Jornal AFROLAGOS edição nº 1

12
_________________________________________________________________________________________________________________________ Jornal Afro-Lagos - Ano I - Número 1 - Julho/Agosto de 2011 - Distribuição Gratuita Afro-Tamoios – Crescimento desordenado (Pág. 4) Meio Ambiente – A cultura africana e meio ambiente (Pág. 5) Educação – Que educação temos? Que educação queremos? (Pág. 5) X da Questão – Dia 04 de setembro, Parada LGBT em Cabo Frio (Pág. 7) Cabeça de Negro – O mapa do poder na Região dos Lagos (Pág. 9) Aldeia Afro – A importância da Lei 10.639 (Pág. 9) Juventude em Foco – Precisamos deter o extermínio de Jovens Negros! (Pág. 10) Direito do Consumidor – Dano Moral: Dando o que cada um merece (Pág. 10) Brasil – Saúde da População Negra (Pág. 11) Aqui acontece – O primogênito (Pág. 12) Acesse nosso blog www.afrolagos.blogspot.com MÃOS QUE EMBALAM A NAÇÃO Mulheres negras ainda lutam para superar limites gerados pelos estereótipos - páginas 6 e 7 VERA DO AGBARA Criadora de um dos pri- meiros blocos afros do Brasil, Vera falece no Rio de Janeiro e deixa um legado de grandes realizações na área cul- tural. Nos anos de 1980 o bloco afro Agbara Dudu marcou época nas ruas de Madu- reira. Era ao mesmo tempo ponto de encon- tro, local de namoro e, principalmente de grande efervescência culturla, não só p arao Movimento Negro, mas para todos que curti- am a cultura negra. Pag. 3 ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA Márcia Fonseca, professora fundadora do GRIOUT e ativista cultural. Marcia do Jongo é a nossa entrevistada do mês. Pág. 4

description

Capa: "As mãos que embalam a nação - mulheres negras ainda lutam para superar limites gerados por estereótipos"; Entrevista: Profª Marcia Fonseca; Líder lembrado: Vera Lucia Mendes, Vera do Agbara Dudu...

Transcript of Jornal AFROLAGOS edição nº 1

Page 1: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

_________________________________________________________________________________________________________________________Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Jornal Afro-Lagos - Ano I - Número 1 - Julho/Agosto de 2011 - Distribuição Gratuita

Afro-Tamoios – Crescimentodesordenado (Pág. 4)

Meio Ambiente – A culturaafricana e meio ambiente (Pág. 5)

Educação – Que educação temos?Que educação queremos? (Pág. 5)

X da Questão – Dia 04 desetembro, Parada LGBT em CaboFrio (Pág. 7)

Cabeça de Negro – O mapa dopoder na Região dos Lagos (Pág. 9)

Aldeia Afro – A importância da Lei10.639 (Pág. 9)

Juventude em Foco – Precisamosdeter o extermínio de JovensNegros! (Pág. 10)

Direito do Consumidor – DanoMoral: Dando o que cada ummerece (Pág. 10)

Brasil – Saúde da População Negra(Pág. 11)

Aqui acontece – O primogênito(Pág. 12)

Acesse nosso blog

www.afrolagos.blogspot.com

MÃOS QUE EMBALAM A NAÇÃOMulheres negras ainda lutam para superar limites gerados

pelos estereótipos - páginas 6 e 7

VERA DO AGBARACriadora de um dos pri-meiros blocos afros doBrasil, Vera falece noRio de Janeiro e deixaum legado de grandesrealizações na área cul-tural.

Nos anos de 1980 o blocoafro Agbara Dudu marcouépoca nas ruas de Madu-

reira. Era ao mesmo tempo ponto de encon-tro, local de namoro e, principalmente degrande efervescência culturla, não só p araoMovimento Negro, mas para todos que curti-am a cultura negra. Pag. 3

ENTREVISTAENTREVISTAENTREVISTAENTREVISTAENTREVISTA

Márcia Fonseca, professora

fundadora do GRIOUT e ativista

cultural. Marcia do Jongo é a nossa

entrevistada do mês. Pág. 4

Page 2: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

________________________________________________________________________________________________________________________2 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

E X P E D I E N T EJornalista Responsável: Rosana Batalha - MTb: 19.298

Editor chefe: Marcos Chaves

Corpo Editorial: Marcos Chaves, Margareth Ferreira e

Rosana Batalha

Diagramação: Marcio Alexandre Gualberto

Departamento Comercial: Cleyde Araujo

Conselho Editorial: Fernando de Almeida Campos, GersonTheodoro (Togo), José Leandro de Souza Oliveira, Paulo daGama (Da Ghama), Roberta Cruz Santos, Rogério CarvalhoConceição, Rosália de Oliveira Lemos, Sérgio Rodrigues Santos,Simone Pagels Loureiro e Sônia Maria Santos

Colunistas: Dalva Mansur, Ivanéia Gomes, Joseane Araújo, LuizFelipe

Ferreira Marinho, Luiz Felipe Oliveira e Rodolpho Campbell

CNPJ: 07.413.165/0001-34

Telefone: (22) 9975-7900/7813-4402 ID:106*140139

E-mail: [email protected]

Blog: www.afrolagos.blogspot.com

Circulação: Cabo Frio, Araruama, Armação dos Búzios,

Arraial do Cabo, Casimiro de Abreu, Macaé, Maricá, Iguaba

Grande, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia e Saquarema

Fotolito e Impressão: Tribuna dos Municípios

Tiragem: 3.000 exemplares

OBS: Os artigos assinados são de inteira e totalresponsabilidade de seus autores

Fazer o melhor que podemos não é o sufici-ente para nós.

Em geral percebemos isto ainda cedo e ten-tando encontrar um caminho cada vez maisfirme para este entendimento, vamos dei-xando mais evidenciado o sentimento deque nada será o bastante em momentoalgum.

Muito embora tenhamos como alento os en-sinamentos derivados das práticas religiosasque professamos, quer seja na matriz afri-cana, preservada por sua oralidade:

“O TEMPO DÁ, O TEMPO TIRA, OTEMPO PASSA E A FOLHA VIRA.”

Ou, naquela que aprendemos a conheceratravés do processo de colonização, dematriz ocidental cristã, escrita nos livrosbíblicos como em Eclesiastes 3:01:

“TUDO TEM O SEU TEMPODETERMINADO, E HÁ TEMPO PARA TODO

O PROPÓSITO DEBAIXO DO CÉU.”

Muitas vezes deixamos nos conduzir pelasensação de que ainda não nos firmamoscomo nação, por ceder aos impulsos esta-belecidos a partir daquilo que separa e quealimenta diariamente o ódio e as intole-râncias, não somente da sociedade exclu-dente de uma única cor, mas também pelaambição e sede de ocuparmos os poucos lu-

gares destinados a nós, mesmo em detri-mento das conquistas sociais mais perma-nentes que os novos discursos acadêmicos es-tabeleceram como políticas públicas.

Ouvir é uma das formas de assimilar, trans-mitir e reproduzir pensamentos e conheci-mentos, muito embora não valorizemos tantoquanto deveríamos aqueles que historica-mente vieram antes de todos os outros.

A verdade absoluta sobre o tempo é sua per-severante maneira de demonstrar a circula-ridade presente no âmago de todas as nossasações.

Então voltamos ao início de tudo, apresen-tando a força e a luta das mulheres negrasem nossa sociedade, cujo trabalho incansávelamamentou, criou e educou; limpou, cuidoue preservou; rezou, zelou e dignificou afilosofia, a cultura e as pessoas que delas seserviram. Precisaram, usaram, abusaram e aseguir desqualificaram em um poderosoprocesso de violência, invisibilidade enegação de direitos.

Ainda que o tempo possa corrigir distorçõese injustiças, homenagens póstumas precisamser cada vez mais raras, porque as verdadei-ras homenagens devem ser feitas agora,porque são o verdadeiro PRESENTE.

Assim o JORNAL AFRO-LAGOS pretendecontribuir, trazendo sempre INFORMAÇÃO,POLÍTICA e TRANSFORMAÇÃO a pessoas quetradicionalmente não são o público alvo detodas as outras mídias: VOCÊ!

SÓ ISTO E MAIS NADA(Por Margareth Ferreira)

Sou Negra e feminista.

