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    Mneme Revista Virtual de Humanidades, n. 11, v. 5, jul./set.2004

    Dossi GneroISSN 1518-3394

    Disponvel em http://www.seol.com.br/mneme

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    Brincadeiras e jogos tradicionais de outros tempos

    Anglica ConceioiLicenciada em Antropologia

    Viso Cultural, Lda. Investigao e Organizao de Eventos Culturais, Portugal

    [email protected]

    Sandra NogueiraiiLicenciada em Antropologia

    Professora da Enid High School, Enid, Oklahoma, [email protected]

    Resumo

    A funo social do brinquedo e dos jogos, bem como o papel destes na socializao dos indivduos,

    so o tema principal deste trabalho. O manuscrito menciona e analisa o papel dos brinquedos e das

    brincadeiras na interaco social de homens e mulheres na primeira metade do Sculo XX, em

    Alcanena, Concelho rural, situado no Ribatejo centro de Portugal.

    Partindo de trabalho de campo focalizado na recolha de informao junto da populao idosa deste

    Concelho, o estudo vai mais alm quando examina at que ponto, os brinquedos podem ter entre

    outras funes, a da definio de papis e a da estratificao scio-econmica dos indivduos.

    Palavras-chave

    Brinquedo; socializao; coeso social

    Abstract

    The social functions of the toys and the games, as their role in the socialization of the individuals are

    the reason of this paper. It mentions and analyses their role in the female and male social interaction

    during the first part of the 20th Century, in Alcanena, a rural municipality in the centre of Portugal.

    Starting with a field work focused on collecting information through elderly people, the study goes

    further, when tries to understand how toys carry among their functions, the individuals roles definition

    and their social economic status.

    Key words

    Toy; socialization; social cohesion

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    Introduo

    Brinquedos e Jogos Tradicionais a temtica que nos propomos tratar neste artigo que se baseia

    num estudo de carcter monogrfico produzido para a Cmara Municipal de Alcanena.

    de louvar o interesse e empenhamento desta autarquia no que respeita ao investimento que tem

    feito na investigao de carcter antropolgico e, como tal, agradecemos desde j ao Eng Luis

    Azevedo, presidente da Edilidade e ao vereador Daniel Caf, responsvel pelo pelouro da Cultura e

    Ensino.

    Embora existam j alguns trabalhos editados nestas reas no que concerne ao Ribatejo e, mesmo ao

    concelho de Alcanena, especialmente no que respeita ao jogos tradicionais, estes resumem-se

    apenas recolha e descrio dos mesmos, no tendo obviamente o intuito de aprofundamento dosassuntos.

    Destaca-se, porm, a dissertao de Mestrado de Ana Maria Sequeira, no mbito do curso de

    Educao Fsica e Desporto da Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias que, apesar

    de no se encontrar publicado nos foi gentilmente cedida pela autora.

    Parece-nos, pois, relevante analisar este objecto de estudo luz da cincia antropolgica e

    concentrarmos a nossa ateno na funo social que os brinquedos e jogos tiveram na primeira

    metade do sculo XX no concelho de Alcanena.

    Com isto, pretendemos no s contribuir para um maior conhecimento dos usos e costumes do

    Concelho, mas tambm para uma maior compreenso do passado recente. O registo e anlise de

    diferentes modos de ocupao do tempo e a consequente divulgao dos hbitos de outras

    geraes torna-se, sem dvida, uma mais valia para as geraes vindouras, pois

    nos nossos dias, os brinquedos perderam muito do seu valor social e dos seus significados

    ldicos e mgicos. Deixaram de ser instrumentos activos de formao e divertimento para se

    converterem em mercadorias (...). (Pacheco;1995)

    Que valor socialseria esse que, presumivelmente, se ter perdido para o mundo actual? Que funo

    socialteriam os brinquedos e os jogos nas sociedades ditas tradicionais?

    O estudo do caso de Alcanena tem como objectivo dar resposta a questes como estas.

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    Entenda-se valores sociais como modelos gerais de conduta que favorecem a integrao social e

    que desenvolvem os laos de solidariedade e entenda-se funo social como um elemento que s

    explicvel em funo do todo socio-cultural. O fato de cada cultura ser constituda de uma multido de

    traos selecionados integrados num sistema total significa que todas as partes tm um

    relacionamento especial com o todo. (Hoebel; Frost; 1976) Isto , os usos e costumes relativos aos

    brinquedos e jogos existentes no concelho de Alcanena s so entendveis como parte integrante da

    cultura daquela comunidade.

    Trata-se de uma perspectiva funcionalista em que se enfatiza a dinmica que impera dentro de uma

    cultura.

    Preocupa-se com muito mais do que com a mera descrio de hbitos e costumes. A.R.

    Radcliffe-Brown (1881-1955), que foi um dos primeiros expoentes do funcionalismo e quecontribuiu muito para a seu desenvolvimento, usava uma analogia biolgica para tornar mais

    clara a sua significao.As funes de cada parte so encontradas nas contribuies que d

    a parte para a manuteno do processo vital de todo o organismo. O mesmo acontece com a

    cultura. As funes de cada costume e de cada instituio so encontradas nas contribuies

    especiais que do para a manuteno do modo de vida, que a cultura total. Malinowski

    ressaltou que o inter-relacionamento de todas as partes de uma cultura significa que a

    modificao de qualquer parte individual produzir inevitavelmente modificaes secundrias

    nas outras partes. (Idem)

    Para Marcel Mauss, os jogos so actividades tradicionais que tm como objectivo um prazer

    sensorial, de algum modo esttico. Os jogos esto, muitas vezes, na origem dos ofcios e de

    numerosas actividades superiores, rituais ou naturais, ensaiadas, primeiro, na actividade excedentria

    que os jogos constituem. Distribuem-se entre as idades, os sexos, as geraes, os tempos, os

    espaos. (Mauss; 1967)

    Este autor insere aquilo a chamamos brinquedos numa classificao geral de Jogos Manuais, mais

    concretamente como jogos materiais permanentes. (Idem) Embora tenhamos em conta a

    classificao de Mauss, iremos analisar os brinquedos e os jogos sob os pontos de vista da

    socializao e da coeso social.

    Entenda-se, pois, socializao, como um processo pelo qual ao longo da vida a pessoa humana

    aprende e interioriza os elementos scio-culturais do seu meio, integrando-os na estrutura de sua

    personalidade sob a influncia de experincias de agentes sociais significativos, adaptando-se assim

    ao ambiente social em que deve viver (Rocher). (Lakatos; 1976) A socializao surge, assim, como

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    um processo de integrao que motiva o desenvolvimento da cooperao e da solidariedade entre os

    membros do grupo, permitindo a sobrevivncia do prprio grupo. (Oliveira; 1986)

    Os brinquedos e os jogos so, deste modo, actividades tradicionais que, atravs de um processo de

    socializao, concorrem para uma maior coeso social.

    Com base nos testemunhos dos nossos informadores, pretendemos verificar a relao existente entre

    os brinquedos e jogos tradicionais e o poder econmico diferenciado e o meio ambiente envolvente,

    tendo igualmente em conta o carcter feminino ou masculino associado aos mesmos.

    As variveis jogo e brincadeira, podem desta forma, ser analisadas sob diversas perspectivas:

    1. Gnero

    Apesar da classificao ldica que o jogo e o brinquedo primeiramente possam ter, estes definem e

    contribuem tambm para o desenvolvimento do papel social de cada um dos sexos.

    Na esfera social, os papis das crianas so desde cedo definidos pelo tipo de actividade ldica que

    praticam, sendo estas claramente dicotmicas, ou seja, brinquedos e brincadeiras para raparigasiii e

    brinquedos e brincadeiras para rapazes.

    O acto de brincar cedo ajuda a projectar social e sexualmente as responsabilidades de cada um dos

    gneros.

    a. No caso feminino, as brincadeiras e os brinquedos, situam-se na esfera da sua condio de

    mulheres, mes, esposas e donas de casa, que se assume todas elas um dia sero. Exemplo

    disso so o brincar com bonecas, brincar s casinhas, costurar, bordar, etc.

    b. No caso masculino, eram vedadas as brincadeiras ligadas vida domsticaiv,

    nomeadamente a partir de uma determinada idade, sendo esses momentos ldicos

    preenchidos com objectos como carros, rodas, jogar o pio, jogar bola, brincar ao papagaio

    este tem a particularidade de envolver o sonho de voar, visto tradicionalmente como uma

    actividade masculina - .

