Jesus_13-30

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Dados do Livro

Francisco Klörs Werneck

Jesus dos 13 aos 30 Anos

Exemplar nº 0246Para uso exclusivo de

Fernando Bicudo SalomãoPermitida apenas uma única reprodução,

em papel ou arquivo, para segurança.

Livraria Maçônica Paulo FuchsSão Paulo, SP – 11 5510-0370 internet: www.livrariamaconica.com.bragosto de 2002.

© Francisco Klörs Werneck – Todos os direitos reservados.

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IndiceCapaDados do LivroIndice

ApresentaçãoIntroduçãoA Vida Desconhecida de Jesus CristoA Vida de Santo IssaSinópticosJesus e os Manuscritos do Mar MortoElementos Suplementares para o Estudo de

Jesus-CristoRetrato de JesusOutro Retrato de JesusOrigem do Nascimento Virginal de JesusNascimento de Jesus e a Astrologia

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ApresentaçãoQuem foi Jesus, chamado o Cristo, o Messias? Até hoje milhões de cristãos de todas as

religiões perguntam onde esteve ele durante os chamados 17 anos de sua vida desconhecida, e aresposta mais cômoda que conseguem obter é a de que Jesus esteve trabalhando na oficina decarpintaria de seu pai, José. Mas o próprio Novo Testamento se encarrega de desmentir essaafirmativa quando diz que, ao regressar ele à sua terra natal, os judeus indagavam se não era eleo filho do carpinteiro José, pois já não o conheciam mais, e ainda de onde lhe teria vindo todaaquela sabedoria, conforme o Evangelho segundo Mateus, vers. 55/56 do cap. 13.

Esta falta de conhecimento de 17 dos 33 anos de vida de Jesus tem levado muita genteà descrença e à afirmativa de que a sua vida foi forjada e copiada de grandes vultos religiosos delongínquo passado. Para suprir esta surpreendente lacuna, o Dr. Francisco Klörs Werneck resolveudedicar-se ao assunto e, por mais de 40 anos seguidos, reuniu todo o material que pôde paramostrar a pessoa de Jesus sob vários pontos de vista. Num imparcial e audacioso trabalho comoeste, procurar reconstituir toda a sua vida de 33 anos e reconduzir as ovelhas perdidas ao seunovo aprisco, ao rebanho do Mestre dos Mestres, que deve ser um só.

Francisco Klörs Werneck

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Introdução

Quando estudei o Espiritismo, estudei também e procurei compreender a extraordináriafigura do Cristo, sob o ponto de vista espiritualista, mas verifiquei, desde logo, a grande confusãoque gira em torno da sublime personalidade do rabi da Galiléia.

Li as seguintes obras (títulos em português):

Os Evangelhos;

A Vida de Jesus, de Ernest Renan; História do Cristo, de Giovani Papini; Jesus, deSouza Carneiro;

Cristianismo Místico, do Yogi Ramacharaka;

Os Quatro Evangelhos, comunicações mediúnicas recebidas pela Sra. Colignon;

A Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo, mensagens mediúnicas recebidas pela Sra. X.;

Novo Nuctemeron, livro ditado pelo espírito de Apolônio de Tiana;

Elucidações Evangélicas, mensagens espíritas compiladas por Antônio Luiz Sayão;

Jesus Perante a Cristandade; obra ditada pelo espírito de Francisco LeiteBittencourt Sampaio;

A vida Desconhecida de Jesus-Cristo, de Nicolau Notovitch;

Jesus e Sua Doutrina, de A. Leterre;

Da Esfinge ao Cristo, de Edouard Schuré;

Os Grandes Iniciados, idem.

A Bíblia na Índia, de Louis Jacolliot;

O Cristo Nunca Existiu, de J. Brandes, etc.;

e muitos artigos e mensagens espíritas, daqui e do estrangeiro, a respeito d’Ele.

Nas obras mediúnicas de meu conhecimento, os espíritos comunicantes geralmentevêem Jesus sob o prisma ou o aspecto pelo qual o conheceram na vida terrena, de modo que, comoestas obras já são conhecidas no vernáculo, vou recorrer a algumas obras publicadas no estrangeiro,esperando que projetem alguma luz sobre esta questão que não é nova: quem foi realmente Jesuse o que fez ele nos 17 anos desconhecidos de sua vida na Palestina? Passemos a elas.

No “Novo Nuctemeron”, obra ditada pelo espírito de Apolônio de Tiana à conhecidamédium inglesa Marjorie Livingstone e prefaciada por Sir Arthur Conan Doyle, vemos que noJesus carnal se encarnou o Cristo, o iniciado divino. Como esse livro é pouco conhecido, deleextraio os seguintes trechos:

“O Iniciado Divino, o Filho de Deus, realizou para vós essa Descida na Matéria,essa Ordália Perfeita, essa Oblata de si mesmo, esse Sacrifício até a morte”. (Cap. II)

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“Podeis perguntar-me como o Iniciado Egípcio podia ver o Cristo 2000 anos antesde ter Jesus nascido na Galiléia. A resposta é bem simples. Não devereis pensar que, porqueo Cristo ainda não se tinha manifestado na carne, ele não existia. Sua manifestação napessoa de Jesus de Nazaré não foi senão um incidente de sua vida eterna; para a vossaTerra é talvez o mais importante de sua história”.

“Repito que a manifestação do Espírito Divino do Cristo Cósmico em Jesus deNazaré não foi senão um incidente, etc”.

“Antes do período da Encarnação em Jesus de Nazaré, os Iniciados veneravam etemiam o Cristo de Deus, mas com incompreensão; depois da Encarnação, um amor pessoalpor ele surgiu na Humanidade”.

“...nós não podemos conceber uma alegria mais extática, um esplendor maisradioso do que a Visão d’Aquele que era ao mesmo tempo Filho de Deus e filho do Homem”.

“Durante a vida de Jesus de Nazaré, Deus se manifestou diretamente no corpo doHomem e dessa forma submeteu-se a leis naturais e a limitações físicas. Esse Ato Supremoresumiu não somente todas as possibilidades do Bem pelo Homem, no plano material, mastambém em todos os ciclos do seu progresso. Deus, tendo assim se manifestado na carne,pode também manifestar-se à vontade, de maneira reconhecível, em todos os planosintermediários. Assim, ele é o Cristo, Jesus e Deus, porém a sua forma não é a mesma emtodas as esferas”. (Cap. VII)

“Em sua Encarnação, o Cristo tomou a semelhança humana e essa aparêncianão foi senão o invólucro exterior dos diferentes estados do seu ser, ainda como Homem.Quando deixou a carne, a forma de sua personalidade física permaneceu gravada em suaForma astral e espiritual, que ele havia tomado antes para chegar a um estado maisdenso pelo qual a Encarnação fosse possível. Deus não pode pôr-se em contato direto coma matéria e vários estados da Natureza foram precisos antes que a corrente da ForçaDivina pudesse ser suficientemente isolada para tal fim. O Cristo, tendo tomado umaúnica vez sobre si todos os diferentes estados aos quais pode o Homem estar sujeito, pôderetomar essas condições à vontade. Os que por sua grande virtude ou porque tenham umardente desejo ou grande necessidade de verem o Cristo o verão na forma que ele viveu naGaliléia; os que passaram o véu da morte podem vê-lo na forma que ele reveste para visitaras esferas intermediárias” (Cap. IX).

Resumindo: no corpo de Jesus humano encarnou-se o Cristo de Deus para conduziresta pobre humanidade por novos caminhos. É por isto que João, o Evangelista, disse que o Verbose fez carne e habitou entre nós e que, no começo, estava com Deus.

Para Jacolliot (A Bíblia na Índia); na vida de Jesus Cristo há fatos da de Iezus Crisma,o reformador hindu. E, para Schuré (Da Esfinge ao Cristo), Jesus só existiu até o batismo noJordão, quando o espírito do Cristo se incorporou nele.

Segundo os teósofos, o corpo de Jiddu Krishnamurti seria o novo veículo pelo qual oCristo se manifestaria ao mundo (O .Cristo voltará, de Jean Deville), mas Krishnamurti dissolveua Ordem da Estrela e fundou nova corrente de pensamento.

Ao passo que o Abade Alta (O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários) nos diz, comomuitos outros autores, que o Cristo foi contemporâneo de Apolônio de Tiana, o teosofista australianoCharles W. Leadbeater (Os Mestres e o Caminho) escreve que “O Mestre Jesus, que atingiu oadeptado durante a encarnacão em que foi conhecido sob o nome de Apolônio de Tiana e que setornou mais tarde Shri Ramnujacharva, o grande re-formador religioso do sul da Índia, dirige osexto Raio, o da devoção ou Bhakti”.

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Aludo, de passagem, à obra do Dr. Franz Hartmann intitulada “Vida de Jehoshua”,segundo a qual Jesus seria filho espúrio de um legionário romano chamado Pandira e de Maria,ainda não casada com José, e que seu nome era Jesus ben-Pandira.

A tal se contrapõe a nota “A” das anotações feitas no fim da obra do Prof. Petrucelli dellaGattina “Memórias de Judas”, baseada, ao que parece, em um evangelho apócrifo.

Diz a referida nota:

“O Talmud, capítulo VI, Sanhedrin, fala de ter sido lapidado um Jesus de Nazaré,réu de magia, de sedução e de corrupção dos seus correligionários. No capítulo seguinte,acha-se mencionado um outro Jesus, filho de Pandira e de Maria, bordadeira ou modista,mulher de Studa, ou de uma Studa, mulher de Papus, filho de Jehuda. Esta Maria era daLydia e viveu perto de 70 anos depois de Maria, mãe do Jesus dos Cristãos. É este Jesusque, diz Raban Maur, os judeus amaldiçoavam em todas as suas orações, como ímpio, filhode um ímpio, o pagão Pandira e da adúltera Maria”.

Quanto ao livro de Binet-Sanglé, “A loucura de Jesus”, é um trabalho que se lê comdesgosto e tristeza ao mesmo tempo.

Um protestante, Charles T. Russell (Estudos das Escrituras) assim define a personalidadede Jesus: “Antes do Cristo vir ao mundo, era ele um ser especial possuindo natureza espiritual,não sendo, na acepção mais elevada, um ser divino. Essa natureza espiritual mudou--se quandoapareceu no mundo, transformando-se em perfeita natureza humana”.

Já para os budistas, Jesus é um Nirmanakaya, isto é, um ser humano muito evoluído,o qual, por uma série de existências perfeitas, atingira o Nirvana.

A revista inglesa The Two Worlds, de Manchester, n° de 8-9-1939, dá notícia de um livrosob o título “Vi o Mestre”, ditado por “Ray” e compilado por Grace Gibbons Grindling, no qual se lêque Maria, mãe de Jesus, teve outros quatro filhos e que José era pai adotivo de Jesus. Trata-se deuma coleção de comunicações de quem se diz chamar “Godfrey” e que teria perdido a vida naguerra em outubro de 1915.

Mas, se esse livro teve por autor uma entidade espiritual não “credenciada”, já o mesmonão aconteceu com outro livro a que se refere L’Astrosophie, de Cartago, Tunísia, n° de Maio de1938. Tem o título de “Vida de Jesus” e traz o quilométrico sub-título de “Vida inédita e rigorosamenteverdadeira, ditada por João, o Evangelista, assistido pelos apóstolos Pedro e Paulo, assim comopelo profeta Samuel ao qual se juntou o iniciado hindu Kirbi”.

Em 1938 apareceu na imprensa londrina um livro mediúnico que obteve enorme sucessoe foi lido com grande avidez pelo público que se interessa por conhecer detalhes sobre o período davida de Jesus que vai dos 13 aos 30 anos. Essa interessante obra, de que possuo um exemplarofertado em 6 de dezembro daquele ano pelo apreciado escritor espírita português Frederico Duarte,o F. Etraud da “Crônica Estrangeira” de The Two Worlds, de Manchester, cidade inglesa em queresidiu há muito tempo, foi ditada por um espírito que se deu o singelo nome de “Mensageiro”, emvez de se adornar com qualquer nome bíblico ou evangélico para dar maior autoridade ao seuditado. Tem ela o título de “Fragmentos dos anos desconhecidos da vida de Jesus” e está divididanos seguintes capítulos: I - Introdução e Descrições; II - Jesus no Templo; III - Jesus no Deserto;IV - Jesus no Tibet; V - A Decisão; VI - Jesus na Índia; VII - Jesus no Egito; VIII - Cerimônia deIniciação; IX - Jesus na Pérsia; X - Jesus volta ao Egito e XI - Consagração de Jesus.

Sobre a referida obra, colhemos no n° 28 de outubro de 1938, da citada revista inglesa,os seguintes comentários feitos pelo Sr. F. C. Wentworth:

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“Há um considerável número de livros tratando do pouco conhecido período da vida aJesus, que vai dos 13 aos 30 anos. Que sucedeu durante aquele tempo para transformá-lo de ummenino inteligente em um mestre cujos ensinos deviam influenciar civilizações? Registros daquelelapso de tempo praticamente não existem. Informações tivemos de que em templos da Índia emosteiros do Tibet há documentos que tratam da iniciação de alguém chamado Jesus. Rumorescirculam de que documentos da biblioteca do Vaticano muito poderiam revelar se ela escapasse àproibição imposta pelas autoridades papais, que acham não dever torná-los públicos, havendo,portanto, sempre um ar de mistério a cobrir a resposta de uma questão que tem deixado atônitostodos os que estudaram o desenvolvimento da personalidade de Jesus.

Uma obra acaba de aparecer, ditada a um médium sob a autoridade de um espíritocomunicante que diz ter tido conhecimento daquele período de tempo da vida desconhecida deJesus. A dificuldade existente no caso é a de não se poder comparar o livro com notícias conhecidas.Ele deve ser aceito em seu mérito interior e em seu valor comparativo em documentos históricos,que devem suportar as críticas que se farão sobre o trabalho.

O livro tem o título de Fragments of the hidden years of Jesus e foi ditado por um “Escriba”que esclarece: “Estes escritos me foram transmitidos do Além, durante muitas sessões coma médium Sra. Graddon-Thomas, que sempre esteve mergulhada em profundo estado detranse. Um espírito que se deu o nome de ‘Mensageiro’ os ditou a mim e eu escrevi pela mãodela. Nem eu e nem a médium poderíamos escrever este livro e minha responsabilidadeestá limitada à transcrição do assunto”.

Este parágrafo deve ser lembrado ao serem lidos os capítulos tratando da iniciação deJesus nas escolas da Índia, Tibet, Egito e Pérsia. Pinta-se então um quadro íntimo dodesenvolvimento de suas faculdades de como foi ele treinado pelos sumos-sacerdotes de váriasordens para fazer uso das qualidades superiores de sua consciência a fim de colher as vastasreservas do poder invisível de que ia servir-se durante o curso do seu ministério.

A teoria de que Jesus passou através de escolas iniciáticas do Egito e de outros centrosde aprendizagem não é nova. Certos aspectos do seu ensino revelam influências que devem sertraçadas a um ou outro desses centros iniciáticos, porquanto seus ensinamentos demonstramque ele não desconhecia a obra de seus mestres e antecessores”.

Notei que o articulista disse acima: “A dificuldade existente no caso é a de não sepoder comparar livro com notícias conhecidas. Ele deve ser aceite seu mérito interior e emseu valor comparativo com documentos históricos, que devem suportar as críticas que sefarão sobre o trabalho”. É o que vou tentar fazer, detendo-me mais demoradamente no livro deNotovitch La vie inconnue de Jésus Christ, para depois passar a umas notícias análogas a que dareio título Sinópticos”, isto é, Concordantes, e aos manuscritos mar Morto.

Darei a “Introdução” da obra de Notovitch, farei um resumo das peripécias de suasviagens e do encontro dos manuscritos tibetanos e transcreverei, em versículos, tal como foi achada,a “Vida de Santo Issa”.

Creio ter assim correspondido à curiosidade de muitos e atendido os inúmeros pedidosque me têm si feitos.

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A Vida Desconhecida de Jesus CristoConforme prometi linhas atrás, transcrevo a seguir a “Introdução” do supracitado livro

de Nicolau Notovitch, em que nele narra, resumidamente, as peripécias de sua viagem, o encontrodos manuscritos tibetanos e as tentativas que fez para publicá-lo na França. Escreve Notovitch:

Depois da guerra da Turquia (1877/8), empreendi uma série de viagens ao Oriente.Após ter visitado todas as localidades, ainda que de pouca importância, da penínsulabalcânica, transportei-me, através do Cáucaso à Ásia Central e à Pérsia e, finalmente,em 1887, parti para a Índia, país admirável que me atraía desde a minha infância.

O fim dessa viagem era o de conhecer e estudar, in loco, os povos que habitam a Índia,seus costumes, sua arqueologia grandiosa e misteriosa e a natureza colossal e cheia demajestade desse país.

Errando, sem plano prefixado, de um lugar para outro, cheguei até o Afeganistãomontanhoso, donde alcancei a Índia pelo trajeto pitoresco de Bolan e de Guernai.

Depois, subi o Indo até Raval Pindi, percorri o Pendjab, país dos cinco rios, visitei otemplo de ouro de Amritsa, o túmulo de Ranjid-Singh, rei do Pendjab, perto de Lahore,dirigindo- me para o Kashmyr, o vale da felicidade eterna.

Aí comecei minhas peregrinações ao sabor da curiosidade até que cheguei ao Ladak,onde formei o projeto de voltar à Rússia pelo Karakorum e o Turquestão chinês.

Certo dia, no decurso da visita que fiz a um convento budista, situado no meu caminho,soube, do lama-chefe, que existiam, nos arquivos de Lhassa, memórias muito antigas,que faziam referências à vida de Jesus Cristo e a nações do Oriente e que certos mosteirospossuíam cópias e traduções de tais crônicas.

Como era pouco provável que eu fizesse ainda uma viagem por aqueles países, resolvitransferir, para outra época posterior, minha volta à Europa, e, custasse o que custasse;decidi-me ou a encontrar essas cópias nos grandes conventos ou a chegar ao Lhassa,viagem que está longe de ser tão perigosa e tão difícil como se costuma dizer; demais,achava-me tão habituado a toda sorte de perigos que eles já não podiam fazer-me recuarum passo.

Durante minha permanência em Leh, capital do Ladack, visitei o grande convento deHimis, situado nas cercanias da cidade.

O lama daquele convento me declarou que a biblioteca monástica continha algumascópias dos manuscritos em questão. Para que as autoridades não suspeitassem doobjetivo de minha visita ao convento e a fim de não encontrar obstáculos, dada a minhaqualidade de russo, fiz saber, numa viagem posterior ao Tibet, de retorno a Leh, quevoltava à Índia.

Deixei, novamente, a capital do Ladak. Uma queda infeliz, em conseqüência da qualquebrei uma das pernas, forneceu-me inesperado pretexto para voltar ao convento,onde me foram prestados os primeiros socorros médicos.

Aproveitei minha curta estada entre os lamas para obter do lama-chefe consentimentopara que me fossem mostrados os manuscritos relativos a Jesus-Cristo, existentes nabiblioteca do convento, e, ajudado por meu intérprete, que me traduzia a língua tibetana,anotei, cuidadosamente, em meu caderno, o que o lama me dizia.

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A respeito desse mosteiro de Himis, mister se faz entremos em pormenores porque doismosteiros trazem este nome no Tibet. Aquele em que fui recolhido por estar ferido, ecuidadosamente tratado e em que me foi comunicada a existência dos documentos queentrego à curiosidade pública, é o mosteiro situado no Ladak, não longe de Leh, nasproximidades do rio Indo e aos pés das montanhas, dominado pelo pico de Himis, de18.733 pés de altitude. É, depois do mosteiro central do Lhassa, o mais povoado doTibet, sua biblioteca é a mais rica e seus monges os mais instruídos e estudiosos.

O outro Himis está situado no caminho de Khalsi a Leh e junto ao Shavlikangri, de18.096 pés, ao norte do Indo. É uma aldeia com um pequeno mosteiro, muito pobre,abrigando quatro ou cinco monges que se entregam comumente a trabalhos manuais,fora das horas de suas maquinais orações.

Todos os que se acham um pouco familiarizados com o Tibet sabem, aliás, que é tãoimpossível confundir essas duas localidades quanto o Paris e o Versailles da Françacom o Paris e o Versailles do Connecticut.

Não tenho dúvida alguma quanto à autenticidade da crônica que me foi comunicada eque me pareceu redigida, com muita exatidão, por historiadores brâmanes e, sobretudo,por budistas da Índia e do Nepal.

Quis, de volta à Europa, publicar a tradução delas e, com esse fim, dirigi-me a várioseclesiásticos universalmente conhecidos, rogando-lhes lessem minhas notas e dissessemo que delas pensavam.

Monsenhor Platon, célebre metropolitano de Kiew, foi de opinião que o trabalho era degrande importância, porém dissuadiu-me de fazer aparecer essas memórias acreditandoque sua publicação só poderia causar-me aborrecimentos. Por quê? Foi o que o venerávelprelado se recusou a dizer-me de modo explícito. Entretanto, como nossa conversa foina Rússia, onde a censura teria posto seu veto em semelhante obra, resolvi esperar.

Um ano depois me achava em Roma. Mostrei o manuscrito ao Cardeal Nina, muitoestimado pelo Santo Padre, o qual me respondeu textualmente o seguinte: “Quenecessidade há de imprimir-se isto? Ninguém lhe dará grande importância e vóscriareis uma multidão de inimigos. No entanto, sois tão jovem ainda! Se é umaquestão de dinheiro que vos interessa, pedirei para vós uma recompensa pelasvossas notas, recompensa que vos indenizará das despesas feitas e do tempoperdido”. Naturalmente que recusei.

Em Paris falei do meu projeto com o Cardeal Rotelli, que conheci em Constantinopla.Ele também se opôs a que eu imprimisse o meu trabalho sob o pretexto de que eraprematuro. “A Igreja - acrescentou ele -sofre novamente correntes de idéias ateístase vós só fornecereis ensejo a caluniadores e detratores da doutrina evangélica.Vo-lo digo no interesse de todas as igrejas cristãs”.

Fui, em seguida, procurar Jules Simon. Ele achou que minha comunicação era muitointeressante e me recomendou que pedisse a opinião de Ernest Renan a respeito damelhor maneira de publicá-la. No dia seguinte, pela manhã, estava eu sentado no gabinetedo grande filósofo. No fim de nossa conversa, Renan me propôs que lhe confiasse asmemórias em questão, a fim de fazer um relatório delas à Academia. Tal proposta, comose compreende bem, era muito sedutora e lisonjeava meu amor-próprio, todavia torneia levar a obra sob o pretexto de revê-la ainda uma vez.

Previa que, se aceitasse a proposta, só teria a honra de ter achado a crônica, ao passoque ao ilustre autor da Vie de Jésus caberia toda a glória da publicação e seuscomentários.

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Ora, eu me julgava bem preparado para publicar a tradução da crônica, fazendo-aacompanhar de notas minhas; declinei, pois, da proposta que me fizera Renan. Paranão ferir a susceptibilidade do grande mestre, que respeito profundamente, resolviaguardar-lhe a morte, acontecimento fatal que não devia tardar, a julgar por sua fraquezageral.

Pouco depois da morte de Renan, escrevi a Jules Simon para pedir-lhe a opinião. Ele merespondeu que me competia julgar da oportunidade de fazer aparecer as memórias.Pus, então, em ordem, minhas notas, reservando-me o direito de provar a autenticidadedessas crônicas.

Desenvolvo aqui os argumentos que devem convencer-nos da sinceridade e boa-fé doscompiladores budistas. Junto, também, provas que atestam minha boa-fé e minha própriasinceridade. Os maldizentes me demonstraram que essas provas, que eu havia julgadoinúteis em 1894, se tornaram necessárias em 1899.

Desejaria juntar provas ainda mais materiais: quero falar de fotografias muito curiosasque bati no decurso de minhas excursões e que teriam falado a meu respeito às pessoasmais desconfiadas. Infelizmente, quando de minha volta da Índia, examinei os negativose verifiquei que haviam ficado completamente estragados.

Foi por isto que, para ilustrar meu livro, recorri à extrema gentileza de meu amigo, o Sr.d’Auvergne, que havia feito várias viagens ao Himalaia e que, graciosamente, me ofereceualgumas provas.

Passo, sem mais delongas, ao prometido resumo da “Vida de Santo Issa”, segundo osdocumentos tibetanos, que, a seguir, transcreverei em sua forma de versículos:

Os dois manuscritos em que o lama do convento de Himis leu, para que o autor ouvisse,tudo o que se relaciona com Jesus, formam coleções de cópias diversas, escritas em línguatibetana, tradução de alguns rolos pertencentes à biblioteca de Lhassa e trazidos da Índia,do Nepal e de Magada, lá para o ano 200 depois de Cristo, para um convento construído nomonte Marbur, perto da cidade de Lhassa, onde então residia o Dalai-Lama.

Esses rolos foram escritos em língua pali, que certos lamas estudavam ainda, a fim depoderem fazer traduções em dialeto tibetano. Os cronistas eram budistas pertencentes àseita do buda Goutama.

Tais crônicas contêm a descrição da vida e das obras do “melhor dos filhos dos homens”,santo Issa, um sábio israelita que, tendo vivido muitos anos entre os sacerdotes brâmanese budistas, voltou para o seu país, onde foi condenado à morte por ordem do governadorromano Pôncio Pilatos, depois de ter sido duas vezes absolvido por um tribunal compostode sábios e anciãos da Judéia. As narrações conservadas nesses antiqüíssimos documentos,redigidos segundo o testemunho de mercadores vindos da Judéia, com a notícia do martíriode santo Issa, assemelham-se, em quase todos os pontos, às dos Evangelhos e mantêmum nexo iniludível de analogia com., o que se sabe da vida de Jesus.

Em resumo, e seguindo tanto quanto possível a letra dos textos traduzidos, essas crônicasbudistas nos dizem que um jovem israelita, já conhecido na Galiléia aos treze anos “pelosdiscursos edificantes em nome do Todo Poderoso”, abandonou ocultamente, naquela idade,a casa paterna, e, numa caravana de mercadores, tomou o caminho da Índia “para seaperfeiçoar na palavra divina e estudar as leis dos grandes Budas.

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Chegando à Índia, os Djainitas, impressionados com a profunda sabedoria e alta inspiraçãodo jovem peregrino israelita, procuraram atraí-lo para a sua seita, mas Issa se afastoupouco tempo depois para Djaguernat, onde os padres brâmanes o acolheram com carinhoe lhe “ensinaram a ler e compreender os Vedas, a curar com o auxílio de preces, a ensinare a explicar a Escritura Sagrada ao povo, a expulsar o espírito maligno do corpo do homeme a lhe restituir a forma humana”. Em Djaguernat passou seis anos. No começo, a língua dopaís, o sânscrito, as doutrinas religiosas, a filosofia, a medicina e as matemáticas constituemo objetivo de seus estudos prediletos. Depois, suas prédicas, dirigidas de preferência àsclasses miseráveis dos sudras, seus ataques reiterados à hierarquia dos deuses quedesnaturava o princípio do monoteísmo, a negação da origem divina dos Vedas irritaramprofundamente os padres brâmanes e os guerreiros, que resolveram dar- lhe morte. Avisadoem tempo pelos discípulos que a sua bondade e a magia da sua palavra tinham conquistado,o jovem profeta encaminhou-se para as montanhas do Nepal, onde o Budismo florescia emtodo o seu esplendor.

O princípio da unidade divina era ali religiosamente conservado em sua pureza primitiva jáhá quinhentos anos; quando o Príncipe Çakia-Muni fundara a doutrina budista. Seis anosdepois, Issa, já preparado para a explicação dos livros sagrados e iniciado nas doutrinas epráticas religiosas dos sacerdotes budistas, resolveu tornar ao seu país. Completara 26anos. As notícias das humilhações dos seus compatriotas e das calamidades quedevastavam a terra que ele deixara em criança decidiram-no a abandonar a Índia. Dirigiu-se primeiro para o oeste, pregando a povos diferentes a suprema perfeição do homem ecombatendo a idolatria e os sacrifícios humanos.

A fama de sua palavra magnética espalhava-se pelos países vizinhos e, quando Issa entrouna Pérsia, os sacerdotes locais, receosos do poder sugestivo das prédicas do peregrinoisraelita, proibiram aos habitantes de acompanhá-lo e ouvi-lo.

Os adoradores de Zoroastro fizeram-no prender e submeter a um longo interrogatório,depois do qual o profeta foi conduzido, à noite, fora das portas da cidade e abandonado naestrada, na esperança de que as feras saberiam completar a sentença que os sacerdotespersas não tinham ousado pronunciar.

O profeta seguiu viagem, despertando entusiasmo e alegria por campos e cidades, ondeuma multidão, sempre nova, vibrava ao calor de sua palavra iluminada.

Aos 29 anos de idade, apareceu Issa no país de Israel, a terra dos seus antepassados.Diante do seu povo, cumulado de infortúnios e agitado pela perspectiva do advento de ummessias anunciado pelos profetas para restabelecer o reino de Israel, ele aconselhou ahumildade e a paciência pois o “dia da redenção dos pecados estava próximo”.

Milhares de pessoas o seguiam, animados da esperança de libertação e da restauração doseu antigo culto e da crença dos seus ancestrais.

Os chefes das cidades por onde a palavra do profeta ia deitando um sulco de fogo, inquietoscom a sua popularidade crescente e assustadora, queixaram-se ao governador romanoPôncio Pilatos, residente em Jerusalém, que as pregações de Issa levantavam o povo que oouvia e assim negligenciava os serviços do Estado.

Insinuaram-lhe a necessidade e a conveniência de impedir, por qualquer forma, acontinuação daquele estado de coisas, cujos resultados poderiam ser funestos àadministração romana daquela província conquistada.

Pilatos, não vendo em Issa mais do que um agitador, ordenou-lhe a prisão e, para nãoexasperar o povo que o acompanhava por toda a parte, decidiu que o trouxessem aJerusalém, a fim de ser julgado no templo, pelos velhos sacerdotes hebreus e sábios anciãos.

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Nesse ínterim, Issa, que continuava a pregar de cidade em cidade, chegou a Jerusalém,cujos habitantes acorreram em massa ao seu encontro, ansiosos por ouvir de sua boca aspalavras inflamadas com que ele havia mitigado os infortúnios das outras cidades deIsrael.

Os padres e os anciãos foram encarregados por Pilatos do julgamento do profeta no templo.

Depois de ouvirem de sua própria boca a declaração de que não procurava levantar o povode Israel contra as autoridades constituídas, mas que voltara de lugares distantes, ondefora habitar em criança, para recordar aos israelitas a fé de seus antepassados e orestabelecimento das leis mosaicas, eles se apresentaram ao governador romano e lhecomunicaram ter absolvido o pregador judeu pela falsidade das acusações que lhe eramimputadas.

Pilatos, encolerizado com o procedimento dos veneráveis juízes, fez acompanhar o profetade espiões encarregados de recolherem todas as palavras que ele dirigisse ao povo.

Issa prosseguiu em sua missão pelas cidades vizinhas, indicando os verdadeiros caminhosdo Criador, exortando os hebreus à paciência, prometendo-lhes uma pronta libertação eexplicando àqueles em que reconhecia assoldadados pelo governador que todos eles nãoseriam libertos do poder de César mas dos erros grosseiros em que as suas almas viviammergulhadas.

Três anos durou o ministério de Issa. A sua popularidade crescia e era tido como o Messiaslibertador anunciado pelos profetas. O governador romano, a quem os espiões declararamnada ter ouvido que parecesse uma instigação à revolta contra as autoridades constituídas,encarregou os soldados de o prenderem e conduzirem a um subterrâneo onde foi torturadona intenção de se lhe arrancar uma confissão comprometedora. Os sacerdotes e os anciãos,informados dos martírios infligidos ao seu profeta e da resistência heróica oposta a todosos meios empregados para fazê-lo falar, dirigiram-se ao governador romano com o pedidode o mandar pôr em liberdade na ocasião da festa da Páscoa, que se aproximava. Pilatosrecusou peremptoriamente a ceder aos pedidos dos velhos sacerdotes, mas consentiu emque Issa comparecesse diante do Tribunal dos Anciãos para ser, em definitivo, julgadoantes da próxima festa.

Fizeram-no retirar da prisão, em lastimável estado de fraqueza, por motivo das torturassofridas. Sentado entre dois ladrões,. que deviam ser julgados ao mesmo tempo para atenuara importância de um acontecimento que apaixonava a população, diante do governadorromano, que presidia o Tribunal, e dos principais capitães, sacerdotes, sábios anciãos elegistas, Issa foi submetido a um longo interrogatório do qual sobressaiu sua completainocência. O governador, irritado com a altivez de suas respostas, exigiu que os juízespronunciassem a pena capital. Os anciãos recusaram proferir essa sentença iníqua diantedas declarações ouvidas de todos. Pilatos recorre ao derradeiro expediente que o seu espíritoimaginara, para não deixar escapar a presa. Manda adiantar um dos seus espiões, queafirma ter ouvido do profeta a anunciação do reino de Israel sobre a terra do qual Issa seintitulava Chefe Supremo.

A cena narrada pelas crônicas budistas é de uma grandeza serena e única na história.“Sereis perdoado”, disse o profeta ao traidor, “porque o que dizeis não vem de vós”, e,depois, dirigindo-se a Pilatos: “Por quê humilhais vossa dignidade e induzis vossos inferioresà mentira, quando, sem ela, tendes o poder de condenar um inocente?” A estas palavras,Pilatos, esquecido do seu cargo, exigiu dos Anciãos a condenação de Issa e a absolviçãodos dois ladrões.

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Os velhos juízes, depois de se consultarem entre si, declararam solenemente não assumira responsabilidade de condenar um inocente, levantaram-se e; depois de lavarem as mãosnum vaso sagrado, saíram anunciando: “Somos inocentes da morte do justo”.

O profeta e os dois ladrões foram crucificados no mesmo dia, por ordem de Pilatos, e osseus corpos ficaram suspensos nas cruzes sob a guarda de soldados.

Ao pôr-do-sol, extinguiram-se os sofrimentos de Issa. Ele perdeu os sentidos e a almadesse justo se separou do corpo para ir fundir-se na Divindade.

Assim terminaram os dias de santo Issa “reflexo do Espírito eterno sob a forma de umhomem que tinha redimido pecadores endurecidos, padecendo tantos sofrimentos”.

O governador romano, assustado com a severidade do seu proceder, mandou entregar ocorpo do profeta aos parentes para o sepultarem perto do lugar do suplício. Em breve, todauma multidão gemente e lacrimosa acorria em peregrinação ao santo sepulcro.

Três dias após, Pilatos, a quem tinha chegado rumores de um levante popular, ordenou aseus soldados que retirassem, à noite, secretamente, o corpo de Issa do sepulcro e oenterrassem em um lugar afastado.

No dia seguinte, encontrado o túmulo aberto e vazio, propalou-se que “O Juiz Supremorecolhera, pelos seus anjos, os restos mortais do santo, no qual tinha habitado, sobre aterra, uma partícula do espírito divino”.

Pilatos, enfurecido com a nova feição dos acontecimentos, começou a mover uma cruelperseguição contra os mais íntimos discípulos de Issa, que foram obrigados a deixar o paísde Israel e pregar a outros povos o abandono dos seus erros grosseiros, a purificação dassuas almas e a “felicidade perfeita que aguarda os homens no mundo espiritual, onde, emrepouso e em toda a sua pureza, reside, numa majestade perfeita, o grande Criador”.

Os pagãos, termina a vetusta crônica, seus reis e seus guerreiros, ouviram os pregadores,abandonaram as crenças absurdas que professavam, renegaram seus sacerdotes e ídolospara celebrar os louvores do muito sábio Criador do Universo, do Rei dos Reis, cujo coraçãoestá cheio de misericórdia infinita.

Assim falam, em suas linhas gerais, as narrações arquivadas nos antigos manuscritosbudistas, achados no Tibet.

Essa narrativa preenche a lacuna de 17 anos que existe na vida de Jesus-Cristo,começando no vers. 52 do Capítulo 2 do Evangelho segundo Lucas: “E crescia Jesus em sabedoriae em estatura, e em graça para com Deus e os homens” e indo até o vers. 23 do Capítulo 3 domesmo Evangelho: “E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos”. Sobre a qual o NovoTestamento nada nos diz.

A seguir, pois, a vida de Jesus, resumida acima. segundo os versículos dos manuscritostibetanos.

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A Vida de Santo IssaI

1 - A terra estremeceu e os céus choraram por causa do grande crime que acabavade ser cometido no país de Israel.

2 - Porque acabava de ser ali torturado e executado o grande justo Issa, em queresidia a alma do Universo.

3 - A qual se encarnara em um simples mortal a fim de fazer bem aos homens e deexterminar os maus pensamentos.

4 - E de conduzir à vida da paz, do amor e do bem o homem degradado pelospecados, recordando-lhe o único e indivisível Criador cuja misericórdia éinfinita.

5 - Eis o que contam a respeito mercadores vindos de Israel.

II

1 - O povo de Israel, que habitava um solo fértil, dando duas colheitas por ano eque possuía grandes rebanhos, provocou, por seus pecados, a justiça de Deus.

2 - Que lhe infligiu um castigo terrível, arrebatando-lhe a terra, o gado e toda asua fortuna; Israel foi reduzido à escravidão por ricos e poderosos faraós quereinavam, então, no Egito.

3 - Esses trataram os israelitas pior do que a animais, os sobrecarregaram detrabalhos difíceis e os puseram a ferro. Cobriram seus corpos de feridas echagas, sem lhes dar alimentos, nem lhes permitir que tivessem um teto.

4 - A fim de os manter em um estado de terror contínuo e de lhes tirar toda asemelhança humana.

5 - Em sua grande calamidade, o povo de Israel, lembrando-se de seu protetorcelestial, se dirigiu a ele e lhe implorou graça e misericórdia.

6 - Um ilustre faraó reinava então no Egito, o qual ficou célebre por suasnumerosas vitórias, pelas riquezas que acumulara e os vastos palácios que seusescravos erigiram por suas próprias mãos.

7 - Esse faraó tinha dois filhos, dos quais o mais moço se chamava Mossa. Sábiosisraelitas lhe ensinaram diversas ciências.

8 - Mossa era amado no Egito por causa de sua bondade e da compaixão quetestemunhava a todos os que sofriam.

9 - Vendo que os israelitas não queriam, apesar dos intoleráveis sofrimentos quesuportavam, abandonar o seu Deus para adorar aqueles que a mão do homemhavia criado, os quais eram os deuses da nação egípcia.

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10 - Mossa acreditou no Deus invisível deles, que lhes não deixava abater as fracasforças.

11 - E os preceptores israelitas animaram o ardor de Mossa e recorreram a ele,pedindo-lhe para interceder junto ao faraó, seu pai, em favor de seuscorreligionários.

12 - O príncipe Mossa pediu então a seu pai que abrandasse a sorte dos desgraçadosisraelitas, mas o faraó levantou-se em cólera contra ele e aumentou ostormentos que já suportavam esses escravos.

13 - Aconteceu que pouco tempo depois uma grande desgraça visitou o Egito: apeste ali dizimou jovens e velhos, sãos e doentes, e o faraó acreditou em umressentimento de seus próprios deuses contra ele.

14 - Porém o príncipe Mossa disse a seu pai que era o Deus de seus escravos queintercedia em favor desses infelizes e punia os egípcios.

