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João Pereira Coutinho O empresário que arrisca

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ESPECIAL BILIONÁRIOS

O empresárioque arriscaA sua fortuna encolheu 5,8% em 2011, mas João PereiraCoutinho mantém-se entre os mais ricos portugueses. Temestado a vender ativos, inclusive no Brasil. Texto Anabela Campos

João Pereira Coutinho gosta de desfrutar a

vida e é um dos poucos ricos portugueses

que aparece com frequência nas páginasdas revistas cor de rosa. Tem um iate, umhelicóptero, um avião a jato e direito a umhangar em Tires para os acomodar. O he-

licóptero e o avião, são para uso pessoal,mas também podem ser alugados. É aindadono de uma ilha em Angra dos Reis, a

Capítulo, considerada uma das mais pa-radisíacas do Brasil, famosa por ter rece-bido em 2003, para umas férias, o então

primeiro-ministro, José Durão Barroso. Oassunto deu polémica e ficou a saber-se

que João Pereira Coutinho, o empresário

que raramente dá entrevistas, gosta de darfestas e receber figuras públicas e ilustres.

A fortuna do empresário, que ganhouvisibilidade e fulgor graças à representaçãoem Portugal da marca alemã Volkswagemno final dos anos 80, já foi mais avultada.A crise é democrática, atinge todos, e João

Pereira Coutinho, que gosta de arriscar em

força em projetos ousados, não lhe ficaimune. Não obstante, mantém- se nos lu-

gares cimeiros dos mais ricos da EXAME,o 11. fl

, com ativos no valor de 512,2 milhõesde euros, apenas menos 5,8% do que no

ano anterior. Face ao vendaval que está a

afetar a maioria das fortunas portuguesas- muitas delas alavancadas em dívida -João Pereira Coutinho acabou por ver a sua

encolher pouco.É desconhecido qual o montante da

sua dívida. Admite-se porém que seja à

volta de 500 milhões de euros, espalhados

pelo BCP, BES e CGD. O endividamentoterá servido sobretudo para investir nas

telecomunicações, já que João Pereira

Coutinho entrou no BCP em 1999, quandoo banco então liderado por Jorge Jardim

Gonçalves se tornou acionista do Inter-banco, instituição de crédito automóvel

que o empresário criou e dominava. Admi-tiu numa entrevista ao Diário Económico,em 2007, ter comprado ações do BCP a

5,6 euros. E nessas está a perder muitodinheiro. Hoje, a sua participação no BCP

será inferior a 2%. Pereira Coutinho foi umdos acionístas que exigia o afastamento do

fundador da gestão do banco. Recusou noentanto a ideia de fazer parte dos acionista- o chamado grupo dos sete - que se co-locaram ao lado de Paulo Teixeira Pintocontra Jardim Gonçalves.

O empresário, cujos negócios fora do

universo automóvel se concentram emtorno do grupo SCG, é um homem de pai-xões. No início do século, colocou

João Pereira Coutinho ganhou fulgorcom a representação em Portugalda marca alemã Volkswagen

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ESPECIAL BILIONÁRIOS

boa parte da sua inspiração empre-sarial nas telecomunicações, sector queentretanto abandonou. Hoje é a energia,

principalmente a renovável, um dos ne-

gócios que mais lhe faz bater o coração.

Mais vendedor do que compradorJoão Pereira Coutinho está agora maisvendedor do que comprador, nomeada-

mente no Brasil. Em abril deste ano, o em-

presário vendeu a Biovegetal - Combus-

tíveis Biológicos e Vegetais, considerada

uma das maiores produtoras nacionais de

bíodiesel, à AECS Capital, uma capital de

risco portuguesa. A Biovegetal foi cons-truída em 2007 pelo empresário. Teve uma

faturação que rondou os 100 milhões de

euros no ano passado e emprega 30 pes-soas. No início de 2012, Pereira Coutinhodesfez-se também da brasileira Pargim,uma participada do grupo SGC, dona de

sete centros comerciais no país de Dilma

Rousseff, e criada em 1997. Rendeu-se 246milhões de euros. "É preciso ter coragempara sair de um país quando todos que-rem vender", foi uma das observações quefez ao Jornal de Negócios quando concluiu

a operação.Apaixonado pelo Brasil, para onde

parte da família foi viver em 1974 e onde

se licenciou em Gestão de Empresas, João

Pereira Coutinho, assume que o problemanão é tanto o país, mas o sobreaqueci-mento do mercado imobiliário. "Adoro o

Brasil. Vou continuar a estar no Brasil e o

grupo também. Mas o sector imobiliárioatingiu picos muito grandes", salientou.A Pargim, com centros comerciais no Riode Janeiro e em São Paulo, "foi um ótimoinvestimento, assim como foi um ótimodesinvestimento". O empresário admite

que poderá regressar ao sector.