Sou mulher.

Faço parte do grupo das que fazem política.

Social, partidária e comunitária.

Invisibilizadas em gênero e grau.

Também sou daquelas que sofrem diariamente a violência da exclusão,

Mas que assim mesmo lutam por sua identidade e afirmação.

Somos mulheres.

No sentido mais plural, complexo e diverso.

Por isto nosso querer é assim: diferente.

Queremos LIBERDADE!

LI-BER-DA-DE.

De Expressão, escolha e opção.

Sexual.

Religiosa e Transgressora.

Liberdade para querer ou não querer.

Falar ou silenciar.

Fazer amor e amar. Homens ou mulheres.

Liberdade para ter filhos e ser mamãe ou simplesmente não ter para não ter queser.

Trabalhar, ser profissional, conquistar espaços ou apenas nos deixar manter...

Queremos viver sem os determinismos e expectativas alheias

Para sermos as dirigentes das nossas próprias vidas.

Queremos escolher o piso da cozinha, a cor do carro, o destino da viagem deférias,

E ainda o nome da candidata em quem votar nas próximas eleições.

Queremos ser sem ter que dizer porque.

Queremos TUDO ao mesmo tempo em que queremos apenas

A plenitude do direito aquela espreguiçada no fim da tarde,

De um por de sol na beira da praia...

Só isto; depois do cansaço e,

Mais nada.

Page 3: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

_________________________________________________________________________________________________________________________Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação 3

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

O Rio de Janeiro perde sua “Força Negra”Fundado no bairro de Madureira, subúrbio do Riode Janeiro em 4 de abril de 1982, o Agbara Dudusignifica "Força negra" em yotubá.

Considerado o primeiro bloco afro do Rio de Ja-neiro, ainda que existissem três anteriormente:Afoxé Os Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro (fun-dado por trabalhadores da zona do Cais do Por-to do Rio de Janeiro), Dudu Éwe, do Morro daMangueira, fundado em 1980 e o Afro Axé TerêBabá (fundado em 1981 no Largo das Neves, emSanta Tereza), todos com características deafoxé, isto é, saiam no carnaval cantando te-mas de blocos baianos (Afreketê, Olori, Oju-Obá,Muzenza, Malê-Debalê, Badauê e Ijexá Filhos deGandhi) e músicas ligadas à religião africana,não mantendo trabalhos comunitários ou açõesque os fizessem perdurar fora do carnaval.

O Bloco Afro Agbara Dudu surgiu com a caracte-rística de mantenedor das tradições, mesmo forado período de carnaval, assim como alguns blo-cos de Salvador o fazem, entre eles, Olodum,Ilê Aiyê e Araketu. Sua bandeira trazia as coresamarela, vermelha, preta e verde, as mesmascores da bandeira da unidade africana (sonhode reunir a diáspora africana em uma só nação).A primeira sede foi inicialmente na Portelinha(antiga sede do Grêmio Recreativo e Escola deSamba Portela). Os ensaios às sextas-feiras eramtransformados em verdadeiros encontros de cul-tura negra (comida, bebida, roupas, instrumen-tos, ritmos, ogãs, dançarinas etc) denominado"Terreirão senzala".

Nesta primeira sede o grupo deu início aos "En-contros das Entidades Negras", no qual reuni-am-se agremiações, artistas e entidades ligadasàs artes e à política. Voltado para a comunida-de, o grupo passou a desenvolver cursos, ofici-nas de dança e capoeira, além de debates, en-contros e seminários sobre temas negros e afins.Outros eventos importantes desenvolvidos pelogrupo são: "Festiafro" (festival de músicas para

a escolha da representante no desfile de cadaano) e "São João rastafari", em junho. Em 1983,foi organizado a "2ª Noite da Beleza Negra", noClube Renascença, evento homônimo baseado naexperiência do bloco padrinho Ilê Aiyê, culmi-nando na escolha da "Rainha negra". Por essaépoca, o grupo se apresentava em vários even-tos dentro e fora do Estado do Rio de Janeiro,destacando-se: "Natal Comunitário no Morro daSerrinha", em Madureira, na Favela da Galinha,em Inhaúma, apresentações nos presídios MiltonDias Moreira, Talavera, Bruce, e Associação dosEx-alunos da Funabem.

O primeiro desfile do bloco aconteceu na Aveni-da Rio Branco, com o tema "Amor e negritude",apresentando-se ao lado do afoxé Filhos deGandhi do Rio de Janeiro e do Afoxé Terê Babá.Nos anos posteriores o grupo apresentou váriostemas: "Cem anos de abolição", "O negro clamapor justiça" e "Yabás - mulher brasileira". Maistarde o grupo transferiu-se para a sede na RuaErnesto Lobão, 44, onde continuou o trabalhocom as comunidades do em torno. No ano de1988 o grupo participou da "Caminhada Zumbidos Palmares", considerada a maior manifesta-ção da comunidade negra contra a farsa da abo-lição. Em 1992, juntamente com três outros gru-po: Lemi Ayó (de São Cristóvão), Òrúnmilá (doMorro da Mineira, no Catumbi) e Dudu Éwe (doMorro da Mangueira) gravou a coletânea Terrei-ros e quilombos.

Neste LP foram incluídas quatro músicas de com-positores do Agbara Dudu: "Mulher negra Yabá"(Alcinéia F. Martins e Gabriel Lopes Neto), "Na-ção vertente" (Walmir Aragão e Alcinéia F.Martins), "Negritude consciência" e "Arerê",ambas de autoria de Júlio Mendes. Em 1996, emparceria e com o apoio da UERJ, o grupo mudou-se para a nova sede na Rua Carolina Machado,467, em Madureira, dando prosseguimento às suasatividades de cursos, simpósios, etc. No ano de2002 o grupo desfilou na Avenida Rio Branco como tema Agbara-Dudu - 20 anos de resistência.

O falecimento de Vera Lúcia Mendes, mais conhecidacomo Vera do Agbara é, sem dúvida, uma das grandesperdas do Movimento Negro nos últimos anos. Consi-derada por todos uma das mulheres mais fortes damilitância contra o racismo, Vera do Agbara destacou-se por sempre manter firmes suas convicções e suacrença que, a melhor forma de combater o racismoera pela cultura e pela afirmação da identidade ne-gra.

Fundou, em 1982 o Agbara Dudu e inaugurou a a sériede eventos “Noite da Beleza Negra”, onde sempre umhomem e uma mulher eram eleitos os rei e rainha dabeleza afro-brasileira.

Nos últimos anos, Vera tentava, com grande dificulda-de, retomar o Agbara Dudu, mas os tempos eram ou-tros. Aquele grupo que tantas gerações encantou doMovimento Negro carioca, ainda mantinha seu brilho,mas as dificuldades inerentes à manutenção de umprojeto cultural se tornavam cada mais prementes edavam a Vera uma grande tristeza por não realizar seuintento.

Para nós, amigos e contemporâneos, restará a sauda-de e o exemplo desta que nunca deixou a peteca cair,que sempre acreditou em seus ideais, brigou por suaidéias e se tornou uma referência de mulheres e reali-zadora da cultura negra brasileira.

Por Marcio Alexandre M. Gualberto - CoordenadorGeral do Coletivo de Entidades Negras (CEN)

Page 4: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

________________________________________________________________________________________________________________________4 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

Marcos Chaves, o Marcão, éativista cultural e comunicador.

Fernando Campos é analis-ta político e correspondentedo Jornal Afro-Lagos emTamoios.

De todos os ritmos oriundos e difundidos pelacomunidade afrodescendente, o Jongo é o quetrás características mais marcantes eidentidade indelével. A coluna aborda o temadando foco a uma personagem marcante denossa região. Profissional da área de educaçãoe expoente cultural, Márcia Fonseca foirebatizada pela sua militância e hoje oAfroSom tem a honra de entrevistar Márcia doJongo.

AfroSom - Para Marcia Fonseca, o que é o Jongo?Marcia Fonseca -É uma forma de culto aos meus, aos nossosantepassados.

