Jamb Cultura · 2016. 12. 5. · Jamb Cultura 2013; 1(19): 145-152 147 O dia 8 de março é...

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145 J AMB CULTURA 2013; 1(19): 145-152 JAMB CULTURA Este caderno é parte integrante do Jornal da Associação Médica Brasileira (JAMB) – Coordenação: Hélio Barroso dos Reis Bimestral janeiro/fevereiro de 2013 – nº 19 Jaime Baião – médico reumatologista, professor aposen- tado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autodidata em pintura. Sempre foi instigado por ela. Qualquer uma. Sabia da dificuldade do espaço, da cor e da forma e quanto mais "simples", parecia-lhe mais difícil. Começou a usar a tinta acrílica, às vezes esmalte sintético, óleo, verniz, poliuretano e permitiu-lhe as mais diferentes texturas e materiais. Este foi um dos caminhos encontra- dos para a decantação de suas imagens. Começou suas atividades com as tintas em 1979 e, desde então, mantém- se constante na sua busca pictórica. Exposições Internacio- nais: Outubro 2011 - Art Shopping, em Paris; Dez 11/Jun 12 - Ward Nasse Art Gallery, em Nova York; Maio 2012 - Biennial of European and Latin American Contem- porary Art (BELA), em Porto, Portugal. Autor: Jaime Baião Título: Pensando Dimensões: 100 x 100 x 04 cm Técnica: Óleo/acrílica sobre tela Ano: 2012 Acervo: pessoal BOA LEITURA Foto: Arquivo particular e carroças”, de Manoel Nascimento Rocha; as poesias de Paulo Camelo e Arnóbio Moreira Félix, no Espaço Poético, além, é claro, das nossas dicas culturais. Aproveitamos para lembrar que estamos finali- zando os trâmites para a 3ª Viagem Cultural da AMB, que este ano terá como destino as belezas de Petra, na Jordânia, e os lugares sagrados na Terra Santa, em Israel. Esperamos continuar contando com a cola- boração dos nossos associados neste ano de 2013, especialmente no II Concurso de Contos e Crônicas, idealizado para expressão cultural dos nossos colabo- radores. Boa Leitura! Hélio Barroso dos Reis Diretor Cultural da AMB e Ortopedista Vitória, ES E sta primeira edição do Jamb Cultura de 2013 traz uma boa notícia aos amantes das artes de crônicas e contos: temos a satisfação de infor- mar que estão abertas as inscrições para o II Concur- so Nacional de Contos e Crônicas da AMB. Até o dia 30 de abril estaremos recebendo os traba- lhos que, a exemplo do concurso anterior, concorre- rão a diplomas, além da publicação no Jamb Cultura dos trabalhos mais bem colocados. Ainda nesta edição você pode apreciar a arte do reumatologista Jaime Baião, o texto primoroso de Mário V. Guimarães, discorrendo sobre Corrêa Picanço, e nos adiantamos, por meio do colega José Luiz Mestrinho, cirurgião geral de Brasília, ao home- nagear as mulheres pelo seu dia internacional, come- morado em 8 de março. Temos ainda os artigos “As carrancas do rio São Francisco”, de Nelson Di Francesco, e "Sobre carros

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145J a m b Cu l t u r a 2013; 1(19) : 145-152

Jamb CulturaEste caderno é parte integrante do Jornal da Associação Médica Brasileira (JAMB) – Coordenação: Hélio Barroso dos Reis

Bimestral janeiro/fevereiro de 2013 – nº 19

Jaime Baião – médico reumatologista, professor aposen-tado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autodidata em pintura. Sempre foi instigado por ela. Qualquer uma. Sabia da dificuldade do espaço, da cor e da forma e quanto mais "simples", parecia-lhe mais difícil. Começou a usar a tinta acrílica, às vezes esmalte sintético, óleo, verniz, poliuretano e permitiu-lhe as mais diferentes texturas e materiais. Este foi um dos caminhos encontra-dos para a decantação de suas imagens. Começou suas atividades com as tintas em 1979 e, desde então, mantém-se constante na sua busca pictórica. Exposições Internacio-nais: Outubro 2011 - Art Shopping, em Paris; Dez 11/Jun 12 - Ward Nasse Art Gallery, em Nova York; Maio 2012 - Biennial of European and Latin American Contem-porary Art (BELA), em Porto, Portugal.