    Todas estas brincadeiras e comportamentos a ela ligados, tm directa ou indirectamente ligaes a

    esteretipos culturais ligados a poder, controlo, capacidade de liderana e luta, caractersticas estas

    vistas apenas nos indivduos do sexo masculino. Os brinquedos e o jogo, so sem dvida e

    primeiramente instrumentos definidores do gnero dos indivduos, no do ponto de vista biolgico,

    portanto sexual, mas do ponto de vista scio-cultural, ou seja, o que define e diferencia o masculino

    do feminino.

    Think male and female as designating the biological categories of sex, while masculine and feminine

    designate the social, cultural, and psychological categories of gender. (Hockenbury & Hockenbury,

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    2003: 411). Estes mesmos autores citam os psiclogos Rhoda Unger e Mary Crawford, reafirmando

    que Gender is what culture makes out of the raw materialof biological sex. (Idem). portanto, o

    comportamento social e cultural da sociedade, face a cada um dos indivduos, que define gneros.

    2. Tempo, Quantidade, Qualidade e Status Social

    Os objectos com que se brinca, a quantidade, qualidade e valor econmico dos mesmos, so

    indicadores do estracto social das crianas que com eles brincavam.

    Este texto, sendo fruto de trabalho de campo desenvolvido num Concelho eminentemente rural, onde

    a populao vivia na 1 metade do sculo XX, abaixo dum padro econmico confortvel, revelador

    de que os brinquedos eram escassos em quantidade e diminutos em qualidade. maioria das

    crianas de ambos os sexos, era posta prova a sua capacidade imaginativa e criativa, pois os

    brinquedos eram criados e aperfeioados pelas prprias crianas.

    Os brinquedos eram fabricados com as matrias-primas existentes no seu meio ambiente e deste

    factor dependia directamente a questo da durabilidade destes. Criados com matrias simples,

    facilmente perecveis ou destrutveis como carto, cortia, papel, tecido, etc, a qualidade dos

    brinquedos era por conseguinte muito limitada.

    A nica vantagem que sendo facilmente degradveis, a capacidade renovativa e inventiva era

    bastante mais acentuada. Principalmente quando no se podia de imediato substituir o brinquedo

    destrudo. Outro brinquedo ou outra brincadeira, teria de surgir para preencher este espao.

    No entanto nem s a quantidade e qualidade dos brinquedos eram reveladores do estracto

    econmico das crianas. O tempo e a idade em que se brincava eram igualmente reveladores

    econmico-sociais. Crianas filhas de trabalhadores rurais, brincavam muito menos tempo por dia, do

    que os seus congneres, filhos de lavradores ou de outras famlias abastadas. As crianas de classe

    social baixa, comeavam a trabalhar desde muito tenra idade e o seu tempo de vida infantil era por

    conseguinte bastante mais reduzido, do que as crianas provenientes de classes sociais mais

    confortveis.

    3. Gnero e Espao

    A pesquisa desenvolvida revela tambm que o espao fsico onde decorriam as brincadeiras era na

    maioria dos casos revelador quanto ao gnero, ou seja, de uma forma geral as crianas do sexo

    feminino brincavam em espaos mais interiores, pequenos, como dentro de casa, no quintal ou no

    ptio da escola. Brincavam maioritariamente em pequenos grupos, szinhas, tendo as brincadeiras a

    caracterstica de serem alternadas. Sendo a sua forma de brincar repetitiva, no lhes despertava um

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    certo esprito competitivo, lutador e desafiador, tipicamente caracterstico, das brincadeiras e jogos do

    sexo masculino.

    Os rapazes brincavam em espaos muito mais no exterior do que interior e, em regra geral espaos

    abertos e de grande dimenso, contrastando com o espao ldico dedicado s raparigas. Vemos

    pois, os rapazes a terem as suas brincadeiras maioritariamente na rua, nos campos enquanto

    tomavam conta dos animais de pasto, por exemplo -, no largo da aldeia, no adro da igreja, no ptio da

    escola e maioritariamente em grandes grupos. Esta realidade desenvolveria posteriormente neles

    tcnicas competitivas, empreendedoras, grandes disputas e desafios. Estes jogos ou brincadeiras

    desenrolados em grandes grupos, dar-lhes-a facilmente um entendimento quanto interdependncia

    dos papis sociais de cada um dos intervenientes. Uma socializao feita em larga escala, atravs

    das relaes com o exterior, com o mundo l fora, enquanto que s raparigas a socializao era

    muito vocacionada para dentro e confinada s relaes de dependncia e no de interedependncia.

    H por conseguinte um controlo social sobre o gnero feminino, no s atravs das brincadeiras e

    dos brinquedos, mas tambm atravs dos espaos ldicos a elas destinados. De uma forma geral,

    indivduos do sexo masculino e feminino no brincavam juntos e em muitos casos nem sequer

    partilhavam o mesmo espao fsico nas suas brincadeiras.

    Situaes em que aparecem ambos os sexos juntos, acontece na maioria das vezes, durante a

    adolescncia, nomeadamente em actividades, como bailes, festas populares, ou reunies sociais

    volta de uma fogueira. Mas mesmo aqui, em muitas das freguesias analisadas, as raparigas eram

    quase sempre acompanhadas por um adulto.

    Este trabalho reparte-se por duas grandes reas, sendo que dedicamos a primeira parte, quilo a que

    resolvemos entitular de Brincadeiras de Outros Tempos. O captulo consubstancia-se nas prprias

    palavras dos informantes, pois nada melhor para o leitor que poder imaginar atravs das palavras e

    expresses dos mesmos como se brincava antigamente. Na nossa opinio esta modalidade permite

    que a mensagem possa ser comunicada de forma mais real, quase como se de um quadro se

    tratasse, um quadro colorido.

    Optmos por identificar o discurso de cada um atravs de um diminuitivo da nossa inteira

    responsabilidade, sem que a freguesia a que pertencem esteja claramente identificada. Isto porque

    chegmos concluso que a residncia de cada informante no relevante para as questes em

    anlise e, por isso mesmo, pretendemos espelhar a homogeneidade existente em termos geogrficos

    salientado a importncia de outros factores.

    A segunda parte inteiramente dedicada anlise dos brinquedos e dos jogos tradicionais. Da

    origem e expanso dos mesmos at funo social que tanto os jogos como os brinquedos

    ocuparam no contexto da criao dos nossos informantes, aos quais no podemos deixar de

    agradecer o seu grande contributo.

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    Manuel Capaz

    Maria da Conceio Azedo

    Crielmira de Jesus Sintro

    Maria de Lurdes Henriques

    Manuel Constantino Alegre

    Joaquim Jorge Correia

    Joaquim Correia Martins

    Maria Ferreira Louro

    Joo Gil Martins

    Maria Dionsio dos Santos Vieira

    Joo Rosado Sebastio

    Esperamos, efectivamente, que os leitores de hoje, tanto aqueles que ainda tm memria das suasbrincadeiras como os que nunca ouviram falar de bonecas de papelo e de fisgas, encontrem nesta

    abordagem um conhecimento adicional sobre o concelho de Alcanena.

    Brincadeiras de outros tempos

    Sozinha

    Na minha infncia, a me no deixava sair para ir brincar com os outros midos, por isso brincava emcasa no quintal. Tinha um quintal grande e ali me entretinha. Havia l uma roseira e ali brincava

    volta. Fazia os meus jogos e cantava as minhas cantigas. Gostava muito de cantarolar!

    E tambm usava aqueles carrinhos de linhas, que ainda hoje se vendem e andavasempre procura

    que a me gastasse as linhas para usar os carrinhos para fazer uns taces para os sapatos. Enfiava

    uma linha no buraco, metia-os por baixo dos sapatos e atava por cima do p, por cima do peito do p,

    e andava. Fazia daquilo uma brincadeira.

    Brincava muito sozinha. A irm tinha 12 anos a mais do que eu e j era uma mulherzinha para fazer

    outras actividades em casa para ajudar a me.

    Bonecos s tive um. Um bonequinho que um primo meu que morava em Lisboa, e costumava mandar

    umas coisinhas no Natal para ns para comer, me mandou. Mandou um boneco para mim. A cabea

    era em papelo e os braos e o tronco era tudo em pano. Era uma coisa que no se podia molhar

    seno estragava-se. Era uma espcie de papelo plastificado. Eu fazia roupinhas com uns

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    bocadinhos de tecido que a me dava, e como eu era muito jeitosa, fazia uns macaquinhos, e essas

    coisas.

    Tambm jogava malha, que ainda hoje se joga, com um bocadinho de caco de uma telha, por

    exemplo. Aperfeioava aquilo um pouquito. Nunca soube saltar corda e aquele jogo que era para

    pr as duas mos em cima das costas de uma colega, na escola, tambm nunca soube fazer.