15 - O faraó intimou então a Mossa, seu filho, a tomar todos os escravos da raçajudia e os conduzir fora da cidade, e fosse fundar, a uma grande distância dacapital, outra cidade e que ficasse com eles.

16 - Mossa fez saber aos escravos hebreus que ele os havia forrado em nome do seuDeus, o Deus de Israel. Deixou com eles a cidade e a terra do Egito.

17 - E os conduziu para a terra que haviam perdido por seus pecados, deu-lhes leise lhes recomendou que orassem sempre ao Criador invisível cuja bondade éinfinita.

18 - Com a morte do príncipe Mossa, os israelitas observaram-lhe rigorosamente asleis e assim Deus os recompensou dos males a que os expusera no Egito.

19 - Seu reino tornou-se o mais poderoso de toda a terra, seus reis foram célebrespor seus tesouros e uma longa paz reinou entre o povo de Israel.

III

1 – A fama das riquezas de Israel espalhou-se por toda a terra e as nações vizinhascomeçaram a ter-lhe inveja.

2 - Mas o Altíssimo protegeu as armas vitoriosas dos hebreus e os pagãos nãoousaram atacá-los.

3 - Infelizmente, como o homem não obedece sempre a si mesmo, a fidelidade doshebreus a seu Deus não durou muito tempo.

4 - Começaram por esquecer todos os favores com que foram cumulados, nãoinvocavam senão raramente o nome de Deus e pediam proteção a mágicos efeiticeiros.

5 - Os reis e os capitães substituíram as leis que lhes foram dadas por Mossapelas deles, o templo de Deus e as práticas do culto foram abandonados, o povoentregou-se aos prazeres e perdeu sua pureza anterior.

6 - Vários séculos haviam escoado depois de sua saída do Egito quando Deuscomeçou novamente a puni-los por seus pecados.

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7 - Estrangeiros começaram a invadir o país de Israel, devastando terras,arruinando aldeias e conduzindo seus habitantes ao cativeiro.

8 - Chegaram, certo dia, pagãos d’além mar, do país dos romanos, submeteram oshebreus e instituíram chefes de exércitos que, por delegação do César, osgovernaram.

9 - Destruíram os templos e obrigaram os habitantes a não mais adorar o Deusinvisível, mas a sacrificar vítimas aos deuses pagãos.

10 - Fizeram guerreiros dos que eram nobres, arrebataram esposas a seus maridose o baixo povo, reduzido à escravidão, foi enviado aos milhares por além mares.

11 - Quanto às crianças, foram passadas a fio de espada; bem logo, em todo o paísde Israel, só se escutaram soluços e gemidos.

12 - Em sua tristeza extrema, eles se lembraram do seu grande Deus, imploraram-lhe a graça e lhe suplicaram perdão. Nosso Pai, em sua inesgotável, escutou-lhes a prece.

IV

1 - Nesse tempo, chegou o momento em que o juiz, cheio de clemência, escolherapara encarnar-se em um ser humano.

2 - E o Espírito eterno, que permanecia em estado de repouso completo e debeatitude suprema, se despertou e se destacou, por um tempo indeterminado,do Ser eterno.

3 - A fim de indicar, revestindo a imagem humana, os meios de se identificar coma Divindade e alcançar a felicidade eterna.

4 - Para mostrar, com seu exemplo, como se podia chegar à pureza moral eseparar a alma do seu invólucro grosseiro, a fim de que ela atingisse o estado deperfeição necessária para alcançar o reino do céu, que é imutável, e onde reina afelicidade eterna.

5 - Logo depois, uma criança maravilhosa nasceu na terra de Israel; Deus, pelaboca dessa criança, falava das misérias corporais e da grandeza da alma.

6 - Os pais do recém-nascido eram pessoas pobres, pertencentes, por seunascimento, a uma família de notável piedade, que recordava sua antigagrandeza na terra para exaltar o nome do Criador e lhe agradecer os castigosque lhes aprouvera enviar.

7 - Para recompensá-la por não se ter deixado desviar do caminho da verdade,Deus abençoou o primogênito dessa família, escolheu-o para seu eleito e oenviou para sustentar os que haviam caído no mal e curar os que sofriam.

8 - A criança divina, a quem se deu o nome de Issa, começou, desde a mais tenraidade, a falar do Deus único e invisível, exortando as almas transviadas a searrependerem e a se purificarem dos pecados que haviam cometido.

9 - Pessoas vinham escutá-lo de todas as partes e se maravilhavam das sentençasque saíam da boca do menino; todos os israelitas eram acordes em dizer que oEspírito eterno habitava o corpo dele.

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10 - Quando Issa atingiu a idade de treze anos, idade em que o israelita deviacasar- se.

11 - A casa em que seus país ganhavam a vida, mediante um trabalho modesto,começou a ser lugar de reunião de pessoas ricas e nobres que queriam ter porgenro o jovem Issa, já célebre por seus discursos edificantes em nome do TodoPoderoso.

12 - Foi então que o jovem Issa deixou ocultamente a casa paterna, saiu deJerusalém e, em companhia de mercadores, se dirigiu em direção ao Sindh.

13 - Com o fim de aperfeiçoar-se na palavra divina e instruir-se nas leis dosgrandes budas.

V

1 - Quando tinha 14 anos, o jovem Issa, abençoado de Deus, desceu o Sindh e seestabeleceu entre os Árias, no país querido de Deus.

2 - A fama ia espalhar o nome da criança maravilhosa ao longo do Sindh setentrional;quando ele atravessou o país dos cinco rios e o Radjiputan, os adeptos do deusDjaine lhe pediram que permanecesse entre eles.

3 - Ele, porém, abandonou os adoradores transviados de Djaine e partiu paraDjaguernat, no país de Orsis, onde jazem os despojos mortais de Viassa-Krishna eonde os padres brancos lhe fizeram cordial recepção.

4 - Eles o ensinaram a ler e a compreender os Vedas, a curar com o auxílio da prece,a explicar a Escritura Sagrada ao povo, a expulsar o espírito maligno do corpo dohomem e a lhe restituir a imagem humana.

5 - Passou Issa seis anos em Djaguernat, em Radiagriha, em Benares e em outrascidades santas; todo mundo o amava, porque Issa vivia em paz com os Veisas e osSudras, aos quais ensinava a Escritura Sagrada.

6 - Os Brâmanes e os Kchatrias, porém, lhe disseram que o grande Parabrâma lheproibia aproximar-se daqueles que havia criado de seu ventre e de seus pés.

7 - Que os Veisas só estavam autorizados a ouvir a leitura dos Vedas e isto apenasnos dias de festas.

8 - Que era interdito aos Sudras não só o assistir à leitura dos Vedas como até mesmoos contemplar, porque a condição deles era servir, para sempre e como escravos,os Brâmanes, os Kchatrias e os próprios Veisas.

9 - “Só a morte pode libertá-los da servidão”, disse Parabrâma. “Deixá-los, pois, evinde adorar conosco os deuses que se irritarão contra vós se lhes desobedeceis”.

10 - Issa, porém, não lhes escutou as advertências e foi entre os Sudras pregar contrao despotismo dos Brâmanes e dos Kchatrias.

11 - Ele se levantou veementemente contra o direito que se arroga um homem dedespojar seus semelhantes de seus direitos de homem, dizendo: “Deus, o Pai, nãoestabeleceu diferença alguma entre seus filhos, que lhe são todos igualmente caros”.

12 - Issa negou a origem divina dos Vedas e dos Puranas, porque, ensinava ele aos queo seguiam, uma lei foi dada ao homem para guiá-los em suas ações.

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13 - Temei vosso Deus, só dobreis os joelhos diante dele só e levai-Lhe as oferendasque provenham de vossos ganhos”.

14 - Issa negou a Trimurti e a encarnação de Parabrâma em Vishnu, em Siva e emoutros deuses, porque dizia ele:

15 - “O juiz eterno, o Espírito eterno, compõe a alma única e indivisível do Universo, aqual, sozinha, criou, contêm e vivifica o todo”.

16 - “Só ele é que quis e criou, só ele é que existe desde a eternidade e cuja existêncianão terá fim; ele não tem semelhantes, nem no céu, nem na terra”.

17 - “O grande Criador não dividiu seu poder com pessoa alguma, ainda menos comobjetos inanimados, como vos foi ensinado, porque só ele é que possui aonipotência”.

18 - “Ele quis e o mundo apareceu; por um pensamento divino ele reuniu as águas edelas separou as partes secas do globo. Ele é a causa da vida misteriosa do homem,em que soprou uma parte do seu ser”.

19 - “Ele subordinou ao homem as terras, as águas, os animais e tudo que criou e quesozinho conserva em ordem imutável, fixando para cada coisa sua duração própria”.

20 - “A justiça de Deus descerá breve sobre o homem porque ele esqueceu seu Criador,porque encheu seus templos de abominações e adora uma multidão de criaturasque Deus lhe subordinou”.

21 - Porque, para agradar a pedras e metais, o homem sacrifica seres humanos, nosquais reside uma parte do espírito do Altíssimo”.

22 - Porque humilha o que trabalha com o suor de sua fronte para adquirir o favor dopreguiçoso que está sentado em uma mesa cheia de iguarias”.

23 - “Aqueles que privam seus irmãos da felicidade divina por sua vez serão delaprivados, e os Brâmanes e os Kchatrias tornar-se-ão os Sudras dos Sudras”.

24 - “Porque no dia do juízo final, os Sudras e os Veisas serão perdoados por causa desua ignorância e Deus, ao contrário, fará cair sua punição sobre aqueles que searrogaram direitos divinos”.

25 - Os Veisas e os Sudras ficaram tomados de viva admiração e perguntaram a Issacomo era preciso orar para que não perdessem a felicidade.

26 - “Não adoreis os ídolos porque eles não vos ouvem; não escuteis os Vedas porque aVerdade nele está adulterada; não vos creiais os primeiros em todo lugar e nãohumilheis o vosso próximo”.

27 - Ajudai os pobres, sustentai os fracos, não façais mal a quem quer que seja, nãocobiceis o que não possuis e o que vedes em casa alheia”.

VI

1 - Os padres brancos e os guerreiros, tendo conhecimento das palavras que Issadirigia aos Sudras, decidiram-lhe a morte e enviaram, como esse intuito, seuscriados para procurar o jovem profeta.

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2 - Issa, porém, avisado do perigo pelos Sudras, deixou, ao cair da noite, ossubúrbios de Djaguernat, ganhou a montanha e se fixou no país dosGuatâmidas, onde viu a luz do dia o grande buda Çakia-Muni, no meio do povoque adorava o único e sublime Brama.

3 - Depois de ter aprendido a falar com perfeição a língua pali, o justo Issaentregou-se ao estudo dos rolos sagrados dos Sutras.

4 - Seis anos após, Issa, que o Buda escolhera para espalhar a palavra santa,sabia explicar perfeitamente os rolos sagrados.

5 - Issa deixou então o Nepal e o monte Himalaia, desceu o vale do Radjiputan e sedirigiu para o oeste, pregando a povos diversos a suprema perfeição do homem.

6 - E o bem que é preciso fazer a seu próximo e que constitui o meio mais seguropara absorver-se rapidamente no Espírito eterno. “Aquele que recuperava suapureza primitiva, dizia Issa, morria tendo obtido o perdão de suas faltas, e teriao direito de contemplar a figura majestosa de Deus”.

7 - Atravessando territórios pagãos, o divino Issa ensinou que a adoração dedeuses visíveis era contrária à lei natural.

8 - “Porque o homem, dizia ele, não tivera em partilha o dom de ver a imagem deDeus e de construir uma multidão de divindades à semelhança do Eterno”.

9 - “Além disso, é incompatível com a consciência humana fazer menos caso dagrandeza da pureza divina do que de animais ou de obras executadas pela mãodo homem em pedra ou metal”.

10 - “O Eterno legislador é um; não há outros deuses senão Ele; Ele não dividiu omundo com pessoa alguma, nem participou a ninguém de suas intenções.

11 - Do mesmo modo que um pai agiria para com seus filhos, da mesma maneiraDeus julgará os homens depois da morte, segundo suas leis misericordiosas.Jamais Ele humilhará um seu filho, fazendo emigrar sua alma, como em umpurgatório, no corpo de um animal”.

12 - “A lei celeste, dizia o Criador pela boca de Issa, repudia a imolação desacrifícios humanos a uma estátua ou a um animal, porque Eu subordinei aohomem todos os animais e tudo que contém o mundo”.

13 - “Tudo foi sacrificado ao homem que deve estar direta e intimamente ligado aMim seu Pai; assim será severamente julgado e castigado pela lei divina aqueleque me tiver arrebatado um filho”.

14 - “O homem nada. é diante do Juiz eterno, do mesmo modo que o animal o éperante o homem”. 15 - “É por isto que vos digo: Abandonai vossos ídolos e nãoexecuteis cerimônias que vos separam de nosso Pai e vos ligam a padres dequem o céu se apartou”.

16 - “Porque são esses que vos separaram do verdadeiro Deus e cujas superstiçõese crueldade vos conduzem à perversão do espírito e à perda de todo o sensomoral”.

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VII

1 - As palavras de Issa, tendo se espalhado entre os pagãos dos países queatravessava, fizeram com que eles abandonassem seus ídolos.

2 - Isto vendo, os padres exigiram daquele que glorificava o nome do Deusverdadeiro provas, diante do povo, das censuras que lhes dirigia e ademonstração da nulidade de seus ídolos.

3 - E Issa lhes respondeu: “Se vossos ídolos e vossos animais são poderosos epossuem realmente um poder sobrenatural, que eles me fulminem aqui nestelugar”.

4 - “Fazei então um milagre, replicaram-lhe os padres, e que vosso Deus confundaos nossos, se eles lhe inspiram desgosto”.

5 - Issa, porém, lhes replicou, dizendo: “Os milagres de nosso Deus começaram ase produzir desde o primeiro dia em que o Universo foi criado; eles se produzemem cada dia, em cada momento; aquele que não os vê está privado de um dosmais belos dons da vida”.

6 - “Não é contra pedaços de pedras, de metais ou de paus, completamenteinanimados, que a justiça de Deus se fará, mas ela recairá sobre homens cujosídolos precisam ser destruídos para sua salvação”.

7 - “Do mesmo modo que uma pedra e um grão de areia, nulos como são para ohomem, até o momento em que os tome para deles fazer algo de útil”.

8 - Assim o homem deve esperar o grande favor que lhe concederá Deushonrando-o com uma decisão”

9 - “Porém, desgraça sobre vós, inimigos dos homens, porque não é um favor querecebereis, mas, ao contrário, a justiça divina, desgraça sobre vós se esperaisque ela ateste seu poder por meio de milagres”.

10 - “Porque não serão os ídolos que destruirá mas aqueles que os erigiram; seuscorações ficarão presas do fogo eterno e seus corpos lacerados irão saciar oapetite de feras bravias”.

11 - “Deus expulsará os animais contaminados de seus rebanhos, porém chamará asi aqueles que se transviaram por terem desconhecido a parcela celestial queneles habitava”.

12 - Vendo a impotência de seus padres, os pagãos acreditaram em Issa e, tementesa Deus, despedaçaram seus ídolos; quanto aos padres, esses fugiram paraescapar à vingança popular.

13 - Issa ensinou ainda aos pagãos que não se esforçassem por ver o Espírito eterno,mas procurassem senti-lo pelo coração e, por uma alma verdadeiramente pura,buscassem tornar- se dignos de seus favores.

14 - “Não somente, dizia-lhes ele, não executeis sacrifícios humanos, mas, em geral,não imoleis nenhum animal a que a vida foi dada, porque tudo que foi criado ofoi para ser útil ao homem”.

15 - “Não furteis o bem alheio, porque seria levar de vosso próximo coisas que eleadquiriu com o suor de seu rosto”.

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16 - “Não enganeis a ninguém a fim de que não sejais também enganados. Procuraipreparar-vos antes do juízo final, porque será então muito tarde”.

17 - “Não vos entregueis à devassidão, porque seria violar as leis de Deus”.

18 - “E alcançareis a beatitude suprema; não somente purificando-vos mas aindaguiando os outros na senda que lhes permitirá conquistar a perfeição primitiva”.

VIII

1 - Os países vizinhos se encheram do ruído das prédicas de Issa e, quando elepenetrou na Pérsia, os padres ficaram com medo e proibiram os habitantes deouvi-lo.

2 - Porém, quando viram todas as aldeias acolhê-lo com alegria e escutar-lhereligiosamente os sermões, deram ordem para que o prendessem e oconduzissem diante do grão-sacerdote, onde sofreu o seguinte interrogatório:

3 - “De que novo Deus falais vós? Ignorais, desgraçado, que o santo Zoroastro é oúnico justo admitido à honra de receber comunicações do Ser supremo?”

4 - “O qual ordenou aos anjos que redigissem por escrito a palavra de Deus parauso de seu povo, leis essas que foram dadas a Zoroastro no paraíso”.

5 - “Quem sois vós então que ousais blasfemar aqui contra nosso Deus e semear adúvida no coração dos crentes?”

6 - E Issa lhes respondeu: “Não é de um novo Deus que falo, mas de nosso PaiCelestial, que existiu antes de todo o começo e existirá para todo o sempre”.

7 - “Foi dele que falei ao povo que, do mesmo modo que uma criança inocente, nãoestá ainda em situação de compreendê-lo só pela força única da inteligência ede penetrar-lhe a sublimidade divina e espiritual”.

8 - “Mas, da mesma maneira que um recém-nascido reconhece no escuro o seiomaterno, assim vosso povo, que foi induzido ao erro, reconheceu por instintoseu Pai no Pai do qual sou profeta”.

9 - O Ser Eterno disse ao vosso povo, por minha boca: “Não adoreis o sol porqueele é uma parte do mundo que criei para o homem”.

10 - “O sol se levanta a fim de vos aquecer durante o vosso trabalho; ele se deitapara vos conceder o repouso que fixei para mim mesmo”.

11 - “É a mim, e a mim só que deveis tudo que possuís, tudo que se acha ao redorde vós, como acima de vós e abaixo de vós!”

12 - Mas, disseram os padres, como poderia viver um povo segundo as regras dajustiça se não tivesse preceptores?

13 - Issa lhes respondeu: “Quando os povos não tinham padres, a lei natural osgovernou e eles conservaram a candura de suas almas”.

14 - “Suas almas estavam em Deus e, para se entreterem com o Pai, nãoprecisavam do auxílio intermediário de nenhum ídolo ou animal, nem do fogo,assim como fazeis”.

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15 - “Pretendeis que é preciso adorar o sol, o gênio do Bem e do Mal. Vossadoutrina é detestável, vo-lo digo eu, porque o sol não age espontaneamente, maspela vontade do Criador invisível que lhe deu começo”.

16 - “E ele quis que esse astro iluminasse o dia e aquecesse o trabalho e assementeiras do homem”.

17 - “O Espírito Eterno é a alma de tudo que existe de animado; cometeis umgrande pecado fracionando-o no espírito do Mal e o espírito do Bem, porque nãoexiste Deus fora do Bem”.

18 - “Quem semelhante a um pai de família não faz senão o bem a seus filhos, dosquais perdoa as faltas se se arrependerem?”

19 - “O espírito do Mal reside na terra, no coração dos homens que desviam osfilhos de Deus do caminho reto”.

20 - “É por isto que vos digo:” “Temei o dia do juízo porque Deus infligirá terrívelcastigo a todos aqueles que desviaram seus filhos do verdadeiro caminho e osencheram de superstições e preconceitos”.

21 - “Aqueles que cegaram os vivos transmitiram o contágio aos de boa saúde eensinaram o culto das coisas que Deus submeteu ao homem para seu própriobem e para os auxiliar em seus trabalhos”.

22 - “Vossa doutrina. é, pois, fruto de vossos erros, porque, desejando aproximar devós o Deus da Verdade, criastes falsos deuses”.

23 - Após o terem ouvido, os magos resolveram não lhe fazer mal algum. Pela noite,quando toda a cidade repousava, eles o conduziram para fora dos muros dacidade e o abandonaram no grande caminho, na esperança de que ele nãotardaria em ser preso de feras.

24 - Issa, porém, protegido pelo senhor nosso Deus, continuou seu caminho semacidentes.

IX

1 - Issa, que o Criador tinha escolhido para recordar o verdadeiro Deus aoshumanos mergulhados nas depravações, tinha 29 anos quando voltou ao paísde Israel.

2 - Depois da partida de Issa, os pagãos haviam feito os israelitas suportarsofrimentos ainda mais atrozes e estes se achavam tomados do maiorabatimento.

3 - Muitos deles já tinham começado a repudiar as leis de seu Deus e as de Mossa,na esperança de abrandar seus ferozes conquistadores.

4 - Em vista de tal situação, Issa exortou seus compatriotas a não sedesesperarem porque o dia da redenção dos pecados estava próximo e lhesdespertou a crença que haviam tido no Deus de seus pais.

5 - “Filhos, não vos entregueis ao desespero, dizia o Pai Celestial pela boca de Issa,porque escutei vossa voz e vossos lamentos chegaram até mim”.

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6 - “Não choreis mais, ó bem amados, porque vossos soluços tocaram o coração devosso Pai que vos perdoou, como perdoou vossos antepassados”.

7 - “Não abandoneis vossa família para vos entregardes à devassidão, não percaisa nobreza de vossos sentimentos e não adoreis ídolos que ficarão surdos à vossavoz”.

8 - “Enchei meu templo com a vossa esperança e com a vossa paciência e nãoabjureis a religião de vossos pais, porque eu os guiei e cumulei de benefícios”.

9 - “Levantai os que tombaram, dai de comer aos que têm fome e ide em auxíliodos enfermos a fim de ficardes todos puros e sejais achados justos no dia dojuízo final que eu vos preparo”.

10 - Os israelitas acudiram em multidão para ouvir a palavra de Issa e lheperguntaram onde deviam agradecer ao Pai Celestial, pois seus inimigos lhestinham arrasado os templos e roubado os vasos sagrados.

11 - Issa lhes disse que Deus não considerava os templos edificados pela mão dohomem, mas que ouvia os corações humanos, que são seus verdadeirostemplos.

12 - “Entrai em vosso templo, em vosso coração, iluminai-o com bons pensamentose com paciência e a confiança inabaláveis que deveis ter por vosso Pai”.

13 - “E vossos vasos sagrados serão vossas mãos e vossos olhos; olhai e fazei o queé agradável a Deus, porque, fazendo bem ao vosso próximo, executais umacerimônia que embeleza o templo onde mora Aquele que vos deu nascimento”.

14 - “Porque Deus vos criou à sua semelhança, inocentes, simples, corações cheiosde bondade e amor, não para a concepção de projetos maus, mas para serem osantuário do amor e da justiça”.

15 - Não maculeis vosso coração, vo-lo digo eu, porque o Ser Eterno aí residesempre”.

16 - “Se quereis fazer obras cheias de piedade ou de amor, fazei-as com o coraçãogrande e que vossa ação não seja movida pela esperança de recompensa ou porcálculo comercial”.

17 - “Porque essa ação não vos aproximará da salvação e caireis então em umestado de degradação moral em que o roubo, a mentira e o assassínio passarãopor atos generosos”.

X

1 - Santo Issa ia de uma cidade a outra, levantando pela palavra de Deus acoragem dos israelitas que estavam prestes a sucumbir sob o peso dodesespero. Milhares de homens o seguiam para ouvir-lhe as prédicas.

2 - Mas os chefes das cidades tiveram medo dele e fizeram saber ao governadorprincipal, que residia em Jerusalém, que um homem chamado Issa haviachegado ao país, que sublevava o povo contra as autoridades com os seussermões e que o povo o escutava assiduamente e esquecia os trabalhos doEstado, acrescentando que, dentro em pouco, ele seria desembaraçado de seusgovernadores.

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3 - Então Pilatos, governador de Jerusalém, ordenou que prendessem o pregadorIssa, o conduzissem à cidade e o levassem à presença dos juízes, todavia, paranão excitar o descontentamento da população, Pilatos encarregou os padres e ossábios, velhos hebreus, de julgá-lo no templo.

4 - Entrementes, Issa, continuando suas pregações chegou a Jerusalém e, tendosabido de sua vinda, todos os habitantes, que já o conheciam de nome,correram à sua presença.

5 - Eles o saudaram respeitosamente e lhe abriram as portas do seu templo, a fimde ouvir de sua boca, o que havia dito em outras cidades de Israel.

6 - E Issa lhes disse: A raça humana perece por causa de sua falta de fé, porqueas trevas e as tempestades tresmalharam o rebanho humano, que perdeu osseus pastores”.

7 - Mas as tempestades não durarão sempre e as trevas não ocultarãoeternamente a luz; o céu tornar-se-á breve sereno, a claridade celeste espalhar-se-á por toda a terra e as ovelhas desgarradas reunir-se-ão ao redor de seuspastores”.

8 - “Não vos esforceis em procurar caminhos diretos na escuridão, com o risco decairdes em algum fosso, mas poupai vossas últimas forças, sustentai-vos unsaos outros, colocai toda a vossa confiança em Deus e esperai que um primeiroclarão apareça”.

9 - “Aquele que sustenta seu vizinho ampara a si próprio e aquele que protege suafamília sustenta seu povo e seu país”.

10 - “Porque, crede, sem dúvida, próximo está o dia em que sereis libertados dastrevas; reunir-vos-ei em uma só família e vosso inimigo estremecerá de medo,ele que ignora o que é um favor do grande Deus”.

11 - Os padres e os anciãos que o escutavam, cheios de admiração diante de sualinguagem, perguntaram-lhe se era verdade que ele tivesse tentado sublevar opovo contra as autoridades do país, assim como que um abismo se lhes abre aospés”.

12 - “É possível insurgirmo-nos contra homens transviados aos quais as trevasocultaram o caminho e o destino, respondeu Issa. Não tenho feito senão avisaros infelizes, como faço aqui no templo, para que não avancem mais longe porestradas tenebrosas, porque um abismo se lhes abre aos pés”.

13 - “O poder terrestre é de duração efêmera e está submetido a uma imensidade demudanças. Não seria de grande utilidade revoltar-se alguém contra ele, porqueum poder sucede sempre a outro poder e assim será até o fim da existênciahumana”.

14 - “Ao contrário, não vedes que os poderosos e os ricos semeiam entre os filhos deIsrael um espírito de rebelião contra o poder eterno do céu?”

15 - Então os anciões lhe perguntaram: “Quem sois vós e de que país viestes paracá? Antes não ouvíamos falar de vós e ignorávamos mesmo o vosso nome”.

16 - “Sou israelita, respondeu Issa, e, no dia do meu nascimento, vi os muros deJerusalém e ouvi soluçar meus irmãos reduzidos à escravidão e se lamentaremminhas irmãs, que foram conduzidas para as terras dos pagãos”.

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17 - “E minh’alma se entristeceu dolorosamente quando vi que meus irmãos haviamesquecido o verdadeiro Deus. Ainda criança, deixei a casa paterna para ir viverentre outros povos”.

18 - “Mas, tendo ouvido dizer que meus irmãos suportavam torturas ainda maiores,voltei ao país que meus pais habitavam para recordar a meus irmãos a fé deseus antepassados, a qual nos prega a paciência na terra para conseguir, lá noalto, uma felicidade perfeita e sublime”.

19 - E os sábios anciãos lhe fizeram ainda esta pergunta: “Afirma-se que renegaisas leis de Mossa e que ensinais ao povo o abandono do templo de Deus”.

20 - Issa lhes respondeu; “Não se destrói o que foi dado por nosso Pai Celestial e oque foi destruído pelos pecadores; recomendei-lhes que purificassem o coraçãode todas as máculas, porque ele é que é o verdadeiro templo de Deus”.

21 - “Quanto às leis de Mossa, esforço-me em restabelecê-las no coração doshomens e eu vos digo que ignorais seu verdadeiro alcance, porque não é avingança mas o perdão que elas ensinam. O sentido dessas leis está adulterado.

XI

1 - Tendo escutado Issa, os padres e sábios anciãos resolveram entre si não ojulgar, visto que Issa não fazia mal a ninguém. Apresentando-se diante dePilatos, instituído governador de Jerusalém pelo rei pagão do país dos Romanos,assim falaram:

2 - “Vimos o homem a quem acusais de excitar nosso povo à revolta, ouvimos suasprédicas e soubemos que ele é nosso compatriota”.

3 - “Os chefes das cidades vos enviaram falsos relatórios porque é um homemjusto que ensina ao povo a palavra de Deus. Depois de havê-lo interrogado,resolvemos deixá-lo ir em paz”.

4 - O governador ficou possuído de violenta cólera e enviou para perto de Issacriados seus, disfarçados, a fim de lhe espiarem todos os atos e de os comunicaràs autoridades com as menores palavras que dirigisse ao povo.

5 - Issa, entretanto, continuava a visitar as cidades vizinhas e a ensinar osverdadeiros caminhos do Criador, exortando os hebreus à paciência e lhesprometendo uma pronta libertação.

6 - Muitas pessoas o seguiram por toda a parte em que ia; algumas não oabandonaram e o serviam.

7 - E Issa lhes dizia: “Não crede nos milagres feitos pelas mãos do homem, porqueaquele que domina a natureza é o único capaz de fazer coisas sobrenaturais, aopasso que o homem é impotente para deter a corrente dos ventos e espalhar achuva”.

8 - Entretanto, há um milagre que é possível ao homem fazer: é aquele em que,cheio de crença sincera, se dispõe a desenraizar do coração todos os mauspensamentos e, para isso, não transita mais pelos caminhos da maldade”.

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9 - “E todas as coisas que se fizeram sem Deus são erros grosseiros, seduções eencantamentos que só servem para demonstrar a que ponto a alma daquele quepratica esta arte está cheia de devassidão, de mentira e de impureza”.

10 - “Não deis fé aos oráculos, porque só Deus conhece o futuro; aquele que recorreaos adivinhos conspurca o templo que está em seu coração e dá prova dedesconfiança a respeito do Criador”.

11 - “A fé nos adivinhos e em seus oráculos destrói a simplicidade inata no homeme sua pureza infantil; um poder infernal se apodera dele e força-o a cometertoda sorte de crimes e a adorar ídolos”.

12 - “Ao passo que o Senhor nosso Deus, que não tem ninguém que se lhe iguale, éum, todo poderoso, onisciente e onipresente; é ele que possui a sabedoria e todaluz”.

13 - “É a ele que deveis dirigir-vos para serdes consolados de vossas tristezas,auxiliados em vossos trabalhos, curados de vossas enfermidades; aquele querecorrer a ele não sofrerá recusa”.

14 - “O segredo da natureza está nas mãos de Deus, porque o mundo, antes desurgir, existia no fundo do seu pensamento divino; ele se tornou material evisível pela vontade do Altíssimo”.

15 - “Quando vos quiserdes dirigir a ele, tornai-vos crianças, porque não conheceisnem o passado, nem o presente, nem o futuro, e Deus é o Senhor do tempo”.

XII

1 - “Homem justo, perguntaram os servidores disfarçados do governador deJerusalém, diz-nos se nos é necessário executar a vontade de nosso César ouesperar nossa próxima libertação”.

2 - E Issa, tendo reconhecido naquelas pessoas indivíduos comprados para oseguir, quando o interrogavam, lhes respondeu: “Não vos anunciei que sereislibertados do César; é a alma, mergulhada no erro, que terá sua libertação”.

3 - “Não pode haver família sem chefe, não poderá haver ordem em um povo semum César, ao qual é preciso obedecer cegamente porque só ele responderá porseus atos perante o tribunal supremo”.

4 - “César possui um direito divino, perguntaram-lhe ainda os espiões, e é omelhor dos mortais?”

5 - Entre os homens não há melhor, mas existem os enfermos aos quais os eleitose encarregados de uma missão devem tratar usando dos meios que lhe confere alei sagrada do Pai Celestial”.

6 - “Clemência e justiça, eis os mais altos dons concedidos a César e seu nomeserá ilustre se assim se manter”.

7 - “Mas aquele que age de outro modo, que infringe os limites do poder que temsobre seu subordinado e vai até pôr sua vida em perigo, esse ofende o grandejuiz e lesa sua dignidade na opinião dos homens”.

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8 - Nesse ínterim, uma velha que se aproximara do grupo para melhor ouvir Issa,foi afastada por um dos homens disfarçados, que se colocou diante dela.

9 - Então Issa lhe disse: “Não é bom que um filho afaste sua mãe para ocupar oprimeiro lugar, que deve ser dado a ela”.

10 - “Aquele que não respeita sua mãe, o ser mais sagrado depois de Deus, éindigno do nome de filho”.

11 - “Escutai o que vou dizer-vos: “Respeitai a mulher porque ela é a mãe douniverso e toda a verdade da criação reside nela”.

12 - “É ela que é a base de tudo o que há de bom e belo, como é também o germe davida e da morte. Dela depende toda a existência do homem, porque é seu apoiomoral e natural em seus trabalhos”.

13 - “Ela nos dá à luz no meio de sofrimentos; com o suor do seu rosto vela nossocrescimento e vós lhe causais as mais vivas angústias até os seus últimos dias.Bendizei-a e adorai- a, porque ela é vossa única amiga e sustentáculo na terra”.

14 - “Respeitai-a, defendei-a, porque, assim procedendo, ganhar-lhe-eis amor,sereis agradáveis a Deus e muitas faltas vos serão perdoadas”.

15 - “Da mesma maneira, amai vossas esposas e respeitai-as porque elas serãomães amanhã e, mais tarde, avós de uma nação inteira”.

16 - “Sede dóceis para com a mulher; seu amor enobrece o homem, abranda-lhe ocoração endurecido, doma a fera e dela faz um cordeiro”.

17 - “A esposa e a mãe, tesouros inapreciáveis que Deus vos deu, são os mais belosornamentos do Universo e delas nascerá tudo que habitará o mundo”.

18 - “Assim como Deus outrora separou a luz das trevas e a terra das águas, amulher possui o divino talento de separar no homem as boas intenções dosmaus pensamentos”.

19 - “É por isto que vos digo: Depois de Deus, vossos melhores pensamentos devempertencer às mães e às esposas, à mulher, enfim, que é para vós o templo divinoem o qual obtereis mais facilmente a felicidade perfeita”.

20 - “Colocai neste templo vossa força moral; aí esquecereis vossas tristezas, vossosinsucessos e recobrareis as forças perdidas que vos serão necessárias no auxíliode vosso próximo”.

21 - “Não as humilheis, porque, assim procedendo, humilhareis a vós mesmos eperdereis o sentimento de amor, sem o qual nada aqui na terra existiria”.

22 - “Protegei vossa esposa para que ela vos proteja, vós e toda vossa família; tudo oque fizerdes por vossa mãe, vossa esposa, por uma viúva ou uma outra mulherna desgraça, o fareis por vosso Deus”.

XIII

1 - Santo Issa ensinou assim ao povo de Israel durante três anos, em cada cidade,em cada aldeia, nos caminhos e nos campos, e tudo que anunciara se realizava.

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2 - Durante todo esse tempo, os espiões do governador Pilatos o observavamestreitamente, mas sem nada ouvir dizer que se assemelhasse aos relatórios quehaviam sido enviados antes pelos chefes das cidades a seu respeito.

3 - O governador Pilatos, porém, assustado com a grande popularidade de SantoIssa, que, a crer em seus adversários, queria sublevar o povo para se fazer rei,ordenou a um de seus espiões que o acusasse.

4 - Mandou então que soldados procedessem à sua prisão e o encerrassem em umcárcere subterrâneo, onde lhe fizeram agüentar suplícios vários com o fim deforçá-lo a acusar-se a si próprio, o que daria margem a ser condenado à morte.

5 - O Santo, só pensando na felicidade de seus irmãos, suportou todos ossofrimentos em nome do Criador.

6 - Os servidores de Pilatos continuaram a torturá-lo e o reduziram a um estadode fraqueza extrema, mas Deus estava com ele e não permitiu que Issamorresse.

7 - Cientes dos sofrimentos e das torturas que o Santo suportava, os principaissacerdotes e os sábios anciãos foram rogar ao governador para pô-lo emliberdade na ocasião de uma grande festa que se achava próxima.

8 - Mas o governador se recusou a fazê-lo. Pediram então para que Issacomparecesse perante o tribunal dos Anciãos a fim de que fosse condenado ouabsolvido antes da festa, no que Pilatos consentiu.

9 - No dia seguinte, o governador fez reunir os principais capitães, padres, anciãose legistas com o fim de julgar Issa.

10 - Tiraram-no do cárcere e fizeram-no sentar-se diante do governador, entre doisbandidos, que eram julgados no mesmo momento, e isso com o fim de mostrar àmultidão que ele não era o único a ser condenado.

11 - Pilatos, dirigindo-se a Issa, lhe perguntou: “O” homem, é verdade que sublevaiso povo contra as autoridades com o intuito de vos tornardes rei de Israel? “.

12 - “Ninguém se torna rei por sua própria vontade, respondeu-lhe Issa, e vosmentiram afirmando que eu amotinava o povo. Eu só falei do Rei dos céus e foia ele que pedi ao povo que adorasse”.

13 - “Porque os filhos de Israel perderam sua pureza original e, se não tiverem oauxílio do verdadeiro Deus, serão sacrificados e seus templos tombarão emruínas”.

14 - “O poder temporal mantém a ordem em um país e eu lhes ensinei o seguinte:“Vivei de acordo com a vossa situação e a vossa fortuna, a fim de nãoperturbardes a ordem pública, e os exortei também a se lembrarem de que adesordem lhes reinava no coração e no espírito”.

15 - “Também o Rei dos céus os puniu e suprimiu seus reis nacionais, por isto, lhesdizia eu, que, se se resignassem à sua sorte, em recompensa, o reino dos céuslhes seria aberto”.

16 - Nesse momento introduziram-se as testemunhas, uma das quais depôs assim:“Dissestes ao povo que o poder temporal não era nada junto do poder real, quedevia libertar breve os israelitas do jugo pagão”.

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17 - “Bendito sejais vós, disse-lhe Issa, por terdes dito a verdade. O Rei dos céus émaior e mais poderoso do que a lei terrestre e seu reino supera a todos os reinosda terra”.

18 - “E o tempo não está longe em que, conforme a vontade divina, o povo de Israelse purificará de seus pecados, porque foi dito que um precursor viria anunciar alibertação do povo e a sua reunião em uma só família”.

19 - O governador, dirigindo-se aos juízes, exclamou: “Ouvis? O israelita Issaconfessa o crime de que é acusado. Julgai-o então conforme vossas leis epronunciai contra ele a pena capital”.

20 - “Não podemos condená-lo, responderam-lhe os padres e anciãos. Vós acabaisde ouvi-lo dizer que fazia alusão ao Rei dos céus e que nada pregou queconstituísse uma insubordinação contra a lei”.

21 - O governador mandou então entrar a testemunha que, por instigação sua,tinha traído Issa e esse homem entrou e, dirigindo-se a Issa, lhe perguntou:“Não vos fazíeis passar por rei de Israel quando dizíeis que aquele que reina noscéus vos havia enviado para preparar seu povo?”

22 - Issa, tendo-o abençoado, lhe disse: “Sereis perdoado, porque o que dizeis nãovem de vós”. Depois, dirigindo-se ao governador, falou: “Porque humilhar vossadignidade e porque ensinar vossos subalternos a viver na mentira, quando,mesmo sem ela, tendes o poder de condenar um inocente?”

23 - Ditas que foram estas palavras, o governador ficou possuído de violenta cólerae ordenou a condenação de Issa à morte e a absolvição dos dois bandidos.

