Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá - Biografia
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Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira Fundado em 13 de fevereiro de 1955
Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos
CNPJ 07.217.980/0001-28
Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955.
______________________________________________________________________________
Jesuíno Marcondes de Oliveira e
Sá - Dados Biográficos
Vera Lúcia de Oliveira Mayer1
1. A Família
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, nasceu em Palmeira no dia 1º de junho de 1827, nos
arredores da cidade, na Fazenda “Palmeira”, atualmente, de propriedade da família Cherobim.
A Fazenda Palmeira pertencia e era a residência dos avós maternos de Jesuíno Marcondes, –
o tenente Manoel José de Araújo e sua esposa D. Anna Maria da Conceição de Sá.
O Tenente Manoel e D. Anna foram casados durante trinta e dois anos. Com o falecimento de
D. Anna em 21 de setembro 1816 e do tenente Manoel em 17 de novembro de 1825, a fazenda
Palmeira foi subdividida entre os doze filhos, para constituição de novos núcleos familiares. Eram
eles:
Ellias Ignácio de Araújo, Anna Joaquina de Oliveira, José Caetano, Manoel Mendes de
Araújo, Mathilde Umbelina da Glória, Domingos Ignácio de Araújo, Francisco José de Sá, Maria
Caetana de Sá, Cândida Flora, Cherubina Rosa, Rufina Antonia e Delphina Rosa.2 Todos nascidos
na Fazenda Palmeira. O quinhão onde estava a sede passou a ser chamada de chácara da Palmeira.
1 Vera Lucia de Oliveira Mayer – Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira. Gestão
2012/2014. 2 A variedade de sobrenomes existentes se dá, pela falta de legislação na época, que regulasse os registros.
Ficava a critério dos pais que assumiam ora um nome da família da mãe, ora da família do pai. Davam-se os
nomes mais diversos, adotando-se apelidos, nomes iguais, nomes dos padrinhos ou de parentes e assim vários
homônimos foram encontrados sem mesmo parentesco muito próximo, quase todos os registros eram feitos
nas igrejas.
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Jesuíno Marcondes era filho do alferes José Caetano de Oliveira - Barão do Tibagy - nascido
em Sorocaba em abril de 1794, e Cherubina Rosa Marcondes de Sá, Baronesa, nascida em Palmeira
no ano de 1794, e, já em sua viuvez, agraciada com o título de Viscondessa do Tibagy, logo após a
visita de S.M.I. D. Pedro II a Palmeira em maio de 1880.
Os pais de Jesuíno se casaram no dia 27 de novembro de 1814, na capela da Freguesia de
Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá. – hoje Município de Balsa Nova. Instalaram sua
residência no local denominado de “Rincão da Cria” mais tarde denominada de “Fazenda Baronesa”,
onde hoje está instalada uma unidade do Exército Brasileiro, a 2ª Cia. de Suprimentos.
José Caetano e Cherubina Rosa tiveram oito filhos: Jesuíno, Antonio, Ana, José Matias,
Francisca Caetana, Maria das Dores, Maria Clara e Zeferina3
Foram padrinhos de batismo de Jesuíno os seus tios o Capitão Domingos Ignácio de Araújo e
Dona Josepha Joaquina de França.
2. Seus Estudos
Jesuíno Marcondes iniciou seus estudos em sua casa, ainda na Fazenda Palmeira, como era
de costume nas famílias naquela época. Em 1834 com apenas sete anos foi para Curitiba para
freqüentar as séries iniciais, junto com o irmão José Mathias. Aos dezessete anos – 1844 mudou-se
para São Paulo, onde concluiu seus estudos secundários e iniciou o Curso de Direito na Faculdade de
Direito de São Paulo.- Algumas amizades de José Caetano, com alguns políticos liberais, foram úteis
a Jesuíno na orientação de seus estudos.
Em 1846 pretendia viajar para Pernambuco, mas seu pai exigiu que viesse a Palmeira, para o
casamento de uma de suas irmãs, que depois iria residir no Rio Grande do Sul.
Em 12 de dezembro de 1846 voltou para São Paulo e em fevereiro de 1847 estava no Rio de
Janeiro, para fazer a viagem de navio e seguir para Pernambuco.
Em janeiro de 1849, José Caetano escreveu para Jesuíno, dizendo que aprovava suas
pretensões à diplomacia, recomendando prudência e cautela ao filho, e que ele deveria ir para a
Europa, onde ficaria por dois anos estudando. Seu pai sempre o recomendava aos amigos e aos
colégios eleitorais, a candidatura de Jesuíno ao cargo de Deputado Provincial.