    Na escola, aos sbados tnhamos as nossas actividades religiosas, j fazamos uns trabalhinhos

    manuais e todos os dias se rezava um pouquinho na escola primria. Jogvamos no recreio tanto

    com rapazes como com raparigas. Nunca joguei muito bola, nem ao pio. Nunca tive muito jeito.

    A minha actividade quando era mais pequena, mesmo em casa sozinha, era andar de balouo. Tinha

    um balouo feito pelo meu pai debaixo de um barraco, aberto para o quintal, mesmo que chovesse

    no havia problema. Tinha duas cordas, uma de cada lado, e tinha uma tabunha em baixo. E eraassim, tomava balano sozinha, para a frente e para trs, para a frente e para trs. Ainda hoje sei

    fazer isso.

    Naquela poca, l perto de mim, todos brincvamos mais ou menos desta maneira. Mas havia

    aqueles matules que j se juntavam uns com os outros ao p de uma capelinha que ainda hoje l

    existe e eu espreitava pelo buraco do porto, com muita vontade de ir para o p deles. Mas no, para

    a rua no se podia ir. Por vezes at partiam as telhas com as fisgas, para matar os passarinhos e era

    assim que eles se divertiam, a fazer mal.

    Lurdinhas

    Eu, por exemplo, era pequenita. At ir para a escola, o filho do dono da fbrica, que era o menino

    Luzinho,( ainda hoje o menino Luzinho e tem 74 anos), ele tinha a mania que a filha do Sr.

    Joaquim, a Lurdinhas, tinha de ir brincar com ele. Mas eu depois fui para a escola e afastei-me de l.

    Sim, ele no saa do quarto sem eu estar dentro do quarto, porque pensava que eu que fugia. Ele

    dizia para a criada: Agora fechas a porta! E dizia para mim: E agora tu ds a volta cama e sentas-

    te a no cho! E eu tinha que me sentar l no cho. Depois ento que a criada o tirava da cama, o

    lavava, o vestia e o arranjava e, depois ento, que eu j podia sair. Mas se tivesse vontade de ir

    fazer xixi eu no podia ir fazer, porque ele dizia: Tu queres fugir, mas eu no te deixo! E eu fazia

    nas carpetes...

    Quando fui para a escola, afastei-me de l logo. O meu pai era mestre e o patro ia pedir ao meu pai

    e o meu pai no lhe dizia que no. Saa uma operria da fbrica para me ir buscar a casa da minha

    me. Quantos vezes chegou ao cabeo da mata e gritou: Ti Maria, venha vestir a sua menina

    para ir brincar com o menino.!

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    No meu tempo, a gente, raparigas, juntvamo-nos todas. Havia um rancho de raparigas que era

    qualquer coisa! Juntvamo-nos todas na fbrica. S na minha casa ramos quatro, na casa da

    vizinha eram cinco. Juntvamo-nos todas e amos ao alecrim, e fazamos uma fogueira quando

    chegava ao ms do S. Joo. Todas as semanas havia fogueiras l nos Estreitos, todas as semanas

    havia bailarico. No tnhamos mais nada, por isso era cantar e bailar ali na rua. Cantvamos,

    bailvamos, saltvamos fogueira e jogvamos ao raminho tranchado.

    Raminho ranchado

    Que nome me ds...

    Era uma correnteza de raparigas e rapazes e ia uma com o raminho e dizia:

    Raminho ranchado.

    E a outra dizia:

    Que amor me ds ou virs.

    E dizia-lhe ao ouvido o nome do rapaz. Mas j no me lembro bem como era a seguir, eram

    brincadeiras que a gente tinha.

    A escola tinha um livro na porta da escola, em pedra, a dizer quem tinha oferecido. E tinha casa de

    habitao. Tinha quartos, tinha sala, tinha cozinha, tinha tudo, para as professoras que l estivessem

    a dar aulas. Habitaram l muitas professoras e deram aulas l. Era uma sala grande com trs

    carreiras de carteiras, uma secretria e dois quadros. Foi onde eu aprendi a ler e a escrever at 3

    classe. Tinha um grande quintal e um poo l em cima. Eu era muito cabrazona e havia uma ladeira

    relvada e eu punha-me l em cima deitada ao p do poo e vinha a rebolar at c abaixo.

    O meu filho jogava muito ao domin, s damas e ao xadrez.

    *os nomes entre parntesis foram alterados

    Manelito

    As brincadeiras era bola e coisa... eram mais ou menos... A gente no tnhamos era stios para isso,

    jogvamos no meio das fazendas, dos terrenos. E as bolas tambm no eram to boas, era assim

    com um bocadito de trapos, umas coisas quaisquer; no tinha dinheiro para ter essas bolas boas

    como h agora.

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    A gente no brincava com muitas coisas porque os dinheiros no chegavam para comprar essas

    coisas. Nem havia... Hoje um mido mais rico num dia do que a gente era durante toda a vida. No

    havia brinquedos e jogos como h hoje. Antigamente, mesmo que os pais tivessem possibilidades,

    no havia.

    Fazamos coisas imaginrias mas nunca mais era aquilo que hoje. Hoje h aquelas coisas plsticas

    que os cachopos fartam-se de brincar e dantes era um carrinho de madeira ou uma coisita qualquer...

    Mas os pais da gente no podiam comprar aquilo porque aquilo ainda era caro.

    Fisgas e coisitas... Com papagaios nunca brinquei muito a isso, mas havia quem brincasse.

    Pois, trabalhava-se mais cedo e os pais todos tinham que lhe dar a fazer. Quando eu era pequeno,

    mesmo quando a gente saa da escola, tnhamos que ir guardar umas cabeas de gado ou tnhamos

    que ir para a fazenda apanhar figos ou fazer qualquer coisa, toda a gente tinha que mexer qualquer

    coisa.

    No, os rapazes e as raparigas no brincavam juntos, nem na escola nem na rua. Nunca tinham

    comunicaes uns com os outros. Lembro-me uma vez que meteram l umas raparigas na escola

    dos rapazes, mas quando era para brincar elas estavam todas apartadas, nunca se misturavam. No,

    no, no se misturavam e ai daquele que tocasse em qualquer coisa. No havia possibilidade.

    Ali na escola no havia condies para esse convvio. S mais tarde quando a gente comeasse a

    tomar rumo de vida que... ali no, na escola no. Mais tarde nos bailaricos ou s se fosse com

    vizinhas ou com pessoas assim do conhecimento, de resto no.

    Quim

    Ah isso o piozito era sempre o scio da gente. Dum bocadinho de madeira fazia-se um pio que era

    um instante, fisgas tambm. E papagaios mandvamo-los para o ar... Havia quem tivesse jeito para

    fazer carrinhos de madeira, mas eu tinha pouca habilidade.

    Quinzinho

    Jogvamos bola. Eu jogava muito, tinha uma loucura pela bola. Era o chinquilho, era o pio, o jogo

    da bilha. Tnhamos para a 7 ou 8 anos, eu andava na escola. A partir do momento em que sa daescola j no tinha tempo para brincar.

    Ainda no tempo da minha me, eu tinha sete anos e ela j estava doente, o meu irmo ia escola de

    manh e eu ia de tarde, para estar sempre a brincar. Ia guardar umas 3 ou 4 ovelhas que a gente

    tinha e tinha que levar os trabalhos da escola para fazer por l.

    H uma gruta, que a gente chamava a Gruta das Figueirinhas, e eu fazia os trabalhos da escola l.

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    Fazia os meus brinquedos. Os meus brinquedos eram uma roda de cortia, cortia porque a gente

    tinha cortia, depois punha-lhe um eixo com uma cana.

    Os rapazes brincavam com as raparigas. porta da escola fazia-se um bailarico todos os dias. As

    raparigas danavam com os rapazes e a que eu aprendi a danar. Aqui na Louriceira no havia

    escola dividida. Era s uma escola, que no aquela, uma casa que est ali em cima, e os rapazes

    estavam junto com as raparigas.

    Nesta freguesia no havia condies para haver escola dividida. A escola nova foi feita em 1945 ou

    46. Nessa altura j era dividido. Foi a que eu fui fazer exame da 3 classe do curso de adultos com

    30 anos. Fui para ali junto com os rapazes. Se ficasse bem podia fazer o exame da 4, mas nessa

    altura foi a altura em que me fui embora para Lisboa e j no fiz o exame da 4.

    Gilinho

    Quando era criana arranjava uma roda de um barril com um arco com arame, jogava a uma coisa

    que era um pio. Jogvamos ao boto aqui nas paredes, atirvamos com o boto direito s paredes e

    em ficando perto um do outro um palmo, ganhava o jogo, pois era!

