JESUEL CREPALDI JUNIOR -...

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS JESUEL CREPALDI JUNIOR EFEITO DA DILUIÇÃO DE ETANOL EM ÓLEO LUBRIFICANTE DE BAIXA VISCOSIDADE NO COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO DO CONTATO ANEL DO PISTÃO/ CILINDRO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LONDRINA 2017

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

JESUEL CREPALDI JUNIOR

EFEITO DA DILUIÇÃO DE ETANOL EM ÓLEO LUBRIFICANTE DE

BAIXA VISCOSIDADE NO COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO DO

CONTATO ANEL DO PISTÃO/ CILINDRO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

LONDRINA

2017

JESUEL CREPALDI JUNIOR

EFEITO DA DILUIÇÃO DE ETANOL EM ÓLEO LUBRIFICANTE DE

BAIXA VISCOSIDADE NO COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO DO

CONTATO ANEL DO PISTÃO/ CILINDRO

LONDRINA

2017

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Materiais. Orientador: Prof. Dr. João Luiz do Vale Co-orientador: Dr. Eduardo Tomanik

A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso.

TERMO DE APROVAÇÃO

JESUEL CREPALDI JUNIOR

EFEITO DA DILUIÇÃO DE ETANOL EM ÓLEO LUBRIFICANTE DE BAIXA VISCOSIDADE NO COMPORTAMENTO TRIBOLÓGICO DO

CONTATO ANEL DO PISTÃO/ CILINDRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado no dia 26 de outubro de 2017 como

requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia de Materiais da

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Londrina. O candidato foi

arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados.

Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

_____________________________________________________ Profa. Dra. Silvia Midori Higa

(UTFPR – DAEMA – LD)

_____________________________________________________ Prof. Dr. Amadeu Lombardi Neto

(UTFPR – DAMEC – LD)

_____________________________________________________ Prof. Dr. João Luiz do Vale (UTFPR – DAMEC – LD)

_____________________________________________________ Prof. Dr. Fabiano Moreno Peres

(UTFPR – Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais) Coordenador do Curso de Engenharia de Materiais

Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Londrina

Coordenação de Engenharia de Materiais

Aos meus pais, Maria Claudina Pinheiro Crepaldi e Jesuel Crepaldi, pessoas

humildes, as quais se dedicaram plena e ardorosamente ao meu processo de

educação formal.

À Ellen Rodrigues dos Santos, pelo companheirismo e apoio durante a minha

jornada de formação profissional e pessoal, apesar das dificuldades.

Aos meus orientadores e colaboradores, João Luiz do Vale, Eduardo

Tomanik, Ciro Galvão, Roberto Souza e Francisco José Profito, pessoas de

caráter idôneo, comprometidas a sempre dar e receber, aprender e ensinar,

pois afinal, o conhecimento pertence a todos.

AGRADECIMENTOS

Certamente gostaria de mencionar todos que contribuíram à minha

experiência profissional nesses parágrafos que se seguem, porém não há meios de

inserir todas as pessoas que fizeram a diferença nessa parte importante da minha

vida, e peço desculpas desde já caso não atendi ou mencionei o nome de alguém.

O presente trabalho foi originado durante meu período de participação em um

bridge Project do consórcio denominado Triboflex, o qual tem como objetivo gerar

soluções tribológicas inovadoras para o mercado de motores Flex Fuel.

Dessa forma, gostaria de primeiramente citar os nomes das instituições e

empresas, as quais reuniram esforços em torno do tema estudado aqui. Assim, é com

imenso prazer que menciono a Idemitsu Lube South America Ltda, a qual concedeu

todos os lubrificantes que foram utilizados para a realização dos ensaios anel sobre

camisa do cilindro. Esses últimos materiais foram doados pelo centro de tecnologia

da Mahle do Brasil Ltda., que é um dos mais competentes em excelência e tecnologia

de anéis de pistão em esfera global. Dessa forma, também deixo registrado meus

sinceros agradecimentos à Mahle do Brasil.

Aqui, gostaria de mencionar também a participação crucial da USP e mais

especificamente do LFS – Laboratório de fenômenos de superfície, o qual foi

responsável pelo desenvolvimento e amadurecimento das ideias que são expostas

aqui. Através do LFS – um laboratório altamente equipado quando o assunto é

tribologia de motores de combustão interna, foi possível realizar técnicas avançadas

de caracterização de materiais como RAMAN, MEV, EDX e interferometria

tridimensional de luz verde, as quais foram cruciais para obter resultados sólidos e

confiáveis.

Por último, gostaria de apontar alguns nomes que colaboraram e muito na

minha jornada desde o início até a concretização deste trabalho. Portanto, é com

satisfação que aponto os senhores João Luiz do Vale, Eduardo Tomanik, Ciro Galvão,

Roberto Souza e Francisco José Profito, como sendo o grande ombro, em cima do

qual me apoiei para chegar até aqui.

RESUMO

CREPALDI, J. Efeito da diluição de etanol em óleo lubrificante de baixa viscosidade no comportamento tribológico do contato anel do pistão/cilindro. 2017. 118 f. Trabalho de conclusão de curso – Engenharia de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2017. Com a tendência mundial ao pensamento sustentável, biocombustíveis renováveis como o etanol vem ganhando cada vez mais espaço, e a sua aplicação em motores Flex Fuel oferece vários benefícios, como a redução da emissão de CO2. Porém, a utilização de etanol como combustível traz alguns obstáculos tribológicos significantes. Neste contexto, o presente trabalho teve como principal objetivo analisar a influência da diluição, por etanol anidro e hidratado, de um lubrificante de baixa viscosidade 0W-20 API SN no comportamento tribológico do contato anel do pistão/camisa do cilindro por meio de um teste reciprocativo conduzido em um tribômetro SRV. As amostras da camisa brunida, fabricada em ferro fundido cinzento, e do anel PVD, foram extraídas diretamente de peças reais de um motor de combustão interna. O comportamento tribológico foi avaliado com base em resultados obtidos em dois tipos de ensaios independentes - ensaios de curta duração, representativos das sequencias de atrito, e de longa duração, representativos da sequência de desgaste. Com esse procedimento, o atrito foi avaliado a partir dos resultados obtidos de ambos os ensaios por meio da sua caracterização em curvas Stribeck-like, bem como do seu comportamento em função do tempo - obtido nos ensaios de longa duração. O desgaste foi discutido em relação a perda volumétrica da camisa do cilindro. Com base nos resultados obtidos, foi encontrado que, a adição do modificador de atrito - friction modifier (FM) à formulação do óleo base melhorou o desempenho tribológico. Assim, atrito e desgaste foram reduzidos substancialmente, o que atesta desempenho superior desse lubrificante em regimes de atrito misto e limítrofe devido a influência do FM. Porém, quando etanol anidro ou hidratado estavam presentes nesse óleo, o comportamento tribológico mudou consideravelmente – atrito e desgaste aumentaram, principalmente em condições representativas do ciclo urbano aplicadas aos ensaios, com a presença do etanol hidratado perdurando por mais tempo. Estas condições seriam equivalentes a partida a frio do motor de combustão interna e seu aquecimento durante trajetos de curta duração. Após os testes, a presença de tribofilme proveniente do FM foi constatada na superfície desgastada de todas as camisas, e uma relação entre o volume de desgaste medido e a área recoberta por esse tribofilme foi encontrada. Desta maneira, a presença de etanol anidro e hidratado influencia o comportamento tribológico do contato anel do pistão/camisa decisivamente, principalmente em baixas temperaturas onde a presença de etanol e água aparenta alterar as propriedades do lubrificante, de modo a causar aumento do CoF e do desgaste. Palavras-chave: Etanol. Diluição. Lubrificante. Tribologia. Stribeck-like. Anel do pistão/cilindro. Modificador de atrito. Tribofilme.

ABSTRACT

CREPALDI, J. Effect of the ethanol dilution in a low viscosity engine oil lubricant on the tribological behavior of piston ring/cylinder liner contact. 2017. 118 f. Trabalho de conclusão de curso – Engenharia de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2017. With the worldwide trend towards sustainable thinking, renewable biofuels such as ethanol are gaining further importance, and its application in Flex Fuel engines provides several benefits such as the lowering of CO2 emissions. However, the use of ethanol as a fuel brings some significant tribological drawbacks. With this in mind, the present work had as its main goal the analysis of both anhydrous and hydrated ethanol dilution effect in a low viscosity engine oil lubricant 0W-20 API SN on the tribological behavior of piston ring/cylinder liner contact with aid of a reciprocating test conducted by a SRV tribometer. Honed gray cast iron cylinder liner and PVD ring samples were taken directly from an internal combustion engine. The tribological behavior was evaluated with regard to the results acquired in two independent tests: short and long duration tests, representative of friction and wear sequences, respectively. With this procedure, CoF was judged from both tests by means of its characterization depicted on Stribeck-like curves, as well as of its behavior as a function of time, recorded from the long duration tests. Wear was discussed according to its response based on the liner worn surfaces measures. Relating to the results obtained, it was found that, with the addition of the Friction Modifier to the base oil formulation, both friction and wear reduced substantially, which attests the superior performance of such oil in mixed and boundary friction regimes due the FM influence. However, when anhydrous or hydrated ethanol were present in this lubricant, the tribological behavior was changed notably – friction and wear increased markedly, mainly in conditions representative of urban cycle, i. e., cold-start, warm-up and short-trips occasions, with the presence of hydrated ethanol lasting longer. After the tests, the tribolfilm presence provided by the FM was found on the surfaces for all tested liners, and a correlation between the measured wear volumes and the area covered by the tribofilm was encountered. Hereby, the anhydrous and hydrated ethanol presence influences the tribological behavior of the piston ring/cylinder liner contact critically, mainly at low temperatures, when ethanol and water might alter the lubricant properties and performance by increasing both CoF and wear. Keywords: Ethanol. Dilution. Lubricant. Tribology. Stribeck-like. Piston ring/cylinder liner. Friction Modifier. Tribofilm

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação esquemática da distribuição da conversão de energia em

um motor Otto enfatizando as perdas por atrito no conjunto de anéis ...................... 19

Figura 2 - Área real do contato de superfícies rugosas em contato; Ar é a área de

contato real, ou seja, 𝐴𝑟 = 𝑖 = 1𝑛𝐴𝑖 , n é o número de asperezas .......................... 22

Figura 3 - Esquema de um sistema tribológico ......................................................... 23

Figura 4 - Exemplos de tribossistemas e seus principais objetivos ........................... 24

Figura 5 - Representação esquemática do modelo para o atrito embasados em a)

forças adesivas e b) forças que causam deformação ............................................... 25

Figura 6 - Representação esquemática dos 4 principais mecanismos de desgaste . 27

Figura 7 - Desgaste abrasivo à (a) 2 e (b) 3 corpos .................................................. 28

Figura 8 - Camisa de cilindro de um motor danificada por scuffing ........................... 29

Figura 9 - Aparência das superfícies desgastadas por: (a) adesão, (b) abrasão, (c)

fadiga superficial e (d) reação triboquímica ............................................................... 30

Figura 10 - Representação esquemática do diagrama de Stribeck ilustrando os

regimes de lubrificação ............................................................................................. 32

Figura 11 - Principio da geração do filme hidrodinâmico entre duas superfícies não

paralelas .................................................................................................................... 34

Figura 12 - Exemplo da aplicação do formato de uma superfície parabólica em um

anel de pistão ............................................................................................................ 35

Figura 13 - Avaliação do índice de viscosidade ........................................................ 37

Figura 14 - Gráfico de temperatura-viscosidade para alguns óleos multi/monograu . 39

Figura 15 - Efeito do desempenho do antioxidante na limpeza do motor: de alta à boa

até média (da esquerda para a direita) ..................................................................... 41

Figura 16 - Representação esquemática da mudança da conformação do corretor de

viscosidade durante o aumento da temperatura ....................................................... 42

Figura 17 - Fórmula química estrutural do ZDDP ...................................................... 43

Figura 18 - Evolução da estrutura de almofada (pad-like) do tribofilme de ZDDP,

medida por meio da técnica AFM .............................................................................. 44

Figura 19 - Representação esquemática da estrutura e composição da almofada (pad-

like) ............................................................................................................................ 45

Figura 20 - Representação esquemática do mecanismo de lubrificação limítrofe na

presença de um agente formador de filme, FM. ........................................................ 46

Figura 21 - Espectro Raman dos picos e valos da zona de desgaste transversal na

presença de um óleo 5W30-SM ................................................................................ 47

Figura 22 - Estrutura e função do sulfanato de cálcio e sua ação como aditivo

detergente e dispersante ........................................................................................... 48

Figura 23 - Evolução dos óleos lubrificantes segundo as especificações da API ..... 50

Figura 24 - Motor de combustão interna reciprocativo .............................................. 51

Figura 25 - Panorama geral dos componentes de relevância dos motores de

combustão interna, os quais redução de atrito e desgaste são desejáveis ............... 52

Figura 26 - Representação do conjunto do pistão. .................................................... 53

Figura 27 - Exemplo do conjunto de anéis para diferentes tipos de motores ............ 54

Figura 28 - Representação esquemática do tribossistema anel do pistão/cilindro .... 55

Figura 29 - Representação esquemática do perfil de desgaste do cilindro causado pelo

deslizamento do conjunto de anéis no PMS.............................................................. 56

Figura 30 - Tecnologias de recobrimento utilizadas no conjunto de anéis, as quais

visam redução de atrito e desgaste ........................................................................... 58

Figura 31 - Imagem adquirida por MEV de um recobrimento DLC no primeiro anel de

compressão ............................................................................................................... 60

Figura 32 - Comparação relativa do CoF para diferentes tipos de recobrimentos

utilizados em anéis, medidos em um tribômetro SRV sob condições de lubrificação

mista .......................................................................................................................... 60

Figura 33 - Processos de produção para blocos de motores e superfícies de cilindros

.................................................................................................................................. 61

Figura 34 – (a) Representação esquemática do processo LDS-TWAS e (b) a

concomitante superfície do cilindro originada no processo de recobrimento ............ 63

Figura 35 - Representação esquemática do processo de brunimento ...................... 64

Figura 36 – (a) Exemplo da topografia do cilindro produzida pelo processo de

brunimento, bem como (b) a representação esquemática de suas funções ............. 65

Figura 37 - Comparação por meio de MEV entre as superfícies brunidas de FoFo

cinzento antes e após ensaio de 4 hs (condição de Fn=75 N, f=5 Hz e Cp=10 mm) 66

Figura 38 - Topografia da superfície do cilindro estruturada por Laser ..................... 67

Figura 39 - Equipamento a) CETR UMT e b) representação esquemática do

movimento reciprocativo; c) curva de Stribeck obtidas através dos testes de atrito a 50

N e d) resultados das medições do desgaste para diferentes acabamentos superficiais

.................................................................................................................................. 68

Figura 40 - Representação esquemática da cadeia de testes tribológicos aplicada à

avalição do anel/cilindro. ........................................................................................... 69

Figura 41 - Fluxograma dos procedimentos do trabalho. .......................................... 70

Figura 42 - Bancada de teste da SRV4 com detalhe da montagem do segmento do

anel e do cilindro. 1) Suporte do anel do pistão, 2) Suporte do cilindro, 3) Bloco de

aquecimento com piezo-elemento, 4) Biela para a aplicação da força FN e 5) Braço

linear de movimentação. ........................................................................................... 71

Figura 43 – Esquema dos corpos de prova (a) da camisa do cilindro e (b) do anel do

pistão. ........................................................................................................................ 72

Figura 44 - Imagens (a) e (b) da superfície do anel em diferentes magnificações

obtidas por estereoscópio, (c) e (d) são imagens da superfície da camisa adquiridas

por estereoscopia e MEV, respectivamente. ............................................................. 75

Figura 45 - Curva de Abott-Firestone com os parâmetros da família Sk para a Camisa

e o anel. .................................................................................................................... 78

Figura 46 - Variações de óleo B e C provenientes da diluição de etanol e etanol mais

água no óleo A. ......................................................................................................... 80

Figura 47 - Suportes para o segmento do anel e camisa. ......................................... 81

Figura 48 - a) e b) dispositivo para alinhamento dos corpos de prova, c) e d) corpos

de prova alinhados. ................................................................................................... 82

Figura 49 - Configuração da montagem dos corpos de prova no interior da câmara de

ensaio da SRV. 1) Segmento do anel, 2) Suporte do anel, 3) Suporte da camisa

preenchido com óleo, 4) Parafuso de fixação lateral. ................................................ 83

Figura 50 - Esquema do procedimento sequencial para avaliação do comportamento

tribológico. ................................................................................................................. 83

Figura 51 - Representação gráfica das etapas do procedimento com seus respectivos

parâmetros. ............................................................................................................... 85

Figura 52 - Representação do CoF instantâneo (FSA) medido e salvo no sistema de

controle do tribômetro SRV. Parâmetros de obtenção de dados: carga = 50N,

temperatura = 50°C, frequência = 20 Hz, curso = 3 mm. .......................................... 87

Figura 53 - Configuração do CCI para a medição do desgaste na camisa. .............. 88

Figura 54 - Imagem topográfica da zona de desgaste medida por interferômetro de luz

verde CCI ilustrando a sobreposição de perfis obtidas por medições sequenciais de

dentro e fora da zona de desgaste – após a filtragem de forma. .............................. 89

Figura 55 - Perfil transversal da zona de desgaste representada em vermelho. ....... 90

Figura 56 – Comportamento do CoF PTP durante os primeiros minutos do ensaio para

os óleos BL e A. Os parâmetros como temperatura (50 °C) e carga (50 N) são

mantidos constantes. Na transição para dois minutos há aumento da frequência de 5

para 10 Hz. ................................................................................................................ 91

Figura 57 - Curvas Stribeck-like dos óleos BL e A a (A) 50 °C e (B) 130 °C

representando o CoF energético médio das zonas de avaliação de atrito do protocolo

de teste. .................................................................................................................... 93

Figura 58 – Espectros RAMAN representativos do platô – em vermelho, e sulco – em

preto da zona de desgaste da camisa ensaiada com óleo A identificando a presença

de tribofilme formado pós-ensaio nos platôs e a ausência dos mesmos nos sulcos. 95

Figura 59 – Curvas Stribeck-like dos óleos A, B e C a (A) 50 °C e (B) 130 °C

representativos do CoF energético médio das zonas de atrito do protocolo de teste.

