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IRMÃOS, AMIGOS E RIVAIS – parte 1
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PRÓLOGO
Depois daquele dia em pleno mês de janeiro, nada mais
voltaria a ser como antes, disto a família Souza sabia.
De longe Laís, uma adolescente sardenta de olhos azuis
e longos cabelos negros, observava aquela cena que lutando
contra si mesma para aceitá-la. Não queria acreditar no que
estava bem diante de seus olhos, afogados em lágrimas. Como
poderia seu pai, a quem tanto amava estar sendo enterrado
naquele exato momento? Era dor demais.
Ingrid, sua mãe, de óculos escuros, cabelos loiros
tremulando ao vento estava sendo consolada por um jovem alto
de cabelos negros, olhos azuis, de porte atlético. Era seu irmão
gêmeo Lucas, que tinha nos braços a pequena e loira Talita de
apenas seis anos aos prantos.
O céu estava num tom rosado, contrapondo-se a um
suave azul bebê, pois o sol se punha no horizonte.
UM RETORNO NADA FÁCIL
Um ano e seis meses depois...
O sol resolvera acordar todos da pequena cidade de São
Genaro, do interior de Pernambuco, com seus 15.000
habitantes. Nesta havia uma igreja dedicada ao santo padroeiro
da cidade, além de a sua frente uma enorme praça onde
ocorriam os maiores eventos da cidade.
As classes sociais se separavam quase que
geograficamente. As famílias de médio porte moravam
próximas ao centro, que contava com poucas edificações
verticais, tendo as mais altas cinco pavimentos. Os de melhor
condição ficavam separados dos demais pelo rio Forte, que
contornava toda a cidade. E os mais humildes logo na entrada
da cidade.
Ingrid e seus filhos moravam no primeiro andar do
restaurante deles Sol Nascente, situado próximo ao rio.
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- Eu simplesmente a-do-ro o primeiro dia de volta as
aulas! – gesticulou a pequena Talita indo já de farda sentar à
mesa.
- Que bom, meu anjo! – Ingrid pôs a mão sobre o
queixo dela, beijando-lhe a cabeça, enquanto com a outra mão
colocava um prato com cuscuz misturado com queijo e ovo na
frente dela.
- Hum! O cheirinho está bom mesmo. – lambeu os
lábios, após inspirar o aroma do alimento, pegando o garfo.
Lucas que já estava à mesa comendo sorriu olhando-a.
- Laís! Venha logo! Se não vai se atrasar! – gritou pela
filha do corredor, voltando à cozinha.
- Já vou! – avisou do quarto.
Ingrid pôs na mesa uma jarra com suco de acerola,
sentando-se finalmente.
- Ah, mãe, suco de acerola de novo! – protestou Talita
de boca cheia.
- Eita! Mastiga antes! – corrigiu-a. – Acerola é rica em
vitamina C.
- Você vive dizendo isto. – entrouxou os lábios,
relutante.
- E o pé de acerola está carregado. – justificou Ingrid.
- E aí, gente boa! – entrou um rapaz de cabelos e olhos
pretos, com um sorriso encantador, após bater com o nó do
indicador na porta.
- Mig! – Talita correu até ele o abraçando.
- Diz gata! – Miguel a colocou nos braços, caminhando
até a mesa. – Cuscuz! Dava pra sentir o cheiro lá de casa... Tem
lugar para mais um?
- Para você sempre. – sorriu Ingrid. – Sabe onde tem
prato.
- E olha que hoje é só o primeiro dia! – lembrou Laís,
criticando a visita matinal dele, passando por ele rumo à
cozinha.
- Isto tudo é saudades minha, confessa. – entrou na
cozinha.
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- Se mudou pra cá quando estive fora? – Laís o apontou
com a colher que pegara. – Ou se acostumou em invadir a casa
alheia as seis da manhã?
- Eu ouvi isto, Laís! – Ingrid a corrigiu da sala.
- Sem bronca, tia. – Miguel trazendo um prato, bateu
com a mão na de Lucas, sentando-se, aumentando a voz. –
Acordou de bom humor hoje, foi?
- Meu humor não podia estar melhor... – Laís sentou ao
lado de Talita, falando com sarcasmo. – Dando de cara com
você logo no primeiro dia de aula do resto das nossas vidas.
- Pega leve, Laís! – pediu Lucas.
- Liga não, Mig. Isto deve ser TPM. – Talita falou
baixo.