Autor: Jaime BaiãoTítulo: PensandoDimensões: 100 x 100 x 04 cmTécnica: Óleo/acrílica sobre telaAno: 2012Acervo: pessoal

Boa Leitura

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e carroças”, de Manoel Nascimento Rocha; as poesias de Paulo Camelo e Arnóbio Moreira Félix, no Espaço Poético, além, é claro, das nossas dicas culturais.

Aproveitamos para lembrar que estamos finali-zando os trâmites para a 3ª Viagem Cultural da AMB, que este ano terá como destino as belezas de Petra, na Jordânia, e os lugares sagrados na Terra Santa, em Israel. Esperamos continuar contando com a cola-boração dos nossos associados neste ano de 2013, especialmente no II Concurso de Contos e Crônicas, idealizado para expressão cultural dos nossos colabo-radores.

Boa Leitura!

Hélio Barroso dos ReisDiretor Cultural da AMB e Ortopedista

Vitória, ES

Esta primeira edição do Jamb Cultura de 2013 traz uma boa notícia aos amantes das artes de crônicas e contos: temos a satisfação de infor-

mar que estão abertas as inscrições para o II Concur-so Nacional de Contos e Crônicas da AMB.

Até o dia 30 de abril estaremos recebendo os traba-lhos que, a exemplo do concurso anterior, concorre-rão a diplomas, além da publicação no Jamb Cultura dos trabalhos mais bem colocados.

Ainda nesta edição você pode apreciar a arte do reumatologista Jaime Baião, o texto primoroso de Mário V. Guimarães, discorrendo sobre Corrêa Picanço, e nos adiantamos, por meio do colega José Luiz Mestrinho, cirurgião geral de Brasília, ao home-nagear as mulheres pelo seu dia internacional, come-morado em 8 de março.

Temos ainda os artigos “As carrancas do rio São Francisco”, de Nelson Di Francesco, e "Sobre carros

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História da mediCina brasileira

Honrado com o convite para colaborar com o Jamb Cultura em sua nova fase, manda o bom senso que ninguém melhor que o fundador dos cursos médicos no Brasil, José Corrêa Picanço, encabece essa jornada, apesar de pouco lembrado e menos reverenciado pela maioria das nossas entidades, muito embora possuidor de uma riqueza de títulos e de ações incomensuráveis na nossa pátria.

Picanço, pernambucano da então vila de Goyana, nasceu em 10 de novembro de 1745, filho de Francisco Corrêa Picanço e Joana do Rosário, ele cirurgião-barbeiro, um artífice da época. De família humilde, fez o primário ainda em sua terra e ajudava o pai no seu mister, pelo qual empolgou-se, tendência acentuada com a transferência da família para Recife, revelando grande habilidade no seu exercício e demonstrando interesse pela cirurgia. O seu afã chegou ao conhecimento do governador da província, Conde de Vila Flor, que o nomeou, em 1766, cirurgião do Corpo Avulso e Oficiais de Ordenança de Entradas e Reformados, estimulando ainda o seu desejo de ser médi-co, fato só possível na metrópole lisboeta, conseguindo o seu intento, face ao seu primoroso desempenho local que o credenciou para tal.

Chegando em Lisboa, matriculou-se na Escola de Cirurgia do Hospital São José, na qual licenciou-se, porém sentindo a sua rejeição pelo seus colegas, por não ser médico, seguiu para a França, onde em 1789, conse-guiu o seu objetivo de doutor em Medicina, pairando dúvidas se em Paris ou em Montpellier, outro grande centro médico francês ainda hoje. Preza mais ter sido em Paris, pois ali casou com a filha de um dos seus mestres, Sebastier Brochet (ou Brochot para outros), seu mentor na conquista do título de “Officier de Santé”. Voltan-do então a Portugal, assumiu a cadeira de Anatomia, Operações Cirúrgicas e Obstetrícia em Coimbra, nome-ada pelo Marquês de Pombal e ainda a Real Academia de Ciências de Lisboa. Seu grande mérito nos 18 anos de professorado foi ter introduzido no curso de Anatomia o manuseio de cadáveres humanos e não mais de animais, como era costume imposto desde a Inquisição.