.................................................................................................................................. 97

Figura 60 - CoF FSA dos óleos B – verde, e C – azul, medidos ao longo do curso do

pistão indicando redução de atrito principalmente nas zonas de reversão quando o

passo reverso da sequência de atrito é aplicado. Velocidade = 5 Hz, carga = 50 N e

temperatura = 50 °C. ................................................................................................. 98

Figura 61 – Imagens obtidas por microscópio óptico das superfícies pós-ensaio com

os óleos A, B e C – da direita para a esquerda. Magnificação X100. ...................... 100

Figura 62 - Volume do desgaste pós-ensaio mensurado em diferentes camisas que

foram ensaiadas na presença de seus respectivos óleos. ...................................... 102

Figura 63 – Imagens obtidas por MEV do interior das zonas de desgaste das camisas

que foram ensaiadas com os óleos A (à esquerda) e C (à direita). ......................... 106

Figura 64 - Coeficiente de atrito FSA medido durante a sequência de desgaste de

diferentes tipos de óleos. Condição: Carga = 200 N, frequência = 20 Hz, temperatura

= 130 °C, velocidade máxima no meio do curso = 0,18 m/s. .................................. 107

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação SAE de óleos para motores. .............................................. 38

Tabela 2 -– Imagens da seção transversal do anel e camisa, adquiridas por meio da

técnica de microscopia eletrônica de varredura (1ª coluna) da região superficial, bem

como microscopia óptica do interior dos corpos de prova (2ª coluna). ..................... 74

Tabela 3 - imagens e perfis obtidos por meio de perfilometria óptica do anel (1ª coluna)

e da camisa (2ª coluna). ............................................................................................ 77

Tabela 4 – Descrição do óleo base utilizado. ............................................................ 79

Tabela 5 - Descrição das etapas apresentadas na Figura 51 das etapas do

procedimento empregado nos testes. ....................................................................... 86

Tabela 6 - Imagens obtidas por estereoscópio das regiões de contato entre o anel e a

camisa para os óleos testados BL e A. ..................................................................... 94

Tabela 7 – Quantificação por EDX dos elementos presentes na superfície de

deslizamento das camisas representativas dos óleos BL e A. ................................ 103

Tabela 8 - Aspecto superficial das zonas de desgaste representativas das camisas e

dos anéis após os ensaios com diferentes tipos de óleos. 1ª coluna – representação

tridimensional, 2ª coluna – imagem obtida por estereoscópio da camisa, 3ª coluna –

imagem obtida por estereoscópio do anel. Elipses vermelhas indicam ranhuras axiais.

................................................................................................................................ 104

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÔNIMOS

ACEA Association des Constructeurs Européens d‘Automobiles

API American Petroleum Institute

AW Anti-Wear

BSE Backscattered Electrons

CI Combustion Ignition

CoF Coefficient of Friction

CP Comprimento da pista

DLC Diamond Like Carbon

EDX Energy dispersive X-ray spectroscopy

EHD ElastoHidrodynamic

EP Extreme Pressure

FFP Ferro fundido cinzento perlítico

FM Friction Modifier

FoFo Ferro Fundido

GfT Gesellschaft für Tribologie

GMO Glyceryl Monooleate

HDEP Heavy-Duty Engine Platform

ISO International Organization for Standartization

IV Índice de Viscosidade

JASO Japan Automobile Standard Organization

LDS Lichtbogendrahtsptrizen

MCI Motor de Combustão Interna

MoDTC Ditiocarbamato de Molibdênio

MTM Mini Traction Machine

OEM Original Equipment Manufacturer

PMI Ponto Morto Inferior

PMS Ponto Morto Superior

R&D Research and Development

SAE Society of Automotive Engineers

SEI Secondary Electron Imaging

SI Spark Ignition

SLIM Spacer Layer Imaging

SRV Schwing-Reib-Verschleiß

TAN Total Acid Number

TDC Top Dead Center

TWAS Twin Wire Arc Spray

UMT Universal Mechanical Tester

VI Viscosity Improver

WOT Wide Open Throtle

ZDDP Dialquilditiofosfato de Zinco

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

1.1 OBJETIVOS .................................................................................................... 18

1.1.1 GERAL ................................................................................................... 18

1.1.2 ESPECÍFICOS ....................................................................................... 18

1.2 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 21

2.1 FUNDAMENTOS DA TRIBOLOGIA ............................................................... 21

2.1.1 Contato entre sólidos ............................................................................. 21

2.1.2 Tribossistemas ....................................................................................... 22

2.1.3 Atrito ....................................................................................................... 24

2.1.4 Mecanismos de Desgaste ...................................................................... 26

2.1.5 Lubrificação ............................................................................................ 30

2.1.5.1 Óleo para motores e aditivação ..................................................... 36

2.2 TRIBOLOGIA DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA .......................... 50

2.2.1 Tribologia anel do pistão/cilindro ............................................................ 53

2.3 MEIOS TRIBOLÓGICOS PARA A REDUÇÃO DE ATRITO E DESGASTE EM

MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA ........................................................... 57

2.3.1 Recobrimentos com atrito reduzido ........................................................ 57

2.3.2 Texturização de superfícies.................................................................... 63

2.4 CADEIA DE TESTES TRIBOLÓGICOS ......................................................... 68

3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 70

3.1 DESCRIÇÃO DA BANCADA DE TESTE RECIPROCATIVO ......................... 70

3.2 MATERIAIS .................................................................................................... 72

3.2.1 Anel do pistão e camisa do cilindro ........................................................ 72

3.2.2 Óleo lubrificante ..................................................................................... 79

3.3 MÉTODOS ...................................................................................................... 80

3.3.1 Montagem do ensaio .............................................................................. 80

3.3.2 Procedimento do teste ........................................................................... 83

3.3.3 Análise do coeficiente de atrito ............................................................... 86

3.3.4 Medição e análise do desgaste .............................................................. 88

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 91

4.1 ANÁLISE DO CoF: EFEITO DA ADIÇÃO DO MODIFICADOR DE ATRITO –

FRICTION MODIFIER......................................................................................... 91

4.2 ANÁLISE DO CoF: EFEITO DO ETANOL ANIDRO E HIDRATADO .............. 96

4.3 ANÁLISE DO DESGASTE DA CAMISA ....................................................... 101

4.3.1 CoF durante a sequência de desgaste ................................................. 107

5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 109

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 111

16

1 INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios da sociedade atual reside na satisfação sustentável

de sua demanda energética (SCHWADERLAPP et al., 2012). Apesar do

desenvolvimento de veículos elétricos, uma independência total dos motores de

combustão interna não é prevista em um futuro próximo (ACEA, 2016). Sendo assim,

atender as demandas de emissões em motores é uma tarefa importante. Isso é

refletido por órgãos normativos, que estabelecem limites superiores de emissão de

CO2 previstos para as próximas décadas.

A redução da emissão de CO2 está associada diretamente com o consumo de

combustível e é o maior motivador para o desenvolvimento de novos motores.

Downsizing, turbocompressores, injeção de água, injeção direta e motores Flex-Fuel

são métodos eficientes de reduzir a liberação de CO2 para a atmosfera (MERKER,

2005; SCHWARZE et al., 2010; THEWES et al., 2015). Em motores Flex Fuel há a

possibilidade do uso de etanol como combustível, o que melhora a balança ecológica

do tráfico de veículos através da substituição dos combustíveis fósseis, por energia

renovável (SCHWARZE et al., 2010).

No Brasil, mais de 80 % da produção da frota automotiva é composta por

veículos Flex Fuel, o que traz muitos benefícios ambientais, exemplo: a taxa de

emissão veicular de CO2 média dos veículos brasileiros, considerando todo o ciclo de

vida do combustível, é de 75 g/km. Porém, quando só os veículos rodando com etanol

são considerados, esse valor cai para 35 g/km (FERRARESE et al., 2010).

No entanto, a utilização de etanol como combustível traz alguns desafios

tribológicos devido à possibilidade de contaminação e degradação do lubrificante,

aumentando o risco de falhas dos componentes dos motores. Uma vez que o etanol

possui maior calor latente de vaporização que a gasolina, a sua diluição no lubrificante

pode ser considerada mais significativa, principalmente em condições de partida à frio

do motor, e ciclos urbanos, em que a temperatura do motor é geralmente baixa

(COSTA; SPIKES, 2016; DE SILVA et al., 2011; SCHWARZE et al., 2010). Schwarze

et al. (2010) comprovaram um aumento de 20 % da taxa de desgaste do cilindro de

um motor utilizando 85 % de etanol na gasolina comparado ao mesmo motor rodando

somente com gasolina.

17

Para superar as adversidades impostas pela utilização de etanol como

combustível, um projeto brasileiro liderado pela USP denominado TriboFlex foi criado

(TRIBOFLEX CONSORTIUM, 2017). Esse projeto reúne várias entidades e empresas

que possuem um interesse em comum – aprofundamento, desenvolvimento e

aplicação dos conhecimentos acerca da tribologia em motores Flex Fuel. Um dos

subprojetos do TriboFlex tem sua atenção voltada à tribologia do sistema anel do

pistão/cilindro, o qual é responsável por grandes perdas por atrito e desgaste. Durante

um ciclo de movimento esse sistema pode experimentar todos os regimes de

lubrificação e sofrer variações de temperatura, velocidade e pressão substanciais

(PRIEST; TAYLOR, 2000).

Isso dá origem a situações tribológicas críticas, principalmente em regiões

próximas ao PMS1, onde o pistão está desacelerando para mudar o sentido de

movimento. Nesse ponto o contato entre anel e cilindro é caracterizado por altas forças

normais, altas temperaturas e uma quantidade de lubrificante muito pequena (OBERT

et al., 2016). Essas condições resultam em uma menor eficiência mecânica do motor,

menor durabilidade dos anéis e cilindro, e, consequentemente, necessidade de

reposição prematura de lubrificante. Portanto, atrito e desgaste desses componentes

devem ser avaliados e reduzidos com o auxílio de tecnologias pertinentes à

engenharia de superfície, lubrificação e materiais (HOLMBERG; ANDERSSON;

ERDEMIR, 2012).

Nesse contexto, este trabalho se propõe a estudar as condições do contato

entre anel e cilindro sob influência da presença de etanol, visando meios de superar

as adversidades tribológicas presentes na interface de deslizamento.

1 PMS (Ponto Morto Superior) – Ponto mais alto do êmbolo (pistão) no cilindro.

18

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 GERAL

Este trabalho teve como objetivo principal investigar a influência da presença

de etanol anidro e hidratado em um óleo para motor de combustão interna SAE 0W20

API SN no comportamento tribológico do contato anel do pistão, recoberto com PVD,

e camisa do cilindro, fabricada em ferro fundido cinzento com acabamento superficial

produzido por brunimento.

1.1.2 ESPECÍFICOS

A partir do objetivo geral foram estabelecidos quatro objetivos específicos:

Desenvolver um protocolo de ensaio que originasse resultados acerca do

comportamento tribológico dos materiais ensaiados em várias condições em

apenas uma sequência de ensaio;

Analisar o comportamento do atrito por meio da Curva de Stribeck, em função

da duração do teste e do tipo de diluição;

Avaliar o desgaste do cilindro com auxílio de medições de interferometria 3D,

e inferir sobre a influência do tipo de diluição em seu valor;

Identificar a presença ou não de tribofilmes pós-ensaio.

19

1.2 JUSTIFICATIVA

A economia de combustível e a redução de CO2, impostas por legislação em

veículos de passeio (EU, 2009), impulsionam a inovação tecnológica automotiva e

direciona pontos centrais de estudo em trabalhos e pesquisas por todo o mundo

(HOLMBERG; ANDERSSON; ERDEMIR, 2012). Esforços são concentrados

continuamente para superar os desafios tribológicos que contribuem para um motor

mais eficiente e com menor impacto ambiental. A eficiência do motor à combustão

interna está relacionada a sua economia de combustível, a qual depende, dentre

outros fatores, do atrito interno do motor. Um motor ciclo Otto utiliza cerca de 17% de

sua energia gerada na combustão para vencer esse atrito (KENNEDY; HOPPEN;

ESSER, 2012). Desses 17%, 4% são oriundos do conjunto de anéis do pistão, como

é elucidado na Figura 1. Assim, um dos enfoques do R&D na indústria automotiva se

localiza na diminuição do percentual de perda por atrito do tribossistema anel do

pistão/cilindro (SCHWEIZER; FÜSSER, 2013; TOMANIK, 2008, 2013; VELKAVRH;

KALIN; VIŽINTIN, 2009).

Figura 1 - Representação esquemática da distribuição da conversão de energia em um motor Otto enfatizando as perdas por atrito no conjunto de anéis Fonte: Kennedy; Hoppen; Esser (2012).

20

Outros fenômenos tribológicos, como o desgaste também são investigados

juntamente com o atrito, pois limitam a vida útil dos anéis do pistão. Recentemente a

atenção dos tribologistas se voltou para um possível desgaste acentuado na presença

de etanol e seus produtos de combustão. O etanol está presente em motores Flex

Fuel, que podem rodar com 100% de etanol (E100)2 ou 100% de gasolina (E0), ou

misturas dos dois combustíveis E20, E30, E40, E85 (FERRARESE et al., 2010). Com

etanol, esses motores produzem mais torque e potência específica devido à alta

octanagem do etanol, o que permite aos motores SI trabalharem a maiores taxas de

compressão, e adicionalmente poluírem menos devido ao ciclo de emissão de

carbono fechado (well-to-wheel) (KEMAL; SAYIN, 2014; THAKUR et al., 2017;

ZHANG; SARATHY, 2016). No entanto, a utilização de etanol como combustível,

impõe algumas adversidades tribológicas, devido à possibilidade de contaminação do

lubrificante com etanol. Uma vez que o etanol possui maior calor latente de

vaporização, a sua acumulação no lubrificante pode ser significativa (DE SILVA et al.,

2011). O acumulo de etanol pode influenciar a lubrificação e o atrito (COSTA; SPIKES,

2016; LENAUER et al., 2015a), e vem sendo reportado como a causa de problemas

relacionados ao desgaste severo em motores Flex Fuel, particularmente no contato

dos anéis do pistão próximo ao PMS (FERRARESE et al., 2010). Com o exposto,

evidencia-se a importância de estudos relacionados à influência do etanol no

comportamento do atrito e desgaste do contato anel do pistão/cilindro.

2 Nomenclatura de identificação de misturas de etanol/gasolina do tipo EX, onde X representa a percentagem de etanol presente na gasolina.

21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 FUNDAMENTOS DA TRIBOLOGIA

O funcionamento de muitos tipos de mecanismos depende do contato entre

superfícies em movimento relativo (CZICHOS, 1995; HUTCHINGS, 1992). Os

fenômenos decorrentes do contato sólido-sólido, muitas vezes na presença de um

meio interfacial (lubrificante), são estudados pela tribologia. Esta é definida como a

ciência e a tecnologia que estudam os fenômenos e mecanismos do atrito, desgaste

e lubrificação (DETERS et al., 2002). Pela definição anterior, a interação de

superfícies desempenha papel central na tribologia. Tais interações e suas

consequências serão tema das próximas seções. Assim, serão relatadas as

características do contato entre sólidos, a definição de tribossistemas dos elementos

que participam do contato de interesse tribológico e, por fim, os temas atrito, desgaste

e lubrificação serão destacados.

2.1.1 Contato entre sólidos

Quando duas superfícies são aproximadas, a rugosidade irá limitar o contato

entre os corpos sólidos a uma porção bem pequena do contato aparente (ZUM GAHR,

1987). Essa porção é denominada contato real, e geralmente é pequena em situações

operacionais normais de carga (HUTCHINGS, 1992). Se o carregamento é elevado

esse contato real é aumenta (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005). A representação

do contato entre sólidos é ilustrada esquematicamente na Figura 2.

A formação de novas áreas de contato é um resultado das altas tensões que

causam deformação (que podem ser elástica ou plástica) dos pontos altos das

superfícies de contato, que são geralmente designados por asperezas (ZUM GAHR,

1987). Acompanhado dessas deformações há calor (cerca de 90% da energia gasta

na deformação das superfícies é dissipada como calor) o que causa aumento da

temperatura da superfície. Dependendo da magnitude dessa temperatura, processos

22

como, recristalização, transformação de fases, precipitação ou reações químicas são

ativados. Essas alterações microestruturais mudam as condições do contato, assim,

modificam também o atrito e o desgaste (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005).

Figura 2 - Área real do contato de superfícies rugosas em contato; Ar é a área

de contato real, ou seja, 𝑨𝒓 = ∑ 𝑨𝒊𝒏𝒊=𝟏 , n é o número de asperezas

Fonte: Stachowiak; Batchelor (2005).