AfroSom - Como o Jongo surgiu na sua vida?Marcia Fonseca - Comecei desde pequena, por incrível quepareça... fiz balé clássico durante muito tempo, cursoprofissionalizante, e neste curso havia muitas disciplinas,uma delas era folclore nacional prático e teórico, outracomo o Afro (contemporâneo e de orixá). Foi aí que euentrei em contato com a cultura brasileira, e meidentifiquei com a cultura afro. Conheci o jongo e outrasdanças e amei !!! Os anos passaram e eu fui para afaculdade de educação física (UFRRJ), tive contato comvários grupos de danças folclóricas e de cultura popular nasminhas andanças acadêmicas... como sou carioca, nascida e“vivida” no Rio, tive a oportunidade de conhecer o mestreDarci, comecei a escutar muita coisa de samba, onde oJongo ou Caxambu é sempre lembrado. Foi quando euconheci uma galera do Jongo da Serrinha/Grupo BrasilMestiço e o Pau da Graúna... e com eles o Jongo, Lundu,Ciranda, Coco, etc.

AfroSom - Qual a importância do Jongo na sua história?Marcia Fonseca - Foi o despertar para várias questões...questões inerentes ao UNIVERSO do Jongo. Fatoreshistóricos, sociais, econômicos, políticos, e por que nãodizer, espirituais, importantes para o meu crescimentopessoal e profissional. Uma fonte muito rica deconhecimento que proporciona muita satisfaçãoprofissional, ensinando e difundindo-o na rede pública deensino de Cabo frio, e em Arraial do Cabo com o projetoGRIOT. Entre as diversas manifestações tradicionais, oJongo é o que mais me sensibiliza, o que mais me faztranscender... Esses fatores mudaram meu rumoprofissional, minha história...

AfroSom - Em nossa região, como vem sendo tratado oJongo?Marcia Fonseca - Poucas pessoas conhecem o Jongo... e naRegião dos Lagos menos ainda... Falta TRADIÇÃO. Faltamgrupos de Jongo, faltam rodas de Jongo, faltam pesquisas

em história do negro na região, suas tradições, costumes,manifestações, etc.

AfroSom - Existe algum fato marcante na sua relação com oJongo, passado em nossa região que você queira registrar?Marcia Fonseca - Quando os meus amigos Jongueiros vieram doRio e o Anderson, Lazir e Cátia do Jongo da Serrinha vierampara o “IITAMBORES DOS ANJOS” em junho de 2011, e emArraial do Cabo.

AfroSom - Que ações poderiam ser executadas na regiãopara a preservação deste patrimônio cultural que é o Jongo?Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiaratividades ligadas ao Jongo nas redondezas, e é isso que édifícil. Falo por que as pessoas se deslocam pouco por aqui.Dizem que adoram o Jongo, mas não aparecem. Pessoas queconheçam os cantos, percussão, as danças... a TRADIÇÃO e aHISTÓRIA do Jongo. O Jongo não se aprende de um dia prooutro, o Jongo é muito mais que dança, percussão, canto... Éum compromisso de respeito aos nossos “mais velhos”, é umcompromisso com as raízes africanas,... não vejo essecompromisso por aqui... e compromisso não se aprende! Assimcomo não conheço pesquisas nessa área, relacionados à Regiãodos Lagos, principalmente Cabo Frio e Arraial do Cabo. Existemindícios que em tempos passados, tinha Jongo nos quilombos,mas esses perderam a sua memória... Recuperar a memória edifundir, são ações essenciais!

AfroSom - Todo o preconceito contra as manifestaçõesculturais de origem africana também atingem o Jongo?Marcia Fonseca - Sim, com certeza! Em muitos lugares acultura de raiz africana é condenada, não reconhecida pelospróprios negros. Na maioria das vezes é chamado de“macumba” (pejorativamente)... em muitos lugares da regiãoexiste a prática de “ditadura religiosa” por parte de muitos“evangélicos”... Vivi-se uma verdadeira perseguição por tudoque não for “gospel”, uma espécie de caça às bruxas... rsrs.Sinto-me assim na minha prática docente diariamente, mesmocom a lei 10639/2003, em relação às disciplinas Capoeira eDanças populares brasileiras, que são condenadas porresponsáveis de alunos junto com seus líderes religiosos; esempre pelos mesmos motivos: “Que não pode fazer as aulaspor que são da igreja”; “Porque a missionária disse que não erapra fazer”; “Porque o pastor disse pra não fazer”, “Que não éde Deus as nossas danças populares”, etc.

AfroSom - Qual a mensagem de Márcia Fonseca para aComunidade Afro-Lagos?Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiaratividades ligadas à cultura popular brasileira, com ênfase naraiz africana, afro brasileiras como o Jongo, Coco, Maracatu,Samba, Samba de roda, Tambor de criola, enfim ações nasatividades de afirmação como mostra de filmes, concurso debeleza, um combate mais ostensivo à discriminação epreconceito étnico racial, sua cultura sua história.

O distrito de Tamoios no perímetrocompreendido entre o km 128 (Florestinha) e aponte sobre o rio São João (bairro SantoAntonio), cortado pela Avenida Amaral Peixoto,há muito deixou de ser uma região eminente-mente rural, atualmente convivem harmonio-samente o urbano e o rural, cada segmentodesenvolvendo sua especificidade. Nesseprocesso de transformação dois fatos merecemdestaque: um é o crescente aumento de mora-dias construídas ao longo da rodovia sem omenor planejamento urbano. Outro é queTamoios deixou de ser reduto eminenteveranista, consequentemente aumentando deforma considerável a população local. Umincipiente e diversificado comércio se instalouao longo da rodovia e na periferia. Mesmo comtodo esse crescimento populacional apreocupação da população quanto ao meioambiente é pífia, e sua prioridade absoluta é aágua, esquecendo ou desconhecendo que osaneamento deve ser a prioridade dasprioridades, pois o sumidouro utilizado pelasresidências contamina o solo e consequente-mente o lençol freático. Como o aumento demo-gráfico da região esta elevando a contaminaçãodo lençol freático a níveis insuportáveis aoorganismo humano, indagamos.

Por que as autoridades municipais não desper-taram para o crescimento desordenado daregião?

Por que a prefeitura não implementa um choquede ordem em Tamoios?

Por que a população e o poder público municipalnão iniciam o debate visando um Plano deSaneamento Básico para Tamoios?

Page 5: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

_________________________________________________________________________________________________________________________Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação 5

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Que educação temos? Queeducação queremos?

Atualmente presenciamos um momentomuito oportuno no que diz respeito aos rumos daeducação em nosso país. De um lado os debatesaumentam sobre políticas educacionais a partir deuma perspectiva emancipatória, participativa,subjetiva, onde a educação é efetivamenteconstituída como direito social. No entanto, dooutro lado, temos políticas que se consolidam nacontramão de uma educação pública de qualidade,já que nessas tendências não conseguimos enxergaruma atuação coletiva na construção do processoeducativo escolar, isto é, a lógica burocráticabaseada em critérios mercantis em detrimento doreconhecimento do professor como sujeitotransformador e da escola como instituição socialque forma cidadãos que possam lutar cada vez maispor uma sociedade justa e solidária.

Nesse contexto, devemos ampliar asdiscussões que envolvam diretamente os fatoresestruturais que contribuem para que o Brasilcontinue adotando políticas educacionaisdesvinculadas da promoção do desenvolvimentopleno da cidadania e equivocadas no que dizrespeito a realidade das nossas escolas públicas.Com isso faço um paralelo com as profundasdiferenças socioeconômicas que consolidam apassos largos os padrões desiguais de formaçãoescolar.

São inúmeras as contradições enfrentadasna sociedade, principalmente nas famílias menosfavorecidas economicamente, as diversasmanifestações de violência, desigualdade de

gênero, discriminação, tensões nas relações depoder e reprodução de valores que refletemdiretamente como a estrutura familiar no períodoatual está cercada de adversidades que podem serencaradas como produto de um sistema perverso eexcludente que naturaliza as principais questõesque devem ser debatidas. A educação,indiscutivelmente, é a principal dessas questões.

Nesse sentido, vale ressaltar que os atrasosna política educacional brasileira estão articuladosaos múltiplos determinantes que influenciam noprocesso educacional, e o que vem sendo feito sãomedidas paliativas essencialmente superficiais quenão atendem as necessidades da população.

Precisamos discutir e aplicar políticas querealmente valorizem a educação, construindo umaescola que produza saber e garanta a liberdade,não o medo por não ter cumprido metas.