24 - Os juízes, tendo se consultado entre si, disseram a Pilatos: “Não assumiremossobre nossas cabeças a grande culpa de condenar um inocente e de absolverbandidos, coisas contrárias às nossas leis”.

25 - “Fazei, pois, o que vos agradar”. Isto dito, os padres e os sábios anciãos saírame lavaram as mãos em um vaso sagrado, dizendo: “Somos inocentes da morte dojusto”.

XIV

1 - Por ordem do governador, os soldados levaram Issa e os dois bandidos, queconduziram para o local do suplício, onde foram pregados em cruzes queergueram na terra.

2 - Durante o dia inteiro os corpos de Issa e dos bandidos ficaram suspensos,gotejando sangue, sob a guarda de soldados; o povo permanecia ao redor, aopasso que os parentes dos supliciados oravam e choravam.

3 - Ao pôr do sol, os sofrimentos de Issa tiveram termo. Ele perdeu o conhecimentoe a alma desse justo se destacou do corpo para fundir-se na Divindade.

4 - Assim findou a existência terrena do reflexo do Espírito Eterno sob a forma deum homem que, após intensos sofrimentos, salvara pecadores endurecidos.

5 - Pilatos, entretanto, assustado com a sua ação, mandou entregar o corpo dosanto a seus parentes para que o enterrassem junto ao local do suplicio; amultidão foi orar junto ao seu sepulcro e encheu o ar de soluços e gemidos.

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6 - Três dias após, o governador enviou soldados para desenterrarem o corpo deIssa e o inumarem em qualquer outro lugar, com medo de um levante popular.

7 - Na manhã seguinte, a multidão encontrou o túmulo aberto e vazio; logo o ruídose espalhou de que o Juiz Supremo tinha enviado seus anjos para levar osdespojos mortais do santo em que tinha residido, na terra, uma parte do seuespírito divino.

8 - Quando tal ruído chegou ao conhecimento de Pilatos, proibiu, sob pena deescravidão e morte, que jamais se pronunciasse o nome de Issa e se orasse aoSenhor por ele.

9 - O povo, porém, continuou a chorar e a glorificar em alta voz o seu mestre;assim muitos entre eles foram conduzidos ao cativeiro, submetidos a torturas econdenadas à morte.

10 - Os discípulos de Issa abandonaram o país de Israel e partiram para todas asterras dos pagãos, pregando a necessidade de se abandonarem erros grosseiros,de pensarem na salvação de suas almas e na felicidade perfeita que espera oshumanos no mundo espiritual, cheio de luzes, em que há o repouso, em toda asua pureza, no seio da majestade perfeita do grande Criador.

11 - Os pagãos, seus reis e guerreiros ouviram os pregadores, abandonaram asantigas crenças absurdas, renegaram seus padres e ídolos para entoar hosanasao sapientíssimo Criador do Universo, ao Rei dos Reis, cujo coração é cheio deuma misericórdia infinita”.

Aqui termina a narração da vida de Santo Issa, de acordo com os documentos encontradospor Notovitch.

Há de parecer estranho que Mossa, o Moisés dos hebreus, apareça na narrativa comoum príncipe egípcio, mas leiamos o que escreveu Lisandro de la Torre na pág. 274 de sua obra “Aquestão social e os cristãos sociais”: “Mas, quem era Moisés? A Bíblia apresenta-o como umhebreu e diz que ele matou um egípcio e foi viver entre os hebreus e se casou com Séfora,filha de Ragual. A fácil impunidade desse crime traiçoeiro robustece a suposição de que aautoridade do Faraó era muito fraca nas paragens onde andava Moisés. Renan supõe queMoisés não era hebreu, mas egípcio, pois seu nome não é hebraico, e o nome Mosé é egípcioe parece-lhe verossímil que este foi o seu. Egípcio renegado, teria podido adquirirascendência entre os hebreus e conceber o plano do êxodo, que coincidia com o interesse desua segurança pessoal”.

Estrabão, historiador grego e autor de 17 livros sobre a sabedoria antiga e que viveu naépoca do nascimento do Cristo, refere que o êxodo do Egito teve lugar da seguinte forma: “Moisés,um sacerdote egípcio que também dirigia uma província egípcia, dali partiu porque não estavasatisfeito com o estado de coisas local e com ele partiram muitos outros pelas mesmas razõesreligiosas”. O caso é que Moisés dizia que não estava direito que os egípcios elevassem touros eanimais selvagens à categoria de deuses, assim como não era justo que os gregos dessem aos seusdeuses formas humanas:

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Em “Tudo começou em Babel”, do escritor alemão Herbert Wendt, lê-se o seguinte: “Osegípcios, que emigraram para a Palestina, então se aliaram às nações vizinhas, parte porfins comerciais, parte por costumes religiosos. E então surgiu aí o inconsiderável reinodos judeus. Moisés e .os chefes religiosos dos judeus não eram judeus mas egípcios de altacategoria, rebelados contra a situação religiosa. O nome Moisés é sem dúvida egípcio eaparece nos nomes de muitos faraós: Thutmoses, Ahmoses, Ramesés, por exemplo. A grandefaçanha de Moisés foi a de que se mostrou capaz de ajudar um grande número dessespárias escravos a fugir do Egito, dar-lhes leis e uma religião e ainda reuni-los em umaúnica nação na terra de Canaã. Foi desde aquele tempo que começou a história judaica”.

Na mesma parte de “O Povo Eleito” do supracitado livro de Wendt, aparece uma hipóteselevantada pelo Fundador da Psicanálise, Sigmund Freud, médico e psiquiatra judeu vienense,concordando com Estrabão e outros, que “Moisés e os demais chefes religiosos, que guiaram osjudeus ao fugirem do Egito, não foram judeus, mas sim egípcios que se revoltaram contra areligião egípcia do Estado.

Acontece que Freud não pára aí, “continua dizendo que não somente Moisés e acasta sacerdotal dos levitas foram egípcios mas a própria religião monoteísta que, durantemilênios tornou possível a sobrevivência dos judeus, foi egípcia também”. Lê-se também alique a gente que constituiu o depois chamado povo judeu, hebreu ou israelita tinha váriasprocedências, isto é, que era uma mistura de raças unidas por idéias religiosas.

Mas, depois de tantos séculos, dizemos nós, quem vai acreditar que Mossa ou Moisés foimesmo egípcio e não hebreu como sempre constou.

Da mesma forma poder-se-á dizer que o autor deste trabalho é alemão ou filho dealemães, quando eu nasci em Niterói, Capital do Estado do Rio de Janeiro, Estado em que nasceramtambém os meus pais, com, salvo um avô materno alemão, uma longa geração de ascendentesfluminenses, mineiros e paulistas.

Tudo pode acontecer.

Sinópticos(Extratos de “El corazon de Ásia”, de

Nicolau Roerich, edição do

Museu Roerich, de New York, MCMXXX)

Antes de fazer dois pequenos extratos da citada obra, vou dizer quem foi Roerich, deacordo com Ricardo Rojas, em seu prólogo:

“Conheço a extraordinária personalidade de Nicolau Roerich, sua inquieta vidade viajor de vários continentes, sua origem russa, sua aclimatação americana, sua obrade pintor, de pensador e de educador, que fazem dele uma das mais singulares figuras domundo internacional contemporâneo. Para honrá-lo e para dar ao seu vigoroso espírito uminstrumento de ação, erigiu-se em New York o magnífico Museu que leva o seu nome e quetem nas principais nações membros honorários da estirpe de Bernard Shaw, na Inglaterra;de Zuloaga, na Espanha e de Rabindranath Tagore na Índia”.

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Isto dito e deixando aos leitores o trabalho de comparação, passo, sem comentários, aosseguintes e interessantes trechos do seu livro:

“Em Srinagar, ouvimos, pela primeira vez, a curiosa lenda acerca da visita doCristo ao lugar. Depois, vimos quão amplamente difundida na Índia, no Ladak e na ÁsiaCentral é a da viagem do Cristo a esses países, durante sua larga ausência de que fala oEvangelho. Os muçulmanos de Srinagar nos contaram que o Cristo crucificado, ou Issa,como o chamam, não morreu na cruz, mas só desmaiou. Seus discípulos raptaram seucorpo, o esconderam e o curaram. Posteriormente o levaram para Srinagar, onde doutrinouo povo e ali morreu. O túmulo do Mestre se acha nos alicerces de uma casa particular e seconta que existe lá uma inscrição que diz que, naquele lugar, foi enterrado o filho de José.Narra-se que perto da sepultura se dão curas milagrosas e que o ar está saturado dearomas. Dessa forma os crentes de outras religiões desejam ter o Cristo consigo”. (pág. 26).

Este outro trecho concorda com o anterior e com a narrativa de Notovitch. Ei-lo:

“Em Leh encontramos novamente a lenda da visita do Cristo a esses lugares. Ochefe indu dos correios de Leh e vários ladakis budistas nos contaram que nesta cidade,não longe do bazar, ainda existe uma lagoa na margem da qual se erguia uma velhaárvore à cuja sombra o Cristo pregou ao povo, antes de sua partida para a Palestina.Ouvimos também outra lenda de como o Cristo, quando jovem, chegou à Índia em umacaravana de mercadores e como foi aprendendo a suma sabedoria dos Himalaias. Ouvimosvárias versões desta lenda, que se difundiu amplamente pelo Ladak, Sinkiang e Mongólia,mas todas elas concordam em um ponto: que, durante o tempo de sua ausência, o Cristoesteve na Índia e na Ásia. Não importa como e de onde proveio a lenda; talvez seja de origemnestoriana, mas notável é que a ela se referem com absoluta sinceridade”. (págs. 31 e 32)

Aqui me detenho para passar a outra notícia concordante, mas de origem extra-humana,isto é, espiritual.

(Trecho do livro “Herculanum”, ditado pelo

espírito do conde J. W. Rochester à

médium Sra. W. Krijanowsky, na França

edição da Livraria da Federação Espírita Brasileira, 1935)

Quem fala é o espírito do ex-centurião romano Quirinus Cornelius (anteriormente AllanKardec, sacerdote, druida, depois João Huss, padre da Boêmia), em resposta à pergunta de CaiusLucilius (depois conde de Rochester, a própria entidade comunicante): “Onde é que Jesus, deorigem tão humilde, adquirira o grande saber e a eloqüência com a qual escravizava os corações?”Informa ele:

“A sua origem divina manifestou-se do berço, justamente por uma sabedoria queultrapassava a sua idade e isso em todas as fases de sua vida. Entretanto, eis o que ouvia respeito. Depois daquela conversa com o Mestre, tive o ensejo de, por intermédio de umdos discípulos, travar relações com um judeu rico e ardoroso adepto da nova doutrina, apropósito desta mesma pergunta que ora me fazes.

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Pois bem, esse homem me contou que o Mestre, ainda criança, foi a Jerusalémpela Páscoa, e, tendo por acaso se intrometido entre os doutores, a todos surpreendeu porsuas dissertações e raciocínios, inconcebíveis na sua idade. Entre esses doutores,encontrava-se um velho rabino de Alexandria, abastado e sábio homem, que se interessoupelo menino precoce e veio a proporcionar-lhe, mais tarde, uma viagem àquela cidade, afim de instruir-se. A morte do velho o impediu de facultar a Jesus uma posição independente,mas, ainda, assim, ele viajou pela Índia e só regressou à Galiléia dois ou três anos antesde começar a sua predicação. Sendo, ao demais, muito discreto, nenhum dos seus discípulosconhecia os pormenores da sua vida, nesse período que passou longe da pátria.

Sua mãe, essa não o poderia ignorar, mas a verdade é que também se conservoumuda a respeito”.

Esta narrativa, que concorda com as anteriores, concorda ainda com as que se seguem.

(Nota n° 1, da obra “La sorcellerie des

campagnées”, de Charles Lancelin, autor de

“L’Occultisme et la Science” e “La Vie Posthume”)

O próprio Jesus foi um iniciado nos Mistérios do Egito. Encontro uma prova inegáveldisto em um erro de tradução, evidentemente proposital, que fizeram, sucessivamente, todos ostradutores oficiais do evangelho de Mateus. Ei-lo: o versículo 46 do Capítulo XXVII, deste autor,está assim: “E, pela nona hora, Jesus deu um grande brado, dizendo: ‘Eli, Eli, lammasabachthani!’, isto é, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

Todos os manuscritos gregos transcrevem como seguem estas quatro palavras hebraicas:Eli, Eli, lamma sabachthani! Esta transcrição é unânime, pode-se, portanto, considerá-la comoabsolutamente exata. Ela deve ser tanto mais exata porque não apresenta nenhuma dificuldade eser, por sua vez, substituída pelo hebraico em que, letra por letra, escreve-se (o hebreu não temvogal) desta maneira: “LI, LI, LHM ShBHh ThNI”. Ora, a tradução desta frase não é “Meu Deus,meu Deus, por que me abandonastes?” e sim “Meu Deus, meu Deus, quanto me glorificais!”

E esta frase era precisamente (com a única diferença proveniente da adaptação da idéiaa uma outra língua) a fórmula que terminava nos mistérios do Egito a prece de ação de graças doiniciado: numa palavra, ela era sacramental e fazia parte de ritos misteriosos.

Vejo na tradução oficial um contra-senso proposital, porque as edições que contêm estapassagem não deixam de enviar o leitor ao Salmo XII (XXI de certas traduções), vers. I, que é: “Oh,meu Deus! Oh, meu Deus! por que me abandonastes?”

A tradução deste versículo do salmo é, com efeito, exata, porém o texto é muito diferentedo de Mateus; traz “LI, LI LMHHhZHTh-Ni” (ou acrescentando a transcrição dos pontosmassoréticos: hazabattva-ni), fazendo o leitor observar que não se deve confundir o Hh, do primeirotexto, com o Hh, do segundo, pois, no primeiro caso, é um Hheth, aspiração gutural muito forteque o grego substituiu por Chi, quando no segundo texto é um Agin, outra aspiração muito forte.Para representar estes sons guturais das línguas semíticas, o alfabeto latino oferece uma só letra:o H, para as aspirações fracas e Hh para as aspirações fortes.

Ora, a que homem de bom senso pode-se fazer crer que, entre todos os hebraizantesoficiais que estudaram estes textos, não houvesse um só para fazer o simplicíssimo trabalho queacabo de apresentar ao leitor e, por conseguinte, desvendar o erro? Donde deriva ele?

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Simplesmente disto: que, na época em que o evangelho de Mateus foi traduzido, nogrego, por São Jerônimo, esta fórmula ritual era conhecida pelos padres contemporâneos, poisainda existia bom número de iniciados hierofantes. Dar uma tradução exata seria classificar Jesus,ipso facto, entre os iniciados do Egito. E isto é tão verdadeiro que, embora tenha existido, ou aindacom certeza exista nas câmaras secretas da biblioteca do Vaticano, nunca nos apresentaram otexto original hebraico de Mateus, e que São Jerônimo, depois de se ter servido dele para firmarsua própria tradução (que, na realidade, era uma adaptação muito abreviada), depois de nos terdado, do texto que ele próprio fez, a tradução errada, atualmente em voga, trata de heréticos todosos outros comentários que não os seus e denuncia como heréticas todas as seitas cristãs ebionitas,gnósticas, cabalistas, cevirtas, etc., que se serviram do livro original hebreu de Mateus. Contudo,não se deve procurar a razão desse ostracismo no fato único que acabo de estudar, mas tambémnessa outra causa que o livro de Mateus provava a existência, no ensino crístico, de uma doutrinaesotérica secreta que só devia ser conhecida por certos iniciados.

(Citação do livro “Cristianismo Místico”,

do Yogi Ramacharaka, edição do

Círculo Esotérico da Comunhão do

Pensamento, 1926, págs. 79/83)

Escreve Ramacharaka que, se não me engano, é o ocultista inglês William WalkerAtkinson:

Lendas e tradições de organizações e irmandades místicas e ocultistas nos dizem que,depois do acontecimento do Templo, onde os pais o encontraram no meio dos doutores,aproximaram-se de Jesus membros da organização secreta a que pertenciam os Magos efizeram os pais ver que não convinha que Jesus ficasse recluso na carpintaria, quandotinha dado provas evidentes de um maravilhoso desenvolvimento espiritual e tão admirávelcompreensão intelectual de assuntos gravíssimos. Depois de longa e séria consideração,os progenitores de Jesus consentiram que ele seguisse o plano dos Magos e permitiram-lhes levá-lo consigo para a sua terra e seus retiros a fim de receber ali as instruções que asua alma anelava e para as quais a sua mente estava preparada”.

É verdade que o Novo Testamento não corrobora essas lendas ocultistas, mas igualmenteé verdade que nada diz de contrário; passa com o silêncio por cima deste importante períodode dezessete anos. É notável que, quando Jesus apareceu no cenário da atividade deJoão, este não o conheceu e, se Jesus tivesse passado aqueles anos em casa, João, seuprimo teria conhecido seus traços fisionômicos e sua aparência pessoal.

Os ensinos ocultistas nos dizem que aqueles dezessete anos da vida de Jesus, a respeitodos quais os Evangelhos nada contam, foram aproveitados por ele para viagens a terraslongínquas, onde adolescente e moço foi instruído na sabedoria e ciência das diferentesescolas. Segundo essas tradições, ele foi à Índia, ao Egito, à Pérsia e a outras regiõesdistantes, vivendo alguns anos em cada centro importante e sendo iniciado nas diversasirmandades, ordens e corporações que ali tinham suas sedes. Algumas tradições das ordensegípcias falam de um jovem Mestre que esteve entre os irmãos daquela terra e do mesmomodo há tradições análogas na Pérsia e na Índia.

Entre as lamasarias ocultas do Tibet e nos montes Himalaias podem se encontrar lendas ehistórias concernentes ao admirável Mestre que certa vez visitou tais paragens e observousua sabedoria e ciência secreta.

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Além disso, há tradições entre os bramanistas, budistas e zoroastristas que narram ahistória de um estranho instrutor que apareceu no seu meio, ensinou admiráveis verdadese levantou contra si grande oposição dos sacerdotes das várias religiões da Índia e daPérsia, porque pregava contra a casta sacerdotal e o formalismo e também se opunha atodas as formas de distinções e restrições das castas sociais. E tudo está também deacordo com as lendas ocultistas que dizem que do seu vigésimo primeiro até quase aotrigésimo ano de idade, Jesus exerceu seu ministério entre o povo da Índia, da Pérsia e dasterras vizinhas, voltando, finalmente, ao seu país natal onde foi ativo durante os últimosanos de sua vida.

As lendas ocultistas nos informam que, em todas as terras que visitou, despertara a maisamarga oposição aos sacerdotes, que sempre se opunha ao formalismo e ao poder sacerdotale procurara reconduzir o povo ao Espírito da Verdade, afastando-o das cerimônias e fórmulasde que sempre se têm servido para ofuscar e nublar a Luz do Espírito.

Ele ensinou sempre a Paternidade de Deus e a Irmandade do Homem. Empenhou-se portornar as grandes verdades ocultas compreensíveis à massa do povo, que tinha perdido oEspírito da Verdade em sua observância das formas externas e cerimônias pretensiosas.

Relata-se que, na Índia, atraiu sobre sua cabeça a ira dos brâmanes, que sustentavam adistinção das castas, essa maldição da Índia. Ele morava na cabana dos sudras, a maisbaixa das castas hindus e por isso era olhado como pária pelas classes superiores.

Por toda a parte os sacerdotes e as castas superiores o consideravam como revoltoso eperturbador da ordem social estabelecida. Era um agitador, um rebelde, um renegadoreligioso, um socialista, um homem perigoso, um cidadão indesejável, na opinião dasautoridades daqueles países.

Os grãos da sabedoria, porém, foram semeados à direita e à esquerda e, nas doutrinas deoutros países orientais, se pode achar a Verdade, cuja semelhança com as doutrinas deJesus, que foram conservadas, demonstra que provêm da mesma fonte e deram muito quepensar aos missionários cristãos que visitaram aquelas terras.

E assim, devagar e com paciência, Jesus foi regressando à sua pátria, à terra de Israel,onde devia completar o seu ministério, trabalhando por três anos entre os seus compatriotase onde igualmente devia incitar contra si a oposição dos sacerdotes e das classes elevadasque lhe trouxe finalmente o martírio e a morte. Ele era rebelde contra a ordem estabelecidadas coisas e encontrou o fado reservado a todos os que vivem acima de seu tempo.

E, como aconteceu desde os primeiros dias do seu ministério até o último, hoje, asverdadeiras doutrinas do Homem das Dores tocam mais facilmente os corações do povo,ao passo que são contrariadas e combatidas pelas pessoas que têm autoridade eclesiásticaou temporal, embora se chamem seus sequazes e apresentem suas insígnias. Ele foi sempreo amigo do pobre e oprimido, e odiado pelos homens do poder.

Assim, pois, vedes que os ensinos ocultistas mostram que Jesus tem sido um instrutormundial e não apenas um profeta judeu. O mundo inteiro foi seu auditório e todos os povosseus ouvintes.

Ele plantou seus grãos de Verdade no seio de várias religiões e não numa só, e estassementes estão começando a dar os seus melhores frutos agora em nossos dias, quandoas nações começam a sentir a verdade da Paternidade de Deus e da Irmandade dos Homense o novo sentimento vai se tornando bastante forte para derrubar os velhos preconceitosque separam irmão de irmão e um credo de outro credo. O Cristianismo, em seu sentidoverdadeiro, não é apenas um credo, é uma grande Verdade humana e divina, que há deelevar-se por sobre todas as mesquinhas diferenças de raça e religião, para no fim iluminartodos os homens, unindo-os todos num só rebanho da Fraternidade Universal.

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Assim escreveu Ramacharaka e o ano 2000 está próximo, ano, até quando, segundomensagens do Além, ficarão cumpridas todas as profecias messiânicas.

É que os tempos já chegaram, os tempos preditos pelo Apocalipse.

(Transcrição do capítulo X

O sacerdócio secreto de Jesus -

do livro “The mys-tical life of Jesus’

do Dr. H. Spencer Lewis, da Biblioteca

Rosacrux de San José, Califórnia,

Estados Unidos da América)

Escreve o Dr. Spencer Lewis, o falecido “Imperator” da Ordem Rosa-cruz do Norte,Centro e Sul América, membro da Ashrama Essênia da Índia e delegado americano do Mosteiroda. Grande Irmandade Branca do Tibet:

Pouco ensinam os Evangelhos cristãos acerca da vida de Jesus entre a sua palestra comos doutores em Jerusalém e o começo do seu ministério na Palestina.

Com efeito, a primeira coisa que nos contam os Evangelhos a respeito da preparação deJesus para a sua obra como Filho de Deus é o seu batismo no rio Jordão. Dizem-nos que,na ocasião, Jesus quis sair da Galiléia e mostrar-se em público.

Certamente que o batismo de Jesus não pode ter sido o início de sua preparação para o seuministério, pois maior preparo exigia a obra que realizou durante alguns anos.

Já expus em outras passagens deste livro porque está fora da razão acreditar que Jesusnão precisava de preparar-se para a sua missão e tratei de demonstrar que toda a sua vidadenota profundo estudo, cuidadosa preparação e extraordinária disciplina durante ajuventude.

De acordo com as crônicas essênias, terminou Jesus os estudos no começo do outono,quando estava ainda nos 13 anos. Apesar da sua precocidade e esclarecido entendimento,não lhe foi permitido abreviar os estudos preparatórios na escola dos profetas do monteCarmelo, portanto cabe presumir que era atendido e cuidado por quem aumentava, comnovas instruções os seus conhecimentos, na expectativa de que chegasse a hora de passara cursos superiores em outras escolas a cargo de outros instrutores.

Também assinalam as crônicas, bem claramente, quais as vicissitudes da vida de Jesusdesde que saiu da escola do Carmelo até ficar pronto para cumprir a sua missão.

Os pormenores desses incidentes ou vicissitudes de sua vida são demasiado extensos eamiúde insignificantes para incluí-los em um livro desta espécie e tamanho, de modo quesó exporei os pontos mais essenciais.

De conformidade com as instruções enviadas à escola do Carmelo pelo Supremo Templode Heliópolis, o jovem Avatar devia completar a sua educação com um estudo aprofundadodas antigas religiões e dos ensinamentos das diversas seitas e credos mais influentes naépoca. Devia familiarizar-se com os dogmas das chamadas religiões pagãs, antes deempreender o estudo do desenvolvimento das crenças e ritos pagãos nos princípiossuperiores e credos ensinados nas escolas secretas do Egito e promulgada pela GrandeFraternidade Branca.

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Nos tempos modernos, aquele que se propõe dedicar ao ministério sacerdotal tem de estudaras religiões comparadas e conta, com efeito, com universidades em que são analisadas,comentadas e interpretadas as Escrituras Sagradas antes de empreender o estudo dateologia atual. Hoje não sai mais o estudante do seu país natal e segue para terras estranhasa fim de familiarizar-se com as antigas religiões e escolas de filosofia moral. Na época deque tratamos, todavia, era absolutamente necessário que o estudante de religião e filosofiafosse às sedes das antigas religiões, onde podia consultar os únicos exemplares dasautênticas escrituras de cada religião e conviver com as pessoas que a professavam parafamiliarizar-se com os seus rituais, dogmas e cerimônias. Alguns grandes Avatares dopassado tiveram que ir a lugares afastados com dito propósito e assim foi universalmentedisseminado o conhecimento dos antigos ensinamentos.

O jovem Jesus ficou ao cuidado de dois magos que foram ao Carmelo com o objetivo delevá-lo à sua primeira escola afastada e lugar de experiência. Dizem as crônicas que foipermitido a Jesus passar uma semana com os seus pais na Galiléia, enquanto os magosfaziam os preparativos e consultavam os professores da escola do Carmelo. Tambéminstruíram os pais de Jesus a respeito do que deviam esperar e do que deviam fazerdurante a ausência do seu filho.

Do mesmo modo contam as crônicas que; quando Jesus e os magos saíram da Galiléia,realizou- se uma cerimônia essênia em uma assembléia privada e, sem despertar a atençãodo povo, os magos e Jesus, junto com outros que iam à curta distância pelo mesmo caminho,partiram em caravana na direção de Djaguernat, cidade localizada na costa oriental daÍndia, chamada hoje Puri, que, por séculos, foi o centro do mais puro budismo.

Em uma montanha das cercanias da cidade havia uma escola ou mosteiro em que seguardavam vários antigos escritos budistas e onde residiam os mais doutos instrutoresdas doutrinas de Buda.

Perto de um ano levou a caravana para chegar a Djaguernat e durante esse tempo nãocessaram os magos de ensinar ao jovem Jesus, mostrando-lhe, no meio dos incômodos eatribulações da viagem, os sofrimentos da humanidade, a falta de ideais do povo e osassuntos populares então em voga.

Segundo essas crônicas, permaneceu Jesus pouco mais de um ano naquela escola monásticae se familiarizou com os ensinos e rituais do budismo. O principal instrutor dele naqueleperíodo foi Lamaas, com quem simpatizou tanto que posteriormente o induziu a queingressasse na comunidade essênia da Palestina.

Do mosteiro de Djaguernat se trasladou Jesus para o vale do Ganges e se deteve algunsmeses em Benáres, onde teve ocasião de estudar ética, física, gramática e outras disciplinaspróprias das escolas mais famosas pela sua cultura e erudição. Ali se interessou vivamenteJesus pelo sistema terapêutico dos hindus e recebeu lições de Udraka, o mais insigneterapeuta do país.

Depois de visitar outras partes da Índia com o fim de conhecer a arte, a legislação e acultura dos seus povos, regressou Jesus ao mosteiro de Djaguernat, onde esteve outrosdois anos. Tal adiantamento conseguiu em seus estudos que o nomearam instrutor na vilade Ladak, em que teve ocasião de familiarizar-se com a arte de ensinar por meio deparábolas.

Por motivo das suas relações com eminentes instrutores de Benáres, recebeu Jesus avisita de uma alta dignidade de Lahore. Das crônicas se infere que Jesus já havia introduzidonovas idéias e verdadeiros princípios místicos nas lições que ministrava aos alunos de suaescola e, embora essas novidades agradassem aos discretos, provocavam o antagonismodos indoutos e rigorosamente ortodoxos.

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O sacerdote vindo de Lahore tratou de persuadir Jesus a que modificasse ligeiramente osseus ensinos e cessasse de conviver com as castas inferiores e pessoas vulgares. Essa foia primeira tentação que acometeu Jesus para que se afastasse da plebe e se unisse àinfluente aristocracia, mas ele não quis ouvir as insinuações do sacerdote e recusou ospresentes que lhe eram oferecidos.

Quando assim bebia os primeiros tragos amargos de sua vida, recebeu Jesus a notícia damorte do seu pai na Galiléia e que nada, nem ninguém, podia consolar a sua aflita mãe. Osmensageiros que levaram a notícia a ele lhe disseram que não se conhecia coisa alguma aseu respeito desde a sua partida da Galiléia, que a sua mãe não sabia por onde ele andavae que, se bem os essênios lhe afirmassem que o silêncio de Jesus estava vaticinado e quenenhum mal o atingira, não era possível consolá-la.

Referem algumas crônicas antigas que, terminados os seus estudos do budismo e dohinduísmo na Índia, ia Jesus para Lhassa, no Tibet, mas, estando ainda na Índia, chegouum mensageiro com alguns manuscritos.de um templo de Lhassa, que lhe enviava o famosoMengste, considerado como o maior de todos os sábios budistas.

Durante largo tempo chegaram de Lhassa sucessivos mensageiros que lhe levavammanuscritos budistas e, desse freqüente intercâmbio e do efeito que produziu em sua vida,derivou a crença de que havia ele estado pessoalmente ali. Quando Jesus resolveu sair deDjaguernat, dirigiu-se à Pérsia, onde se haviam feito, na cidade de Persépolis, os preparativosconvenientes a fim de que prosseguisse em seus estudos.

Era Persépolis a capital da antiga Pérsia e a sede dos magos daquele país, chamados Hor,Lun e Mer. Um deles, já muito velho, era um dos três que tinham visitado o menino aonascer na gruta essênia e lhe havia ofertado presentes do mosteiro da Pérsia.

Grandes homenagens prestaram esses e os sacerdotes do templo a Jesus. De váriascomarcas da Pérsia acudiram outros personagens a Persépolis e ali permaneceram unscomo instrutores e outros como estudantes durante o período da educação de Jesus, porquereferem as crônicas que cada dia, depois das lições, os instrutores lhe rogavam que lhesensinasse os princípios superiores que parecia compreender por inspiração.

Por último lhes fez Jesus saber que a maior instrução que ele podia dar era a obtida nosilêncio, depois de meditar sobre alguma importante lei que havia sido ensinada no decursodos seus estudos e leituras. Assim estabeleceu Jesus o método de ‘penetração no silêncio’,que tão importante característica havia de ter nos posteriores métodos místicos.

Também demonstrou Jesus em Persépolis notáveis faculdades terapêuticas e, depois deanalisar muitos meses essa sua inerente faculdade e fazer cuidadoso estudo de sua índole,declarou aos instrutores que, no seu entender, a atitude mental da harmonia por parte doenfermo influía consideravelmente no resultado. Tal foi o fundamento dos posterioresensinamentos das reuniões secretas dos discípulos de Jesus, ou seja, que a harmoniainterna e a preparação mental eram necessárias em todas as modalidades da terapêuticaespiritual.

Depois de um ano de permanência na Pérsia, Jesus e os magos se dirigiram para a regiãodo Eufrates, onde entrou em relação com os mais ilustres sábios da Assíria e magos deoutros países que foram vê-lo e ouvi-lo, pois já havia chamado a atenção de todos comointérpretes das leis espirituais de uma forma mais mística e compreensível.

Largo tempo permaneceu Jesus nas cidades e povoações da Caldéia e da Mesopotâmia.Seu salutar poder e métodos terapêuticos se aperfeiçoaram tão rapidamente que inúmeraspessoas deles receberam o benefício da saúde e então lhe disseram os seus preceptores,os magos, que a faculdade de sarar os enfermos seria uma das provas do seu últimoexame preparatório para o exercício efetivo de sua missão.

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Daquele país se transportaram Jesus e os magos para as ruínas da Babilônia e ali estiveramalgum tempo a examinar os templos desmoronados, as partes destruídas e os paláciosdesertos. Lá se familiarizou Jesus com as provas e atribulações das cativas tribos de Israele viu os lugares em que Daniel e os hebreus suportaram tremendas atribulações.Indubitavelmente lhe impressionaram os pecados dos pagãos e os erros das crenças antigas.

Da Babilônia foram Jesus e os magos para a Grécia, onde se relacionou com alguns filósofosatenienses e esteve sob a direção pessoal e cuidado de Apolo, que lhe mostrou as antigascrônicas da sabedoria grega. Naquele país Jesus despertou muito a atenção dos sábios emagos que lhe rogaram permanecesse mais tempo com eles, mas o seu itinerário estavadefinitivamente traçado e, ao cabo de poucos meses, embarcou rumo a Alexandria.

Ali só esteve o tempo suficiente para conversar com os mensageiros especiais que haviamido saudá-lo e visitar alguns dos mais antigos santuários. De lá passou para Heliópolis eresidiu em uma casa particular, especialmente disposta para ele, com vários criados, umlindo jardim e um escriba cujas funções eram análogas às do que chamamos hoje desecretário particular.

Pouco depois de sua chegada a Heliópolis, foi Jesus visitado pelos representantes dosacerdócio pagão do Egito, que se haviam inteirado com desgosto e desaprovação dosseus ensinamentos e manifestações de poder místico. Novamente sofreu as amarguras davida em várias provas e atribulações que teriam levado um homem vulgar a ceder àsinsinuações dos sacerdotes e a recorrer ao engano e à hipocrisia com respeito aos seuspropósitos e intenções”.

Diz o autor que foi naquela ocasião que Jesus começou a preparar-se para os graussuperiores da Grande Fraternidade Branca, quando então alcançou o título de Mestre e voltoupara a Palestina.

(Transcrição parcial do capítulo XXXIII

da obra mediúnica recebida por

Geraldine Cummins e publicada sob o

titulo de “The Manhood of Jesus”

pela Psychic Press Ltd., de Londres, Inglaterra)

Antes do mais, algumas palavras a respeito da médium srta. Geraldine Cummins,recentemente falecida, que os espíritas ingleses chamavam de “o maior médium de escritaautomática do mundo”, possivelmente por desconhecer a grande obra mediúnica do nosso queridoFrancisco Cândido Xavier. Em todo o caso vale o título para evidenciar o trabalho mediúnico dasrta. Cummins, composto de vários volumes.

A srta. Geraldine Cummins era filha do prof. Ashley Cummins, de Cork, Irlanda. Recebiamensagens de Felipe, o evangelista; de Cleofas ou Cleopas, um dos discípulos a quem Jesus-Cristo apareceu no caminho de Emaús depois da ressurreição, e de Frederic William Henrv Mvers,o conhecido espírita inglês Frederic Myers. O desenvolvimento de sua mediunidade começou emdezembro de 1923, em sessões realizadas com a srta. E. B. Gibbes. Nunca estudou teologia ouassuntos semelhantes. Viajou por todas as partes, mas nunca esteve no Egito nem na Palestina,de modo que não se lhe pode atribuir conhecimentos históricos ou geográficos daquelas duasregiões.

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Sua escrita habitual era vagarosa ao passo que, quando escrevia automaticamente, eramuito rápida, até mesmo veloz. Já em março de 1926, contavam-se 1750 palavras escritas emapenas uma hora e quinze minutos. Sua principal produção mediúnica foi de assuntos dos temposapostólicos, como Francisco Cândido Xavier que nos deu: “Há 2000 anos”, “50 anos depois”, “AveCristo”, “O sinal da vitória” e “Paulo e Estevão”, obras ditadas pelo espírito de Emmanuel, que, emexistência anterior, foi um sacerdote católico e que, em certo sentido, não poderia deixar de penderpara a sua última religião terrena.

O primeiro livro mediúnico recebido pela srta. Cummins foi “Os escritos de Cleofas’, quesuplementa os Atos dos Apóstolos e as Epístolas de São Paulo. É uma narrativa histórica da igrejaprimitiva e do trabalho dos apóstolos de logo após a morte de Jesus até a partida de Paulo deBeréia para Atenas.

Na sua segunda obra “Paulo em-Atenas”, a narrativa é retomada e continuada. A terceira,“Os grandes dias de Éfeso”, segue a mesma linha de pensamento. A produção desses escritosautomáticos foi testemunhada por eminentes teólogos e outras autoridades e esclareceu muitaspassagens obscuras dos Evangelhos. Recebeu ela, além de várias outras, sobre diferentes assuntosde fundo espírita, a pequena obra “Apelo para o César” e ainda “A infância de Jesus” e esta quemencionei acima e que trata dos primeiros anos da vida de adulto de Jesus, o seu julgamento e asua crucificação. “The manhood of Jesus” está prefaciada pelo Rev. B. A. Lestes, B. A. (Ôxon).

Trata-se, em suma, de uma médium altamente credenciada e respeitada, mesmo porautoridades eclesiásticas, e muito lhe deve o Espiritismo na Inglaterra.

Passo, finalmente, à transcrição acima prometida. Ei-la, em tradução:

Os Fariseus, os Saduceus e os Essênios adoravam cada um deles a Deus, conforme suaprópria maneira. Na época em que Jesus andava pela Galiléia, os Essênios eram em númerode três ou quatro mil. Alguns moravam na cidade, embora permanecessem uma gente àparte. Outros viviam na comunidade local e alguns pensavam em Deus nos lugares desertos.

Eles envergonhavam os Fariseus e os Saduceus pela nobreza e pureza de suas vidas. Nãocensuravam qualquer pessoa, mas entre si discutiam a respeito das práticas dos Fariseuse condenavam o oferecimento de animais em sacrifício no Templo de Sion. Não acreditavamque ritos e cerimônias externas fossem tudo desejado por Deus. Havia uma prática, porém,além da prece e do jejum, que lhes era preciosa. Eram cuidadosos na limpeza do corpo ebanhavam-se muitas vezes diariamente. Esse era um sinal exterior de sua pureza interior,esse testemunho da alma que acreditavam levar com eles depois da morte, em sua rápidaviagem para a região feliz, o Paraíso, no longínquo horizonte.

Os Essênios não proferiam palavras profanas ou mundanas antes do nascimento do sol.Na hora escura que precede a madrugada, ajoelhavam-se e oravam até que o sol surgisse,quando entoavam o Canto da Luz Eterna, aquela Luz que emana da fronte de Deus e que,em majestade e beleza, alimenta toda vida. Mas se entregavam, em particular, a essaprática da prece e comunhão com Deus antes do nascer do sol, pois que acreditavam que,sempre na hora da morte, as almas dos fiéis viajavam para o Paraíso quando o sinalexterno da Luz Eterna surgia em sua glória por cima de colinas e vales. A essa boa gente,portanto, a hora do levantar do sol era santa, um espaço de tempo concedido pela vontadedivina ao viajante que se libertou da carne e do mal do mundo que condenavam inteiramentee de que pensavam livrar-se durante a sua vida.

Os Fariseus e os Saduceus odiavam esses Filhos da Luz, mas a couraça da virtude delesnão podia ser perfurada. Assim, embora esses homens desejassem a sua destruição, nãoachavam um meio de assalto com que pudessem abatê-los e destruir-lhes as comunidades.

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No sopé de um monte não longe de Jericó e construída sobre uma rocha, achava-se a casados eremitas. Há muitos anos, dois jovens chamados Shammai e Enoc haviam reunidoalguns desses fiéis e os aconselharam a fugir das maldades das cidades e buscar retidãode vidas, antes que fosse tarde, nos lugares desertos.