Daí por diante, sua carreira floresceu em todos os sentidos, técnico, político e social, chegando a ser cirur-gião-mor de Sua Majestade, assumindo o comando médico do Reino em toda sua abrangência.

Em fins de 1807, porém, com a invasão de Portugal por tropas de Napoleão, Dom João VI embarca para o Brasil

História na AMB: Corrêa Picanço

com toda sua Corte, desembarcando em Salvador no dia 27 de janeiro de 1808, por acidente de percurso, pois o destino era o Rio de Janeiro e lá instalou-se provisoria-mente. Após as devidas sondagens do ambiente físico e social, evidenciou-se a deficiência da assistência médi-ca. É quando entra em ação Corrêa Picanço, quando propõe e convence Dom João VI a criar, de imediato, a nossa primeira escola de Medicina, exatamente em 18 de fevereiro de 1808, no Hospital Real de Salvador (onde ensinou Obstetrícia), consagrando a figura do pernam-bucano na nossa História da Medicina.

Íntimo do rei, fez parte da comissão que julgou incapaz mentalmente a rainha Dona Maria I de Portu-gal, assim como partejou a imperatriz Leopoldina no Rio de Janeiro, quando nasceu a princesa Maria da Glória, futura rainha, Dona Maria II de Portugal.

Sua vida foi uma enorme bagagem de títulos e honrarias, entre eles: I Barão de Goyana, como nobre do Império e, na área médica, Patriarca da Medicina Brasileira e Patrono da Obstetrícia Nacional, tendo fale-cido no Rio de Janeiro em 20 de outubro de 1823. É lhe atribuído ainda a primeira cesariana brasileira, em uma negra, escrava, que sobreviveu, em Recife, em 1817.

Este fato associado ao de já ter sido professor de Obstetrícia em Coimbra e o seu empenho em estabele-cer o ensino dessa matéria como prioridade nas facul-dades estabelecidas valeram-lhe o título de Patrono da Obstetrícia Brasileira, que lhe foi concedido em abril de 1958 por aclamação, no III Congresso Brasileiro de História da Medicina, nas comemorações do 150º aniversário do ensino médico no Brasil, juntamen-te com o I Congresso Panamericano de História da Medicina, realizados no Rio de Janeiro.

Dos seus trabalhos científicos, chamou à atenção o publicado em 1812, no Rio de Janeiro, com o título de “Ensaio sobre o perigo das sepulturas nas cidades e seus contornos”, com 115 páginas.

Sua figura merecia mais atenção dos nossos gover-nantes e estudiosos.

Autores consultados: Leduar de Assis Rocha, José Geraldo Távora e Mário Santiago (Analecto Goianense).

Mário V. GuimarãesMédico aposentado como toco-ginecologista

Recife, PE

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O dia 8 de março é consagrado como o Dia Inter-nacional da Mulher. A data é uma justa homenagem à barbárie acontecida numa fábrica, em Nova York, no ano de 1857, quando 150 tecelãs foram incinera-das ao reivindicarem melhores salários.

De lá para cá, o ressurgir das cinzas foi lento e penoso. A regra social se pautou pela repressão as lutas por uma cidadania digna, sob a falácia de a mulher ser o “sexo frágil”.

É indubitável que conquistas recentes resgatam a imagem da mulher cidadã, ainda incipiente no que tange a sua inserção na sociedade capitalista e machista. A outrora fragilidade sexual tem trans-formado a mulher no esteio da sociedade moderna, principalmente, na expectativa de um futuro rico, digno, honesto e moralmente ético - em falta nos dias atuais, mas comum na mulher.

Na atualidade, o que preocupa é o sofisma de que as mulheres estão se impondo, ou o que é pior, lhe impõem: a dita igualdade dos sexos e não igualdade dos direitos. Se a mulher cair nessa armadilha regre-dirá e necessitará de outras fogueiras e mais dois séculos para restabelecer a conquista alcançada.

Que igualdade é essa? Do ponto de vista anatô-mico um absurdo. Do hormonal, inviável. Do sentimental e psicológico, impossível de ser igua-lado. Que tal, mulher, manter a própria identidade

Sempre mulher

reforçando e realçando as características da fêmea, mãe e amante?