2.1.2 Tribossistemas

Para a melhor compreensão dos processos de atrito e desgaste, uma

abordagem sistemática da interação entre os corpos em contato é muito útil para

entender os fenômenos que ocorrem nas superfícies, os quais não são intrínsecos

dos materiais (DETERS et al., 2002). Desse modo, a avaliação deve ser realizada

através da caracterização de um tribossistema (ROBERT BOSCH GMBH, 2005).

Tribossistemas realizam funções, como transmissão de movimento, força, transporte

de matéria, entre outras, e dependem de parâmetros de entrada como temperatura,

velocidade, carga e tipo de movimento, que atuam sobre a sua estrutura. Essa

estrutura é composta por elementos, suas propriedades e interações entre superfícies.

Através dessas interações surgem atrito e desgaste, os quais se manifestam como

dissipação de energia e perda de material/mudanças na superfície, respectivamente

(ZUM GAHR, 1987). A Figura 3 ilustra a composição de um tribossistema, bem como

todos os parâmetros envolvidos.

23

Figura 3 - Esquema de um sistema tribológico Fonte: Deters et al. (2002).

Exemplos de tribossistemas submetidos a situações reais de contato são

ilustrados na Figura 4. Dependendo da função e necessidades técnicas que esses

elementos desempenham e requerem, diferentes comportamentos tribológicos são

demandados. Por exemplo, via de regra o principal objetivo prático da tribologia se

encontra na minimização do atrito e desgaste, caso dos tribossistemas localizados no

3° quadrante da Figura 4, que são representados pelo mancal deslizante e conjunto

anel do pistão/cilindro. Porém a minimização do atrito e desgaste nem sempre é o

caso (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005). No 2° quadrante, encontra-se o exemplo

do lápis, que é um tribossistema característico onde, para a sua máxima eficiência,

são requisitados menor atrito e maior desgaste. Condições inversas a essa última, ou

seja, maior atrito e menor desgaste são desejadas em componentes como freios e

embreagens, que estão localizados no 4° quadrante. Há também situações, nas quais

maximização do atrito e do desgaste são de interesse para eficiência da utilização de

determinado produto. Exemplo disso é a borracha que se localiza no 1° quadrante da

Figura 4.

24

Figura 4 - Exemplos de tribossistemas e seus principais objetivos Fonte: Adaptado de Czichos (2015).

O presente trabalho avalia o comportamento tribológico do tribossistema anel

do pistão/cilindro, o qual é pautado na redução do atrito e minimização do desgaste.

Maiores detalhes desse tribossistema são apresentados na seção 2.2.1

2.1.3 Atrito

O atrito se manifesta, em sua grande parte, em forma de energia dissipada

(STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005). Pode ser definido como a resistência física à

tendência de movimento relativo entre superfícies que estão em contato (ROBERT

BOSCH GmbH, 2005;CZICHOS, 2015).

Com o tempo foram apresentadas algumas leis de atrito, as quais se

embasam em observações empíricas, sob certas condições de contato. Essas leis,

muitas vezes, são incorporadas a vários modelos mais simples de fricção entre sólidos

25

como o de corpo rígido, o qual não aborda a complexidade da influência de diferentes

materiais, suas propriedades e variáveis de contato no estudo do atrito (HUTCHINGS,

1992). Modelos mais elaborados assumem que as forças de atrito em contatos não

lubrificados provêm basicamente de duas causas principais: da adesão desenvolvida

nas áreas de contato entre as superfícies (as junções das asperezas), e da

deformação necessária para romper o contato do material mais duro contra o mais

dúctil (HUTCHINGS, 1992). Esse modelo é representado esquematicamente na

Figura 5.

Figura 5 - Representação esquemática do modelo para o atrito embasados em a) forças adesivas e b) forças que causam deformação Fonte: Blau (2009).

Portanto, o resultado da força de atrito, nesse modelo, será a soma das forças

de adesão e deformação do contato nas superfícies (HUTCHINGS, 1992). Deve-se

também ter em mente que há vários fatores que afetam a magnitude dessas

componentes do atrito como, temperatura, velocidade, propriedades mecânicas e

composição das superfícies (LUDEMA, 1996).

Quando as superfícies são deformadas (caso b) há encruamento, o qual

depende da taxa de deformação (no caso de tribossistemas – velocidade). O

encruamento aumenta a resistência mecânica do material mais dúctil. Se a

temperatura do contato chegar a um patamar onde há ativação de mudança de fases,

um subsequente resfriamento rápido pode acarretar em formação de martensita. Ao

longo do tempo, essas estruturas podem se recristalizar e/ou precipitados podem

surgir (ZUM GAHR, 1987). Todos esses fatores anteriores alteram também a força de

adesão das junções das asperezas (caso a). Assim o fenômeno do atrito pode alterar

o comportamento de tribossistemas significativamente, e é muito mais complexo do

26

que coeficientes de atrito atribuídos como propriedades de certas combinações de

materiais (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005).

2.1.4 Mecanismos de Desgaste

Segundo Deters et al. (2002) o desgaste é definido como sendo a perda

progressiva de material da superfície de um corpo sólido, causado por interações

mecânicas, ou seja, contato e movimento relativo de um contra corpo sólido, líquido

ou gasoso. Há uma série de termos utilizados para descrever processos de desgaste

com base em vários aspectos superficiais, tipo de interação entre as superfícies e

mecanismos de desgaste. Desgaste abrasivo, corrosivo, por fadiga, fretting3, erosivo

e por cavitação são exemplos de classificações do desgaste propostas por alguns

autores (ZUM GAHR, 1987). O aspecto comum dessas categorizações é o emprego

do mecanismo para distinguir o processo de desgaste (DETERS et al., 2002). Neste

trabalho focou-se nos quatro principais mecanismos, os quais são ilustrados na Figura

6.

3 Uma forma especial de desgaste causado por reações triboquímicas. O dano é provocado quando duas superfícies em contato são submetidas a movimentos oscilatórios de baixa amplitude.

27

Figura 6 - Representação esquemática dos 4 principais mecanismos de desgaste Fonte: Deters et al (2002).

A seguir serão descritos sucintamente os mecanismos de desgaste.

Fadiga superficial – formação de trincas nas regiões superficiais devido à tensão

tribológica cíclica, a qual resulta na separação de material da superfície, ex.

delaminação superficial de recobrimentos.

Reações triboquímicas – O desgaste triboquímico pode ser caracterizado pela fricção

entre duas superfícies sólidas que reagem com o meio ambiente. O processo de

desgaste prossegue por remoção contínua e nova formação de camadas de reação

nas superfícies de contato.

Abrasão – remoção de material devido à presença de partículas duras. Asperezas da

própria superfície podem atuar como partícula dura, uma vez que essas são mais

resistentes que o contra corpo, e originam a abrasão de dois corpos. Porém se essas

partículas duras são advindas de outras fontes, tais como sujeira, produtos de reações

triboquímicas e/ou fragmentos encruados, tem-se uma abrasão à três corpos. Os dois

tipos de abrasão anteriores são representados na Figura 7.

28

Figura 7 - Desgaste abrasivo à (a) 2 e (b) 3 corpos Fonte: Zum Gahr (1987)

Adesão – o desgaste adesivo pode ocorrer quando as superfícies deslizam uma

contra a outra. A elevada pressão local entre as asperezas em contato resulta em

deformação, adesão e consequentemente formação de junções localizadas. O

deslizamento relativo entre as superfícies de contato pode provocar a ruptura destas

junções dentro do próprio material e, causar a transferência de material de uma

superfície para a outra (ZUM GAHR, 1987). Com o aumento do dano superficial ou

sobrecarga devido à tensão, velocidade ou temperatura, a adesão pode resultar em

scuffing – que é acompanhado de altas taxas de desgaste, alto CoF, vibração e ruído,

e pode conduzir ao engripamento4 (seizure) (BOWMAN; STACHOWIAK, 1996).

A terminologia scuffing é objeto de muita contradição e uma definição precisa

é difícil de ser estabelecida (HUTCHINGS, 1992). Nos EUA, por exemplo, o termo

scoring é um sinônimo para o scuffing e os dois termos podem ser associados à

mecanismos de abrasão (ASM METALS HANDBOOK, 1992).

Neste trabalho, a definição empregada para o scuffing foi: “um dano superficial

severo caracterizado pela formação de soldas pontuais entre as superfícies em

movimento relativo” (DYSON, 1975). A manifestação dos danos causados por esse

mecanismo pode ser vista na Figura 8.

4 Suspensão do movimento relativo de um mecanismo como resultado da completa soldagem das superfícies.

29

Figura 8 - Camisa de cilindro de um motor danificada por scuffing Fonte: Zum Gahr (1987).

A superfície do cilindro de ferro fundido cinzento foi danificada devido à

transferência de material do pistão de alumínio. A falha é decorrente principalmente

da adesão e abrasão. A adesão é indicada pela transferência de material e a abrasão,

pelas ranhuras (ZUM GAHR, 1987).

Cada um dos mecanismos de desgaste descritos anteriormente é conectado

a aparência da superfície desgastada que eles deixam, como se fosse uma impressão

digital (DETERS et al., 2002). Essas modificações superficiais são denominadas de

manifestações de desgaste e aparecem na Figura 9. Em vista disso, observa-se

diferentes aspectos superficiais para cada um dos mecanismos: cumes e escamas

sobressalientes (adesão); arranhões, riscos e cavidades (abrasão); trincas e

cavidades (fadiga superficial); e produtos de reação e partículas (reações

triboquímicas).

30

Figura 9 - Aparência das superfícies desgastadas por: (a) adesão, (b) abrasão, (c) fadiga superficial e (d) reação triboquímica Fonte: Czichos (2015).

Um dos métodos mais importantes, e que visa a redução do desgaste de

superfícies sólidas por meio da formação de um filme fluído, é a lubrificação. Esta será

abordada em detalhes na próxima seção (RIZVI, 2010).

2.1.5 Lubrificação

Quando há o contato direto entre as asperezas geralmente altos coeficientes

de atrito (CoF) são esperados. Tais níveis de CoF são intoleráveis em aplicações de

engenharia, desde que resultam em baixos valores de eficiência energética. Dessa

forma, são introduzidos lubrificantes para reduzir o atrito e o desgaste entre as

superfícies (HUTCHINGS, 1992).

31

A lubrificação pode ser definida como a interposição de um filme sólido, líquido

ou gasoso entre superfícies que se encontram em movimento relativo

(SETHURAMIAH, 2003). A capacidade de formação desse filme depende diretamente

da viscosidade do lubrificante. A viscosidade é uma medida da resistência do fluído

ao escoamento, e quanto maior a viscosidade, maior a película de lubrificante (RIZVI,

2010). Porém, durante o movimento relativo entre as superfícies, a espessura da

interposição do filme lubrificante “h” pode sofrer variações, o que acarreta em regimes

de lubrificações diferentes (DOWSON et al., 1999). Esses regimes são caracterizados

através da curva de Stribeck, que relaciona o atrito à parâmetros tribológicos como

viscosidade do lubrificante (η), velocidade relativa entre as superfícies (N) e carga (P),

constituindo o número de Summerfield (ηN/P) (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005),

o qual está diretamente relacionado com a razão da espessura do filme, ou parâmetro

λ (C TUNG; MCMILLAN, 2004):

λ= h (σsuperfície 1

2⁄ + σsuperfície 22 )

1/2 (1)

Onde h é espessura do filme, e σ é a rugosidade superficial média quadrada

das superfícies um e dois. A Figura 10 ilustra a relação entre o coeficiente de atrito,

número de Summerfield e a razão da espessura do filme.

32

Figura 10 - Representação esquemática do diagrama de Stribeck ilustrando os regimes de lubrificação Fonte: Adaptado de MCmillan (2004).

Pela Figura 10, pode-se notar que o coeficiente de atrito é inversamente

proporcional ao número de Summerfield até o limiar da transição da região de

lubrificação mista para a hidrodinâmica. Assim, quanto maior os valores de

viscosidade, velocidade relativa e menor a carga nessa região, menor será o atrito,

devido a constante taxa de crescimento do filme lubrificante “h” (STACHOWIAK;

BATCHELOR, 2005). Avançando mais à direita na curva de Stribeck observa-se um

comportamento inverso, no qual há uma proporcionalidade entre CoF e o parâmetro

de Summerfield. Isso ocorre devido à formação completa de um filme lubrificante entre

as superfícies, e desse modo, a perda viscosa do fluído determina o comportamento

do atrito do tribossistema (CZICHOS, 2015).

Assim, durante o movimento relativo das superfícies lubrificadas, várias

mudanças no comportamento do atrito são observadas. Essas mudanças são

dependentes de parâmetros físico-químicos do lubrificante, velocidade de

33

deslizamento e carga aplicada ao tribossistema. Desse modo, serão apresentadas a

seguir uma descrição mais detalhada de cada regime de lubrificação da curva de

Stribeck, bem como os fenômenos que estão associados à cada regime em um

tribossistema (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005).

a) Lubrificação hidrodinâmica

Na lubrificação hidrodinâmica, há uma separação completa entre as

superfícies por meio do fluído. Essa separação depende da viscosidade do lubrificante

e é efetiva somente quando a carga no contato é baixa (HUTCHINGS, 1992). Outro

tipo de lubrificação hidrodinâmica é a elastohidrodinâmica, ou EHD, que ocorre em

zonas de contato não conformes. Nesse tipo de lubrificação, o lubrificante é exposto

a altas pressões de contato e sofre um aumento de viscosidade. Isso resulta em um

filme fluído extremamente rígido com uma altura de 0,01 a 5 µm, o que causa a

deformação elástica da superfície. Lubrificação elastohidrodinâmica pode ser

encontrada em anéis de pistões em ambos motores (Otto e Diesel) sob alta carga no

curso de expansão, após a combustão (PRIEST; TAYLOR, 2000).

O princípio de formação da lubrificação hidrodinâmica reside na aplicação

básica dos conceitos da mecânica dos fluídos. Quando o lubrificante flui em direção a

cunha convergente a uma velocidade suficiente para consolidar o filme, o fluxo de

massa deve ser o mesmo. Isso só é possível, devido à geração de pressão, a qual

modifica o perfil da velocidade ao longo do filme de tal forma, que o fluxo é igual em

todo o percurso (SETHURAMIAH, 2003). A Figura 11 ilustra como ocorre esse

processo.

34

Figura 11 - Principio da geração do filme hidrodinâmico entre duas superfícies não paralelas Fonte: Adaptado de Stachowiak (2005).

Um exemplo prático da aplicação desse princípio se encontra na lubrificação

da interface anel do pistão/cilindro. A geometria da interface é de uma cunha

parabólica, a qual para todos os efeitos, auxilia na construção e manutenção do filme

lubrificante, como demonstra a Figura 12. Em alguns casos a superfície que constitui

a curva parabólica de deslizamento do anel possui perfil assimétrico, no intuito de

propiciar a formação do filme hidrodinâmico com maior ou menor facilidade,

dependendo do sentido do movimento (MAHLE GMBH, 2015).

35

Figura 12 - Exemplo da aplicação do formato de uma superfície parabólica em um anel de pistão Fonte: Traduzido de Heywood (1988).

b) Lubrificação limítrofe

Esse regime de lubrificação surge quando grandes carregamentos e baixas

velocidades produzem altas pressões de contato (RIZVI, 2010). Assim, as forças

hidrodinâmicas são insuficientes para manter nem sequer um filme fino como EHL

entre as superfícies (HUTCHINGS, 1992). Dessa forma, o máximo contato metal-

metal ocorre. A efetividade da lubrificação desse regime é função da ação de aditivos,

os quais serão tema deste trabalho mais à frente. Normalmente esse tipo de regime é

evitado, pois é acompanhado de alta taxa de desgaste e alto atrito, que podem

acarretar em danos superficiais irreparáveis (HUTCHINGS, 1992).

c) Lubrificação mista

É um regime de lubrificação que apresenta características dos dois outros

tipos de regime (ZHU, 1993). Ou seja, há a ocorrência de contato parcial ou

intermitente entre as superfícies (RIZVI, 2010). Desse modo, o carregamento é divido

entre as asperezas e o filme lubrificante.

36

2.1.5.1 Óleo para motores e aditivação

Os lubrificantes, em motores de combustão interna, desempenham

principalmente as seguintes funções (HEYWOOD, 1988):

1. Reduzir o atrito a um valor mínimo, visando garantir máxima eficiência

mecânica;

2. Proteger o motor contra o desgaste;

3. Contribuir para o resfriamento do pistão e regiões do motor onde a

energia do atrito é dissipada;

4. Remover as impurezas das regiões lubrificadas;

5. Promover um nível mínimo de vedação, principalmente no contato anel

do pistão/cilindro.

Para o desempenho das funções antes citadas, a composição dos

lubrificantes para motores é de extrema importância. A formulação completa de um

lubrificante consiste de um óleo base mineral ou sintético (dependendo do nível de

performance do lubrificante a percentagem do óleo base pode variar entre 80 a 95%),

e de aditivos (5 a 20%) (TAYLOR; MAINWARING; MORTIER, 2005).

a) Óleo base

Os óleos base minerais são tipicamente derivados de hidrocarbonetos de alto

peso molecular durante o processo de refino do petróleo (WONG; TUNG, 2016). Os

óleos base sintéticos são sintetizados a partir de moléculas químicas altamente

processadas por meio de reações de polimerização (RIZVI, 2010). Alguns óleos base

estudados recentemente são formados por líquidos iônicos e são menos agressivos

ao meio ambiente e ao mesmo tempo mais versáteis quanto à variação de suas

propriedades (HOLMBERG; ANDERSSON; ERDEMIR, 2012).