Por algum tempo, eles perambularam pelo deserto, cheios de fome e sede, mas, finalmente,como Moisés e Aarão, Shammai e Enoc descobriram a terra que lhes fora prometida porJeová numa visão.

De uma caverna no meio de uma região nua saía uma corrente d’água que denominaram‘Água da Vida’. Nunca estava seca e regava a planície pedregosa que os irmãos desobstruíamquando fosse possível, e plantavam pés de uva e figos no alto da rocha. Então, com vagare instrumentos edificaram o Lar dos Fiéis, que se tornou famoso além de qualquer outracoisa pertencente à sua seita, pois Shammai e Enoc, após meditação e prece, esboçaramcorretos modos de pensar e de conduta e levaram-nos a serem observados, de modo queaqueles irmãos, que dirigiam, levassem uma vida pura que servisse de exemplo para asoutras comunidades. Desprezavam as riquezas e partilhavam as coisas em comum. Sabendodisto quando era jovem, Jesus disse à Maria Cleofas que algum dia visitaria os Essênios eaprenderia o seu modo de viver.

E assim aconteceu que, no começo do verão, na hora do pôr do sol, Shammai, que permaneciaentre as vinhas e dirigia o trabalho dos irmãos, percebeu, no vale, um viajante que seaproximava e que demonstrava estar caindo de fraqueza. Rapidamente despachou doisirmãos mais moços para receber e socorrer o homem. Levantaram-lhe o corpo caído econduziram-no, pela volta do caminho, ao seu lar na encosta do morro.

Depois de breve instante, esse viajante abriu os olhos na frialdade da larga câmara paraonde o tinham conduzido. Tendo sido revigorado por meio de ervas e limpado da poeira docaminho, ele falou e deu o seu nome: Jesus de Nazaré. Então Shammai mandou que osirmãos voltassem ao seu trabalho e às suas orações, pois. como ele contou a Enoc, ficaraestranhamente impressionado pela conversa e a figura do jovem galileu.

Shammai era um homem de dignidade e idade avançada e seu tom de autoridade nãopodia deixar de ser obedecido. Logo Jesus lhe estava abrindo o coração e contando o seuplano de ir ao Egito.

‘Por que ir ao país dos idólatras, onde não há paz nem qualquer segurança onde umacomunhão possa ser feita e mantida com o Abençoado?’ falou Shammai. ‘Percebo, jovem,que a tua alma está pesada e que ficaste abatido pelas maldades do mundo. Em umaépoca distante, como tu, também eu presenciei cenas de violência que me levaram a buscarDeus neste lugar deserto, que tem sido frutífero para nós. Vi homens torturados e mortospelos Romanos e ouvi as declarações feitas pelos Fariseus aos homens do poder. Porconseguinte, sei que unicamente pelo retiro do mundo posso preservar minh’alma e as dosoutros do mal que sempre prevalece no mundo dos homens - prevalece até que o Messiasvenha’.

Então Jesus perguntou se ele podia tornar-se irmão dessa comunidade de Essênios epassar sua vida no vale: ‘onde, na verdade, creio que encontrarei e guardarei o Reino doCéu’.

Por um momento Shammai não deu resposta como se perscrutasse o rosto do jovem com osolhos. Quando finalmente falou, suas palavras não foram de boas-vindas e de assentimento.

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‘Meu espírito me diz’, falou Shammai, ‘que há em ti algum estranho poder que te levarálonge de nós, te levará de volta ao mundo. Acho-me assim confuso, não gostando de proibir-te de entrar para a nossa ordem, mas sabendo, por conhecimento íntimo, que tu não és umdos nossos, que estranhos e terríveis acontecimentos jazem em teu caminho pela vidaafora. Portanto, temendo que a nossa paz possa ser destruída, hesito em pedir-te parapermanecer conosco’.

Jesus então encheu-se de tristeza. Percebendo-lhe o abatimento, Shammai lançou de si omanto do pré-conhecimento e disse ao seu hóspede que ele poderia morar naquela casatrês dias e noites depois do que receberia a sua resposta.

Assim, durante aqueles três dias e noites Jesus viveu entre os Essênios, seguindo o .seumodo de vida. Levantava-se ao nascer do sol e orava até que o dia clareasse, e todos entãose juntavam no seu canto de louvor e adoração. Jesus banhava-se na corrente quatrovezes por dia e comia com os irmãos no largo aposento e ouvia a leitura das Escrituras,feita por Enoc. Trabalhava na vinha e cada tarde lavava a veste branca que lhe fora dadapara usar. As horas de orações eram observadas por ele, horas das quais era cioso, nãopermanecendo dormindo como acontecia com alguns irmãos durante o pesado calor datarde. Breve, em razão de sua singularidade e certa radiação que a regra do silêncio nãopodia quebrar, tornou-se o amado dos ‘crentes’ como eram os Essênios chamados.

Na hora seguinte ao levantar do sol, já no quarto dia, Enoc foi porta-voz do desejo dosirmãos, que pediam a Shammai que permitisse que Jesus se tornasse membro de suacomunidade ou, pelo menos, lhe fosse permitido residir ali por três anos e observado eexperimentado até que eles pudessem saber se ele poderia continuar na ordem durante asua vida.

Shammai respondeu: ‘Não estou consentindo nisto, mas, já que é a vontade dos irmãos,assim seja’. Então os Essênios daquela comunidade ficaram contentes, e, na sua presença,Jesus proferiu as palavras de seu primeiro voto: ‘Serei verdadeiro e fiel no meu trato comtodos os homens e mais particularmente obedecerei os que tiverem autoridade, pois Deusos apontou para dirigir-me’.

Preces foram proferidas e os irmãos vestiram Jesus com nova veste branca e assim começouo seu noviciado.

Mais tarde iria Jesus cumprir o seu destino em Jerusalém e outros lugares.

Em resumo, esta narrativa mediúnica confirma a estada de Jesus entre os Essênios e oseu aprendizado.

(Excerto da obra de A. Leterre “Jesus

e sua doutrina”, edição da

Livraria da Federação

Espírita Brasileira, 1934, págs. 132-4)

O erudito A. Leterre foi um dos autores que mais investigaram sobre a vida de Jesus edo seu alentado volume de 540 páginas, estudo remontado há mais de 8600 anos, extraímos oseguinte e interessante trecho:

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Como já vimos, Jesus era de ascendência judaica e, como tal, teve de submeter-se a todasas exigências da Lei Mosaica que abrangia a Economia, o Ensino, a justiça, a Higiene, aMoral e o Culto a Jeová.

As primeiras palavras que Jesus balbuciou foram certamente orações a IÊVE (Jeová) enem sua mãe poderia ter-lhe ensinado outra doutrina senão a que ela mesma professavanos templos, tanto mais, crente como estava, de ser seu filho o Messias, isto é, o profetaanunciado por Moisés, não podendo, pois, a religião ser outra, por isso que o nazareou,mesmo para estar de acordo com a Lei que mandava consagrar ao Senhor todo primogênitohomem.

Criado o menino, foi ele entregue ao templo para sua educação e final desempenho da suamissão, tendo se dado essa ausência entre a idade de 12 à de 30 anos, justamente otempo omisso nos Livros Sagrados sobre a Vida de Jesus nesse interregno, mas exatamenteconcordante com o tempo prescrito pelos templos na Índia para as iniciações que regulavaser de 18 a 21 anos.

Esses 18 anos de ausência de Jesus são comparáveis aos 15 anos em que Zoroastrotambém esteve ausente. Apelemos para Lucas. Que diz ele em 1, 80?

“E o menino crescia e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até o diaem que havia de mostrar-se a Israel”.

Esse deserto era toda a parte que se estendia para o Oriente, cujo limite pouco importavaao evangelista. Se as palavras do Evangelho devem ser consideradas palavras de evangelho,não há como curvar-se a cabeça ante esta declaração que corrobora todas as pesquisasfeitas pelos cientistas.

Segundo Nicolau Nótovitch, Jesus esteve em Djaguernat, na Índia, onde os Brâmanes lheensinaram a doutrina dos Vedas, a medicina, a matemática, etc.

Notovitch afirma que ele era conhecido sob o nome de Issa. Não haverá neste nome umacorrupção fonética de Isso - I-Sh-O - Iesu?

Em celta, Esus é análogo ao Eso etrusco que era o epíteto de Júpiter, ao Aisa grego, à Isisegípcia. Esus significava o Ser, assim como Esuk, Eson ou OEsar significava Deus.

Mas, como esse Issa não se conformava com a hierarquia dos deuses bramânicos, produzidapelo cisma de Irshu, 3200 anos, antes, ele se retirou para as montanhas do Nepal, noTibet, onde reinava a doutrina budista, que aprendeu, iniciando-se nos outros mistérios.Dirigiu- se, então, para sua terra natal, atravessando a Pérsia e chegando à terra de Israelcom a idade de 29 anos, o que concorda com Lucas III, 23: ‘Jesus estava quase nos 30anos de idade, sendo, como se cuidava. filho de José’, o que significa, claramente, que seusúbito aparecimento ali, após tão prolongada ausência, produziu aquela dúvida entre aspessoas da localidade.

Aprofundando-se também o sentido da exclamação de Marcos e de Mateus VI, 3, etc.: ‘Nãoé este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? e nãoestão suas irmãs aqui conosco?’, verifica-se logo o súbito aparecimento de Jesus entreseus parentes. É de notar-se mesmo que Mateus, não se referindo a seu pai José, fazsupor que ele já tivesse morrido, mas João VI, 42, supre esta falta, dizendo: ‘Não é esteJesus, filho de José, cujos pai e mãe nós conhecemos?’

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Segundo este notável escritor, toda a documentação por ele copiada e resumida em suacitada obra, cujas edições foram em grande parte queimadas na Rússia e em Paris pelo clerointeressado, se acha, entretanto, conservada nos templos de Lhassa, para onde foi levado cerca de200 anos após a morte de Jesus, da qual é também ali falada e igualmente é encontrada emBombaim e na própria Biblioteca do Vaticano.

A história parece ter seu cunho de verdade se compararmos as palavras, as sentenças,as parábolas, os atos de Jesus com os ensinos da doutrina de Buda, onde elas se encontram emtoda sua pureza, e do que faremos adiante uma vasta comparação.

Também, segundo Saint-Yves,

Jesus foi iniciado no Agartha, no Tibet, e sua doutrina é saturada da budista, que elesoube adaptar à mosaica e de acordo com a mentalidade e os costumes de seu povo.

Por outro lado, confrontando-se Notovitch com Schuré, ex-discípulo de Saint-Yves, esteescritor faz supor que, da idade de 29 para 30 anos, Jesus havia se recolhido ao temploque funcionava em Engaddi, perto de Belém, nas margens do Mar Morto, e que era dirigidopor Essênios (Assaya em siríaco, que significa Médico, Terapeuta), os quais tinham pormissão curar doenças físicas e morais. Era o resto de uma casta sacerdotal pertencente aconfrarias de profetas instituídas ali por Samuel, o qual, por sua vez, era filiado às doutrinasde Rama.

Proibiam o matrimônio e a guerra; recomendavam o amor a Deus e ao próximo e ensinavama imortalidade da alma; formavam uma singular associação moral e religiosa e viviamnuma espécie de mosteiros (Koinobions), pondo seus bens em comum e entregando-se àagricultura.

Eram opostos aos Saduceus, que negavam a imortalidade da alma. Há grande analogiaentre essa seita e os primitivos cristãos. Tinham, porém, muitas idéias e práticas budistas.O título de irmão usado na igreja primitiva é de origem essênia.

Segundo F. Delaunay, os essênios surgiram 159 anos antes de J. C. nas cercanias dacidade dos Patriarcas, ao norte de Engaddi, não longe, portanto, de Belém, onde se achavamdisseminados seus templos.

Plínio, por sua vez, relata que os essênios eram budistas.

Paramos aqui para citar outro autor não menos erudito, ou seja um grande orientalista,como Louis Jacolliot.

(Passagem de “La Biblia en la India”

de Louis Jacolliot, Editorial Araujo,

Buenos Aires, Argentina, págs. 341-3)

Louis Jacolliot, indianista e escritor francês de primeira plana, nasceu em Charollespor volta de 1837 e faleceu em Saint-Thibault-les-Vignes no ano de 1890, Doutorou-se emjurisprudência ainda muito jovem e partiu para a Índia, cujos mistérios constituíram a vocaçãoabsorvente de sua vida.

Em Chandernagor, lugar onde escreveu o original francês de La Bible dans l’Inde, foiPresidente do Tribunal de Justiça e se destacou como um espírito largo e generoso. O tratamentode pundit-sahib (senhor da justiça), que lhe deram naquela ocasião, bem mostra seu fervor humanoe sua preocupação pela eqüidade e a verdade.

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Na Índia, Jacolliot meditou toda a sua obra, composta de vários volumes, entre eles o deque se trata e que bem revela a sua cultura de humanista erudito, e Christna et le Christ, Les fils deDieu, La genèse de l’humanité, Le Spiritisme dans le monde, etc.

Escreve ele:

É indubitável para nós que Jesus, até o momento em que apareceu no cenário do mundo,isto é, até os trinta anos, se preparou pelo estudo para a missão que se havia imposto.

Por que, com efeito, permanecer até os trinta anos sem começar sua obra? Por que, sehouvesse sido Deus, permanecer na inação durante doze ou quinze anos de sua vida deadolescente e de homem? Por que não pregar desde sua infância? Seria, sem dúvidaalguma, um meio bastante sensível de demonstrar sua divindade.

Conta-se que aos doze anos defendeu, no templo, uma tese que maravilhou os doutoresjudeus. Que tese? Por que os evangelistas não julgaram conveniente nos fazer conhecê-la?Não seria mais provável que esse fato, junto com outros, fosse produto de sua imaginação?

Enfim, que fez dos doze aos trinta anos? Esta é uma pergunta que formulo e que gostariade ver respondida.

No silêncio dos apologistas de Jesus não podemos ver mais do que um fato intencional,pois seria preciso dizer a verdade e destruir a nuvem de obscuridade com a qual secomprazeram em rodear aquela grande figura. E o certo é que Cristo, durante tal período,estudou no Egito, talvez até na Índia, os livros sagrados, reservados desde séculos aosiniciados e com os mais inteligentes dos discípulos que se juntaram a ele no curso das suasperegrinações.

Desta maneira foi como Jesus conheceu as tradições primitivas e estudou a obra e a moralde Crisma, na qual se inspirou para seus ensinamentos e prédicas familiares.

Parece-me ouvir exclamações de surpresa e admiração até no campo dos livres pensadores.Raciocinemos, pois. A vós racionalistas me dirijo, a vós somente, pois toda discussão comos partidários da fé é impossível, desde o momento que não podemos entender-nos arespeito de princípios.

Se não acreditais na divindade de Jesus por que vos admirais que se indague quais foramseus antecessores e iniciadores? Nascido de uma classe não inteligente, porque muitopouco instruída, só mercê de estudos pôde elevar-se acima de seus compatriotas edesempenhar o importante papel que conhecemos. Sim, Cristo foi ao Egito; sim, Cristoestudou no Oriente com os seus discípulos, eis a única maneira de explicar logicamente arevolução moral que realizaram. Provas não faltam. Esperai antes de formular juízo a respeitodesta opinião que não é para mim uma simples hipótese mas uma verdade histórica.

Que esta última palavra não vos surpreenda muito. Digo verdade histórica porque se comigorecusais o revelado, o prodigioso e o maravilhoso, só ficam causas naturais para estudar ese juntos achamos, em nossos estudos anteriores, uma doutrina mais antiga e que seja,ponto por ponto, idêntica à de Jesus e de seus apóstolos, não estaremos no direito de crerque nas mesmas fontes primitivas foi onde eles foram buscar seus conhecimentos?

Não foram todas as grandes inteligências da antiguidade vivificar seu gênio no Egito? Nãoera aquele antigo país o ponto de reunião de todos os pensadores, de todos os filósofos, detodos os historiadores, de todos os gramáticos daquela época? Que iam buscar ali? Quepodia encerrar aquela imensa biblioteca de Alexandria cuja destruição foi um dos menorestítulos com que o César conquistou o desprezo das gerações vindouras?

Por que mais tarde os neo-platônicos foram àquele país fundar sua célebre escola se asantigas tradições não houvessem atraído, qual foco luminoso, todas as escassas inteligênciase todos os pensadores?

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O filho de Maria e José seguiu a corrente: o Egito estava a pouca distância e ele foi aliinstruir-se. Até pode ser, e estou tentado em acreditá-lo, que foi levado àquele país, desdea mais tenra idade, pelos próprios pais, assim como explicam os evangelistas, e deviavoltar só depois de haver concebido o pensamento de ir pregar sua doutrina aos judeus.

Fazemos ponto aqui, passando a novas narrações concordantes, todas elas enaltecendoa grande missão do Cristo, embora o vejam sob certo ponto de vista.

Não censureis os que consideram Jesus como um grande iniciado, pois autores há, que,alegando que ele historicamente não existe, porque não foi mencionado por escritores de suaépoca, duvidam de sua existência terrena e chegam mesmo a impugnar o Novo Testamento, que jáfoi muito esmiuçado e criticado. Não desconhecemos o que aconteceu com o Padre Loisy.

Mas, seja como for, a nossa religião cristã tem feito muito pela humanidade terrena eprogredirá cada vez mais.

Jesus foi e será sempre o maior dos profetas, a julgar pelo Novo Testamento.

(Trechos das obras de Edouard Schuré intituladas

“L’Évolution Divine (du Sphinx au Christ) e

“Les Grands Initiés” (Rama, Khrisma, Hérmes,

Moise, Orphée, Pythagore, Platon, Jésus),

Librairie Académique Perrin, Paris, 1950)

Edouard Schuré foi um escritor francês de origem alsaciana, que escreveu obras sobrehistória, estética e filosofia, bem como poesias, romances e peças de teatro. Era filiado à escolateosófica que, baseada em algumas passagens do Novo Testamento, ensina que Jesus, depois deconvenientemente preparado pela iniciação, serviu de veículo à manifestação do Cristo Cósmicona Terra.

Eis a descrição de Schuré:

O corpo etéreo foi violentamente arrancado de seu invólucro físico. Por alguns segundostoda a vida passada turbilhonou em um caos. Depois, um imenso alívio e o negror dainconsciência. O eu transcendente, a alma imortal do mestre Jesus deixou para sempreseu corpo físico e mergulhou na aura do sol que o inspirou. Mas, do mesmo jato, por ummovimento inverso, o Gênio solar, o Ser sublime, que chamamos Cristo, se apoderou docorpo abandonado para tomar posse dele até a medula e animar com um fogo novo essalira humana, preparada por centenas de gerações para holocausto de seu profeta. Foi porisso que os dois essênios viram um clarão brotar do céu azul e iluminar todo o vale doJordão? Eles fecharam os olhos devido à luz penetrante como se tivessem visto um arcanjobrilhante precipitar-se, cabeça baixa, no rio, deixando atrás de si miríades de espíritos comum rastro de chamas.

Não apoiamos ou negamos este ensino, pois já percebemos que a vida de Jesus sepresta perfeitamente a várias interpretações e que tal ponto de vista permanece mesmo lá noAlém, como vimos, no começo deste trabalho, a propósito do “Novo Nuctemeron”, ditado peloespírito de Apolônio de Tiana, a quem é atribuída a autoria do “Nuctemeron”, também chamado“As Doze Horas de Apolônio de Tiana”.

Razão teve o antroposofista austríaco Rudolf Steiner quando escreveu: “Pode-se sempreaprofundar o mistério da Palestina. Detrás dele há ... o infinito”.

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Extraímos o seguinte trecho do Capítulo III - Estada de Jesus entre os essênios,o batismo no Jordão e encarnação do Cristo, págs. 363/4, do livro VIII - O Cristo cósmicoe o Jesus histórico - da primeira das obras citadas:

Que fez Jesus dos treze aos trinta anos? Os Evangelhos não dizem palavra a respeito.Há uma lacuna premeditada e um profundo mistério, porque todo profeta, por maiorque seja ele, tem necessidade de ser iniciado. É preciso que sua alma interior sejadesperta e que ela tome conhecimento de suas forças para cumprir sua nova função.A tradição esotérica dos teósofos da antiguidade e dos tempos modernos é acordeem afirmar que o mestre Jesus não podia ser iniciado senão entre os essênios,última confraria onde existiam ainda as tradições do profetismo e que habitavaentão as margens do Mar Morto. Os essênios, dos .quais Filon de Alexandria revelouos costumes e as doutrinas secretas, eram sobretudo conhecidos como terapeutasou curadores pelos poderes do Espirito. Assaya quer dizer médico. Os essênioseram médicos d’alma.

Como convinha à humanidade profana, os Evangelistas deixaram pairar um silêncioabsoluto, tão profundo quanto o do Mar Morto, sobre a iniciação do mestre Jesus.Eles não nos mostram senão o último termo dela no batismo do Jordão, mas, tendoreconhecido de uma parte a individualidade transcendente de mestre Jesus idênticaà do profeta de Ahura-Mazda, e sabendo de outro lado que o batismo do Jordãodesvenda o mistério formidável da encarnação do Cristo, afirmada em escrituraoculta pelos símbolos transparentes que pairam na narração evangélica, podemosreviver, em suas fases essenciais, essa preparação de um gênero único para omais extraordinário acontecimento da história.

É o que ele narra nas páginas seguintes, cujo remate final não nos satisfaz.

Conforme prometemos, damos a seguir breves passagens da obra “Os GrandesIniciados”, no que dizem respeito ao nascimento de Jesus e a sua alta missão.

Do capítulo II - Maria - Os primeiros tempos de Jesus:

Jehosua, cujo nome helenizado veio a tornar-se em Jesus, nasceu provavelmenteem Nazaré. Foi com certeza nesse canto perdido da Galiléia que decorreu sua infânciae que teve lugar o primeiro e o maior dos mistérios cristãos: a eclosão da alma doCristo. Ele era filho de Myriam, que nós chamamos Maria, mulher do carpinteiroJosé, uma galiléia de nobre estirpe, adepta dos essênios.

A lenda envolveu o nascimento de Jesus num tecido de maravilhas. Ora, se a lendaalgumas vezes encobre apenas superstições outras há também que servem paravelar verdades psíquicas pouco conhecidas, porque superiores ao entendimentocomum.

Como quer que seja um fato parece ressaltar da história lendária de Maria - queJesus foi uma criança consagrada a uma missão profética pela vontade de suamãe, antes de seu nascimento. Conta-se que o mesmo sucedeu com vários heróis ëprofetas do Velho Testamento. Esses filhos votados a Deus pelas suas mãeschamavam-se Nazarenos. A tal respeito é interessante reler a história de Sansão ea de Samuel. Um anjo anuncia à mãe de Sansão que ela vai conceber e dar à luzum filho por cuja cabeça não passaria navalha “porque a criança desde o ventrede sua mãe será nazareno; e que será ela que começará a libertar Israelda tirania dos Filisteus”. (Juízes, VIII, 3/5) A mãe de Samuel pede um filho aDeus. Ana, mulher de Elcana, sendo estéril, fez um voto e disse: “Senhor dosexércitos celestes! se deres à tua escrava um filho varão, eu to oferecereipor todos os dias de sua vida e não passará navalha pela sua cabeça.Então Elcana conheceu sua mulher... Algum tempo depois, Ana concebeu edeu à luz um filho a quem pôs o nome de Samuel, porque, diz ela, o pedi aoSenhor”. (Samuel I, cap. I, vs. 11/20) Ora, SAM-U-EL significa, segundo as raízessemíticas primitivas: Esplendor interior de Deus. A mãe, sentindo-se iluminadapor aquele que encarnava, considerava-o como a essência etérea.

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Estas passagens têm uma importância extrema, porque nos fazem penetrar na tradiçãoesotérica, constante e viva em Israel, e por ela no sentido verdadeiro da lenda cristã. Elcana,o marido, é bem o pai terrestre de Samuel segundo a carne, mas o Eterno é seu pai celeste,segundo o Espírito. A linguagem figurada do monoteísmo encobre aqui a doutrina dapreexistência da alma. A mulher iniciada chama uma alma superior para a receber no seuventre e dar à luz um profeta. Esta doutrina, muito velada entre os judeus, completamenteausente do culto oficial, fazia parte da tradição secreta dos iniciados.

E do cap. II - Os essênios - João Batista - A tentação, este pequeno e interessantetrecho:

O que Jesus queria saber, só os essênios lhe poderiam ensinar.

Os Evangelhos guardam um silêncio absoluto sobre os fatos e os gestos de Jesus antes deseu encontro com João Batista, pelo qual, segundo eles, o Cristo, de certo modo, deu inícioao seu ministério. Logo depois ele apareceu na Galiléia com uma doutrina formada, asegurança de um profeta e a consciência de um Messias, porém é evidente que esse iníciode pregação deveria ter sido precedido por um longo desenvolvimento e por uma verdadeirainiciação. E não é menos certo que tal iniciação deveria ter-se realizado na única associaçãoque então conservava em Israel as verdadeiras tradições e o gênero de vida dos profetas.Isto não pode oferecer a menor dúvida àqueles que, elevando-se acima da superstição daletra e da mania maquinal do documento, ousam descobrir o encadeamento das coisaspelo espírito delas.

Isto ressalta não só da íntima conformidade entre a doutrina de Jesus e a dos essêniosmas do próprio silêncio guardado pelo Cristo e pelos seus acerca dessa seita. Por quemotivo ele, que atacava com uma liberdade sem igual todos os partidos religiosos de seutempo, não cita nunca os essênios? Por que razão também nem os Apóstolos nem osEvangelistas falam deles? Evidentemente porque consideravam os essênios como sendodos seus, porque estavam ligados a eles pelo juramento dos Mistérios e porque esta seitase fundiu com a dos cristãos.

Na época de Jesus a ordem dos essênios constituía o último resto dessas confrarias deprofetas organizadas por Samuel. O despotismo dos senhores da Palestina, a inveja de umsacerdócio ambicioso e servil os tinham repelido para o retiro e o silêncio. Eles já nãolutavam como os seus predecessores, contentando-se em manter a tradição. Tinham doiscentros principais: um no Egito, nas margens do lago Maoris e o outro na Palestina, emEngaddi, à beira do Mar Morto. Este nome de Essênios, que tinham adotado, vinha dapalavra siríaca Assaya, médico, em grego terapeuta, porque seu mister confessado era ode curar doenças físicas e morais.

Paramos aqui com as citações das obras de Schuré para passar a duas autoras muitoconhecidas no meio teosófico.

(Citação de “El Cristianismo Esotérico”

(Los Mistérios de Jesus de Nazaré)

de Annie Besant, Editorial Claridad,

Buenos Aires, Argentina, págs. 73/4)

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Annie Besant foi uma simpática e ilustre senhora inglesa que, maravilhada com a Teosofia,fixou residência na Índia e foi mãe adotiva do filósofo Krishnamurti.

De sua obra supracitada, extraímos o seguinte trecho do capítulo IV - O Cristo Histórico- que condiz com o ponto de vista teosófico sobre o assunto, isto é, a iniciação Jesus e a encarnaçãoterrena do Cristo. Ei-lo:

Os anais ocultos confirmam, em parte, a narração dos. Evangelhos e em parte não. Mostram-nos a vida de Jesus e deste modo nos facilitam o separá-la dos mitos que estão com elaentrelaçados.

O menino, cujo nome judeu foi transformado em Jesus, nasceu na Palestina 105 anosantes de nossa era, sendo cônsules Públio Rutilo Rufo e Gnae Mallio Máximo. Seus pais,de ilustre origem, ainda que pobres, o educaram no conhecimento das escrituras hebréias,mas sua fervorosa devoção e sua gravidade, que não condiziam com a sua idade, fizeramcom que eles o destinassem à vida religiosa e ascética e, como depois, em uma visita quefez a Jerusalém, mostrasse sua extraordinária inteligência e seu afã de saber, indo embusca dos doutores do templo, o enviaram para adquirir ensinamentos em uma comunidadede essênios que habitava o deserto meridional de Judéia. Na idade de dezenove anosentrou para o mosteiro essênio situado nas proximidades do Monte Serbal, instituto muitovisitado pelos sábios que da Pérsia e da Índia iam para o Egito e onde existia uma magníficabiblioteca de obras ocultas, muitas das quais idas de regiões mais além do Himalaia. Desselugar de místico saber, passou mais tarde ao Egito.

Havia sido plenamente instruído nas doutrinas secretas que constituíam entre os essêniosa verdadeira fonte da vida e, no Egito, foi iniciado como discípulo dessa sublime Logia deonde saem os fundadores de todas as religiões, pois o Egito foi sempre um dos grandescentros que há no mundo para a guarda dos Mistérios verdadeiros, dos quais são fracos eincompletos todos os Mistérios semi-públicos. Os Mistérios historicamente classificados deegípcios eram sombras dos assuntos tratados realmente “na Montanha” e ali foi consagradoo jovem hebreu de um modo solene que o preparou para o Sacerdote Régio a que chegoumais tarde. Era sua pureza tão sobre-humana e tão grande sua devoção que, em sua idadeviril, cheia de graça, avantajava de muitos os severos e algo fanáticos ascetas com os quaishavia sido educado, derramando entre os rudes judeus que o cercavam a fragrância deuma sabedoria suave e terna como um roseiral que, plantado estranhamente em um deserto,espargisse seu perfume por estéril planície. A majestosa graça e a formosura de linhaspuras formavam em seu redor radiante auréola e suas breves palavras, dóceis e amorosas,despertavam ainda nos mais duros suave ternura. Assim viveu até os 29 anos de idade,crescendo de graça em graça.

Com pureza e devoção tão grandes, estava em condições para servir de templo a um Podermais elevado, para ser a morada de uma Presença poderosa. Havia chegado a hora derealizar-se uma das manifestações divinas que de tempo em tempo vêm em auxílio dahumanidade, quando para apressar sua evolução espiritual se necessita de um novoimpulso, quando a aurora de uma nova civilização vai despontar.

Um poderoso “Filho de Deus” devia encarnar na terra um Instrutor supremo “cheio degraça e de verdade” (S. João, I, 14), mas precisava de um tabernáculo terrestre, uma forma humana,o corpo de um homem. Quem mais a propósito para ceder seu corpo com vontade e alegria aoserviço de Um ante o qual os anjos e os homens se curvavam com a mais profunda reverência, queesse hebreu, o mais nobre e o mais puro entre os “Perfeitos”, cujo corpo e alma imaculados eramo melhor que a humanidade poderia oferecer? O homem Jesus se entregou voluntariamente aosacrifício, “ofereceu-se sem mancha” ao Senhor que tomou para si aquela forma pura comotabernáculo e viveu com ela três anos de vida material.

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Nas tradições contidas nos Evangelhos, encontra-se essa época assinalada pelo Batismode Jesus, quando se viu o Espírito “que desceu do céu como uma pomba e pousou n’Ele” (S. João,I, 32) e uma voz celestial o proclamou o Filho bem amado a quem os homens deviam prestarouvido. E era ele, na verdade, o Filho bem amado a quem o Pai pôs sua complacência (S. Mateus,111, 17) e desde então “começou Jesus a pregar” (S. Mateus, IV, 17) e foi aquele grande mistério:“Deus se manifestou na carne” (I. Timóteo, 111, 16).

Citamos mais de um autor teosofista, mas, como não mencionamos ainda aquela que éconsiderada a fundadora da nova Teosofia Helena Petrovna Blavatsky, que escreveu, entre outroslivros, “Isis sem véu” e “A Doutrina Secreta”, em vários volumes, vamos ver o que diz ela sobreJesus nas págs. 302/3 do seu “Glosário Teosófico”: Jesus - Chamado também Cristo ou Jesus-Cristo. É preciso estabelecer uma distinção entre o Jesus histórico e o Jesus mítico. O primeiroera essênio e nazareno e foi mensageiro da Grande Fraternidade para pregar os antigos ensinamentosdivinos que deviam ser a base da nova civilização. Pelo espaço de três anos foi Mestre divino doshomens e percorreu a Palestina, levando uma vida exemplaríssima por sua pureza, compaixão eamor pela humanidade. Operou multidões de prodígios ressuscitando mortos, curando enfermos,devolvendo a vista a cegos, fazendo andar paralíticos e realizando muitos outros atos que, pelo seucaráter extraordinário, foram qualificados de “milagrosos”. A sublimidade de sua doutrina ressaltasobretudo em seu célebre Sermão da Montanha. Como iniciado que era, ensinou também doutrinasesotéricas, mas estas as reservava unicamente para uns “poucos”, isto é, para seus discípulosescolhidos.

Ao Jesus histórico foram atribuídos não poucos fatos lendários que o converteram emoutro personagem puramente mítico, uma verdadeira cópia do deus Krishna, tão venerado naÍndia. Para comprovar claramente tal asserção, basta observar um pouco o paralelo que entreJesus e Krishna é apresentado em “Isis sem Véu”, etc., etc”.

Gostaríamos, e muito, de citar autores não espiritualistas ou ocultistas, mas notamosque eles não dizem palavra sobre a vida de Jesus dos 13 aos 30 anos. Para quem quiser aprofundaro mistério, que vai ... ao infinito, como diz Steiner, recomendamos as seguintes obras na línguafrancesa: de Gustave Dalman, Diretor do Instituto Arqueológico Alemão de Jerusalém: Les itinérairesde Jésus (Topographie des Évangiles); de R. Bultman, Professor na Universidade de Marburg: LeChristianisme primitive dans le cadre des religions antiques; de Joseph Klausner, Professor deLiteratura Hebraica na Universidade de Jerusalém: Jesus de Nazareth (Son temps - Sa vie - Sadoctrine); Charles

Guignebert, Professor de História do Cristianismo na Sorbonne: Des prophètes à Jésus,Jésus, Le Christ e L’Église; e de Maurice Goguel, Decano da Faculdade de Teologia Protestante deParis: Jesus, La naissance du Christianisme. L’Église primitive e Au seuil de l’Évangile.

Nossos leitores já notaram que um autor escreve Krishna e outros Cristna, bem comoque uns dão 12 anos a Jesus na ocasião do encontro no templo e outros 13, embora incompletos.São pequenos detalhes que nada alteram. Digo isto (no singular), porque, embora muito tenha lidosobre Jesus, o que ficou ainda em mim, na mente e no coração, foi aquele que conheci em meutempo de criança.

(Trecho do artigo “O Cristo morreu em Kashmyr”,

de Victor de Carvalho, no número de 29-6-1949

do “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, Brasil)

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Francisco Klörs Werneck Jesus dos 13 aos 30 Anos

Com o título acima e os subtítulos de “Jesus de Nazaré foi um “yogi”, “Onde Issa passoua sua mocidade” e “O mistério de um túmulo sombrio”, apareceu, no conceituado matutino carioca“Correio da Manhã”, o curioso artigo de que extraio os seguintes trechos, todos em confirmação doque foi dito anteriormente, como veremos adiante. Dito artigo faz parte de uma série sob o títulogeral de “Cartas da Índia” e foi escrito em Srinagar, Kashmyr, em julho de 1949.

Passo aos trechos que nos interessam:

Os muçulmanos veneram aqui um santuário numa pequena aldeia não longe de Srinagar.É um túmulo antiqüíssimo e sombrio. E quem está nesse túmulo?

Quem inspira tanto respeito e veneração? Simplesmente Jesus de Nazaré! Porque, para osmuçulmanos, Jesus morreu em Kashmyr! Considerado por eles como um dos grandesprofetas, sendo os outros Abraão, Moisés e Maomé, Jesus conhecia todos os segredos davida e da morte. Assim, após o Calvário e o seu sepultamento, tornou à vida. Os discípuloso esconderam e trataram das suas chagas. Depois, ele começou a grande jornada para oTibet. Deteve-se em Kashmyr, onde veio a morrer das feridas mal curadas. E aqui existeum pinheiro, cujas folhas têm a virtude de sarar qualquer chaga. Nesse pinheiro, diz alenda, Cristo apoiou-se para morrer...

Aliás, o Nazareno já estivera aqui. E os muçulmanos têm uma versão que explica o mistérioda vida de Cristo da adolescência à maturidade. Onde esteve ele desde a discussão noTemplo com os doutores até se fazer homem?

Muitas figuras do renascimento indiano do século XIX escreveram sobre o “Cristo oriental”afirmando que Jesus pertencia à Índia tanto racialmente como espiritualmente. Ummanuscrito descoberto num mosteiro budista refere-se a Jesus como Issa e conta que Issaesteve por muito tempo no Tibet estudando os sistemas hindus-budistas da “yoga” e daciência espiritual. Na idade de 30 anos, Issa regressou à Palestina. Aí, os seus novosensinamentos provocaram a reação político-social que o levou ao calvário, porque Jesus, o“yogi”, queria que o seu povo aprendesse a antiga verdade: “Deus é Amor”.

Um amigo muçulmano contava-me essa versão nova para mim. Eu fiquei ali, parado,admirado, olhando o túmulo misterioso. Uma mulher coberta de véus entrou e ajoelhou-seem atitude de profunda veneração. Depois suas mãos tocaram com unção uma pedra ondeestá gravada a marca dos pés do Nazareno. E, eu, Católico, Apostólico Romano, senti queminha mão se erguia, automaticamente, e fazia o Sinal da Cruz.

Quando saí do sombrio túmulo de Cristo, o sol esplendente parecia querer cegar-me. Teriaeu traído por um momento a minha crença na Ressurreição do Filho de Deus? Em torno, asuprema beleza do verde dos vales, do azul das águas, do branco imaculado das montanhascobertas de neve ... Quem sabe mesmo se um dia os divinos pés do Nazareno não pisaramessas paragens, tornando-as num dos mais belos lugares do mundo?

Mulheres veladas, homens com turbantes de cores vivas e amplos mantos, chegam emgrupos para o santuário. Pareciam sair de antigas pinturas dos tempos dos imperadoresmongóis.

O brave new world

That has such people in it

Mais uma lenda para se confundir com a História, perturbando a paz do “Novo Testamento.

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Aqui termina o articulista, e também eu. Não faço nenhum comentário. Quem quiserque o faça. Porque, para mim, Jesus-Cristo será sempre o mesmo Cristo dos seus sublimesensinamentos.

(Excertos do artigo “Jesus: Homem ou Deus?”

do escritor Rodolfo Benavides

publicado no n° 1-12-1952,

de “Voz Informativa”, do México)

Este escritor mexicano, no seu supracitado artigo, dividido em subtítulos: Jesus histórico;Jesus bíblico; Jesus filósofo; Estudo analítico de Jesus; Paulo, cérebro criador da Bíblia; Jesusnão morreu na cruz; Aspiração de Jesus; Fenômeno do Avatar; Porque se chama a José o carpinteirode patriarca?; Jesus primogênito e não unigênito; Jesus estudante e Conclusão, também estranhacertos aspectos da crucificação, bem como que se chame a Jesus de unigênito quando teve irmãose irmãs carnais. Alguns categorizados exegetas do Novo Testamento argumentam que se trata nãode “irmãos carnais” e sim de “irmãos espirituais”, argumento que não prevalece pois também nomeio espírita chamamos habitualmente os nossos confrades de “irmãos” no sentido espiritual,quando temos também os nossos “irmãos carnais”, como aconteceu com Jesus.

Do longo artigo do Sr. Rodolfo Benavides só traduzo os trechos intitulados “Jesus nãomorreu na cruz”, e “Jesus estudante”. Vamos a eles.

