Jorge Amado Capitaes De Areia

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Jorge Amado Jorge Amado nasceu a 10 de agosto de 1912, na nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado. Faria e de Eulália Leal Amado.

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Jorge AmadoJorge Amado

nasceu a 10 de agosto de 1912, na nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de fazenda Auricídia, no distrito de

Ferradas, município de Itabuna, sul do Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália cacau João Amado de Faria e de Eulália

Leal Amado.Leal Amado.

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Jorge AmadoJorge Amado

Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.

Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, em 1935. Militante comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944, separou-se de Matilde Garcia Rosa.

Em 1945, foi eleito membro da Assembléia Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido o deputado federal mais votado do Estado de São Paulo. Jorge Amado foi o autor da lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Nesse mesmo ano, casou-se com Zélia Gattai.

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• Em 1947, ano do nascimento de João Jorge, primeiro filho do casal, o PCB foi declarado ilegal

e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França,

onde ficou até 1950, quando foi expulso.

• Em 1949, morreu no Rio de Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu na Tchecoslováquia, onde nasceu sua filha Paloma.

• De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido Comunista.

Doutor Honoris Causa por diversas universidades, Jorge Amado orgulhava-se do título de Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá, na Bahia.

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A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil.

Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e idiomas, existindo também exemplares em braile e

em fitas gravadas para cegos.em fitas gravadas para cegos.

Em 1987, foi inaugurada em Salvador, Bahia, no Largo Em 1987, foi inaugurada em Salvador, Bahia, no Largo do Pelourinho, a Fundação Casa de Jorge Amado, que do Pelourinho, a Fundação Casa de Jorge Amado, que

abriga e preserva seu acervo, colocando-o à abriga e preserva seu acervo, colocando-o à disposição de pesquisadores. A Fundação objetiva disposição de pesquisadores. A Fundação objetiva

ainda o desenvolvimento das atividades culturais na ainda o desenvolvimento das atividades culturais na Bahia. Bahia.

Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado, e suas cinzas foram enterradas de 2001. Foi cremado, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência, na Rua Alagoinhas, em no jardim de sua residência, na Rua Alagoinhas, em

10 de agosto, dia em que completaria 89 anos. 10 de agosto, dia em que completaria 89 anos.

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• Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis.

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(Romance, 1937)

Escrito na cidade de Estância, Sergipe, em março de 1937, e concluído em junho, a bordo do navio Rakuyo Maru, no Pacífico, às costas da América do Sul, rumo ao México, o romance foi lançado em 1ª edição pela Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, em setembro de 1937, com 344 páginas.

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O tempo vai fechando de vez no país. É a ditadura do Estado Novo que se implanta. Recolhido na cidade de Estância, no interior de Sergipe, Jorge Amado começara a escrever um outro livro, terminando a sua redação já a bordo do navio Rakuyo Maru, em viagem para o México. É Capitães da areia. 1. Uma história dos meninos-de-rua da Bahia, na década de 30. Narrativa do amor de Dora e Pedro Bala. Peripécias do bando de menores que perambula perigosamente pelas ruas e pelo cais de Salvador, cidade “negra e religiosa”, onde se projeta a personalidade da ialorixá Aninha, mãe-de-santo do Ilê Axé Opô Afonjá. Dora morre, doente, no trapiche enluarado. Pedro Bala é preso, foge, mete-se em greves de estivadores, até que se converte em “militante proletário, o camarada Pedro Bala”.

2. O problema é que o livro é publicado em 1937, logo em seguida à implantação do Estado Novo, regime violentamente anticomunista. Assim, a edição é apreendida - e exemplares do livro são queimados em praça pública, na Cidade da Bahia, por representantes da ditadura. Mas de nada adiantou. Quando pôde voltar à cena, Capitães da areia conquistou o grande público e é ainda hoje um dos maiores sucessos de Jorge Amado.

