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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 2109 AS DAMAS DA INSTRUÇÃO CRISTÃ NO BRASIL DA TRANSIÇÃO SECULAR: 18971912 Ramsés Nunes E Silva [email protected] (UEPB) Resumo A dimensão histórica que teceria o embate de universos cristocêntricas e laicstas entre o final do Oitocentos e o início do século XX se constituiria numa factualidade palpável nos dois lados do Atlântico.Especificamente no que diz respeito à elaboração de práticas que se contrapunham. Todavia, naquela conjuntura, os suportes normatizadores sócioculturais que se constituiriam voltados para os espaços instrucionais, caracterizados como internatos, se mostrariam complexos. Especialmente por se mostrarem proponentes de uma escola confinada múltipla. Nossa pesquisa, fruto de uma tese de doutoramento, se lança exatamente sobre as representações elaboradas para os internatos confessionais a partir do combate à secularização da instrução na transição entre os dois séculos.Tece olhares sobre a culturas manifestadas para o confinamento refletindo sobre a forma como as instituições confessionais dialogaram/combateram a nova conjuntura instrucional. Especificamente a que se abateu em Pernambuco e Paraíba a partir da congregação Damas da Instrução Cristã. Instituição belga dedicada à implantação de alguns dos mais importantes internatos entre os dois estados. Também espaço de manifestação do que entendemos serem práticas instrucionais de confinamento elaboradas no transcurso das adaptabilidades e das dicotomias, do disciplinamento e das equiparações, do apartamento da secularização mas também do uso de alguns de seus símbolos.Para tanto desdobramos uma análise dos manuscritos internos e particulares que foram produzidos pela instituição e por dados protagonistas ligados à ela, ao longo da fundação de sua primeira escolainternato no Brasil, para comparar com as demandas sócio culturais delimitadas pela expansão das práticas escolares consideradas profanas.Manifestação que impelia instituições como as Damas em sua confessionalidade a se afirmarem enquanto bases de fixação dos ditames da Sé romana. Aspecto de forma alguma simplista haja vista o internamento ter se mostrado adaptável às condições da secularização educacional no Brasil. Palavraschave: Internatos. História da Educação. Instituições Católicas. O quadro mundial de conflito que era discursivo e que foi responsável pela construção da imagem dos internatos junto às esferas culturais cristalizadas em favor de dada educação a ser implantada entre os séculos XIX e XX prescrevia, independentemente da fundamentação, uma instrução confinada em muitas de suas agendas. Algumas delas transformadas em estandartes de luta entre as diversas alas da educação cristocêntrica. Dado que, ao mesmo tempo, não é exatamente simples de inquirir, haja vista outros condicionantes que eram políticos, econômicos e sociais. Os mesmos que acabavam por influenciar diretamente, àquela altura, a implantação de determinados quadros pedagógicos também de fundo cultural e de forma alguma neutros (CHARTIER, 1990, p.17). Este último aspecto, um elemento histórico, como entendemos ter sido, da mesma forma, a necessidade postulada para a fundação e manutenção de espaços de instrução denominados internatos, estando aqueles

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5

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AS DAMAS DA INSTRUÇÃO CRISTàNO BRASIL DA TRANSIÇÃO SECULAR: 1897‐1912  

Ramsés Nunes E Silva [email protected] 

(UEPB)  

Resumo  A dimensão histórica que teceria o embate de universos cristocêntricas e laicstas entre o final do Oitocentos e o início do  século  XX  se  constituiria  numa  factualidade  palpável  nos  dois  lados  do  Atlântico.Especificamente  no  que  diz respeito à elaboração de práticas que  se contrapunham. Todavia, naquela conjuntura, os  suportes normatizadores sócio‐culturais  que  se  constituiriam  voltados  para  os  espaços  instrucionais,  caracterizados  como  internatos,  se mostrariam  complexos.  Especialmente  por  se mostrarem  proponentes  de  uma  escola  confinada múltipla.  Nossa pesquisa,  fruto  de uma  tese de  doutoramento,  se  lança  exatamente  sobre  as  representações  elaboradas para os internatos  confessionais  a partir do  combate à  secularização  da  instrução na  transição  entre os dois  séculos.Tece olhares  sobre  a  culturas  manifestadas  para  o  confinamento  refletindo  sobre  a  forma  como  as  instituições confessionais  dialogaram/combateram  a  nova  conjuntura  instrucional.  Especificamente  a  que  se  abateu  em Pernambuco e Paraíba a partir da congregação Damas da Instrução Cristã. Instituição belga dedicada à implantação de alguns dos mais  importantes internatos entre os dois estados. Também espaço de manifestação do que entendemos serem  práticas  instrucionais  de  confinamento  elaboradas  no  transcurso  das  adaptabilidades e  das  dicotomias, do disciplinamento  e  das  equiparações,  do  apartamento  da  secularização  mas  também  do  uso  de  alguns  de  seus símbolos.Para  tanto desdobramos uma análise dos manuscritos  internos e particulares que  foram produzidos pela instituição e por dados protagonistas  ligados à ela, ao  longo da fundação de sua primeira escola‐internato no Brasil, para  comparar  com  as  demandas  sócio  culturais  delimitadas  pela  expansão  das  práticas  escolares  consideradas profanas.Manifestação que  impelia  instituições como as Damas em sua confessionalidade a se afirmarem enquanto bases  de  fixação  dos ditames  da  Sé  romana.  Aspecto  de  forma alguma  simplista haja  vista o  internamento  ter  se mostrado adaptável às condições da secularização educacional no Brasil.   Palavras‐chave: Internatos. História da Educação. Instituições Católicas.  

O quadro mundial de conflito que era discursivo e que foi responsável pela construção da 

imagem dos  internatos  junto às esferas culturais cristalizadas em  favor de dada educação a ser 

implantada entre os  séculos  XIX e XX prescrevia,  independentemente da  fundamentação, uma 

instrução confinada em muitas de suas agendas. Algumas delas transformadas em estandartes de 

luta entre as diversas alas da educação cristocêntrica. 

Dado  que,  ao mesmo  tempo,  não  é  exatamente  simples  de  inquirir,  haja  vista  outros 

condicionantes  que  eram  políticos,  econômicos  e  sociais.  Os  mesmos  que  acabavam  por 

influenciar  diretamente,  àquela  altura,  a  implantação  de  determinados  quadros  pedagógicos 

também de fundo cultural e de forma alguma neutros (CHARTIER, 1990, p.17). Este último aspecto, 

um elemento histórico,  como entendemos  ter  sido, da mesma  forma,  a necessidade postulada 

para a fundação e manutenção de espaços de instrução denominados internatos, estando aqueles 

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espaços apresentados como solução a múltiplos projetos. Entre eles, para os católicos, a fuga da 

secularização. Fenômeno este cada vez mais firme ao se transpor a fronteira entre os dois citados 

séculos. 

Significativo  é  constatar  que  acabava  mesmo  em  curso  uma  tentativa  renovada  de 

monopólio da instrução, lançado ou reforçado junto à representação do confinamento na condição 

de signo,  fosse cristocêntrico ou, do contrário,  laico  (SCHUELER, 2008, p.6). Aspecto que acabou 

por desaguar em dispositivos marcantes de fixação de preceitos, encetados nos dispositivos que se 

queriam  absolvidos.  Especialmente  se  fossem  legitimados  por  todo  um  cabedal  de  dísticos, 

representações e matrizes filosóficas. Aquelas, lembremos, construídas pelos intelectuais europeus 

que comporiam seus livros, moldando certo internato a partir de uma série de matizes. 

Se  a  esfera  do  embate  circunstancial  contido  ali,  protagonizado  em  parte  pela  Igreja  e 

também  pelas  forças  intelectuais  secular  laicas,  a  se  desenrolar  como  verdadeira  trama 

mundialmente,  foi  tecida  por  discursos  afirmativos,  ela  também  acabou  se  materializando 

exatamente na concretude das ações que se desenvolveram no sentido de se construírem colégios 

a partir dos preceitos defendidos e universos  culturais distintos, mas  também muito próximos. 

Afinal, a própria representação da secularização manifestada como base para a reação católica ao 

ensino laico de forma múltipla se reforçou ano a ano como dispositivo simbólico da implantação 

do liberalismo, da marcha pelo progresso e do evolucionismo, donde se moldava a interpretação 

da instrução como aporte que fixava aquelas demandas e que faziam congregações e intelectuais 

se lançarem a propor o internamento educacional.Este mesmo que se moldaria à representação da 

sociedade que se normatizava secular.  

Ali se queria a criança sob vigília, normatizada pela disciplinarização, ocupada pela vivência 

contínua sob o olhar de mestres e inspetores. Respirava‐se “o ar do confinamento”, já dizia Perrot 

(1991,  p.45),  e  a  cultura  constituída  dentro  e  fora  dele  como  postulado  que  atingia  diversas 

iniciativas, embora aos católicos e protestantes se destinasse uma ênfase acirrada daquela ordem 

discursiva  em meados  do Oitocentos  sob  pena  de  perda  de  territorialidade  com  as  quais  se 

ressentia a escola confessional da secularização.  

Aspecto  verificável  na  última  década  do  século  XIX  (BARROS,  1983;  AZZI,  2008)  e  nas 

primeiras  décadas  do  século  XX  como  disputabilidades  de  espaço,  onde  no  Brasil  os  grupos 

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escolares e liceus já se faziam presentes, mesmo que ainda não tão homogeneamente (PINHEIRO, 

1994,  p.240),  e  onde  os  colégios  cristocêntricos  se  queriam  projetar  dominantes.  Tanto  os 

dedicados à instrução de meninos quanto meninas. Bases sólidas para manifestação de repertórios 

afirmativos que, se muitas vezes se contrapunham, na maioria dos projetos, também se ajustavam 

às necessidades normativas  impostas pelas  legislações e atributos normativos  implantados pelos 

regimes governamentais. 