A desigualdade sexual é fundamental como garantia da feminilidade, porque o desejo de igua-lar as desigualdades só lhes trouxe prejuízos, como imitar o homem nos seculares vícios do tabaco, do álcool e das drogas entre outras mazelas. Os cânce-res e os infartos ceifam as mulheres aproximando-as dos índices da mortalidade masculina. O mesmo ocorre na violência no trânsito e nos acidentes de trabalho.

A luta contra a prepotência do homem deve ser estimulada e aplaudida. Hoje, as brasileiras têm proteção contra todos os tipos de agressões físicas ou psíquicas. Tornaram-se mais fortes galgando posi-ções de destaque na sociedade, na competitividade política, esportiva e cultural entre outros.

Que suas vitórias continuem, porque, nós, homens, necessitamos, como nunca, de mães, mulheres e filhos com o perfil da mulher vencedora.

Parabéns pela celebração da data e pelo dia-a-dia que sempre serão de vocês.

José Luiz Dantas MestrinhoCirurgião Geral

Brasília, DF

Na mão esquerda uma rosa perfumada. Na direita uma espada virtual

Homenagem

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artigo

A primeira vez que vi carrancas nas embarcações foi em 1973, quando viajei pelo Nordeste. Lindas, exuberantes, enigmáticas!

A segunda vez foi no ano seguinte, entrevistando o paisagista Roberto Burle Marx, em seu sítio, Santo Antonio da Bica, na região da Guaratiba-RJ. Duas delas decoravam o alpendre da casa grande, como que vigiando...

Interessei-me por essas peças de arte popular; seu histórico, lendas e folclore.

Escavando o passado, chegamos às Drakkar, nome genérico pelo qual eram conhecidas as embar-cações vikings destinadas à guerra e conquistas, tendo como característica uma cabeça de serpente

marinha na proa, (Jörmund-gander, na mitologia

nórdica) com a finalidade de espantar mons-tros marinhos.

No Vale do Rio São Francis-co, as carrancas

As carrancas do Rio São Francisco

(figuras sombrias, de cara feia, expressando ferocidade, cujas formas, predominantemente zooantropomorfas, mesclam detalhes humanos e animais) são manifestações genuínas da arte popular brasileira, desenvolvidas por artistas denominados carranqueiros. Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, o Francisco Guarany – de refinada sensibilidade – destacou-se nessa arte, esculpindo durante mais de meio século.

As primeiras referências às carrancas datam de 1888, em livros de Antônio Alves Câmara e de Durval Vieira de Aguiar. Sua origem pode ser negra, ameríndia, porém com fortes influências da arte popular da Idade Média.

Sob a ótica de Paulo Pardal, autor de mono-grafia sobre essa arte popular, a disputa comer-cial generalizou o uso das carrancas, para que, ao longe, os ribeirinhos identificassem a barca pela escultura que levava à proa.

Conforme a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, Regina Coeli Vieira Macha-do, “as carrancas serviam também para espan-tar os animais e os duendes moradores do rio São Francisco, que de noite saiam das profunde-

zas das águas para assombrar barqueiros, tentar mulheres e roubar crianças. Esses seres, ao verem as figuras das carrancas nas proas, de olhos esbugalhados, de

bocas enormes escancaradas e agres-sivas, se espantavam e se recolhiam aos seus esconderijos”.

O comércio das carrancas, como objetos decorativos, expandiu-se muito, tornando-se atividade rentá-vel para o artesão nordestino da região do Médio São Francisco.

Nelson Di FrancescoSão Paulo, SP

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CrôniCa

Há muitos séculos, o homem vem desenvolvendo dife-rentes máquinas para facilitar as tarefas do dia-a-dia, utili-zando a própria força ou tração animal para movimentá-las. Para seu deslocamento ou para a movimentação de cargas, usou carroças, bigas e carruagens que evoluíram, sofisticaram-se e passaram a ser puxadas por maior núme-ro de cavalos, com cocheiros (motoristas) transportando príncipes e reis e, inacessíveis ao povo. Somente aos nobres era permitido ter uma carruagem. A palavra automóvel tem origem grega e significa ter mobilidade própria. O carro também era conhecido como veículo dos deuses, dos heróis e dos príncipes, representando o “destino do mundo, das batalhas, das nações”.

No Reino Unido, no início do século XIX, quando surgi-ram os primeiros “veículos”, foi criada uma lei obrigando que, durante a circulação, eles fossem precedidos por um homem a pé, acenando uma bandeira vermelha e soprando uma corneta. Esta lei só foi suprimida em 1896.