Enfim, se os trabalhadores em educação,famílias e alunos não se mobilizarem e deixaremde se engajarem na luta contra as políticaseducacionais conservadoras das desigualdadessociais, continuaremos vivenciando este completodescaso com a educação, que só vem gerandoimpactos desastrosos em nossa sociedade.

Essa coluna visa ampliar discussões sobre aeducação, pois defendemos a construção de umaescola pública de qualidade Sabemos que épossível!

Luiz Felipe Oliveira - é professor

de Geografia e pós-graduando em

Educação pela UFRJ

- Voce já pensou o que o equilibrio ambiental tem há haver com amanutenção das matrizes africanas?

- Você brasileiro ou brasileira, afrodescendente ou não, nunca jogouflores no mar no dia 31 de dezembro para Yemanjá ?

- E aquele banho de sal grosso e flores para renovar energia e relaxar?

Santinhos, figurinhas, fitinhas, água benta, balas para as crianças.Alguns podem considerar que estou falando sobre pecados ecrendices. Entretanto na verdade, se olharmos para todos nós, comsinceridade e sem esconder de nós mesmos nossas raizes, veremosque alguns destes objetos e rituais já foram por nós usados com aintenção de dar força a um pedido ou na busca de uma solução paraum problema.

E onde entra a natureza? O ambiente onde está ele, será que nãovemos que ao usarmos alguns destes expedientes rituais tradicionaisbrasileiros estamos na verdade nos relacionando com forças danatureza, as mesmas forças que no dia a dia vivemos negando edegradando?

Vamos imaginar o homem na idade antiga (há 5 mil anos A.C.), antesdas descobertas científicas que temos hoje, e da concepção judaico-cristã que colocou o homem como centro do universo. Este homemnão sabia sobre a composição do fogo, não sabia como se formavamos ventos, nem que o sol era um planeta e a água é formada por H²O(duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio). Também nãotinha ideia de que as rochas e a própria terra sobre a qual viviam,são um aglomerado de minerais e resíduos orgânicos formados hábilhões de anos.

E como não sabia, mas por sua observação e necessidade desobrevivência, havia dominado o fogo, e aprendeu a ter medo dostrovões e raios durante as tempestades.

Percebeu que a terra quando umedecida pela água da chuva ficavamais verdejante, e que os rios enchiam e por isso deveria ficar longedas suas margens. Percebeu que o sol aquecia e dava vida as plantasnecessárias para sua alimentação. Percebeu que a água era a mãede todos os elementos porque sem ela não era possível viver. Nem ohomem, nem as plantas nem os animais viviam sem ela. E por issocomeçou a erguer suas cidades perto dos rios. Percebeu tambémque as águas tinham muitas formas e que a maior delas era salgadae servia para pesca e para tranporte entre muitas terras.

Todas estas percepções fizeram surgir as primeias formas demanifestação religiosa, que eram sempre voltadas para a natureza.Havia agradecimentos pela colheita, pelas chuvas. Manifestações eoferendas antes de atravessar o mar, oferendas aos raios e trovões;para que estes não destuissem suas casas e florestas. Mas o quehavia mesmo era respeito à natureza. Era a certeza de que a naturezaservia a todos e deveria ser por isso reverenciada.

O homem sabia que era da água salgada que vinha a vida e atribuiua ela o povoamento da terra. E na verdade a ciência hoje nos mostraque a vida começou no mar e como me disseram que o tema eram asmulheres negras, vamos pensar na senhora das águas do marYemanjá, senhora da vida e mãe dos primeiros homens. Vamoslembrar de Nanã, senhora das chuvas que regam a terra. E de Oxuma jovem sedutora como um rio que se torna em cachoeiras e a todosarrebatam.

Em relação ao ambiente lembramos: seja qual for a sua religião,olhe o mar com respeito pela sua força e pela vida que nele existe.Respeite os rios não permitindo que sejam poluídos, e plante árvorespara que as chuvas continuem a cair perto de você.

Dalva Mansur - é professora.

JÁ ROLOU

No dia 09 de julho a Supir Estadual juntamente com a Associação de MulheresNegras da Rasa, realizou em Búzios, um encontro de Jovens onde foramlevantadas propostas para a construção do I Seminário Juventude Negra XViolência, que será realizada em Outubro.

Estudantes de Arraial do Cabo, liderados pelo Superintendente da Juventudeem Arraial do Cabo Ayron Freixo, participaram no período de 13 a 17 dejulho, do 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) emGoiânia. O evento além de escolher o presidente para o biênio seguinte, foium amplo fórum de debates e discussões políticas.

A Secretaria de Mulheres do PT Cabo Frio, realizou no dia 16 de julho na sededo partido um Encontro de Mulheres onde foi criado o foram Suprapartidário.

A AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras – lançou no dia 25 de julho, dia emque foi comemorado o dia da mulher negra afro-caribenha, a CampanhaNacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres com o foco no racismo.A campanha vai até o dia 25 de julho de 2012.

No dia 25 de julho, a Superintendência de Promoção da Igualdade Racialde Cabo Frio, realizou no Plenário da Câmara de Vereadores da cidade,um Ato Solene em homenagem ao DIA INTERNACIONAL DA MULHERAFRO-LATINO-AMERICANA E CARIBENHA. Na ocasião, 10 mulheresnegras de Cabo Frio foram homenageadas.

VAI ROLAR

Arraial do Cabo realizou no mês de julho, em vários locais da cidade, aPré-Conferência Municipal dos Direitos da Mulher. A Conferência iráacontecer no dia 18 de agosto.

Nos dia 19 e 20 de agosto a Associação de Pesquisadores(as) Negros(as)vai realizar em São Pedro da Aldeia, o I ENCONTRO DA ABPN NABAIXADA LITORÂNEA – HISTÓRIA, CULTURA NEGRA E POLÍTICASPÚBLICAS.Abertura: dia 19/08 às 19h - Teatro Municipal Átila CostaAtividades: dia 20/08 das 8h às 17h – Centro Educacional Missão deSão Pedro.

Dia 30 de agosto vai acontecer no Teatro Municipal Inah de AzevedoMureb em Cabo Frio o Seminário CAMINHOS PARA UMA EDUCAÇÃODEMOCRÁTICA: Lei 10.639/03.Horário: 9h às 18h

Page 6: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

________________________________________________________________________________________________________________________6 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

MÃOS QUE EMBALAM A NAÇÃOPor Margareth Ferreira

Margareth Ferreira éadvogada, ativista política emilitante do Movimento Negro.

“A situação da mulher negra noBrasil de hoje manifesta um

prolongamento da sua realidadevivida no período de escravidãocom poucas mudanças, pois ela

continua em último lugar na escalasocial e é aquela que mais carregaas desvantagens do sistema injustoe racista do país.” (Profª Maria Nilza

da Silva do Deptº Ciencias SociaisPUC/SP)

Embora em uma luta exitosa dasmulheres para a conquista de seusdireitos que tem possibilitado suagradativa ampliação, ainda estamos longe deencontrarmos a igualdade que é apenas umcomponente no nosso aparato legal. Enquanto isto, asdesigualdades vão se mantendo, demonstradas atravésda perpetuação da violência produzida pela infraçãoaos direitos humanos das mulheres.

Mas, se a luta tem sido árdua para as mulheres detodas as etnias, numa visão ampla, geral eabrangente, para as mulheres negras as mudanças nãotêm sido tão perceptíveis, uma vez que ainda sãomassacradas pelos estereótipos. A falta de visibilidadena mídia e os indicadores sociais demonstram demaneira inequívoca que seus direitos continuam sendonegados e por isto ganham menos no mercado detrabalho, são o maior número de trabalhadoras domercado informal, no trabalho doméstico e na base dapirâmide social. Encontram-se nos maiores índices demiserabilidade comprovando tudo o que vem sendodito pelos Movimentos de Mulheres Negras.