    Joozinho

    Na minha infncia, quando eu era criana, gostava muito de jogar bola. Pratiquei futebol at quase

    aos 40 anos, mas levei pancada quando era mido. O meu pai no gostava que a gente jogasse

    bola. Tenho um irmo que era um encegueirado a jogar bola, encegueirado mesmo pela bola,

    mas era mais reguila. Eu no, eu acobardava-me mais e ento cheguei a levar tareia. Tinha 12, 13 e

    14 anos. O meu pai no queria que eu jogasse bola, porque no gostava que eu jogasse bola.

    Os pais no gostavam que a gente jogasse bola, no se compreende porqu?! Quer dizer, at se

    compreende! Havia falta de um bocado de mentalidade nas pessoas. O meu pai, ento, nunca me

    bateu por isto. Eu fui caador durante muitos anos e a que ele.., cada vez que eu saa para a

    caa, a que ele ficava todo contente. Mas jogar bola.., cada vez que ele sabia que eu ia jogar

    bola... A gente aqui jogava. Eu joguei em Alcanena, e aqui as aldeias jogavam umas com as outras.

    Cada vez que ele sabia, a minha me tinha que fazer aquele papel, ralhava, ralhava E agora foste jogar bola e agora partes uma perna ou partes um brao!! Ou mais isto ou mais aquilo... Era

    mesmo assim, a gente tinha que trabalhar todos os dias. No gostava que a gente jogasse bola!

    O brinquedos, antigamente, fazamo-los ns.

    Sabe o que uma pinha de um pinheiro? Bravo, de um pinheiro bravo. H o pinheiro manso e h o

    pinheiro bravo que uma pinha sobrecomprida. A gente apanhvamos as pinhas bravas,

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    apanhvamos as pinhas bravas e com duas pinhas e um cavaco em cima daquelas caixas que as

    pinhas tinham. Era a canga, era uma junta de bois. As pinhas eram a junta de bois e atvamos uns

    cordelinhos para puxar por eles. Fazamos um carrinho de cortia, com duas rodazinhas de cortia,

    que a gente faza, pnhamos o carrinho atrs das pinhas e era os bois que puxavam as pinhas.

    Bicicletas... Tnhamos naquele tempo uma bicicleta. Arranjvamos duas canas, abramo-las ao meio,

    metamos uma rodazinha de cortia no meio, com um eixozinho de madeira. Fazamos-se uma

    bicicletazinha e aqui em cima fazia-se um guiador com uma rodazinha de cortia.

    E era o arco, era o arco... De ferro ou de lata, ou de chapa, desta coisa dos arcos dos barris de vinho.

    Arranjvamos uma gancheta para tocar o arco e eram essas as nossas brincadeiras aqui.

    E era jogar ao pio, jogar ao feijo... Pronto, eram essas as brincadeiras que a gente tinha.

    Os rapazes e as raparigas no brincavam muito juntos. No muito. Antigamente, normalmente os paisno consentiam que elas se juntassem com rapazes a brincar. No senhora!

    Manelinho

    Naquela altura era diferente de agora, porque os divertimentos desse tempo das aulas na escola era

    brincarmos uns com os outros. Jogava-se ao pio, jogava-se com as bugalhazitas. Bugalhazitas

    pequenitas dos carvalhos. E a correr atrs uns dos outros e a fazer saltos para cima uns dos outros.

    Era tudo diferente de agora, agora no h nada disso.

    As raparigas brincavam para um lado e os rapazes para o outro. Agora que tudo misturado. Erarapazes com rapazes e raparigas com raparigas. Mas s vezes tambm brincvamos com raparigas.

    Mariazita

    As crianas brincavam nas rua umas com as outras.

    No havia os passatempos que h hoje e noite estava tudo em casa.

    Entrvamos aos sete anos para a escola. No havia jardins-escola nem essas coisas e aqui se

    entretinham uns com os outros.

    Mariazinha

    O meu pai foi um homem muito orientado, mas andava por l quando era ao fim de semana estavam

    por l nas tabernas at ao outro dia a jogar ao dinheiro. Depois isso foi proibido, mas esta gente

    antiga, como o meu pai, jogavam muito. Jogavam s cartas ao dinheiro.

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    Uma corda atada a um ramo de oliveira, era um balanc

    As candeias, flores espontneas que abundam nos primeiros meses do ano, transformavam-

    se em candeias a srio

    Carumas entrelaadas eram santinhos que se sustinham em p

    Quatro rodas de casca de melo e cavaquinhos a uni-las faziam um carro

    Um pau bifurcado e um elstico formavam uma atiradeira (sic) (Fisga)

    Duas pinhas, atadas por um fio de comprimento varivel, representavam uma junta de bois e

    um pau ao ombro, o aguilho

    Com caixas de fsforos construam-se cestinhas

    Raminhos de cerejas serviam de brincos

    Com trapos velhos faziam-se lindas bonecas

    As paredes velhas armazenavam arroz para cozinhar, o chamado arroz dos telhados

    Um carolo transformava-se em boneco, sendo dois pauzinhos as pernas e o terceiro os

    braos

    Novelos de meias velhas serviam de bolas

    Mos habilidosas recortavam elegantes figuras de papel

    As partes laterais de um p de milho, para esse fim golpeado, produziam estalidos, quais

    castanholas

    Um curto e certeiro golpe num p de trigo fazia um apito

    Na Santana, feira anual de Minde, os petizes esbugalhavam os olhos perante as carrocinhas de

    lata, bonecas de papelo, brinquedos de madeira, sem esquecer as vistosas e tentadoras bolas

    de serradura. Estas irresistveis bolas, forradas a papel prateado de cores vivas, presas aos

    dedos por um elstico, iam e vinham batendo na palma da mo at que uma distraco, ou um

    impulso excessivo, fazia espalhar a serradura pelo cho.

    Flautas, canivetes e cornetas constituam outras tantas tentaes. (1994: 189;190)

    Dos Brinquedos aos Jogos Tradicionais

    A origem do brinquedo perde-se no tempo, se tivermos em conta que qualquer objecto se podetransformar num meio de divertimento. Qualquer pedrinha ou qualquer pauzinho serve para entreter a

    imaginao frtil de uma criana.

    De acordo com Pina Rodrigues, O brinquedo-objecto nasceu com o Homem. O brinquedo-jogo veio,

    possivelmente, depois, j que as suas regras deixam supor a existncia de uma sociedade mais ou

    menos organizada, com as suas normas de vida, as suas leis. (1983:9)

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    Neste sentido quase que somos levados a crer que as sociedades menos complexas como as dos

    caadores-recolectores no recorrem ao brinquedo-jogo como forma de educao, o que no nos

    parece plausvel. As sociedades encontram-se organizadas com maior ou menor complexidade, mas

    as normas de conduta e os costumes existem na mesma independentemente do grau de

    complexidade.

    Efectivamente, Os primitivos nunca enfatizam a educao para a vida como o fazemos em nossas

    escolas. Num grupo tribal, a educao vida. Os pais no trabalham em fbricas ou escritrios que

    as crianas nunca vem. As crianas no ficam encerradas numa escola longe de casa durante horas

    e dias sem fim. Num simples acampamento ou aldeia, as crianas esto em volta de um lado para o

    outro enquanto se realizam todas as actividades fundamentais da vida adulta. Eles podem brincar

    com um arco e uma flecha at chegarem idade de irem para a caa e aprenderem a preceito, na

    prtica, como us-los com maestria.

    Eles podem brincar em volta das crianas mais velhas que esto guardando o rebanho at que

    estejam aptos eles mesmos, para guard-los. Podem ver e imitar os danarinos at que eles prprios

    sejam admitidos dana. (Hoebel; Frost; 1976:60)

    Parece-nos que a precedncia do brinquedo-objecto face ao brinquedo-jogo tem menos a ver com o

    grau de desenvolvimento das sociedades em si e mais com o estgio de aprendizagem do indivduo

    face sua integrao na comunidade. Isto porque o brinquedo-objecto poder ser mais facilmente

    associado ao entretenimento individual enquanto o brinquedo-jogo implica a relao de grupo e,

    consequentemente, a aprendizagem de regras de convivncia social.

    Pegar numas pedrinhas e num pau e transform-los num brinquedo um cenrio to realista numa

    tribo nmada de frica como o em Alcanena na primeira metade do sculo XX. Mas do brinquedo-

    objecto com base nos materiais que a natureza fornece aos carrinhos telecomandados dos dias de

    hoje vai um grande passo e aqui sim, o desenvolvimento tecnolgico das sociedades modernas

    ocidentais factor decididamente explicativo.