A  partir das Encíclicas e da Militância católica, que entendemos legitimariam e valorizariam 

uma  cultura  instrucional  de  confinamento  atuante,  constituir‐se‐iam  ações  deliberativas  que 

tinham  como  efeito  uma  resposta  imediata  na  Europa  àquelas  preocupações  pontificiais  que 

também causavam  impacto, entre as alas  intelectuais católicas  1, sequiosas por espaço entre as 

estruturas de poder. Entre elas as  lançadas sobre a esfera pedagógica, sendo a  instrução carro‐

chefe de uma  campanha pelo  retorno  à  tutela eclesiástica dos  assuntos que diziam  respeito  à 

formação. Nos círculos mais ortodoxos,  também de uma  legitimação expressa pela  instrução da 

infalibilidade da autoridade clerical. 

Fossem  as  alas  conservadoras  ou  progressistas,  ambas  se  embrenhava  num  caldo 

controverso  que  tentava  ler  a  transição,  apostando  nas  práticas  inerentes  ao  novo momento.  

Estando, como estavam  já prescritas, a escola católica e daí o  internato como sustentáculos do 

front  instrucional, voltados para o combate à secularização e  laicização, distinguiu‐se  finalmente 

uma multiplicação dos esforços por criação, manutenção e expansão de espaços instrucionais sob 

as  mais  diversas  nomenclaturas  (MOURA,  2000,  p.12)  2.  Principalmente  após  duros  golpes 

impingidos pelo liberalismo revolucionário (CAMBI, 1999,p.342). 

Não  só  no  sentido  de  fundamentar  e  exortar  a  existência  de  simbologias  e  signos 

reforçando a escola cristocêntrica como antítese a escola laica, aspecto intenso, mas também no 

tocante  ao esforço despendido pelas  congregações européias em  se  fazerem presentes  fora do 

velho continente (BARROS,1981, p.33), (SANTOS, 2000, p.113). O grande empenho da Sé Romana, 

que havia se manifestado a partir da construção discursiva de uma escola católica como espaço de 

                                                           1 O Comunismo, a Maçonaria, o casamento civil, a  laicização da  instrução correspondiam a algumas das discussões levantadas pelo Vaticano. 

2 MOURA, Laercio Dias de, A educação Católica no Brasil, São Paulo: Loyola, 2000 

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manutenção da moral confessional, enfim seria transformada em materialidade. 

A transposição de instituições escolares católicas para o Brasil, e mais especificamente para 

cidades  como  Recife,  decorreria  como  uma  verdadeira  onda  de  ocupação  que  desaguaria  nos 

portos da América Latina3. Outra manifestação ligada àquela conjuntura seria a intervenção direta 

dos arcebispos na fundação de colégios diocesanos e congregacionais na tentativa de seguirem à 

risca os ditames consagrados pelas seguidas encíclicas, servindo aqueles líderes como agentes dos 

interesses tanto da Sé romana quanto dos poderes locais. 

Ação que seria centrada, segundo Azzi (2008, p.11), no que representava uma tentativa de 

arrolamento de funções a serem reconquistas àquela sociedade brasileira a laicizar‐se, e que, até 

então,  segundo  o  que  argumentava  a  Igreja,  depredava  as  funções  secularmente  destinadas  a 

serem  de  competência  desta  instituição.  Por  ocasião  da  proclamação  da  República  e  da 

Constituição de 1891: 

Segundo os prelados com a organização do Estado  leigo, a partir da proclamação do regime republicano, a instituição eclesiástica fora marginalizada da vida pública e social. Por essa razão estavam eles realizando um esforço afim de reconquistar uma  situação  de  privilégio  para  a  crença  católica,  sob  a  alegação  de  que  se tratava de um direito assegurado pela própria tradição cultural do pais. De fato, a idéia  ampla  de  sacralidade  se  afunila,  em  termos  concretos,  num  plano  para recatolicizar o pais  (BARROS, 1981, grifos nossos) 4.   

De pronto: foi marcante a efetiva expansão das organizações eclesiásticas, mundo afora, e a 

respectiva  fundação de uma cada vez maior quantidade de congregações vinculadas ao  trabalho 

docente, bem como colégios ligados diretamente aos interesses dos governos pontificiais locais e 

regionais. Ao mesmo  tempo, distinguia‐se uma diversificação de searas conflitivas que poderiam 

atingir as pretensões de implantação da escola católica, donde um acirramento da transposição de 

uma quantidade expressiva de instituições religiosas em direção à América do Sul se manifestava. 

Não sem motivo. Segundo Barros (1981, p.34): "O vaticano concentrou recursos no revigoramento do 

trabalho missionário". 

Todo  aquele  aparato  legitimador  acabou  transformado em  tijolos e  cimento,  suficientes 

                                                           3  O  Porto  de  Recife  seria  de  suma  importância  nesse  aspecto,  pela  transitoriedade  das  congregações  que desembarcando ali se deslocavam para outros estados. 

4 BARROS, Sergio Miceli de, A Elite Eclesiástica Brasileira (1890‐1930), Tese de Doutorado, Unicamp: SP, 1981,  

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para  enraizar  aquelas  instituições  que  se  articulariam  fora  da  Europa,  tanto  se  aliando  às 

deliberações episcopais quanto aos interesses de lideranças locais. Atributo usual enquanto práxis 

onde se planificaria – e realizaria – certa barganha na formação das elites agrárias e urbanas, sob a 

batuta de congregações dedicadas à instrução masculina ou feminina.Não sem oposição, como no 

caso  das  instituições  instrucionais  protestantes,  assistencialistas  e  benemerentes  e  respectiva 

imprensa  secularista.  Esta  não  poucas  vezes  dedicada  à  crítica  aos  colégios  católicos.  Aspecto 

contraditório,  pois  que  se  baseavam  muitas  instituições  seculares  ou  laicas  nas  práticas  de 

confinamento justamente como simbologia e como representação cultural. 

 O  que  evidentemente  se  diferenciava, naquele momento,  era  a  profusão  de  iniciativas 

católicas,  estimuladas,  também  contraditoriamente,  a  se  adaptarem  inclusive  às  realidades 

impostas  pelas  agendas  republicanas  e  do  liberalismo  secularizante.  Afinal,  a  própria  Igreja 

brasileira estava dividida entre um  clero quiçá  liberal, dado  a dialogar  a partir de um discurso 

centrado  numa  Igreja  nacional,  e  outra  mais  preocupada  em  ratificar  uma  pretensão 

universalizante  da  Sé  representada  pelo  ultramontanismo.  De  significativo  era  a  preocupação 

daquelas  alas  católicas  com  a  tomada  de  espaço  necessário  à  ratificação  de  seus  preceitos 

dogmáticos pela  instrução  (BARROS, 1981, p.34). A manifestação no Brasil daquele arrefecimento 

católico, em várias  frentes, a partir da presença no país de congregações dedicadas a  instrução, 

representou fenômeno real ao se materializar como disposição que abria uma frente, mesmo que 

de  âmbitos diferenciados, mais ou menos homogênea, no  sentido de  se  instalarem novamente 

escolas católicas pelo território brasileiro. Especialmente no Nordeste, tanto nas capitais quanto no 

interior.  Condição  diferenciada  do  enclausuramento  em  que  se  encontravam  educadoras  e 

educandos nos chamados recolhimentos coloniais5. Um aspecto que se fez realizar marcadamente 

ao se  reforçar e/ou  reformar uma estrutura que  também  já existia sob condições específicas. A 

representação de  culturas  instrucionais de  confinamento  redimensionaram distinções enquanto 

base  para  as  instituições  totais  que  se  representavam,  no decorrer  também  e,  especialmente, 

dessa nova conjuntura. 

No  Nordeste  da  transição  e  em  cidades  que  haviam  acelerado  seus  processos  de 

                                                           5 Estavam em anexo aos conventos beneditinos, franciscanos capuchinhos, escolas internato de confissão católica. 

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urbanização  nos  anos  finais  do  século  XIX,  tais  como  Recife  (GUERRA,  1992,p.123),  na  última 

metade do Oitocentos  já estava  a  se manifestar  a patronagem do Bispo Dom Manuel de Rêgo 

Medeiros a interceder junto ao Cardeal Antonielli, secretário de Pio IX, para voltarem os padres da 

Companhia  de  Jesus  ao  estado,  e  para  ali  fundarem  um  internato.  No  lugar  do  antigo  liceu 

provincial funcionaria o primeiro internato jesuíta Oitocentista, denominado Colégio São Francisco 

de Sales (BELLO,1978, p.169) 6.  

Um  fator que, de outra  forma,  também delimitou a  inclusão  sensível da  feminilização e 

normatização do próprio catolicismo brasileiro (NUNES, 2001, p.491) que encetava a presença da 

mulher, circunstancialmente, sob a ingerência da autoridade clerical. Assim, toda uma conjuntura 

de  reestruturação da  classe eclesiástica  se  fazia presente  a partir da  colocação em prática dos 

ditames prescritivos  lançados pelas  lideranças  regionais da  Igreja no  sentido de propiciarem  as 

melhores  condições  para  a  criação  de  nichos  católicos  que  se  dispusessem  a  proteger  certa 

clientela discente e, se possível, terem seus internatos subvencionados. Ação que não ficou restrita 

à ordem discursiva.Pelo contrário, reafirmava‐a e intensificava ao longo dos anos.   