O parâmetro mais significante na avaliação do desempenho de um óleo base

é sua viscosidade. Em óleos minerais e fluídos sintéticos existe uma relação inversa

entre a viscosidade e a temperatura (RIZVI, 2010). A sensibilidade de determinado

óleo à essa variação é medida através do índice de viscosidade IV (SETHURAMIAH,

37

2003). O IV é obtido por meio da equação (2) comparando a viscosidade cinemática

de um lubrificante com dois óleos de referência a 40 e 100 °C, os quais são

arbitrariamente designados como 0 e 100 IV.

IV = (L-U) (L-H)⁄ ×100 (2)

A Figura 13 ilustra, de maneira gráfica, como o IV é calculado. Para óleos,

cuja sensibilidade a temperatura é alta, o valor do IV é baixo, e para aqueles que

possuem baixa sensibilidade, os valores do IV são altos (RIZVI, 2010). Altos valores

de IV são requisitados para lubrificantes, os quais irão experimentar uma grande

variação de temperatura, como os óleos multigrau para veículos automotores, os

quais possuem IV de aproximadamente 150 (HUTCHINGS, 1992).

Como pode ser evidenciado, os óleos lubrificantes para motores não podem

ser tão suscetíveis às variações de temperatura. Essa condição poderia causar a

dispersão da película do lubrificante no contato entre as superfícies, promovendo

assim, a exposição metal-metal e consequentemente levar a um dano superficial

severo (scuffing) (WONG; TUNG, 2016). Porém, em baixas temperaturas, ex. partida

do motor, os óleos lubrificantes não podem ser também tão espessos de modo que

impeçam o seu bombeamento e circulação. Especificações quanto ao comportamento

em fluência de um óleo à certa temperatura são dadas pela SAE.

Figura 13 - Avaliação do índice de viscosidade Fonte: Adaptado de Stachowiak; Batchelor (2005).

38

Essas especificações abrangem a categorização dos óleos em 14 graus

diferentes de viscosidade e são apresentadas na Tabela 1.

A caracterização dos óleos segunda a SAE é feita por duas séries, “W” e a

regular, onde W (winter) descreve determinado comportamento de fluência à frio. O

grau de viscosidade W é classificado de acordo com a máxima viscosidade à

temperatura inferior de acionamento, à temperatura-limite máxima de bombeamento

e da viscosidade mínima a 100°C. O grau de viscosidade sem a letra W, como SAE

20, só é classificado segundo a sua viscosidade a 100°C (ROBERT BOSCH GmbH,

2005).

Tabela 1 - Classificação SAE de óleos para motores.

Graus de viscosidade

SAE Viscosidade [cP] a temp [°C] máx

Viscosidade cinemática [mm²/s] a

100°C

Acionamento (ASTM

D 5293) Bombeamento (ASTM

D4684) mín máx.

0W 3250 a -30 30000 a -35 3,8

5W 3500 a -25 30000 a -30 3,8

10W 3500 a -20 30000 a -25 4,1

15W 3500 a -15 30000 a -20 5,6

20W 4500 a -10 30000 a -15 5,6

25W 6000 a -5 30000 a -10 9,3

8 4,0 <6,1

12 5,00 <7,1

16 6,10 <8,2

20 6,90 <9,3

30 9,3 <12,5

40 12,5 <16,3

50 16,3 <21,9

60 21,9 <26,1

Fonte: Robert Bosch GmbH (2005).

Óleos sem o sufixo W são designados como sendo óleos monograu ou mono-

viscoso e são mais suscetíveis a variação de temperatura. Já óleos que possuem o

sufixo W são denominados óleos multigrau ou multi-viscoso, por exemplo, SAE 20W-

39

50 tem a viscosidade do SAE 20 a -18°C e a viscosidade do SAE 50 a 100°C como

ilustrado na Figura 14. Óleos multigrau apresentam alto IV devido a sua aditivação

através de polímeros como, polimetil (meta acrilato), copolímeros de olefina (OCPs),

copolímeros estireno-butadieno e copolímeros estireno-ester (RIZVI, 2010;

STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005), os quais exercem o papel de modificadores de

viscosidade. O efeito da redução do consumo específico de combustível, através da

adição de um polímero com estabilidade alta ao cisalhamento em um lubrificante

multigrau 15W40, foi comprovado por Souza de Carvalho et al. (2010).

Figura 14 - Gráfico de temperatura-viscosidade para alguns óleos multi/monograu Fonte: Traduzido de Stachowiak; Batchelor, (2005).

Como exposto nesta seção, o óleo base é a estrutura dos óleos lubrificantes

para motores de combustão interna (WONG; TUNG, 2016). Na maioria das vezes o

desempenho oferecido por esses óleos não satisfaz os requisitos das condições de

operação em toda a abrangência do funcionamento do motor. Dessa forma, as

lacunas de desempenho do óleo base são preenchidas com a ação de aditivos

(KORCEK et al., 1999).

40

b) Aditivos

Os aditivos são compostos adicionados ao óleo base para melhorar o

desempenho ou as propriedades do óleo. Eles exercem diferentes funções, tais como

reduzir o atrito e desgaste, manter a limpeza do motor, ou para melhorar as

propriedades do fluido, tais como ponto de fluidez ou propriedades anti-espumantes

(WONG; TUNG, 2016). Os aditivos mais comuns encontrados na formulação dos

óleos para motores são:

i. Antioxidantes;

ii. Inibidores de corrosão;

iii. Corretores de viscosidade;

iv. Aditivos anti-desgaste/extrema pressão;

v. Modificadores de Fricção;

vi. Antiespumantes;

vii. Dispersantes e detergentes;

viii. Corretores de ponto de fluidez (Pour Point Depressants).

A seguir será relatado sucintamente a função e o modo de atuação de cada

um desses aditivos presentes na formulação dos óleos lubrificantes para motores de

combustão interna.

i. Antioxidantes

O óleo base, o qual é composto predominantemente por hidrocarbonetos

ramificados, produz cetonas, álcoois, ésteres e (em sua maior parte) ácidos em seu

processo de oxidação (TAYLOR; MAINWARING; MORTIER, 2005). Esses produtos

de oxidação são responsáveis pela elevação da viscosidade do óleo durante os ciclos

de bombeamento. Além disso, são os precursores da formação de moléculas

orgânicas de alto peso molecular, os quais sedimentam-se na região do depósito de

óleo, dificultando seu bombeamento (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005). Um outro

efeito da oxidação é o aumento da acidez do óleo lubrificante, o qual é corroborado

através do aumento do TAN do lubrificante (Total Acid Number), e essa elevação do

41

caráter ácido promove corrosão das partes metálicas do motor (TAYLOR;

MAINWARING; MORTIER, 2005).

Assim, a função dos antioxidantes é reduzir ao máximo a iniciação da

degradação do óleo pelo oxigênio e evitar a formação dos produtos nocivos ao

desempenho do lubrificante (RIZVI, 2010). A Figura 15 mostra que um dos fatores

secundários da melhora da performance antioxidante do lubrificante tem sido, em

geral, motores mais limpos.

Figura 15 - Efeito do desempenho do antioxidante na limpeza do motor: de alta à boa até média (da esquerda para a direita) Fonte: Taylor; Mainwaring; Mortier (2005).

ii. Inibidores de corrosão

Esses aditivos protegem a superfície metálica contra o ataque de oxigênio,

água, ácidos, bases e sais. Essa proteção ocorre por meio da adsorção física sobre a

superfície dos metais via grupo funcional das cadeias moleculares e pela manutenção

de um filme protetor resiliente sobre a superfície por meio da associação com o

lubrificante. Há dois tipos de inibidores: inibidores de ferrugem e de corrosão.

Inibidores de ferrugem são aditivos que protegem metais ferrosos, inibidores

de corrosão protegem a superfície de metais não ferrosos. Ambos os tipos de

inibidores desempenham suas funções através do recobrimento das superfícies das

partes metálicas e formando uma barreira entre elas e o ambiente (RIZVI, 2010).

42

iii. Corretores de viscosidade

Os corretores de viscosidade possuem a habilidade de conferir ao lubrificante

a manutenção da viscosidade a altas temperaturas (RIZVI, 2010). Isso é alcançado

através do aumento do tamanho da molécula por meio da elevação da temperatura,

passando da conformação esferoidal para a linear (Figura 16), assim aumentando a

associação com o óleo e dificultando o seu fluxo. Os corretores de viscosidade são

empregados em óleos multigrau, os quais possuem alto IV (STACHOWIAK;

BATCHELOR, 2005). Esses aditivos também ajustam a viscosidade do óleo a baixa

temperatura, garantindo economia de combustível através da redução das perdas

viscosas (WONG; TUNG, 2016).

Figura 16 - Representação esquemática da mudança da conformação do corretor de viscosidade durante o aumento da temperatura Fonte: Adaptado de Wong; Tung (2016).

iv. Anti-desgaste e extrema pressão

Os aditivos anti-desgaste e EP formam um filme protetor durável resistente ao

desgaste na superfície do metal por meio de reações termoquímicas (RIZVI, 2010). O

43

termo anti-desgaste geralmente se refere a redução do desgaste em faixas de

operação com carga e temperatura moderadas, já o EP funciona como uma barreira

anti-scuffing e anti-engripamento e são ativados a temperaturas maiores, assim são

associados a cargas e temperaturas elevadas (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005).

Dentre os compostos químicos que têm papel destacado como aditivos anti-desgaste

e EP, destaca-se o ZDDP (dialquilditiofosfato de zinco). O ZDDP (Figura 17) é um dos

aditivos mais utilizados em lubrificantes de modo que sua efetividade se deve à

formação de um tribofilme, protegendo as superfícies em deslizamento (SPIKES,

2004).

Figura 17 - Fórmula química estrutural do ZDDP Fonte: Spikes (2004).

Os tribofilmes formados a partir do ZDDP são construídos a baixas

temperaturas (50°C) nas zonas de desgaste, com taxas de formação aumentando

com o aumento da temperatura (TAYLOR; DRATVA; SPIKES, 2000). Inicialmente, os

tribofilmes de ZDDP são gerados como uma estrutura fragmentada e que, ao longo

do tempo se torna contínua (Figura 18), porém mantendo sua forma de almofada (pad-

like), segundo Spikes (2004) .

44

Figura 18 - Evolução da estrutura de almofada (pad-like) do tribofilme de ZDDP, medida por meio da técnica AFM Fonte: Spikes (2004).

A Figura 19 ilustra a forma e composição da estrutura do tribofilme de ZDDP,

onde é formada devido a decomposição do ZDDP na superfície do metal para formar

filmes de polifosfatos com o zinco e ferro (WONG; TUNG, 2016). Piro- e ortofosfatos

são encontrados no bulk da estrutura. Na interface do contato, há a presença de

camadas ricas em sulfetos de zinco e de ferro (SPIKES, 2004). Alguns compostos

químicos podem alterar, ou até dificultar a formação dessa estrutura. Isso foi

comprovado, em 2016 através de um estudo realizado por Costa e Spikes (2016), em

que há uma investigação sobre a extensão da contaminação do etanol anidro e

hidratado em um óleo totalmente formulado, e na solução do óleo base contendo

ZDDP dissolvido (AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, 2017). A investigação do

crescimento e estabilização do tribofilme foi monitorada através da técnica MTM-

SLIM, a qual evidenciou uma diminuição da camada do tribofilme após medições em

vários intervalos de tempo. Na presença de etanol hidratado, exclusivamente, houve

uma queda drástica na estabilidade do filme, o qual foi removido totalmente a partir

da adição do contaminante no tempo de 75 min (COSTA; SPIKES, 2016).

45

Figura 19 - Representação esquemática da estrutura e composição da almofada (pad-like) Fonte: Traduzido de Spikes (2004).

v. Modificadores de fricção

Outro aditivo, que melhora significativamente o desempenho dos óleos base,

são os modificadores de fricção ou friction modifiers (FM’s) (RUDNICK, 2010). Eles

atuam exclusivamente na redução do atrito nos regimes de lubrificação mista e

limítrofe. O mecanismo de atuação dos aditivos FM ocorre através da formação de

uma camada de material de sacrifício adsorvida na superfície do metal, essas

camadas possuem baixa resistência ao cisalhamento, assim produzindo um CoF

baixo (HUTCHINGS, 1992; RIZVI, 2010).

De forma geral, há dois tipos de aditivos FM utilizados em óleos para motores:

FM’s de superfície ativa, e os FM’s que são quimicamente reativos (WONG; TUNG,

2016).

Os FM’s que apresentam superfície reativa são compostos de moléculas com

cadeias longas de hidrocarbonetos, e são comumente denotados como OFM’s

(Organic Friction Modifiers) (LUDEMA, 1996). Um exemplo de OFM que encontra alta

aplicabilidade em óleos para motores, é o GMO (glyceryl monooleate) e seu

mecanismo de lubrificação é demonstrado na Figura 20 (SPIKES, 2015). A molécula

orgânica é adsorvida com o grupo polar voltado a camada de óxido da superfície do

metal. As caudas exercem forças de repulsão mútua, causando o alinhamento

perpendicular à superfície (HUTCHINGS, 1992).

46

Figura 20 - Representação esquemática do mecanismo de lubrificação limítrofe na presença de um agente formador de filme, FM. Fonte: Spikes (2015).

Os FM’s quimicamente reativos são moléculas organometálicas que reagem

com a superfície do metal, produzindo um tribofilme. Esses tribofilmes derivam

normalmente de complexos que apresentam molibdênio em sua estrutura (WONG;

TUNG, 2016). Dentre esses compostos, o MoDTC (ditiocarbamato de molibdênio)

ganha destaque em seu papel na redução do atrito. A origem da utilização desse tipo

de aditivo se resume ao fato que, durante o atrito do contato das asperezas, há a

formação de bissulfeto de molibdênio (MoS2), o qual pode ser caracterizado via

RAMAN por Cousseau et. al (2015) somente nas zonas do contato de deslizamento

(Figura 21). Apesar de resultar, geralmente, em menores níveis de CoF que os do

OFM’s (TUNG; GAO, 2003), há esforços para substituir os FM’s a base de complexos

organometálicos por OFM’s, especialmente por GMO. Isso se deve ao fato de que o

GMO não possui enxofre em sua estrutura. Compostos contendo enxofre afetam

negativamente a reação e o pós tratamento catalítica dos gases liberados durante os

ciclos de combustão e, consequentemente, são problemáticos para o controle de

poluentes como hidrocarbonetos (HC), monóxido de carbono (CO) e óxidos nitrosos

(NOx) (TAYLOR; MAINWARING; MORTIER, 2005).

47

Figura 21 - Espectro Raman dos picos e valos da zona de desgaste transversal na presença de um óleo 5W30-SM Fonte: Traduzido de Cousseau; Ruiz acero; Sinatora (2015)

vi. Antiespumantes

A formação de espuma na maioria das aplicações de lubrificação é

indesejável, pois impede a lubrificação, promove a oxidação do lubrificante, obstrui

passagens estreitas e reduz a capacidade de refrigeração do lubrificante. Os

antiespumantes são aditivos que reduzem a tendência de formação de espuma do

lubrificante. Os aditivos mais comuns utilizados para realizar o controle de espuma

incluem polissiloxanos e copolímeros de éster-estireno. Esses materiais atuam

diminuindo a tensão superficial das bolhas da espuma, acarretando na diminuição do

efeito espumante (RIZVI, 2010).

vii. Detergentes e dispersantes

Esses aditivos desempenham duas principais funções. Eles neutralizam

produtos ácidos provenientes da combustão e da oxidação dos lubrificantes, e

estabilizam qualquer partícula coloidal suspensa no óleo e as mantêm solubilizadas

evitando sua aglomeração, floculação e eventual deposição (RIZVI, 2010;

STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005).

Os compostos químicos que são utilizados como detergentes são comumente

constituídos de moléculas que apresentam uma cabeça polar e uma cauda apolar,

sendo classificados em quatro famílias: sulfonatos, fosfonatos, fenatos e salicatos. Os

48

sulfonatos comumente apresentam cátions metálicos de cálcio, magnésio e sódio e

são também amplamente empregados os fenatos de cálcio e os carboxilatos de cálcio

(BELMIRO; CARRETEIRO, 2006 apud DO VALE, 2016).

A Figura 22 ilustra a estrutura e mecanismo de atuação do sulfanato de cálcio

como agente dispersante/detergente. A cauda que possui carga negativa é adsorvida

à superfície do contaminante, formando uma partícula carregada negativamente.

Assim, ocorre uma repulsão de partículas com cargas negativas evitando dessa

maneira a floculação (STACHOWIAK; BATCHELOR, 2005).

Figura 22 - Estrutura e função do sulfanato de cálcio e sua ação como aditivo detergente e dispersante Fonte: Do Vale (2016).

viii. Corretores de ponto de fluidez

Fluidos derivados do petróleo contêm ceras, as quais à baixas temperaturas

começam a cristalizar formando uma rede estrutural. Essas estruturas absorvem o

óleo e impedem o seu fluxo. Corretores de ponto de fluidez previnem a formação da

rede estrutural cristalina e permitem que o óleo flua continuamente à baixas

temperaturas. Os compostos químicos mais comuns que desempenham essa função

49

são os naftalenos alquilados, fenóis, polimetilmetaacrilatos e copolímeros estireno-

éster (RIZVI, 2010).

Como visto até aqui, um óleo lubrificante totalmente formulado é formado pelo

óleo base mais percentuais de combinações de certos aditivos que melhoram seu

desempenho. Essa formulação se altera continuamente devido às especificações em

resposta às mudanças nas regulamentações industriais, requisitos dos OEM´s

(Original Equipment Manufacturers) e necessidades dos clientes (WONG; TUNG,

2016).