João Pereira Coutinho está a investir

no país desde os anos 90, tendo começado

precisamente pelo imobiliário. O empre-sário tem mantido uma relação regular de

investimento no Brasil, onde opera tam-bém no sector automóvel (através da Uni-das) , das águas e do saneamento, emboraneste caso a presença seja agora marginal.Em 2011, vendeu 80% da Brasil Sanea-mento ao grupo brasileiro Odebrecht, por60 milhões de euros. Não pode dizer-se

que Pereira Coutinho se tem dado mal no

Brasil, pelo menos no que diz respeito ao

imobiliário. Entrou quando o mercado es-tava longe de ter os preços escaldantes queatingiu nos últimos anos, especialmenteem cidades como o Rio de Janeiro e São

Paulo, atualmente entre as mais caras domundo. Por isso, poderá até considerar-se

que o momento escolhido para sair terásido oportuno. Nada como vender quandoo mercado está em alta.

A lista de vendas recentes no Brasil

não para por aqui. Em janeiro deste ano,Pereira Coutinho alienou a Acom, umafornecedora de televisão por subscrição e

de banda larga, à brasileira Sky. Tinha sido

lançada há sete anos e contava em carteiracom 52 mil clientes de televisão paga e 23

mil de internet de banda larga.O empresário tem estado a desfazer-se

dos negócios que tinha no sector das te-

lecomunicações. Em Portugal, vendeuo segmento residencial da Ar Telecom à

ZON, empresa de que detém 2% do capital.Criada em 2005, depois de ter absorvido

a Jazztel, a Ar Telecom nunca passou de

um pequeníssimo operador. Tinha 22 milclientes quando, no final do ano passado,a operação passou para as mãos da ZON.Foi sempre um negócio atribulado e nunca

chegou a ter a dimensão que João PereiraCoutinho desejou. Atribui parte da culpa à

falta de verdadeira concorrência que havia

no sector nos primeiros anos do processode liberalização, com a PT a dominar a

rede de cobre que leva as telecomunica-

ções fixas à casa dos portugueses.

Sonhar em grandeSimpático, mas reservado, pelo menos no

que diz respeito aos meios de comunica-

ção social, é muito raro dar entrevistas.Recusou falar com a EXAME para este tra-balho. Aparece pouco, mas quando falasobre os seus investimentos fá-lo semprecom imenso entusiasmo. Foi isso que o

levou no início do século, quando o sec-

tor das telecomunicações estava ao rubro,a admitir que poderia investir à volta de

2 mil milhões de euros nesta área. Era

naquela altura, como aliás hoje, uma in-tenção de investimento respeitável sobre-tudo para quem tinha músculo financeirolimitado e tinha de lutar contra grupospoderosos como a EDP/BCP - estavam a

lançar a Oni -, a PT, a Sonae ou, mais

tarde, a Vodafone. Acreditava tanto na tec-

Stão Pereira Coutinho é dos empresários quemais aparecem nas revistas sociais. Em cima,no Baile da Flor. Em baixo, a assistir a provas desalto a cavalo, pois o filho é cavaleiro (centro)

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nologia que tinha ajudado a desenvolver,

o FWA, que sonhava ter uma operadorade telecomunicações com capacidade

para dar cartas em Portugal e lá fora. Era

uma tecnologia de acesso fixo via rádio,

apresentada como uma solução única no

mundo, mas que acabou por nunca che-

gar a funcionar com as potencialidades

que lhe apontava.O negócio que agora lhe enche as me-

didas é a energia. Em 2006, criou a SGC

Energy, uma subsidiária do grupo SGC, de-tido a 100% por Pereira Coutinho. Arran-cou com um plano de investimento de 60milhões de euros até 2011. O objetivo erasobretudo focar-se nos biocombustíveis. O

empresário quis, e quer, apostar nos novoscombustíveis renováveis alternativos e em

tecnologias inovadoras.A fábrica que entretanto construiu

em Alhandra, a Biovegetal, foi vendida.Admite que o facto de a Galp dominar a

rede de distribuição da energia lhe tornavadifícil a rentabilidade do negócio. Mas nãoterá desistido: em meados do ano passado,constituiu uma parceria para Moçambi-que, com a brasileira Vale, o segundomaior grupo de mineração do mundo.

Moçambique descobriu recentemente im-portantes jazidas de carvão, e Pereira Cou-tinho acredita na potencialidade de umatecnologia, cujos direitos adquiriu, quepermite transformar carvão em combus-tível líquido. O objetivo desta aliança coma Vale é construir uma fábrica na provínciade Tete. O grupo SCG já está há alguns anos

em Moçambique. Em 2009, conseguiu a

aprovação do governo moçambicano paraa instalação de um projeto de plantação de

18 920 hectares de jatrofa, matéria-primapara a produção de óleo vegetal. Na área da

energia, o empresário está associado, numperspetiva de investigação, à norte-ame-ricana Frontline BioEnergy e Gi Gasifica-tion. O futuro dirá no que se transformará

a sua aposta nas energias limpas. Sobre os

planos para o sector sabe-se apenas que há

grande empenho nesta área.