Atendiam aquelas instituições ao chamado pontifício pela afirmação da confessionalidade 

da  educação  a  partir  de  circunstâncias  determinadas,  como  já  bem  sabemos, mas  também  a 

fenômenos sociais que se manifestavam em curso. Entre eles, a distribuição e delimitação de um 

magistério  feminino de base  religiosa,  a partir da  arregimentação de  freiras  como educadoras. 

Fenômeno inclusive que já era efetivo mesmo antes de se apresentar em marcha uma feminização 

do magistério  laico. As  religiosas, passo a passo, saiam dos claustro e dedicaram‐se a educação 

(NUNES, p.491). 

Foi  expressiva  a  arregimentação  sob  o  escrutínio  de  intelectuais  e  lideranças,  as  mais 

diversas, pela  implantação da  tutela de  seus  filhos exercida pela  figura da  freira, que  inclusive 

passou a ser vista como uma opção no sentido de representar uma imersão tutelada da mulher no 

mundo do trabalho ou em graus de instrução e relações de poder (NUNES, p.494). 

Da  mesma  forma,  em  detrimento  da  imagem  discursiva  criada  por  certos  círculos 

intelectuais  católicos  ou  secularistas  do  educador  padre,  aquele  ainda  era  presença  firme  nos 

                                                           6 Segundo Bello (1978, p.169) situado a Rua do Hospício, Recife. Estaria no centro dos conflitos da chamada "Questão Religiosa" que tornaria inviável a permanência dos jesuítas no Brasil, pelo apoio dado a D.Vital em sua empreitada. 

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liceus e escolas normais espalhados pelo país, característica mantida firme em estados como, por 

exemplo, Pernambuco e Parahyba do Norte. Somente a  Igreja e seus agentes eram publicizados 

pelos círculos católicos como os detentores de uma legitimidade suficientemente reconhecível em 

matéria de administração da  instrução. O aparato educacional atrelado às  instituições escolares 

católicas, enfim, se mostraria em pleno processo de implantação. No âmbito do reforço realizado 

pelos líderes da Igreja, entre eles Pio IX (1846 – 1878)  e Leão XIII (1878 – 1903), em seus longos 

pontificados,  responderiam prontamente  salesianos, maristas,  Irmãs dorotheias,  Irmãs do  Sacre 

Couer,  Damas  da  Instrução  Cristã,  entre  outras  ordens,  que  foram  fundadas  na  Europa  e  se 

instalaram em Pernambuco. Segundo Nunes (2001, p.23):"Dessas iniciativas, a mais carregada de 

efeitos para as mulheres foi a criação de uma rede formidável de escolas católicas, sob a direção de 

religiosas estrangeiras". 

O matiz patrimonialista, assim como as instâncias que se disporiam a aceitar e a promover 

a  chegada  ao Nordeste  do  Brasil,  nos  primeiros  anos  da  Republica,  de  congregações  como  as 

Damas  da  Instrução  Cristã,  em  Pernambuco,  bem  como  a  fundação  de  Colégios  Salesianos 

condicionados  a  atenderem  a  iniciativa  dos  Arcebispados  para  uma  demanda  por  escolas 

confinadas  para  meninos  seria  apenas  uma  das  representações  e  manifestações  às  quais 

pertenciam a grande descontinuidade causada pela cultura que se queria cada vez mais reafirmar: 

a que se fizesse confinada. 

 Podemos daí identificar que por vias distintas se chegava a um denominador cultural em 

comum. Na  instalação de  congregações estrangeiras e na  fundação dos  colégios diocesanos  se 

prontificavam as lideranças católicas, quer fossem bispos ou madres superioras representando suas 

congregações, a legitimarem aquele propalado universalismo dos colégios católicos como espaços 

de resistência ao mundo tornado secular. Não podemos esquecer, todavia, que algumas condições 

díspares  são determinantes nos processos de embate manifestados no  trânsito das  sociedades 

européias com seus projetos de instrução. Já na realidade brasileira, com uma condição diversa, o 

quadro cultural era complexo. 

 Primeiro por serem as realidades estruturais e de relações de poder no velho mundo muito 

mais dicotomizadas, a exemplo: mundo liberal laicista versus mundo espiritual‐clerical. No Brasil, 

essas  mesmas  relações  eram  cimentadas  por  certas  continuidades  onde  os  partícipes  das 

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estruturas de poder na República eram muitas vezes padres, que recentemente comungavam de 

privilégios na monarquia. 

Outrossim  era  que  a  recepção  das  congregações  se  ajustaria  a  interesses muito mais 

centrados  nas  relações  oligárquicas  que  independentemente  das  reformas  pedagógicas  e  da 

reestruturação  republicana patrocinada pelos sucessivos governos aderiria a cultura  instrucional 

de  confinamento.  Da  mesma  forma,  os  colégios  internos  representativos  das  dioceses  que 

acabariam por sedimentarem nichos de escolas secundárias dedicadas a reafirmar a necessidade 

de  negar  a  laicidade  da  instrução  como  referencial.O  mesmo  fenômeno  que  se  constituía 

implicitamente  na  reafirmação  apologética  e  na  publicização  do  internato  como  solução  de 

problemas morais para  a  sociedade que  se  afirmaria nos periódicos  circulando entre os meios 

letrados.       

No tocante à implantação daquelas instituições no transcurso entre o Oitocentos e o século 

XX, estados como Pernambuco já apresentava algumas instituições de grande importância, mesmo 

antes  da  chegada  de  congregações  como  as  Damas  da  Instrução  Cristã  em  1897,  entre  eles  o 

Ginásio Pernambucano.  

Para Silva (2003, p.42), aquele momento no interstício entre os dois regimes se configuraria 

como primordial na delimitação de frentes de ocupação católica dos espaços de instrução dados a 

confinar.  Afinal,  a  opção  por  instituições  disciplinares  que  se  constituíssem  no  vácuo  de  certa 

inaptidão  do  Estado para  instruir  as  elites  urbanas  e  agrárias  era um  fator  que  se  somava  ao 

movimento mundial de patronage7,um instrumental poderoso na fixação dos colégios Diocesanos 

e Congregações dedicas a instrução de confinamento. Para Silva  (2003, p.46): "Simultaneamente 

vários setores da Igreja passaram a demonstrar uma certa vitalidade, provocando o surgimento de 

uma série de novas congregações religiosas" 

Iniciada  a  década  de  1890  e  utilizando  certa  concórdia  momentânea  entre  o  Estado 

republicano e a Igreja (CURY, 2001; SCHWARTZMAN, 1996; SILVA, 2004) as lideranças clericais se 

lançariam  a  manobrar  no  sentido  de  proverem  suas  dioceses  de  congregações  e  colégios 

                                                           7  Fenômeno  de  arregimentação  das  ordens  religiosas  para  iniciarem  atividades  de  instrução.  Durante  a  transição representaria uma das principais formas de cooptação realizadas pelos bispos para apoiarem a instalação de colégios internos na Europa e no Brasil. 

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diocesanos  que  se  responsabilizariam  pela  manifestação  dos  preceitos  romanizadores  e 

ultramontanos  de  instrução.  Inegavelmente,  entre  eles,  os  internatos.  Uma  cultura  do 

confinamento e das práticas de internar se projetariam cada vez mais fortes, reforçados por uma 

sociedade disciplinar. 

A arregimentação papal feita por Leão XIII, no sentido de se constituírem tanto a fundação 

de  congregações dedicadas  a  instrução  católica, quanto o  lançamento das mesmas em missão 

apostólica no Brasil, no combate a secularização de costumes, estaria na mesma seara de ações em 

que  situava‐se  a  fundação dos  colégios Diocesanos que  seriam  reforçados por  todo o  território 

eclesiástico brasileiro. Acabavam sendo aquelas ações representativas de parte de uma dimensão 

combativa de natureza muito próximas. Incidiam diretamente sobre o inciso 72 da constituição de 

1891. Especialmente naquela última década do século XIX quando, sobre designações diferentes, 

os católicos marcariam posição na afirmação do confinamento como instrumental educacional.   

Evidentemente, com algumas disparidades, dadas às convergências de esforços e origem das 

respectivas  intervenções,  que  eram  de  tempo  e  lugares  diferentes,  e  em  alguns  aspectos 

estruturais e de fundamentação distintos. Uma dimensão de representação que se afirmaria sob 

estandartes correlatos embora fossem dedicados a instrução feminina ou masculina. 

Aspecto que devemos identificar para melhor compreendermos certo gráu de circulação de 

dados  prescritivos,  elementos  normativos  e  aparatos  de  poder  mais  específicos  e  locais.  A 

diferença  recairia, entre outros  aspectos, na dimensão das  congregações  femininas dotadas de 

constituições específicas  coadunadas pelas encíclicas. Dentro desse espírito de  combatividade e 

missionarismo se prontificaram aquelas  instituições a deslocarem‐se da Europa para o Brasil. Ali 

adaptando‐se  às  condições materiais,  políticas,  e  dentro  da  estrutura  e    hierarquia  da  Igreja, 

também diocesanas. 

Todo um aparato fundamentado no apoio às lideranças diocesanas seria proporcionado pela 

facilitação  protagonizada  pelos  bispos  em  carácter  intervencionista  donde  atuavam  como 

intermediários entre  as deliberações do Vaticano e  as  congregaçõesdas donde  acabavam  como 

patronos.  Na  condição  de  Bispos  seriam  efetivamente,  como  representantes  de  Roma,  como 

"agentes" exercendo plenos poderes para arregimentar congregações e  instalá‐las a serviço dos 

dispositivos  atrelados  à  instrução  prescrita  pela  Sé  romana,  que  se  propagavam 

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intermitentemente,  naqueles  últimos  anos  do  século  XIX.  Na  Europa,  papel  que  também  era 

realizado  por  padres  seculares  a  executarem  funções  de  coadjutores  dos  interesses  daqueles 

Bispos na  "nova  cruzada".  Transformando  a  convocação daquelas  instituições,  a  se  lançarem  à 

América do Sul, numa frente de combate aos modelos instrucionais considerados secularizantes. 