No Brasil, o primeiro carro chegou em 1891 e teria pertencido a Alberto Santos Dumont.

Há muitos anos como meio de transporte de escolha das sociedades ocidentais, e atualmente dos orientais, o carro permite (ou permitia) ao indivíduo ir aonde quises-se. Nas grandes cidades, só não permite mais saber quan-do vai chegar ao destino, haja vista os imensos congestio-namentos do trânsito. Circulam no mundo cerca de 700 milhões de automóveis.

Existem pessoas que gostam tanto dos seus carros que cuidam melhor deles do que de si próprio, equipando-os, personalizando-os, devotando-os. Modificam os escapa-mentos, preparam-nos para “falar mais alto” e demonstrar o vigor das centenas de cavalos de força instalados nos motores “envenenados”, relacionando-os à força dos seus músculos, à sua virilidade. Com todas as modificações, dizem muito sobre a personalidade dos proprietários, desde a quantidade de cavalos que possui até a aparência exterior.

Em competições, disputam para provar quem é o mais forte, o melhor guerreiro, buscando, na verdade, uma auto afirmação da sua virilidade, da sua força, do seu poder. O tamanho que os automóveis alcançaram também pode estar relacionado com o desejo de demonstrar o tamanho do “falo”, do poder e da potência. O carro seduz, apaixona, vicia, dá status e glamour. Muitas jovens até “escolhem” seus parceiros pelo carro que estes possuem. Nas ruas e aveni-das assistimos a um desfile e a uma disputa do “quem pode

Sobre carros e carroçasmais”, da lei do mais forte, do mais bonito e diferente, com o objetivo de conquistar e seduzir.

A maioria dos automóveis circula com apenas um passageiro, num modelo individualista e decadente de transporte, originando um desconforto grupal e um caos no coletivismo urbano, tornando-se um grande inimi-go da raça humana, levando-se em conta a poluição que causa e o grande número de mortes e sequelas graves provocadas por motoristas imprudentes e mal-educados que não respeitam as regras básicas de convivência social, numa verdadeira guerra urbana.

A produção de automóveis em larga escala represen-tou uma grande revolução na história da humanidade, mas se continuar neste crescente desenfreado, certamente as consequências serão ainda mais graves. Com os avan-ços tecnológicos atuais, os automóveis tornaram-se cada vez mais perfeitos; alguns até “falam”; porém, os homens não acompanharam esta evolução em relação ao respeito e à cidadania.

Dirigir um carro, simbolicamente, representa ter a direção, a liderança, mas há que se buscar o equilíbrio e o seu uso racional.

Muitos se transformam quando estão na direção de um carro. Indivíduos pacatos se tornam agressivos, impru-dentes e intolerantes. Dirigem como se aquele pedaço do mundo, que estão ocupando, lhes pertencesse, como um pequeno país onde são os reis e, o que é pior, que se desloca livremente de um lugar para outro, disputando e conquistando territórios, como em uma guerra e, também, em muitos lugares, infelizmente, vendo os indivíduos que se locomovem a pé, de bicicleta ou de transporte coletivo, como cidadãos de segunda categoria ou menos que isto.

Se o carro é um patrimônio do indivíduo, as ruas e estradas onde ele se movimenta são um bem coletivo e, como tal, devem ser respeitadas. Acredito que não preci-samos voltar a ter leis que obriguem cada carro a andar com um homem a pé acenando uma bandeira verme-lha e tocando corneta, mas, sim, que cada motorista se conscientize que, embora sendo um indivíduo, não é o único no trânsito nem o rei das ruas. Todos devem respeitar as leis. A bandeira vermelha e a corneta devem estar na consciência de cada um.

Manoel Nascimento RochaMedicina do Trabalho

Vitória, ES

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150 J a m b Cu l t u r a 2013; 1(19) : 145-152

Nos sonhos em que me abismo

Às vezes me transfiguro.

Eu não me sinto seguro

Em muitas coisas, e eu cismo

Que ainda existe esse abismo

A separar duas almas

Apaixonadas. E as palmas

Das mãos, suando, parecem

Folhas que no orvalho tecem

Sensações fortes, mas calmas.

Sei que todo abismo é lindo,

Mas perigoso, insondável.

