Quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Edições raras de livros de diversas áreas estão disponíveis nas bibliotecas de Campo Grande e são pouco procuradas

Jóias literárias

Thiago Andrade

Já imaginou folhear um livro raríssimo escrito no final do século XVII, editado na Itália e escrito em latim? Isso pode ser feito na Biblioteca Pe. Félix Zava-ratto, da Universidade Católica Dom

Bosco (UCDB). Mas ela não é a única biblioteca de Campo Grande que conta com um acervo de li-vros raros. Tanto a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, quanto a Universidade para o Desenvolvimento da Região do Pantanal, além da Biblioteca Estadual Isaias Paim possuem espaços reservados a obras difíceis de serem encontrados.

Contudo, o acesso aos livros ainda é pequeno, principalmente, devido à falta de divulgação. Se-gundo a bibliotecária da Católica Clélia Bezerra, o público que costuma procurar essas obras são os pesquisadores. Na UCDB, 1,5 mil exemplares encontram-se armazenados em uma sala climati-zada no segundo andar. “Separamos esses livros para que não sejam perdidos. Como são obras ge-ralmente antigas, o manuseio sem cuidado pode destruí-las”, explica.

Cícero de Assis, acadêmico de Direito da UCDB, desconhecia o espaço. “Nunca vi nenhum lugar avisando que poderia encontrar essas obras aqui na universidade. Esse ‘História do Brasil’, eu vou ter que ler”, afirma o acadêmico, referindo-se ao livro escrito por Robert Southey, na Ingla-terra, traduzido do “inglêz” (grafado desse modo mesmo), em 1862.

Os livros raros não são emprestados em ne-nhuma das bibliotecas, mas estão disponíveis para consulta local. Basta solicitar acesso à co-ordenação, que os livros são disponibilizados. “O público que busca esse material, costuma saber que ele é frágil e necessita de cuidado. Mesmo assim, mantemos um funcionário próximo, por precaução”, frisa Clélia.

Já na Biblioteca Estadual Isaias Paim, que recebe cerca de 40 a 50 pessoas diariamente, a catalogação de obras raras teve início há pouco tempo. “Decidimos colocá-los em um espaço se-parado e climatizado, mas ainda vamos realizar ajustes para que as obras possam ser conser-vadas de forma ainda mais adequada”, argumenta Aparecido Melchiades, bibliotecário coordenador da instituição.

Apesar da maior parte das obras ser mais novas que as da UCDB, o bibliotecário chama a atenção para duas publicações: um dicionário po-lítico francês de 1873 e o Álbum Gráfico de Mato Grosso, de 1914, que traz a história e imagens da época na região. No local, pesquisadores também podem encontrar a primeira edição do Diário Oficial de Mato Grosso do Sul, datado de 1º de janeiro de 1979.

Autores nacionais e portugueses como José de Alencar e Eça de Queiroz têm edições e coleções raras na biblioteca estadual, além de títulos raros de psiquiatria doados pelo médico Isaias Paim. Contudo, Aparecido alega que “falta divulgação. Não há nada que anuncie que existe uma biblio-teca no prédio, por isso ninguém vem até aqui”.

Todas as bibliotecas permitem acesso aos livros, tanto raros, quanto comuns. Contudo, so-mente a Biblioteca Isaias Paim permite que os li-vros sejam retirados pelo usuário, basta fazer um cadastro e pagar a taxa semestral de R$ 5. Nas outras instituições, somente a consulta local é permitida por quem não faz parte da comunidade acadêmica.

Falta de formação ainda é um problema que atinge as bibliotecas do Estado

Aparecido Melchiades, formado no Instituto de Ensino Superior da Funlec, argumenta que das instituições públicas do Estado, apenas Campo Grande, Naviraí e Chapadão do Sul contam com bibliotecários graduados. “Orgulho-me de dizer que sou formado. É um curso pouco conhecido, mas com um vasto campo de trabalho”, defende. Mas a falta de bibliotecários formados acaba prejudicando as bibliotecas e, com isso, a falta de conheci-mento sobre questões de manuseio e armazenamento de obras.

“Também existe uma escassez de profissionais voltados para a restau-ração. Em Campo Grande não existe nenhum curso específico”, afirma Clélia, bibliotecária da UCDB. Formada em Biblioteconomia pela Universi-dade Estadual de Londrina, ela ressalta que os livros poderiam ser enviados para a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. “Mas corre-se o risco do ma-terial ser danificado no caminho e isso inviabiliza que mandemos livros em condições mais precárias ainda”, explica. (TA)

» Biblioteca UCDB História do Brazil - Robert Southey 1862The Harvard Classics - Machiavelli More Luther 1870

» Biblioteca Isaías PaimAngústia - Graciliano Ramos “Coleção Obras Selecionadas” 1947 Álbum Gráfico de Mato Grosso 1914Dictionnaire dela Politique - Maurice Block 1873

» Biblioteca UFMS Obras sobre história de Mato Grosso do séc. XIX e XX

Livro que está na biblioteca da UCDB sobre o Cristianismo, do autor Paolo Segneri, publicado no ano de 1687

Somente três instituições estaduais possuem bibliotecários formados Aparecido Melchiades

Fotos: Minamar Junior

Fonte: Reportagem

Raridades