Não  significa  que  os  objetivos  se  restrigissem  a  essa  missão,  pelo  contrário,  estavam 

firmemente cimentados em relações muito mais complexas e constituídas ao longo da formação 

de uma estrutura sólida de alianças e programas muito bem definidos de "conquista de espaço". 

No  Brasil,  inclusive,  significaria  uma  espécie  de  continuidade,  sob  outros  condicionantes,  das 

relações oligárquicas que já tinham fomentado uma ordem societária clerical de grande influência 

política (CARVALHO, 2003, p.45). Algumas dessas relações se afirmando na fundação de bases de 

poder a partir de uma elite letrada que se formaria por intermédio das instituições católicas. Uma 

parte dela  atuando  futuramente nos  cargos eletivos e de  relações de poder, nas mais diversas 

esferas.  Haja  vista  a  grande  parte  de  seus  rapazes  e  moças  ingressarem  na  vida  política, 

bacharelística e  religiosa na  condição de padres,  freiras  advogados e políticos.  Funções de  alto 

prestigio na nova conjuntura que se avizinhava tanto na Europa quanto no Brasil. Um fenômeno 

comum à  realidade da  instituição educacional que  resolvemos abordar, dentro de nossa análise 

sobre as culturas instrucionais de confinamento. 

 

As Damas da Intrução Cristã no Brasil 

 

As Dames D`Intruction Cretienne 8, enquanto congregação dedicada a instrução, foi fundada 

a partir de um grupo de religiosas francesas de mesmo nome, que se instalaria em Gand, Belgica, 

no  ano de 1808,  ainda  como  instituto, onde  iniciaram  suas atividades de  instrução na primeira 

metade do  século XIX.  Se  instalariam no  antigo mosteiro das monjas bernardinas na  abadia de 

Dooresele  a  convite  do  bispo  local.  Devido  aos  conflitos  das  guerras  napoleônicas,  segundo 

Lantschooot (1981, p.) esse núcleo inicial de religiosas retornaria a França inaugurando um período 

de  apartamento  entre  as  duas  designações,  ficando  as  Damas  da  Instrução  Cristã  como  uma 

                                                           8  Denominadas em nosso artigo a partir de agora pela abreviação DIC (Damas da Instrução Cristã). 

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legítima congregação belga dedicada a educação a partir de 1814. 

Em  1822  o  governo  Holandês,  ao  qual  estava  subordinado momentaneamente  o  belga, 

suprimiria a congregação, estando dispersas as religiosas até fevereiro de 1823. Naquele ano seria 

revogado o decreto de supressão.  Na perspectiva estrutural nascia como instituição total apoiada 

pela iniciativa da administração diocesana (CAMARA, 1996, p. 8‐9). Seria inicialmente liderada pela 

religiosa  Agathe  Verhelle  9,  responsável  pela  fundamentação  da  congregação  como  instituição 

dedicada a instrução.   

Em 1826,  já encaminhavam petição ao Vaticano onde solicitavam a Leão XIII aprovação e 

reconhecimento da Congregação e de seus colégios como  representantes dos esforços católicos 

por colégios confessionais e internatos.   

O parecer favorável delimitado pela Congregação dos Bispos e Regulares em Roma aprovaria, 

a  1º  de  agosto  de  1827,  tanto  a  instituição  como  congregação  instrucional  quanto  suas 

constituições.  (LANTSCHOOT, 1980),  (CAMARA, 1996).   Aquele documento em  seu Código  II do 

livro  anexo  às  Constituições  do  Instituto  das  Damas  da  Instrução  Cristã  10,  apresentava  a 

designação que estabelecia: o serviço preferencial dos jovens e pobres. Assim como em seu art.1, a 

missão do  Instituto,  tornado congregação posteriormente, de se dedicar a educação católica.De 

acordo  com  o  documento  desdobrava‐se: Na  educação  dos  jovens:  escolas maternais,  escolas 

primárias e secundárias, universidades, grupos de estudo, grupos de jovens 11.   

  É de se observar a condição inclusive de designação nominal da Congregação apresentada 

frente  ao  Vaticano.  Já  que  se  prontificavam  não  só  a  denominação  enquanto  congregação 

instrucional, mais uma  faceta militante que  abraçaria  a disponibilização da prática  instrucional 

como  "missão".  Verdadeira  jornada missionária  fundamentada  sob  o  estandarte  da  educação 

confinada como lustre cultural. 

                                                           9  Irmã  Aghate  Vehele  seria  responsável direta pela  fundamentação  doutrinária da  congregação.  Primeira  Superiora Geral designaria e produziria o modelo conventual a ser instalado, bem como o internato propriamente dito fundado em Ponto Uchoa, bairro da grande Recife. 

10 Constituições do  Instituto das Damas da  Instrução Cristã, Cópia Manuscrita, Arquivo Escolar, Abadia de Doreesele, 1827.Uma cópia   desse documento   se encontra arquivada na  sede da Congregação Damas da  Instrução Cristã em Gand, e apresenta uma organização  textual  fundamentada como regra monacal aplicável a um convento ou a um internato.  Constituindo‐se  num  conjunto  de  prescrições  a  serem  seguidas  pelas  freiras  da  congregação  sob  a condição de educadoras cristãs a serviço das designações oriundas do Vaticano. 

11 CONSTITUIÇÕES, 1827, Ibid, p.23 

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Na  Bélgica, se lançariam a fundar internatos e a construir alianças entre as forças políticas 

locais, as dioceses. e os demais  representantes clericais. Apresentando os   serviços  instrucionais 

que projetavam uma  instrumentalização alinhada com as características da chamada "sociedade 

disciplinar".  Ao mesmo  tempo,  os  processos  instrucionais  adotados  designavam  a  escolha  do 

internato como dimensão de uma cultura que designava o confinamento dos discentes como uma 

instrumentalidade  factível.  Tanto  pela  dimensão  da  congregação  dada  a  contrição,  silêncio  e 

meditação  como  símbolos  cotidianos  quanto  pela  possibilidade  de  implantação  ou  adaptação 

daqueles  critérios monásticos  às  escolas,  sendo  o  internato  e  seus  signos  atrelados  ao  núcleo 

organizacional pedagógico das mesmas.   A Década de 1820 e, especialmente a de 1830,  foi de 

importância crescente na difusão e fundação dos colégios internos sob a batuta das DIC na Bélgica.  

As  DIC  surgiriam  essencialmente  naquela  conjuntura  como  uma  instituição  dedicada  a 

instrumentalização do  internato como espaço educacional, mas  também como esforço doutrinal 

no qual estavam noviças,  a  aprenderem o ofício educacional,  freiras  já detentoras do hábito, e 

educandos  sob  a  prescrição  de  um  catolicismo  avesso  a  secularização  instrucional.  Estando  a 

religiosa Aghate Vehele nos primeiros anos da instituição, não só como liderança maior, mas como 

uma  incentivadora da organização de escolas católicas que se dispusessem a exercerem sobre o 

alunado o confinamento instrucional como prática usual. Foi assim na fundação daqueles colégios 

na primeira metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. 

Segundo Lantschoot (1980, p.) as DIC, desde o primeiro momento, se dispunham a atuarem 

enquanto escolas  internato, basicamente sob a prescrição de  tarefas  instrucionais adaptadas da 

regra largamente expandida pelos preceitos organizacionais dos jesuítas que as inspirariam. As DIC 

se constituiriam destarte a serviço de  forma purista e engajada aos potentados hierárquicos da 

Igreja especialmente durante os duros  conflitos que  se  abateram naos países baixos durante  a 

primeira metade do século XIX 12. 

(…)  a  jovem  comunidade  desejou  seguir  as  Regras  da  Companhia  de  Jesus, adaptadas  às mulheres.  Não  possuíam  o  texto  dessas  regras, mas  as  Damas  o conheciam de  cor e, assim,  sem grande dificuldade Madre Agathe, ajudada por 

                                                           12 Uma série de condições conjunturais perpassaram conflitos que atingiram o instituto educacional. Os mesmos foram da  invasão napoleónica ao território belga, passando pela dura perseguição anti clerical que  se abateria nos anos 1820  e  1830  do  Oitocentos  na  Europa.  Conflitos  esses  que  foram  protagonizados  por  uma  série  de  golpes administrativos burocráticos que colocavam em periogo a existência da  Congregação. 

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algumas  irmãs  po‐se  ao  trabalho,  para  redigi‐lo  (…)  Foi  ainda  esse  espírito  de obediència à Igreja que lhes inperou o requerimento a Leão XIII, do qual resultara a aprovação da  sociedade e das Regras das Damas da  Instrução Cristã a 10 de agosto de 1827 (LANTSCHOOT, 1980, p.7‐8, grifos nossos) 13  

As DIC acabaram  representando uma congregação das mais  importantes dentro da cultura 

católica francófona da Bélgica que se dedicaria a reforçar a cultura instrucional de confinamento. 

Instalando instituições totais (GOFFMAN, 1999) em profusão no território Belga. Ao incorrerem os 

debates que se incidiriam sobre a o cientificismo e o evolucionalismo, frutos da secularização de 

costumes, estavam já a organizar as malas para desembarcarem no Porto de Recife. Prontamente 

fariam  parte  da  frente  de  esforços  pontificiais  a  se manifestarem  por  décadas  como  esforços 

materiais no processo de defesa de uma recatolicização da sociedade (ZAGHENI, 1999), (MARTINA, 

1996). 