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Capitães da areia Capitães da areia pertence à primeira fase pertence à primeira fase da obra de Jorge Amado, mas o cenário da obra de Jorge Amado, mas o cenário

escolhido é o urbano. Centrando a ação na escolhido é o urbano. Centrando a ação na vida dos menores abandonados da cidade vida dos menores abandonados da cidade

de Salvador, o escritor aproveita para de Salvador, o escritor aproveita para mostrar as brutais diferenças de classe, e mostrar as brutais diferenças de classe, e má distribuição de renda e os efeitos da má distribuição de renda e os efeitos da

marginalidade nas crianças e adolescentes marginalidade nas crianças e adolescentes discriminados por um sistema social discriminados por um sistema social perverso. perverso. Capitães da areiaCapitães da areia narra o narra o

cotidiano de pobres crianças que vivem cotidiano de pobres crianças que vivem num velho trapiche abandonado. Liderados num velho trapiche abandonado. Liderados por Pedro Bala, menino corajoso, filho de por Pedro Bala, menino corajoso, filho de

um grevista morto, entregam-se a um grevista morto, entregam-se a pequenos furtos para sobreviver.pequenos furtos para sobreviver.

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A narrativa, de cunho realista, descreve A narrativa, de cunho realista, descreve o cotidiano do grupo e seus expedientes o cotidiano do grupo e seus expedientes

para arranjar alimento e dinheiro. para arranjar alimento e dinheiro. Intercalando a narrativa com reportagens Intercalando a narrativa com reportagens sobre o grupo dos “Capitães da Areia”, o sobre o grupo dos “Capitães da Areia”, o romance supervaloriza a humanidade das romance supervaloriza a humanidade das crianças e ironiza a ganância , o egoísmo crianças e ironiza a ganância , o egoísmo

das classes dominantes. Conduzindo a das classes dominantes. Conduzindo a história em função dos destinos história em função dos destinos

individuais de cada participante do individuais de cada participante do bando, Jorge Amado acaba por ilustrar, de bando, Jorge Amado acaba por ilustrar, de

um lado, a marginalização definitiva de um lado, a marginalização definitiva de uns (o Sem-Pernas e o Volta Seca, por uns (o Sem-Pernas e o Volta Seca, por

exemplo), e, de outro, a tomada de exemplo), e, de outro, a tomada de consciência dos mais lúcidos (Pedro consciência dos mais lúcidos (Pedro

Bala).Bala).

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Quadros da Miséria Urbana 

Capitães da areia é diferente dos demais romances de Jorge Amado não apenas por causa da temática, mas também em virtude de sua estrutura sui generis. A

rigor, podemos dizer que o romance não tem propriamente um enredo. É aí que reside sua

modernidade, pois o autor rompe com a tradição do romance convencional, que supunha rigorosa

organização dos fatos e relações de causa e efeito entre os eventos.

Capitães da areia é montado por meio de quadros mais ou menos independentes, que registram as andanças das personagens pela cidade de Salvador. Mas não só: ao lado da narração propriamente dita, Jorge Amado

intercala também notícias de jornal, bem como pequenas reflexões poéticas. A força da narrativa

advém do enredo solto, maleável, que parece flutuar ao sabor das aventuras dos pequeninos heróis.

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De acordo com a teoria da literatura, há vários tipos De acordo com a teoria da literatura, há vários tipos de romance e os mais conhecidos são os de ação e de de romance e os mais conhecidos são os de ação e de personagem. personagem. Capitães da areiaCapitães da areia parece pertencer ao parece pertencer ao segundo tipo, porque, mais do que desenrolar uma segundo tipo, porque, mais do que desenrolar uma ação, privilegia a existência, a movimentação de ação, privilegia a existência, a movimentação de

diferentes tipos sociais. diferentes tipos sociais. Dessa maneira, Jorge Amado monta uma galeria Dessa maneira, Jorge Amado monta uma galeria

bastante ampla de figuras que irão compor o quadro bastante ampla de figuras que irão compor o quadro social de uma comunidade.social de uma comunidade.