Os órgãos de especificação regionais que se incumbem de licenciar e

certificar esses óleos para os MCI’s são: JASO (Japan Automobile Standards

Organization), no Japão; ACEA (Association des Constructeurs Européens

d’Automobiles), na Europa e a API (American Petroleum Institute) nos EUA (WONG;

TUNG, 2016). O último, mais difundido na especificação dos óleos, juntamente com a

ASTM desenvolveram um sistema que divide os óleos em três categorias. Essas

categorias estão relacionadas com a destinação para: motor a combustão por

centelha (sufixo "S"), a diesel (sufixo "C") e para lubrificação de engrenagens (sufixo

"GL"). A especificação para um veículo de combustão por centelha seria, por exemplo:

API SL; sendo a última letra a definição do desempenho do óleo. O primeiro nível, já

obsoleto, é o API SA (utilizado entre 1920 e 1930), o qual não contém nenhum aditivo.

A Figura 23 elucida a evolução dos óleos em relação ao ano de disponibilização. As

especificações mais recentes já estão em API SM (disponível a partir de 2004) e API

SN (disponível a partir de outubro de 2010). O último já é compatível com motores que

operam com misturas de combustíveis etanol/gasolina com percentual elevado de

etanol, ex. E85. Oferecem melhoria no consumo de combustível, proteção do

turbocompressor e compatibilidade com o sistema de controle de emissão

(AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, 2017).

Dessa forma, são introduzidas periodicamente no mercado formulações

atualizadas dos lubrificantes, os quais podem atuar nos motores da atual geração

aperfeiçoando seu desempenho e garantindo máxima proteção dos seus

componentes, atendendo, por conseguinte, aos requisitos e necessidades globais

(KORCEK et al., 1999).

50

Figura 23 - Evolução dos óleos lubrificantes segundo as especificações da API Fonte: Adaptado de American Petroleum Institute (2017).

2.2 TRIBOLOGIA DE MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA

O MCI, como ilustrado na Figura 24, é o componente mais importante dos

veículos automotores, bem como em muitos meios de transporte que o utilizam como

fonte de propulsão (C TUNG; MCMILLAN, 2004). A popularidade do motor de

combustão interna reciprocativo é devido ao seu desempenho, confiabilidade e

versatilidade. No entanto, existem alguns inconvenientes principais. As eficiências

térmicas e mecânicas são relativamente baixas, com grande parte da energia do

combustível dissipada como perda de calor e fricção (HOLMBERG et al., 2014), como

já ilustrado na Figura 1. Ademais, os MCI´s contribuem para a poluição atmosférica

através da emissão de hidrocarbonetos, partículas e óxidos de nitrogênio, bem como

para o efeito estufa via dióxido de carbono (PRIEST; TAYLOR, 2000).

Para que essas adversidades sejam minimizadas os conceitos de tribologia

são aplicados, tendo em vista o desenvolvimento de MCI´s com atrito e desgaste

reduzido, assim sendo, reduzindo o seu impacto ambiental (SCHOMMERS et al.,

2013a).

51

Figura 24 - Motor de combustão interna reciprocativo Fonte: Eder et al. (2016).

Além do exposto até esse ponto, melhorias no desempenho tribológico dos

MCI´s podem gerar os seguintes benefícios:

Redução do consumo de combustível;

Aumento de potência;

Consumo de óleo reduzido;

Redução de emissão de gases prejudiciais;

Melhora da durabilidade, confiabilidade e vida do motor;

Extensão dos intervalos de manutenção do motor.

A Figura 25 ilustra alguns componentes relevantes do motor, os quais operam

com o conceito de atrito e desgaste reduzido. Medidas de redução de atrito no

mecanismo de acionamento de manivela, por exemplo, se concentram no conjunto do

pistão onde a maior percentagem de perda por atrito é encontrada, entre 50% a 68%.

No caso da transmissão por correia, o ajuste do layout e dimensionamento para

contornar problemas relacionados a vibração e pré-tensão da correia, por sua vez,

desempenham papel central. No circuito de óleo e água a utilização de lubrificantes

52

com baixa viscosidade tem ganhado destaque, e no trem de válvulas, o emprego de

mancais mais eficientes são mais praticáveis (SCHOMMERS et al., 2013b).

Figura 25 - Panorama geral dos componentes de relevância dos motores de combustão interna, os quais redução de atrito e desgaste são desejáveis Fonte: Schommers et al. (2013).

Neste trabalho a atenção é mantida ao conjunto do mecanismo de

acionamento da manivela, mais precisamente ao conjunto do pistão, o qual realiza a

transformação do movimento alternativo, proveniente da expansão dos gases, em

movimento rotacional na árvore de manivelas (PRIEST; TAYLOR, 2000).

O conjunto do pistão é constituído pelo pistão, anéis do pistão, pino e biela,

como representado na Figura 26. Há três principais tribossistemas nesse conjunto e

são eles: superfície da saia do pistão deslizando contra o cilindro; a superfície de

deslizamento do pistão em movimento rotativo em conjunto com a biela; e por último,

foco deste trabalho, as superfícies dos anéis em movimento reciprocativo ao longo do

cilindro (WONG; TUNG, 2016). A seguir, o tribossistema em estudo, anel do

pistão/cilindro será abordado integralmente.

53

Figura 26 - Representação do conjunto do pistão.

2.2.1 Tribologia anel do pistão/cilindro

O conjunto do pistão acomoda o grupo de anéis, os quais são constituídos de

uma série de anéis metálicos que desempenham o papel principal de manter uma

vedação de gás efetiva entre a câmara de combustão e o cárter do motor (C TUNG;

MCMILLAN, 2004). Outras funções dos anéis se residem na sua capacidade de

transferir calor do pistão para o cilindro, bem como limitar o fluxo de óleo do cárter

para câmara de combustão. Dessa forma, dois objetivos concomitantes são

alcançados: um nível mínimo de óleo é fornecido, garantindo um baixo consumo de

lubrificante, e o fluxo é tal que possibilita a formação de um filme hidrodinâmico nas

partes móveis (MAHLE GmbH, 2015). A Figura 27 ilustra a sequência de montagem

dos anéis no pistão para 3 tipos de motores, bem como suas dimensões, materiais

base e de recobrimento. Quanto maior a solicitação termomecânica, mais robusto

deve ser o anel. Quando não estão instalados, os dois primeiros anéis de compressão

têm um diâmetro maior que o cilindro. Uma vez comprimidos e instalados nas

cavidades do cilindro eles adquirem a sua forma e se adaptam ao contorno, de modo

54

que expandem em direção à camisa, assim a força resultante dessa expansão é

denominada tensão do anel. O terceiro anel, partindo da direção do topo, é o anel de

controle do óleo, o qual possui duas faces de deslizamento. A tensão nesses anéis é

fornecida por um expansor, que no caso é uma mola (C TUNG; MCMILLAN, 2004;

PRIEST; TAYLOR, 2000).

Figura 27 - Exemplo do conjunto de anéis para diferentes tipos de motores Fonte: Adaptado de Martínez et al. (2010).

A velocidade relativa entre os anéis e o cilindro varia substancialmente

durante o ciclo do motor, assim tem-se diferentes regimes de lubrificação na interface

de deslizamento. Lubrificação limítrofe é dominante nos fins dos cursos do pistão,

onde a velocidade relativa se aproxima de zero e a espessura do filme de óleo é

mínima. Próximo ao meio do curso da movimentação do pistão tem-se a máxima

distância entre as partes móveis, proporcionada pela lubrificação hidrodinâmica. O

55

anel de controle de óleo opera preferencialmente na região de lubrificação limítrofe,

pois há alta pressão no anel e área de contato relativamente baixa. Em geral, o atrito

em ambos anéis que se localizam nos canaletes mais extremos: 1° anel e anel de óleo

– é significante, enquanto o atrito do 2° anel é considerado geralmente como sendo o

menor, devido à uma menor tensão e menor pressão de gás atuante em sua face

traseira (WONG; TUNG, 2016). Por conseguinte, como ilustrado na Figura 27, não há

material de recobrimento nesses anéis, na maioria dos casos. Normalmente só o

material base, preferencialmente ferro fundido cinzento, é empregado (MARTÍNEZ et

al., 2010).

Dentre essas superfícies dos anéis que interagem com a camisa, uma em

questão está exposta às condições mais severas de temperatura e pressão, e

experimenta, mais do que as outras, regimes de lubrificação misto e limítrofe (C

TUNG; MCMILLAN, 2004). Essa superfície se localiza no primeiro anel do pistão

(Figura 28) e será objeto de investigação deste trabalho.

Figura 28 - Representação esquemática do tribossistema anel do pistão/cilindro Fonte: Adaptado de Obert et al. (2016).

Visto o posto, uma vez que as condições de operação do tribossistema 1° anel

do pistão/cilindro são mais severas, atrito e desgaste nesta região são de maior

56

magnitude, principalmente na região de combustão, no PMS, como ilustra a Figura

29. Dessa forma, o entendimento dos fenômenos tribológicos que ocorrem nessa

região são de extrema importância para o aperfeiçoamento do desempenho dos

MCI’s. Inovações que garantem maior durabilidade e menor atrito entre o conjunto de

anéis e o cilindro em detrimento à tendência de maiores pressões, maiores

temperaturas e maior geração de potência especifica, são sempre ansiadas

(DEMMELBAUER et al., 2017; KENNEDY; HOPPE; ESSER, 2014; KREBS et al.,

2005).

Tendo em mente a redução de atrito e desgaste, medidas tribológicas

tocantes à engenharia de superfície, isto é, recobrimento e texturização do cilindro

(TOMANIK; XAVIER; ZHMUD, 2013), bem como a formulação de novos lubrificantes

que atendam as demandas da nova geração de motores são essenciais. Assim, o

tema da próxima seção será embasado nessas questões, as quais são tema de

pesquisa e desenvolvimento de trabalhos voltados à tribologia de motores

(HOLMBERG; ANDERSSON; ERDEMIR, 2012; VLADESCU et al., 2015).

Figura 29 - Representação esquemática do perfil de desgaste do cilindro causado pelo deslizamento do conjunto de anéis no PMS Fonte: Adaptado Profito; Tomanik; Zachariadis (2016).

57

2.3 MEIOS TRIBOLÓGICOS PARA A REDUÇÃO DE ATRITO E DESGASTE EM

MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA

Desafios tribológicos impostos por MCI’s são o impulso para o

desenvolvimento de novas tecnologias que proporcionam atrito e desgaste reduzido.

São utilizadas várias técnicas empregadas tanto nos anéis, como em cilindros, as

quais em sinergia, colaboram para um motor mais econômico e potente. Dentre esses

métodos, destacam-se a utilização de recobrimentos com atrito reduzido, texturização

de superfícies, e otimização dos lubrificantes (HOLMBERG; ANDERSSON;

ERDEMIR, 2012).

2.3.1 Recobrimentos com atrito reduzido

Os recobrimentos com atrito reduzido visam, como o próprio nome diz, reduzir

o atrito da interface dos os anéis em deslizamento contra o cilindro. Avanços

significativos foram feitos nas últimas décadas e novas técnicas como deposição física

via fase vapor (PVD), deposição química via fase vapor (CVD), e spray térmico. Essas

tecnologias tornaram o recobrimento dos componentes do tribossistema anel do

pistão/cilindro, em escalas de produção, viável economicamente (MARTÍNEZ et al.,

2010).

Anéis do pistão - No que tange a melhoria do desempenho comportamento

tribológico dos anéis, seis principais processos de recobrimento são empregados,

como ilustrado na Figura 30.

58

Figura 30 - Tecnologias de recobrimento utilizadas no conjunto de anéis, as quais visam redução de atrito e desgaste Fonte: Adaptado de Van Basshuysen; Schäfer (2015).

A cromagem é aplicada através dos princípios de transferência de material

por meio da utilização de eletrólitos, ou seja, um processo eletroquímico. Esse tipo de

processo se destaca pela boa resistência ao desgaste que é conferida ao anel,

promovendo, também, baixa taxa de desgaste no cilindro. Exemplos comerciais desse

tipo de recobrimento são CKS® e GDC® (FEDERAL MOGUL, 2017). Os Moly’s são

recobrimentos de molibdênio, os quais se destacam pela resistência a formação de

marcas de queima sobre a superfície dos anéis. Esses revestimentos são depositados

através da técnica de spray térmico5, a qual consiste na aplicação de uma chama que

funde o molibdênio e um sopro de oxigênio o direciona contra a superfície do anel. Os

recobrimentos via plasma operam de maneira similar ao processo de deposição de

molibdênio, ou seja, é um tipo de spray térmico, o qual, ao invés da combustão de

uma mistura de gases, utiliza um arco de plasma para produzir mais energia. Desse

modo, é possível depositar materiais híbridos, compostos por metais e cerâmicas ex.

TiAlCN, que promovem maior resistência ao scuffing e desgaste (CHA; ERDEMIR,

5 Tecnologia de recobrimento que utiliza de uma fonte concentrada de calor proveniente de um arco elétrico, plasma ou combustão de uma mistura de gases, através da qual um gás é acelerado e adiciona energia cinética ao material fundido a ser depositado.

Anéis

Cromagem

Moly

Recobrimentos via plasma

HVOF – (High Velocity Oxy-Fuel)

Nitretação

PVD – (Physical Vapor Deposition)

59

2015). A tecnologia HVOF deriva do spray térmico, que é usado nos recobrimentos

Moly. Porém, aqui é aplicada uma chama com velocidade supersônica para introduzir

energia cinética e mais calor ao material de deposição. Esse processo confere

revestimentos mais densos e resistentes sobre a superfície dos anéis. Como

materiais, são empregados, na maioria, metais com altas percentagens de carbetos.

A nitretação é um método de deposição termoquímico, dessa forma faz-se uso do

processo de difusão de nitrogênio, e as vezes carbono, para garantir o revestimento

sobre a superfície dos anéis. Os recobrimentos por PVD apresentam ótimo

desempenho tribológico e são eficazes frente ao atrito e desgaste (SCHWEIZER;

FUESSER, 2013). Por intermédio dessa técnica são produzidos recobrimentos

resistentes ao desgaste, como CrN, que garantem ao mesmo tempo menor perda

progressiva de material do cilindro. O PVD é limitado pela taxa de deposição sobre a

superfície do anel, a qual consegue alcançar uma camada de revestimento de cerca

de 50 µm, o que cumpre os requisitos de vida útil esperado tanto para motores Otto,

quanto diesel. Um tipo de recobrimento especial, depositado por PVD, que vem se

destacando na indústria automobilística, é o DLC (Diamond-like Carbon) (VETTER et

al., 2005). DLC é uma forma metaestável de carbono amorfo que contem significantes

percentagens de ligações do tipo sp3 (ROBERTSON, 2002). Esses materiais se

destacam por seu desempenho tribológico – reduz atrito em 60%, devido ao seu poder

auto lubrificante durante o deslizamento por meio da formação de uma camada de

baixa resistência ao cisalhamento, a qual é induzida termo mecanicamente

(KENNEDY; HOPPE; ESSER, 2014). A Figura 31 ilustra uma imagem adquirida por

MEV do primeiro anel de compressão do pistão com recobrimento DLC (VAN

BASSHUYSEN; SCHÄFER, 2015).

60

Figura 31 - Imagem adquirida por MEV de um recobrimento DLC no primeiro anel de compressão Fonte: Kennedy; Hoppe; Esser (2014).

A Figura 32 mostra a comparação do CoF relativo entre vários tipos de

recobrimentos de anéis utilizados na atualidade. O CoF foi medido em teste de

laboratório, em um tribômetro SRV, sob condições de lubrificação mista. Os nomes

CarboGlide® e DuroGlide® são marcas de cunho comercial e representam variantes

do recobrimento DLC (FEDERAL MOGUL, 2017).

Figura 32 - Comparação relativa do CoF para diferentes tipos de recobrimentos utilizados em anéis, medidos em um tribômetro SRV sob condições de lubrificação mista Fonte: Adaptado de Kennedy; Hoppe; Esser (2014).

Cilindro - Outro elemento do tribossistema estudado neste trabalho, que é de

grande importância, é o cilindro, no qual tecnologia de recobrimento também é

utilizada, tendo em vista o ganho em propriedades tribológicas. O cilindro se encontra

61

no bloco do motor, e dependendo das propriedades e finalidades requeridas, três

principais tipos de materiais são empregados, e são eles: ligas ferrosas –

principalmente ferro fundido cinzento e vermicular, ligas de magnésio e ligas de

alumínio-silício (VAN BASSHUYSEN; SCHÄFER, 2015). Atualmente, os blocos de

motores que mais ganham destaque são aqueles produzidos em alumínio, devido à

sua condutividade térmica e menor densidade frente aos blocos de ferro fundido

(GAND, 2011). Assim, cumprindo os requisitos materiais impostos pela tendência do

downsizing (GOLLOCH, 2005). A Figura 33 ilustra a diversidade de combinações de

materiais e recobrimentos que podem compor o bloco do motor e cilindro.

Figura 33 - Processos de produção para blocos de motores e superfícies de cilindros Fonte: Adaptado de Gand (2011).

Na configuração monolítica, o cilindro é parte do bloco do motor e não há

adição de recobrimentos e/ou camisas heterogêneas para compor a superfície de

62

deslizamento do anel. No caso da utilização de blocos de alumínio monolítico (Alusil®

- AlSi17Cu4Mg) a superfície de deslizamento é criada através de um processo que

utiliza da segregação do silício da liga durante o processo de resfriamento do sistema

eutético binário e subsequente exposição do mesmo, seja por corrosão ou

mecanicamente, durante o brunimento (DIENWIEBEL; PÖHLMANN; SCHERGE,

2007). No caso de alguns automóveis da marca BMW o Alusil® é encontrado como

um inserto em um bloco de magnésio (KREBS et al., 2005).