Levando  em  consideração  aquela  arregimentação  pontificial14,  de  grande  importância  na 

relação direta da Congregação instrucional com o papado e, segundo o Journal de La Maison de La 

Sant Famile de Olinda 15, já a 17 de novembro de 1894, o Monsenhor Antoine Stillemans oriundo 

da cidade de Gand, em visita a Congregação a convite da Madre Ignace Pollenus ‐ superiora Geral 

das DIC  ‐  realizava a  leitura de uma carta que  representava um  importante marco no  tocante a 

representação daquele manifestação missionarista. Principalmente para o que se constituiria dali 

em diante como ação organizativa para o desenvolvimento das atividades fora da Europa. Entre as 

quais a que estava prestes a aderirrema as religiosas das DIC: 

Le 17 Novembre 1894, Monseigneur Antoine Stillemans, Evêque de Gand, a invité la  Reverende Mère  Ignace  Pollenus  (…)  Puis Monseigneur  leur  a  donné  lecture d'une  touchante  lettre qui  il avairt reçue de  la Sainteté  Leon XIII que  invite  les 

                                                           13  LANTSHOOT,  Paula  Van, A  Reverenda Madre Aghate Verhelle,  Tradução Monique  Califice,  Centro  de  Asssesoria Pedagógica, Fortaleza, 1980, p.7‐12 

14 Fenómeno análogo à arregimentação disponibilizada pelos líderes clericais em Pernambuco e na Parahyba do Norte no mesmo período, como consta na documentação levantada por esta pesquisa nos Arquivos Eclesiásticos dos dois estados. 

15 A partir deste momento designado em nosso artigo, por  sua abreviação em Português: DCSFO  (Diário da Casa da Sagrada Família de Olinda) O respectivo documento é um Diário Manuscrito relativo a fundação da Congregação no Brasil e sua permanência em Olinda nos primeiros anos entre o final do século XIX e os primeiros dias do século XX.. Também  contém  nesse  respectivo  documento  informações  sobre  a  conjuntura missionária  anterior  a  vinda  da congregação ao Brasil. O mesmo documento está localizado no Arquivo do Colégio Sede de Recife, possuindo uma cópia  arquivada  na  sede  europeia  que  nos  designamos  a  visitar.  Incorre  em minuciosa  descrição  das  atividades desenvolvidas pela instituição dia a dia, bem como sua rotina instrucional. 

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Communautés, au nom de Dieu, à se deivouer pour cooperer à  la reforme de Lá Amérique  du  Sud,  Pervertie  por  l`ignorance  et  le  immoralité      (DCSFO, Manuscrito, 1894, p.1‐2, Grifos nossos)16  

Dois  aspectos  contundentes  se  constituem na  respectiva passagem documental. A própria 

cooptação  institucional delimitada de  forma  a  fazer  a  congregação aderir  à  solicitação papal e 

outro  de menção  incisiva,  na  respectiva  passagem  do manuscrito,  e  em  outras  passagens,  à 

"pervertie,  ignorance e  immoralité", objetivações  como que  signos de um porvir, que estavam 

centradas exatamente na construção discursiva da qual se depreendia o texto concomitantemente 

à ideia de que estariam em missão instrucional. Mas não era tudo. 

 Afinal, se  tecia à época um olhar  lançado à América a partir de um eixo que era  tanto de 

crítica  a mundaneidade  secular,  alí presente, quanto o premente etno‐cêntrismo de que era  a 

Europa  e  o  catolicismo  romanizado  que  ditaria  a  práticas  a  se  adotarem  na  guerra  de morte 

instalada contra o secularismo e a laicidade. Centralidade na qual estavam inseridas a Congregação 

e as religiosas, cabendo a mesmas desembarcarem em terras inóspitas sob a missão de civilizar a 

juventude à luz do catolicismo, bem como contra a secularização de costumes. Manifestação da 

qual se declaravam inimigas. 

À  América  do  Sul  estava  destinada  a  recepção  de  uma  nova  dimensão  instrucional, 

salvacionista, da qual as DIC se consideravam, pontas de lança, seja enquanto missionárias da qual 

se revestiam discursivamente seja como "desbravadoras" de uma prática que pretendiam reforçar. 

Notadamente  a  partir  dos  espaços  instrucionais  que  fundassem.  Disposição  cultural  na  qual 

também estavam imersas e na qual se instrumentalizaria o confinamento como prática de reforço 

àquela objetividade. Ainda mais sendo a Congregação experiente na construção de  internatos e 

sua propagação havia décadas na Europa, como já observamos. 

Estavam  as  DIC  por  se  lançarem  sobre  um  espaço  que,  enfim,  era  também  visto  como 

atrasado, necessitado e  frouxo em suas convicções dogmáticas. Mesmo que a universalidade da 

condição católica as colocasse no status de "iguais na  fé" e na prática cristocêntrica. As DIC se 

                                                           16 DCSFO, Manuscrito, 1894, p.1‐2, Tradução do original: Em 17 de novembro de 1894, o bispo Anthony Stillemans, Bispo  de  Ghent,  convidou  a  Reverenda Madre  Ignace  Pollenus  (...)  Em  seguida,  o  bispo  deu  a  ler  uma  carta comovente que  ele  recebeu  da  Santidade  Leão  XIII,  que  convidava  as    Comunidades,  em  nome  de Deus,  para dedicarem‐se por cooperar na reforma da América do Sul, pervertida pela ignorância e  imoralidade.  

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dispunham usualmente como estando a se sacrificar no apartamento da Europa; na viagem ao 

desconhecido; na  fixação em  terras americanas; e na missão  improvável; como nos apresenta a 

carta enviada pelo pai da religiosa Loyola Steyaert, a primeira líder das chamadas pioneiras a se 

instalarem no Brasil: 

Gand,  13  de  agosto  de  1896.  Minha  filha  bem  amada. Minha  resolução  era inrrevogável de  jamais dar meu consentimento a uma expatriação – mas  lendo tua carta senti um violento combate se travar dentro de mim. De um lado o amor emenso que tenho por ti, a separação para sempre  , nesta terra – e do outro, a suprema  e  adorável  vontade  de Deus.Sabes  qunto me  custou  tua  entrada  no convento‐Eu acreditva ter terminado aí o sacrifício e  me alegrava com a felicidade de  te  ver de  tempos em  tempos, perfeitamente  feliz em  tua  vocação hoje,  com uma  linguagem  celeste me dizes, pai, é preciso terminar o Holocausto    (CARTA, Gand, 13 Agosto de 1896, grifos nossos)  17  

Perceptível é que de  forma alguma se descolava a "pertença" daquelas  religiosas do Velho 

Mundo,  à  qual  suas  vivências  e  leituras  estavam  vinculadas  e  do  qual  se  ressentiriam  suas 

necessidades cristalizadas no que Chartier (1990, p.17) chamaria de "lutas de representações" nas 

quais também estavam aquelas freiras a se prontificarem, à medida que assumissem o projeto do 

Vaticano e se lançarem a educar fora da Europa. Desapegadas de bens, distantes de suas famílias, 

mortificadas  por  um  espírito  de  sacrifício  que  se  constituía  em  falas  recorrentes  na  escritura 

imediatamente anterior à partida.Aspecto que desponta por exemplo do DCSFO: "L`unique moyen 

de parvenir, avec L`aide de Dieu, à ce crit, c'est de se sacrifier pour L'Éducation et L`Instruction 

Chretienne de la jeunesse. Le Saint Pére vous inirte, mesdames, à cette noble mission"  18 

Se  refletirmos  sobre  aqueles  discursos  postulados  pela  congregação  perceberemos,  de 

imediato: à medida que se projetavam como paladinas de uma concepção de mundo sacralizado 

as religiosas das DIC efetivavam uma defesa de lugar, mais especialmente por ser este um dado à 

revelia  das mesmas  enquanto  atores  sociais  (CHARTIER,  1990).  Construção  que  podemos  daí 

refletirmos não ser inerente àquela congregação. 

A descrição  realizada pelo DCSFO de  junho de 1895,  aborda um  fato que  se  circunscreve 

exatamente na  realização, dos dois  lados do Atlântico, de ações circunstanciais  ligando a  reação 

                                                           17 CARTA, Gand, 13 Agosto de 1896. Cópia traduzida constante no Arquivo da Congregação em Ponto Uchoa, Recife. 18 DCSFO, 1895, p.13 Tradução do original: `A única maneira de conseguir  isso, com a ajuda de Deus (…) este critério é o sacrifício pela educação e instrução cristã da juventude. O Santo Padre conclama  senhoras, a esta nobre missão.  

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católica  brasileira  à  europeia.  Convocadas  a  se  posicionarem  frente  às  novas  deliberações  do 

missionarismo, e convidadas pelos beneditinos belgas a se deslocarem ao Brasil, sob a proteção 

dos monges daquela congregação ‐baseados em Olinda‐ as DIC entrariam em nova fase. 

Ce 14  Juin 1895 Visite à dooresele, du  revend Pére Dom Van Caloen de Bruges Benedictin de Maredisons (Belgique)(...) Visité a Dooresele se saint Religieux ayant eté chargé par Leon XIII. D`aller visité em son mom  la Amerique du sud pour en connaître  la  position  réelle  et  pour  reformer  les monasteres  des  Benedictines hélas  lrin  dégenerés  leur  sublime  vocation  est  nommé  prieur  du  couventes benedictins  belges,  à  Olinda  prés  de  Pernambuuco,  au  Brasil  (  DCSFO  14  Jun, 1895, p.5, grifos meus) 19.  