  O fato de o escritor se prender às personagens e de O fato de o escritor se prender às personagens e de

montar os quadros soltos não implica, contudo, que o montar os quadros soltos não implica, contudo, que o romance deixe de ter uma estrutura mais ou menos romance deixe de ter uma estrutura mais ou menos organizada. Pelo contrário, é possível perceber uma organizada. Pelo contrário, é possível perceber uma linha conduzida, ainda que de maneira tênue, por linha conduzida, ainda que de maneira tênue, por Pedro Bala, que organiza o grupo, determina-lhe a Pedro Bala, que organiza o grupo, determina-lhe a

ação, graças à sua coragem e aos seus princípios, e ação, graças à sua coragem e aos seus princípios, e que será uma das únicas personagens a fugir da que será uma das únicas personagens a fugir da

alienação (juntamente com o Professor e Pirulito)..alienação (juntamente com o Professor e Pirulito)..

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Estruturação da narrativa: três, subdivididas em capítulos ora Estruturação da narrativa: três, subdivididas em capítulos ora mais longos, ora mais curtos.mais longos, ora mais curtos.

Prólogo de caráter jornalístico.Prólogo de caráter jornalístico.

1. Prólogo – “Cartas à Redação”:1. Prólogo – “Cartas à Redação”:·        reportagem publicada no ·        reportagem publicada no Jornal da TardeJornal da Tarde tratando do tratando do

assalto das crianças à casa de um rico comerciante, num assalto das crianças à casa de um rico comerciante, num dos bairros mais aristocráticos da capital;dos bairros mais aristocráticos da capital;

·        carta do secretário do chefe de polícia ao mesmo jornal, ·        carta do secretário do chefe de polícia ao mesmo jornal, atribuindo a responsabilidade de coibir os furtos das atribuindo a responsabilidade de coibir os furtos das

crianças ao juiz de menores;crianças ao juiz de menores;·        carta do juiz de menores defendendo-se da acusação de ·        carta do juiz de menores defendendo-se da acusação de

negligência;negligência;·        carta da mãe de uma das crianças falando das ·        carta da mãe de uma das crianças falando das

condições miseráveis do reformatório;condições miseráveis do reformatório;·        carta do padre José Pedro referendando as acusações ·        carta do padre José Pedro referendando as acusações

da mãe feitas ao reformatório;da mãe feitas ao reformatório;·        carta do diretor do reformatório defendendo-se das ·        carta do diretor do reformatório defendendo-se das

acusações da mãe e do padre;acusações da mãe e do padre;

·        reportagem elogiosa do mesmo jornal ao reformatório·        reportagem elogiosa do mesmo jornal ao reformatório..

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Jorge Amado utiliza o recurso do prólogo para:

- Criticar indiretamente os poderosos por meio da linguagem, examinada em diferentes níveis.

- A escrita redundante, grandiloqüente das autoridades contrasta com a da mulher do povo.

- Ao mesmo tempo, o tom da reportagem parece colaborar para a feição realista do romance, como se o narrador quisesse dar a impressão para o leitor de que o que vai contar é absolutamente verdadeiro.

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2. 1.ª parte – “Sob a lua, num velho trapiche abandonado”, formada de onze capítulos:constitui propriamente a apresentação do romance, na qual o leitor se depara com a biografia das principais personagens. 3. 2.ª parte – “Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos”, formada de oito capítulos:trata mais especificamente da descoberta do amor por parte de Pedro Bala. 4. 3.ª parte – “Canção da Bahia, canção da liberdade”, formada de oito capítulos: mostra o destino das personagens. 