    No entanto, o brinquedo-jogo, como por exemplo o jogo da bola, implica j a aprendizagem das

    regras da sociedade e o treino de convivncia dentro do grupo. As regras do jogo associadas ao

    brinquedo so j modelos de vivncia em grupo e regras de conduta social, sejam estas mais simples

    ou mais complexas.

    Irrequieto como as crianas que diverte, o brinquedo salta fronteiras, no pra, corre o mundo inteiro.

    Atravessa continentes e oceanos, acompanha os guerreiros na conquista das terras, as populaes

    nas suas deslocaes, os navegadores nas suas longas viagens.

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    Torna-se cidado do mundo. As crianas adoram-no, os adultos ao v-lo revivem tempos passados.

    (Rodrigues; 1983:9)

    O brinquedo universal; o jogo universal. O acto de aprender a brincar comum a todos os povos

    e a todas as culturas, sejam eles pastores nmadas em frica ou camponeses na China, vivam eles

    em Tquio em pleno sculo XXI ou em Alcanena no princpio do sculo passado.

    Pondo de parte certos aspectos de difuso de brinquedos por antigos povos invasores da Pennsula

    ou casos de aparecimento simultneo em regies culturais muito separadas entre si e que no

    sofreram, nesse campo, influncias externas, e reportando-nos a tempos mais modernos, essa

    expanso devia ter sido feita por uma das vias normais da interpenetrao cultural pessoas dumas

    localidades que se fixam definitiva ou temporariamente noutras (...). (Rodrigues; 1983:12)

    Muitos dos brinquedos e dos jogos existentes no concelho de Alcanena so comuns a todo o Pas e aoutras regies do mundo, como o papagaio, o pio ou a bola, apenas para referir alguns exemplos.

    Pintores de fama no desdenharam reproduzir nas suas telas os mais variados brinquedos.

    Bruegel pintor flamengo do Sc. XVI no seu quadro Jogos Infantis exposto no Museu Histrico

    de Arte de Viena, pintou os jogos e brinquedos usados pelas crianas da sua poca. Nele se vem

    rapazes com o pio, as andas ou pernas de pau, o belindre, jogando ao eixo, correndo com o arco,

    jogando o l-vai-alho, andando s cavalitas, brincando malha ou aos paulitos, montando o cavalo

    de pau, etc. As meninas brincam s cadeirinhas com os rapazes, uma outra enche de ar uma

    bexiga de porco e joga s lojas com uma balana (...) e, ao p, um papelcio com p de tijolo, p

    que ela procura obter de um tijolo que esfrega, exactamente como o faziam as meninas de poucas

    dcadas atrs.

    Algumas brincam com bonecas ou andam de baloio. Aparecem tambm a cabra-cega, o comboio e

    outras brincadeiras que desconhecemos. Este quadro, de grande importncia para o estudo dos

    brinquedos e dos jogos do Sc. XVI mais um documento a confirmar a sua universalidade.

    Noutro quadro de Bruegel - Combate entre o Carnaval e a Quaresma -, tambm exposto naquele

    museu, l vemos o pio.

    Velasquez reproduziu no quadro Prncipe Baltazar Carlos o Caador uma pequena espingarda; e

    Goya, outro afamado pintor espanhol, reproduziu La Cometa (o papagaio de papel) em obras

    expostas nos Museus do Escorial e do Prado.

    No Museu do Prado est tambm um outro trabalho deste pintor - Los Zancos (as andas).

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    O nosso grande Jos Malhoa no Pastorinho pintou uma flauta rstica tocada por um pequeno

    pastor. No quadro O Pfaro Novo, Henrique Pinto mostra-nos um rapazito tocando pfaro.

    O saragoano Bayeu, em O jogo da Vaquinha tambm exposto em El Escorial, mostra-nos rapazes

    brincando s touradas com uma espcie de tourina feita de um cesto. (Rodrigues; 1983:11)

    A cultura desenvolve-se atravs de inovaes e, especialmente, atravs de processos de difuso.

    Muitos dos brinquedos que hoje conhecemos correram o mundo e foram sofrendo alteraes de

    acordo com a cultura especfica de cada povo.

    Com o incremento das trocas, tambm a interpenetrao cultural se intensifica. As migraes

    proporcionam um maior enriquecimento cultural e, sem dvida, que o concelho de Alcanena no est

    isolado deste fenmeno. Quantos no foram aqueles que aqui fixaram residncia? Quantos no

    foram os que emigraram e regressaram sua terra natal? O patrimnio cultural do Concelho no querespeita aos brinquedos e jogos tradicionais reflecte toda esta riqueza.

    De acordo com Pina Rodrigues, No obstante as diferenas existentes em muitos aspectos da vida

    social e cultural das diversas provncias portuguesas, os brinquedos so praticamente os mesmos de

    Norte a Sul do nosso pas, embora uns sejam mais usados do que outros e ser possvel terem

    desaparecido aqui para aparecerem ali, desaparecerem agora para surgirem mais tarde com outras

    modalidades. (1983:12)

    Haver brinquedos mais comuns a umas regies do que a outras, como o caso da tourinha na

    regio da Lezria, mas muito raramente existir exclusividade.

    Mais recentemente a expanso cultural pelos meios de comunicao social, com toda a sua carga de

    aspectos positivos e negativos, tem igualmente grande importncia no respeitante imitao por

    parte das crianas de inventos como o automvel, o submarino, o avio, o foguete interplanetrio.

    (Rodrigues; 1983:12)

    E, por outro lado, Feito dos mais diversos materiais madeira, barro, metal, papel tm mantido as

    suas caractersticas essenciais em toda a parte, com maior ou menor rudeza, com maior ou menor

    perfeio. o caso do pio, belindre ou papagaio.

    Se certo que poderiam ser imitados de objectos usados para fins diversos que no para distrair

    crianas, como o papagaio utilizado na China como planador para observar tropas inimigas e enviar

    mensagens de pedido de socorro no caso de cidades cercadas, tambm certo que tm contribudo

    para o avano das cincias. O pio deu origem ao giroscpio e s suas variantes, indispensveis

    para vigiar a estabilizao de navios, submarinos e avies; e o papagaio, experimentado com fins

    cientficos, serviu de base inveno do pra-raios.

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    O brinquedo adapta-se, acompanha a evoluo das sociedades onde se integra, nos seus usos e

    costumes, na sua tcnica, na sua vida social.

    A boneca de frica no feita da mesma madeira que as das provncias portuguesas ou

    apresentadas pela indstria. Os materiais variam consoante os lugares e, no caso dos brinquedos

    industriais, conforme o avano tcnico dos fabricantes.

    A boneca moderna anda pelo seu p, chora, diz pap e mam e bebe o leitinho todo. S lhe falta

    ter alma.

    O automvel e o comboio de madeira ou de arame e cana, dos meios rurais, precisam de quem os

    puxe; os carros modernos feitos de material plstico ou outro, com grande cpia de pormenores de

    inexcedvel perfeio, andam sozinhos ou so telecomandados; o comboio tem vida prpria, andapelas linhas e obedece aos sinais como se fosse conduzido por maquinista experimentado.

    (Rodrigues; 1983:9;10)

    Efectivamente, o brinquedo evolui, tal como evoluem as sociedades. As crianas de hoje j no

    brincam com carros de bois em madeira, pois esto inseridas no seu tempo tal como os seus avs e

    bisavs estavam contextualizados nos seus. O mundo das crianas de hoje o mundo da informao

    e da realidade virtual, o mundo dos complexos sistemas tecnolgicos e da economia global. No

    um mundo pior nem melhor, simplesmente diferente.

    No que respeita concretamente ao jogo, e de acordo com Ana Maria Sequeira, Para conhecer o jogo

    necessrio antes de mais conhecer o seu envolvimento (o exterior); o tempo e o espao, so

    fundamentais na vida do Homem e expressam a importncia e a interpretao do jogo tradicional por

    parte do Homem. Tal concepo expressa-se no jogo na sua dimenso simblica. (1997:9)

    E ainda: Outros jogos tiveram origem no trabalho humano ou nos utenslios do trabalho, sobretudo

    no rural.