A afirmativa de que Jesus não morreu na cruz geralmente surpreende ainda a pessoasversadas nestas questões e isto obriga uma explicação. Lemos em Lucas, cap. 24, vers. 37a 43, que dizem: “Então eles (os discípulos), espantados e atemorizados, pensavamque viam algum espírito. E ele (Jesus) lhes disse: Por que estais perturbados e porque sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e osmeus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carnenem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhe as mãos e ospés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e maravilhados, disse-lhes;Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de umpeixe assado e um favo de mel, o que tomou, e comeu diante deles”.

O Espiritismo científico experimental moderno demonstra que, em determinadascircunstâncias, os espíritos podem materializar-se e fazer-se momentaneamente visíveisaté o ponto de deixar-se fotografar, mas nunca se aceitou que essas materializações cheguema constituir um corpo físico permanente, nem muito menos que possa comer, como afirmao Evangelho. E tudo isto, sem contar com que, para a elevada personalidade de Jesus,recorrer ao procedimento de tomar alimentos para conquistar de novo os discípulos, é umprocedimento somente válido quando se quer demonstrar, que não morreu mas que,transcorridos alguns dias, se restabeleceu de suas feridas.

Poderíamos citar os outros evangelhos, porém preferimos chamar a atenção para fatossuspeitos como são o de ter sido baixado da cruz só algumas horas depois de haver sidocrucificado, embora a lei romana exigisse um mínimo de três dias. Depois, quando foilevado a um túmulo de propriedade de Arimatéia, proeminente essênio, antigo mestre deJesus, e finalmente quando o corpo desapareceu tão inesperadamente que os quatroevangelistas não puderam pôr-se de acordo, em vista do que cada um deles dá uma.versão distinta.

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Tudo isto revela a manifesta parcialidade de Pilatos, que a todo o custo tratou de salvar-lhe a vida e proibiu que lhe fossem quebradas as pernas, conforme ordenava a bárbara leiromana. Por que Pilatos não haveria de permitir que fosse descido da cruz antes de expirar,para fazer o último intento de salvar-lhe a vida depois de haver satisfeito a ânsia de vingançada igreja? Isto fala muito alto de Pilatos.

Tudo demonstra que Jesus foi um homem e não um Deus. Um homem tremendamenteodiado pelos seus inimigos e profundamente amado pelos seus amigos, os quais expuserama sua própria vida para salvá-lo, posto que os fariseus, braço armado da igreja judia,pretendiam permanecer perto da cruz, como o fariam qualquer abutre, mas os soldadosromanos o impediram para evitar desordens, e aqui se volta a ver as mãos de Pilatos.

Que significa a palavra patriarca? Naquela época, com ela eram designados os homensque tinham doze ou mais filhos. Atualmente, os dicionários concordam com que este substantivosirva para designar os personagens bíblicos que foram cabeça de família grande.

A definição anterior nos obriga a recordar palavras do próprio Jesus, que, em Mateus6:3, declara: “O que é nascido da carne, carne é; e, o que é nascido do espírito, espírito é”,assegurando-nos assim o próprio Jesus, com as suas palavras, que ele foi concebido por obra dohomem.

Além disto, podemos perguntar de onde vem a José o título de patriarca se não tevefilhos? Esta interrogação nos obriga a refletir que José não foi patriarca, pois que Jesus viria a serfilho adotivo e então no próprio José se findou a árvore genealógica dessa família. Como pode umhomem estéril ter o nome de patriarca? Como podia José ser patriarca se precisava ser, porrequisito indispensável, o tronco de uma vasta família?

Mas é provável que José tenha sido efetivamente patriarca e então ser pai de muitosfilhos e não entendemos como pôde haver sido Jesus uma exceção, que, se Deus fez, estavanegando sua imutabilidade e, se a admitiu José, ficava a sua honra em suspenso.

Para aclarar este conflito, que tem todos os visos de artificial, devemos investigarnovamente nos evangelhos, onde encontramos algumas pessoas que são claramente designadascom ó nome de “irmãos” de Jesus no sentido de irmão carnal, como podemos verificar pelascitações seguintes: Mateus, cap. 13: vers. 53 a 56: “E aconteceu que Jesus, concluindo estaspalavras, se retirou dali. E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, desorte que se maravilhavam, e diziam: Donde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas?Não é este o filho do carpinteiro e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José,Simão e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio pois tudo isto?”

Se só pudéssemos fazer esta citação, poderia argumentar-se má interpretação, mas háoutras que confirmam a anterior. Vejamos algumas deles: Marcos, cap. 3, vers. 31 a 34: “Chegaramentão seus irmãos e sua mãe, e, estando fora, enviaram a ele, chamando-o. E a multidãoestava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te buscam láfora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando emredor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos”.

No fim desta passagem de Marcos, Jesus referia-se a seus irmãos espirituais, tanto queacrescentou no vers. 35: “Porque qualquer que fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, eminha irmã, e minha mãe”, de acordo com as idades dos presentes, quando a mãe e os irmãoscarnais o buscavam lá fora, isto é, não se achavam presentes. Uns eram parentes “carnais” eoutros parentes “espirituais”. Jesus (houve muitos na Judéia com este nome) tinha primos paternose maternos com os nomes dos seus irmãos, daí muitas confusões ocasionadas em diversas passagensdo Novo Testamento.

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Mas vejamos ainda Marcos, capítulo 6, versículo 3: “Não é este o carpinteiro, filho deMaria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco assuas irmãs? E escandalizavam-se nele”.

As citações anteriores liquidam completamente com todo o conceito de divindade emrelação a Jesus, pois se fora certo. o dos reis magos, do presépio, da fuga para o Egito e dascrianças decapitadas, como é que o povo o ignorava, quando conhecia tão bem a família, se asirmãs viviam no meio dele, se citava os país pelos nomes e pelo seu ofício? Além disto, na últimapassagem, o próprio povo o designa com o nome de carpinteiro, expressão que nos faz pensar queJesus aprendeu o ofício de seu pai antes de começar a pregar, pois que não se pode pensar que ochamasse de carpinteiro porque o pai dele o havia sido e isto fica esclarecido perfeitamente quandose sabe que a escola essênia tinha no programa elemental, como obrigação, a aprendizagem dealgum ofício manual.

Continuemos com as citações: Lucas, cap. 6, vers. 14: “Simão, ao qual também chamouPedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Felipe e Bartolomeu, e Atos, cap. 1, vers. 14:“Todos estes perseveraram unanimemente em orações e súplicas, com as mulheres, e Maria,mãe de Jesus, e com seus irmãos”.

Seria preciso continuar com as citações? Cremos que as acima bastem e quem quiseraprofundar o tema bastará estudar um pouco a Bíblia na qual encontrará múltiplas alusões aosirmãos de Jesus e a naturalidade com que o povo reconhecia esse fato, como, por exemplo, quandoEfraim, acompanhado de seus irmãos e Maria sua mãe, sai a caminho para ir ao encontro deJesus porque dizia-se que Jesus estava louco e, finalmente, ao dar-se o encontro, o citado Efraimpede a Jesus uma explicação pública, já que anda se proclamando filho de Deus quando todos osabem filho de carpinteiro e portanto irmão deles.

Usando de paciência, é possível refazer a família de Jesus. José teve cinco filhos com asua primeira esposa Débora; Tiago, Matias, Cleofas, Judas e Eleazar.

Depois de alguns anos de viuvez, José o carpinteiro contraiu matrimônio com Maria,vestal (médium) dos Essênios, com a qual teve sete filhos: Jesus; José, chamado também Efraim;Simão, Elisabeth, André, Ana e Jaime. Este último parece que mudou de nome por razoes que nãonos interessam no momento.

É de advertir que a ordem em que se acham colocados não significam as idades,excetuando a Jesus e Jaime.

Outra coisa a notar:

Na leitura da Bíblia encontramos com muita freqüência a palavra “primogênito” e, emmenor proporção, “unigênito”.

“Unigênito” se usa no caso de um só filho produto de casamento, como é o caso deIsaac, filho único de Abraão e Sara. Por sua vez, a palavra “primogênito” se usa no caso deprimeiro filho de um casamento, mas não único filho.

A progenitura entre os antigos judeus e que continuava sendo de certa importância nosdias de Jesus tem grande importância nesta argumentação, porque, na Bíblia, não se chama aJesus de “unigênito” e sim claramente de “primogênito”, visto que Jesus foi um dos onze filhosde José e o primeiro dos sete de Maria”.

É tão difícil analisar a personalidade de Jesus e chegar à verdade de sua existência,como é difícil investigar a origem de qualquer deus de qualquer religião. Os deuses nunca foramseres tangíveis, exceto quando se os converteu pela primeira vez em ídolos, mas os ídolos carecemde personalidade própria, porque nunca tiveram vida.

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Ao contrário, seria muito fácil investigar a de Jesus, se se dissesse, por exemplo, quenasceu normalmente em Nazaré, não em Jerusalém, como sexto filho de um carpinteiro, nadapobre certamente, o qual apesar de ser nazarita, isto é, inimigo da religião judaica, teve queapresentá-lo no Templo na idade de doze anos, porque assim o exigia a rígida lei religiosa judia.

A partir de então, começou a estudar na escola primária dos Essênios, dirigida por Joséde Arimatéia, parente do carpinteiro. Aos 22 anos, segundo ordenava a própria escola essênia,teve que partir para percorrer o mundo e escolher a atividade que mais lhe agradava, segundo suavocação. Estudou no Egito as religiões comparadas, na Grécia filosofia e ciências, na Caldéiaastronomia e na Índia botânica para poder chegar à terapêutica, condição indispensável que seexigia a todo o que chegar à condição de Iniciado ou pelo menos converter-se ao grau inferior dachamada fraternidade branca.

Em suas pregações, demonstrou que podia fazer-se entender por todo o mundo, comose isto fosse possível sendo o idioma dos judeus na região do Tiberíades o aramaico, o científico ogrego e o oficial o romano. Somente estudando é que poderia chegar a poliglota de três idiomas epara tanto era preciso ir aos respectivos países, visto que não havia escolas do tipo atual e muitomenos na Palestina.

Com relação à viagem à Índia, há provas irrefutáveis como é o fato de ter pregado emparábolas, forma desconhecida e até estranha entre os judeus, que foi uma das razões pela qualchamou a atenção, visto que era a forma natural da doutrina budista há séculos. E mais ainda:grande quantidade de seus ensinos parece ter sido copiada do Budismo, como o pode comprovarquem se decide a fazer a respectiva comparação, coisa que não podemos fazer aqui por falta deespaço, mas por certo nos faz pensar que Jesus estudou o Budismo na Índia, para tornar-seterapeuta, profissão que exerceu amplamente durante a sua odisséia.

Pois bem, preparado para tanto, saiu Jesus a pregar, mas, como o inimigo principal doprocesso era a religião judaica, que protegia a corrupção, o vício, o mercantilismo e todos osvalores negativos no homem, teve que carregar os seus discursos sobre esses temas, provocandoa ira do pontífice que se dizia representante de Deus na Terra”.

Paro aqui com as citações. Não posso explicar baseado em que o articulista diz queJesus nasceu a 4 de dezembro às 8 horas da manhã e que o crucificaram no dia 27 de março emorreu 88 dias depois.

(Algumas perguntas e respectivas respostas

do espírito Ramatis, extraídas das obras

“Mensagens do Astral” e “O sublime peregrino”,

da Livraria Freitas Bastos, S.A.)

Parecendo-me não haver espírito tão perguntado, sobre tantos e tantos assuntos quenos interessam, como o de Ramatis, vou transcrever a seguir, total e parcialmente, algumas dasperguntas que lhe foram feitas e as respostas que ele deu a respeito de Jesus.

A obrigação de quem faz um estudo assim como este é de colher todos os elementosnecessários para um consenso, uma concordância de informações provindas de vários autores,assim como fez Kardec utilizando-se do consenso dos espíritos desencarnados para a codificaçãodo Espiritismo, agradem ou não, de ordem material e espiritual, isto é, o que foi escrito peloshomens e ditado pelos espíritos, de forma franca e imparcial. Nossa responsabilidade única estánas transcrições e traduções que procuramos fazer fielmente.

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Bem sabemos que o espírito Ramatis conquistou a admiração de muitos espíritas, comotambém não ignoramos que certas respostas dele não foram aceitas por outros, mas não acreditamosque uma divergência de opiniões, sobre uma personalidade tão analisada e discutida como a deJesus, vá quebrar a unidade existente no meio espírita, tanto mais porque o seu lema principal é“Fora da caridade não há salvação” e nosso Mestre foi e sempre será a pessoa de Jesus.

Temos ainda idéias arraigadas de passado remoto e os nossos espíritos vieram das maisdiversas religiões e assim elas não desaparecem comumente numa só reencarnação, por maisluzes que recebamos.

Conhecemos pessoas que só se tornaram espíritas depois de grandes lutas internas,depois de muitas meditações e comparações de muitos e muitos anos, e outras não. É a reformatotal do homem terreno, alijando cargas acumuladas em séculos de outras existências transcorridasnos mais diversos países e condições sociais. Ainda hoje não temos quem acredite na lenda deAdão e Eva, de Caim e Abel e outras? Trabalho, solidariedade, tolerância, é o que nos é recomendadosempre. Cada um faz sua própria experiência no mundo.

Faço, primeiramente, transcrições das “Mensagens do Astral” e depois de “O sublimeperegrino”, relacionadas com o que nos interessa.

Pergunta: Qual o fundamento da tradição religiosa que afirma haver sido Jesus concebidopor obra e graça do Espírito Santo e nascido de uma virgem? Cremos que essa tradição deve teralguma base lógica, pois a própria Bíblia, no Velho Testamento, afirmava que o Messias deverianascer de uma virgem e o evangelista Mateus o confirma no Novo Testamento quando diz que Maria,antes de coabitar com José, já havia concebido naquelas condições.

Ramatis: Os velhos profetas procuraram deixar aos pósteros algumas indicações paraque no futuro pudessem reconhecer o Messias, mas a insuficiência humana não permitiu que seentendessem tão prematuramente as alusões feitas ao nascimento do Messias através das deficientestraduções dos livros sagrados, por cujo motivo resultou obscurecido o sentido exato de certasalegorias.

Através da Bíblia, a posteridade ficou sabendo que o Messias teria de nascer de umavirgem e ser concebido por obra e graça do espírito santo, mas interveio na profecia a interpretaçãopessoal, que trouxe a confusão ao profetizado. Jesus, como primeiro filho que se gerou em Maria,nasceu realmente de uma virgem, pois virgem era a sua jovem genitora, quando retirada do templode Jerusalém para uma primeira núpcia. Cumprira--se a profecia e se identificara o principalsinal, que seria o nascimento de uma criança filha de uma virgem, ou seja, o primeiro filho nascidoda primeira concepção conjugal.

Maria, na realidade, era um espírito “santo”, ou seja um anjo descido dos céus na formade mulher, para servir de matriz carnal e santificada pelo espírito, isenta de provas redentoras eem missão junto ao sublime Jesus. No seu corpo virginal e, por obra do seu espírito “santo”,gerou-se o corpo de Jesus. Maria não era uma mulher dominada pelas paixões humanas, mas umser angélico, delicado, formoso e santo em espírito! Deveis atender sempre ao espírito da palavra enão à palavra do espírito! etc. (“Mensagens”, pág. 371 e seguintes).

Pergunta: Para que a entidade espiritual, que se chamou Jesus de Nazaré, pudesse baixara este mundo, tomando aqui um corpo, para conviver entre nós, houve necessidade de providênciasexcepcionais ou essa encarnação obedeceu às leis comuns que regulam a encarnação dos espíritosem geral?

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Ramatis: Já vos dissemos alguma coisa a este respeito, mas, como o assunto é vasto,estamos prontos a responder novas perguntas que desejardes fazer. Como já tivemos ocasião deexplicar, o nascimento de uma alta entidade em vosso orbe, como ocorreu com Jesus, é precedidasempre de importantíssimas providências por parte da técnica sideral, providências essas queescapam, em sua maior parte, à capacidade de compreensão humana. Em linhas gerais, é umacontecimento que exige a existência de um campo astronômico purificado e providências que seestendem até ao controle dos mínimos recursos à hora de vir à luz, em vosso mundo, a entidadeque deve encarnar. Além disso, deve ser assegurado à entidade um clima espiritual, na Terra,através da ação de espíritos que para isso se encarnam com antecedência.

A encarnação da entidade que se chamou Jesus não obedeceu totalmente à lei queregula as reencarnações comuns, que são, em geral, de espíritos ainda atrasados, que sentem, porisso, poderosa atração para os planos inferiores, devida à sua grande afinidade com o instintoanimal que ainda os domina. Os espíritos ainda apegados à matéria têm campo propício, favorávelà sua reencarnação, porque trazem em si o desejo latente que lhes inspira a hipnose da carne. Noentanto Jesus, um Messias, um Sublime Peregrino, um hóspede que baixava à Terra em missãosacrificial, foi obrigado a mobilizar a sua vontade e criar mesmo aquele desejo, para que fossefacilitada a sua entrada no plano vibratório físico. O trabalho de Jesus, para descer ao planofísico, lembra o esforço de auto-redução que o raio do sol teria que fazer, em si mesmo, paraconseguir habitar num frasco de barro, etc. (“Mensagens”, pág. 385 e seguintes).

Pergunta: Por que motivo não chegou até nós a história da infância e juventude deJesus?

Ramatis: Os homens de hoje chegariam a descrer da existência de Jesus se aconhecessem através da história ou dos relatos da época em que viveu no vosso mundo, pois quenão merecem crédito. A própria referência a Jesus, feita por Flavius Josephus na “Guerra dosJudeus”, foi uma hábil interpolação efetuada posteriormente, para garantia da história religiosa.

Em Nazaré ainda se discute sobre qual seja o local onde Jesus provavelmente vivera.Isso comprova que a sua infância foi despida de acontecimentos excepcionais e idêntica à dosmeninos hebreus seus contemporâneos. Devido à falta de elementos concretos e indiscutíveis, suainfância e juventude foram descritas ao sabor da imaginação de cada autor que, por isso, o situousob diversas índoles psicológicas; pintaram-lhe uma infância incomum e lendária para que depoisse justificasse a epopéia do Deus imolado na cruz, etc. (“Mensagens”, pág. 301 e seguintes).

Pergunta: Em virtude de existirem duas teorias sobre a natureza do corpo de Jesus (acarnal e a fluídica), podereis nos dizer qual a verdadeira?

Ramatis: Respeitando os sentimentos elevados através dos quais alguns dedicadostrabalhadores espirituais atribuem a Jesus um corpo fluídico, não podemos nos furtar, entretanto,à sinceridade de vos responder que o corpo do Mestre era integralmente físico e obedecia às leiscomuns da genética humana. Naturalmente, tratava-se de um organismo indene de qualquerdistorção patogênica própria ou hereditária, pois provinha da mais pura expressão biológica elinhagem ancestral de gerações passadas. Constituía magnífico conjunto de expressão anátomo-fisiológica, onde o sistema endócrino era um cordão de luzes acesas para o mundo físico, e osistema nervoso a mais perfeita rede hipersensível entre o comando cerebral e os seus órgãos derelação. Seu organismo era o resultado de um plano deliberado havia milênios; significava a maiorpossibilidade de virtuosismo na carne, assim como um “stradivarius” tem capacidade para reproduziro sentimento completo e o gênio de um Paganini. Tudo fora resolvido, entretanto, sob regimesensato das leis tradicionais e disciplinadoras da gênese nos sistemas organogênicos dos planosfísicos, etc. (“Mensagens”, pág. 412 e seguintes).

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Pergunta: Algumas obras esotéricas, principalmente da “Fraternidade Rosa-Cruz”, afirmamque o Mestre Jesus viveu entre os Essênios, os quais influíram bastante na sua obra cristã. No entanto,outras obras, inclusive mediúnicas, asseguram que isso não aconteceu. Que dizeis a respeito?

Ramatis: Jesus esteve realmente em contato com os Essênios durante algum tempo econheceu-lhes os costumes, as austeras virtudes, assim como teve oportunidade de apreciar- lhesas cerimônias singelas dos santuários menores, externos e os ritos mais sugestivos do “CírculoInterno”. Muitos dos seus gestos, práticas e atos do mundo profano deixavam perceber ascaracterísticas essênicas de elevado teor espiritual, pois eles guardavam muita semelhança comos primeiros cristãos.

Aliás, Jesus, como entidade de elevada estirpe sideral e insaciável na pesquisa do espíritoimortal, ou da verdadeira vida do homem, jamais deixaria de procurar os Essênios e conhecer-lhesas idéias, pois os mesmos já ensinavam o amor a Deus e ao próximo, criam na imortalidade daalma e na reencarnação. Todas as religiões, seitas e movimentos espiritualistas da época foramalvo da atenção de Jesus, cuja mente privilegiada assimilava imediatamente a essência benfeitorae se desocupava das fórmulas exteriores. Seria bastante estranhável e um formal desmentido aotipo espiritual avançado do Mestre Jesus caso ele tivesse conhecimento da existência dos Essênios,na própria Galiléia, e jamais se interessasse de um contato instrutivo.

Pergunta: Mas por que não chegaram até nós as provas de que Jesus viveu entre osEssênios?

Ramatis: Porque o Mestre não pertenceu, não se filiou propriamente à Confraria dosEssênios, mas entreteve relações amistosas, embora tenha participado dos ritos internos, que ospróprios mentores Essênios achavam dispensáveis para uma entidade do seu quilate. Acresce queos Essênios do “Círculo Interno”, cujas práticas ficaram ignoradas dos profanos, faziam questãocerrada de se conservarem no mais absoluto anonimato, o que levou os historiadores a descreremde sua existência, exceto quanto aos terapeutas ou adeptos externos.

Acontece, também, que Jesus jamais propalou a sua condição de membro honorário daConfraria dos Essênios, onde o sigilo era um voto de severa responsabilidade moral. Emconseqüência, salvo João Evangelista, que conhecia tal disposição do Mestre.Jesus e dos seuscontatos com os Essênios, ninguém jamais pode identificá-los a esse respeito. Assim, nada constanos próprios evangelhos escritos posteriormente à morte de Jesus, nos quais há muitas contradiçõesentre si, pois algumas lendas substituíram fatos autênticos e certas interpolações descrevemcoisas que não aconteceram. Além dessas incoerências, que deixam os estudiosos hesitantes, seainda há quem oponha dúvidas até quanto à existência do Rabi da Galiléia, não é de admirar queduvidem de suas relações ocultas com os Essênios, etc. (“O sublime peregrino”, págs. 278, 279 eseguintes).

Muitas são as perguntas feitas ao espírito Ramatis e longas as respostas por ele dadas.Reproduzi-las todas ou mesmo parcialmente seria impossível. Do capítulo XXV - Jesus e os Essênios- colho a seguir alguns esclarecimentos de Ramatis que coincidem com alguns constantes detrechos citados de outras obras a respeito de Jesus. Vamos a alguns deles:

1 - A Confraria dos Essênios teve seu inicio no ano 150 a.C., no tempo dosMacabeus; era uma espécie de associação moral e religiosa, lembrando algo dascooperativas agrícolas modernas.

2 - A Igreja Católica nada sabe da existência da Fraternidade dos Essênios ou doconvívio de Jesus entre eles. Aliás, os ensinamentos católicos não se coadunamcom a origem iniciática e o esoterismo dos Essênios, pois, estes, além de seremreencarnacionistas; também eram avessos à idolatria das imagens.

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3 - Os templos, ou mais propriamente os santuários essênicos, disseminavam-sepelos montes mais importantes da Hebréia, em lugares sempre favoráveis paraatender os discípulos e próximos dos agrupamentos rurais dos terapeutas.Todos os santuários submetiam-se ao “Conselho Supremo”, o qual se reunia emassembléias periódicas ou em casos extraordinários para atender problemasavançados da comunidade e estabelecer as normas da vida futura daFraternidade. Esse Conselho era composto de setenta anciãos, cuja maior partevivia no monte Moab, à margem oriental do Mar Morto. Muitos desses anciãosestiveram presentes às principais pregações de Jesus, como no caso do “Sermãoda Montanha” e durante a “Transfiguração”, pois eles se misturavam entre .opovo comum. No monte Ebat funcionava o santuário dos Essênios que atendia azona da Samaria; no monte Carmelo e Tabor os santuários para os galileus. Osperegrinos ou moradores provindos da Síria e de povos semelhantes apreciavamfreqüentar os santuários do monte Hermon, onde os seus dirigentes tambémeram egressos daquelas zonas. Não eram, propriamente, edifícios construídosnas cristas dos montes; tais santuários eram escavados, com certo capricho, nointerior das minas abandonadas, das grutas e cavernas distantes das cidadesprincipais.

4 - Os judeus que ingressavam na confraria dos Essênios não tardavam emabandonar o seu modo mecânico e lamentoso de orar a Jeová, libertando-se dorosário de murmúrios ininteligíveis ou das cantorias monótonas tão familiaresnas sinagogas.

5 - Apenas João, o Evangelista, tinha acesso aos ritos internos, pois era iniciado efora ele o próprio profeta Samuel, que, no passado, havia organizado a“Fraternidade dos Profetas”, na qual os Essênios também se inspiraram. Aliás,os apóstolos de Jesus foram arrebanhados quase ao apagar das luzes da vida doMestre e jamais poderiam escalonar no curto prazo de três anos as iniciaçõesesotéricas do Círculo Interno essênico.

E, finalmente, acrescentamos que Ramatis diz que “Jesus foi crucificado, como oCordeiro de Deus, devido à imprudência sediciosa dos seus discípulos e não por efeito dequaisquer excomungações agressivas contra o próximo” e que “quando foi crucificado, asua auréola messiânica quase apagou-se, pois naqueles dias trágicos sumiram-se parentes,amigos e discípulos, ante o terror de serem crucificados. Mas, à medida que foramdecorrendo os dias, a figura do Mestre Amado foi-se avultando emergindo do seu martírio,assim como a planta renasce das próprias raízes depois de cortada. Em breve, sua vida esua morte eram motivos que centralizavam os sonhos de seus adeptos e amigos, fazendo-oscultuar-lhe a memória consagrada pelas bênçãos dos seus ensinos e fidelidade de suasidéias. Os compiladores dos evangelhos, segundo os apóstolos, então cercaram-lhe apersonalidade de reformador moral e religioso, de fatos e acontecimentos melodramáticos,além de dos prodígios para adaptarem sua vida às predições exaltadas do VelhoTestamento”.

Mas paremos com Ramatis. Vamos a outros autores, vamos ver o que eles dizem arespeito de Jesus e ainda sobre a sua vida e ligações com os Essênios. Quem afinal foi Jesus? Eisa pergunta que ainda podemos formular! Embora dizendo que Jesus é o Governador Espiritual doPlaneta Terra (pág. 12), Ramatis ensina ainda que ele foi o “médium” do Cristo Planetário (pág.66), ao afirmar: “Assim, o Logos, o Verbo ou o Cristo do planeta Terra, em determinado momentopassou a atuar diretamente pelo seu intermediário Jesus, anjo corporificado na figura humana,transmitindo à humanidade a Luz redentora do Evangelho!

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(Transcrição de trecho do artigo

“Teria Jesus vivido na Inglaterra?”, de André Cehesse,

publicado ria edição de 23-7-1958,

de “O Globo”, do Rio de Janeiro)

Reproduzimos a seguir o trecho principal do artigo supracitado, deixando para o fimalgo que podemos adicionar ao que foi dito. Ei-lo:

A decifração e tradução dos manuscritos antigos, encontrados, há alguns anos, por modestopastor numa gruta próxima do mar Morto, são acompanhados na Inglaterra com um talinteresse que muitas vezes toca as raias da paixão.

Uma estranha teoria acrescenta um elemento de curiosidade a estes problemas teológicos.Em alguns meios eclesiásticos ou não, espera-se que essas relações, escritas no decorrerdos primeiros séculos de nossa era, venham confirmar que Jesus esteve na Inglaterra,conforme alguns pretendem.

Trata-se, com efeito, menos de uma lenda do que de uma tradição secular da Cornualha,tradição que, convém assinalar, é apoiada por dados muito precisos e curiosos.

Um estudo aprofundado dos Evangelhos e dos textos sagrados não nos faculta,naturalmente, o menor esclarecimento que venha patrocinar ou anular esta tese. Porém, narealidade, não sabemos da vida de Cristo no decorrer dos dezoito anos de sua existênciatranscorridos depois que ele atingiu os doze anos de idade.

Não nos esqueçamos também de que Jesus foi sobrinho de José de Arimatéia, o mesmoque reclamou seu corpo a fim de dar-lhe uma sepultura condigna.

Ora, Arimatéia era um rico mercador cujos navios singravam o Mediterrâneo em todos ossentidos. É, pois, provável que Jesus menino tenha acompanhado o tio numa dessas viagens.É que o navio, transpondo o estreito de Gibraltar e subindo para o norte, tenha feito escalana Cornualha.

Não há nesta suposição nada de extraordinário, pois naquela época vários foram osnavegadores que não só tocaram as costas da Inglaterra como ainda subiram os largosestuários dos rios. Os trabalhos dos ferreiros britânicos eram então muito apreciados emRoma e em todos os países do Levante.

De acordo com a tradição, Jesus deve ter residido entre modestos ferreiros, fornecedoresou fregueses do seu tio. E ele teria aproveitado sua estada na Cornualha para visitar aregião, instruir-se com os druidas, estacionando em várias aldeias que ainda existem.

Ao término de alguns meses ou de alguns anos, Jesus seria encontrado, no seu país natal,com seu tio José de Arimatéia.

Em todas as regiões do oeste da Grã-Bretanha, não somente na Cornulha como tambémem Somerset, e principalmente ao longo da costa, torna-se a encontrar essa curiosa tradição,de acordo com a qual Cristo deve ter vivido na Inglaterra.

No começo da era cristã, na pequena região de Glastonbury, existiu uma igreja construídapelo próprio Cristo, a qual, evidentemente, desapareceu há muito tempo e foi substituídapor uma capela mais moderna.

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Mas, por mais longe que se remonte o decorrer da História, encontram-se traços da existênciadessa igreja. Em 1658, quando os saxões invadiram Somerset, essa igreja já existia e, deacordo com testemunhas dignas de fé, vinha de tempos imemoriais.

Os arquivos de Glastonbury contêm um documento que data de antes da conquista dosnormandos. Esse documento afirma, de acordo com a tradição, que aquela igreja não tinhasido construída ‘pela mão dos homens e, sim, pelas mãos do próprio Deus’.

Há quem confirme a tradição oral da presença de Jesus na Inglaterra, baseada notestemunho de dois santos. Quando São David se achava em Glastonbury Cristo apareceu-lhe e, mostrando-lhe a igreja, disse-lhe: ‘Eis aqui a igreja que eu construí em honrade minha mãe’.

Outro fato singular parece confirmar esta tradição, José de Arimatéia é o santo padroeirode Glastonbury.

O fato de ter sido ele escolhido entre milhares de outros é devido, talvez, a, no seu tempo,ter estado nessa pequena região da Inglaterra, e nada prova que naquela época ele nãoestivesse acompanhado por seu divino sobrinho”.

Aqui termina a nossa transcrição, que vou complementar, por assim dizer, com o queencontrei a respeito. Diz-se que a igreja católica descobriu, intactos, mais de um século (100 anos)depois dós acontecimentos narrados no Novo Testamento, a cruz, os cravos, a coroa de espinhos,o manto sagrado, etc., da crucificação de Jesus, mas nada descobriu, ou não quis dizer, sobre operíodo de sua vida dos 13 aos 30 anos, parando-a nos 12 anos, quando dizia que “crescia Jesusem sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”. (Lucas, II, vers. 52)

Como não se pode admitir que Jesus tenha vivido incognitamente na casa de seus pais,nem como “agenere” num clima quente como o da Palestina, nem se conta onde ele adquiriu todaesta grande e sublime sabedoria que mostrou e demonstrou, diferente da religião de seu própriopovo, cabe examinar qualquer presunção para preencher esse vazio inexplicado dos 17 longosanos de sua vida de adulto de apenas 33 anos e mesmo admitir que tenha estado na antigaBretanha ou Inglaterra, em companhia do mercador José de Arimatéia, seu tio e protetor.

Vou, pois, referir algo relacionado com a transcrição acima, colhido em um livrocompletamente desconhecido do público brasileiro. É da autoria do Sr. Frederick Bligh Bond e temo título de The Company of Avalon - a study of the script of Brother Simon, sub-prior of the WinchesterAbbey in the time of King Stephen, ou, em português, “A Companhia de Avalon um estudo danarrativa do Irmão Simão, sub-prior da Abadia de Winchester no tempo do rei Estevão”.

Em 1908, as autoridades eclesiásticas resolveram restaurar a abadia de Glastonbury, omais velho edifício religioso da Inglaterra, sendo as escavações começadas em 1904, para acharuma das capelas, a de Edgar, mas sem êxito algum. Em suma, não se sabia quase nada sobre asconstruções primitivas, que remontavam ao século VI.

Encarregado da restauração, o Sr. Bligh Bond resolveu recorrer à clarividência de umdos seus amigos, o Sr. John Alleyne, antes do começo das buscas. Em uma série de “narrativassubconscientes”, cuja origem era atribuída aos monges da abadia e em parte já conhecidas,indicações foram dadas sobre a disposição e as dimensões das antigas capelas. Ora, essas foramefetivamente achadas, particularmente a de Edgar.

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O Sr. Bligh Bond, bem como o seu amigo, não era espírita e daí aparecerem hipóteses jáaventadas em oposição às espíritas, mas nunca suficientes para esclarecimento do caso. Ele explicaas revelações obtidas em parte por uma “inferência subconsciente” tirada de documentosarqueológicos, em parte por uma “metagnomia” cuja fonte lhe parecia ser uma “memória coletiva”onde se viriam fundir, pela morte, todas as “memórias individuais”, isto é, uma espécie de “sabetudoeterno e universal” onde os médiuns em geral tirariam todas as suas sempre exatas informações,que, bastas vezes, na verdade, não conferem com a realidade. É o chamado “reservatório cósmicode memórias individuais”, hipótese formulada, para fins especulativos, por Sir Wil-liam James, eque o Prof. Ernesto Bozzano arrasou integralmente em seus trabalhos, inclusive na “Literaturad’além-túmulo”.

Fato interessante é que as comunicações foram sempre obtidas na presença de BlighBond. Sozinho, o médium não as obtinha, o que faz pensar que o arqueólogo, por qualquer motivo- quem sabe se por uma encarnação anterior ligada à abadia - servisse de “ponto de ligação” ouprovocasse uma espécie de “relação psíquica”. Ou que talvez atraísse qualquer monge daquelaépoca que viesse a agir sobre o clarividente, provocando ou favorecendo as visões tidas.

Desde então outros médiuns continuaram a obter mensagens análogas que servirampara pequenas publicações separadas, as chamadas “mensagens de Glastonbury”. Uma notávelsérie delas foi reunida nesse volume com o nome de uma das primeiras comunidades religiosas deGlastonbury: The Company of Avalon.

É a história do mosteiro em certas épocas, desde a sua fundação por José de Arimatéiaaté o século XII, quando foi totalmente destruído pelo fogo. Não havia então nenhum documentoque pudesse informar o médium, uma senhora que já havia obtido, pela escrita subconsciente,comunicações relativas à catedral de Winchester e à abadia de Shafsthury. Essas mensagenstambém provinham de personalidades daquela época, principalmente de Simão, sub-prior da abadiade Winchester e de Ambrósio, prior da abadia de Glastonbury. Eles revelaram a existência de umacâmara subterrânea, não longe da velha porta do Norte. Contaram, em seguida, no antigo inglês,mistura de baixo-latim e de anglo-saxão, a história do grande incêndio. Enfim, deram detalhesextremamente circunstanciados, acompanhados de plantas e croquis, sobre a primeira igreja demadeira de Glastonbury: The Ealde Chirche ou Vetusta Ecclesia, a Velha Igreja.

Logo em seguida, por oposição das autoridades eclesiásticas, que consideraram BlighBond e os médiuns como auxiliares do diabo (!!!), outra verificação não pôde ser empreendida.Entretanto, o “acaso” de uma escavação fez descobrir, ao norte da capela de São José, certamuralha que segue exatamente na direção da descrição dada na mensagem. Trata-se de uma obrade alvenaria edificada pelo monge Herlewin para proteger a Vetusta Ecclesia, da qual nada resta nomomento, pois uma capela foi cavada no século XVI nas suas fundações.

Dois médiuns psicógrafos, uma na América e outro na Inglaterra, igualmente receberammensagens relativas à história da abadia e as indicações recebidas por eles concordam com anarrativa do Frade Simão.

Ora, se José de Arimatéia esteve mesmo na antiga Bretanha ou Inglaterra, teria Jesusido com ele e vivido lá algum tempo? Nada se pode dizer ao certo por falta de dados concretos, quetambém não os há nos evangelhos, dois dos quais foram escritos segundo as tradições verbais dosprimeiros cristãos.

Que nos ocultaram os chamados “evangelhos apócrifos”? Teria Jesus vivido mesmo,anonimamente, na casa de seus pais? Mas o Novo Testamento nos conta que ele reapareceu naPalestina, causou certa admiração e que até não o reconheceram. O certo, porém, é que Jesus nãopoderia viver, anonimamente, 17 anos seguidos, inúteis, em alguma parte da Terra, ou abandonaro seu corpo carnal e ir para o Espaço, na hora de cumprir a sua missão terrena, que foi apenas de3 anos.

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Tudo é possível, tudo. Jesus, por mais que esmiucemos a sua vida, permanece o grandemistério, até com o auxílio dos manuscritos encontrados em grutas perto do mar Morto, aos quaisvou referir-me por meio de vários autores.

Jesus e os Manuscritos do Mar Morto(Tradução integral do artigo de Bernard Genty

sob o título de “Um precursor de Jesus”?

publicado no n° de Set./Out. de 1951,

de La Revue Spirite, de Paris, França)

Ao contrário do que venho fazendo, esta é a tradução completa de um artigo que já nosfornece um resumo dos chamados “rolos do mar Morto” e nos permite fazer uma comparação entreos Essênios e os primeiros Cristãos.

Quem conhece bastante o Novo Testamento terá, com este artigo, muito o que pensarsobre a pessoa de Jesus. Vamos, pois, a ele.

No caminho de Jerusalém para Jericó, na passagem montanhosa da Judéia; em estreitobarranco, uma gruta se abre em dois buracos. Na primavera de 1947, um beduíno, quecuidava de seu rebanho, penetrou na gruta. Em seu solo achou várias vasilhas de barrocozido, quebradas umas, intactas outras, e dentro delas uns rolos de couro envolvidos emtela e que continham manuscritos ali colocados há aproximadamente dois mil anos.

Os monges sírios do convento de São Marcos de Jerusalém adquiriram quatro rolos dagruta de Ain Frashka (assim se chama) e os entregaram, para estudo, aos sábios orientalistasda Escola Americana de Jerusalém. Em 1950 apareceu em New Haven, fotografado, oprimeiro rolo do mar Morto compreendendo o Livro canônico de Isaías e o Comentário deHabacuc. Desta maneira todos os sábios do mundo podem estudar e traduzir, com toda aliberdade, os famosos documentos. A escrita arcaica desses manuscritos é uma garantiade sua autenticidade, provada, ademais, pela análise das vasilhas, as telas e os fragmentosdos manuscritos. O Livro de Isaías oferece um extraordinário interesse para os estudoslingüísticos, porém o sensacional, em tudo isto, reside no conteúdo do segundo rolo. Seuautor comenta ali o texto do livro canônico de Habacuc, obra pertencente à coleção canônicachamada dos “Doze Pequenos Profetas”, que anuncia e descreve a invasão dos caldeus. Ocomentarista considera simbólico o texto antigo que é uma espécie de profecia aplicável àsua época e faz alusões destinadas a serem compreendidas por seus contemporâneos.Todo o comentário leva alegoricamente ao relato de Habacuc sobre o conflito que houveentre os sacerdotes de Jerusalém e o “Mestre da Justiça”, fundador da seita judia “A NovaAliança”.