Parece até agradável,

Porém não me vejo rindo

Em tais momentos. Eu findo

Não me encontrando no sonho

E, quando acordo, tristonho,

Faço um poema qualquer.

Não é isso o que ela quer,

Mas o abismo não transponho.

espaço poétiCo

Paulo Camelo Patologia Clínica

Recife, PE

As emoções inimigas

No sonho já não têm vez.

Eu tive duas ou três

Em minha vida. As intrigas,

Emoções que trazem brigas,

Não fazem em mim guarida.

Eu vou vivendo esta vida

Como posso – ou como quero,

Assim eu penso – e espero

Não ter que curar ferida.

E haja emoção em mim!

O meu coração não mente

Mas se rende a minha mente

E me deixa tonto, assim.

Muitas vezes acho ruim,

Mas me acostumo com tudo

E vou em frente. Contudo,

A minha alma gêmea existe

E não me deixa tão triste,

E não me deixa tão mudo.

Nos sonhos em que me abismo

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A Terça Cultural

Palestra realizada no dia 14/08/12, na Associação Médica de MG

Amizade em prosa e verso,Terça-feira cultural.

Encontre neste universo,Risos, dança e sarau.

Cada mês uma atração,

Alegra e dá prazer.Convite à reflexão,

Um brinde ao nosso lazer.

Literatura e histórias,Teatro, humor e memórias,

Uma catarse, um colírio.

Reserve um tempo pro ócio,Aqui o nosso negócio,Leva você ao delírio!!!

Arnóbio Moreira FélixOrtopedista

Belo Horizonte, MG

II CONCURSO NACIONAL DE CONTOS E CRÔNICAS DA AMBFICHA DE INSCRIÇÃO

Atenção: Esta ficha deve ser preenchida em letra de forma.

NOME COMPLETO:..............................................................................................................................................................................................................................................................

SEXO: ............................................................................................................................................... DATA DE NASCIMENTO:.......................................................................................

Nº CRM: .......................................................................................................................................... ESPECIALIDADE: .....................................................................................................

ENDEREÇO COMPLETO: ...................................................................................................................................................................................................................................................

CEP: .............................................................................. CIDADE: ....................................................................................................ESTADO: ..................................................................

TELEFONE RES.: ( ) ................................................................................................. CELULAR: ( ) ..............................................................................................................................

PSEUDÔNIMO: ......................................................................................................................................................................................................................................................................

NOME DO TRABALHO: .....................................................................................................................................................................................................................................................

CATEGORIA: . ........................................................................................................................................................................................................................................................................

Estou ciente do regulamento e autorizo a publicação do trabalho, por tempo indeterminado, sem ônus para a Associação Médica Brasileira.

Assinatura do Escritor

Associação Médica Brasileira – Rua São Carlos do Pinhal, 324 – CEP: 01333-903 – São Paulo – SP – Brasil | A/c Departamento Cultural – Contatos: [email protected] / (11) 3178.6802

II Concurso Nacional de Contos e

Crônicas da AMBJá estão abertas as inscrições para o II Concur-

so Nacional de Contos e Crônicas. Os interessa-dos deverão enviar os trabalhos até o dia 30 de abril para a sede da AMB, na rua São Carlos do Pinhal, 324, em São Paulo – SP, CEP 01333-903, aos cuidados do Departamento Cultural.

A participação é gratuita, restrita aos associa-dos da Associação Médica Brasileira, que poderão inscrever somente um trabalho por modalidade, com tema livre e inédito, assinado obrigatoria-mente por pseudônimo. Os textos devem ser de no máximo duas páginas digitadas, enviados em cinco cópias em envelope único, legível, também identificado por pseudônimo.

Outras informações sobre as inscrições, regras do concurso e premiação poderão ser obti-das pelo e-mail [email protected] ou pelo site www.amb.org.br.