    A ligao de alguns bastante mais evidente que noutros, como no caso da subida do pau de

    sebo, resultante do trabalho dos madeireiros no corte das florestas; a corrida de sacos, relaciona-se

    com a guarda dos cereais; a corrida de cntaros, evoca o trabalho da mulher a ir fonte buscar gua;

    o jogo do malho, ter a sua origem no trabalho em pedreiras ou dos canteiros; o jogo da pinha e a

    reca relaciona-se com o ponheiro, (dela existem outras variantes, a mais simples e variada a

    bilharda); o jogo da corrida de burros no qual se utilizava um burro para o transporte de pessoas e

    cargas relacionadas com a ida s hortas e servios a ele relacionados; o jogo do pau, nasce do

    cajado do guardador de rebanhos, que serve de auxiliar nos caminhos acidentados, de apoio para as

    fadigas e de arma contra qualquer espcie de inimigo.

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    Nem todos os jogos mostram to claramente a origem laboral. o caso da malha ou fito. Antigamente

    era jogado com pedras, pedras essas que eram atiradas para moragalhos ou que atiravam, a

    pssaros tentando acertar-lhes. Ora daqui at ao jogo vai um passo. Hoje este jogo joga-se com

    malhas de ferro ou moedas.

    Para o jogo da bilharda, no se utilizam pequenos paus aguados cortados das rvores por um

    canivete. Ter bastado um toque com um outro pau numa das suas pontas eventualmente aguadas

    para desencadear o processo ldico. (1997:10)

    E prossegue, citando A . Cabral, na sua obra Jogos Populares Portugueses (1987):

    Os jogos mais genericamente articulados com o ambiente de trabalho soaqueles que surgem mais espontaneamente ao esprito dos trabalhadores nas

    suas tardes de Domingo.

    Se bem que o jogo est vinculado ao trabalho, difere no entanto dele, pois ao trabalhar o homem no

    realiza apenas o necessrio. Ele faz o que tem de fazer obrigado pela necessidade prtica ou

    induzido pelos seus deveres independentemente de interesses ou necessidades imediatas.

    A diferena essencial entre a actividade do jogo e a do trabalho reside na diferente atitude da

    personalidade em relao sua prpria actividade. (1997:10;11)

    A referida autora refere A. Cabral e a sua opinio quanto existncia de trs atitudes fundamentais

    que esto na origem do jogo popular: a transferncia, a imitao e a substituio.

    Por transferncia, entenda-se o trabalhar numa actividade ldica por se lhe ter achado prazer. o

    caso do malho, corrida de andas, subida ao pau ensebado, jogo da reca, jogo da pedra, etc.

    Embora a imitao esteja presente na atitude anterior, no o est de forma decisiva. Efectivamente,

    A imitao a atitude dominante, retoma o nome e a estrutura, mas modifica os processos e os

    objectos. Tome-se por exemplo a corrida de carros de pau que imita as corridas de cavalos,

    automveis, motos, etc.

    Os jogos so, pois, uma bela forma de relao intersubjectiva, de actividade social.

    A imitao mantm-se depois da entrada na escola primria. (1997:11)

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    Quanto substituio, trata-se de substituir o objectivo da aco prtica pelo objectivo da aco

    ldica, que se torna, deste modo, smbolo do primeiro.

    Ana Maria Sequeira considera que o jogo dos polcias e ladres, o jogo das mes e filhas, etc. so

    exemplos desse processo de substituio.

    No entanto, demonstra o quanto estas trs atitudes interagem umas com as outras no processo de

    construo da personalidade da criana.

    Ao observar a criana nestes jogos, para alm da imitao ao adulto, o que mais sobressai a

    transferncia para o jogo da necessidade de se afirmar, de mostrar que ela tambm tem uma

    personalidade. Como diz Chateau: A criana refugia-se num mundo onde toda poderosa.

    transferncia que consiste em transformar uma atitude sria numa atitude ldica, no lhe podemoschamar s de transferncia porque neste caso ela conjuga-se com a imitao. o caso das crianas

    brincarem s professoras e alunos, ao bom barqueiro, etc. Alis, as atitudes de imitao, de

    transferncia e de substituio conjugam-se, dependendo da capacidade inventiva. (1997:12)

    Se assim entendido na perspectiva da psicologia, sob o ponto de vista antropolgico,

    atravs de um processo de imitao que a criana aprende os padres de conduta da sociedade em

    que est inserida. Atravs do brinquedo e do jogo a criana socializada ou enculturada, isto ,

    aprende de forma no institucionalizada, de forma inconsciente. Joga o jogo da vida.

    Segundo Bernardo Bernardi, importante notar que a enculturao, na mesma medida em que

    transmisso da cultura estabelecida pelos pais (...), tambm um meio de crtica, isto , de escolha,

    que implica adeso conformista ou, no extremo oposto, recusa renovadora. A enculturao actua num

    momento preciso que poderia tambm descrever-se como presente cultural e reflecte o etnostilo

    desse dado momento; mas, embora se baseie naquilo que j foi construdo no passado, projecta-se

    no futuro. (1974:92;93)

    Um jovem de Alcanena de hoje, como qualquer um de qualquer outra cultura, torna-se

    comparticipante do modo de vida de Alcanena de hoje e prepara-se para construir o futuro do

    Concelho de amanh.

    O processo enculturacional informal d-se continuamente ao longo de toda a vida. No h

    momento algum em que cada um de ns no amadurea com actividade autnoma, ou no

    receba, conscientemente ou no, quaisquer valores ou modo de vida pelos quais se torna

    membro de uma determinada cultura num preciso momento de tempo e de lugar (...).

    (Bernardi; 1974:93)

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    O fenmeno revela-se com maior incidncia no perodo da infncia, quando a criana

    educada para ser homem, no mbito da famlia e dos grupos espontneos da mesma idade.

    O objectivo essencial da famlia dar criana uma forma de vida, um etnostilo, algo a que

    conformar-se como ponto de referncia quanto mais no fosse para super-lo ou neg-lo. Na

    famlia, particularmente no primeiro contacto com a me e, depois, com os outros membros, a

    criana aprende quem , o que vale, o que deve fazer para se tornar homem adulto. (Idem)

    De acordo com Bernardi, A formao de grupos espontneos entre crianas pequenas s

    aparentemente tem como fim o divertimento e o jogo; na realidade, representa a primeira tomada de

    conscincia das relaes sociais e um modo concreto de as realizar. (1974:94)

    A criana de ontem, como a de hoje, imitaria os adultos com quem vivia. As armas de defesa eataque e os instrumentos de trabalho seriam os modelos dos seus primeiros brinquedos. As meninas

    teriam os seus irmos mais novos como modelos dos seus bonecos. (Rodrigues; 1983:9)

    Assim as crianas aprendiam os diferentes papis que mais tarde viriam a representar na

    comunidade. As meninas imitam as mes e as irms mais velhas, brincam s casinhas e fazem

    vestidinhos para as suas bonecas. Os meninos aprendem a ser homens e brincam com carrinhos de

    bois, como podemos verificar atravs do testemunho dos nossos informantes. O processo de

    socializao to subtil que ainda hoje, num mundo completamente diferente, existe algum

    preconceito em oferecer uma boneca a um rapaz.

    A grande diferenciao sexual do trabalho caracterstica das sociedades tradicionais est bem

    espelhada no tipo de brinquedos utilizados pelos rapazes e pelas raparigas, por isso a Sozinha

    brincava com bonecas e o. Joozinho brincava com carrinhos.

    No perodo infantil, a imitao o aspecto da enculturao que mais surge como determinante. Seria

    errado, por outro lado, pensar que as imitaes cessam com a idade infantil; pelo contrrio,

    continuam toda a vida e prosseguem com o processo enculturacional. (Bernardi; 1974:94)

    Seria, pois, errado pensar que na idade infantil a imitao actua s passivamente; desde os

    primeiros anos, com um crescendo contnuo, afirma-se na criana e no homem a sua individualidade,

    ou seja, a capacidade de interpretar de maneira autnoma e pessoal aquilo que v e que lhe

    apresentado. (Idem)

    Atravs dos brinquedos e dos jogos, que muitas vezes andam intimamente associados, as crianas

    vivem as regras do jogo e, tal como se de adultos se tratassem, vivem-nas com muita seriedade.

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    Podemos verificar isso mesmo atravs das palavras de Ana Maria Sequeira no que respeita

    simbologia do jogo.

    Jogo simblico uma aco ldica representativa de uma aco sria (brincar s casinhas, s

    professoras, s mes e aos filhos) que decorre, na maioria dos casos da imitao do adulto.

    O jogo do stop ou das naes (infantil) como no reca (jovens e adultos), para dar apenas dois

    exemplos o smbolo est presente quer no material utilizado, quer na aco desenvolvida.

    No jogo das naes, as casas desenhadas no cho representam naes e a linguagem imita uma

    declarao de guerra.

    No jogo da reca, a pinha ou bola com que se joga a reca e o porqueiro, ao conduzi-la para o celeiro,

    no faz mais do que representar uma aco real.