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Classificamos Capitães da areia como romance, porque a obra apresenta algumas características bastante comuns ao gênero. E quais seriam essas características? E. M. Forster assim trata um dos aspectos fundamentais do romance: “a base de um romance é uma estória, e a estória é uma narrativa de acontecimentos dispostos em seqüência no tempo”. Se aceitarmos essa assertiva, chegaremos à conclusão de que Capitães da areia é efetivamente um romance, pois encontramos nele uma “estória” (a de cada criança em particular e a do conjunto de crianças que vivem no trapiche abandonado) que se desenvolve no tempo. Não é difícil notar que os meninos sofrem uma transformação dentro da escala temporal: são pequenos no início da obra e acabam se tornando adultos à medida que os dias, semanas, meses e anos passam...

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Contudo, a afirmação de Forster é Contudo, a afirmação de Forster é incompleta, pois não dá conta de outros incompleta, pois não dá conta de outros

aspectos também importantes do romance. aspectos também importantes do romance. Massaud Moisés, por exemplo, explica que Massaud Moisés, por exemplo, explica que

o romance constituiria “uma visão o romance constituiria “uma visão macroscópica do Universo, em que o macroscópica do Universo, em que o

escritor procura abarcar o máximo possível escritor procura abarcar o máximo possível com sua intuição” (1982, p. 98). Com com sua intuição” (1982, p. 98). Com

efeito, a obra de Jorge Amado, ainda que efeito, a obra de Jorge Amado, ainda que concentre a ação nas crianças pobres concentre a ação nas crianças pobres

abandonadas, tem o fito maior de criticar a abandonadas, tem o fito maior de criticar a sociedade como um todo, daí seu caráter sociedade como um todo, daí seu caráter

macroscópico, ou seja, visa a abarcar o que macroscópico, ou seja, visa a abarcar o que é grande. As aventuras individuais das é grande. As aventuras individuais das personagens só interessam enquanto personagens só interessam enquanto

amostras do social..amostras do social..

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1. Relação entre personagens e o social? 1. Relação entre personagens e o social? - Relação marcada pelo antagonismo. Relação marcada pelo antagonismo. - Inconformados com as leis sociais, os heróis Inconformados com as leis sociais, os heróis desafiam-nas e saem à procura de valores desafiam-nas e saem à procura de valores que possam lhes satisfazer as ânsias.que possam lhes satisfazer as ânsias.- O crítico húngaro Lukács dá a entender que O crítico húngaro Lukács dá a entender que o “espírito fundamental” do romance, o “espírito fundamental” do romance, “aquele que lhe determina a forma, objetiva-“aquele que lhe determina a forma, objetiva-se como psicologia dos heróis romanescos”, e se como psicologia dos heróis romanescos”, e que “esses heróis estão sempre em busca”. que “esses heróis estão sempre em busca”. - Pelo fato de estarem sempre em busca, tais Pelo fato de estarem sempre em busca, tais heróis vão sempre desestabilizar o espaço heróis vão sempre desestabilizar o espaço em que vivem; daí serem entendidos como em que vivem; daí serem entendidos como “heróis problemáticos”, ainda segundo “heróis problemáticos”, ainda segundo Lukács. Lukács. -

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- Ora, é o que acontece de maneira evidente Ora, é o que acontece de maneira evidente em em Capitães da areiaCapitães da areia; seus pequeninos ; seus pequeninos heróis (ou anti-heróis) estão em perene heróis (ou anti-heróis) estão em perene busca de algo que os faça transcender a busca de algo que os faça transcender a condição miserável em que vivem:condição miserável em que vivem:

- Pirulito quer ser padre, Professor, um Pirulito quer ser padre, Professor, um artista, Volta Seca, um cangaceiro, Gato, artista, Volta Seca, um cangaceiro, Gato, um refinado vigarista e Pedro Bala, o líder um refinado vigarista e Pedro Bala, o líder deles todos, não tem nada definido dentro deles todos, não tem nada definido dentro de si, pois seus ideal só se torna claro no de si, pois seus ideal só se torna claro no final da obra. final da obra.