Os estudos sobre a situação das Mulheres Negras noBrasil demonstram que elas vivem entre doisprincipais estereótipos: o da mulata gostosona, donade um desejo sexual exacerbado, mais sensual,afetiva e libidinosa, notadamente nos jogos sexuais,sem deixar de conter certo grau de amoralidade ealgumas vezes, de imoralidade também, capaz desempre bem servir seu homem; e o da “TiaAnastácia”, serviçal competente, permanentementesubalternizada, de poucas letras, bondosa e maispreocupada com o bem estar de seus patrões do quecom sua própria família, ou com ela mesma.Estereótipo reforçado permanentemente pela grandemídia que inclui todos os veículos de comunicação (tv,rádio, jornais e revistas, e a internet).

As mulheres negras que transcendem essesestereótipos e procuram mudar o rumo de suaspróprias histórias, de sua comunidade, família e gruposocial sofrem silenciosamente com a perseguiçãosistemática a suas ações, sendo desqualificadas emuitas vezes sentenciadas a uma solidão social,privadas de convívio imprescindíveis onde possamdesenvolver plenamente sua cidadania e vidaprofissional, esbarrando em piadas e brincadeiras,muitas vezes maldosas, mas em geral decorrentes da

habitualidade em discriminar, mas sempre de conteúdoextremamente preconceituoso e pautadas na visãodessas mulheres criadas, reproduzidas e perpetuadaspelo mesmos estereótipos por elas superados.

O que percebemos em conversas e grupos de trabalhonos Movimentos Sociais Negros e Instituições deMulheres, é a crescente necessidade da criação denovos paradigmas de relações sociais entre mulheres.Um mecanismo que permita um diálogo amplo e umentendimento de que todas as mulheres sofremdiscriminação eexclusão,principalmente dosespaços de poder,mas as mulheresnegras e indígenassão sempre as maisoprimidas, excluídase preteridas sobtodas asperspectivas.

No mercado deTrabalho o avançoda ocupação pormulheres, de cadavez mais postos, nãotem contemplado asmulheres negras.Mesmo com as cotaspara o ensino superior, o número que atinge agraduação, é ainda inferior ao de homens negros, quevem sendo inferior ao de mulheres brancas, emproporções bastante elevadas. Então o trabalhodoméstico continua tendo uma relevante ocupaçãopelas mulheres negras, e correspondia em 2009 a21,8% dos postos por elas ocupados contra 12,6% daocupação das trabalhadoras brancas, conformemencionado no relatório do IPEA (www.ipea.gov.br) de05 de maio de 2011.

Como sabemos o trabalho doméstico é uma relaçãopeculiar de labor, com direitos ainda inferiores aos demaistrabalhadores, significando ausência de vínculoempregatício, ou seja “sem carteira assinada” e commuitos dos direitos já reconhecidos, preteridos porpessoas sem a menor compreensão do problema social

que isto pode gerar. As inúmeraspessoas que trabalham nestemercado sofrem a violência pelo nãoreconhecimento de seus direitos,principalmente as Mulheres Negrasque ainda são o maior contingentedessas trabalhadoras.

Sim. As mulheres negras embalam opaís. Mas, precisamos, o país precisaembalar as mulheres negras quemuitas vezes ainda tonam-se peçasde descarte das famílias tradicionais

de alguns municípios do interior e até nas grandescidades, como demonstrou de maneira muito apropriadao filme brasileiro “A PARTILHA”.

Precisamos nos apropriar das Políticas Públicas e dosinstrumentos de controle social, indo para os Conselhosde Direito e contribuindo para as mudanças estruturaisque precisam ser realizadas em nossos municípios.

Queremos Mudar o Rumo da Nossa História.

Porque as mulheres negras ainda se encontram em volume tão grande notrabalho doméstico?

“Este fenômeno está, tal como mencionado anteriormente, relacionado a umaherança escravista da sociedade brasileira que combinou-se com a construção deum cenário de desigualdade no qual as mulheres negras tem menor escolaridade emaior nível de pobreza e no qual o trabalho doméstico desqualificado, desreguladoe de baixos salários constitui-se numa das poucas opções de emprego.”

(Relatório do IPEA (www.ipea.gov.br) de 05 de maio de 2011)

Entendendo o que é Estereótipo

Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. Éusado principalmente para definir e limitar pessoas ou grupos de pessoas na sociedade.Nivela as pessoas de um grupo social ou étnico, atribuindo a todos os seres desse grupouma característica, frequentemente depreciativa, preconcebida esem fundamento. É um grande motivador do preconceito,discriminação e intolerâncias.

Então: Estereótipo é simplesmente o “rótulo” com que costumamosclassificar certos grupos de pessoas, e é muito mais comum do quepossa parecer.

Os Estereótipos são facilmente detectados no humor como manifestaçãode racismo, xenofobia, machismo e intolerância religiosa o que faz com que sejamaceitas e justificadas tais atitudes como salvo-conduto e presunção de inocência.

(“Eu não sou racista, só estava brincando...”)

Page 7: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

_________________________________________________________________________________________________________________________Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação 7

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Jovem gay agredido em Cabo Frio

Na madrugada do dia 10 de julho um jovem gay foisurpreendido por 3 jovens e agredido brutalmente no bairroPalmeiras em Cabo Frio, num ato de covardia cometidopor conta da orientação sexual do ser humano. O caso foiregistrado na 126ª DP e o Grupo Iguais (ONG que luta emdefesa dos homossexuais), foi a delegacia cobrarprovidências. A ONG também conseguiu um vídeo dascâmeras de segurança da casa de festas localizadaenfrente ao local aonde aconteceu o incidente eapresentará ao novo delegado, cobrando que esse casonão fique impune. A conselheira estadual LGBT querepresenta a instituição passou o caso ao conselho etambém para a secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Vereador de Cabo Frioafirma que não deixaráde impor suasconvicções religiosasEm sessão no dia 14 deJulho o presidente daCâmara de Vereadores,Silas Bento, em seudiscurso de agradecimentoaos outros vereadores pelaaprovação da emenda à leiorgânica, que lhe garantecomo presidente à criarprojetos de leis afirma: “Respeito a todos, masnão vou deixar de impor minha religião, agoravou poder trabalhar mais pelo que acredito”.

O vice-presidente do Grupo Iguais César Valentinque estava presente no dia para receber umaMoção de Aplausos, destacou em seu discursoque a constituição federal garante um estadoLaico, onde tem de prevalecer a liberdadereligiosa, filosófica e política.

É bom que se tenha mais cuidado com certosdiscursos.

Arraiá dos Iguais arrecada uma tonelada dealimentos

Muita música, brincadeiras, alegria e, é claro, solidariedade.

Foi assim o quarto Arraiá dos Iguais que aconteceu no dia 24 de julho, na Casa dos 500Anos, no Portinho, em Cabo Frio. Além da diversão, o encontro teve o lado beneficente,onde cada pessoa que chegava na festa contribuía com dois quilos de alimentos não-perecíveis.

Resultado: uma tonelada de alimentos que foram doados ao Lar Esperança – entidadeque cuida dos portadores do vírus HIV no município.

Obrigado a todas as pessoas que colaboraram para o sucesso do Arraiá.

(Comissão organizadora do Arraiá dosIguais)

(Solidariedade, característica marcante doArraiá dos Iguais)

Em setembro acontece o 8º

Encontro de Cultura LGBT de Cabo

Frio e a 7º Parada do Orgulho

LGBT

Este mês, o Grupo Iguais está fazendo aconvocação aos voluntários da 7ª Parada doOrgulho LGBT para fazer a prevenção no dia doEvento bem como ajudar na organização do mesmo.Interessados mandar email para:[email protected].

“O clima desse ano é de extrema organização e

empolgação para que possamos ter um evento

bonito e bem organizado onde os turistas possam

ser bem recebidos na nossa cidade”, afirmou a

Diretora Cultural do Grupo Iguais Glauce Bizzo.

Page 8: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

________________________________________________________________________________________________________________________8 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

SOS BOMBEIROS - O lado oculto da crise

Por Marcos Chaves

Militares do Corpo de Bombeiros do Rio deJaneiro no início do mês de junho organizarammanifestações onde reivindicavam,principalmente, aumento salarial. Asmanifestações tomaram grandes proporções eno seu ápice os manifestantes ocuparam oQuartel Central da corporação. O GovernadorSergio Cabral autorizou uma ação do Bope paraa desocupação do Quartel Central e o episódioacarretou um enorme desgaste para o Governo,que via Comando Geral do Corpo de Bombeiros,debelou a manifestação impingindo a detençãode 439 militares, sendo 46 de quartéis da regiãodos lagos.