Aliás, a identificação no DCSFO da convocação como um signo da submissão ao projeto de 

Leão XIII de recatolicização da América seria uma constante. Acompanharia as representações da 

congregação religiosa naquele documento descritivo, tecidas como dísticos do projeto educacional 

das  Damas. Um  projeto  que  além  de  exaltar  a  instrução  católica  disponibilizava  projeções  de 

afirmação do confinamento instrucional necessário, segundo descreveriam, para dar bom termo a 

missão  da  qual  se  achavam  imbuídas.  Principalmente  como  ratificação  discursiva  da  ação 

missionária no curso da descrição da instalação da congregação no Brasil, como uma simbologia de 

abnegação ao chamado legitimista da Sé romana. 

 Le but de la visité du reveerend Dom Gerard était de nous demandé de la part du nunce apostolique, si nous persévérions dans notre projet faire une fondation de notre orde, dans L`Amerique meridionale. Dans  les cas affirmatif  il vernait nous proposer Olinda,Ville episcopale  (DCSFO 14 Jun, 1895, grifos meus) 20  

A  escolha  de  Pernambuco  e  Olinda,  especialmente,  estaria  atrelada  à  ajuda  que  se 

prontificaram os beneditinos  a dar  a Congregação, mas especialmente  às  instalações monacais 

daqueles monges  que  serviriam momentaneamente  de  internato  e  hospedariam  as  primeiras 

missionárias da DIC. Aspecto destacado seguidamente no DCSFO nos preparativos para a partida 

das primeiras missionárias para o Brasil. Inclusive com um apurada troca de informações  realizada 

                                                           19 DCSFO 14 Jun,1895, p.5 Tradução do Original (manuscrito): Neste 14 de  junho de 1895 o Reverendo Padre Dom Van Caloen de Bruges, beneditino de Meridisons Bélgica visitou Dooresele. O santo padre foi cobrado por Leão XIII.  De ir visitar  sua mãe na América do Sul para saber a posição  real e  reformar o mosteiro beneditino degenerado de  sua sublime vocação. Foi nomeado prior do convento beneditino belga em Olinda, Pernambuco no Brasil.   

20 DCSFO, 14 Jun, 1895, p‐6  Tradução do Original (manuscrito) A proposito da visita do Reverendo Dom Gerard foi‐nos perguntado da parte do nuncio apostólico se perseveraríamos em nosso projeto de fundar uma ordem na América do Sul. Em caso afirmativo ele tinha para oferecer Olinda, cidade episcopal. 

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pelos  protagonistas  envolvidos  com  a  transferência  da  congregação.  Entre  os  principais  Dom 

Michel Horn (Procurador da Congregação) e Madre Superiora Ignace Pollenus, entre os meses de 

junho e julho de 1896, quando trocariam cartas sobre as condições de instalação da congregação 

em  Olinda.  Em  uma  delas,  a  Superiora  Ignace  Pollenus  respondia  em  agradecimento  às 

informações cedidas: "Je Vous  remercie bien sincerement de  tous  les bons  renseignements   que 

vous me donnez  Je Voudrais pouvoir profiter de  L`excellente ocasion que  vous  signalez pour  le 

Brésil, Le 30 prochain" 21  

Tal procedimento de circulação de informações se constituiria regular e de suma importância 

na  projeção  de  ações  a  serem  cumpridas  para  instalação  de  um  internato,  tanto  no  período 

imediatamente  anterior  ao  embarque  das  primeiras  missionárias  escolhidas    para  o 

desenvolvimento  das  atividades  instrucionais,  bem  como  nos  primeiros  anos  de  fundação  e 

expansão dos colégios da congregação, como veremos em tópico posterior.  

De qualquer  forma, ainda na Europa, a 7 de  junho de 1896, a congregação  receberia uma 

designação oficial enviada a Anvers, Bélgica, por Leão XIII, que mudaria de  forma considerável a 

trajetória da Congregação Damas ao ser designada entre outras instituições de língua francesa 22, a 

se prontificarem a transferirem‐se de forma imediata para a América do Sul. Incursão como "ponta 

de lança" na arremetida da Igreja contra o indiferentismo e o avanço das escolas não católicas. A 

madre superiora Ignace Pollenus após votação da congregação : 

Anvers Belgique Au nom de  la Trinité définitivement accepter  la fondation d'un collège et couvent à Olinda, Pernambuco, Brésil à  la demande de Sa Sainteté le Pape  Léon  XIII,  pour  la  plus  grande  gloire  de Dieu  et  le  salut  des  âmes.Avec humilité et  confiance absolue dans notre époux  céleste,agissant hardiment que gardes d'honneur, afficher  le drapeau du Sacré‐Coeur qui empoisonne  longícuas, que grâce à notre travail et de sacrifices apôtres (DCSFO, Manuscrito,30 Jun, grifo nosso) 23. 

                                                           21 CARTA, Gand, Dooresele, 1 Abril de 1896. Tradução do original (manuscrito) Muito obrigado sinceramente por todas as informações corretas que você me dá. Eu gostaria de poder desfrutar de Excelente ocasião L `você reporta para o Brasil, os 30 próximos; 

22  Em  Recife  já  se  encontravam  freiras  de  outros  países  desenvolvendo  atividades  de  ensino,  como  é  o  caso  das italianas  Irmãs Mestras de  Santa Dorotéia,  ou Dorotéias, que  se  fundamentavam  nos ditames  da  religiosa  Paula Frassinetti e mantinham um grande internato, o São José, no bairro do mesmo nome. 

23 DCSFO,  30  de  Junho,  1896  Tradução  do original  (manuscrito):  Antuérpia  Bélgica,  em nome  da  Trindade aceito definitivamente  a  fundação  de  uma  faculdade  e Mosteiro  de  Olinda,  Pernambuco,  no  Brasil  a  pedido  de  Sua Santidade o Papa Leão XIII, para a maior glória de Deus e a  salvação das almas. Com humildade e confiança em 

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Era o Papa Leão XIII, naquela circunstância, um dos principais  incentivadores, e  tornava‐se 

exatamente  patrono  da mesma  forma,  tanto  de  propostas  de  expansão  que  sedimentavam  as 

arquidioceses, nas quais os Colégios Diocesanos eram os protagonistas, quanto daquelas iniciativas 

de transferência a qual vinculava‐se as DIC. As dificuldades se fariam constituídas à medida que a 

transferência  da  congregação  significava  um  contato  com  o  catolicismo  brasileiro  dado  a 

adaptabilidades e  a um  choque  cultural que  seria encarado  segundo o  relato do DCSFO  como 

próprios da missão que consideravam ser da competência e da alçada de instituições tais como as 

Damas. 

A  julgar  pela  experiência  na  fundação  e  manutenção  de  pensionats  que  na  Bélgica  se 

expandiram  durante  a  primeira metade do  oitocentos,  constituídos  por  instituições panopticas 

(FOUCAULT, 2005) os esforços das DIC se juntariam de forma candente aos que tomariam outras 

congregações  que  se  instalaram  em  Pernambuco  durantes  os  40  anos  seguintes,  pela 

recristianização da sociedade (AZZI, 1998).  

A  pertinência  da  instalação  de  um  espaço  de  confinamento  era  então  consensual  e 

perpassava a própria dinâmica que se proclamava como um projeto ou expedição em direção ao 

Brasil. A 7 de outubro de 1896 era  informada, por carta, às casas existentes na Bélgica sobre o 

grupo de religiosas a ser constituído e oficializado para fundar uma escola. Escola que serviria de 

pensionat  gerido pela  congregação  a  se  instalar no mesmo espaço.  Segundo  informava  a Carta 

Oficial  expedida de Dooresele a 7 de outubro de 1896 oficializava‐se:  

La Reverende Mére de Dooresele annonce aux differentes Maisons la Nomination de premieres missionares pour Olinda, Dooresele 1 Vendredi du 7 Oût 1896  Mes bien  chères  filles  En  corde  Jésus,Voici,  L'Heure  de  la manifestation de  la  Sainte Volonté de Dieu pour la homination de nos chères missionaires du Couvent de la Sainte  Famille  à  Olinda  que  le  divir  coeur  benisse  et  feconde  la  fondation brasilienne  pour  sa  plus  grande  gloire  et  le  salut  des  âmes!  1ª  Superieure Madamoselle Mere  Loyola Steyart, 2ª Assistante Mére Marie Alphonse Cloes, 3ª Mere Marie Elisabeth Dobbelaere, 4ª Mere Barbe Duchaine  (CARTA, 7 Out, 1896, grifos nossos)24 

                                                                                                                                                                                                  

nosso cônjuge celestial, agindo com ousadia como guardas de honra, hastear a bandeira do Sagrado Coração sob longícuos venenos, através de nosso trabalho e sacrifícios Apóstolos.  

 24  CARTA,  7  de  Outubro  de  1896,  Tradução  do  original  (manuscrito)  A  Reverenda Madre  Superiora  anuncia  as diferentes casas a nomeação das primeiras missionárias para Olinda. Minhas meninas queridas Concorda Jesus, Eis que a hora do Evento Da Santa Vontade de Deus para a nomeação dos nossos queridos missionários do Convento 

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Sobre uma condição ritualística constituída a partir de uma série de comemorações e missas, 

ainda na Bélgica,  à partida das missionárias, o  translado das DIC  transcoreria normalmente. De 

toda forma se representaria a viagem, minuciosamente, na descrição do DCSFO que se constituiu 

desde o embarque no Velho Continente à abertura das primeira sala de aula em Olinda. 