    O jogo do fito, ou malha, talvez um dos mais populares em Portugal tem origem nas pedras com que

    no trabalho se tenta acertar nalgum objecto.

    Os materiais do jogo transformam-se quando o jogo se inicia: uma curta vara de ferro ou de tubo

    passa a ser um pino ou fito e um pedao de ferro achatado e redondo a malha. Alterou-se-lhes a

    funo: a utilidade prtica deu lugar propiciao do prazer. (...)

    Os jogos tradicionais utilizam o simbolismo de diversas formas, seja no aspecto da prtica do prprio

    jogo, seja na linguagem ou lengalenga que o acompanha, seja no gesto do participante, seja no

    prprio objecto do jogo. (...)

    Nesta medida, o jogo tradicional, por encerrar em si mesmo os smbolos e os sinais dos Homens que

    o praticam, so sem dvida uma forma expressiva do Homem comunicar. (1997:13;14)

    Nos brinquedos e nos jogos tradicionais est um mundo de conhecimento. Tudo o que foi dito nos

    ajuda a compreender o papel dos mesmos, desde a sua origem sua simbologia.

    Em seguida iremos analisar especificamente a funo social que os jogos e brinquedos tradicionais

    tinham na primeira metade do sculo XX em Alcanena e que, apesar de se ter desvanecido ao longo

    dos tempos, persistiu at h bem pouco tempo.

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    A Funo Social dos Brinquedos e Jogos Tradicionais no Concelho de

    Alcanena

    Os testemunhos dos nossos informantes so deveras elucidativos da forma como se brincava naprimeira metade do sculo XX e a que chammos brincadeiras de outros tempos.

    E porqu brincadeiras de outros tempos?

    O factor tempo tem alguma influncia nesta nossa anlise?

    Inevitavelmente! E no seremos apenas ns a ter conscincia desse facto. Os nossos informantes,

    pela prpria lei da vida, do-nos conta do passar do tempo e das mudanas que testemunharam.

    Seno vejamos:

    Expresses como na minha infncia, no meu tempo, antigamente, quando eu erapequeno, nessa

    altura, quando eu era criana, demonstram bem como o tempo passou, e como passou bem

    depressa para estas pessoas, pois o perodo de brincadeiras infantis era bem curto para as crianas

    de outros tempos.

    Se relermos a primeira parte deste artigo, quase que sentimos o sorriso dos nossos informantes

    quando trazem memria as suas brincadeiras de infncia...

    Mais uma vez, o tempo. Pouco tempo.

    Pouco tempo para brincar, pois comeava-se a trabalhar com tenra idade. E, por isso, as prprias

    brincadeiras, os brinquedos e os jogos, faziam parte do esquema informal de aprendizagem. Era

    preciso aprender a viver e da o ditado popular: de pequenino que se torce o pepino!

    - A partir do momento em que sa da escola j no tinha tempo para brincar.

    - Pois, trabalhava-se mais cedo e os pais todos tinham que lhe dar a fazer.

    A idade das brincadeiras inocentes tinha chegado ao fim! Era preciso ir guardar umas vacas, levar o

    almoo ao pai, apanhar o rabisco ou lenha. As brincadeiras tm que ter uma utilidade, preciso

    aprender as regras dos adultos, pois o tempo corre.

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    Aprende-se brincando, aprende-se jogando, aprende-se imitando os mais velhos. Aprende-se a ser

    homem e chefe de famlia e os meninos praticam jogos de destreza e competio e brincam com

    carros de bois e com instrumentos de trabalho; aprende-se a ser mulher e me e a governar uma

    casa. Da as bonecas e as suas roupinhas.

    Comea a ser tempo!

    - A irm tinha 12 anos a mais do que eu e j era uma mulherzinha para fazer outras

    actividades em casa para ajudar a me.

    E das diferenas que o tempo acarretou, tambm temos notcia:

    - no tinha dinheiro para ter essas bolas boas como h agora.

    - Hoje um mido mais rico num dia do que a gente era durante toda a vida. No havia

    brinquedos e jogos como h hoje.

    - Naquela altura era diferente de agora, porque os divertimentos desse tempo das aulas na

    escola era brincarmos uns com os outros.

    Diferenas na quantidade, diferenas na diversidade.

    De acordo com os testemunhos dos nossos informantes no existiam muitos brinquedos, no s

    porque no existia a quantidade e diversidade que hoje existe, mas tambm porque o dinheiro no

    abundava. Ter uma boneca de papelo j era quase um luxo, pois a maioria das crianas

    consumiam-se perante as tentaes irresistveis que apareciam nas feiras.

    Na Santana, feira anual de Minde, os petizes esbugalhavam os olhos perante as carrocinhas de

    lata, bonecas de papelo, brinquedos de madeira, sem esquecer as vistosas e tentadoras bolas

    de serradura. (Bento; 1994:190)

    O que acontecia usualmente era o aproveitamento dos materiais existentes, desde o caco de barro,

    aos botes, desde os carrinhos de linhas aos trapos. Tudo servia para criar um novo brinquedo, no

    tivessem as crianas um mundo imaginrio to rico.

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    - Fazamos coisas imaginrias mas nunca mais era aquilo que hoje. Hoje h aquelas coisas

    plsticas que os cachopos fartam-se de brincar e dantes era um carrinho de madeira ou uma

    coisita qualquer...

    Os brinquedos era feitos pelas prprias crianas e quem tinha jeito, tinha, quem no tinha, pacincia,

    a no ser que o poder de compra dos pais permitisse esbanjar um pouco, ou podia ser que um tio

    enviasse uma prenda pelo Natal.

    - Fazia os meus brinquedos. Os meus brinquedos eram uma roda de cortia, cortia porque a

    gente tinha cortia, depois punha-lhe um eixo com uma cana.

    - O brinquedos, antigamente, fazamo-los ns.

    - Havia quem tivesse jeito para fazer carrinhos de madeira, mas eu tinha pouca habilidade.

    - Bonecos s tive um. Um bonequinho que um primo meu que morava em Lisboa, e costumava

    mandar umas coisinhas no Natal para ns para comer, me mandou.

    Rapazes para um lado, raparigas para o outro!

    Em idade escolar e em escolas mistas poderia haver a possibilidade de brincadeiras em conjunto,

    vemos isso na maior parte dos jogos infantis. No havia maldade, como diriam uns. A

    confraternizao entre sexos no era homognea, fosse pelas diferentes condies fsicas das

    escolas existentes nas diferentes freguesias, fosse pelo maior ou menor conservadorismo dos pais. O

    que um facto que havia muito mais restries do que aquelas que existem hoje.

    - Os rapazes e as raparigas brincavam juntos, no havia maldade.

    - Na minha infncia, a me no deixava sair para ir brincar com os outros midos, por isso

    brincava em casa no quintal.

    - Jogvamos no recreio tanto com rapazes como com raparigas.

    - Naquela poca, l perto de mim, todos brincvamos mais ou menos desta maneira. Mas

    havia aqueles matules que j se juntavam uns com os outros ao p de uma capelinha que

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    ainda hoje l existe e eu espreitava pelo buraco do porto, com muita vontade de ir para o p

    deles. Mas no, para a rua no se podia ir.

    - No, os rapazes e as raparigas no brincavam juntos, nem na escola nem na rua. Nunca

    tinham comunicaes uns com os outros. Lembro-me uma vez que meteram l umas

    raparigas na escola dos rapazes, mas quando era para brincar elas estavam todas apartadas,

    nunca se misturavam. No, no, no se misturavam e ai daquele que tocasse em qualquer

    coisa. No havia possibilidade.

    - Os rapazes brincavam com as raparigas. porta da escola fazia-se um bailarico todos os

    dias. As raparigas danavam com os rapazes e a que eu aprendi a danar. Aqui na

    Louriceira no havia escola dividida. Era s uma escola, que no aquela, uma casa que

    est ali em cima, e os rapazes estavam junto com as raparigas.

    - Nesta freguesia no havia condies para haver escola dividida. A escola nova foi feita em

    1945 ou 46. Nessa altura j era dividido.

    - Os rapazes e as raparigas no brincavam muito juntos. No muito. Antigamente,

    normalmente os pais no consentiam que elas se juntassem com rapazes a brincar. No

    senhora!

    - As raparigas brincavam para um lado e os rapazes para o outro. Agora que tudo

    misturado. Era rapazes com rapazes e raparigas com raparigas. Mas s vezes tambm

    brincvamos com raparigas.