Em que data foi escrito esse comentário? Uma derrota militar ocorrida no dia de jejum dafesta de guarda das expiações é considerada ali como castigo pela perseguição ao “Mestreda Justiça”. Unicamente a tomada de Jerusalém por Pompeu, no ano 63 antes de Jesus-Cristo, reúne tais condições.

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O comentário foi escrito, pois, logo em, seguida a esse ano. Alusões muito parecidas com osromanos confirmam, ademais, que se trata dessa época. Outras referências às guerrascivis entre os chefes romanos e a ausência de menção de Otávio, imperador de então, napaz que se seguiu a esse feito, situam o escrito entre os anos 49 e 29, provavelmente 41antes de Jesus-Cristo, segundo opina o professor Dupont-Sommer.

O comentarista fala, sobretudo, no fundador da seita. Seu nome, por veneração, não seescreve nunca. Só é chamado “Eleito de Deus” ou “Mestre da Justiça”. É um sacerdote quetem revelações divinas e a missão de transmiti-las aos judeus. “Deus o pôs na terra deJudá para explicar todas as palavras de seus servidores, os “Profetas”. Seus prediletoseram os pobres e os simples, fiéis observadores da Lei.

Tem numerosos adeptos e funda uma comunidade “A Nova Aliança”.

O “Mestre da Justiça” entra em luta com os sacerdotes de Jerusalém.

O comentarista anatematiza o “Padre Ímpio”, o “Homem do Engano”, que persegue o “Mestreda Justiça”, bem como os seus partidários. O “Mestre da Justiça” foi sacrificado por ele emuma sentença iníqua e odiosos profanadores cometeram horrores e vinganças sobre o seucorpo carnal, pois quiseram desnudá-lo provavelmente para submetê-lo ao suplício.

Mediante uma severa análise histórica, o professor Dupont-Sommer deduz que esse SumoSacerdote Rei que perseguiu o “Mestre da Justiça”, é Aristóbulo II, depois aprisionado efinalmente envenenado por Pompeu, acontecimentos que situam o suplício do “Mestre daJustiça” entre os anos 67 e 63 antes de Jesus-Cristo; parecendo também que o SumoSacerdote, chefe dos Saduceus, estava entre os perseguidores ao passo que os Fariseusse mantiveram neutros. Também se faz alusão a outro sacerdote ímpio, adversário de “ANova Aliança”, que o professor Dupont-Sommer identifica como Ircão II, irmão e sucessorde Aristóbulo II. Ircão II foi feito prisioneiro no ano 40 antes de Jesus-Cristo pelos Partas,libertado e depois assassinado por ordem de Herodes. O comentarista se refere sempre aocastigo que aguarda os culpados, o que confirma que o relato foi escrito aí pelo ano 41antes de Jesus-Cristo.

Os membros da “Aliança” viviam esperando o fim do mundo, com uma confiança ardentee alegre: “Chegados os “últimos Tempos”, seguirá o Grande JuÍzo, depois o periodo definitivodurará toda a eternidade e nele reinará o Bem. A gnose (conhecimento dos primeirosprincípios) será revelada. Ninguém sabe a hora desse Grande Juízo, mas se sabe ... pormeio de seu Eleito que Deus submeterá a julgamento todas as nações e então chegará omomento da expiação para todos os criminosos do povo. Aqueles que tiverem observadosseus mandamentos serão uma rocha para eles...

O Juízo Final será, pois, exercido pelo “Mestre da Justiça”, “Eleito de Deus”, o mesmo que,no evangelho, “ ... ocorrerá o mesmo no fim do mundo. O filho do homem enviará osseus anjos que arrojarão de seu reino todos os escandalosos e os que tenhamproduzido inquietudes...”

Porém, no momento do Juízo quem será salvo? Habacuc escreveu: ... “e o justo viverá pelafé”, donde o comentarista conclui: A explicação disto concerne a todos os que praticam aLei na casa de Judá que Deus livrará do Juízo (Israel culpável) por causa de sua pena e desua fé no “Mestre da Justiça”. Assim, a fé que salva é a fé no fundador divino da NovaAliança. “Ninguém vai ao Pai senão por mim” é uma frase atribuída a Jesus.

Um dos rolos descobertos contém as regras da comunidade. Algumas passagens forampublicadas a título de amostra paleográfica; o resto o será mais tarde. É um ritual deiniciação.

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Os componentes da seita “Filhos da Luz” devem estar estreitamente unidos e amar-seprofundamente. As virtudes a praticar são: o amor e a verdade, a pobreza e o desprezopelas riquezas, a humildade e a modéstia, o amor ao próximo, a mais escrupulosa castidade,a expiação, o esforço para a perfeição e a procura de Deus. Que semelhança com os preceitosde Jesus! Talvez o amor ao próximo não seja tão perfeito como a doutrina de Jesus: “Amaraqueles que Deus escolheu e odiar os que Ele repudia”, quando, ao contrário, Jesusdisse: “Amai aos vossos inimigos, rogai pelos que vos perseguem”.

Depois de uma advertência, os novos adeptos a iniciar-se desfilavam entre os sacerdotes eclérigos que pronunciavam bênçãos em louvor a Deus. Em seguida os sacerdotesenumeravam os benefícios de Deus para com Israel e os clérigos respondiam com aenumeração das ingratidões de Israel para com Deus.

Os membros entregavam tudo à comunidade e se submetiam aos tribunais da seita. ANova Aliança se acha, pois, bem separada do resto dos judeus.

Em outro rolo, os Salmos de Ação de Graças da Nova Aliança, se encontra a idéia deresgate: “Porque Tu resgataste minh’alma da cova e do Sheol-Obdon. Tu me fizeste remontarao cimo do mundo”. E também:

- a idéia da esperança.... “e soube que ali existia a esperança para aquele que Tu formastedo pó e destinaste à eterna assembléia;

- a idéia da utilidade dos sofrimentos para chegar ao bem. . . “porque estive no domínio damilícia” ... “então Tu agitas a alma do pobre no meio de atribulações sem conta e calamidadesatrozes acompanharam os meus passos”.

- a idéia de felicidade eterna... “e aqueles que caminham pela via grata ao Teu coraçãoficaram para todo o sempre”.

- a idéia do amor divino... “a abundância do Seu amor para com todos os filhos de Suabenevolência”. Um documento descoberto em 1896 numa sinagoga do velho Cairo, publicadoem 1910, compreende dois manuscritos copiados um no século X e o outro no século XII, osquais contêm admonitórios e a regra de uma seita chamada “Filhos de Sadoc”, termoempregado no Comentário de Habacuc e também “A Nova Aliança do país de Damasco”.Segundo o professor Dupont-Sommer, esse documento fica agora inteligível depois dodescobrimento dos rolos do mar Morto. Encontram-se neles a mesma linguagem, o mesmoestilo e aproximadamente o mesmo conteúdo que no Comentário de Habacuc. Encontra-setambém ali o advento do “Mestre da Justiça”, que se chama a si mesmo “O Ungido” (Messias,Cristo, em grego), a primeira visita do Mestre da Justiça, a que sem dúvida se relata nocomentário, fora da destruição de Jerusalém. Também se faz alusão ao inimigo do Mestre,o homem burlão, o perseguidor do Mestre.

É, pois, provável que se trate em Damasco, como na margem do Mar Morto, da mesmaseita. No escrito de Damasco, a semelhança com o que seria mais tarde o Cristianismo, ésurpreendente. Ali encontramos esta frase: “Deus fez conhecer, por meio de Seu Ungido, oSeu Espírito Santo”. Que semelhança com a trindade cristã!

Registrou a história a existência da Nova Aliança? Flavius Josephus nos cita como seitasjudaicas apenas os Fariseus, os Saduceus e os Essênios. Só esses últimos se parecemcom os adeptos da Nova Aliança. Por outro lado, Plínio o antigo, falecido em 79 depois deJesus-Cristo, conta que, no seu tempo, viviam, no oeste do Mar Morto, estranhos ascetasjudeus “nação solitária”, sem mulheres, na renúncia de tudo o que fosse de Vênus, semdinheiro, sem outra sociedade que as palmeiras. A esses ascetas Plínio chama Essênios.

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Dion Crisóstomo, refere Sinésio, menciona também os Essênios como místicos que viviamem mosteiros e praticando, como os membros da Nova Aliança, o desprezo pelas riquezas,o amor ao próximo, a humildade, a castidade, crendo como eles, nas recompensas celestese nos castigos infernais, na soberania do Destino. Há identidade na doutrina. O juramentodos Essênios é quase textualmente a fórmula de juramento da Nova Aliança. Josephus fazalusão ao Legislador dos Essênios, que é provavelmente o “Mestre da Justiça”. De talmodo, o professor Dupont-Sommer concluiu na identificação entre o Essenismo e a NovaAliança.

A semelhança entre as doutrinas da “Nova Aliança”, isto é, entre os Essênios, e a futuradoutrina cristã, é surpreendente. Renan disse: “O Essenismo é uma antecipação doCristianismo”. Eis aqui uma opinião antiga que novas descobertas vêm apoiar: “Tudo naNova Aliança judia, diz o professor Dupont-Sommer, anuncia e prepara a Nova AliançaCristã. O Mestre galileu, tal como no-lo apresentam os escritos do Novo Testamento, surgedepois de muitas considerações, como uma assombrosa reencarnação do Mestre da Justiçaessênio. Como este, ele praticou a penitência, a pobreza, a humildade, o amor ao próximo,a castidade. Como ele, prescreveu a observância da Lei de Moisés, toda a lei, acabada,perfeita, graças às suas próprias revelações. Como ele, foi o Eleito, o Ungido, o Messias deDeus, o Messias redentor do Mundo. Como ele, foi. objeto das hostilidades dos sacerdotesdo partido dos Saduceus. Como ele, foi condenado ao suplício. Como ele, subiu aos Céuspara perto de Deus. Como ele, profetizou sobre Jerusalém que, por causa de tê-lo condenadoà morte, foi tomada e destruída pelos Romanos. Como ele, no fim dos tempos, será juizsoberano. Como ele, fundou uma igreja, cujos fiéis aguardam, com fervor, a sua voltagloriosa. Na Igreja Cristã, como na Igreja Essênia, o rito essencial é a Ceia, onde os sacerdotessão ministros. De um e de outro lado, à frente de cada comunidade há um Inspetor: oBispo. E o ideal de uma e outra igrejas é essencialmente a unidade e a comunhão nacaridade, chegando-se até a comunhão de bens.

Acabo de citar as conclusões do professor Dupont-Sommer, sem a menor presunção deacrescentar outras. Acrescento que não são definitivas, posto que outras fotografias demanuscritos serão publicadas. Mostrarão essas novas publicações semelhanças mais nítidasentre a nova Aliança e o Cristianismo ou surgirão divergências que não se haviam notado.

Breve, talvez, tenhamos a resposta. A notícia da descoberta dos manuscritos do Mar Mortodespertou grande curiosidade. Uns esperavam que ameaçassem de ruína a fé cristã; outrosque essa fé fosse robustecida. Na minha opinião, é esperar muito desses manuscritos.Nada têm de revolucionários, a não ser para os historiadores que agora poderão compreenderuma grande quantidade de escritos judaicos cujo sentido se lhes escapou até então. Diantede tais documentos, qual a atitude dos crentes? Ignoro-o. Sei, ao contrário, que existe umacontrovérsia entre um padre jesuíta e o professor Dupont-Sommer acerca da interpretaçãode tais documentos, porém nada mais fora disto.

Alguns querem ver um só e mesmo personagem no Mestre da justiça e Jesus, acrescentandoque é a lenda que faz viver Jesus em outra época. O próprio professor Dupont- Sommer éde outro parecer. Que fique bem entendido que eu não me pronuncio sobre a questão, emque me considero incompetente. Como espírita, pouco me importa a solução dada a esteproblema. Da mesma -maneira pouco me importa que o Mestre da Justiça e Jesus sejamum só personagem ou dois iniciados distintos. A mensagem de amor que eles trouxeramdas esferas superiores é o essencial. Que importa se um deles veio preparar a vinda dooutro. Que razão há para não aceitar que entidades superiores hajam preparadopacientemente sua mensagem de amor, enviando vários grandes espíritos à Terra?

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O professor Dupont-Sommer diz, na sua conclusão, que o Mestre galileu parece umaassombrosa reencarnação do Mestre essênio. A palavra reencarnação é empregada nosentido figurado. Dando-se-lhe o sentido espírita, chegamos à nova hipótese: o Mestre daJustiça essênio se reencarnou em Jesus para concluir a sua obra. Já sei que a distância écurta entre a morte do primeiro e o nascimento do segundo, mas, no fim, a hipótese épossível.

Antes de terminar, desejo assinalar que muitos espiritualistas, como, por exemplo, EdouardSchuré, situam Jesus como pertencente à seita dos Essênios e ele mesmo como essênio.

Sua hipótese não é tão audaciosa assim, já que se descobriram tantas semelhanças entreas doutrinas essênias e cristãs, e disto não se poderia extrair outra explicação possível.Os Essênios prepararam um sucessor para o “Mestre da Justiça”, um continuador...

Aqui termina a minha tradução deste longo e interessante artigo que projeta brilhanteluz sobre os Essênios e os seus ensinamentos.

São lógicas e razoáveis as conclusões do professor Dupont-Sommer, da Sorbonne, queteve uma controvérsia, como diz o articulista, com um jesuíta que penso seja o padre Roland deVaux, O.P., que séria obrigado a concluir de acordo com as doutrinas de sua religião.

Acha o articulista, em 1951, que as conclusões do professor não são definitivas pois queoutras fotografias de manuscritos serão publicadas. Sete anos depois, isto é, em 1958, prefaciandoa versão francesa de “Os Essênios e o Cristianismo”, da autoria do rev. Duncan Howlett, antigoministro da Primeira Igreja Unitária de Boston, EE. UU. da América, escreve as seguintes linhasque dão a impressão de que o assunto não foi encerrado ainda:

Eis o essencial: o conjunto dos manuscritos descobertos provém de uma comunidade essêniaque se achava instalada na região de Qumram, comunidade essênia mencionada por Plínioo antigo; a história do Mestre da Justiça se situa, em grosso, no primeiro terço do primeiroséculo antes de Jesus- Cristo, um pouco antes da tomada de Jerusalém pelo romano Pompeu,e a comunidade fundada por ele abandonou Qumram no momento da grande guerra judiade 66-70 de nossa era, ocultando, então, nas grutas vizinhas, os seus livros sagrados;esse Mestre que faleceu muito provavelmente durante a perseguição dirigida contra a seitapelo sacerdote asmoneu, foi uma personalidade eminente, objeto de fervorosa veneraçãopor parte dos seus fiéis; enfim e sobretudo, os novos textos revelam que a Igreja cristãprimitiva se enraíza, em um grau que ninguém poderia suspeitar, na seita judia essênia,que esta emprestou àquela uma boa parte da sua organização e dos seus ritos, das suasdoutrinas e dos seus “modelos de pensamento”, do seu ideal místico e moral.

Sobre estas idéias, a despeito de algumas oposições mais ou menos barulhentas, um acordocada vez maior começa a se estabelecer entre os mais diversos sábios: como se está longeda confusão extrema que reinava há ainda quatro ou cinco anos! Certamente, bastantesproblemas ficam ainda em discussão: identificação exata do “Padre ímpio”, data esignificação do “exílio de Damasco”, caráter messiânico do Mestre da justiça ... A estesdiversos problemas e a outros ainda, no estado atual da documentação, ninguém poderiadar, no momento, uma resposta definitiva; para abordar esses problemas, em toda a suaamplitude e com todas as garantias científicas, é preciso esperar que tenham sido publicadostodos os textos saídos das grutas de Qumram, esperar também que tenham terminado asbuscas empreendidas na região de Qumram e que todos os resultados delas sejaminteiramente conhecidos. Até lá não se poderá senão fazer balizas e formular hipótesesmais ou menos revisáveis. Mas esta prudência necessária nas conclusões não poderáimpedir as pesquisas de se desenvolverem em todos os sentidos; é mesmo grandementedesejável que as pistas as mais diversas sejam ativamente exploradas, com uma liberdadetotal. A obra de D. Howlett, que se recomenda por uma orientação nitidamente histórica enão menos pela sua serenidade e não menos pela sua serenidade e clareza, contribuirámuito utilmente para o progresso destas cativantes pesquisas.

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Esta obra do rev. Howlett contém 28 capítulos, notas e um índice. Citamos 4 dos capítulos:o XIII - Analogias entre Jesus e os Essênios; XV - Interpretação das analogias e diferenças dedoutrina verificadas entre Jesus e os Essênios; XVI - Analogias entre os Essênios e os primeirosCristãos; e XVII - Interpretação das analogias existentes entre os Essênios e a Igreja dos primeiroscristãos.

(Parte do artigo de Tanneguy de

Quénétain “Quem era Jesus?” publicado no

n° 871, de 28-12-1968, de Manchete, do Rio de Janeiro)

Sem nenhum comentário, deixando ao leitor o cuidado de comparar o que outros autoresdisseram a respeito, passo à transcrição do que interessa para o estudo das origens do Cristianismo:

Sabe-se que Jesus, de acordo com os Evangelhos sinópticos, não celebrou a Páscoa nadata oficial. Ele a celebrou antes de sua Paixão e morreu antes do começo da Páscoa legalque, naquele ano, caía num dia de sábado, ou seja, sexta-feira à tarde, ao cair do sol. Sóhavia um calendário em concorrência com o do Templo: o dos essênios. Mas, se Jesustivesse seguido o calendário essênico, não teria celebrado a festa na tarde de quinta-feira,mas na tarde de terça-feira. Uma erudita católica, Annie Jaubert, demonstrou, em um livrode cerrada documentação (A Data da Ceia), que Jesus obedecia ao calendário de Qumram,o qual celebra a Páscoa na tarde de terça-feira. E que a quinta-feira santa não faz parte datradição cristã primitiva.

Os essênios não participavam dos sacrifícios do Templo, mas tinham uma cerimônia àparte, que constituía o seu culto central: uma ceia presidida por um sacerdote, reservadaapenas aos iniciados e que exigia a participação de dez pessoas pelo menos. Esta ceiasagrada, durante a qual o sacerdote benzia o pão e o vinho, era uma prefiguração dogrande banquete messiânico que marcaria a chegada do Reino. Esta refeição diferente dasliturgias domésticas dos judeus, presididas pelo chefe da família - é o embrião da ceiaeucarística cristã. Com uma diferença essencial: para os essênios, o Messias ainda haveriade chegar; para os cristãos, ele já havia chegado na pessoa de Jesus, que preside a ceia.O banquete cristão realiza aquilo que o banquete essênio prefigura.

As comunidades essênias eram impregnadas de uma atmosfera de exaltada espera doMessias, segundo testemunha a sua liturgia apocalíptica, e sua atitude contrasta com a damaioria dos fariseus, cujo ponto de vista está contido neste conselho de um rabino: ‘Seestás para fazer uma cerca e, se, neste momento, te anunciam a chegada doMessias, termina a tua cerca: terás bastante tempo para ir a seu encontro’.

A opinião dos essênios sobre o Messias parece ter evoluído. Nos textos mais antigos sãoprevistos dois Messias, um Messias-Sacerdote e um Messias-Rei. Mas em documentosmais recentes os dois Messias foram reunidos em um só. De acordo com o texto descobertohá pouco, e que é o horóscopo do Messias, está dito que ‘o eleito de Deus será por Elefeito’ - quer dizer, será seu filho. O arqueólogo Dupont-Sommer estabeleceu um paraleloentre este texto e a história dos Magos, os quais, segundo o Evangelho, foram guiados poruma estrela até Belém. Além do mais, a noção de um Messias ‘filho de Deus’ era aceitapelos essênios, antes que os saduceus e fariseus a renegassem como atentatória à majestadede um Deus único.

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Os essênios, tal como Jesus e os apóstolos, eram curandeiros e exorcistas. Num pequenotexto intitulado Prece de Nabonide, um rei da Babilônia, que havia sido curado por umexorcismo, declara: ‘Ele me remiu de meus pecados’. Os essênios acreditavam que umhomem tinha o poder de perdoar os pecados. Isto chocava profundamente os fariseus quereprovavam Jesus quando dizia àqueles que curava: ‘Vai, teus pecados te sãoperdoados’.

Os essênios acreditavam que detinham um conhecimento dos mistérios de Deus,conhecimento esse que escapava aos fariseus. Em um hino de Qumram os ‘hipócritas’ sãorepreendidos por ter ‘impedido os sedentes do Conhecimento, pois, quando tinham sede,recebiam vinagre para beber’. E Jesus apostrofou os doutores da Lei ‘porque guardam aporta da Sabedoria mas não entram nela nem deixam que os outros entrem’.

Como se explica, então, que os essênios não sejam jamais mencionados nos Evangelhos?É verdade que não são denominados por este nome, mas como ‘os ho-mens do Conselhode Deus’, ou, ainda, como `a comunidade da Nova Aliança’, fórmula que será repetidapelos cristãos”.

Por outro lado, como pensa o Padre Daniélou, ‘se os essênios não são jamais citadosnos Evangelhos, a razão parece ser que, para Cristo, eles correspondem aosverdadeiros israelitas, aos pobres de Israel’. E mais: no momento em que foram escritosos Evangelhos, a guerra havia dispersado as comunidades essênias. Algumas foramassimiladas no judaísmo oficial, outras se reagruparam em torno da igreja nascente. Pareceque, neste caso, na Síria, por exemplo, haviam comunidades essênias que foramintegralmente transformadas em comunidades cristãs”.

Outra questão: Jesus se considerava um essênio? Suponhamos que não. Ele conhecia adoutrina essênia: primeiro, pelos membros desta seita que pregavam na sinagoga; segundo,pelo seu primo João Batista que, segundo a maioria dos exegetas, teve contatos diretoscom o Qumran antes de se transformar em um profeta solitário; terceiro, por muitos deseus discípulos - e não poucos - que mantinham relações com os discípulos de João Batista:Simão Pedro, André, Tiago e João. Mas Jesus acabou por organizar, ele mesmo, a suacomunidade e inspirou-se diretamente em certas regras essênias: abolição da propriedadeprivada, um tesoureiro (Judas Iscariotes) administrando os bens comuns. A Igreja era dirigidapor 12 apóstolos, da mesma forma que a comunidade de Qumran era dirigida por umconselho de 12 membros. Entre os apóstolos, havia três que tinham mais importância queos outros: também eram em número de três os sacerdotes que presidiam o conselho essênio.

É muito difícil admitir não tenha tido contato pessoal com meios essênios. Segundo alguns(como Danielou), ele se retirou para Qumran depois de ter sido preparado por João Batistae foi lá no deserto que ele conheceu as tentações do demônio. Ir ao deserto podia significar‘ir para Qumran’. A hipótese inversa parece mais provável. Jesus teria procurado umacomunidade essênia (mas não necessariamente a de Qumran) depois de ter sido instruidopor João Batista, o qual se preparava, por sua vez, para propagar a sua própria doutrina.

Após estas considerações, parcialmente transcritas do supracitado artigo, passemosainda a outros autores. Para uns Jesus foi um essênio completo, para outros esteve entre eles eaprendeu os seus ensinamentos, de alguns dos quais discordou em parte.

(Extrato da reportagem sob o título de

“Salto de mil anos lança luz na história do texto bíblico”,

publicada na edição de 10 de julho de 1962,

de O Jornal, do Rio de Janeiro)

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Antes do interessante extrato da supracitada reportagem, quero fazer a transcrição dedois pequenos trechos de “Os manuscritos do Mar Morto”, de John Marco Allegro (PublicaçõesEuropa-América, de Lisboa), para que se compreenda a importância deles e a íntima relação dosprimeiros cristãos com os essênios. Ei-los:

“De resto, à medida que se pode dispor de mais matéria e se fizerem os primeiros examesrigorosos, cada vez se torna mais evidente que os pergaminhos tinham uma importância enorme,ultrapassando os mais delirantes sonhos de qualquer investigador. O estudo dos pergaminhos de1947 já permitira estabelecer um certo número de paralelos com o Novo Testamento. Os que agoratinham aparecido, bem como o material das grutas descobertas posteriormente, estavam a produzirmodificações, nos textos dos livros, sobre o período das origens do judaísmo e do Cristianismo.Inclusivamente, os menores eram valiosos, pois havia a oportunidade de os unir a outros numtexto vital que talvez lançasse nova luz ou sobre as expectativas messiânicas dos tempos ou sobreas concepções teológicas correntes entre esta seita, a respeito do que até ali praticamente nada seconhecia” (pág. 47).

“O próprio Harding pôde declarar publicamente que se tratava da maior descobertaarqueológica feita na Palestina e, tendo em conta o fundamental interesse deste período da históriado Homem, parecia haver motivo para assegurar que era o mais importante que jamais se verificara.Numa palavra: o mundo científico fora acometido pela febre do interesse e do entusiasmo e naimprensa erudita de todo o mundo sucediam-se os artigos (pág. 48).

Este Harding é o Sr. Gerald Lankester Harding, então encarregado dos interessesarqueológicos da Palestina árabe e da Transjordânia e ainda companheiro do Padre Roland deVaux, O. P., nas buscas de novos manuscritos, que foram achados por diversos, em mais de umano e em várias grutas.

No final do livro de Millar Burrows, professor de Teologia Bíblica da Universidade deYale, EUA, intitulado “Os documentos do Mar Morto” (Porto Editora Limitada), encontra-se umavasta relação de obras e artigos publicados a respeito.

Porém ainda maior é a importância dos manuscritos que pertencem à Bíblia. Estescontêm as crenças e ritos da comunidade religiosa dona dos rolos: uma comunidade de grandeinteresse, que habitava a região do Mar Morto nas vésperas da pregação cristã. Tratava-se de umaverdadeira ordem monástica na qual se ingressava depois de um ano de apostolado e dois denoviciado. Os fiéis se distinguiam em leigos e sacerdotes. Estes últimos exerciam os pontos diretivos,mas as decisões mais importantes provinham do conselho de todos os membros da comunidade.

Entrando no monastério o noviço renunciava à propriedade privada, mas o monastériopossuía certos bens. Foram encontrados dois rolos que continham uma detalhada lista de objetospreciosos juntamente com a data da entrada. Mal foram decifrados desencadeou-se na Palestinauma verdadeira caça ao tesouro, sem resultado no entanto. Os monges do Mar Morto estabeleceramcomo origem da regra um homem venerável que havia sofrido perseguição devido às idéias próprias.Infelizmente os manuscritos não revelam seu nome, mas o chamam de Mestre da Justiça. Afirmamque dois espíritos lutam continuamente pelo domínio do Universo, o espírito do Bem e o espíritodo Mal. No fim o Bem prevalecerá após uma grande batalha que é narrada num manuscritodenominado “Guerra dos filhos da luz contra os filhos da treva”.

Nossos eremitas certamente não pertenciam aos grupos oficiais e bem descritos nosEvangelhos como Fariseus e Saduceus, pois esses eram citadinos. Restam os Essênios que residiamjunto ao Mar Morto, possuíam bens comuns, dividiam-se em sacerdotes e leigos e praticavambanhos rituais descritos nos rolos. Ao lado do hebraísmo urbano, emerge um ascético monastérioinsatisfeito com a religião oficial.

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Passo agora aos informes do Padre de Vaux, que explicará, com sua grande autoridadeno assunto, o que eram esses manuscritos bem como a sua grande, enorme importância para anossa história cristã. Vem a reportagem de Roma, Itália, capital do Catolicismo e residência doPapa. Eis o trecho principal:

Entretanto, discute-se o conteúdo e a importância dos manuscritos. O Padre de Vaux fornecenotícias novas e importantíssimas: foram decifrados os últimos rolos descobertos na décimaprimeira gruta. Em um desses foi achada uma parte do livro bíblico dos Salmos; ora, osSalmos do Mar Morto estão em ordem diferentes dos contidos na Bíblia e incluem algunsdesconhecidos até hoje.

Mas o fato mais importante talvez é que, com o deciframento destes últimos manuscritos,estamos pela primeira vez em situação de dizer uma palavra conclusiva, de tentar umbalanço de conjunto da descoberta.

São seiscentos os manuscritos descobertos, com milhares de fragmentos, e apresentam-seem rolos de pele com cinqüenta centímetros de altura e muitos metros de largura. Seusdonos os tinham envolvido em panos de linho e guardado em ânforas de terracota: o climaextremamente seco da região efetuou o milagre de preservá-los durante dois mil anos.Certamente inúmeros cuidados se impõem ao tirá-los de dentro das ânforas, isto porque apele está tão ressequida que facilmente se pulverizará. Assim os arqueológicos colocam osmanuscritos num ambiente úmido, uma espécie de banho turco e somente depois de algunsdias se arriscam a abri-los.

Os manuscritos foram escritos em hebraico e aramaico, a língua da Palestina antiga, epertencem à época compreendida entre o segundo século antes de Cristo e o primeirodepois.

Segundo o Padre de Vaux, aproximadamente um quarto dos rolos do Mar Morto contémlivros da Bíblia e textos já conhecidos, mas os conhecíamos através de manuscritos feitosmil anos depois. Eis, portanto, o grande significado da descoberta: na história do textosacro damos de repente com um salto de mil anos. O resultado de tal salto é, sem dúvida,uma série de peculiaridades e variações ignoradas que lançam luz na estrutura e históriada Bíblia. Mas estas variações concernem somente aos detalhes, não afetada em nada alinha geral do texto.

Antes de tudo, segundo o Padre de Vaux, devemos estabelecer uma relação de pessoasentre o movimento essênio e o Cristianismo nascente. Quando João Batista pregava aolongo da margem do rio Jordão, não era possível que os monges distantes apenas duashoras de caminho o ignorassem ou fossem ignorados. E o próprio Jesus, batizado por Joãoquando o mosteiro estava em pleno desenvolvimento, dificilmente desconheceria a existênciade seus habitantes. Porém os traços da figura de Jesus emergem inteiramente autônomos,seja em relação ao hebraísmo oficial ou ao do Mar Morto. Jesus rompe com a Lei, proclama-se Messias, anuncia a vinda de um Reino fundado sobre o sofrimento expiatório e a negaçãoda morte. Os monges do Mar Morto o teriam condenado e expulsado se ele fosse um deles.É na organização da comunidade e em alguns ritos que se nota afinidade entre os Essêniose os Cristãos. O Padre de Vaux afirma que antes ou depois da destruição do mosteiro,alguns Essênios haviam aderido à religião de Jesus, levando consigo lembranças da própriadoutrina. Porém tiveram um destino bem diverso. Os monges do Mar Morto, encerrados emseus limites nacionais, sucumbiram frente às legiões de Roma. Os Cristãos, superando asbarreiras das nações, afirmaram-se no mundo. Ceci n’a pas pu sortir de cela: comestas palavras Roland de Vaux despediu-se sorridente de seus ouvintes.

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Ignoro qual seja o verdadeiro sentido que o Padre de Vaux pretendeu conferir a estafrase “Isto não pode sair daquilo”. Se quis dizer que o rico e pomposo Catolicismo não podia sairda pobre e humilde comunidade dos Essênios, ele tem razão, porque desses Essênios saíramapenas os mais pobres e mais humildes primeiros cristãos, os cristãos das catacumbas.

Embora pretenda citar outro autor a respeito das afinidades e diferenças entre os ensinosdos Essênios e os de Jesus, não posso deixar de recomendar a leitura dos capítulos IX, X, XI, XIIe XIII, da supracitada obra de John Marco Allegro, capítulos que têm os seguintes títulos: “Asdoutrinas da seita”; “O uso dos textos da Escritura nos pergaminhos do Mar Morto e no NovoTestamento”; “A comunidade de Qumram e a Igreja (afinidades doutrinais e afinidades formais)”;“As concepções messiânicas e a Igreja primitiva de Qumram” e “A seita de Qumram e Jesus”.

Do capítulo XII, destaco o seguinte e elucidativo trecho: “A seita de Qumram aguardavaa vinda de um Messias sacerdotal, ao qual chamavam o ‘Mestre da justiça’ ou ‘Intérpreteda Lei’. O fato de serem estes os termos que se aplicam ao fundador da seita confirma aidéia de que não era outro senão o seu ressuscitado Mestre quem conduziria a teocráticaunidade do Novo Israel nos últimos dias”.

Quanto às citadas diferenças entre as duas doutrinas, não nos esqueçamos de que, navida de Jesus, houve muitas alterações e interpolações para fazer dele, ao mesmo tempo, Deus,Filho de Deus e 2ª pessoa da Santíssima Trindade, e assim criar uma doutrina própria. E que essaesperada vinda de um Messias nacional foi sempre um anseio do antigo povo judeu, que nãoaceitou a pessoa de Jesus, pois esperava um Messias guerreiro e não um Messias manso emoralizador dos maus costumes da época.

(Trechos da obra The lost years of Jesus revealed,

do Rev. Dr. Charles Francis Potter,

edição da Gold Medal Books

Fawcett Publications, Inc., Greenwich, Conn., EUA)

Em primeiro lugar, desejo informar que o Rev. Dr. Charles Francis Potter, autor dessaobra, cujo nome, em português, é, literalmente “Os anos perdidos de Jesus revelados”, é tambémautor da “História das Religiões”, já traduzida no vernáculo, e ostenta os títulos de M. A. (Master ofArts), B. D. (Bachelor of Divinity), S. T. M. (Sacred Theologiae Minister) e Litt. D. (Litterarum Doctor).É, como diz a capa de seu livro: World-renowned religious leader and scholar, isto é, um mundialmentefamoso líder religioso e acadêmico.

Essa obra, impressa em maio de 1958, no feitio de “bolso”, terá um prólogo e quatorzecapítulos, dos quais destaco os seguintes: 1) Quem e o que eram os Essênios? - 3) Luz sobre aeducação de Jesus. - 4) Livros sagrados omitidos na Bíblia. - 8) Importância de Enoc e outrospseudo-epigráficos. - 11) Origem da doutrina do Espírito Santo. - 12) Profecias dos “últimos Dias”.- 13) O Reino do Céu e a sepultura vazia. Tem ainda um pequeno epílogo.

Na impossibilidade de reproduzir, por muito extensas, partes de vários capítulos dolivro, todos bem interessantes, vou apenas traduzir um trecho de seu prólogo. Ei-lo:

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Mais de doze anos já decorreram desde que as grutas escondidas da grande bibliotecaessênia, com os chamados, ‘Rolos do Mar Morto’, foram acidentalmente descobertas porbeduínos nômades do deserto de Qumram, a quatorze milhas de Jerusalém. Depois disto,muitos dos couros enrolados e cilindros de cobre, bem como milhares de fragmentos decentenas de manuscritos, foram decifrados e traduzidos por sábios e teólogos para saberse a provável Mãe do Cristianismo foi a seita separada judia às vezes chamada de essênia.

Sabemos, pela leitura dos relatórios publicados, em jornais científicos, no francês, alemãoe hebreu, que esses essênios pré-cristãos devem ter prioridade em tudo o que se temconsiderado original no Cristianismo. Suas escrituras, não incluídas em nossa Bíblia, podemser lidas (e têm sido) nos serviços matinais de adoração sem que a congregação suspeitasseda substituição.

Um século ou mais antes que o Novo Testamento cristão fosse escrito, os essênios deQumram já conheciam as idéias, os ensinos, os provérbios, as orações, as beatitudes, asbênçãos e até as belas sentenças de Jesus no ‘Sermão da Montanha’. Até mesmo a pregaçãodo Evangelho, as Boas-Novas, ou, com a já corrente frase teológica, o kerygma do ReinoVindouro, foi evidentemente levada de Qumram por João Batista, bem como o batismo comque ele batizou Jesus para “cumprir toda justiça”, uma frase-chave essênica. E o próprionome da Bíblia cristã, o Novo Testamento, vem desses monges de Qumram, que nunca sechamavam de essênios, mas de “Filhos de Sadoc” (o grão-sacerdote do rei David), ou,significativamente, a “Comunidade da Nova Aliança”. E “Nova Aliança” foi o melhor termoempregado para traduzir o termo aramaico que os cristãos mais tarde traduziriam como“Novo Testamento”.

Na última refeição de Jesus com os discípulos, que parecia mais um ritual de pão e vinhoda comunhão dos essênios antecipando a refeição do Reino Vindouro, que foi a Páscoa, épreciso lembrar que Jesus levantou a “taça da Nova Aliança” numa verdadeira formaessênica e que prometeu aos seus discípulos que eles comeriam e beberiam consigo noreino que viria.

Centenas de outras provas da origem essênica das idéias, crenças e ensinos de Jesus,João Batista, João o discípulo, Paulo e outros autores do Novo Testamento têm sido notadaspelos sábios que trabalham com os rolos.

E agora que já sabemos que a provável Mãe do Cristianismo foi a antiga Comunidade daNova Aliança, comumente chamada de Essênios, a momentosa questão desafiando aconsciência de toda a Cristandade é se o filho terá a graça, a coragem e a honestidade deconhecer e de honrar a sua mãe.

Já comprovadas as origens essênicas do Cristianismo com outra obra de outro tambémcategorizada membro da igreja protestante: o Rev. D. Howlett, deixo de recorrer de novo à obra deJohn Marco Allegro “Os manuscritos do Mar Morto” e à de Millar Burrows “Os documentos do MarMorto” que tenho em minha biblioteca.

Com a leitura destes quatro livros sobre o assunto, tive a confirmação de minha suspeitasobre o motivo por que certos meios religiosos mantiveram oculta a vida de Jesus que vai dos 13aos 30 anos. É que os essênios eram budistas e era preciso criar uma religião própria, que nãotivesse base em nenhuma outra, mas, quem faz um estudo rigoroso do Novo Testamento, verificaque Jesus proferiu palavras e sentenças já ditas por outros reformadores da Índia.

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Não quero terminar esta parte sem antes transcrever o que diz a segunda capa do livrodo Rev. Potter: “Por séculos e séculos os estudantes cristãos da Bíblia se perguntavam ondeJesus estava e o que ele fez durante os chamados ‘dezoito anos de silêncio’. Os maravilhosose dramáticos manuscritos da grande biblioteca essênica, achados em grutas após grutasperto do Mar Morto, finalmente nos deram a resposta. Que durante aqueles ‘anos perdidos’Jesus estudava nessa escola essênica está se tornando cada vez mais aparente. Os letradosestão gradualmente admitindo os surpreendentes paralelos existentes entre as suasdoutrinas e vocabulário e as dos essênios e seu ‘Mestre da justiça’, que foi provavelmentecrucificado cerca de um século antes do nascimento de Jesus. Foi a seu título e suaautoridade que Jesus provavelmente sucedeu”.

E já não perguntaram se Jesus não foi outro “Mestre da Justiça”, igualmente crucificado?Quem o sabe ao certo? Aguardemos! Com muita calma, mesmo, pois parece que o caso foi encerrado... para não abalar os fundamentos de nossa religião cristã!

Ainda aprofundando o mistério.