- A existência da busca, alienada ou não, é A existência da busca, alienada ou não, é que fará com que intervenham de maneira que fará com que intervenham de maneira crítica na realidade e se tornem, por crítica na realidade e se tornem, por conseguinte, “problemáticos”, visto que conseguinte, “problemáticos”, visto que provocam conflitos na ordem estabelecida..provocam conflitos na ordem estabelecida..

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PersonagensPersonagensPedro Bala será o herói de toda a narrativa, é o Pedro Bala será o herói de toda a narrativa, é o

líder:líder:  

Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos

olhos e na voz a autoridade de chefe.olhos e na voz a autoridade de chefe. [...] (p. 21). [...] (p. 21).- linha condutora de todo o romance, servindo, - linha condutora de todo o romance, servindo, assim, para dar unidade aos diversos quadros, seu assim, para dar unidade aos diversos quadros, seu sucesso final serve para coroar de maneira sucesso final serve para coroar de maneira simbólica a busca de todas as crianças, como se ele simbólica a busca de todas as crianças, como se ele representasse, com sua vitória final, uma espécie de representasse, com sua vitória final, uma espécie de núcleo, ao realizar os desejos, os sonhos dos núcleo, ao realizar os desejos, os sonhos dos indivíduos marginalizados da cidade. indivíduos marginalizados da cidade.

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Personagens secundários: João Grande, Personagens secundários: João Grande, Sem-Pernas, Pirulito, Professor, Boa-Vida, Sem-Pernas, Pirulito, Professor, Boa-Vida, Gato, Barandão, Altino, Volta Seca, padre Gato, Barandão, Altino, Volta Seca, padre José Pedro, Dora, Fuinha, Querido-de-Deus, José Pedro, Dora, Fuinha, Querido-de-Deus, João de Adão etc.João de Adão etc.-Como o destaque é dado às crianças, as Como o destaque é dado às crianças, as pessoas que vivem na cidade (burgueses, pessoas que vivem na cidade (burgueses, padres, à exceção do padre José, policias padres, à exceção do padre José, policias etc.) terão participação menor no enredo, etc.) terão participação menor no enredo, mas ainda assim são fundamentais, porque mas ainda assim são fundamentais, porque ajudam na caracterização do todo social..ajudam na caracterização do todo social..-Personagens planas.Personagens planas.

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Os meninos são identificados pelo apelido extraído de uma Os meninos são identificados pelo apelido extraído de uma qualidade ou de um defeito físico ou psicológico. qualidade ou de um defeito físico ou psicológico.

Metonímia, ou seja, a parte representando o todo, como se a Metonímia, ou seja, a parte representando o todo, como se a qualidade ou o defeito principal de cada personagem se qualidade ou o defeito principal de cada personagem se

estendesse e dominasse todo o indivíduo, servindo-lhe de estendesse e dominasse todo o indivíduo, servindo-lhe de emblema e, em muitos casos, determinando-lhe toda a ação. emblema e, em muitos casos, determinando-lhe toda a ação.

Pedro Bala tem esse apelido porque o pai morreu a tiro nas ruas Pedro Bala tem esse apelido porque o pai morreu a tiro nas ruas da cidade. A bala que ele carrega no nome é que da cidade. A bala que ele carrega no nome é que

estabelecerá a ligação entre suas ações e as do pai, e que estabelecerá a ligação entre suas ações e as do pai, e que fará com que ele descubra, no final do romance, o seu destino fará com que ele descubra, no final do romance, o seu destino

como autêntico líder. João Grande, por sua vez, ganha o como autêntico líder. João Grande, por sua vez, ganha o apelido devido à estatura, o Sem-Pernas, pelo defeito físico, o apelido devido à estatura, o Sem-Pernas, pelo defeito físico, o

Professor, por seu intelecto, o Gato, em razão de sua Professor, por seu intelecto, o Gato, em razão de sua agilidade, e o Boa-Vida, devido à preguiça, a malandragem.agilidade, e o Boa-Vida, devido à preguiça, a malandragem.