    No entanto, quando se entra na fase da puberdade, o controle comea a acentuar-se e a segregao

    maior. As brincadeiras mudam, o brinquedo deixa de ter tanta importncia e os jogos diferenciam-

    se. Nestas idades j no existem jogos mistos, como pode ser verificado no captulo anterior. Agora

    reinam os bailaricos e as cantorias. Os jovens adultos do sexo masculino esto aptos a competirem

    com os adultos.

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    - No meu tempo, a gente, raparigas, juntvamo-nos todas. Havia um rancho de raparigas que

    era qualquer coisa! Juntvamo-nos todas na fbrica. S na minha casa ramos quatro, na

    casa da vizinha eram cinco. Juntvamo-nos todas e amos ao alecrim, e fazamos uma

    fogueira quando chegava ao ms do S. Joo. Todas as semanas havia fogueiras l nos

    Estreitos, todas as semanas havia bailarico. No tnhamos mais nada, por isso era cantar e

    bailar ali na rua. Cantvamos, bailvamos, saltvamos fogueira e jogvamos ao raminho

    tranchado.

    - Ali na escola no havia condies para esse convvio. S mais tarde quando a gente

    comeasse a tomar rumo de vida que... ali no, na escola no. Mais tarde nos bailaricos ou

    s se fosse com vizinhas ou com pessoas assim do conhecimento, de resto no.

    - Agora quando tinha 20 anos j gostava de brincar era com gajos... queria l saber dos

    brinquedos.

    A rua, o recreio da escola, o largo ou o adro da igreja eram espaos de eleio para as brincadeiras

    de outros tempos. Os jogos de azar eram s para homens, sendo muitas vezes a sua perdio!

    Quando se trabalhava de sol a sol, no havia muito espao para o divertimento. Os domingos e os

    dias de festa eram, sem dvida, bem apetecveis.

    No convvio entre homens, muitas vezes, o prmio dos jogos passava por um copo de vinho e, quem

    no quereria ganhar o galo para comer com a famlia num dia festivo?

    No podemos nunca esquecer o modo de vida de outros tempos. No podemos dissociar os

    brinquedos e os jogos tradicionais no concelho de Alcanena do contexto global do Concelho, pois

    estes so parte integrante da cultura das suas gentes.

    E a prpria viagem no tempo que nos permite compreender a funo social que os brinquedos e

    jogos tradicionais tiveram noutros tempos em Alcanena. Tempos esses em que a aprendizagem

    informal tinha um papel mais relevante do que tem hoje em dia e onde o processo de socializao

    estava mais dependente da famlia, dos amigos e da prpria comunidade.

    No mundo de hoje, a educao formal muito mais efectiva, no s porque se tornou democrtica,

    mas tambm porque as crianas esto muito mais tempo afastadas dos pais devido aos

    condicionalismos da vida moderna.

    Agora o ensino obrigatrio, a acesso educao bsica est garantido pelo Estado, as condies

    de vida da generalidade da populao melhoraram. Hoje as crianas no brincam tanto aos adultos

    como noutros tempos, hoje as crianas divertem-se.

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    Mas ser que se perdeu o valor social do brinquedo e do jogo enquanto elementos preparativos de

    integrao na comunidade e de coeso social?

    Concluso

    Partimos dos testemunhos dos nossos informantes quanto s brincadeiras de outros tempos no

    concelho de Alcanena, testemunhos esses que nos transportam para o tempo de criao destes

    homens e destas mulheres e que se situam na primeira metade do sculo XX.

    Os seus pais e os seus avs no teriam brincado de forma muito diferente. E, se fosse nosso intuito,

    no seria muito difcil encontrar na gerao nascida em 70 memrias ainda bem vivas de algumas

    destas brincadeiras.

    Efectivamente, o concelho de Alcanena, at h poucas dcadas atrs, podia ser caracterizado como

    uma comunidade tradicional, baseada numa economia de auto-subsistncia e com um forte cunho de

    ruralidade.

    Nas sociedades de carcter tradicional existe uma grande ligao ao meio ambiente, para no

    dizermos dependncia, o que sem dvida se reflecte no modo de vida dos seus habitantes, nos seus

    usos e nos seus costumes.

    Assim , que os brinquedos e os jogos tradicionais recorrem essencialmente aos recursos e materiais

    fornecidos pelo meio envolvente e as ideias que esto na base da sua criao esto igualmente

    condicionadas pelo maior ou menor acesso informao.

    Explormos no segundo captulo a origem e expanso dos brinquedos e dos jogos, alguns deles

    muito utilizados em Alcanena no princpio do sculo XX, o que nos permitiu verificar a universalidade

    dos mesmos.

    Dizia Cames que Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e assim , porque a aldeia

    global em que hoje vivemos revolucionou, igualmente, o mundo da fantasia.

    Com base nos testemunhos dos nossos informadores, pudemos verificar a relao existente entre os

    brinquedos e jogos tradicionais e o poder econmico diferenciado.

    A sociedade tradicional est essencialmente vocacionada para a satisfao das necessidades

    bsicas e o pouco excedente monetrio que algumas famlias pudessem amealhar no seria

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    desperdiado facilmente. Embora no houvesse muita oferta, obviamente que s alguns teriam poder

    de compra para adquirir brinquedos. Os restantes teriam mesmo que ser criativos!

    Tanto a diviso sexual do trabalho como o controlo apertado por parte da comunidade so elementos

    que caracterizam as sociedades tradicionais, da que o processo de socializao das crianas tenha

    tido um papel deveras relevante em termos de integrao e coeso sociais.

    Os brinquedos e os jogos utilizados em Alcanena na primeira metade do sculo XX, bem como o tipo

    de brincadeiras a que os nossos informadores estavam habituados na sua criao so bem

    elucidativos deste processo no formal de aprendizagem dos valores e das normas de conduta da

    comunidade em que estavam inseridos.

    Em nossa opinio, este valor socialque os brinquedos e jogos um dia preencheram no se perdeu

    nos tempos de hoje. Os brinquedos no so os mesmos hoje em dia no concelho de Alcanena. As

    crianas j no jogam no adro da igreja em dia de festa como jogavam antigamente, mas brincam notrio da escola, desta feita com a Mariazinha e com o Manelito e as instituies encarregues do

    ensino formal tm cada vez mais conscincia da preservao do patrimnio cultural, onde esto

    includos os brinquedos e jogos tradicionais mas, apesar das brincadeiras terem acompanhado os

    tempos, o valor socialintegrador e enculturador mantm-se. O que sofreu alteraes e mudanas foi

    a prpria cultura, que dinmica por natureza.

    A nosso ver, a funo social que brinquedos e os jogos tinham nas sociedades ditas tradicionais,

    enquanto processo de socializao mantm-se. Antigamente em Alcanena brincava-se com o

    carrinho de bois e com o arado, o que cumpria a sua funo; agora, brinca-se com um computador, e

    continua a cumprir-se a funo.

    Obviamente que temos conscincia dos perigos do mundo da informao, mas esses perigos so a

    outra face de um mundo mais democrtico. O grande perigo tem a ver com o uso irresponsvel da

    liberdade e parece-nos que ser neste ponto que os novos agentes socializadores tero que investir.

    A ttulo conclusivo, resta-nos salientar que, com base em testemunhos de outros tempos do

    concelho de Alcanena podemos hoje preservar memrias.

    Passmos algumas das brincadeiras de outros tempos para o registo em papel, por forma a que as

    geraes vindouras tenham acesso a esses testemunhos.

    Quem sabe o que as crianas que hoje brincam em Alcanena podero fazer da memria dos seus

    antepassados?

    Embora no tenhamos a pretenso de fazer futurismo, permita-nos o leitor, pelo menos, uma

    pequena brincadeira: ser que o menino Zzinho, barra em informtica e jogos virtuais, ainda to

    novinho, quando crescer, no ir pegar neste humilde contributo e propor a um futuro executivo

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    Notas

    i Responsvel pela metodologia utilizada e pelo trabalho de campo.ii Apenas participao directa na introduo.iii Em Portugal a palavra rapariga no tem a conotao pejorativa que possui no Brasil. Entenda-se pois este termo comoaquele que o Brasil geralmente define como moa.iv As brincadeiras e os brinquedos dos rapazes sempre foram tipificados sexualmente de maneira muito Mais rgida, quandocomparados com as raparigas. Nomeadamente a partir de determinada idade geralmente entrada para a escola -, meninos abrincarem em brincadeiras femininas ou com brinquedos femininos era socialmente incomodativo e por conseguinte

    recriminado. No caso feminino, as regras eram um pouco mais flexveis, na medida em que em certos casos especficos, estaspoderiam brincar ou jogar com os brinquedos masculinos.