Em Recife era apresentada uma pequena nota fazendo referência à chegada de 8 religiosas 

das  Damas,  segundo  o  Jornal  do  Comércio  a  16  de  Outubro  de  1896.  Poucos  indícios  afinal 

levariam a crer que aquela congregação tomaria o rumo que se constataria nos anos seguintes. No 

computo  geral  das  DIC,  factualmente,  uma  constatação  era  imediata:  passariam  a  projetar 

rapidamente a montagem de um internato naqueles proximos meses. 

O  internato  enquanto  dispositivo  escolar  ou  instrumentalidade,  constituindo  todo  um 

universo  representativo,  tecido  pela  catolicidade,  ou  pela  laicidade,  como  um  signo  dado  a 

representar‐se,  fazia parte da esfera de disposições  construídas pela Congregação Damas  como 

uma  condição  básica  para  funcionamento  a  contento  daquela  instituição,  inclusive  para  sua 

manutenção.  Sendo  para  tanto  primordial  sua  instalação  no  Brasil  em  conformidade  com  os 

interesses da respectiva comunidade católica a que estaria vinculada.  

Essa perspectiva ajustava‐se ao franco desenvolvimento e expansão da iniciativa particular da 

instrução que  se manifestaria em Pernambuco no ultimo decênio do  século XIX,  segundo Bello 

(1978, p‐165). Condição da qual se beneficiaria também a congregação nos anos  imediatamente 

seguidos a fundação da primeira maison da congregação.    

Ação  alinhada  com  o  que  se  previa  nas  Encíclicas  e  junto  as  lideranças  católicas  em 

Pernambuco. Aquelas mesmas que publicaram no período seguidas cartas pastorais convocando os 

católicos  a  aderirem  a  um  projeto  comum  frente  à  secularização  (RIBEIRO,  200,  p.112).  Não 

resguardando‐se a Congregação, evidentemente, de cumprir com o aparato legislativo a que estava 

atrelada.  Condição  verificável  com  a  procura  por  ajustamento  da  instituição  às  demandas 

prescritas pelo regime republicano para a instrução. Neste aspecto, corroborando um aspecto de 

                                                                                                                                                                                                  

da Sagrada Família em Olinda. Deve‐se abençoar o sagrado coração e frutífera fundação brasileira para sua maior glória e salvação das almas! 

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nossa  tese  25,  de  que  mesmo  validando  prescrições  culturais  confessionais,  afirmando  o 

confinamento  cristrocêntrico  não  se  dicotomizava  de  todo  dos  aparatos  simbólicos  da 

secularização.  Pelo  contrário.Contradição  fulcral  na  tessitura  do  confinamento  enquanto 

representatividade cultural.  

Ao  instalar‐se  em  Olinda,  em  seus  primeiros  dias,  era  de  efetiva  importância  a  sua 

intermediação  em  conjunto  com  a  submissão  de  suas  religiosas  a  dinâmica  da  diocese 

pernambucana, envolta nas disputabilidades de representação sobre o monopólio de uma série de 

nichos  de  poder  em  Recife,  entre  eles  os  escolares,  dentro  daquilo  que  Ribeiro  (2009,  p.112) 

chama de estratégias de mobilização da  Igreja. Não é à  toa que as primeiras visitas empregadas 

pelas missionárias das DIC se fizessem junto às lideranças locais, entre elas o Bispo Dom Manuel 

dos  Santos Pereira, e o presidente do  Estado    Joaquim Correia de Araújo, do qual  solicitariam 

isenção pelas bagagens sob o artifício de  (MESQUITA, 1996)  representarem uma  instituição que 

teria um papel  importante no ensino das camadas médias. Argumento não de  todo aceito pela 

liderança civil pernambucana no computo de taxas alfandegárias das quais a congregação não seria 

isentada. Aspecto que denota uma constatação.  

A congregação e suas escolas  internato estariam projetadas, afinal, a se desenvolverem na 

dinâmica  das  relações  entre  os  dispositivos  do  Estado  e  do  interesse  privado.  Dificilmente  só 

respondendo a uma das partes. Na manifestação da secularização da instrução estariam também a 

dispor do confinamento, mas atentas ao uso das  instrumentalidades da  laicidade constitucional, 

entre elas  as da  liberdade de  culto, donde os  currículos  impregnados da  romanização  católica 

estariam a efetivar‐se26. Este apenas um dos vários simbolismos daquele hibridismo cultural.  

É também pertinente lembrar que estava sendo instalado não apenas uma escola, mas um 

convento,  responsável  direto  pela  manutenção  das  atividades  escolares,  donde  proveriam 

educadoras religiosas nas décadas seguintes 27. O respectivo espaço seria notadamente instalado 

como  o  planejado  no  Convento  de  São  Francisco  em  Olinda.  O  Colégio,  propriamente  dito, 

                                                           25  Recentemente  defendida  junto  ao  PPGE  (Programa de  Pós Graduação  em  Educação)  da UFPB,  com  o  título: O Internato que se tece:As culturas instrucionais de confinamento e as Damas da Instrução Cristã‐1891‐1937. 

26 A primeira turma de internas no Colégio Interno a funcionar no Convento teriam como disciplinas a História Sagrada, Instrução religiosa, Francês, aritmética, Inglês, geometria, português. 

27 DCSFO, 1 jun, 1897 

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funcionaria naquele espaço, segundo o DCSFO de outubro de 1896 28 como estrutura simplificada 

com  a utilização das  antigas dependências do  convento.  Já  instaladas e  relatando  as primeiros 

momentos  na  montagem  do  internato,  quando  da  organização  e  reforma  parcial  do  futuro 

internato, realizada dias antes da abertura das aulas, relata‐se no DCSFO de 1896: 

O Convento se prepara para receber as primeiras alunas e o trabalho realmente é exaustivo Madre Elisabeth se responsabilizava pela contabilidade e documentação muito  pequena,  na  época,  constando  quase  unicamente  de  um  certificado  de batismo.  Tudo  o mais  era  apenas  registrado nos  livros:  nome,  filiação,  data  de nascimento, número de matrícula. Os dormitórios estavam prontos e o refeitório já se munia do necessário (DCSFO, Novembro, 1896, grifos meus)  

 Fora esse aspecto mais pontual, em termos burocráticos e funcionais, uma das características 

maiores do período, no que diz respeito a fundamentação do confinamento como esfera cultural, 

aspecto que era  representação da Congregação Damas como um signo  foi exatamente o uso da 

experiência  de  internamento  de  uma  forma  eclética,  onde  a  observação  de  instrumentais  de 

outras ordens e congregações  instaladas no Brasil, seriam prontamente adotadas. Notadamente, 

não se verificaria um número tão vasto de simbologias delimitadas unicamente pelas DIC para a 

instalação dos  internatos,  tão só pela aplicabilidade de experiências que vão ser ponderadas, se 

adaptáveis,  quando possível.  

Meses antes, a 17 de outubro segundo o DCSFO, realizando uma visita de observação29, as 

DIC acompanhadas do procurador de São Bento, entre elas Madre Loyola e Madre Marie Elisabeth, 

Madre  superiora  e  secretária,  respectivamente,  foram  ao  Recife  visitar  o  Colégio  de  São  José, 

(MESQUITA, 1996, p.72‐73) da Congregação Doroteias  30. Perspicazes observadoras, as  religiosas 

belgas se prontificariam a confirmar diferenças e dispositivos que se apresentavam em curso nos 

internatos e que já funcionavam a contento em Recife. Assim relatavam suas impressões: 

Uma  acolhida  encantadora,  uma  capela,  uma  bela  sala  de  recepção,  120 pensionistas, 22 religiosas aí estabelecidas a 30 anos. Todos os pensionatos para rapazes  ou moças  são  chamados  colégios. Não  há mais  vagas  e  todos  os  dias 

                                                           28 DCSFO, 20 Out, 1897 29 Entre as características adotadas a partir da experiência de outras congregações a construção de vastas salas de recepção denominadas parlatórios seria um exemplo. 

30A  Congregação  fundada  na  Itália  pela  religiosa  Paula  Francinetti  estava  instalada  em  Recife  desde  1875 desenvolvendo atividades  instrucionais a partir de seu  internato, o Colégio São José. Representará durante toda a primeira metade do  século XX uma  importante referência para as Damas na  instrução católica confinada. Aquela congregação fundaria colégios internatos espalhados por Pernambuco e Paraíba.  

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recusam  novos  pedidos.  As  religiosas  nos  puseram  á  parte  de  muitas peculiaridades do país, desconhecidas para nós. Deram‐nos os Estatutos do seu colégio, um dos maiores de Recife (DCSFO, Outubro, 1896, Grifos nossos).      

O  procedimento  não  aparentava  ser  uma  unicamente  uma  cortesia  eclesiástica, mas  tão 

somente  uma  prática  que  corroboraria  a  identificação  por  parte  da  DIC  das  condições  de 

manifestação  da  cultura  instrucional  de  confinamento  que  as  Dorotéias  vinham  aplicando 

localmente e que as próprias  religiosas belgas  intentavam  instalar, à medida que entendessem e 

adaptassem de alguma forma os usos e costumes dos brasileiros. Naqueles dias de organização e 

implantação do internato inclusive já intensificavam outras estratégias de afirmação, entre elas as 

aulas de português com uma professora contratada para ministrar o idioma 31.  

 Aspecto  de  grande  importância  que  se  sobressai  na  documentação  que  remete  aquele 

período é a incutida nas práticas especialmente de consenso normativo de que a instrução a bom 

termo só poderia advir do confinamento. Em nenhum momento se manifesta a intenção inicial de 

fundarem um externato, haja vista serem empenhados os esforços sempre crescentes no sentido 

de se fixarem como instituto religioso e colégio interno.  