Blocos heterogêneos são produzidos de modo que as camisas de FoFo

cinzento ou alumínio com alta percentagem de silício (Silitec®) são fundidas e

depositadas sobre os cilindros, ou são insertadas mecanicamente no orifício. A

coesão entre os dois materiais (camisa e bloco) é garantida ou por meio de ancoragem

mecânica, ou através de ligação intermetálica (VAN BASSHUYSEN; SCHÄFER,

2015).

Nota-se pela Figura 33 que o recobrimento dos cilindros só ocorre nos blocos

de alumínio/magnésio classificados como quasimonolítico por meio de técnicas como

o PVD, deposição eletroquímica de níquel (Nikasil®) e spray térmico. Tocante a essa

última tecnologia mencionada, há vários tipos de processos que utilizam de seu

princípio. Dentre esses processos o LDS-TWAS juntamente com o Alu-thin-fer são os

que mais se destacam devido ao custo de produção, controle de estrutura do

revestimento conferido, e pré-processamento do cilindro. A Figura 34 ilustra

esquematicamente o princípio de funcionamento da tecnologia LDS, o qual se utiliza

de um processo de deposição através da fusão por arco elétrico de dois eletrodos de

aço carbono. O metal fundido é acelerado contra o cilindro por meio de um gás

atomizador (KÖNIG; LAHRES; METHNER, 2014).

63

(a)

(b)

Figura 34 – (a) Representação esquemática do processo LDS-TWAS e (b) a concomitante superfície do cilindro originada no processo de recobrimento Fonte: Adaptado de König; Lahres; Methner (2014).

2.3.2 Texturização de superfícies

A natureza da topografia e estrutura da superfície de deslizamento do cilindro

influencia substancialmente as respostas do atrito, do desgaste, bem como do

consumo de óleo no tribossistema estudado neste trabalho (TOMANIK, 2008). Essa

64

estrutura da superfície de deslizamento é conferida na etapa final de produção da

camisa, por meio do processo de brunimento (Figura 35) (VAN BASSHUYSEN;

SCHÄFER, 2015).

Figura 35 - Representação esquemática do processo de brunimento Fonte: Flores; Abeln; Klink, (2007).

No processo de brunimento, sobrepõem-se movimentos rotativos e

alternativos de translação da ferramenta cortante. Desse modo, são produzidas

topografias, que contêm sulcos, como a apresentada na Figura 36, que realizam

funções de estabilização do filme hidrodinâmico, e de reservatório de lubrificante

durante o deslizamento do anel (FLORES; ABELN; KLINK, 2007).

65

Figura 36 – (a) Exemplo da topografia do cilindro produzida pelo processo de brunimento, bem como (b) a representação esquemática de suas funções Fonte: Adaptado de Flores; Abeln; Klink, (2007).

É importante salientar, que durante o processo de deslizamento dos anéis

contra o cilindro, há desgaste das superfícies, e a topografia vai se alterando ao longo

do tempo de vida útil dos componentes. No cilindro isso fica evidente através da

observação do alisamento da superfície brunida, como confirmado por Do Vale (2016),

e ilustrado na Figura 37.

66

Figura 37 - Comparação por meio de MEV entre as superfícies brunidas de FoFo cinzento antes e após ensaio de 4 hs (condição de Fn=75 N, f=5 Hz e Cp=10 mm) Fonte: Do Vale (2016).

O processo de brunimento pode ser seguido por outras técnicas que visam

aprimorar o desempenho tribológico do conjunto deslizante dos anéis e cilindro.

Alguns exemplos dessas técnicas são as superfícies texturizadas à Laser (LST)

próximas ao PMS (Figura 38), bem como a produção de microdimples com cerca 100

µm de diâmetro e 10 µm de profundidade em 60% da superfície da camisa. Essas

estruturas produzem atrito e desgaste relativamente baixos e chegam a reduzir o

consumo de combustível em até 4% (HOLMBERG; ANDERSSON; ERDEMIR, 2012).

A eficiência da combinação de região do cilindro produzidas pelo processo

LST, e regiões amaciadas, aliam as vantagens oferecidas pelo depósito de óleo e

baixo atrito, respectivamente (TOMANIK, 2008).

.

67

Figura 38 - Topografia da superfície do cilindro estruturada por Laser Fonte: Adaptado de Flores; Abeln; Klink (2007); Tomanik (2008).

Para analisar se esses meios tribológicos de redução de atrito e desgaste são,

de fato, eficazes, determinados testes com os componentes anel do pistão e cilindro

devem ser conduzidos de uma forma que os resultados possam ser comparados

(CZICHOS, 1995). Para a investigação do atrito são construídas, muitas vezes, curvas

Stribeck, as quais relacionam CoF com velocidade e carga do ensaio, e para o

desgaste constroem-se gráficos que relacionam a alguma unidade de perda de

material, seja em volume, profundidade ou massa com variáveis controladas durante

os testes, como temperatura, carga, material etc. (DETERS et al., 2002). Um exemplo

da construção gráfica para a avaliação do comportamento tribológico do tribossistema

do anel do pistão/cilindro é ilustrado na Figura 39. O comportamento do CoF é

caracterizado por meio da curva de Stribeck, e do desgaste, obtidos através de testes

de duração mais longa mantendo carga, velocidade e temperatura constante para

diferentes acabamentos superficiais do cilindro. Os testes foram conduzidos por um

tribômetro CETR UMT – 2, que produz um padrão de movimento de contato

reciprocativo. Dois níveis de carga – 50 e 100 N, e 12 razões de velocidade/carga

foram aplicadas à cada espécime. Nos testes de desgaste, optou-se por um período

de 4 hs de duração (TOMANIK, 2008).

68

Figura 39 - Equipamento a) CETR UMT e b) representação esquemática do movimento reciprocativo; c) curva de Stribeck obtidas através dos testes de atrito a 50 N e d) resultados das medições do desgaste para diferentes acabamentos superficiais

Fonte: Adaptado de Do vale (2016); Tomanik (2008).

2.4 CADEIA DE TESTES TRIBOLÓGICOS

Os testes para a verificação do desempenho tribológico do anel do pistão e

cilindro sempre estão conectados ao seu grau de reprodutibilidade das condições e

resultados do funcionamento dos componentes em situação real. Dessa forma, há

uma classificação dos testes de forma sequencial que exprime essa correspondência.

À essa classificação dá-se o nome de cadeia de testes tribológicos, a qual é

apresentada graficamente na Figura 40.

Os testes com modelos do sistema V e VI são conduzidos pelos tribômetros

e têm importante papel na determinação das variantes seguintes do sistema de estudo

onde a correspondência maior com as condições de campo vão se aproximando e se

tornam mais complexas. Nos modelos V e VI segmentos de anéis e paredes do pistão

são dispostos um contra o outro em que há um movimento oscilatório relativo dos

componentes, assim simulando o funcionamento dos mesmos no motor. Nos modelos

69

de teste tipo IV são utilizados componentes originais em uma avaliação do agregado

reduzido ou parte de uma unidade. No caso do modelo de teste III, toda a unidade

serve de base para a avaliação. Para os modelos de teste II e I, onde há maior

correspondência com as condições reais de operação, são utilizados testes em

bancada com todo o veículo e em campo, respectivamente. (DETERS et al., 2002).

Neste trabalho será utilizado um modelo de teste tipo V, ou seja, serão

empregados componentes originais com dimensões reduzidas, e as condições de

operação dos mesmos podem ser replicadas durante os testes.

Figura 40 - Representação esquemática da cadeia de testes tribológicos aplicada à avalição do anel/cilindro.

70

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Para a avaliação do comportamento tribológico dos materiais utilizados neste

trabalho, uma sequência de passos foi seguida e resumidamente exposta no

fluxograma da Figura 41.

Figura 41 - Fluxograma dos procedimentos do trabalho.

3.1 DESCRIÇÃO DA BANCADA DE TESTE RECIPROCATIVO

Para o modelo de ensaio que foi empregado neste trabalho, utilizou-se um

tribômetro oscilatório SRV®4 (Optimol Instruments Prueftechnik GmbH) localizado no

LFS, o qual permite controle preciso, e de modo independente, da força normal,

temperatura, curso e frequência. Com o movimento reciprocativo do equipamento de

teste, o padrão de movimentação do anel no PMS é representado em um ambiente

controlado. A configuração da bancada de teste da SRV®4 é ilustrada na Figura 42.

71

Figura 42 - Bancada de teste da SRV4 com detalhe da montagem do segmento do anel e do cilindro. 1) Suporte do anel do pistão, 2) Suporte do cilindro, 3) Bloco de aquecimento com piezo-elemento, 4) Biela para a aplicação da força FN e 5) Braço linear de movimentação.

Com esse arranjo de montagem dos componentes a serem testados, a

superfície dos mesmos pode ser ajustada a qualquer ângulo de inclinação. Dentro da

câmara de teste o segmento do cilindro é fixado em um suporte, que pode ser

aquecido, o qual contém um sensor de carga piezoeléctrico para a realização da

medição da força de atrito (Fat). O segmento do anel é inserido em um suporte

ajustável, que é movido por um motor elétrico reciprocativo paralelamente à superfície

do cilindro. A força normal é aplicada através de uma biela. A temperatura do corpo

de prova do cilindro pode ser controlada a níveis que ultrapassam 290 °C. O curso

pode ser ajustado entre 1 a 4 mm e a frequência de 1 a 50 Hz. A força normal pode

variar de 1 a 2000 N.

72

3.2 MATERIAIS

3.2.1 Anel do pistão e camisa do cilindro

Para a condução dos testes foram utilizados corpos de prova originados de

produtos fabricados em série pela Mahle Metal Leve S. A destinados a motores SI

Flex Fuel. Assim, segmentos do primeiro anel de compressão recoberto com CrN e

camisa do cilindro de ferro fundido cinzento perlítico foram extraídos de seus

respectivos blocos com diâmetro nominal de 76 mm, como ilustra a Figura 43.

Figura 43 – Esquema dos corpos de prova (a) da camisa do cilindro e (b) do anel do pistão.

A microestrutura de cada um dos materiais utilizados para os testes é

apresentada nas imagens tanto de MEV quanto de microscopia óptica da seção

transversal de ambos os corpos de prova na Tabela 2. Nota-se pela microscopia óptica

microestruturas tipicamente empregadas para anéis de compressão (FEDERAL

73

MOGUL, 2017; KENNEDY; HOPPE; ESSER, 2014; KENNEDY; HOPPEN; ESSER,

2012; SCHWEIZER; FUESSER, 2013; VAN BASSHUYSEN; SCHÄFER, 2015), os

quais fazem uso do ferro fundido nodular martensítco como material base e são

recobertos com CrN (aproximadamente 40 µm de camada, região com tonalidade

turquesa) depositado pelo processo PVD, combinando resistência ao desgaste e

scuffing com baixo CoF, bem como desgaste reduzido no cilindro (SCHWEIZER;

FUESSER, 2013; TOMANIK; FERRARESE, 2006). Já a camisa de FFP apresenta,

em sua superfície, quantidade significativa de metal dobrado6 (folded metal), que se

formou durante o processo de brunimento preferencialmente sobre a grafita.

Entretanto, veios de grafita expostos também são encontrados.

6 Termo utilizado para referir-se à deformação plástica de platôs em superfícies brunidas

74

Tabela 2 -– Imagens da seção transversal do anel e camisa, adquiridas por meio da técnica de microscopia eletrônica de varredura (1ª coluna) da região superficial, bem como microscopia óptica do interior dos corpos de prova (2ª coluna).

MEV (Região superficial – 1000X) Microscópio óptico

An

el

B

SE

ED

S C

r

Cam

isa

SE

I

X1000

75

A textura superficial do anel do pistão quanto da camisa, as quais influenciam

diretamente o comportamento tribológico do tribossistema estudado em questão

(FLORES; ABELN; KLINK, 2007; HOEN; SCHMID; STUMPF, 2009; TOMANIK, 2008),

foi analisada qualitativamente por meio de imagens obtidas por estereoscópio e MEV.

Essas superfícies são exibidas na Figura 44. O acabamento superficial da camisa foi

conferido pelo processo de brunimento, o qual é evidenciado pelas linhas transversais

inclinadas que se cruzam (c). O ângulo de brunimento utilizado no processo de

texturização foi de cerca de 30°, o qual é geralmente encontrado em camisas de

MCI’s. Já a superfície do anel recoberto com PVD apresenta pequenos defeitos

comuns da deposição PVD – sputtering via arco catódico, indicados por círculos

transparentes vermelhos.

Figura 44 - Imagens (a) e (b) da superfície do anel em diferentes magnificações obtidas por estereoscópio, (c) e (d) são imagens da superfície da camisa adquiridas por estereoscopia e MEV, respectivamente.

76

A medição da topografia das superfícies dos materiais de ensaio foi feita

através de perfilometria óptica 3D com o auxílio de um interferômetro de luz verde,

CCI, da marca Taylor Robson®. As imagens do anel e camisa, são ilustradas na

Tabela 3. Das medições realizadas, dois pontos devem ser destacados: a

representação 3D da camisa ilustra notoriamente as bandas helicoidais promovidas

por brunimento. Ademais, o brunimento empregado foi do tipo platô convencional,

identificado pela extração do transversal na direção y da camisa que passou pelos

filtros de forma, ondulação e rugosidade. Em segundo lugar é de se destacar que,

através do perfil médio transversal na direção y extraído da forma do anel, foi possível

observar a assimetria em sua face de deslizamento. Essa face assimétrica propicia

redução da força tangencial do anel, e é uma maneira de reduzir o CoF na interface

anel/camisa (MARTÍNEZ et al., 2010).

77

Tabela 3 - imagens e perfis obtidos por meio de perfilometria óptica do anel (1ª coluna) e da camisa (2ª coluna).

Anel Camisa

Representação 3D

Representação 3D

Região superficial

Região superficial

Perfil médio transversal na direção y

Perfil transversal na direção y

A topografia das superfícies foi caracterizada através dos parâmetros de

rugosidade da família Sk, e são exibidos na Figura 45, juntamente com a curva

cumulativa da distribuição de alturas das rugosidades da superfície, ou mais

conhecida como curva de Abbot-Firestone. Na camisa podem ser observados valores

praticados em texturas superficiais geradas por brunimento platô (MALBURG; RAJA;

78

WHITEHOUSE, 1993), com baixa rugosidade do núcleo da superfície (Sk) e dos picos

que estão acima da área de contato mínimo (Spk). Já a rugosidade dos vales que

estão abaixo da área de contato da superfície (Svk) apresenta valor superior ao dos

outros dois parâmetros. Esse tipo de brunimento reduz desgaste – principalmente

durante a fase de amaciamento, e também é conhecido por diminuir o atrito em regime

misto e limítrofe, bem como atenuar o consumo de óleo (HOEN; SCHMID; STUMPF,

2009).

Figura 45 - Curva de Abott-Firestone com os parâmetros da família Sk para a Camisa e o anel.

79

3.2.2 Óleo lubrificante

Um óleo de referência de mercado da empresa Idemitsu Lube South America

Ltda totalmente formulado, com alto nível de desempenho, foi escolhido. Esse

lubrificante contém um pacote de aditivos típico como anti-desgaste, detergente,

antioxidante, dispersante e vários tipos de FM’s. A partir desse óleo totalmente

formulado, duas variantes foram produzidas para investigar o efeito do modificador de

atrito – FM, as quais receberam as designações de óleo BL (óleo base) e A, e foram

fornecidas pela Idemitsu. A variante BL não possuía em sua formulação nenhum tipo

de aditivo químico que desempenhava papel de FM, ou seja, apresentava a mesma

composição do óleo de referência, porém sem nenhum FM. Já o óleo A continha um

tipo específico de composto químico que atuava como FM. A Tabela 4 descreve os

óleos de forma sucinta.

Tabela 4 – Descrição do óleo base utilizado.

Características BL Óleo A

Mercado Japão Japão

Grau de viscosidade SAE 0W-20 0W-20

Nível de desempenho API SN ILSAC GF-5*

API SN ILSAC GF-5*

Friction Modifier Não Sim

*Nível de desempenho do óleo de referência de mercado quando totalmente formulado.

A partir do óleo A foram realizadas duas diluições, a primeira com etanol

anidro a 10 p% (EA10%), e a segunda de etanol hidratado também a 10 p% (EH10%)

– a quantidade relativa de água presente no etanol hidratado foi de 1/3 em massa, ou

seja, 33,3 p%. Desse modo, deu-se origem a mais duas variações de óleo, B (EA10%)

e C (EH10%), as quais podem ser vistas na Figura 46.

80

Figura 46 - Variações de óleo B e C provenientes da diluição de etanol e etanol mais água no óleo A.

3.3 MÉTODOS

3.3.1 Montagem do ensaio

Com os corpos de prova em mãos, segue-se para a montagem no suporte,

procedimento que é feito manualmente (Figura 47).

81

Figura 47 - Suportes para o segmento do anel e camisa.

Para a vedação da câmara de combustão e transferência de calor do pistão

para o cilindro através do anel, o mesmo é produzido de tal forma, que seu raio é

maior que o do cilindro, e, no momento da montagem, ele recebe uma pré-tensão e é

introduzido na cavidade, liberando essa tensão contra a parede da superfície do curso

do pistão. Para garantir que o anel e a parede do cilindro tenham o mesmo raio, e

consequentemente o cilindro toque toda a superfície do anel durante o ensaio, é

empregada uma técnica de alinhamento manual. Ela se embasa na verificação da

marca do curso do anel na camisa, a qual foi previamente pintada. Esse movimento

de curso do anel é promovido por um dispositivo fabricado propriamente para esse fim

(Figura 48). Após esse processo, ambos os corpos de prova nos seus respectivos

suportes estão prontos para ser inseridos no tribômetro.