A enorme pressão popular e a mídia deramênfase, especificamente, ao fato da causa serjusta e honrada, e também a falta de habilidadedo Governador ao lidar com a crise. A causa éverdadeiramente justa, pois os bombeirosreivindicam isonomia salarial aos bombeiros deoutros estados, e honrada por se tratar detrabalhadores e chefes de famílias buscando oprovimento de seus lares.

Passado o momento de crise aguda, libertados eanistiados os militares, e com o Governadorreconhecendo de público os equívocos em suacondução, se faz necessário pela importânciado assunto, uma abordagem profunda queremeta a reflexão todos os envolvidos: a

desmilitarização do Corpo de Bombeiros e daPolícia Militar.

A atual Constituição Brasileira (AssembléiaConstituinte de 1988) herdou, no que tange aotema Corpo de Bombeiros e Policia Militar, o textoditatorial e beligerante da Constituição de 1967agravado pela 1ª Emenda de 1969 (Lei deSegurança Nacional) onde se institui as ForçasAuxiliares que se revelaram um forte braço nocombate as ações guerrilheiras e comunistas.

Os tempos são outros, o fantasma do comunismoinexiste, e tão pouco a guerrilha armada. Entãofaz-se necessário a discussão pela sociedade civilorganizada e pelo Estado em seus três Poderes(Executivo, Legislativo e Judiciário) da unificaçãodas Polícias e a desmilitarização do Corpo deBombeiros.

Os nossos heróis não dependem apenas devocação para desempenhar seu papel nasociedade, é preciso devoção para promoversalvamentos e segurança, em detrimento daprópria segurança e integridade. O amor pelafarda e o orgulho da patente, característicos detodo militar, devem ser reavaliados pelocontingente para que suas reivindicações nãosejam relegadas à insubordinação e suas grevesa motins.

Historicamente no Brasil os afro-descendentes procuram nas carreiras militares salários dignos e estabilidade profissional.

Atualmente somos: 62% do contingente do Exercito;

53% do contingente da Marinha;

41% do contingente da Aeronáutica;

64% do contingente da PMERJ; e

A constituição brasileira de 1988 reza, em seu Art. 144, parágrafos 5° e 6° "(...) aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios." O art. 22 inciso XXI, declara que cabe privativamente à União legislar sobre "normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares". De acordo com o art. 42 da constituição, "São servidores militares federais os integrantes das Forças Armadas e servidores militares dos Estados, Territórios e Distrito Federal os integrantes de suas

Respeito é bom e nósexigimos!

Por Rosana Batalha

Continuamos vivendo momentos muito difíceis,onde o preconceito, a discriminação,intolerâncias, violências e uma série deexclusões ainda fazem parte do nosso dia-a-dia.

Fora as discriminações que a todo tempoouvimos falar na mídia, existem àquelas quepor muitos passam despercebidos, mas que naverdade estão a todo tempo criando traumas emuitas vezes fazendo com que as pessoas secalem ou se fechem no seu mundo desofrimentos.

Imaginem que além de ser negro e/ouhomossexual e/ou de religião afro e/ou pobree/ou mulher e/ou nordestino, o indivíduo forgordo, ou muito alto, ou baixo demais ouportador de deficiência.

A sociedade muitas vezes é cruel! Não devemosesquecer que somos nós essa sociedade quea todo tempo discrimina com “brincadeiras” semgraça alguma, e que massacra o ser humano.O mesmo ser humano que paga suas contas eque como qualquer outro, merece o nossorespeito.

Quando falamos em respeito e solidariedade, ébom termos em mente, que na dimensãohumana, somos todos(as) iguais e que essa falajá tão batida através das religiões e pela lei,torna-se difícil na hora de se colocar em prática.É preciso transformar algo que a princípio serialógico, mas que infelizmente não é, quando notocante ao trato diário de quem quer que seja.

Devemos reconhecer a nossa igualdadehumana, e isso com certeza irá exigir de nós, omínimo de humildade; para que possamosrespeitar e valorizar as diferenças, percebendoque a mais discriminada ou excluída daspessoas, é igual a nós perante Deus ou perantea simples existência.

Page 9: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

_________________________________________________________________________________________________________________________Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação 9

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

José Leandro é analistapolítico e colunista do JornalAfro-Lagos.

Professor Sérgio R. Santos éespecialista em História e CulturaAfro-brasileira e correspondente emSão Pedro da Aldeia.

O MAPA DO PODER

A Região dos Lagos, politicamente tece umaintricada rede de poder, porém o último pleitocontemplou apenas três partidos: PMDB, PSDB ePDT.

PMDB – ARARUAMA

ARRAIAL DO CABO

MACAÉ

SÃO PEDRO D’ALDEIA

SAQUAREMA

RIO DAS OSTRAS

PSDB – CABO FRIO

IGUABA GRANDE

PDT - BÚZIOS

Há de se convir no que diz respeito à política nointerior do Estado, que as engrenagens funcionamde forma peculiar:

As duas cidades governadas pelo PSDB (Cabo Frio eIguaba), ciceroneadas pelo Dep. Estadual Paulo Melo,possuem bom trânsito com o Governo do Estado;

Em Búzios o PDT com o Prefeito Mirinho Braga,também goza de muito prestígio com o GovernadorSergio Cabral (PMDB).

O fato é que a Região dos Lagos, atualmente temum bom relacionamento com Cabral e com o“advento dos royalties” são fortes as possibilidadesde maior desenvolvimento da região.

O JEITO PETISTA DE SER...

Os nossos atentos leitores devem estar se indagando:e o PT do Lula e da Presidenta Dilma, qual é a suaparticipação no quadro político de nossa região?

Tenha certeza, Comunidade AFRO-LAGOS: o PT foiagente preponderante na supremacia política doPMDB na região. Tudo isso sob muitas discussões,debates e articulações, é claro!

CAÇA ÀS BRUXAS

Em tempos de formação de nominatas, visando asEleições 2012, surgiu em Cabo Frio um movimentoque esta dando o que falar: “Não ReelejaVereadores”.

É que com o possível aumento do número de cadeirasnas Câmaras, todo pré-candidato não quer saber deVereador eleito em sua nominata.

ANTÍDOTO

E é justamente de Cabo Frio que alguns Vereadoresmanifestaram intenções de não aumentarem,consideravelmente, o número de cadeiras da Câmara.Votariam pela manutenção do número atual ou oaumento de uma cadeira simplesmente.

Resultado: o coeficiente eleitoral permaneceria alto(algo em torno de oito mil votos) e todos voltariam avalorizar os votos consolidados de quem já temmandato.

DEP. PAULO MELO

Tendo o Deputado Estadual (PDT) Janio Mendesanunciado sua intenção de disputar o cargo de Prefeitode Cabo Frio, o Presidente da ALERJ, DeputadoEstadual (PMDB) Paulo Melo tem pela frente um grandedesafio: apoiar e eleger o maior número de Prefeitose Vereadores possíveis na região.

Consolidaria assim, definitivamente, sua liderançapolítica na região.

Foi dada a largada.

Senhores façam suas apostas.

Chame o capitão!!Recentemente, o sistema educacional recebeu aresponsabilidade de promover a valorização dacontribuição africana quando, por meio da alteraçãoda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB) e com a aprovação da Lei 10.639 de 2003,tornou-se obrigatório o ensino da historia e da culturaafricana e afro-brasileira no currículo da educaçãobásica.

Em alguns momentos acho que nós dos movimentossociais negros, não temos a noção exata daimportância da Lei, que “obriga” a adequação dasinstituições de ensino no Brasil, a essa nova realidade.A aplicação da Lei não é respeitada pela esmagadoramaioria das instituições em todo país, em nossaregião não é diferente.

Chegou o momento de unir nossas forças,independente da linha ideológica ou a que instituiçãodefenda. Vale ressaltar aqui, que por conta dedivergências ideológicas, acabamos não contribuindopara a mudança de comportamento das próximasgerações, isso faz com que governantes e donos deescolas particulares, continuem a não nos enxergar.O resgate de nossa cultura, a conscientização denossa “negritude”, dependem inicialmente de açõescomo as que são proposta na Lei 10.639. Onde estãoos defensores dos Negros? Porque não estamosinquirindo os governos e as instituições?