   Constituem como que uma distinção pessoal dos membros Constituem como que uma distinção pessoal dos membros

do grupo em relação aos demais habitantes da cidade. Não é do grupo em relação aos demais habitantes da cidade. Não é difícil observar que enquanto todos os membros dos Capitães difícil observar que enquanto todos os membros dos Capitães

da Areia são apelidados, as pessoas que não pertencem a da Areia são apelidados, as pessoas que não pertencem a eles, com exceção do Querido-de-Deus, apenas possuem eles, com exceção do Querido-de-Deus, apenas possuem

nomes próprios. nomes próprios. 1.1. grupo fechado, a que têm acesso somente aqueles a quem as grupo fechado, a que têm acesso somente aqueles a quem as

crianças respeitam e amam. crianças respeitam e amam. 2.2. ritual iniciático, uma espécie de batismo de fogo para a ritual iniciático, uma espécie de batismo de fogo para a

aceitação formal de todo o grupo..aceitação formal de todo o grupo..

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SubstantivosPedro = pedra e representa a fortaleza, o caráter consistente do herói. Dora = “dourado”, “ouro”, e tem relação metonímica com seus cabelos e no próprio nome.

Dora: desperta os sentimentos, os afetos reprimidos. Pedro Bala, por exemplo, terá sua fortaleza contaminada pela afetividade, pela luminosidade de Dora. Somente por meio do amor é que terá oportunidade de fazer nascer em si a consciência social.

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Outros personagens, ou são reconhecidos simplesmente pela profissão que exercem (padre, polícia, bedel etc.), ou têm nomes vulgares.Muitas vezes o narrador irá identificá-las por meio de um objeto: riqueza e arrogância.  

Uma vez, e era no verão, um homem parara vestido com um grosso sobretudo para tomar um refresco numa das cantinas da cidade. Parecia um estrangeiro. Era pelo meio da tarde e o calor doía nas carnes. Mas o homem parecia não senti-lo, vestido com

seu sobretudo novo.

[...] Foi assim que o Professor tinha conseguido aquele sobretudo, que nunca quis vender. Adquirira um sobretudo e muito ódio. E

tempos depois, quando as suas pinturas murais admiraram todo o país (eram motivos de vidas de crianças abandonadas, de velhos

mendigos, de operários e doqueiros que rebentavam cadeias), notaram que nelas os gordos burgueses apareciam sempre

vestidos com enormes sobretudos que tinham mais personalidade que eles próprios.

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Espaço 

O espaço em Capitães da areia :-determinará o comportamento das personagens, como também quase chega a se constituir numa personagem, com vida própria. - O mais amplo deles será obviamente a cidade da Bahia, com todos os seus recantos, limitada pelo mar. - Outros espaços secundários: Rio de Janeiro, a cidade de Ilhéus e o sertão, são apenas referidos pelo narrador (é para lá que vão o Professor, o Gato e o Volta-Seca, respectivamente). 

Na cidade da Bahia, destaca-se de maneira evidente o trapiche, onde moram as crianças.  Durante anos foi povoado exclusivamente pelos ratos que o atravessavam em corridas brincalhonas, que roíam a madeira das portas monumentais, que o habitavam como senhores exclusivos. Em certa época um cachorro vagabundo o procurou como refúgio contra o vento e contra a chuva. Na primeira noite não dormiu, ocupado em despedaçar ratos que passavam na sua frente. Dormiu depois algumas noites, ladrando à lua pela madrugada, pois grande parte do teto já ruíra e os raios da lua penetravam livremente, iluminando o assoalho de tábuas grossas. [...] (p. 20)- Espaço aberto e receptivo 

Page 26: Jorge Amado Capitaes De Areia

O trapiche x construções suntuosas sede do Arcebispado: Pesadas cortinas, cadeiras de alto espaldar, um retrato de Santo Inácio numa parede. Na outra, um crucifixo. Uma grande mesa, custosos tapetes. [...] (p. 140) casas burguesas: O 611 era uma casa grande, quase um palacete, com árvores na frente. Numa mangueira, um balanço onde uma menina da idade de Dora se divertia. [...] (p. 159)