No dia 23 de outubro de 1849 Jesuíno Marcondes recebia o grau de Bacharel em Ciências
Sociais e Jurídicas, pois havia concluído o curso superior em Olinda-PE. Depois da formatura seguiu
com seu pai para o Rio Grande do Sul, posteriormente foi para São Paulo para adquirir a prática na
advocacia, antes de viajar para Europa.
3 Esposa de Antonio de Sá Camargo – Visconde de Guarapuava, a 2ª Viscondessa de Palmeira.
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Aos vinte e três anos, em dezembro de 1850 partiu do Rio de Janeiro para a França onde foi
recebido por alguns brasileiros, os quais se tornariam amigos estimados como: Carvalho Moreira –
depois Barão de Penedo – e Domingos J.G. Magalhães, futuro Visconde de Araguaia, entre outros.
Jesuíno tinha problemas de saúde, durante a sua estada na França aproveitou para fazer tratamento
de saúde.
Depois da França, Jesuíno esteve na Inglaterra, na Bélgica, na Holanda, onde encontrou ares
campestres, imensas pastagens, belos gados as cenas da vida pastoril que o deixaram muito
entusiasmado. Esteve também na Dinamarca, e após pretendia ir mais para o norte da Europa, porém
o frio do inverno rigoroso o impediu, então seguiu para a Alemanha e de lá retornou a França onde
ficou até a primavera. Depois foi para a Suíça, Áustria e para a região norte da Itália numa
permanência mais prolongada que o impediu de ir até a Grécia, Constantinopla, Espanha e Portugal,
destinos que faziam parte de sua viagem.
“Da Itália relatou ter sido muito especial, pois o Papa Pio IX, o acolheu de maneira
“paternal” na audiência concedida a ele.” (MARCONDES, 1926.)
Retornando da Europa no final do ano de 1852, terminada a sua especialização, deveria
iniciar a vida prática no Brasil.
3. O Início da Carreira e a Vida Política
Já no início de 1853, abriu um escritório de advocacia em Curitiba. “O pai via na carreira do
filho perspectivas brilhantes para o futuro. Dentre elas era o projeto de desanexação da Comarca de
São Paulo, para a criação da nova Província do Paraná” - projeto que a Lei nº 704, de 29 de agosto
de 1853 iria em breve converter em realidade. (MARCONDES, 1926).
Oito dias após a lei que separou a província do Paraná da Comarca de São Paulo, Jesuíno
Marcondes assumiu o comando do gabinete, chamado de Gabinete da “Conciliação” da Província
do Paraná, que unia os antigos partidos do império e que estava sob a presidência do Visconde
Honório Hermeto Carneiro Leão, depois Marquês do Paraná.
Vale citar nomes de algumas figuras que, mesmo participando da atividade política de São
Paulo, interessavam-se intensamente pelo Paraná, como: Conselheiro Carrão e Barão de Antonina –
este se correspondeu com Jesuíno durante o período em que esteve em Antonina aguardando a
chegada do primeiro presidente nomeado, o Conselheiro de Góes e Vasconcelos.
Em outubro de 1853 Jesuíno fez uma consulta eleitoral, em forma de circular, sobre sua
candidatura a Deputado Geral - como o cargo era denominado na época, onde apresentava suas
idéias e seu programa de trabalho, caso fosse eleito, entre elas: criar um sistema de estradas que
facilitasse as comunicações; conduzir o comércio pelo porto de Antonina; criação da educação
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pública gratuita; abertura de uma estrada ligando Palmas a Entre Rios, hoje distrito do Guaragi em
Ponta Grossa-Pr., a fim de atrair para o comércio da Província o grande volume de animais criados
nesta região; transferência da feira de animais de Sorocaba-SP para Castro-Pr.
Esta Circular recebeu a declaração de aceitação, assinada por pessoas importantes, como
Francisco Martins de Araújo, Generoso Pinto Leão, Balduino Taques, entre tantos outros.
Em 19 de dezembro de 1853, chegou o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos para a
instalação da província, e assumir como o seu primeiro presidente; na ocasião foi Jesuíno Marcondes
responsabilizado pela Inspetoria de Instrução Pública.
Neste período havia uma disputa política entre as povoações da “serra acima” e “serra a
baixo”, o que causava freqüentes desarmonias, originadas pelas diferenças de interesses das duas
zonas; Paranaguá, Morretes e Antonina representavam o comércio importador, contra a região de
acima da serra com a criação e venda do gado negociado com São Paulo e Rio Grande do Sul. Outra
causa de agitação e divergência, que atingira o auge nas reuniões da primeira Assembléia Legislativa
Provincial - das quais, Jesuíno também participou – era a escolha definitiva da sede da capital da
Província. Curitiba seria indicada, concorrendo com Paranaguá – a mais antiga das povoações do
Paraná. O presidente da Província acabou sendo favorável à escolha de Curitiba como a capital da
Província Paranaense, através da Lei Provincial nº 01, de 26 de junho de 1854.
Como advogado, Jesuíno Marcondes atuou em várias causas, inclusive para os palmeirenses,
em algumas questões seu pai pediu que o atendimento fosse de graça ou preço bem baixo.
4. O Casamento
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, casou-se na Vila de Morretes-PR, em 7 de janeiro de
1855, com Dona Domitilla Alves de Araújo, nascida em 1840, de tradicional família paranaense,
filha do Capitão Hipólyto José Alves e de Dona Maria Rosa de Araújo, de cuja união nasceram os
filhos: Emília, Maria Rosa, que faleceu ainda criança e filho Moysés. Teve dez netos, nove pela filha
Emilia e uma neta pelo filho Moysés. Este também se tornou um filho dos mais nobres e dignos da
Palmeira.
Jesuíno Marcondes foi marido respeitoso e delicado, ajudou na conclusão da educação da
esposa, pois esta tinha apenas quinze anos, quando do casamento. Também ajudava nas funções
domésticas, sempre preocupado com a educação e os estudos dos filhos e dos netos, não medindo
esforços para proporcionar boas escolas, inclusive fora do Brasil.
5. Cargos e Funções
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Totalmente envolvido e atento aos acontecimentos do Paraná e do Brasil, Jesuíno Marcondes
mergulhou e se entregou totalmente à vida pública onde ocupou vários e importantes cargos, por
eleição ou nomeação:
Deputado da Assembléia Provincial já na primeira legislatura– 1854, 1855, 1856, 1857, 1860,
1861
Inspetor Geral da Instrução Pública – 1854
Primeiro suplente de Deputado Geral - 1854
Procurador Fiscal do Tesouro Provincial; - 1856
Presidente da Municipalidade de Curitiba
Deputado Geral – nas 10ª, 12ª e 18ª Legislaturas – Quando residiu na Corte
2º Vice-Presidente da Câmara dos Deputados
Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura
Ministro e Secretario de Estado da Agricultura, Comércio e Obras Públicas- Decreto Provincial
de 8 de agosto de 1864/1865
Vice-Presidente da Província do Paraná com exercício interino em 1878/1879 e 1882
Durante vários anos, foi chefe do Partido Liberal, quando soube impor-se ao respeito de todos e
esteve bem perto de ocupar uma cadeira no Senado, em substituição ao Barão de Antonina se o
escolhido não fosse Manoel Francisco Correia.
Em 1880 liderou os preparativos em Palmeira, para recepção do Imperador D. Pedro II, quando
este esteve em visita ao Paraná, recepcionando parte da comitiva imperial em sua residência.
Em 1884 recebeu a princesa Izabel e sua comitiva, quando foram alforriados 52 escravos em
Palmeira, em solenidade festiva em sua residência.
Presidente da Província em 1889, até a proclamação da República.
Jesuíno produziu vários artigos, proferiu inúmeros discursos deixando registrada sua trajetória
nos anais de todos os postos que ocupou.
Em 1891 foi residir com a família na Suíça
Em 1861 preparava a sua segunda viagem à Europa, já pensando na aposentadoria e
iniciando a campanha para a candidatura de seu cunhado Dr. Manoel Alves de Araújo, também
conhecido como Maneco4 a Deputado Geral em 1863, quando os mais influentes – inclusive seu pai,
- queriam mesmo era o nome de Jesuíno para disputar o pleito.