82

Figura 48 - a) e b) dispositivo para alinhamento dos corpos de prova, c) e d) corpos de prova alinhados.

A montagem do ensaio segue com a adição do óleo a ser testado, de modo

que a camisa do cilindro seja imersa completamente no lubrificante. Após isso, o

suporte da camisa é fixado lateralmente através de um parafuso na base, e a força

normal Fn de 50 N é empregada por meio do movimento de uma mola extensora e

regulada através da sua deformação e transferida a biela. A câmara da SRV

permanece com uma inclinação de 0° durante todo o ensaio, a fim de manter o óleo

testado retido na cuba do suporte da camisa. A Figura 49 ilustra como é a configuração

de montagem no interior da SRV.

83

Figura 49 - Configuração da montagem dos corpos de prova no interior da câmara de ensaio da SRV. 1) Segmento do anel, 2) Suporte do anel, 3) Suporte da camisa preenchido com óleo, 4) Parafuso de fixação lateral.

3.3.2 Procedimento do teste

O procedimento de teste empregado para a avaliação do comportamento

tribológico seguiu uma ordem padrão sucessiva de etapas para cada óleo, de acordo

com a Figura 50. Esse tipo de procedimento tem sido utilizado por anos para avaliar

anéis, cilindros e óleos e foi adaptado para ser alinhado ao funcionamento da máquina

(PROFITO et al., 2013; TOMANIK, 2008). Para cada par de atrito e variante de

lubrificante, 2 réplicas de teste foram conduzidas.

Figura 50 - Esquema do procedimento sequencial para avaliação do comportamento tribológico.

84

No início de cada teste, os parâmetros carga, 50 N, curso de 3 mm, velocidade

de 5 Hz, e temperatura de 50 °C foram aplicados por 1 min – amaciamento do sistema

(running-in). Com os parâmetros citados anteriormente mantidos, dá-se início ao

procedimento que visa a análise do comportamento do atrito, de modo em que há

aumento gradual da velocidade de 5 a 20 Hz ao passo de 5 Hz a cada minuto,

formando uma morfologia de escada. Na sequência, o passo reverso de frequência é

aplicado (20 a 5 Hz), visando identificar formação eventual de tribofilme.

Posteriormente, há o aquecimento do sistema de 50 °C para 130 °C, o qual dura 10

min a uma velocidade de 5 Hz. Em seguida, uma nova sequência de escada de

frequência é empregada. Na fase de desgaste, a carga é aumentada para 200 N e

frequência de 20 Hz é mantida durante 2 hs. Após isso, a escada de frequência

decrescente de 20 a 5Hz é aplicada para verificar efeito do desgaste do conjunto

anel/camisa no atrito e/ou possível remoção do tribofilme. Com todos esses passos

supracitados, o comportamento tribológico do tribossistema deste trabalho pode ser

avaliado em diferentes condições que simulam o PMS dos MCI’s. A descrição gráfica

do procedimento é demonstrada na Figura 51.

85

Figura 51 - Representação gráfica das etapas do procedimento com seus respectivos parâmetros.

De maneira a salientar o propósito das diferentes etapas identificadas na

descrição gráfica do procedimento (Figura 51), a Tabela 5 é apresentada.

86

Tabela 5 - Descrição das etapas apresentadas na Figura 51 das etapas do procedimento empregado nos testes.

Passo Duração

(min) Temp. (°C)

Carga (N)

Pressão nominal equivalente (bar)

Frequência (Hz)

Objetivo

1 1 50 50 25 5 Amaciamento (Running-in)

2 8 - - - 5-10-15-20-15-10-5

Teste de atrito com parâmetros representativos do ciclo urbano

3 10 50-130 - - 5 Aquecimento de 50 a 130°C

4 4 130 - - 5-10-15-20 Teste de atrito representativo de ciclo rodoviário

5 120 - 200 100 20 Teste de desgaste, representativo do PMS em plena carga (WOT)

6 4 - 50 25 20-15-10-5 Teste de atrito pós-desgaste

Após a conclusão de cada teste, todos os corpos de provas foram limpos e

armazenados para posterior medição do desgaste realizado com auxílio de

perfilometria óptica.

3.3.3 Análise do coeficiente de atrito

Em cada teste, o coeficiente de atrito (CoF) foi salvo no sistema de controle

do tribômetro SRV para posterior análise. A SRV proporciona dois tipos de saída de

dados referentes ao atrito, os quais foram utilizados para avaliar o desempenho

tribológico do tribossistema. O primeiro, representativo do CoF instantâneo, é medido

e salvo ponto a ponto ao longo de todo o curso do anel e denominado FSA. Esse dado

é útil quando uma abordagem energética do atrito é optada por apresentar algumas

vantagens, como melhor relação em curvas de Stribeck-like e menor dispersão de

resultados (DO VALE; DA SILVA; PINTAÚDE, 2017). O perfil típico do CoF FSA é

apresentado na Figura 52. Os valores negativos de CoF representam diferença de

87

potencial negativa do sensor piezoelétrico, o qual faz a leitura do Fat. Isso ocorre

devido a inversão do movimento reciprocativo.

Figura 52 - Representação do CoF instantâneo (FSA) medido e salvo no sistema de controle do tribômetro SRV. Parâmetros de obtenção de dados: carga = 50N, temperatura = 50°C, frequência = 20 Hz, curso = 3 mm.

Utilizando-se dos dados FSA, calcula-se a energia total despendida para

vencer o atrito durante todos os ciclos de movimento do anel sobre a camisa (Equação

(3). Posteriormente divide-se a energia total pela soma dos deslocamentos relativos

de cada ponto resultando no Fat médio, o qual quando dividido pela força normal de

50 N resulta no CoF energético médio (CoFem – Equação (4). Dessa forma, foram

calculados todos os CoF representativos de cada nível de frequência das sequências

de atrito da Figura 51 (regiões verdes), os quais foram analisados graficamente.

𝐸𝑡 = ∫ 𝐹𝑎𝑡. ∆𝑋 (3)

𝐶𝑂𝐹𝑒𝑚 =𝐸𝑡

𝐹𝑁 . ∫ ∆𝑋 (4)

-0,2

-0,15

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

300 300,02 300,04 300,06 300,08 300,1 300,12 300,14 300,16 300,18 300,2

CO

F

Tempo (s)

88

A segunda forma de analisar o atrito é pelo valor de CoF calculado pelo

sistema da SRV, podendo ser acompanhado em tempo real no software que controla

a máquina. A esse tipo de CoF, a designação pico a pico (PTP) foi atribuída, pois ele

utiliza a média dos picos de atrito dos finais dos cursos da Figura 52 para calcular a

média do CoF a cada segundo. Esse tipo de cálculo geralmente resulta em CoF

ligeiramente maior do que aquele calculado pelo método energético. Essa abordagem

é útil para analisar CoF na sequência de desgaste do protocolo de teste.

3.3.4 Medição e análise do desgaste

Para a avaliação do desgaste pós-ensaio, apenas a camisa foi medida. Essa

medição foi realizada com o auxílio de perfilômetro óptico CCI da marca Taylor

Robson®. A Figura 53 ilustra a configuração para a medição do desgaste na camisa.

Figura 53 - Configuração do CCI para a medição do desgaste na camisa.

Dessa forma, perfis sequenciais foram obtidos por interferometria de luz

verde, dentro e fora da zona de desgaste. No total, foram medidos 12 perfis, 4 na

horizontal e 3 na vertical com dimensões de 1,71 x 1,71 mm cada, com sobreposição

de 20 %. Assim sendo, originando uma imagem topográfica de 5,81 x 4,45 mm. A

Figura 54 ilustra como a superfície de desgaste e sua respectiva imagem – depois da

filtragem de forma, é obtida.

89

Figura 54 - Imagem topográfica da zona de desgaste medida por interferômetro de luz verde CCI ilustrando a sobreposição de perfis obtidas por medições sequenciais de dentro e fora da zona de desgaste – após a filtragem de forma.

Após a medição da superfície desgastada dá-se início a aplicação de uma

série de filtros topográficos para se obter o valor numérico do desgaste representado

em um perfil médio x – y da seção transversal da amostra. Esse valor numérico é igual

a área de desgaste [µm²] – região vermelha, da superfície na zona de contato quando

comparada a porção não desgastada, como ilustra a Figura 55. Para efeitos de

padronização, a área de desgaste foi convertida para volume unitário de desgaste

[µm³/mm] através da multiplicação da área em vermelho por 1000 µm/mm.

90

Figura 55 - Perfil transversal da zona de desgaste representada em vermelho.

91

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 ANÁLISE DO CoF: EFEITO DA ADIÇÃO DO MODIFICADOR DE ATRITO –

FRICTION MODIFIER

No intuito de avaliar o efeito da adição do FM (Friction modifier) no óleo base

(BL), o CoF PTP (pico a pico) do começo do ensaio característico da sequência de

amaciamento e de atrito a 50 °C é ilustrado na Figura 56.

Figura 56 – Comportamento do CoF PTP durante os primeiros minutos do ensaio para os óleos BL e A. Os parâmetros como temperatura (50 °C) e carga (50 N) são mantidos constantes. Na transição para dois minutos há aumento da frequência de 5 para 10 Hz.

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0,18

0,2

0,00 1,00 2,00

Co

F

Tempo [min]

BL

A

92

No início do teste a 50 °C foi possível observar valores de CoF para o óleo BL

na faixa de 0,17 durante o amaciamento, o qual manteve-se nesse patamar até 2 min,

quando a transição de velocidade de 5 para 10 Hz acontece. Nesse ponto, houve uma

ligeira queda no atrito de 0,18 para 0,17 – comportamento remanescente da curva de

Stribeck, indicando regime de atrito misto, uma vez que um aumento de velocidade

resulta em menor CoF – vide Figura 10.

Em contrapartida, no caso do óleo A, foi verificado alto CoF inicial (0,18)

seguido de uma queda drástica até um patamar de 0,08 durante a etapa de

amaciamento. Isso sugere formação triboquímica de um filme superficial de baixo

atrito proveniente da reação entre o Friction Modifier e a superfície, o que leva à

redução do CoF na zona de contato sob regime limítrofe/misto (GALVÃO et al., 2017).

Ademais, durante a transição de velocidade de 5 para 10 Hz, não houve queda no

valor do atrito, como observado no óleo BL.

A fim de verificar o comportamento do CoF em toda a abrangência dos testes

de atrito, a Figura 57 traz curvas de Stribeck-like representativas do CoFem para

várias velocidades praticadas no teste. A 50 °C, a designação II na legenda remete

ao passo reverso da sequência de atrito. A 130 °C, A e D representam as curvas de

Stribeck obtidas antes e depois da fase de desgaste, respectivamente.

No início do teste a 50 ºC é possível notar, que para o óleo BL, o atrito é

reduzido de 0,14 a 5 Hz para 0,12 a 20 Hz. Esse comportamento é característico de

regime misto, onde há diminuição de atrito com aumento da velocidade. A 50 °C a

viscosidade do óleo é relativamente alta e um aumento de frequência reduz a

contribuição limítrofe/misto do atrito. Durante o passo reverso - 50 °C II, não foi

verificado mudança significativa no CoF. No entanto, a 130 °C, o CoF representativo

do óleo BL apresenta aumento moderado, e quando a velocidade é reduzida atinge

um patamar constante de 0,16 – comportamento típico da transição entre a região de

atrito misto e limítrofe. Dado que com o aumento da temperatura há diminuição da

viscosidade, há menos suporte hidrodinâmico na interface e o regime de lubrificação

limítrofe torna-se predominante, ocasionando um aparente deslocamento da curva

Stribeck para a direita (SPIKES, 2004). Na sequência de atrito pós-desgaste o mesmo

perfil é observado, porém com pequena redução do CoF, indicando a ocorrência de

amaciamento (break-in) da superfície (TOMANIK, 2008).

93

A

B

Figura 57 - Curvas Stribeck-like dos óleos BL e A a (A) 50 °C e (B) 130 °C representando o CoF energético médio das zonas de avaliação de atrito do protocolo de teste.

Na sequência de testes de atrito para o óleo A, notou-se queda drástica no

CoF já a 50 °C e em baixas velocidades, o qual manteve-se em 0,04 e experimentou

seu menor valor de 0,03 a 20 Hz. Essa queda abrupta é atribuída à ativação do FM

na interface anel/camisa. Porém, o tribofilme resultante atrasou de certa forma a

transição limítrofe – mista. A 130 °C o óleo A contribuiu ainda mais para um

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0 5 10 15 20 25

Co

F

Frequência [Hz]

BL 50 °C

BL 50 °C II

A 50 °C

A 50 °C II

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0 5 10 15 20 25

Co

F

Frequência [Hz]

BL 130 °CA

BL 130 °CD

A 130 °CA

A 130 °CD

94

decréscimo do CoF mantendo o mesmo padrão da curva a 50 °C. Uma vez que a

viscosidade diminui com aumento de temperatura, uma mudança de 50 para 130 °C

contribui para uma maior área de contato entre as superfícies e aumente a taxa de

deposição de aditivos, condição essa que auxilia na formação de tribofilme derivados

de ZDDP e FM’s. Alguns trabalhos mostram que determinados FM’s quando na

presença de ZDDP reduzem ainda mais o atrito, isto é, há uma sinergia entre o aditivo

anti-desgaste ZDDP e o FM. Dessa forma, aumentando a severidade do contato para

o óleo A, isto é, elevando a temperatura e velocidade de deslizamento, tem-se menor

atrito, como mencionado por Spikes (2015) e comprovado por Muraki et al. (1997).

Com o propósito de identificar as diferenças do desempenho dos óleos na

interface anel/camisa ensaiados, imagens obtidas por meio de estereoscópio foram

extraídas das suas respectivas zonas de contato testadas com esses óleos. Ver

Tabela 6.

Tabela 6 - Imagens obtidas por estereoscópio das regiões de contato entre o anel e a camisa para os óleos testados BL e A.

Óleo BL Óleo A

An

el

Cam

isa

95

Para a interface de deslizamento anel/camisa envolvendo o óleo A, há indícios

de formação de maior quantidade de tribofilme com propriedades que reduzem o atrito

– diferença de aspecto superficial entre óleo BL e A. Essa hipótese é comprovada pela

caracterização superficial feita por espectroscopia vibracional RAMAN da região

desgastada da camisa (vide Figura 58). Através dos resultados obtidos via técnica

RAMAN, foi possível confirmar presença de filmes triboquimicamente ativos apenas

nos platôs, isto é, zonas de contato tribológico – os espectros referentes aos sulcos

não indicaram nenhuma formação de filme e/ou mudança na composição superficial

(COUSSEAU; RUIZ ACERO; SINATORA, 2015).

Figura 58 – Espectros RAMAN representativos do platô – em vermelho, e sulco – em preto da zona de desgaste da camisa ensaiada com óleo A identificando a presença de tribofilme formado pós-ensaio nos platôs e a ausência dos mesmos nos sulcos.

Assim, comprova-se que a adição de certos FM’s melhora o desempenho em

regime limítrofe e misto de óleos de baixa viscosidade, consequentemente provando

ser um aditivo importante na formulação de lubrificantes que acompanham as

demandas de desenvolvimento de motores energeticamente eficientes, como

reportado por Tamura et al. (2014).

96

4.2 ANÁLISE DO CoF: EFEITO DO ETANOL ANIDRO E HIDRATADO

Do óleo A, deu-se origem a outras duas variantes de óleo, as quais atendem

pelas denominações B e C. B refere-se à diluição artificial feita com 10 % de etanol

anidro e C remete a diluição de 10 % de etanol hidratado. Dessa forma foram

realizados ensaios que visaram identificar a influência dessas diluições no

comportamento do atrito para esses lubrificantes. A compilação dos resultados é

mostrada na Figura 59, por meio dos gráficos A (atrito 50 °C) e B (atrito 130 °C).

97

A

B

Figura 59 – Curvas Stribeck-like dos óleos A, B e C a (A) 50 °C e (B) 130 °C representativos do CoF energético médio das zonas de atrito do protocolo de teste.

No teste a 50 °C é possível verificar que na primeira sequência de atrito para

os óleos B e C há queda gradual do CoF com aumento da velocidade –

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0 5 10 15 20 25

Co

F

Frequência [Hz]

A 50 °C

A 50 °C II

B 50 °C

B 50 °C II

C 50 °C

C 50 °C II

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0 5 10 15 20 25

Co

F

Frequência [Hz]

A 130 °CA

A 130 °CD

B 130 °CA

B 130 °CD

C 130 °CA

C 130 °CD

98

comportamento típico de regime misto de lubrificação, com o óleo C propiciando

menor atrito na interface de deslizamento durante todas as transições de velocidades

de 5 – 20 Hz. Essa capacidade de redução de atrito conferida ao lubrificante

contaminado com etanol hidratado também foi encontrada por De Silva et al. (2011).

Durante sua investigação acerca do impacto do etanol e da água no desempenho de

um óleo SAE 5W30, avaliado por meio de ensaio reciprocativo de bancada, foi

constatada redução de atrito em todos os regimes de lubrificação em condições de

operação representativas do ciclo urbano.