O reconhecimento da pratica do racismo como crimeé uma das expressões da decisão da sociedadebrasileira de superar a herança persistente daescravidão. Essa Lei é um marco histórico para aeducação e a sociedade brasileira por criar, viacurrículo escolar, um espaço de diálogo e deaprendizagem visando estimular o conhecimentosobre a historia e cultura da África e dos africanos, ahistoria e cultura dos negros no Brasil e ascontribuições na formação da sociedade brasileira nassuas diferentes áreas: social, econômica e política.Colabora, nessa direção, para dar acesso a negros enão negros a novas possibilidades educacionaispautadas nas diferenças socioculturais presentes na

formação do país.

Page 10: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

________________________________________________________________________________________________________________________10 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

Dano Moral: Dando o que cada um merece

Em um caso concreto: qualquer pessoa podebuscar receber pelo Dano Moral sofrido. Aconstituição prevê isto. Está lá nos DireitosIndividuais, no famoso artigo 5º. Além disto,temos o Código de Defesa do Consumidor ondesão estabelecidas regras da relação entre quemcompra produtos ou usa um serviço(consumidor) e quem vende produtos ou forneceum serviço (fornecedor).

Em um caso imaginário: Dona Maria pretendereclamar seus direitos perante um JuizadoEspecial Cível, conhecido popularmente comoJuizado de Pequenas Causas contra dano sofridona relação com uma grande prestadora deserviços de telefonia.

Imaginemos Dona Maria como uma mulher negra,cumpridora de seus deveres, doméstica, chefede família, empreendedora individual quefornece salgadinhos para festas e depende doseu telefone celular para seus contatosprofissionais e pessoais, cuja má sorte foiadquirir um plano pós-pago de uma operadora,mas que só conseguia realizar chamadas com aintermitência de 20 dias. Ou seja, o aparelhode celular que portava um plano pré-pago,estava morto.

Dona Maria possui como bens maiores em vida oseu bom nome e a força de trabalho para venderseus salgadinhos e conseguir melhorar sua renda.O telefone em sua vida é muito mais do que navida de inúmeras pessoas de profissões maisvalorizadas, de níveis intelectuais melhores ede posições sociais mais elevadas.

Então o Dano Moral de Dona Maria, visto pelaslentes tradicionalistas pode ser e geralmentevem sendo, avaliado como de menor valor.Qualquer coisa paga o constrangimento, ahumilhação, o sofrimento e a dor de uma pessoacomum, muitas vezes até chamado de“aborrecimento normal da vida cotidiana”.

O caso imaginário de Dona Maria, bem poderiaser um dos inúmeros casos concretos de pessoascomuns que têm buscado o apoio do judiciário

para verem seus direitos respeitados e seremdevidamente indenizadas, batendo a porta dojudiciário quando submetidos à dor, o vexame,sofrimento e profundo constrangimento, violaçãoda sua intimidade, honra, imagem e outrosdireitos de personalidade.

Entretanto, a reação dos julgadores a avalanchede processos decorrentes de pleitos legítimos deDano Moral, foi querer combatê-los, desestimulá-los e a melhor fórmula encontrada foi reduzir apó a já tão frágil angústia de pessoas comunsque tinham ali, no Judiciário sua últimaesperança de ver a justiça ser efetivada.

Sabemos que a parte mais sensível do ser humanoé o bolso. E creiam, das empresas também. Sendoassim, estamos diante de um judiciário que semantém insensível diante do óbivo, e enquantocontinua indenizando em altíssimas cifras osformadores de opinião, donos de nomesconceituados e contas bancárias já abastadas,mantendo, assim, a fama de fazer justiça rápida,deixa, sem culpa alguma, a beira do caminho,pessoas cujo papel social exercido comsimplicidade, grande massa consumidora,mereciam uma análise melhor do significado dodano sofrido em sua vida cotidiana.

Simone Pagels é advogada eativistas política

O Futuro das nossas crianças e adolescentes é a preocupaçãoconstante entre os pais e mães que frequentam as salas de ConselhosTutelares e ambientes onde eles são o motivo de existirem.

Embora a demanda pela atuação destes Conselhos venha de todasas classes sociais, é da periferia e das comunidades com menoresindicadores de acessos a bens e serviços públicos e privados queemergem o maior número de casos.

Como conseqüência, temos nos afro-descendentes a maioria de nossopúblico. E é desta população formada por homens e mulheres negrasde variadas tonalidades de pele que ouvimos com frequência queas políticas voltadas para crianças e adolescentes não nos reconhece,identifica ou protege com igualdade.

Isto porque as políticas públicas ainda trabalham com a perspectivageneralista, sem priorizar aqueles que dentre todos os demais seencontram no alto dos indicadores de mortalidade, risco social efalta de assistência e acesso em todos os âmbitos.Mesmo agora, após a instituição de cotas para indígenas e negrosem concursos públicos no estado do Rio, não percebemos o públicoassistido pelos Conselhos Tutelares como aquele que será realmentebeneficiado.

As crianças e adolescentes das nossas periferias são aquelas queem sua maioria nem sequer chegarão a idade adulta, circularãomuitas vezes pelo sistema judiciário e desistirão dos estudos antesdo 6º ano.

Então ainda está longe o dia em que nós, povo negro, estaremosrepresentados nas salas de audiências, também na maior cadeirada sala.

A Justiça para nós é muito diferente. A violência urbana nos colocacomo a maioria na população carcerária e também na maioria dasmortes por homicídio, conforme noticiado pelo “Estadão on line”em 24 de fevereiro de 2011: “A partir de 2002 fica evidente umforte crescimento na vitimização da população negra. Se em 2002morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos, essepercentual eleva-se para 67% em 2005 e mais ainda, para 103% em2008. Assim, morrem proporcionalmente mais do dobro de negrosdo que brancos”.

A ausência de Políticas Públicas para mudança desses indicadores éa principal arma que vem exterminando nossos jovens e tem umalcance bem mais longo do que qualquer projétil de arma de fogofazendo-o de maneira mais poderosa do que as muitas pistolas efuzis carregados que sabemos existir em todas as periferias.

Este é um espaço de luta por iniciativas públicas e privadas, querealmente incluam nossas crianças e nossos jovens e nós queremosressaltar: PRECISAMOS DETER O EXTERMÍNIO DE JOVENS NEGROS!

São necessários esforços redobrados pelas autoridades das áreasde educação, saúde e principalmente esporte e lazer, muito emborareconheçamos que algumas melhorias já podem ser observadas,mas infelizmente não podemos nos dar o luxo de sentarmos sobreos êxitos e nos acomodarmos, pois a caminhada é longa e o caminhoé estreito e perigoso.

Quero então, abrir um debate com nossa COMUNIDADE AFRO-LAGOS: Onde é o futuro? Como será nosso futuro? Ele já estáacontecendo ou ainda está por vir? E você pode ajudar a construiro futuro? Tem feito algo para melhorar o futuro das nossas criançase adolescentes?Pense, reflita e comente, sua opinião será discutida aqui.

Luiz Felipe Marinho é Pro-fessor de Geografia e Conse-lheiro Tutelar do 1ª Distrito do

Município de Cabo Frio.

Page 11: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

_________________________________________________________________________________________________________________________Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação 11

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Rosana Batalha é jornalistae editora do Programa Infor-me Local na Jovem TV.

SEPPIR atualiza dadossobre implementação daPolítica de Saúde daPopulação Negra nosmunicípios

Informações foram coletadas no 27º CongressoNacional de Secretarias Municipais de Saúde –Conasems, que aconteceu no mês de julho, emBrasília

Técnicos do Ministério de Políticas de Promoção daIgualdade Racial (SEPPIR) estão realizando umapesquisa sobre a implementação da PolíticaNacional de Saúde Integral da População Negra(PNSIPN) nos municípios brasileiros. A coleta deinformações aconteceu no 27º Congresso Nacionalde Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Osdados servirão para atualizar e ampliar estudorealizado na edição do evento em 2010, emGramado, Rio Grande do Sul.