Em 1862, de temporada na Europa, Jesuíno pensava em um breve retorno ao Brasil para
ajudar a cuidar da saúde de seu pai que já se encontrava muito adoentado e que por ordens médicas,
necessitava repousar em uma chácara em Paranaguá, onde deveria passar alguns meses, durante dois
4 Posteriormente “Maneco”, durante muitos anos, foi o representante do Paraná na Câmara dos Deputados.
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anos seguidos, porém, em 17 de novembro de 1863, falece o senhor seu pai – José Caetano de
Oliveira – Barão do Tibagy. Jesuíno teve tempo de passar os últimos de vida de seu pai ao lado dele.
No início do ano de 1864, já no Rio de Janeiro, Jesuíno também já estava com sua saúde
abalada5, além da dor pela morte do pai, recebeu a notícia do falecimento de sua irmã mais velha –
Francisca Caetana Marcondes de Oliveira e Sá.
Em agosto de 1864 Jesuíno foi eleito 2º vice Presidente da Câmara dos Deputados. No
mesmo mês escreve ao irmão que haveria uma “recomposição ministerial”, onde ele iria comandar o
Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
6. Jesuíno Marcondes: Ministro
Assumiu o posto em 31 de agosto de 1864. “O Ministério era para ele um posto de sacrifício
ao dever, pois estava com a saúde prejudicada e os futuros acontecimentos no Brasil iriam aumentar
ainda mais este sacrifício, dentre eles, a Guerra do Paraguai, que veio a sobrecarregar suas
atividades”. (MARCONDES,1926). Mesmo assim no patriótico ministério de que fez parte, muito se
salientou a sua inteligência em dias tão difíceis para o Brasil.
Membro de um governo representativo, num momento de grandes crises e de ordem pública,
estava sempre inteirado de toda a situação do seu Ministério. Destacava-se diariamente em
conferências ministeriais com o Imperador, nas sessões do Conselho de Estado e com os altos
membros do comércio. Manteve muita habilidade para lidar com a forte crise com os banqueiros.
Ainda a noite esboçava as medidas que deviam reduzir a burocracia, nunca esquecendo sua
Província natal – O Paraná- quando pode executar importantes obras para o seu desenvolvimento e
progresso. Uma delas a navegabilidade dos Rios: Iguaçu, Paranapanema e Ivaí, bem como da
abertura de novas estradas.
Jesuíno mostrou-se sempre um homem prático para ocasiões difíceis, qualidades
reconhecidas pelo próprio Imperador, que apreciava o valor do seu Ministro.
Por carta sempre foi informando a família e os amigos sobre os acontecimentos da Corte e do
seu Ministério. Constantemente abordava a sua debilitada saúde, e que estava muito magro, mas
nunca entrou em detalhes a respeito de sua doença como também nunca foi relatado em carta a
gravidade ou não do mal que ele sofria.
Em março de 1865 no auge da guerra do Paraguai, Jesuíno desabafa em carta que escreve
para a família citando a diversidade de opiniões sobre o tratado de Montevidéu. “{...}Na corte, diz o
“Diário” que nós enlameamos o Brasil, aprovando a convenção de Montevidéo{...}”
(MARCONDES, 1926).
5 Autores que escreveram sobre Jesuíno, sempre mencionaram sua saúde precária, no entanto nunca revelaram
a sua doença.
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Jesuíno desejaria que as tropas de guerra seguissem pelo Paraná, para atingir em linha reta até
Assumpção, o plano apesar de ter atraído o Ministro da Guerra, não foi bastante para ser adotado – a
estratégia seguiu pelo Rio do Prata – mais distante.
Completados oito meses de mandato no Ministério, nos primeiros dias do mês de maio de
1865, logo que se abriam as Câmaras, da-se a retirada do Gabinete, e todos os Ministros
apresentaram suas demissões para sua Majestade, o Imperador. Jesuíno Marcondes comunicou o fato
aos seus cunhados, pedindo que transmitissem aos outros amigos. Um trecho da correspondência
dizia:
“...Ontem retirou-se o gabinete de 31 de agosto. Teve elle, até sua última hora,
o apoio dos chefes liberaes. Dias antes, alguns amigos, pensando que teríamos
fraca maioria, aconselhavam-nos que nos retirássemos, antes da abertura do
parlamento. Tínhamos violado a lei (nas medidas extraordinárias exigidas pela
crise bancária), essa retirada obscura teria ares de fuga. Só devíamos deixar o
poder, por uma das causas do systema: falta de confiança da coroa ou do
parlamento. Na eleição da mêsa, manifestou-se esta: o candidato ministerial foi
eleito pela sorte. Logo depois, reuniram-se os ministros em conselho e
resolveram dissolver o gabinete. Não podíamos propor à Coroa outro alvitre,
sem assumirmos francamente a dictadura; porque não tínhamos orçamento, nem
meios legaes de levantar fundos para a guerra. S.M. acceitou nossa demissão e
encarregou de organizar o novo gabinete ao Visconde de Abaeté. A situação é
grave e a Câmara está por tal modo subdividida que difficilmente se organizara
um ministério forte, como convém ao paíz, é a situação. Esse deve ser o empenho
dos liberaes sensatos e dedicado á causa pública. Esse é meu ardente voto.
Quanto ao gabinete de 31 de agosto, não sei como a história o julgará. Elle
recebeu impávido os mais desabridos vendavaes que têm soprado sobre a
grandeza do Brasil, e, deixando o leme do Estado, o vê armado de um exército
forte, cercado de aliados, em vez de inimigos, e vai entrar nos campos da glória.
Quanto ao interior, a crise está passada e as rendas do Estado nunca subiram
tanto. Volto pois á vida privada, com a paz em minha consciência, convencido de
que servi o meu paiz, como bom brasileiro; mas amanhã vou encontrar no gôso
de minha liberdade, e voltarei a pertencer-me á mim mesmo e á minha família.”
(MARCONDES, 1926).
Jesuíno, que pensava em finalmente se aposentar depois de terminadas as atividades de
Ministro, permaneceu ainda na ativa pela Corte, pelo menos até agosto de 1865. Entre os interesses,
estava a questão dos limites provisórios entre as províncias do Paraná e Santa Catarina.
7. O Retorno a Palmeira
De volta ao Paraná em setembro de 1865, instala-se por algum tempo na Fazenda Conceição,
de onde conseguia avistar o sítio onde nasceu. Junto com sua mãe e seus irmãos promoveu
melhoramentos na Fazenda, a expansão na pecuária e na agricultura, dedicando-se à vida privada
exercendo também suas atividades como advogado.
Neste período, Jesuíno esteve afastado dos postos representativos da política, mas continuou
sempre influente tanto no Paraná quanto na Corte, nunca tendo se desligado do partido político a que
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pertencia e por desejos e interesses desse partido - Liberal, algumas vezes exerceu as funções
presidenciais, quando ocupou o cargo de Vice Presidente da Província do Paraná em curtos períodos:
em 1878/1879 e 1882.
Em 1880 liderou os preparativos para a recepção do Imperador, em Palmeira, quando este
esteve em vista ao Paraná, passando em Palmeira no dia 25 de maio. O imperador e sua comitiva se
hospedaram na casa de sua mãe a Baronesa do Tibagy e outros na casa de Jesuíno, no solar onde
hoje está instalado o Museu Histórico de Palmeira
Após a visita do Imperador à Palmeira, talvez Jesuíno Marcondes tenha vivido a situação
mais constrangedora da sua vida pública, pois ele como tantos outros almejavam receber título de
nobreza.
Em conseqüência do episódio das terras para os imigrantes alemães do volga no “Capão da
Anta”, terras vendidas por ele e que se revelaram impróprias para a agricultura, o que teria feito o
Imperador se irritar e negar a titulação. Com isso, sua mãe já Baronesa, mesmo que viúva, foi
elevada a Viscondessa.
Decorridos vários anos da sua vida como cidadão da Palmeira, entre os seus escritos, foram
encontrados relatos que revelam a preocupação em relação à imprensa que publicava a respeito da
integridade mental do imperador, lamentavelmente discutida; a fragilidade da Regência; dos partidos
e o Governo; a falta de credibilidades das instituições; agitação causada pelo abolicionismo;
indisciplina militar; a política evoluindo vivamente para a democracia; federação das províncias;
conservadores divididos, ministérios fracos, enfim uma avaliação da situação do Brasil.
8. A Última Presidência da Província
As circunstâncias em que se apresentaram em junho de 1889, com os conservadores
entregando o governo aos liberais e com organização de um novo gabinete, quando em viagem a
Antonina, Jesuíno recebeu a nomeação para Presidente da Província do Paraná. Como primeiro
governo da nova situação, Jesuíno teve de resolver os problemas deixados pela administração
anterior além das demais providências costumeira, em início de gestão quando não só a província do
Paraná, como todo o Brasil já viviam as expectativas de mudanças.