Ao mesmo  tempo, era dado pelas DIC o uso de manuais  tais  como os  já  identificados no 

capítulo II deste estudo e organizava‐se a Congregação de forma a tornar factível a instalação de 

instrumentais  racionalizantes  para  os  seus  internatos. Movimento  sincrônico  no  que  tangia  a  

perceberem a diferença de categorização e funcionamento existente entre os pensionats belgas e 

os  colégios  americanos  aos  quais  descobriram  desconhecer  o  funcionamento.  É  importante 

perceber que os manuais que  circularam nos espaços de Ponto de Uchoa  inferem que  fossem 

importados e  agregados  ao  acervo da  futura biblioteca do  colégio.  Inclusive é  contundente no 

manuscrito  Instruções32,  pertencente  a  principal  articuladora  e  mentora  da  instalação  dos 

internatos DIC a Superiora Madre Loyola Styaert que se encontre a marcação inicial quelques titres 

de livres  33 na primeira página, de uma espécie de diário pessoal da fundação. No mesmo consta 

uma lista em que se destaca além das obras já citadas a obra L`esprit et de la vie de sacrifice, dans 

Lètat  religieux,  de  autoria  de  S.M  Girauld.  Importante  compêndio  que  servirá  como  um  das 

                                                           31 Como nos informa o DCSFO de 3 de maio 1897. 32 STEYAERT, Loyola, Instruções, Manuscrito, 1894‐1897 33 Literalmente: “uma lista de livros”. 

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principais bases doutrinárias e prescritivas na fundamentação dos internatos DIC em Pernambuco. 

Os  trabalhos  de  arregimentação  de  alunas  seguiriam  um  curso  que  se  ampliaria  sob  dadas 

condições. Embora as primeiras internas não representassem grande número, como consta do livro 

de matrículas  do  nao  de  1897,  apresentado  digitalizado  nesta  página,  triplicariam  nos meses 

posteriores. No ano de 1898,   segundo o  livro de matrículas em sua  terceira  folha 34,  já eram o 

dobro de internadas.  

Aspecto que teria um significado distinto sob um dado  parâmetro de observação. A saber: 

nos primeiros anos, segundo o Anuário Escolar da  instituição  35,   dentro de uma perspectiva de 

provisoriedade, a construção das relações de ordem administrativa, especialmente o recebimento 

de discentes na  condição de  internas  se baseavam na  arregimentação de  alunas provindas das 

elites da cidade 36. Não necessariamente a que se originava apenas dos espaços da urbe de Olinda, 

ou Recife mas especialmente da Zona da Mata, e cercanias canavieiras, donde os antigos senhores 

de  Engenho  alguns  deles  agora  donos  de  Usinas,  enviavam  suas  filhas  para  o  confinamento, 

segundo  o  Livro  de  Matrículas  das  Damas  da  Instrução  Cristã  37  Dalí  se  constituiria  uma 

seletividade imediatamente algo que estratégica na corporificação das primeiras turmas discentes 

sob regência de Madre Loyola Styeart.  

Sendo nessa condição a diminuta quantidade de alunas, ou sua ampliação ano a ano, fator 

não  representativo  de  um  fracasso  na  implantação  do  internato,  mas  a  manifestação  da 

aplicabilidade na sustentação do alunado, ainda em espaço monacal, outrossim a sazonalidade das 

oscilações da prosperidade ou  arrefecimento das  crises pelos quais passaria o Nordeste e  suas 

lideranças, bem como Pernambuco enquanto escoadouro da produtividade açucareira  (GUERRA, 

p‐1992, p.142‐145), (NETO, 2001, p.23).   

Destarte Olinda e Recife se apresentarem como cidades entre o desenvolvimento capitalista e 

a  ruralidade;  o  parco  saneamento  e  a  expansão  nos  transportes.  Contradições  das  quais  se 

queixavam os  administradores do  Estado naquela década de  forma  intermitente.  É  importante 

                                                           34  Livro de Matrículas da Maison Dames Dîntruction Crétienne, 1898 35Anuário Escolar das Damas da Instrução Cristã, Vol.1 Manuscrito, 1896‐1905 36 As Damas optariam pela instrução feminina desde sua instalação. Aspecto que só seria modificado com a adoção do ensino para ambos os sexos somente em 1970.  

37 Documento encartado no Livro De Fundação da Casa de Instrução em Ponto Uchoa, Recife.

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divisar que as  reformas urbanas seriam contemporâneas a  instalação do primeiro  internato das 

Damas  e  que  uma  parte  das  demandas  por  desenvolvimento  urbano  viriam  a  contrapelo  da 

instalações de colégios como os que montaria a congregação DIC. 

De qualquer forma, era premente que Olinda e Recife desfrutasse de uma elite proprietária, 

fosse comerciante ou agrária, que  tinha por ordem cultural  ‐ e base  financeira suficientemente 

sólida‐ o envio de rapazes e moças aos principias internatos católicos ou laicos que funcionavam de 

maneira intermitente na capital do Estado ou no interior naqueles anos de transição.  

Aliás, a Congregação Damas por ocasião de funcionamento de suas primeiras aulas iniciaria 

suas  atividades  em  Olinda  modestamente,  se  comparada  ao  protagonismo  já  exercido  pelos 

colégios  tais  como o Ginásio Pernambucano e  a  Escola Normal,  instituições  funcionando  como 

externatos  laicos, embora na prática andassem  lentamente a manifestar a presença orgânica de 

padres como lentes em suas estruturas e simbologias ainda sacrais. Mesmo tendo a constituição 

de 1891 exposto a laicidade da instrução. Não é incoerente imaginar a forte arregimentação entre 

os  religiosos  imbuídos  da  defesa  de  princípios  cristocêntricos,  em  que  pesem  as  diferenças 

doutrinárias com as quais se apresentavam. É pertinente destacar que já a 14 de outubro de 1896 

uma comissão de religiosas da congregação  apresentassem no convento São Francisco em Olinda 

a visitar as DIC e que aquelas prontamente visitassem o Colégio São José, das irmãs Dorotheas que 

funcionava desde 1870 em Recife. Deste espaço observariam, desde a estrutura de funcionamento 

do  internato,  número  de  discentes,  entre  outras  normatividades  que  adotariam  sem  contudo 

alardearem qualquer influência.  

 Seja como for, por ocasião da primeira festa escolar, comemorada a 2 de fevereiro de 1897 

em homenagem ao aniversário de Madre Loyola Steyart  encontravam‐se delimitadas simbologias 

que se manteriam como marca das DIC em Pernambuco e que seriam aperfeiçoadas com os passar 

dos anos e das décadas. Entre elas a instrumentalidade de premiação as melhores alunas do ano 

escolar, os discursos estudantis mediados pelas religiosas, a homenagem pública das autoridades 

eclesiásticas, entre outros artifícios.  

A transferência da congregação após a compra de um terreno em Ponte de Uchoa em 1901 

foi de  suma  importância, pelo  caráter estratégico que possuía o  terreno escolhido. Próximo ao 

centro de Recife, mas não necessariamente ligado às ruas centrais, com um terreno amplo, onde 

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segundo  Styart  (1897)  nas  instruções(1897):  "as  alunas  poderão  desenvolver  suas  atividades". 

Especialmente próximo das  linhas de contato e estradas que levavam as cercanias da cidade, de 

onde partiam os  trens que  traziam  as  futuras  internas, que  seriam  confinadas no  colégio, das 

fazendas e engenhos.   

O anos imediatamente posteriores a transferência do colégio para o sítio de Ponte de Uchoa 

foram de desenvolvimento e fixação da congregação culminando com a expansão dos colégios sob 

regência de Madre  Loyola  Styeart.  Entre  as  conquistas mais determinantes da década de 1910 

seria  ao  aumento  sensível  do  número  de  religiosas,  inclusive  com  um  noviciado  local,  o  que 

expandia a disponibilização de educadoras e religiosas brasileiras. Outro fator determinante foi a 

fundação  do  colégio  Santa  Sofia  em  Garanhuns  no  ano  de  1912.  Esforço  que  somava‐se  a 

rivalidade  instalada  sobretudo  pela  fundação  de  outros  escolas‐  internato  em  Pernambuco 

naqueles anos. Um aspecto que vinha a se somar ao movimento mundial de reforço à catolicidade, 

principalmente a partir de expansão dos quadros  instrucionais de  fundamentação católica. Uma 

perspectiva pertinente apara entender aquele período como um momento de grande importância 

para a história das escolas‐internato em Pernambuco. Especialmente as confessionais. A expansão 

das DIC será uma processo permeado exatamente entre os últimos anos da década de 1910 e os 

anos 1920.  

 

Referências 

ARAUJO, Joaquim Corrêa de, Pernambuco, Mensagem,  6 Mar, 1899.  

AZZI, Riolando. História da Igreja no Brasil: Terceira Época: 1930 1964. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. 

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5

2134 

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_______ Diário da Casa da Sagrada Família de Olinda, 13 Jun,1895, p.13 

_______ Diário da Casa da Sagrada Família de Olinda, 14 Jun, 1895, p.5  

_______ Diário da Casa da Sagrada Família de Olinda, 14 Jun, 1895, p.6 

_______ Diário da Casa da Sagrada Família de Olinda, 30 Jun, 1896, p.2 ___________Diário da Casa da Sagrada Família de Olinda 20 Out, 1897,p.3 

CARTA, Gand, Dooresele, Belgica, 13 Ago, 1896.  

CARTA, Gand, Dooresele, Belgica 1 Abr.1896. 

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5

2135 

CARTA, Gand, Dooresele, Belgica, 7 Out, 1896. 

CARTA, Gand, Doreesele, Bélgica,7 de Out, 1896. 

Livro de Matrículas da Maison Dames D`Instruction Crétienne, 1898.