Segundo a gerente de Projetos da Secretaria deAções Afirmativas da SEPPIR, Mônica Oliveira, osresultados da pesquisa vão subsidiar o diálogoinstitucional com o Conasems. A idéia éintensificar o entendimento entre os dois órgãos,visando à adoção de iniciativas conjuntas pelagarantia dos direitos da população negra à saúde.

Saúde da População Negra

Em 13 de maio de 2009, através da Portaria nº992, o Ministério da Saúde instituiu a PolíticaNacional de Saúde Integral da População Negra. Entre as diretrizes da Portaria estão a onclusãodos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos de formação e educaçãopermanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social da saúde; e oreconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelareligiões de matrizes africanas.

A avançada legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não garante o atendimento dascaracterísticas específicas da população negra, e nem a mesma qualidade na atenção de saúdeoferecida aos demais segmentos da população. Por este motivo a Política Nacional de SaúdeIntegral da População Negra direciona, em todos os níveis e instãncias do SUS, um esforço parasuperar os fatores que determiam as expressões de maior vulnerabilidade da população negracomo, por exemplo, a anemia falciforme

Fonte: Coordenação de Comunicação SEPPIR

Políticas afirmativas na pauta do STF

Depois da Lei da Ficha Limpa, da união civil homossexual e daextradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti, opresidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro CezarPeluso, anunciou que entra em pauta a definição de cotas porcritérios raciais a partir deste mês. A análise das cotas raciaispara instituições públicas de ensino tramita no tribunal hádois anos. O relator é o ministro Ricardo Lewandowski. Otema já foi debatido em audiência pública realizada em2010, com representantes de 38 entidades. Atualmente, 18universidades federais adotam o sistema de cotas, usado pelaprimeira vez na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em2003.

A disputa dos espaços de quilombolas está à espera de umadecisão há oito anos, quando Peluso entrou com relatórioquestionando decreto de 2003, que regulamentava o processode titulação e aquisição das terras. Os representantes dascomunidades se organizam desde o ano passado paraconseguir um acordo que regulamente as terras. Caso aproposta de revisão seja aprovada, mais de duas milcomunidades terão direitos às propriedades em disputa.

Fonte: Coordenação de Comunicação SEPPIR

SEPPIR institui Grupo de Trabalho para efetivar Estatuto daIgualdade Racial

A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção daIgualdade Racial, Luiza Bairros, instituiu o Grupo de TrabalhoEstatuto da Igualdade Racial, através da Portaria 79,

das condições de trabalho na Marinha. O museu será instaladona cidade fluminense de São João do Meriti, onde ele viveuseus últimos anos. Será o primeiro museu dedicado a este queé um dos maiores heróis da história brasileira. O acervo serádoado pela família do marinheiro, pela fundação Palmares epela Marinha do Brasil. O início das obras estão previstas paraeste mês de agosto.

Mapa da Intolerânica

O Mapa da Intolerância Religiosa – Violação ao Direito de Cultono Brasil, já está no ar. O objetivo do mapa é criar um canalpermanente de recebimento de denúncias de casos deviolação do direito de culto e, ao mesmo tempo, provocar opoder público a fazer valer as políticas públicas voltadas paraa defesa da liberdade religiosa em nosso país. Visite o site:www.mapadaintolerancia.com.br

Comemorações marcam aniversário de Mandela

Mais de 12 milhões de crianças sul-africanas cantaram demaneira simultânea, “Feliz Aniversário, Tata Madiba”, a partirde suas escolas ao ex-presidente Nelson Mandela em 18 dejulho, no dia em que o primeiro governante negro da África doSul e prêmio Nobel da Paz completou 93 anos. Na ocaião aONU pediu que cidadãos de todo mundo dedicassem 67minutos de seu tempo a algum serviço para sua comunidade -um minuto por cada ano que o líder sul-africano NelsonMandela serviu à humanidade. A solicitação da ONU, faz partede uma campanha da Fundação Mandela para reconecer ascontribuições do líder como defensor dos direitos humanos.Mandela foi o presidente que acabou com o apartheid, osistema de segregação racial que imperou na África do Sul até1994.

publicada no Diário Oficial da União do dia 11/07. O objetivo éassegurar a efetividade da Lei 12.288/2010, que cria oEstatuto, a partir da consolidação e ampliação das políticasgovernamentais destinadas à promoção da igualdade racial.

Competirá ao Grupo de Trabalho, num período de 120 dias,avaliar as normas do Estatuto da Igualdade Racial e propor asmedidas necessárias à sua efetividade; identificar as ações quedemandam regulamentação e apresentar proposta em parceriacom as áreas temáticas responsáveis; identificar as açõesprioritárias; e propor ações de articulação institucional einterministerial para implementação do Estatuto.

Fonte: Coordenação de Comunicação SEPPIR

Sete em cada dez brasileiros consideram que a cor ou raçainfluencia o ambiente de trabalho

Mais da metade da população brasileira (63,7%) reconhece quea cor ou a raça exerce efeitos diferentes nas relaçõescotidianas. A constatação é de pesquisa divulgada neste mês dejulho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o estudo, o ambiente de trabalho, citado por71% dos entrevistados, é o item que mais sofre influência dacor e da raça. Em seguida, aparecem as relações com a polícia/Justiça (68,3%) e no convívio social (65%). O levantamento foifeito em 15 mil domicílios de cinco estados e no DistritoFederal.

A Pesquisa das Características Etnorraciais da População: umEstudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça foi feitano Amazonas, na Paraíba, em São Paulo, no Rio Grande do Sul,em Mato Grosso e no Distrito Federal. Do total dosentrevistados, 96% souberam se autoclassificar.

Fonte: IBGE

Homenagem ao Almirante Negro

O Rio de Janeiro vai abrigar um museu em homenagem àJoão Cândido Felisberto, o Almirante Negro que lutou pelo fimdos castigos corporais no início do século XX e pela melhoria

Page 12: Jornal AFROLAGOS edição nº 1

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

________________________________________________________________________________________________________________________12 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

Josi Araujo é graduanda em publicida-de e marketing.

O primogênitoEste mês terei que dar uma atenção especial ao lançamento do nosso jornal, a primeira mídia étnica da Região dos Lagos. E comointegrante desse grupo, não posso deixar de mimar e fazer festa - como toda mãe faz com seu primeiro filho, no seu nascimento.

O lançamento aconteceu no dia 29 de junho no Teatro Municipal de Cabo Frio, reunindo povos e aproximando personalidades. Comoesperávamos, foi mesmo surpreendente, um sucesso!

Iniciou-se o evento com a apresentação da Família Lopes tocando o Hino Nacional, emocionando e arrancando aplausos da platéia.

Não podemos esquecer da nossa cerimonialista, Luanda Marinho, que estava linda como sempre e fez a diferença.

Se a abertura conseguiu emocionar o público, não poderíamos esperar que fosse diferente no momento das homenagens. KadúMonteiro, Ator, Diretor, Cantor, homem de muitos dons nos emocionou com sua apresentação encenando um pouquinho do cotidianode um jornalista que tenta mostrar que consegue ser bom no que faz, mesmo utilizando recursos considerados “antigos” no mundotecnológico e fugaz que vivemos hoje. “Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”, foi com esse trecho da música “MolequeAtrevido” de Jorge Aragão que o ator expressou com exatidão todo o nosso respeito e admiração aos jornalistas negros da nossaregião.

E para fechar com chave de ouro, o cantor Da Ghama nos prestigiou lindamente com suas músicas onde recebeu como convidados,as belíssimas cantoras Simone Costa e Mari Trintade, e a fantástica percussão do GrupoTambores Urbanos.

Esse sonho não seria possível se alguém não tivesse sonhado, e foi sonhando que eles, os idealizadores tiraram do papel e colocaramem prática. Deram vida ao Afro-Lagos. Daqui pra frente, como já diz a música, tudo vai ser diferente.

25 de Julho dia daMulher Afro-Latino-Americana e Afro-Caribenha

A todas as mulheres parabéns!Parabéns pelas batalhas vencidascontra o descaso, a invisibilidade eo desrespeito a nós mulheres afro-latino-americanas e caribenhas.

Seminário daJuventude NegraBúzios

Marcamos presença em Búzios no dia 09

de Julho quando aconteceu evento

mobilizador para o Seminário da Juventude

Negra que acontecerá em outubro no Rio de

janeiro.