No passo reverso a 50 °C, observa-se zona de transição de regime misto para

limítrofe referentes aos óleos B e C quando o CoF atinge um patamar constante a

0,12 e 0,11 a 15 Hz, respectivamente. Ademais, há redução do CoF entre as duas

sequências de atrito com a maior diferença observada, para os dois óleos, a uma

velocidade de 5 Hz. Essa diferença de atrito e mudança de regime de lubrificação,

para ambos óleos B e C, indica que a interface de deslizamento está experimentando

o efeito da formação de tribofilmes advindos do FM e ZDDP superficialmente ativos,

retratado como queda do CoF nos pontos de reversão a velocidade de 5 Hz, isto é,

zonas de maior contato tribológico – ver Figura 60.

Figura 60 - CoF FSA dos óleos B – verde, e C – azul, medidos ao longo do curso do pistão indicando redução de atrito principalmente nas zonas de reversão quando o passo reverso da sequência de atrito é aplicado. Velocidade = 5 Hz, carga = 50 N e temperatura = 50 °C.

99

Porém os domínios superficiais recobertos com tribofilme redutor de atrito,

bem como suas propriedades, são insuficientes para conferir redução drástica no CoF,

como aquelas observadas para o óleo A (TAMURA et al., 2014). Isso evidencia atraso

na formação do tribofilme quando comparado ao óleo A, o que pode ser explicado

pela redução da sua taxa de formação (COSTA; SPIKES, 2016). Essa formação é

dependente de reações intermediárias em etapas que acontecem na zona de contato

tribológico as quais são suscetíveis a compostos que contêm oxigênio (etanol e água)

(SCHWARZE et al., 2010).

No entanto, quando a temperatura é aumentada para 130 °C, a

susceptibilidade da formação de tribofilme provido pelo FM e ZDDP para os óleos B e

C diminuem, devido à evaporação de etanol e água. Isso pode ser observado nas

sequencias de atrito a 130 °C da Figura 59, onde há pequena queda no atrito nas

sequencias antes do desgaste quando comparados aos respectivos CoF a 50 °C –

isso confirma a dependência da redução do atrito com a temperatura quando FM’s

estão presentes, como apresentado na Figura 57 . Entretanto o nível de atrito

observado para o óleo B e C antes da sequência do desgaste é quase o dobro daquele

medido na interface de deslizamento representativa do óleo A. Esse comportamento

do atrito pode ser originado pelo fato de que, com rápida evaporação de etanol e água

da emulsão, quando altas temperaturas são atingidas, há cavitação na interface, o

que aumenta o atrito e pode distorcer a estrutura do tribofilme previamente formado.

Além disso, resquícios de etanol e ou água ainda podem estar presentes ou alterado

a estrutura da molécula do FM e ZDDP de modo que ela somente se torne ativa em

condições mais severas de lubrificação. Fato é que o comportamento do atrito ao final

do ensaio (após o teste de desgaste) para os óleos B e C se assemelha aquele do

óleo A, onde não há presença de etanol e água, atingindo níveis de atrito em regime

limítrofe de 0,06 (óleo C) e 0,05 (óleo B). Isso indica formação de tribofilme, o qual

efetivamente reduz atrito, a temperaturas mais altas após longos períodos de tempo

quando etanol e água estão presentes. A Figura 61 traz imagens de microscópio

óptico da zona desgastada de 3 camisas impostas sob condições de lubrificação na

presença dos óleos A, B e C. A análise da composição superficial pós-ensaio via

espectroscopia de vibração RAMAN constatou a presença de tribofilme em todas as

três superfícies, as quais demonstraram, em certas regiões de platô, o mesmo

espectro RAMAN identificado na superfície de deslizamento do óleo A – ver Figura

58. Outra observação notória se reside na quantidade de domínios superficiais

100

recobertos por tribofilme no caso do óleo B, o qual aparenta ser maior quando

comparado aos outros dois óleos.

Figura 61 – Imagens obtidas por microscópio óptico das superfícies pós-ensaio com os óleos A, B e C – da direita para a esquerda. Magnificação X100.

Desse modo, três observações notáveis devem ser destacadas dos

resultados expressos em torno do efeito da contaminação por etanol anidro e

hidratado no óleo de baixa viscosidade 0W20 no que tange ao comportamento do

atrito.

Quando etanol anidro ou hidratado está presente no óleo lubrificante,

ocorre um atraso na formação de tribofilme para condições

representativas do ciclo urbano, isto é, condições específicas de

partida a frio, aquecimento e trajetos curtos. Isso é evidenciado pelo

CoF a 50 ºC acima do esperado para o óleo contendo o tipo de FM

estudado, o qual reduz lenta e gradativamente. Esse tipo de efeito

deletério do etanol e água em óleos de baixa viscosidade que contêm

101

FM e ZDDP compromete seu desempenho em regimes misto e

limítrofe.

A temperaturas superiores, o efeito prejudicial da diluição do óleo se

torna mínimo – porém ainda presente, uma vez que etanol e água

evaporam. Com isso, puderam ser observados valores de CoF ao final

dos ensaios para os óleos contaminados na faixa de 0,05 – tão baixos

quanto aqueles encontrados para o lubrificante livre de alterações.

Houve, para todos os ensaios, independentemente do tipo de presença

de contaminante, formação de tribofilme, caracterizado nas superfícies

da camisa nas zonas de contato tribológico na condição de pós-ensaio.

Com a tendência de redução da viscosidade de óleos para motores, o impacto

da sua resposta em regimes de atrito misto e limítrofe torna-se tão significativo quanto

a própria diminuição da viscosidade (DOWSON et al., 1999; KORCEK et al., 1999;

SPIKES, 2015; TAMURA et al., 2013, 2014). Assim, a questão aqui então se volta

para a ativação do FM e desempenho correto do lubrificante a baixas temperaturas

onde os efeitos da contaminação de etanol e água são mais pronunciados e

prejudicam a formação de tribofilme.

4.3 ANÁLISE DO DESGASTE DA CAMISA

Após os ensaios, todas as camisas foram levadas ao interferômetro 3D de luz

verde para que medidas tridimensionais das zonas de desgaste pudessem ser

conduzidas, de acordo com o procedimento descrito na seção 3.3.4. Uma visão geral

dos resultados de desgaste volumétrico da camisa para cada variante de óleo

ensaiada é apresentada na Figura 62.

No gráfico, pode-se verificar queda abrupta no valor do volume de desgaste

entre o óleo BL e o óleo A, mais precisamente de 1,3 para 0,5 x 106 µm³/mm. Esse

efeito de atenuação do desgaste quando da sinergia entre aditivos anti-desgaste e

FM’s é bem conhecido e vem sendo reportado na literatura em diferentes trabalhos

(KASRAI et al., 1998; YAMAMOTO et al., 1986). Os resultados da quantificação por

EDX (Tabela 7) sugerem formação de menor quantidade de tribofilme produzido pelo

102

ZDDP quando o FM está presente. Isso consona com aquilo que é observado em

outros estudos, os quais atribuem esse comportamento devido a adsorção competitiva

de ZDDP/FM. Dessa forma, geram-se tribofilmes com propriedades diferentes

daquelas encontradas nos filmes formados por esses compostos individualmente.

Dessa forma, têm-se filmes mais tenazes e com capacidade de oferecer melhor

desempenho frente ao desgaste (MORINA et al., 2006; MORINA; NEVILLE, 2007;

MURAKI; YANAGI; SAKAGUCHI, 1997; TAMURA et al., 2014).

Figura 62 - Volume do desgaste pós-ensaio mensurado em diferentes camisas que foram ensaiadas na presença de seus respectivos óleos.

No entanto, quando etanol anidro (óleo B) e etanol hidratado (óleo C) estão

presentes no óleo A, o volume de desgaste das camisas ensaiadas com esses

lubrificantes aumenta drasticamente,1,8 e 1,3 x 106 µm³/mm para os óleos B e C,

respectivamente. Esse comportamento pode ser atribuído a dois fatores (COSTA;

SPIKES, 2016; LENAUER et al., 2015b):

1. Grande volume de desgaste durante a fase inicial de contato entre o

anel e a camisa – período em que não há formação de tribofilme devido

à presença de etanol e água.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

BL A B C

Des

gast

e [

10

^6 µ

m³/

mm

]

103

2. Formação instável de tribofilme durante a maior parte do ensaio de

desgaste, o qual é removido facilmente pelo deslizamento do anel,

subtraindo mais material da superfície da camisa.

Tabela 7 – Quantificação por EDX dos elementos presentes na superfície de deslizamento das camisas representativas dos óleos BL e A.

Amostra Imagem da superfície Contagem dos elementos

BL

A

Antes do prosseguimento com a análise é importante salientar que, para todos

os óleos, o volume de desgaste mensurado na zona de contato não ultrapassou 2x106

µm³/mm, o que corresponde a uma profundidade de desgaste na faixa de 0,5 a 0,6

µm. Esse valor é menor do que a soma das rugosidades dos picos (Spk), do núcleo

(Sk) e dos vales (Svk) da superfície das camisas ensaiadas. Portanto, as marcas de

brunimento após os ensaios ainda podem ser vistas – ver Tabela 8, demonstrando

keV

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00

Co

un

ts[x

1.E

+3

]

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

001

C

Cr

O

C

Fe

Mn

Fe

ZnSi

P

P

S

Si

Ca

Ca Cr Mn

Cr

Fe

MnFe Zn Zn

keV

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00

Co

un

ts[x

1.E

+3

]

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0

140.0001

C

Cr

O

C

Fe

Mn

Fe

Zn

Si

P

P

Mo

S

Si

Ca

Ca Cr Mn

Cr

Fe

MnFe Zn Zn

104

pouco desgaste da camisa na zona de contato tribológico, sendo comparáveis àqueles

observados em situações reais de operação (OBERT et al., 2016).

Tabela 8 - Aspecto superficial das zonas de desgaste representativas das camisas e dos anéis após os ensaios com diferentes tipos de óleos. 1ª coluna – representação tridimensional, 2ª coluna – imagem obtida por estereoscópio da camisa, 3ª coluna – imagem obtida por estereoscópio do anel. Elipses vermelhas indicam ranhuras axiais.

Óleo Representação 3D Camisa Anel

BL

A

B

C

Em vista de um melhor entendimento sobre a relação entre o volume do

desgaste das camisas e seus respectivos aspectos superficiais, verificando também

105

as impressões deixadas no anel, observações mais cuidadosas das imagens da

Tabela 8 foram feitas e dois pontos relevantes devem ser mencionados:

1. As superfícies das zonas de desgaste das camisas representativas dos

óleos B e C aparentaram ranhuras axiais recobertas com tribofilme na

direção de deslizamento (elipses vermelhas) com indicação de alta

deformação das asperezas na zona de contato e maior alisamento

superficial, quando comparadas à camisa do óleo A (Figura 63). Para

o óleo A, as marcas de brunimento são vistas claramente e não há

indicação de deformação plástica e alisamento severos. Já a superfície

do óleo C apresenta níveis elevados de alisamento e deformação

plástica, a qual recobre, em grande parte, os sulcos de brunimento. A

deformação expressiva e alisamento auxiliam na remoção de óxidos e

aumentam a reatividade da superfície. Assim, favorecem o surgimento

do tribofilme, quando o mesmo se encontra em condições para se

formar As setas amarelas apontam algumas regiões onde puderam ser

evidenciadas ranhuras axiais com deposição de tribofilme, o qual

aparenta ter recoberto maior área do contato em comparação a área

da camisa do óleo A. (COUSSEAU; RUIZ ACERO; SINATORA, 2015).

Desta maneira, é plausível afirmar que um maior valor de desgaste

para os óleos B e C está conectado com uma maior área recoberta com

tribofilme, porém a espessura e propriedades mecânicas desses

materiais aparentam ser inferiores àquelas formadas a partir dos óleos

que não apresentam contaminação (LENAUER et al., 2015b).

2. As regiões que supostamente deveriam apresentar marcas de

desgaste nos anéis dos óleos B e C não apresentam ranhuras axiais

resultantes do contato – como para os anéis dos óleos BL e A. Isso

indica baixo nível de desgaste relativo aos anéis testados sem

contaminante. Dessa forma, reforça-se o argumento de que os

tribofilmes formados foram, de alguma forma, afetados pela presença

do etanol e água, de modo que o constituinte responsável pela

atenuação do desgaste não obteve o desempenho esperado na

camisa. Em outras palavras, o anel causou maior desgaste,

106

caracterizado pelo aumento da área real de contato e consequente

diminuição da pressão de contato. (LENAUER et al., 2015a).

Figura 63 – Imagens obtidas por MEV do interior das zonas de desgaste das camisas que foram ensaiadas com os óleos A (à esquerda) e C (à direita).

Em suma, através das evidencias e dados obtidos nesta seção, bem como de

informações retiradas da literatura, pode-se atribuir o efeito do aumento do volume de

desgaste, quando etanol anidro e hidratado estiveram presentes, aos seguintes

fatores:

Devido ao atraso da formação de tribofilme, o contato direto entre o

anel e a camisa perdurou por mais tempo, uma vez que regime de

lubrificação hidrodinâmico não foi atingido;

Com isso, a taxa de desgaste na fase inicial do ensaio foi alta,

manifestando-se na superfície por meio de alisamento e alta

porcentagem de deformação plástica;

Essa deformação dos picos das asperezas favoreceu a formação de

tribofilme, e aumentou a área real de contato. Porém, devido ao

desgaste maior da camisa, o tribofilme formado aparenta ter

propriedade mecânica inferior em comparação com aquele formado

pelo óleo sem contaminante. Isto é, são mais instáveis e, portanto, mais

fáceis de serem removidos pelo anel.

107

O desgaste visual do anel aparenta ser menor quando testado com

óleos diluídos, o que indica uma correlação entre o a taxa de desgaste

apresentada na camisa e aquela do anel. Anéis que manifestaram

menor desgaste visual aparente, provocaram, em contrapartida, maior

perda de material na camisa.

4.3.1 CoF durante a sequência de desgaste

O atrito também foi mensurado durante todo o ensaio de desgaste, o qual

durou 2 horas. O CoF representativo para todos os óleos nessa região é apresentado

na Figura 64.

Figura 64 - Coeficiente de atrito FSA medido durante a sequência de desgaste de diferentes tipos de óleos. Condição: Carga = 200 N, frequência = 20 Hz, temperatura = 130 °C, velocidade máxima no meio do curso = 0,18 m/s.

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0,18

0,2

0,5 1 1,5 2

Co

F

Tempo [h]

BL

A

B

C

108

Como pode ser observado, a resposta do CoF para os diferentes óleos nas

condições do ensaio de desgaste varia significativamente. O óleo BL, sem FM, exibe

valor de CoF mais alto, sobretudo no começo do teste. No entanto, o atrito decresce

contínua e lentamente com o passar do tempo, devido ao desgaste do anel e da

camisa. Já os óleos A e B apresentaram valores constantes de atrito relativamente

baixos, com o óleo A obtendo melhor desempenho. De acordo com esse

comportamento tanto o óleo A e B demonstraram estabilidade dos seus respectivos

tribofilmes frente ao desgaste. Por fim, o comportamento do atrito representativo do

óleo C foi o mais irregular de todos, decrescendo constantemente com o avanço do

ensaio, se estabilizando apenas no final do ciclo. O óleo C contém etanol hidratado,

assim sendo, água, a qual possui maior ponto de fusão que o etanol. Dessa forma,

durante a fase inicial do desgaste, água ainda pode estar presente em maior

quantidade e sendo eliminada lenta e gradativamente – podendo gerar cavitação,

influenciando o CoF medido e provocando instabilidade do tribofilme. Em geral, os

valores de CoF observados na sequência de desgaste seguiram a classificação do

CoF das sequencias de atrito a altas temperaturas.

109 Conclusões

5 CONCLUSÕES

Neste estudo, uma investigação acerca do efeito da presença de etanol anidro

e hidratado em um óleo de baixa viscosidade no comportamento tribológico do contato

anel do pistão/camisa do cilindro foi conduzida, e os seguintes resultados foram

obtidos:

1. A adição do modificador de atrito (FM) ao óleo de baixa viscosidade

reduziu drasticamente o coeficiente de atrito e o desgaste da camisa.

Desse modo, melhorando o desempenho do lubrificante em regimes de

atrito misto e limítrofe, conferido pela formação de um tribofilme estável

e durável. Assim, a formulação de um óleo de baixa viscosidade

aparenta demonstrar papel central quando a questão

é a redução da perda de energia por atrito.

2. A diluição por etanol anidro e hidratado em óleo contendo FM

aumentou consideravelmente o CoF na interface de deslizamento,

sendo mais significativo em condições representativas do ciclo urbano.

Porém, os níveis de CoF para esses óleos ainda foram mais baixos do

que para o óleo base, ainda que sob efeito das diluições. A

temperaturas mais elevadas, há tendência na diminuição desse efeito,

contudo o impacto da presença da água persiste por mais tempo.

3. Tal aumento do CoF é provavelmente atribuído ao atraso da formação

de tribofilme e à sua instabilidade.

4. Como consequência da presença de etanol e água, maiores valores de

desgaste foram reportados nas camisas. Esse comportamento envolve

mecanismos complexos de mudanças de topografia dos pares de

atrito, formação e remoção de tribofilme durante o deslizamento.

5. Após os ensaios conduzidos com óleos contendo FM, foi constatada a

presença de tribofilme em todas as superfícies de desgaste da camisa.

Camisas mais desgastadas apresentaram maior área recoberta com

tribofilme proveniente do FM.

110 Conclusões

Assim, espera-se, com este estudo, fornecer uma base de dados que possa

amparar as companhias fabricantes de óleos a desenvolver lubrificantes que mitiguem

os efeitos nocivos das presenças de etanol e da água durante o funcionamento de

MCI’s da nova geração.

111

REFERÊNCIAS

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