Tive ocasião de citar, anteriormente, o antroposofista Rudolf Steiner, grande estudiosodos assuntos religiosos, que disse que, detrás do mistério de Jesus ... há o infinito. Em certo pontohá mesmo, porém já existe uma literatura nova que nos permite vislumbrar mais algo além do queconsta dos evangelhos chamados sinópticos (S. Marcos, S. Mateus, S. Lucas e S. João), onde,apesar de serem chamados de “concordantes”, muitas divergências mostram, como se pode ver dolivro de Aldeonoff Póvoas sob o título de “Contradições Bíblicas”.

Acho, pois, temerária uma exegese literal, palavra por palavra, dos quatro evangelhos,em face de novos documentos religiosos e de progressos científico, ainda mais se entrar no meio“o véu da letra e a capa do mistério” ... Há, por exemplo, uma passagem bíblica que diz:“É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reinodo céu”. Ora, já li alhures que o tal “fundo de uma agulha” era uma porta da Palestina, com essefeitio, tão baixa e pequena que era difícil um camelo passar por ela. Quanto ao resto da passagem,estou de acordo.

E, para quem quiser conhecer algo a respeito de Steiner, cito o livro de Rudolf Meyerintitulado “Quem era Rudolf Steiner?”, editado pela Associação Pedagógica Rudolf Steiner, de SãoPaulo.

Vamos, pois, aprofundar o mistério de Jesus, fora da órbita dos evangelhos cristãos,que, na verdade, muito nos têm servido pelo que muito de bom contêm, apesar do que se cometeuno passado. Não os considero, racionalmente, a “Palavra de Deus”, mas, com a exclusão de muitascoisas, o maior livro religioso da Terra, pelo menos no meio chamado ocidental.

Do livro de H. Dennis Bradley The Wisdom of the Gods (A Sabedoria dos Deuses), omesmo autor de Towards the Stars (Rumo às Estrelas), este já traduzido para o português, extraio,da pág. 262, do cap. XIX, sessão de 8 de março de 1935, uma pergunta e uma resposta, com oscomentários do supracitado autor.

Perguntou o sr. Terry, conhecido autor teatral inglês: “Cristo é o Filho de Deus?” e o dr.Barnett, um dos guias de George Valiantine, afamado médium norteamericano de “voz direta”,respondeu o seguinte:

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“Jesus foi filho do homem; de pai e mãe terrenos”, e assim comenta o autor: “Eu jáfizera esta pergunta antes e recebera a mesma resposta cada vez que a formulara. Esteluminoso espírito, que já confundira os maiores cientistas vivos, nenhuma hesitação tinhaao dar a sua opinião a respeito. Ele disse que o Cristo era um Espírito muito elevado e queEle vivia no Sétimo Plano da Sétima Esfera. O Cristo foi um dos maiores espíritos que jáviveram na Terra em corpo humano e a sua influência seria cada vez maior ao nossoplaneta no futuro próximo do que antes, porque a espiritualidade e a grande filosofia doCristo poderiam salvar nossa civilização de uma destruição material. O ‘dr. Barnett’ falasempre, com a maior veneração do Espírito do Cristo ao qual olha como próximo da divinae incompreensível inteligência do grande Deus do universo”.

Vou citar agora outro espírito de grande antiguidade, referindo ao livro “A FilosofiaHermética”, a primeira obra mediúnica impressa pela “Fundação Educacional e EditorialUniversalista”, de Porto Alegre, muito conhecida pela sigla FEEU. O conteúdo deste livro correspondea uma série de palestras feitas, em Londres, capital da Inglaterra, no ano de 1936, a uma classe deaspirantes espiritualistas, por uma entidade conhecida como I-EM-HOTEP, por intermédio dasra. K. Barkel. Na literatura hermética há muitas referências ao grande sábio egípcio I-EM-HOTEP,cujo nome significa “Aquele que vem em paz”. Conforme consta de diversas enciclopédias, eleviveu no Egito há uns 3.000 anos antes de Cristo, ocupando, durante o reino de Zoser, o mais altocargo do país, cargo que, posteriormente, recebeu o nome de Vizir. Arquiteto do rei, astrônomo eastrólogo, autor de sábios escritos e provérbios, poeta de renome I-EM-HOTEP também era SumoSacerdote do Egito e Hierofante do sistema de ensino religioso e esotérico de seu tempo. Foi elequem desenhou o plano da primeira pirâmide egípcia - a pirâmide escalada de Sak-Ka-Ra. Foi elequem, o primeiro na história do mundo, introduziu o uso da pedra talhada na construção, o quedeu inicio à construção sólida. Foi, no entanto, como médico e fundador de templos de cura que I-EM-HOTEP deixou os traços mais profundos na areia do tempo. Suas curas tornaram-se proverbiais,ganhando-lhe a gratidão e a profunda reverência do povo. Esta, continuando após a sua morte, fezcom que o Egito elevasse I-EM-HOTEP ao nível semi-divino, à sua semi-deificação, à divinização.

Pois foi, “da noite dos tempos”, que esse grande espírito voltou à Terra, falando aoshomens por intermédio de uma médium inglesa e começando por dizer: “Hoje, minha intenção é,apenas, esboçar certo ensinamento que encerra a Verdade sob uma forma simbólica, quepermite transmiti-la, adaptando-a ao alcance e ao tipo de cada mente humana. Esteensinamento, sob diversas formas, atravessou muitos milhares de anos, chegando atévossa época e recebendo, nos últimos tempos, o nome de Filosofia Hermética”.

Passo por cima de muitas coisas interessantes para ater-me apenas às referências feitasa Jesus-Cristo.

Na página 21 do supracitado livro, diz ele: “Os que amam o Mestre Jesus estarãocertamente interessados em saber que Ele foi o maior mago e o maior ritualista que o vossomundo conheceu. Ele trouxe consigo esse amor pelo Ritual das várias escolas por ondepassou” e, respondendo a certa pergunta formulada, assim respondeu: ‘Não gostaria dedestruir vossas crenças se elas até agora vos confortaram. De acordo, porém, com amensagem da Nova Era, devo dar-vos a Verdade. Jesus, quando iniciou Sua missão, haviaatingido à suprema maestria de todas as escolas ocultas conhecidas naquele tempo. Assimcomo os outros Adeptos, Ele possuía o seu grupo interno e externo de discípulos. No grupointerno, ensinava por símbolos, a fim de que esse ensinamento pudesse ser ministrado emtodos os países, apesar da diferença de línguas e mentalidades. Ele ensinava seus discípulosa empregar esses símbolos segundo o desenvolvimento interno do homem. Para os quepodiam compreender apenas o sentido literal, e nele achar conforto, só este devia serdado. Em função, contudo, da evolução humana, o verdadeiro sentido devia ser revelado’”.

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A pergunta: “Vós referistes a Jesus como sendo um grande ritualista. Podereis citar umRito feito por Ele?” foi assim respondida: “A maioria dos Ritos feitos por Jesus, visto ter Eleestudado nas escolas filosóficas egípcias e hindus, foi baseada na astrologia. No seu símbolo- o peixe - mostrava Jesus ser Adepto da Era dos Peixes. Sua túnica sem costura, feita deum só pedaço de pano, mostrava ser Ele Filho do Sol. Seus braços, estendidos em forma decruz, indicavam ter Ele conhecimento da ciência egípcia do Tarot”. Como esta resposta érelativamente grande, passo a outra pergunta formulada, que está na pág. 56 do supracitado livromediúnico. É ela: “Falastes da imagem da perfeição do coração. Estão gravadas ali todasas nossas experiências? “. A resposta é longa e a transcrevo na integra.

Ei-la: “Naturalmente. Pode ser que em uma vida o átomo permanente acumule asqualidades materialistas, em uma outra - as da grande união, da fortaleza ou outrasainda. Em cada encarnação, ele atrai, dos átomos que o rodeiam naquela vida determinada,aquilo que lhe será necessário para a última expressão de sua perfeição. Tomemos o exemplode um Grande Portador da Força Crística - o Mestre Jesus. O átomo divino do Seu coração,quando estava no corpo de Jesus, tinha atraído átomos perfeitamente puros e inalteradosque criaram Seu belo corpo, Sua bela mente, através dos quais Sua perfeição podia semanifestar. Ele não poderia ter atraído estes átomos se nas vidas anteriores não tivesseadquirido toda a experiência necessária. Não sei se vos chocarei dizendo que o átomopermanente do coração de Jesus tinha residido previamente na pessoa de Melchizedek, deEnoc e de outros grandes e gloriosos Seres. É a herança divina que torna divino o homem.É a realização da semelhança com sua própria imagem no coração que permite construirgradativamente um veículo através do qual ele poderá, no futuro, ser um Cristo para ahumanidade”.

Coisa estranha, dirão os leitores, falar-se em iniciação para Jesus, mas assim não pensao nosso formidável Léon Denis, chamado o “consolidador da filosofia espírita”. Como estou fazendoum estudo mais completo e moderno sobre a chamada “vida desconhecida de Jesus” e sendo omais imparcial possível, dou a palavra a Léon Denis que, após tratar da decadência da época,escreve o seguinte, em “Depois da morte”, págs. 59 e 60 da 8ª edição deste belo livro: “Entretanto,nas margens do Mar Morto, alguns homens conservam no recesso a tradição dos profetase o segredo da pura doutrina. Os essênios, grupo de iniciados cujas colônias se estendematé ao vale do Nilo, abertamente se entregam ao exercício da medicina, porém o seu fimreal é mais elevado: consiste em ensinar, a um pequeno número de adeptos, as leis superioresdo Universo e da vida. Admitem a preexistência e as vidas sucessivas da alma; prestam aDeus o culto do espírito. Nos essênios, como entre os sacerdotes de Mênfis, a iniciação égraduada e requer vários anos de preparo. Seus costumes são irrepreensíveis; passam avida no estudo e na contemplação, longe das agitações políticas, longe dos enredos dosacerdócio ávido e invejoso. Foi evidentemente entre eles que Jesus passou os anos queprecederam o seu apostolado, anos sobre os quais os Evangelhos guardam um silêncioabsoluto. Tudo o indica: a identidade dos seus intuitos com os dos essênios, o auxílio queestes lhe prestaram em várias circunstâncias, a hospitalidade gratuita que, a título deadepto, ele recebia, e a fusão final da ordem com os primeiros cristãos, fusão de que saiuo Cristianismo esotérico”.

E adiante, na mesma obra, pág. 67, Denis diz ainda o seguinte: “Negaram certosautores a existência do Cristo e atribuíram a tradições anteriores ou à imaginação orientaltudo o que a respeito foi escrito. Nesse sentido, produziu-se um movimento de opinião,tendente a reduzir às proporções de lendas as origens do Cristianismo. É verdade que oNovo Testamento contém muitos erros. Vários acontecimentos por ele relatados encontram-se na história de outros povos mais antigos e certos fatos atribuídos ao Cristo figuramigualmente na vida de Krishna e na de Hórus. Mas também existem outras, e numerosasprovas da existência de Jesus de Nazaré, provas tanto mais peremptórias quanto foramfornecidas pelos próprios adversários do Cristianismo, etc.”.

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Havia, nos ensinamentos do Cristo, um sentido oculto, simbólico, esotérico, e é elemesmo que o diz no Evangelho segundo S. Mateus, XIII, 10 e 11: “Eu lhes falo por parábolas,porque a vós outros vos é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes éconcedido” e assim o comenta Léon Denis quando escreve à pág. 38 da 5ª edição de “Cristianismoe Espiritismo”: “Evidente que haviam duas doutrinas no Cristianismo .primitivo: a destinadaao vulgo, apresentada sob formas acessíveis a todos, e outra, oculta, reservada aosdiscípulos e iniciados. É o que, de resto, existia em todas as filosofias e religiões daAntigüidade”.

E sobre a natureza de Jesus, assim se exprime Denis à pág. 68 de “Depois da morte”:“Quanto às teorias que de Jesus fazem uma das três pessoas da Trindade, ou um serpuramente fluídico, uma e outra parecem igualmente pouco fundadas. Pronunciando estaspalavras: ‘De mim se afaste este cálice’, Jesus revelou-se homem, sujeito ao temor e aosdesfalecimentos. Como nós, sofreu, chorou, e esta fraqueza inteiramente humana,aproximando-nos dele, o faz ainda mais nosso irmão, tornando seus exemplos e suas virtudesmais admiráveis ainda”.

Há um outro livro curioso a respeito de Jesus-Cristo, mas este já baseado em “registrosakásicos”. O original é em inglês e tem o título de The Aquarian Gospel of Jesus the Christ, by Levi(O Evangelho Aquariano de Jesus o Cristo, por Levi). Há uma versão em francês sob o título deL’Evangile du Verseau (O Evangelho do Aquário) na Collection Louis Colombelle. Vou dizer realmentede que se trata. O Evangelho Aquariano é um substancioso trabalho que dá detalhes íntimos davida do Cristo sobre a qual os evangelhos do Novo Testamento são silenciosos, detalhes essesextraídos de autênticos “registros akásicos” ou etéricos, por um estudante que se devotou quarentaanos ao preparo para essa tarefa. Este livro único é praticamente um completo registro das palavrase obras do Homem da Galiléia, incluindo os dezoito anos de estudos e viagens pelo Oriente. Cobrea sua vida desde o nascimento em Belém até a sua ascensão do Monte das Oliveiras. De especialinteresse e valor são os detalhes completos e íntimos relativos à sua vida durante os dezoito anosdespendidos em viagens entre os mosteiros gelados do Tibet, as construções formidáveis do Egito,os misteriosos templos da Índia, Pérsia e Grécia, um largo período de sua vida em que viajou econversou com monges, sábios e videntes através do Oriente. Por que foi ele chamado EvangelhoAquariano? Porque não foi e nem podia ter sido escrito até o começo da Época Aquariana domundo, o tempo referido por Jesus quando ele disse aos seus discípulos: “Tenho ainda muitascoisas que vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora. Quando vier porém o espíritode Verdade ele vos ensinará todas as verdades...” (S. João, cap. XVI, vers. 12 e 13).

Quem transcreveu o Evangelho Aquariano? Quem leu os registros akásicos? Levi. Quemera ele? Levi ou Levi H. Dowling, nasceu a 18 de maio de 1844 em Belleville, Ohio, EUA. Estudantedas sagradas escrituras, começou a pregar aos 16 anos de idade e aos 18 já era pastor de umapequena igreja. Esteve no exército norte-americano como capelão, no qual serviu até a terminaçãoda guerra civil. Estudou na Northwestern Christian University, de Indianópolis, Indiana, e publicoufolhetos religiosos. Graduou-se em duas escolas médicas e praticou medicina durante algunsanos. Finalmente deixou a medicina para voltar ao seu trabalho literário. Ouando era um simplesrapaz, teve uma visão na qual lhe fora dito que ele deveria “construir uma cidade branca”.Tal visão se repetiu por três vezes, em intervalos de anos. A construção da “cidade branca” foi“O Evangelho Aquariano de Jesus o Cristo”. O livro foi transcrito entre as duas e seis horas damadrugada, nas chamadas “horas silenciosas”. Levi faleceu a 13 de agosto de 1911.

Mas o que é “akasa”? Akasa, na melhor expressão de um orientalista, é o éter cósmico,o fluido universal. Nele está registrado tudo o que ocorreu e ocorre na Terra, daí talvez que tenhaoriginado a teoria do “reservatório cósmico de memórias individuais”, onde os médiuns iriamcolher todas as informações que dão nas sessões, quando, muitas vezes, acontecem lapsos.

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The Aquarian Gospel está na sua vigésima edição inglesa, que é de 1969, conformeexemplar que tenho em mãos, quando da edição americana, de que possuo também um exemplar,já alcançou a trigésima sexta edição, pois o livro vem sendo reeditado desde 1908.

Há uns capítulos do livro cujos títulos não podemos deixar de mencionar, como:VI - Vida e obras de Jesus na Índia; VII - Vida e obras de Jesus no Tibete e Índia Ocidental;VIII - Vida e obras de Jesus na Pérsia; IX - Vida e obras de Jesus na Assíria; X - Vida e obras deJesus na Grécia; X - Vida e obras de Jesus no Egito; e finalmente o XXI - Materialização do corpoespiritual de Jesus e o XXII - Estabelecimento da Igreja Cristã.

Poderia dizer muitas coisas mais, porém prefiro restringir o assunto, pois detrás dele...há o infinito. Menciono, para os interessados, as obras mediúnicas de uma espiritualista argentina,Josefa Rosalia Luque Alvarez, nascida a 18 de março de 1893 e falecida a 1° de agosto de 1965.Em mas de trinta anos em contato com os seus guias espirituais e diz-se também como o doMestre, deixou volumosas obras como Origines de la Civilización Adámica, Arpas Eternas, Cumbresy Lecturas de Moisés, el Vidente del Sinái. Tratam, pelo menos as duas que tenho em mãos,detalhadamente da vida de Jesus, tendo Arpas Eternas, em três volumes, mais de 1.000 páginas,e Cumbres y Llanuras, em. dois grandes e grossos volumes, mais de 800 páginas. A primeira e aquarta já estão a caminho, mas não há tempo para ler e meditar sobre tanta coisa.

Outra volumosa obra que adquiri recentemente é o True Gospel revealed anew by Jesus(O verdadeiro evangelho revelado novamente por Jesus), editado pela Church of the New Birth, deWashington, EUA. São quatro grandes e grossos volumes de mais de 400 páginas cada um e, comoo quarto volume ainda não me chegou às mãos e é muita coisa para eu ler e resumir, deixo de dara minha opinião a respeito. Com os três primeiros volumes veio um folheto intitulado Jesus’ Birthand Youth as known by Mary, Mother of Jesus (Nascimento e MKocidade de Jesus narrados porMaria, Mmãe de Jesus). Como é de poucas páginas, tive ocasião de lê-lo e colher a seguinterevelação de Maria: “A maior parte do que o Novo Testamento diz a meu respeito não éverdade. Fui casada legalmente com José, meu marido, que era um moço e não o decrépitoe impotente velho como é descrito pelos autores que fazem de mim uma virgem e mãe de umfilho cujo pai não tinha corpo ou espírito”..., e mais adiante: “Não, fui mãe de oito filhos decarne e sangue, sendo o primeiro Jeshua, ou Jeshu, que é pronunciado diferentemente nonorte o no centro da Palestina, como diferentemente em várias partes deste próprio país”.

Há outra obra recebida recentemente e sobre a qual não posso discorrer, pois recebiapenas o seu primeiro volume. São dois e têm os seguintes título e subtítulos:

The past lives of Jesus and Mary

Key incarnations of the way showers

Mystic interpretations from the akashic records

God’s book of remembrance

by Jessica Madigan in 2 volumes

que, tudo traduzido, é:

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As vidas passadas de Jesus e Maria

Encarnações chaves dos precursores

Interpretações místicas dos registros akásicos

Livro de memórias de Deus

por Jessica Madigan, em dois volumes.

Como neste primeiro volume trata mais de Jesus, posso adiantar que, na interpretaçãoda autora, Jesus viveu primeiro na Atlântida (enorme continente submerso) com o nome de Amilius,talvez forma latina de Emílio; foi depois Rama, o chefe ariano que penetrou na Índia; Krishna, oconhecido filósofo hindu; Hermes, o Núbio, que foi para o Egito; Enoc, autor do livro usado pelosantigos essênios e Melchizedek, o grande místico conhecido através da Bíblia. Sendo tudo istoescrito de passagem, pela falta de leitura dos 2 volumes, nada mais posso acrescentar no momento.

Passo agora, de escantilhão, por uma obra sobre a qual gostaria de extrair muitascoisas, mas limito-me a bem pouco e o melhor. Trata-se de Edgar Cayce’s Story of Jesus, título quemais amplamente traduziria por “A vida de Jesus segundo leituras de vidas feitas por EdgarCayce”. Este possuía a estranha faculdade de colocar-se em um estado de sono semelhante aoestado de transe e assim proferir palestras, fazer diagnósticos e principalmente as leituras dasvidas pretéritas de muitos consulentes. Um dos seus vários biógrafos, Jess Stearn, o chamava deThe Sleeping Prophet (O Profeta Adormecido), apelido que serviu de título a um dos seus livros. Oautor deste livro, Jeffrey Furst, livro editado por Coward-MacCann, Inc. New York, USA. Paraescrevê-lo, recorreu ao “grupo da Palestina”, isto é, às leituras de vidas de pessoas que viveram naPalestina na época do Cristo. E confirma a passagem de Jesus pelo Egito, Pérsia e outros países,como repetidamente referido em várias partes deste meu trabalho.

Ele dá também o Monte Carmelo como a sede de uma escola de Essênios e diz que foiem um templo de lá que se realizou o casamento de José e Maria, os pais de Jesus. Perguntadoque idade tinha José por ocasião do seu casamento com Maria, ele respondeu que 36 anos e Mariaapenas 16. Perguntado ainda que mestres teve Jesus nos países em que estudou, respondeu:Kahjian na Índia; Junner na Pérsia e Zar no Egito.

Este livro, em formato grande, tem cerca de 400 páginas. Citá-lo minuciosamente seriaquase que escrever novo livro.

Já que tive ocasião de me referir às várias vindas do Cristo à Terra, da qual, segundoalguns, ele seria o Governador, o Dirigente, o Instrutor Maior, vou citar também breve trecho daobra de Ruth Montgomery A World Beyond já traduzida para o português sob o sugestivo titulo de“A vida no Além-Túmulo” e publicada pela Distribuidora Record. Trata na maior parte, de colóquioscom o espírito de Arthur Ford por meio da psicografia, mas de uma forma ainda desconhecida pormim: ela recebia as mensagens, não por meio de um lápis ou uma caneta, mas diretamente namáquina de escrever. Arthur Ford, falecido recentemente, era considerado o maior médium norte-americano. Quem conhece bem o inglês poderá ler a obra Nothing so Strange (literalmente “Nadatão Estranho”), que é a sua autobiografia em colaboração com Margueritte Harmon Bro e tem umaintrodução de Hugh Lynn Cayce, Diretor da Edgar Cayce Association for Research and Enlightenment.

Do capítulo 13 “Exemplos de reencarnação”, colho o seguinte e interessante trecho:

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Na manhã de Sexta-Feira Santa, Arthur Ford escreveu em minha máquina: ‘Mais ou menosnesta data, há dois mil anos, um homem chamado Jesus de Nazaré morreu na cruz comosímbolo vivo da vida eterna. Alguns pensavam que iria livrar-se da cruz para exibir maisum milagre, porém foi o Cristo dentro dele que sobreviveu à morte e voltou várias vezes naforma astral para provar que a vida é eterna, que o homem de carne não é o verdadeirohomem, mas apenas o símbolo físico da alma sempre viva. Ele provou a veracidade desuas palavras e por isso tornou-se imortal como um Jesus físico bem como na consciênciade Cristo, que existe nas forças de Deus desde o início dos tempos.

Agora vejamos o caso de São Paulo, que teve uma visão de Cristo no caminho para Damasco.Ele não conhecia o homem Jesus, mas assim que viu a aparição reconheceu-a como oCristo que tinha habitado o corpo de Jesus. As palavras, para ele, eram inconfundíveis.Jesus foi a maior de uma longa série de personificações de uma alma criada no início e quede vez em quando encarnava na forma humana. Foi o Buda, o Messias, o todo-no-todo, eaquele por quem sempre ansiamos em nossas almas - o irmão mais velho, o camaradão, opacificador, a personificação do bem. Filho de Deus, sim, mas não somos todos filhos efilhas de Deus? A diferença é que Jesus recebeu de Deus poderes para conduzir toda ahumanidade às verdades básicas: amai-vos uns aos outros, sede bons para com quem vosmaltrata, não faleis mal se não quiserdes que falem mal de vós, fazei aos outros aquilo quequereis que vos façam. O espírito de Cristo viveu e teve o seu ser por um período de anosdentro de Jesus de Nazaré, mas lembram-se disto: O espírito interior, que habita a formafísica de todos nós, é igualmente parte de Deus e capaz de suportar o mal, por isso tentemosnós um pouco mais aquilo que no princípio foi puro, limpo e verdadeiro. Amai o próximocomo a vós mesmos.

Arthur desenvolveu um tema semelhante em seu “sermão” da manhã da Páscoa,escrevendo:

Hoje é o aniversário da bela manhã em que o Cristo desencarnado ergueu-se do túmulopara demonstrar a vida eterna. Livre de seu corpo, ele apareceu a muitos dos seus seguidoresna terra da Palestina e até mostrou seus ferimentos a um Tomás duvidoso, mas não é estaa mensagem importante. O ponto de destaque é que nós todos sobrevivemos à morte comnossa personalidade e memória intactas. Isto foi demonstrado por Jesus ao morrer na cruze Sua parte eterna - o Cristo - continuou a viver para provar que o corpo físico não faz parteda alma eterna. Hoje falamos das várias encarnações daquele Cristo que recordamos naforma de Jesus. Ele tinha sido vários homens diferentes antes daquela encarnação e emtodas buscava a perfeição do homem. Queria demonstrar a Seu Pai e a todos os outros queé possível habitar um corpo físico, resistir à tentação e viver uma vida de perfeição. Asvezes esquecemo-nos de que Jesus era um homem como nós. Era o Cristo dentro dele queo tornava superior. As mesmas tentações carnais estavam ali para tentar a Jesus como aqualquer homem carnal e, no entanto, ele resistiu a todas. Lembremo-nos, pois, de quecada um de nós poderá viver tão corretamente quanto quiser, pois foi demonstrado que ohomem, mesmo na carne, pode ser perfeito.

Já disse aqui nesta obra, citando Rudolf Steiner, que, por detrás do mistério de Jesus ...há o infinito. E, por causa disto, vou fazer, para terminar, umas breves citações de um curiosolivro, também recente como o antes citado. Trata-se de “A voz dos extraplanetários”, livro que seoriginou de um processo telepático a que se permitira o extraplanetário Ashtar Sheran por intermédiode um médium alemão chamado Herbert Victor Speer, de Berlim.

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Mas quem é este Ashtar Sheran, de nome tão estranho? Di-lo o livro em muitas linhas,mas, para nós, direi apenas que se trata de um ser espiritual elevado, habitante de Methária,situado no sistema solar de Alfa Centauro e que teria o comando geral das naves espaciais emmissão terrena ao aproximar-se “o fim dos tempos” tão falados. E lá se fala no Cristo e outrascoisas mais ... Passo, ainda, a algumas transcrições interessantes e bem curiosas, como, porexemplo, do que consta das páginas 122 e 123. Ei-lo:

Já numa comunicação precedente acentuamos que Cristo não foi o bode expiatório dahumanidade terrestre. Tornou-se vítima de um crime horrendo! Essa morte brutal nada temque ver com a Redenção da humanidade. Somente Seus ensinamentos podem redimir-vos,quando os colocardes em prática, porém não porque seu sangue foi derramado.Os “Santini” estavam num direto contato com este extraordinário Mestre.

A Estrela de Belém era uma nave espacial extraterrestre, um U.F.O. como o chamais. Podereisver tais estrelas de Belém em cada noite e, muitas vezes, também durante o dia e em todosos países da Terra. Suas trajetórias e seu brilho não são por nada diferentes daquelaEstrela de Belém.

O nascimento de Cristo foi anunciado pelos pilotos de um U.F.O. Citamo-vos agora umapassagem da Bíblia: “E um Anjo do Senhor esteve diante deles, e o esplendor do Senhorenvolveu-os e assim sentiram medo”. O esplendor que envolveu os pastores era a irradiaçãode um U.F.O.. O anjo era um “Santini”, um extraterrestre. Não foi o Anjo que subiu ao céu,mas um U.F.O. acolheu-o levando rumo ao Cosmo. Uma estação interplanetária universalnão é uma plataforma para Anjos. Também a partida de Elias no carro de fogo. Nem avisita dos Anjos, nem a luz divina com seu esplendor são baseadas na ação milagrosa deDeus. Trata-se, ao contrário, da visita dos “Santini”, que, se empenham sinceramente emvos explicar o significado de vossa existência.

Esclarece o editor alemão desta obra, em nota, o seguinte:

“É-nos muito difícil entrarmos em contato com Ashtar Sheran. Importante tornou-se entãopara nós a confiança demonstrada pelos Guias espirituais que já há muitos anos nostransmitem inumeráveis ensinamentos relacionados com a sabedoria. Com Ashtar Sheranentramos em contato de tempos em tempos. Nós não o vemos. Suas mensagens sãoespiritual-científicas. Por essa razão devemos recorrer ao mundo da colaboração de nossosGuias espirituais e, como se trata de missão divina, estas Grandes Almas procuramcontentar-nos. Nem de todas as perguntas recebemos respostas, porque, para algumasexplicações, não nos achamos preparados nem amadurecidos para entendê-las. AshtarSheran é um verdadeiro amigo da Humanidade; melhor instrutor não poderíamos imaginar.É o Guia de nossos tempos. Sentimo-nos felizes por termos sido escolhidos para a recepçãode comunicações, mesmo que por causa disto sejamos escarnecidos. Entretanto existemmuitas pessoas sérias e decididas que nos compreendem e estão conosco.

As perguntas constantes das páginas 146 e 147 já são respondidas pelo Guia espiritual.Eis as mais importantes dele recebidas:

Pergunta: A Ascensão de Cristo foi cientificamente posta em dúvida. Também as Igrejasnão sabem como explicá-la. Que relação terá com os “Santini”?

Resposta: Cristo conhecia a missão dos “Santini”. Uma nave espacial acolheu-Otomando-O consigo. Os “Santini” possuem estes meios. O céu não é um lugarsobre as nuvens. Cristo foi levado algures.

P. - Conheceis este lugar?

R. - Pelo que sabemos foi levado para as Índias, nas proximidades do Tibet. Alificaria mais seguro. (Nota do Editor: Há muitos indícios de que Cristo tenha operado naÍndia)

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P. - Esta resposta faz vacilar o milagre da Ressurreição. Portanto Cristo deverá tercontinuado a viver. Não teria então morrido na Cruz, não é assim?

R. - Cristo possui dotes excepcionais, visto ser uma divina encarnação. Sabemos hojeque a maior parte das pessoas escuta de má vontade esta explicação. Porém Cristomorreu na Cruz. Morreu clinicamente. Mas; como Cristo é uma encarnação deimensa força divina, esta se pôs a agir n’Ele depois da morte. Ele venceu a matéria,levando-a como uma veste imaculada. Ele possui faculdades e poderes divinos.Curava os doentes, ressuscitava os mortos e assim recolocou-se a si próprio navida e curou-se. Aí está o próprio milagre da Ressurreição, dentro da ordem imutáveldas leis espirituais.

P. - Diz ainda a Bíblia: “Subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus”. Que dizeis a isto?

R. - Deus não é uma pessoa e assim sendo Cristo não poderia sentar-se à Sua direita.E o céu não é um teto próprio colocado sobre a Terra. Este é outro consensodogmático. Cristo se acha no reino espiritual, na esfera mais alta. Ali não está só,mas rodeado por muitos espíritos eleitos.

P. - Como reagirão as Igrejas ao escutarem esta afirmativa? Como nos deveremoscomportar?

R. - Poderemos sempre dizer a verdade, gostem dela ou não. Além disto, a coisa não étão estranha quanto parece. Existem faquires e iogues que podem realizarsemelhante milagre: Anulam a força da gravidade, fazem-se transpassar por espadase permanecem sepultados durante semanas inteiras. Dominam a matéria, comofez Cristo.

P. - Cristo estava clinicamente morto. Como devemos entender isto?

R. - Também sobre a Terra existem homens que se acham clinicamente mortos. Elespodem ser ressuscitados para a vida, mas só por um breve período de tempo,porque usam outros meios e sistemas errados. Podem ser ressuscitados até omomento em que o cordão de prata, aquele laço que une o corpo à alma, não tenhasido rompido. Até aí a ressurreição poderá ser possível. (Nota do Editor: Três diasdepois da morte)

P. - Sabemos que as células do cérebro não podem permanecer vivas por mais de quealguns minutos, visto que logo se decompõem dando-lhes a morte definitiva. Cristo,entretanto, ficou no túmulo por muito tempo. Como poderia ater-se dado isto?

R. - Houve casos nos quais foi constatado que, depois da morte, no crânio de algunsterrestres não mais havia o cérebro. Entretanto, eles, quando vivos, podiam agir epensar. Cristo não tinha necessidade de cérebro para pensar. Seu Espírito eraextraordinariamente forte.

Aqui me detenho novamente para dizer que a obra “A Voz dos Extraplanetários” foiimpressa, em 1972, pela Editora Pongetti, que já nos promete, a seguir, do mesmo autor, asseguintes: “Veritas Vincit”, “De Estrela em Estrela” e “Antes da Aterrissagem”. Aqueles queconservam, como eu, a liberdade do pensamento como coisa preciosa, podem lê-las todas paraestudo, comparação e ilustração, bem como “A Bíblia e os discos voadores” do escritor brasileiroFernando Cleto Nunes Pereira, já em 2ª edição. Não me furto à ocasião de citar dois pequenostrechos da obra deste autor nacional. Um, da pág. 140, quando ele diz: “Não devemos fugirnunca dos temas difíceis e contraditórios, razão pela qual pretendemos examinar o delicadoproblema que constitui a reencarnação. Como já vimos, a Lei do Carma procede tambémdos astronautas extraterrenos. Sentimos mesmo ser do nosso dever focalizar aqui o livroque ficou perdido por muitos séculos, chamado Atos II, de autoria de S. Lucas, narrando aassunção de Santa Maria - episódio inteiramente desconhecido dos cristãos, porque oreferido livro não mereceu a aprovação da Igreja Católica”.

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E outro, mais adiante, na pág. 143, quando esclarece o seguinte: “Vamos agorasurpreender a grande maioria dos leitores, focalizando um misterioso livro muito poucoconhecido. Não sabemos se alguma Igreja já aceitou tal livro como verdadeiro. Trata-se doremoto e desaparecido Atos II, de autoria de S. Lucas, no qual são expostas algumas liçõesde Santa Maria sobre a reencarnação. Este livro foi descoberto e traduzido do grego paraa língua inglesa por Kenneth Sullivan Guthrie e para a língua portuguesa por M.M.A primeira edição em inglês foi feita em 19-9-1904 e constou de apenas 155 exemplares.Somente 60 anos depois da primeira edição foi tal livro reeditado na língua inglesa.O editor e distribuidor de Atos II em nossos dias é o Centro Metafísico Mark-Age, Inc.,327 N.E. 20th Terrace - Miami, Flórida, USA. Uma pequena edição de menos de 100exemplares foi feita no Brasil, em língua portuguesa, editada em 15-8-1965 (Traduzidopara a língua portuguesa, da versão inglesa, por M.M.). Nesse notável livro, que teria ficadoperdido quase 1900 anos, está descrito, num verdadeiro poema, como se deu a assunçãode Santa Maria e as revelações que ela faz sobre os mistérios do Reino de Deus. Narratambém que, no momento da assunção, o próprio Jesus e o anjo Gabriel apareceram paralevar Maria ao céu, momento em que Jesus confirma algumas de suas encarnações anterioresna Terra. Segundo o mesmo livro, Paulo e Pedro teriam assistido como se deu a assunçãoe juntos teriam ouvido as últimas revelações de Santa Maria e Jesus”.

Os leitores que meditem sobre tudo isto e façam o seu juízo a respeito porque, nomistério de Jesus, parece que só se pode mesmo é opinar. Certeza não há, ainda menos com osEvangelhos chamados Apócrifos, que a própria Igreja Cristã rejeitou.

A Bíblia inteira foi tantas vezes adulterada e interpolada por uns e outros interessadosque hoje já não sabemos o que estava anteriormente escrito em inúmeras passagens. Paracorresponderem a certas aspirações e idéias dos judeus antigos, alterações foram feitas, a dedo,no Novo Testamento, onde inúmeras passagens se contradizem umas as outras. E dói vermos queespíritos ditos de luz interpretam integralmente todos os versículos da Bíblia, mesmo os maisconfusos...

Outra coisa. Dizem que os judeus antigos tratavam de irmãos tanto os irmãos carnaiscomo os primos-irmãos e demais parentes, mas, quando o interesse interpretativo entra em jogo,os irmãos carnais nunca são irmãos mesmo e sim de outro parentesco.

Embora consideremos que é muito difícil argumentar-se a respeito de Jesus compassagens bíblicas, vamos fazer uma citação da Bíblia Sagrada traduzida em português, segundoa Vulgata Latina, pelo Padre Antonio Pereira de Figueiredo. Escolhemos, a propósito, os seteprimeiros versículos do capítulo 2 - Nascimento de Jesus - do Evangelho Segundo São Lucas:“1. E aconteceu naqueles dias que saiu um édito emanado de César Augusto, para que fosse alistadotodo o mundo. 2. Este primeiro alistamento foi feito por Cirino, governador da Síria. 3. E iam todosalistar-se, cada um à sua cidade. 4. E subiu José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidadede David, que se chamava Belém, porque era da casa e da família de David. 5. Para se alistar com suaesposa Maria, que estava pejada. 6. E estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que havia dedar à luz. 7. E deu à luz a seu filho primogênito e o enfaixou e o reclinou em uma mangedoura, porquenão havia lugar para eles na estalagem”.

Notem bem: Maria deu à luz o seu filho primogênito. Filho primogênito, sabemostodos nós, é o primeiro filho de um casal de carne e osso e não se falava em primogênito sem haveroutros filhos do mesmo casal, portanto haviam outros filhos mais, que eram mesmo irmãos uterinosde Jesus, e não primos-irmãos.

São José teve filhos da primeira mulher dele, mas, quando se casou com Maria, a suasegunda mulher e mãe de Jesus, passou de homem de carne e osso a simples espectador... paraque se cumprissem a vontade dos profetas e a dos interessados de ontem e hoje.

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Quem conhecer o inglês e quiser ler muita coisa a respeito da vida de Jesus, indico umlivro publicado pela primeira vez em 1899 e, pela segunda, em 1968 pela Unarius Publishing Co.,de Glendale, Califórnia, Estados Unidos da América. Tem o duplo título de The True Life of Jesusof Nazareth (A verdadeira vida de Jesus de Nazaré) e The Confessions of Paul (As confissões dePaulo) e se trata de um volume de 325 maciças páginas recebidas através da mediunidade deAlexander Smyth.

O referido livro é acompanhado de um apêndice com o título de The Crucifixion andResurrection of Jesus, by an eye-witness (A crucificação e ressurreição de Jesus por uma testemunhaocular). Trata-se de um manuscrito descoberto e pertencente à antiga Biblioteca de Alexandria,com muita matéria adicional e explanatória sobre os Essênios e com pasmante declaração de queJesus não faleceu na cruz e sim seis meses após e que não houve uma ressurreição e sim umaressuscitação de Jesus.