Os automóveis como grande força

Conseguir a representação dos direitos de

importação e distribuição da Volkswagenem 1987, quando Portugal dava os primei-ros passos de integração na União Europeiae os portugueses começavam a ter acesso a

crédito para comprar carros foi um jack-pot para João Pereira Coutinho. E ainda

hoje parece ser um dos negócios que maisrobustez traz ao grupo SGC. A representa-ção das marcas Volkswagen, Audi, e, mais

tarde, Bentley e Lamborghini, deu à SIVA,

empresa controlada pela SAG - SoluçõesAutomóvel Globais, a liderança das vendas.

Em 1998, Pereira Coutinho coloca a

SAG em Bolsa, ganhando muito dinheiro.VMam-se os anos dourados do capita-lismo popular em Portugal e Pereira Cou-tinho soube aproveitar o momento. Pouco

tempo depois, em 2001, o grupo SAG com-

pra a brasileira Unidas, empresa de alu-

guer de automóveis e gestão de frotas. No

ano passado, a Unidas teve um prejuízo de

27 milhões de euros. É um negócio duro

e não tem sido fácil trazê-lo para terreno

positivo nos últimos anos.

Desaceleração sem derrapagemAs dificuldades da operação no segmentoautomóvel no Brasil terão sido um dos fa-tores que levou João Pereira Coutinho a

afastar, em 2010, Esmeralda Dourado da

liderança da SAG, segundo fontes ouvidas

pelo Expresso. A gestora, hoje administra-dora não executiva da SAG, saiu da presi-dência depois de em 2009 a empresa ter

apresentado um prejuízo de 6 ,9 milhões de

euros. Dinâmica e competente, EsmeraldaDourado foi durante anos o braço-direitoPereira Coutinho. Hoje, o líder da SAG é

Fernando Monteiro, há anos a trabalhar no

grupo e ligado ao sector. Os tempos não são

de feição para o mercado automóvel - em

2011 , a SAG teve um prejuízo de 21 milhõesde euros, penalizada sobretudo pela Uni-das, cuja contribuição foi negativa em 15,3milhões. Apesar de Portugal viver uma das

maiores crises dos tempos modernos, no

ano passado os resultados do país foram

positivos em 19,3 milhões de euros. En-

tretanto, Pereira Coutinho decidiu abrir o

capital da Unidas, e em 2011, o fundo Gávea

Investimentos, da Kinea Investimentos e da

Vinci Capital, passou a controlar 4770 da

empresa. Hoje, parece certo que Portugalirá demorar muitos anos a recuperar dacrise, mas acredita-se que a Volkswagen e

Audi manterão Pereira Coutinho na crista

da onda na venda de automóveis.

Dedicação à família

A família é muito importante para o em-presário, que vive numa quinta em Car-cavelos. Aos 56 anos assume que é umaparte da sua vida a que quer dar mais

atenção. Casado e pai de dois filhos, João

e Diana, é comum vê-lo a assistir às cor-ridas de saltos a cavalo dos filhos. "Hoje,vivo para trabalhar e para a minha famí-lia. É a coisa que mais gosto", disse à Luxem maio deste ano. Os cavalos são uma

tradição familiar. João Pereira Coutinho,irmão do também conhecido empresárioVasco Pereira Coutinho, monta a cavalodesde criança e chegou a participar no

Campeonato da Europa de Juniores. Foi do

seu pai, Diogo Pereira Coutinho, o famoso

cavalo Balaubet dv Rouet, um dos melho-res cavalos de salto do mundo, pelo qual a

princesa da Jordânia Haya terá oferecido

3,4 milhões de euros, segundo relatou, em2008, o Diário de Notícias. Diogo recusoua oferta, o que deixou perplexa a filha do

rei Hussain.

Católico, João Pereira Coutinho gostade apoiar a comunidade. Mas tal comoa maioria dos ricos portugueses não é

um Bill Gates da filantropia, embora vá

apoiando alguns projetos. Em outubro de

2010, contava ao Público que concentrava

as ações filantrópicas nas crianças e na re-

cuperação de património arquitetónico."Quando temos sorte de ter mais capaci-dade de realização, de ser mais criativo do

que os outros, temos obrigação de ajudar."Sendo um homem crente, a verdade é queJoão Pereira Coutinho entra sempre com fé

nos projetos em que se envolve. 0

O empresárioestá a vender

empresasno Brasil:Biovegetal,

Pargim,Acom, entre

outras

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