Apesar dos falatórios e sombras levantadas contra ele por seus opositores políticos,
foi indiscutível sua benéfica atuação administrativa no Paraná, onde suas vistas
largas e opulência material deviam levantar invejosas contra si, arrastando opinião
que a falta de documentação histórica facilmente explica e justifica. (CARNEIRO,
-1994)
Em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República, o Marechal Deodoro
encarregou o Coronel Cardoso Junior da manutenção da ordem pública no Paraná. Em vista desta
comunicação, Jesuíno declarou terminada sua missão como Presidente da Província, quando
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procedeu cautelosamente a transição para o novo regime, inclusive se colocando a disposição da
pátria. Reorganizou sua vida, podendo então recolher-se aos interesses pessoais e familiares. Jesuíno
não demonstrou antipatia pela Republica, nem se associou a qualquer projeto de reação contra ela.
Já com seus sessenta e dois anos de idade, considerou-se aposentado, tendo se dedicado
quarenta deles, a serviço da Pátria Brasileira.
9. Os últimos anos de vida
Depois de dois anos, tendo já organizado sua vida pessoal, em dezembro de 1891 partiu com
sua família para Europa, fixando-se em Genebra, onde viveu por mais doze anos. Nunca se esqueceu
de Palmeira, e sempre se ateve às noticias e ao progresso do Brasil, tendo escrito inúmeras cartas aos
familiares e amigos do Brasil.
Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá faleceu no dia 7 de outubro de 1903 aos setenta e seis
anos de idade, em Genebra na Suíça, onde foi sepultado. A causa morte não nos é conhecia.
A família recebeu várias manifestações de pesar e homenagens póstumas de vários
palmeirenses, de políticos brasileiros, da Princesa Izabel da imprensa nacional e estrangeira, que por
unanimidade reconheceram os seus méritos e o seu espírito de fina cultura intelectual, o trabalho em
prol da ex-província paranaense e a sua dedicação dispensada ao Brasil, durante toda sua existência.
Das inúmeras cartas e apontamentos que escreveu ao longo da vida, o filho Moysés
Marcondes, coletou, editou e publicou o livro “Pae e Patrono”, em 1926, quando do seu ingresso na
Academia de Letras do Paraná, o que ocasionou fonte e base de pesquisa para estudo da história do
Brasil, do Paraná e principalmente uma das primeiras obras publicada a respeito da história de
Palmeira.
Recentemente, brasileiros estiveram em Genebra, para visitação ao túmulo de Jesuíno e de
sua esposa Domitilla, mas talvez por dispersão da família ou por fatos que desconhecemos, o jazigo
foi abandonado e lá não foi encontrada a sepultura, nem mesmo a lápide com as inscrições de
Jesuíno e de Domitilla.
Em Palmeira, sua antiga residência, o Solar de Jesuíno Marcondes, na Praça Raul Braz de
Oliveira abriga hoje o Museu Histórico; uma das principais ruas da cidade também leva o seu nome,
além da tradicional escola, tem Jesuino como patrono.
Pelo Brasil a fora, inúmeras ruas têm a denominação do palmeirense “Conselheiro Jesuíno
Marcondes de Oliveira e Sá”.
Jesuíno Marcondes é considerado um dos mais elevados vultos da história paranaense, o que
muito orgulha os palmeirenses.
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REFERENCIAS
CARNEIRO, David. D.PEDRO II NA PROVÍNCIA DO PARANÁ 1880– 1943.
HISTÓRIA DO PARANÁ Vol. I e II – GRAFIPAR- Gráfica Editora Paraná Cultural Ltda , 1969
FREITAS, Astrogildo de. PALMEIRA REMINISCÊNCIAS E TRADIÇÕES II, Editora Lítero-
técnica-1984.
MARCONDES, Moysés. PAE E PATRONO, Typographia do Annuario do Brasil, 1926.
MAYER, Teresa Wansovicz – MEMÓRIAS DE PALMEIRA, Departamento de Educação –
Prefeitura de Palmeira – 1992
MOREIRA, Júlio Estrela. FREGUESIA DA PALMEIRA, Editora A.M. CAVALCANTE e CIA
LTDA – 1975.
NEGRÃO, Francisco. GENEALOGIA PARANAENSE, Impressora Paranaense, Curitiba – 1926.
ROMAGUERA NETTO, Luiz – GERTRUDES E O PADRE CAMARGO, Repro-Ste Indústria
Gráfica Ltda – 1992.