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Jamb CulturadiCas Culturais

JAMB CULTURA

Edição Bimestral | JANEIRO e FEVEREIRO de 2013

www.amb.org.br | [email protected]

Presidente: Florentino de Araújo Cardoso Filho

Coordenador e Diretor Cultural: Hélio Barroso dos Reis

Diretora de Comunicações: Jane Maria Cordeiro Lemos

Diretor de Marketing: José Carlos Vianna Collares Filho

Conselho Editorial (2011-2014): Antonio Roberto Batista (Campinas/SP - região Sudeste)

Armando José China Bezerra (Brasília/DF - região Centro-Oeste)

Carlos David Araújo Bichara (Belém/PA - região Norte)

Gilson Barreto (Campinas/SP – região Sudeste)

Giovanni Guido Cerri (São Paulo/SP – região Sudeste)

Guido Arturo Palomba (São Paulo/SP – região Sudeste)

Hélio Barroso dos Reis (Vitória/ES – região Sudeste)

José Luiz Gomes do Amaral (São Paulo/SP – região Sudeste)

Murillo Ronald Capella (Florianópolis/SC – região Sul)

Roque Andrade (Salvador/BA – região Nordeste)

Yvonne Capuano (São Paulo/SP – região Sudeste)

Apoio cultural: Departamento de Comunicações da AMB

Secretária: Denilia Dias

Revisão: Natália Cesana

Projeto Editorial: Sollo Comunicação

ColaboraçãoO Jamb Cultura é um espaço aberto que estimula a literatura e valoriza as manifestações culturais do Brasil. Para isso, convidamos os médicos a enviar artigos, crônicas, poesias, textos sobre cultura e história da Medicina para o Conselho Editorial.

A/C Hélio Barroso dos Reis (Diretor Cultural): Rua São Carlos do Pinhal, 324 – Bela Vista – São Paulo/SP -

CEP: 01333-903 - ou pelo e-mail: [email protected]

Participe e colecione!

Normas para publicação de artigo no Jamb Cultura

1) ser médico(a) associado (a) à Associação Médica Bra-sileira, através da Federada de sua região.

2) texto de aproximadamente 1 lauda, em arial 12.

3) se houver fotografias, favor identificá-las, colocar o cré-dito e enviar em 300 dpi, anexadas fora do texto (JPG).

4) o material será apreciado pelos membros do Conselho Editorial antes de sua publicação.

5) ao enviar ao Conselho, informar autorização de publicação.

6) assinar o artigo com: nome, especialidade, cidade, estado e endereço para correspondência.

O Jamb Cultura somente publica matérias assinadas, as quais não são de responsabilidade

da Associação Médica Brasileira

São Paulo/SPAcervos Artísticos e Culturais da Prefeitura de São PauloFoi inaugurado no dia 8 de novembro o Portal de Acervos Artísti-

cos e Culturais da Prefeitura de São Paulo. O site é uma iniciativa

da Secretaria da Cultura de São Paulo e disponibiliza o material

histórico da cidade de São Paulo em formato digital e/ou indica

os locais onde esse material está disponível, para que você possa

conhecer nossos acervos e saber um pouco mais sobre cada cole-

ção. A ferramenta contempla 15 acervos dos mais diversos tipos

de suportes (foto, filme, áudio, documento, partitura, catálogos

entre outros). Ao todo são mais de 150 mil itens. Para acessar

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Porto Alegre/RSMuseu de História da Medicina do Rio Grande do SulExposição "As faces da saúde" Segue em cartaz a exposição "As Faces da Saúde", 2ª edição, fruto do 2º Prêmio MUHM de Fotografia. Foram apresentados os vencedores das categorias profissional e amador, totalizando 16 fotografias. A comissão julgadora do 2º Prêmio MUHM de Fotografia foi formada por integrantes do MUHM e de seu mante-nedor, SIMERS, e pelos fotógrafos Luiz Eduardo Achutti, Rogério do Amaral Ribeiro e Itamar Aguiar, presidente da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul (ARFOC/RS). Para inspirar fotógrafos a participar da terceira edição do prêmio - que acontece a cada dois anos - estão expostas fotos da "I Mostra Fotográfica Sobre Aleitamento Materno", realizada em 1980, fruto de um concurso fotográfico proposto pela Secretaria Esta-dual de Saúde, e que circulou o Estado e até mesmo o país, sendo exposta na Organização Mundial da Saúde no Brasil, em Brasília. O tema será abordado na próxima edição do concurso do museu.ServiçoO quê: Exposição As Faces da Saúde - 2ª ediçãoOnde: Sala Rita Lobato do MUHM - Av. Independência, 270, Porto Alegre, RS, Tel.: (51) 3029-2900Quando: até abril de 2013Horário: de terças a sextas-feiras, das 12h às 20h, sábados e domingos, das 15h às 20h