Contraste = diferenças sociaisEspaço fechado e cruel

Page 27: Jorge Amado Capitaes De Areia

Cidade Cenário urbano alimenta o desejo de conquista das crianças,

carrega um valor psicológico e físico. [...] Na sua frente estava a cidade misteriosa, e ele partiu para

conquista-la. A cidade da Bahia, negra e religiosa, é quase tão misteriosa como o verde mar. Por isso João Grande não voltou mais. [...] (p. 22)

 - Espaço físico, a cidade se distribui nas mansões, malocas,

igrejas, cadeia, reformatório, orfanato, restaurantes, bares, lojas, docas, etc.

1) Espaço da riqueza = cobiça.2) Espaço psicológico = hostiliza e, ao mesmo tempo, acolhe os

que vivem nela.

Page 28: Jorge Amado Capitaes De Areia

Tempo Extenso mas impreciso, compreende um retalho da vida dos

meninos, desde a infância até a maturidade. Privilegia o momento da adolescência – retorno ao passado

(analepses)

1) Demonstrando as razões para o desamparo no presente.2) formação delas e as razões do desamparado no presente.

Predomina o tempo cronológico: numa seqüência rigorosa de passado e presente. As analepses não alteram a ordem temporal, porque o narrador separa presentes do pretéritos:

 É aqui que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desce

cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem 15 anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e

empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos.

Page 29: Jorge Amado Capitaes De Areia

O presente, tempo da narrativa, é freqüentemente quebrado, pois a organização em quadros impedem a sequência: o marcação que irá encadear a narrativa é a referência à passagem dos dias: 

Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.  Outra noite, uma noite escura de inverno, na qual os saveiros não

se aventuravam no mar, noite de cólera de Yemanjá e Xangô, quando os relâmpagos eram o único brilho no céu carregado de

nuvens negras e pesadas, [...]Freqüentes as expressões: à noite, ao dia, à passagem dos dias ou mesmo, no final do romance, à passagem dos anos: “anos depois”, “no ano em que”, “passou o inverno, passou o verão”.

Page 30: Jorge Amado Capitaes De Areia

Foco narrativoJorge Amado usa sistematicamente a terceira pessoa do discurso: “João Grande vem vindo para o trapiche”

“Pedro Bala, enquanto subia a ladeira da Montanha, revia mentalmente seu plano”

O narrador de Capitães da areia tem a plena liberdade de distanciar-se ao máximo das personagens. São freqüentes os momentos em que ele privilegia o espaço amplo da cidade: A grande noite de paz da Bahia veio do cais, envolveu os saveiros, o forte, o quebra-mar, se estendeu sobre as ladeiras e as torres das igrejas. [...] (p. 22)O narrador em alguns momentos torna-se frio e objetivo, quando traz para o romance textos jornalísticos, principalmente no início do relato. Contraponto com a voz apaixonada e lírica, do narrador, que acompanha de perto a vida das crianças.  Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.

Page 31: Jorge Amado Capitaes De Areia

Linguagem Jorge Amado pertence a uma geração de escritores “regionalista”.• linguagem mais espontânea, coloquial e popular.• Jorge Amado sintaxe “brasileira”. •Capitães da areia é construído por meio da linguagem popular, valorizando as diversas camadas da sociedade.

- Tu quer esse Deus Menino para tu? – perguntou ele de repente. (p. 175)

 -Tu não vai hoje ao Gantois? Vai ser uma batida daquelas. Um fandango

de primeira. É festa de Omolu.

Observe-se também, a repetição de uma palavra ou expressão, ao longo de um parágrafo, que desenha um efeito plástico, musical: A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. É uma voz poderosa dentro dele, poderosa como a voz do mar, como a voz do vento, tão poderosa como uma voz sem comparação. Como a voz de um negro que canta num saveiro o samba que Boa-Vida fez: