra é o MST.Tamos na luta por justiça e ninguém vai nos detê,de mãos dadas, unidos, o latifúndio va-mos vencê.Homens, mulheres, crianças, jovens, eu e você.Que vai entrá na luta e ter a nossa vitória.É a conquista de nós todos que vai ficar na história.Com os pés daquela senhora que está disposta a marchá a qualquer hora.A marchá por uma vida melhor a qual desce de muitos rostos um cansa-do suorque do lado de forao latifúndio não tem dó.Mas aqui dentro somos unidos e ninguém vai ficar só.Meu sofrimento eu passo,passo na união.Minha alegria eu divido,divido com meus irmãos.A esperança de um diater um pedaço de chãoe falar para meus filhosque conquistei com as mãos.Na onde no passado e no futuroestamos sempre.Quando chega o choque,ninguém sorridente. É uma infelicidadeque cai na gente.E a esperança do coraçãodeixa o povo valentevendo o barraco e a lona preta esquentá,e as crianças dentro.E ao escurecer sem coberta vai esfriá.Mas que sofrimento.Se for na prefeitura

não vai adiantá,prefeito nem tá vendo.Se depender dos políticos de lá pra cá,isso é um veneno.Se chamar a TV pra nos ajudarHuuuummmmm, isso já to vendo.Mas chegando lá vão contrariar,isso é de menos.A noite na portaria,polícia nós tem que vigiádebaixo do sereno.De dia na portariapra polícia não entrá.Usina tá querendo.Leite pra ciranda ninguém quer doá. Criança tá querendo.Os corre todos os dias pra nos alimentá.O povo tá sofrendo.É correria, todos os dias,cada colherada que a criança dava em seu prato ela sorria.E se sofremos, sofremos juntos, mas se sorrimos, sorrimos todos.Os grandes do lado de fora falam que são maioria, e que nós aqui dentro, somos a minoria.Mas eles não sabem que a cada dia, o movimento cresce. Nós agradece, movimento black, que tá com nós em nossa casa, também fábrica ocupada,e tamos unidos com o mesmo grito dos excluídos.E na luta mudando a nossa vida, lutando juntos la via campesina.Índigenas e sem teto, lutando juntos e sérios.Conte com nós, sempreporque o acampamento Helenira Rezende, está sempre presente.

Poema

Reforma Agrária não aconteceu no governo Dilma

lizadas recentemente na região de Campinas em área grilada pela Usina Ester, em Ameri-cana. Infelizmente, a justiça se definiu pela manutenção da posse - mesmo que ilícita - pela Usina Ester. Os trabalhadores rurais que foram despejados se encontram hoje numa área cedida provisoriamente pelo Assentamento Milton Santos.

tem aquela mensagem: "Só vamo conseguir melhorar esse mundo quando nóis conseguir reformar o homem, mudar o homem”.

Atenção – E como anda a vida, o dia a dia?

Élzio - É um desafio pra gen-te. A gente tem um pique que é de astutar. Eu me assustou com meu pique. Eu levanto todo dia as 5 e meia da manhã. Agora as 4 e meia, né? Nesse horário de verão, famigerado horário de verão queu não gosto não... Aí eu levanto, vou cuidar da minha vida, traba-lho duas horas mais ou menos até três horas por dia na horta social...

Atenção - Essa horta social é em uma área coletiva?

Élzio - Isso uma área coleti-va em que nóis tamo fazendo uma barragem pra fazer uma horta coletiva... depois eu tra-balho no meu lote...

Atenção - E o que você acha da juventude do movimento?

Élzio - A juventude precisa de formação. Eu luto muito pela formação das pessoas. As pes-soas vim pro movimento e ter uma formação. Quando eu cheguei no movimento eu já tinha uma formação política, uma formação de vida. A luta nossa é pra formar a mulecada.

Atenção - Quer falar mais al-guma coisa que você acha im-portante?

Élzio - De importante... gosta-ria que as pessoas se engajas-sem mesmo na luta e deixasse um pouco de hipocrisia. Fosse engajado mesmo na luta com os companheiros, afinal de contas o MST foi formado pra fazer a formação das pessoas e pra ajudar as pessoas mais ne-cessitadas. O que eu acho da vida é isso: a gente partir pra formar as pessoas e ajudar os mais necessitados.

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18 /galeria - Encontro dos Sem-Terrinha - 29/10 | Fotos: Gabriela Carvalho

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/galeria - Encontro dos Sem-Terrinha - 29/10 | Fotos: Gabriela Carvalho

No sábado (29/10) aconteceu no Acampa-mento Milton Santos, em Americana, mais um encontro dos Sem-Terrinha. Este encon-tro teve vídeos e diversas oficinas, dentre elas de contação de histórias e de bateria, realizada pela bateria da Fábrica Ocupada Flaskô.

Também participaram do encontro os es-tudantes do Coletivo Universidade Popular da Unicamp.

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Ajude a Salvar o planeta. A Flaskô, fábrica ocupada, aceita doações de material plástico para reciclagem. O projeto pretende ajudar a retirar o lixo das cidades e ao mesmo tempo, através da reciclagem produzir novos mate-riais.

Entre em contato com com Chaolim, no telefone: (19) 38642139

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Doações para salvar o meio ambiente

Os trabalhadores da Uni-camp estão em greve desde 18 de outubro lutando por isonomia com a USP (para ter o mesmo salário dos fun-cionários da USP). A MOBI-LIZAÇÃO cresce a cada dia.

Trabalhadores químicos em luta

Os trabalhadores do ramo químico em todo o país estão em campanha salarial. Mesmo com crescimentos gigantescos no faturamento e milhões em emprestimos do BNDES para o setor, a patronal pouco quer oferecer aos trabalhadores. A última informação fornecida pelo Sindicato dos Químicos Unificados fala em uma pro-posta de reposição da inflação e um aumento de 2%. O que significa muito pouco com a escalada dos preços nos alimen-

tos. A cada dia, comida, aluguel e serviços básicos, como energia e telefone, estão mais caros. Este aumento não vai durar 2 ou 3 meses de inflação.

A verdadeira pauta para a categoria seria a redução da jor-nada de trabalho para 40 horas semanais, mas parece que pou-co se fez sobre a questão. É ne-cessários ficar de olho. Porque as assembléias serão nos dias 12 e 13 de novembro, e se não ti-vermos aceitas nossas propostas temos que ampliar a luta.

Trabalhadores da Unicamp lutam por isonomia

No site do STU(Sindicato dos Trabalhadores da Uni-camp) www.stu.org.br, en-contramos as palavras dos trabalhadores:

"Sabemos que há dinheiro em caixa, que o ICMS não

para de crescer e que os gas-tos com as obras dentro da Unicamp estão a pleno va-por, então queremos nossa parte em forma de valoriza-ção do trabalhador: ISONO-MIA JÁ!"