Ainda a propósito de Jesus, aproveito o ensejo para transcrever breve trecho do beloartigo “Ritos e iniciações esotéricas”, de Sandra Galeotti, aparecido no n° 32, de abril-maio de1975, da apreciada revista “Planeta”. Ei-lo ipsis literis:

É fácil notarmos como a identidade essencial entre várias correntes filosófico- iniciáticas seperpetuou até a época do advento de Cristo, chegando até nós, se considerarmos o conteúdodos tratados firmados entre todas elas, através de seus mestres. Foi no ano 747 da fundaçãode Roma que se reuniram no supremo santuário dos essênios, localizado nas montanhasde Moal, os chefes das principais escolas esotéricas da época com o fim de estabeleceruma aliança que tinha por objetivo proporcionar todo amparo possível ao menino, que, aos30 anos, iniciaria uma missão redentora do gênero humano. Foi firmado então um tratadocom os seguintes dizeres: “Havendo comprovado que é uma mesma verdade a expostanas cinco doutrinas conhecidas hoje, ou seja, o ptolomeismo da Alexandria, o copto daArábia, o zend-avest da Pérsia, o budismo do Nepal e o mosaísmo essênio, nos impomos osagrado dever de propiciar a unificação perfeita destas cinco ramificações da divinasabedoria para facilitar a missão redentora de Cristo em seu último advento à Terra”.Assinavam: Ezequias de Sichen, grande servidor do santuário do monte Abarin; Gasparde Bombaim, primeiro mestre da Escola Estrela do Oriente; Baltasar de Susa, consultor daCongregação da Sabedoria Oculta; Melchior de Horeb, fundador da fraternidade copta domonte Horeb; Filon de Alexandria, estudante do 5° grau, na Escola Ptolomeísta.

Diz a articulista que o documento original essênio desta aliança encontra-se hoje emuma das principais bibliotecas da cidade de Lhasa, no Tibet.

E se quisermos aprofundar ainda um pouco mais o mistério que há por detrás da pessoade Jesus, apesar dos inúmeros livros escritos a respeito e aqui citados, podemos incluir estepequeno trecho colhido na obra de Eduardo Morgens, pág. 24, intitulada Profecias: “Aqui desejamosabrir um parêntesis para formular a seguinte pergunta: segundo a Bíblia, Moisés, eposteriormente Jesus, desapareceu durante certo espaço de tempo, sem qualquer mençãoreferente a seu paradeiro. Para onde teriam ido? Estudando cuidadosamente o Código deHamurabi, composto em tijolos de argila 2000 anos antes do advento dos Profetas Bíblicos- base de toda a legislação moderna, civil e criminal - chegamos à conclusão de que essesdois grandes personagens tiveram contato com os sucessores de Hamurabi e,conseqüentemente, com o código famoso. Um confronto entre o Código de Hamurabi e os 10Mandamentos leva à conclusão de que a lei mosaica é uma condensação do código citado”.

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E também ainda ao pequeno trecho que colhemos na obra de Lytle Robinson intituladaEdgar Cayce’s Story of the Origin and Destiny of Man, que melhor traduziríamos por História daOrigem e Destino do Homem segundo leituras de Edgar Cayce. Está na pág. 93 da edição de bolsoe as leituras de Edgar Cayce, o profeta adormecido, já são bem conhecidas. Ei-lo: “A GrandePirâmide de Gizeh permanece como um monumento histórico para a atual raça-raiz. Registraa história da luta do homem pela sabedoria espiritual e, por muitas épocas, foi utilizadacomo templo de iniciação para os grandes mestres e líderes do mundo. Foi aqui que oGrande Iniciado, Jesus, que se tornou o Cristo, recebeu os graus finais de Iniciado,juntamente com João Batista, o Seu precursor”.

E o mistério parece continuar ...

Diante de tudo o que foi dito e escrito por tantos autores, quer da Terra quer do Além,minha opinião pessoal é, e continuará a ser, a de que Jesus foi um ser carnal como nós, que setornou um Grande Iniciado e que exerceu a mais bela missão terrena, opinião que deixo aquiestampada nestas poucas linhas a fim de que, após o meu desencarne, não me atribuam o quenão disse e não escrevi.

Francisco Klörs Werneck

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Elementos Suplementares para o Estudo de Jesus-Cristo

Retrato de Jesus

Em Roma, no arquivo do Duque de Cesadini, foi encontrada uma carta de Públio Lêntulus,Procônsul da Galiléia, dirigida ao Imperador Romano Tibério César, em virtude deste ter interpeladoo Senador Romano acerca de Cristo, de quem tanto lhe falavam.

Eis a carta, que é um retrato fiel de Jesus:

Sabendo que desejais conhecer quanto vou narrar: existindo nos nossos tempos um homem,o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que pelo povo é inculcadoProfeta da Verdade e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, Criador do Céu e daTerra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado. Em verdade, óCésar, a cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus; ressuscita os mortos, curaos enfermos, em poucas palavras é um homem de justa estatura e é muito belo de aspecto.

Há tanta majestade em seu rosto que aqueles que o vêem são forçados a amá-lo ou temê-lo. Tem os cabelos da cor da amêndoa bem madura, são distendidos até as orelhas e dasorelhas até as espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes. Tem no meio da suafronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso pelos nazarenos; o seu rosto écheio, o aspecto muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em sua face de uma cormoderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis. A barba é espessa, mas semelhante aoscabelos, não muito longa, mas separada pelo meio; seu olhar é muito especioso e grave.Tem os olhos graciosos e claros e o que surpreende é que resplandecem no seu rosto comoos raios de sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu semblante, porque, quando resplandece,apavora e, quando ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade. Diz-se quenunca ninguém o viu rir, mas antes chorar. Tem os braços e as mãos muito belos; napalestra contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele alguém se aproxima, verificaque é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem que se possa imaginar,muito semelhante à sua Mãe, a qual é de uma beleza rara, não se tendo jamais visto, porestas partes, uma donzela tão bela. De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém.Ele sabe todas as coisas e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa algumana cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, porém, na sua presença, falando com Ele, tememe admiram. Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade,segundo me dizem os hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos de grande doutrina,como ensina este Jesus; muitos judeus o têm como Divino e muito me querelam que écontra a lei de Vossa Majestade. Diz-se que esse Jesus nunca fez mal a quem quer queseja, mas, ao contrário, aqueles que o conhecem e com ele têm praticado afirmam ter delerecebido grandes benefícios de saúde, porém, à sua obediência estou prontíssimo e aquiloque Sua Majestade ordenar será cumprido.

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Outro Retrato de Jesus

Este outro retrato de Jesus foi feito pelo espírito de Maria Dolores, através da mediunidadede Francisco Cândido Xavier, a 22-4-1978, no Grupo Espírita da Prece, de Uberaba, MG.

Ei-lo:

Está sendo procurado:

Homem considerado galileu. Trinta e três anos. Pele clara e expressão triste. Cabelos longose barba maltratada.

Marcas sanguinolentas nas mãos e nos pés. Caminha habitualmente acompanhado demendigos e vagabundos, doentes e mutilados, cegos e infelizes.

Onde aparece, freqüentemente, é visto entre grande séqüito de mulheres, sendo algumasde má vida, com crianças esfarrapadas.

Quase sempre está seguido por doze pescadores e marginais. Demonstra respeito paracom autoridades, determinando que se dê a César o que é de César, mas espalhaensinamentos contrários à Lei antiga, como seja: o perdão das ofensas; o amor aos inimigos;a oração em favor daqueles que nos perseguem ou caluniam; a distribuição indiscriminadade dádivas com os necessitados; o amparo aos enfermos, sejam eles quais forem; e chegaao cúmulo de recomendar que uma pessoa espancada numa face ofereça a outra ao agressor.

Ainda não se sabe se é um mágico, mas testemunhas idôneas afirmam que ele multiplicoucinco pães e dois peixes em alimentação para mais de cinco mil pessoas, tendo sobradodoze cestos.

Considerado impostor por haver trazido pessoas mortas à vida, foi preso e espancado.Sentenciado à morte, com absoluta aprovação do próprio povo, que o condenou depreferência a Barrabás, malfeitor conhecido, recebeu insultos e pedradas, sem reclamar,quando conduzia a cruz às costas.

Não se defendeu, quando questionado pela justiça, complicando-se-lhe a situação, porqueseus próprios seguidores o abandonaram nas horas difíceis. Sob afrontas e zombarias, foicrucificado entre dois ladrões. Não teve parentes que lhe demonstrassem solidariedade, anão ser sua Mãe, uma frágil mulher que chorava aos pés da cruz.

Depois de morto, não se encontrou lugar para sepultá-lo, senão lodoso recanto de umtúmulo por favor de um amigo. Após o terceiro dia de sepultamento, desapareceu do sepulcroe já foi visto por diversas pessoas que o identificaram pelas chagas sangrentas dos pés edas mãos:

“Esse é o homem que está sendo cuidadosamente procurado.

Seu nome é Jesus de Nazaré.

Se puderes encontrá-lo, deves segui-lo para sempre.

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Origem do Nascimento Virginal de Jesus

As pessoas que tiveram a oportunidade de aprofundar o Espiritualismo, em seus váriosramos, aprenderam que era costume antigo considerar os fundadores de religiões como filhos deDeus, grandes avatares da Divindade e mesmo filhos de virgens, com nascimento sem concurso depai terreno. E Jesus não escapou ao costume da época.

Louis Jacolliot, que era juiz na antiga colônia francesa de Pondicherry, na Índia, teveocasião de estudar profundamente a religião da antiga Índia e escreveu vários livros entre os quaisum que tenho em mãos e que tem o título de “A Bíblia na Índia - Vida de Iezeus Cristna”. Oexemplar, que tenho em mãos, leva o título em espanhol, já que foi publicado pela Editorial Araujo,de Buenos Aires, República Argentina, com quase 400 páginas de texto.

Para não cansar os leitores, traduzo, a seguir, os principais e elucidativos trechos deleque condizem com o nascimento virginal de Jesus, notando, desde já, a semelhança do nascimentode um que viveu séculos antes do outro.

Começo pelo capítulo VIII que tem o título de “Encarnações - Profecias anunciando avida de Cristna”:

Segundo a crença indiana, até o dia de hoje, nove vezes Deus veio à Terra: as oito primeirasvezes só foram curtas aparições da Divindade, vindo para renovar a santos personagens apresença de um Redentor feita a Adima e Heva depois do pecado; a nona só é umaencarnação, isto é, a realização da predição de Brama. Esta encarnação é a de Cristna,filho da virgem Devanagu.

Passando ao capítulo IX, de título “Nascimento da virgem Devanaguy segundo a Bagavad-Gîtâ e as tradições bramânicas”, tomo o seguinte e longo trecho:

Chegamos a esta maravilhosa encarnação indiana, a primeira quanto ao tempo, entre todasas encarnações do globo, a primeira que veio recordar aos homens as verdades imortaisdepositadas por Deus na consciência humana e que as lutas do despotismo e da intolerânciaconseguem muito amiúde ocultar.

Vamos. narrar, simplesmente, seguindo as autoridades mais fidedignas, a vida da virgemDevanaguy e do seu divino filho, reservando, para mais adiante, todo comentário e todacomparação.

Por volta do ano 3500 antes da era moderna, no palácio do rajá de Madura, pequenaprovíncia da Índia Oriental, veio ao mundo uma menina cujo nascimento esteve rodeado deestranhos acontecimentos e de maravilhosos presságios.

A irmã do rajá, mãe da menina, alguns dias antes da iluminação, teve um sonho, no qual,aparecendo-lhe Vishnu, em toda a magnificência de seu esplendor, lhe revelou os futurosdestinos da que ia nascer.

Darás à sua filha o nome de Devanaguy (em sânscrito, formada para Deus), disse à mãe,pois, por meio dela, os desígnios de Deus deviam realizar-se. Que nenhum alimento animaljamais toque os seus lábios; só o arroz, o mel e o leite devem fazer parte de sua alimentação.Sobretudo evita que nenhum homem se una a ela em matrimônio: morriam igualmentetodos os que a tenham ajudado neste ato, antes de tê-lo realizado.

A menina recebeu, ao nascer, o nome de Devanaguy, conforme lhe havia sido ordenado, ea sua mãe, temendo não poder cumprir as prescrições de Deus dadas no palácio de seuirmão, que era um malvado, a levou para a casa de um dos seus parentes chamado Nanda,senhor de uma pequena aldeia situada nas margens do Ganges e célebre pelas suasvirtudes.

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Segue o texto narrando que a mãe dela, Lakmy, faleceu e a filha, Devanaguy, foi obrigadaa voltar para o palácio de seu tio, o tirano de Madura. Passo a um trecho inicial e pequeno paramostrar outra coincidência nas vidas do reformador indiano e do reformador judeu, trecho este docapítulo XI do título “A palavra de Deus se cumpre - Nascimento de Cristna - Perseguições dotirano de Madura - Matança de todos varões nascidos na mesma noite que Crisma (segundo oBagavad-Gîtâ e as tradições bramânicas)”. Ei-lo:

Certa tarde em que a virgem orava, uma música celestial começou de repente a encantar osseus ouvidos, a sua prisão ficou iluminada e Vishnu apareceu em todo o esplendor de suadivina majestade. Devanaguy caiu em profundo êxtase e tendo sido obumbrada, segundoa expressão sânscrita, pelo Espírito de Deus, concebeu.

O período de sua gravidez transcorreu para ela em um encantamento perpétuo. O meninodivino proporcionava à sua mãe prazeres infinitos que lhe faziam esquecer a Terra, seucativeiro e até a sua existência.

Na noite da iluminação de Devanaguy, quando o recém-nascido dera o seu primeiro vagido,forte vento fez uma abertura nos muros da prisão e a virgem e seu filho foram conduzidospor um enviado de Vishnu a um aprisco pertencente a Nanda, seu parente, situado nosconfins do território do rajá de Madura”.

Este último, quando teve notícia do parto e da fuga maravilhosa de sua sobrinha, foi presode um furor indescritível e, em lugar de compreender que era inútil lutar contra o Senhor epedir perdão, resolveu perseguir, por todos os meios possíveis, o filho de Devanaguy efazê-lo morrer, acreditando evitar com isto a sorte que o ameaçava.

Tendo tido um novo sonho que o advertia, de uma maneira precisa, do castigo que o esperava,“ordenou a matança, em todos os seus estados, dos meninos nascidos durante anoite em que Cristna veio ao mundo”, pensando desta maneira atingir seguramentequem, se-gundo o seu pensamento, deveria mais tarde derrubá-lo do trono. (Os grifos estão

no original).

O capítulo XII “Cristna começa a pregar a nova lei - Seus discípulos: Arjuna, seu maisardoroso colaborador”, começa dizendo que “Cristna contava apenas dezesseis anos quando deixoua companhia de sua mãe e de seu parente Nanda e se pôs a percorrer a Índia pregando a novadoutrina”.

Planeta, revista bem informada e de ótimos artigos, em seu n° 76 publicou um artigointitulado “Só os deuses são filhos de virgens”. Pois bem, num certo trecho lê-se o seguinte:“Quanto à concepção virginal, há um aspecto interessante pela similitude existente entrediversas religiões e lendas em relação aos seres míticos: estes quase sempre são filhos demães virgens, que conceberam por obra de alguma entidade superior ou através de contatoscom elementos naturais”.

Dito artigo termina com uma interrogação. Ei-la: “Que podem significar tantascoincidências? Na opinião dos estudiosos, elas mostram apenas que muitas das tradiçõescristãs são, na verdade, muito mais antigas do que o próprio Cristianismo. Para outros,essas coincidências mostram apenas que o anúncio da vinda do Filho do Senhor é tãoantigo que remonta às próprias origens da civilização, de modo que onde parece havercoincidências existe apenas confirmação de que um dia o Messias viria para salvar ahumanidade. Enfim, coincidências ou confirmações, quem pode saber?”

Com base em tantas dúvidas e interrogações, chegou-se a criar um Jesus que, além defilho de virgem, era um ser fluídico, surgindo daí uma hipótese que dividiu para sempre ummovimento que deveria ter unidade, como ninguém ignora ou não quer ignorar.

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Em que ano nasceu Jesus?

Abaixo transcrevemos grande parte do notável estudo publicado no “Diário de Notícias”,de 11-1-1953, pelo Sr. Roberto G. Bratcher, que replica as opiniões emitidas por um outro cultoestudioso de tais assuntos:

Deve ser esclarecido, desde logo, que a opinião dos eruditos bíblicos é que Dionisius Exiguus,o monge do século VI que introduziu o sistema cristão de datas, errou nos seus cálculos donascimento de Nosso Senhor Jesus-Cristo. Em vez de 754 A.U.C. (ab Urbe condita, isso é,“da fundação de Roma”), Cristo nasceu no ano 749 A.U.C., mais ou menos, isto é, em vezdo Cristo ter nascido no ano 1 da era cristã, ele nasceu no 5 (ou 6) a.C. - por absurdo quepareça. Diga-se logo, entretanto, que o aparente absurdo não é culpa dos Evangelistas,senão de Dionisius Exiguus, que errou nos seus cálculos.

Como diz o cônego Heládio Correia Laurini, no seu estudo sobre cronologia neo-testamentáriaem “Introdução Geral ao Novo Testamento” 1: “Dionisio, o Exíguo, instituiu a contagemda era cristã com erro enorme: datou para o nascimento de Jesus o dia 25 deDezembro do ano 753 ‘ab Urbe condita’ ou da fundação de Roma. Ora bem, comoJesus nasceu ‘nos dias do rei Herodes (o Grande)’, e Herodes morreu em Março ouAbril do ano 750, como está bem demonstrado, o fato miraculoso se deu pelomenos 4 anos antes do ano 753. (pág. 351)

Diz ainda o cônego Laurini: “Parece que o ano que oferece as maiores probabilidadesé o 747 de Roma e 7 a.C., isto é, antes da era cristã erroneamente marcada por Dionísio eseguida ainda hoje. ‘La Sacra Bíblia’, do Instituto Bíblico de Roma, prefere o ano 5 a.C. ou 5".(pág. 352)

Não é necessário multiplicar citações para demonstrar que os eruditos bíblicos católicose protestantes rejeitam o cálculo do monge Exíguo como errôneo.

Examinemos, portanto, as passagens citadas, para ver o que revelam quanto à data donascimento do nosso Senhor.

1. Lucas, I, 5: “Nos dias de Herodes, rei da Judéia”. Herodes, o Grande, era filho deAntipater, o Idumeu, o qual fora feito procurador da Judéia por Júlio César, no ano 47 a.C. (707A.U.C.). Até aqui o articulista acerta. Erra, entretanto, ao afirmar que Antipater morreu no ano 37a.C. (717 A.U.C.). Antipater morreu envenenado no ano 43 a.C. (711 A.U.C.)2.

Herodes, o Grande, foi feito rei pelos romanos no ano 40 a.C. (714 A.U.C.), mas levou3 anos para derrotar Antígono, o rei-sacerdote macabeu, e seus aliados, os Partas. Foi, portanto,no ano 37 a.C. (717 A.U.C.) que Herodes começou a reinar sobre a Judéia. Morreu em Março ouAbril do ano 4 a.C. (750 A.U.C.)

Pergunta o articulista: “Como foi possível tudo isso (relatado nos Evangelhos de Mateuse Lucas a respeito de Herodes), se já tinha falecido 4 anos antes?” A resposta é óbvia: tudo issofoi possível porque ele não havia falecido 4 anos antes. O erro não é do Evangelista: como diria eleque Herodes fizera tudo aquilo depois de morto? O erro é do monge Exíguo, o qual calculou queCristo nasceu em 754 A.U.C. Mas, como todos concordam, Herodes morreu no ano 750 A.U.C.:é evidente, portanto, que Cristo nasceu pelo menos alguns meses, ou até anos, antes da morte deHerodes - lá pelo ano 5 a.C. (749 A.U.C.), ou antes. Não culpemos o Evangelista do erro que cabeao monge, fazendo seus cálculos cinco séculos depois.

1 Bíblia Sagrada: Versão Clássica do Padre Antônio de Figueiredo, vol. XV, págs. 351-357.

2 EMIL SCHURER - A History of the Jewish People in the Time of Jesus Christ, Divisão I, vol. 1, pág. 386 (cfs.Josefo, Antiguidades, XIV, 11, 4, e Guerra dos Judeus, II, 11, 4.)

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2. Lucas, II, 1 e 2: “Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto,convocando toda a população do Império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento,foi feito quando Quirínio era governador da Síria”.

Foi esse recenseamento de César Augusto que levou José e Maria a Belém para sealistarem, pois ele era da casa e família de David. Enquanto estavam em Belém, Jesus nasceu.

Objeta o articulista a essa nota cronológica, dizendo que o recenseamento foi ordenadono ano 760 A.U.C. (7 d.C.). O articulista parece desconhecer a obra monumental do famosohistoriador e arqueólogo inglês, Sir William Ramsay, o qual provou a exatidão histórica dessa notacronológica em Lucas, II, 1 e 2. Ramsay, nos seus livros3, demonstrou que os recenseamentos sedavam periodicamente de 14 em 14 anos. O do ano 760 A.U.C. (7 d.C.) foi um deles: o mesmoEvangelista Lucas faz referência a esse recenseamento em Atos, V. 37. Teria dito ele que Jesusnasceu no tempo deste recenseamento? Teria sido uma contradição flagrante.

Pelo contrário, Lucas estabelece a diferença entre os dois dizendo cuidadosamente queo recenseamento do tempo do nascimento de Jesus foi o primeiro, quando Quirínio era governadorda Síria. Ramsay mostra ainda, por meio de inscrições históricas, que Quirínio foi governador daSíria duas vezes. Foi durante o seu segundo período de governo que se deu o recenseamento doano 760 A.U.C. (7 d.C.). O recenseamento anterior, quando Jesus nasceu, teria sido ordenado noano 746 A.U.C. (8 a.C.), quatorze anos antes. É fácil ver-se que, por uma ou outra razão, teriahavido alguma demora antes que o recenseamento fosse levado a efeito nas províncias, especialmentena Palestina, onde o representante dos romanos sempre tinha que tratar com muito cuidado osseus súditos rebeldes. Portanto, não há nada que milite contra a suposição de que esse primeirorecenseamento se efetuou na Palestina um ou dois anos depois de ordenado, isso é, 746-748A.U.C. (8-6 a.C.). Portanto, a data, em geral, concorda com a anterior.

3. Lucas, III, 1 e 23. “No décimo quinto ano do reinado de Tibério César - tinhaJesus cerca de trinta anos ao começar o seu ministério”.

Augusto morreu em 29 de Agosto, 167 A.U.C. (14 d.C.), sendo sucedido por Tibério, oqual reinou, portanto, de 14 d.C. até 37 da nossa era. O 15° ano do seu reinado seria 781-782A.U.C. (28-29 d.C.): se Jesus tinha, nessa data, cerca de 30 anos, há lugar para uma variação de3 ou 4 anos: como diz o cônego Laurini, ele poderia ter de 28-32 anos de idade. Nesse caso, a datado seu nascimento cairia entre 750-754 A.U.C. (4 a.C. - 1 d.C.).

Mas, é mais provável que Lucas data o 15° ano de Tibério, não da morte de Augusto,mas do começo do co-reinado de Tibério com Augusto, 2 anos antes da morte deste. Pois, conformeo testemunho dos historiadores Tácito e Suetônio, Tibério partilhou do reinado com Augusto unsdois anos antes da morte de Augusto em 767 A.U.C.

Fazendo, pois, os mesmos cálculos, conclui-se que, segundo essa passagem, Jesusnasceu entre 748-752 A.U.C. (6-2 a.C.). Novamente, essa data concorda com as duas anteriores.

Esse breve estudo demonstra, portanto, que nas três passagens Lucas concorda emafirmar que Jesus-Cristo nasceu entre os anos 747-752 A.U.C., a saber, de 7-2 a.C. A maioria doseruditos prefere os anos 748-749 A.U.C., isto é, 6 ou 5 a.C., como o ano em que Jesus nasceu.

Ninguém - e repetimos - ninguém exige dos historiadores antigos, nem mesmo dos bíblicos,a precisão científica com que se datam os eventos de hoje em dia. Para tanto não tinham nem osrecursos, nem o interesse. Dizer que “pouco se incomodaram com a verdade histórica de suasnarrações” por não revelarem eles essa precisão do historiador moderno, é, patentemente, umadecisão arbitrária e injusta.

3 WILLIAM RAMSAY - Was Christ Born at Bethlehem?, e Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the NewTestament.

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Afinal de contas, qual é o propósito do autor bíblico nessas três passagens? É o de fixaro ano em que Jesus nasceu? De maneira alguma. Na primeira passagem Lucas assevera queJesus nasceu quando Herodes, o Grande, era rei da Judéia. Certo ou errado? Todos concordamque ele está certo. Na segunda passagem ele relata que foi um recenseamento, durante o tempoem que Quirínio era governador da Síria, que trouxe Maria e José a Belém, onde Jesus nasceu.Está certo o historiador bíblico? As descobertas arqueológicas dizem que sim. Na terceira passagemo autor afirma que Jesus, com cerca de 30 anos de Idade, começou o seu ministério no 15° ano doreinado de Tibério4. Incorre em erro o autor sagrado? Não. Portanto, o valor histórico do seu relatonão pode ser impugnado: pois a erudição bíblica moderna tem demonstrado serem autênticastodas as três asseverações.

Nós, leitores do 20º século, é que perguntamos: coincidem essas notas cronológicas noseu testemunho quanto à data do nascimento do Cristo? E a resposta é que, em linhas gerais,elas, de fato, coincidem, dentro de um período de 4 a 5 anos.

Lucas, portanto, está vindicado pela erudição bíblica quanto à exatidão histórica comque relata os fatos. Suas asseverações não são, absolutamente, discordantes: não procede, portanto,a alegação de que ele cita “três épocas diferentes para sua narração do nascimento de Jesus”,ou de que há uma diferença de 10 anos entre as datas. Diga-se de passagem, aliás, que desde asinvestigações minuciosas e demoradas de Harnack, Ramsay e Streeter, poucos são os críticosbíblicos que se atrevem a atacar a historicidade do autor do 3° Evangelho. Descoberta apósdescoberta têm comprovado a verdade do que ele próprio afirma ter feito: “uma acuradainvestigação de tudo desde sua origem”.

Mais duas observações:

1. Marcos VI, 14, não se refere a Arquelau, e sim a Herodes Ántipas, tetrarca da Galiléiae Peréia. Nem um nem o outro recebeu o título de rei. A expressão “rei Herodes”nessa passagem é usada no sentido lato de “governador” (conferir ainda VI, 22, 25-27). Até o evangelista Mateus, que usa o título exato de “tetrarca” (XIV, I), em outrolugar usa o termo “rei” (XIV, 9). Portanto, não causa espécie que Marcos faça uso dotítulo.

2. As palavras de Lucas no prefácio do seu Evangelho (Lucas, I, 3, 4), quanto à maneiraem que fez suas investigações, de maneira alguma invalidam, ou mesmo afetam, adoutrina que o articulista denomina “a suposta e imposta inspiração da Bíblia”.Nenhuma formulação da doutrina da inspiração da Bíblia nega o elemento humanona composição das Escrituras Sagradas. Não há lugar aqui para desenvolver oensino sobre a inspiração das Escrituras: mas não é com um aparte superficial ecapcioso que crítico qualquer eliminará o elemento divino da formação literária daBíblia.

Em conclusão, devemos dizer que todos os estudos do último meio século, arqueologia,papirologia, história, paleografia, crítica literária, enfim, todas as disciplinas - têm contribuídopara aumentar, e não diminuir, a autoridade das Escrituras. Hoje a Bíblia está em situação muitomais segura, no que tange à parte histórica, do que estava há meio século. A evidência histórica,em peso, testifica do valor histórico das Escrituras, demonstrando serem as suas asseveraçõesdignas de toda a confiança. Outrossim, a experiência desse último meio século demonstra,sobejamente, que o texto original da Bíblia resiste, impávido, a todas as tentativas de apoucá-lo oudesprestigiá-lo”.

4 Cumpre notar que, a rigor, a data mencionada é a do início do ministério de João Batista; presume-se, entretanto,que João tenha pregado e batizado uns 6-12 meses antes do início do ministério do Messias. O 15º ano de Tibério,portanto, marcaria o início dos ministérios de João Batista e do Cristo.

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Nascimento de Jesus e a Astrologia

O artigo, cuja tradução em português se vai ler, é da autoria do Sr. Frederick BlighBond, antigo redator de The Journal of the American Society for Psychical Research e pessoamundialmente conhecida, não necessitando, pois, de apresentação. É de notar-se também queThe Journal era uma publicação científica nada espetaculosa.

O artigo do Sr. Bligh Bond é referente a um escrito automático ditado por Felipe, umdos discípulos de Jesus-Cristo, dando as posições planetárias exatas no instante do nascimentodo Mestre, permitindo, pela primeira vez, uma determinação de data e hora. Os detalhes fornecidospelo desencarnado foram formalmente verificados pela astrologia científica.

Salientamos que The Journal era um órgão nada espetaculoso pelo seguinte. Há, noescrito de Felipe, um detalhe curiosíssimo: é quando ele afirma que o nascimento de Jesus, emBelém, foi no verão e não no inverno. 25 de dezembro, como data do nascimento dele, eradesconhecido nos três primeiros séculos de nossa era. Esta data foi oficialmente aceita, pelaprimeira vez, em 353, sob o reinado do Imperador Constantino. Diz-se que dezembro é a época daschuvas na Palestina, que a escolha do dia 25 de dezembro para o Natal e o ano que nós empregamosno calendário foi fixado por um astrônomo russo em 534, depois de Jesus-Cristo e que este dia éa primeira data que a observação pode determinar como sendo a volta do Sol depois do solstício doinverno.

Quanto às últimas palavras do autor, reproduzimo-las aqui:

Certos detalhes dos ciclos planetários são conhecidos dos astrônomos e esses detalhesnão se encontram em nenhum livro de uso corrente entre o público, salvo, talvez, entre osdiscípulos modernos do culto da astrologia, os quais, por seus próprios estudos, podematribuir-lhes um significado especial.

A revelação de um fato astronômico detalhado, absolutamente desconhecido e incognoscívelà médium receptora, que foi, porém, verificado mais tarde por astrônomo profissional,pode muito bem ser considerado como uma revelação de origem supranormal ou podeindicar a posse de uma faculdade psíquica como meio de informação extraterrestre. Atribuirtal fato à coincidência é uma explicação que não é mais sustentável.

O incidente, que desejo pôr em evidência, possui um interesse todo especial em razão dassuas relações históricas, sobretudo do ponto de vista de uma exegese da própria Bíblia. Érelativa à questão da Natividade de Jesus e ele poderá servir para determinar esse ponto,em controvérsia, de saber em qual data deve começar a Era Cristã.

Durante os anos de 1924 e 1925, empreendi uma série de sessões, por meio da escritaautomática, com a médium Sra. Hester Dowden. Essas sessões tinham por fim uma questãode pesquisas arqueológicas, pois o nosso grande desejo era o de obter uma informaçãoprecisa sobre a fundação da região sagrada de Glastenbury, na Inglaterra, e de localizarali edifícios construídos em tempos imemoriais, mas, como sói acontecer tantas vezes emtrabalhos dessa espécie, as comunicações tomaram um caminho novo e inesperado.

Achamo-nos afastados do período medieval e postos em relação com as condições dessaidade nebulosa na ocasião em que se estabeleceu a primeira missão apostólica na Grã-Bretanha, período em que a tradição e a lenda são os únicos guias, pois esse tempo recuadonão possui a sua história.

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Francisco Klörs Werneck Jesus dos 13 aos 30 Anos

O espírito comunicante, que se dizia ser um jovem grego chamado Felipe, informou-nosque ele foi um dos membros de um grupo de doze missionários contemporâneos de Jesus,grupo esse que fundou a primeira igreja cristã da Grã-Bretanha, em Avalon (Glastenbury).Esse grupo estava sob a direção paternal de José de Arimatéia e o seu estabelecimento emGlastenbury se deu acerca de 47 anos depois de Jesus-Cristo.

De acordo com uma lenda muito espalhada, conta-se que o apóstolo Felipe visitou a Grã-Bretanha e que foi ele quem evangelizou a Ilha, porém o nosso informante declarou,firmemente, que ele não tinha direito algum de ser chamado apóstolo e, finalmente, nosinformou ainda que ele era o jovem diácono mencionado nos Atos dos Apóstolos como umdos sete escolhidos para o serviço das mesas sacramentais.

As comunicações, que se seguiram, formam um jornal de viagens missionárias de Felipe econstituirá um livro de muito grande interesse, sendo de narração vivente e de um estilovivo e colorido.

Para o fim do ditado desse jornal e pela pena da médium psicógrafa, o espírito comunicanteperguntou-nos: “Quereis aceitar o meu ditado do Evangelho que eu tinha escrito na Samaria,atualmente perdido, pois que o manuscrito foi queimado em Atenas, durante aqueles anoscheios de perturbação?”

Era eu quem devia decidir e desnecessário é dizer que achei útil e interessante consagrarum tempo suficiente para receber a versão do seu Evangelho. Pouco tempo depois recebia-se, em sessões sucessivas, um Evangelho completo5.

Nele se acha incluída uma narração, feita por Felipe, dos acontecimentos relativos àNatividade de Jesus, que lhe foram contados por outra pessoa. O próprio Felipe não eraentão nascido, pois tinha apenas 17 anos por ocasião da crucificação.

Neste artigo só me ocupo da versão dada por Felipe com relação à Natividade. Ele fala deuma grande estrela errante que foi o arauto dela. Insiste sobre o fato de que não é precisofazer confusão entre essa estrela errante e a verdadeira constelação ou agrupamento deplanetas no signo zodiacal em acordo com a realização das profecias que anunciavam onascimento de um Messias na geração de David. Esse agrupamento de planetas, disse ele,tinha sido calculado e, deste modo, sábios e profetas aguardavam -impacientemente omomento indicado.

Neste ponto é que a narração de Felipe toma maior interesse. Afirma ele que o nascimentode Jesus, em Belém, teve lugar no verão e não no inverno e compreendemos que o ano eraanterior à data correntemente empregada.

Com meticuloso cuidado, o nosso comunicante descreveu-nos a forma da constelação comosendo a de uma cruz, cujo pilar central era formado por três planetas em linha vertical: aLua no alto, Marte no meio e Vênus embaixo. Esses três corpos celestes se encontram nosigno de Caranguejo (Câncer), cujas estrelas principais formavam os dois braços de umacruz.

O signo de Câncer, disse ele, era visível antes d’alva para o Leste, acima de Jerusalém, ea configuração era exata uma hora antes da alvorada.

Pela mão da Sra. Dowden, a médium escrevente, Felipe desenhou a configuração, indicandoos pontos principais.

A 24 de novembro de 1924, a mesma entidade comunicante escrevia: “As estrelas visíveis,naquela ocasião, eram cinco e este número formava a constelação. A hora era a doCaranguejo. Achareis as estrelas como as desenhei, mas não tão exatamente, pois agoraelas estão um pouco mais afastadas umas das outras.

5 Esse Evangelho foi publicado com o texto completo por The Macoy Publishing Co., de New York, USA, (N.A.)

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Francisco Klörs Werneck Jesus dos 13 aos 30 Anos

Eu ignorava totalmente o agrupamento das estrelas no signo de Câncer e foi com certoespanto que verifiquei que este signo estava no céu, a Leste, pela manhã, durante o período do anoindicado por Felipe.

Pesquisando em um grande planisfério, achei os dois grupos de estrelas no Câncer,quase nas mesmas posições que Felipe as desenhara. É preciso notar que, nessa constelação,o grupo de estrelas à direita ou sobre o braço sul da cruz é o mais importante: era aquele outrorachamado “Presépio” ou “Creche” pelos romanos.

Este fato curioso foi comentado por Felipe da seguinte maneira: “Na verdade foi isto quese escreveu a propósito do nascimento de Jesus. Compreendeis que todos os grandes acontecimentosdo mundo estão escritos no céu. Assim, o nascimento na creche estava escrito no céu por ocasiãodo nascimento de Jesus”.

Segundo indicações dadas por Felipe, a hora do nascimento foi aquela em cujo momentoa Lua formava exatamente uma linha reta com os dois planetas Marte e Vênus, estando Marteentre os dois agrupamentos de estrelas no Câncer.

Os elementos determinantes na narração de Felipe, considerados friamente, do pontode vista da ciência astronômica, são os seguintes:

1° - Indicou-nos o signo zodiacal ascendente, apropriado ao período de ano do qual mefalou e isto para um ano bastante perto daquele historicamente aceito;

2° - Indicou-nos as posições da Lua e de Vênus na justa proporção dos seus movimentosnaquela época;

3° - Deu-nos detalhes precisos e inteiramente extraordinários concernentes às posiçõesdas estrelas do signo de Câncer, detalhes esses para nós inteiramente desconhecidose mais tarde verificados.

Muito tempo depois do recebimento deste ditado, achamo-nos em dificuldades paradeterminar as datas aproximativas às quais uma tal configuração teria podido apresentar-se durantealguns anos anteriores à data 1 depois de J.C..

Não tínhamos competência alguma em Astronomia e não podíamos mesmo saber se erapossível a esses planetas estarem em linha reta justa da maneira indicada durante o dito ano. Aquestão era muito complexa e não podia ser resolvida senão por pesquisas e cálculos especiais e adecisão final não podia ser dada senão por um sábio competente no mundo astronômico.

Também não estamos em posição de afirmar que o nosso informante extraterrestretivesse podido transmitir tudo que nos quisesse dizer, com bastante exatidão.

Mesmo considerando os ditados de Felipe com boa fé e concedendo-lhes uma perfeitaveracidade, é claro que a tarefa de transmitir detalhes de acontecimentos temporais deve ser deextrema dificuldade e isto ainda mais quando a questão de tempo aí se acha. Esta dificuldade sóiacontecer constantemente em experiências psíquicas e principalmente em se tratando de recordaçõesde um tempo há muito passado.

O acontecimento essencial fica na memória, mas as condições de tempo, de lugar e dascircunstâncias atinentes desaparecem ou se tornam de uma importância de tal modo diminutaque não se pode recordar delas com precisão. Grande foi a nossa satisfação quando, por intermédiode um amigo, um dos maiores astrônomos da América do Norte, aceitou o encargo de fazer pesquisasespeciais baseadas na narração de Felipe e de controlar todos os detalhes do seu traçado. Fizeram-se pesquisas e, ainda que o astrônomo tenha preferido ficar incógnito, ele nos enviou as suasconclusões por escrito.

Podemos dar um sumário de tais conclusões da seguinte maneira:

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A configuração indicada no escrito de Felipe teve lugar no dia 27 de setembro de67 antes de Cristo. 6

Esta combinação é cíclica e a tríplice conjunção pode-se fazer uma vez todos os 31 anose 4/10 em média, mas nem sempre com uma tal perfeição. Esta configuração ou constelação pôdeser visível, em uma forma reconhecível, talvez uma centena de vezes depois de cada data. Éinteressante notar que ela teve lugar neste ano de 1932 e se achou, em uma forma bastanteperfeita, na manhã de 29 de agosto.

O que nos interessa aqui, principalmente, é a verificação, rigorosamente científica, dedetalhes que se revelaram curiosamente precisos e tendo como origem a escrita automáticaproveniente de um desencarnado.

Deixamos aos nossos leitores a inteira liberdade de considerar os aspectos simbólicosou interpretativos desta informação e de sua verificação a respeito de tudo acima, pois tambémnão sou astrônomo.

.·.

6 Este emprego de dois algarismos pode ocasionar confusão aos nossos leitores que não estão ao corrente da cronologia.A Era Cristã começa em 1º de janeiro do ano 1 depois de Jesus-Cristo (e não houve ano 0 depois de Jesus-Cristo).Os astrônomos contam o ano 0 antes de Jesus-Cristo, porém os cronologistas chamam esse ano de 1 antes deJesus-Cristo. Em uso geral, então, o ano dado acima, para o nascimento dele, foi o ano 7 antes de Jesus-Cristo. Hápoucos anos publicou o matutino carioca “O Dia” uma notícia, proveniente de Paris, sob o título de “Cientistabritânico diz que Cristo nasceu 7 anos antes”. (N.A.)