- Fica na sua, pirralha, que você não sabe nem o que é
isto. – Laís empurrou-a de leve, recebendo o troco. – Vê se
cresce.
Talita olhou-a com raiva, sem gostar do comentário,
tirando a franja loira escorrida da frente de seus olhos.
- Vixe Maria! – assustou-se Ingrid ao ver a hora,
levantando-se. – Preciso ir.
- Mas, e seu café, mãe? – preocupou-se Lucas.
- Depois... Laís lava tudo pra mim, por favor. – pediu
indo escovar os dentes.
- Claro. – disse sem ânimo.
- E Lucas...
- Abro o restaurante, antes de sair. – adiantou-se Lucas.
- Táta...
- Eu sei, mãe. Ajudo Laís. – falou de boca cheia.
- Rum! – com a escova de dente na boca, olhou-a com
repreensão do BWC.
- Desculpa. – pediu engolindo.
Os quatro continuaram a refeição, enquanto Ingrid saia
de casa.
- Soube da nova? – Miguel fez suspense, olhando para
Lucas, quando Talita saiu da mesa.
- Qual? – Lucas tomou um gole de suco.
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- Sabe Teresa Rodrigues, amiguinha da deliciosa Lílite?
– Miguel vez sinal de curvas com a mão, visualizado Lílite.
- Sua cunhada? – Laís apontou-o com ar de deboche,
levantando-se, pois terminara de comer.
- Erros do destino. – sorriu Miguel. – Ela confundiu os
irmãos, em vez de escolher o melhor, escolheu o mais idiota.
- Ou foi ao contrário? – falou da cozinha.
- O que tem Teresa? – Lucas mesmo sem muito
interesse, preferia este assunto a ouvi-los discutindo.
- A mãe dela vai dar uma festança lá no clube chique e
adivinha... – Miguel fez uma pausa de propósito, tirando do
bolso duas senhas.
- Como conseguiu isto? – espantou-se as segurando.
- Com certeza devem ser falsas. – garantiu Laís tirando
as coisas da mesa junto com Talita.
Lucas sem querer ouvir aquela conversa foi arrumar-se.
Miguel a olhou de soslaio, erguendo parte dos lábios num
sorriso sedutor.
- Engano seu, meu doce... Isto aqui quem me deu foi a
própria Teresa Rodrigues. Se você não sabe, muitas coisas
mudaram enquanto esteve fora. E para melhor. – gabava-se
cheio de si, estufando o peito. – Sou “o” cara da escolar. As
meninas caem aos meus pés.
Laís fingiu tropeçar, se apoiando na mesa ficando de
frente para ele.
- Você quis dizer assim? – falou próxima a ele, com
sarcasmo.
- Antes que vocês se degolem devo lembrar que são dez
minutos daqui até o colégio. – Lucas avisou pondo a mochila
sobre o sofá. – E só faltam vinte minutos para o toque.
- Levaremos menos de dois minutos para chegar. –
levantou-se Miguel erguendo o indicador. – Vim de carro.
- O que?! – fizeram os três em uníssono, fitando-o.
- Não precisam me agradecer. – animou-se Miguel indo
ao BWC.
- Prefiro ir a pé! – Laís foi à cozinha, organizando os
pratos na pia.
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- Minha professora de balé disse que o ideal é caminhar
logo cedo. – avisou Talita lavando-os.
- Acho que esta missão será só sua, irmãozinho querido.
– Laís apertou a bochecha dele, pegando uma toalha para secar
os pratos.
- Miguel, nós precisamos conversar sobre isto... –
preocupou-se Lucas indo até ele.
Antes de passar pelo portão do colégio Laís parou
apertando o livro contra o peito.
- Que foi? – Talita a olhou.
- Vai indo que entro depois. – avisou.
Laís observava através das grades que cercava o colégio
“Três Marias”, seus antigos colegas de turma se
cumprimentando animados pelo reencontro, fazendo-a sentir
um imenso vazio. Um ano e meio longe daquele lugar fizeram-
na sentir-se agora uma completa estranha.
Ela saíra de São Genaro quando ganhara uma bolsa de
estudo num dos melhores colégios da capital, para jogar vôlei.
Era a melhor do time quando jogava pelo seu colégio. Como as
coisas mudaram! Refletia com pesar, pois havia saído de lá na
glória esnobando seus talentos não só no jogo como nos
estudos, além de sua popularidade que agora eram causa de
humilhação, pois havia fracassado. Após meses fazendo
fisioterapia no joelho que machucara num jogo decidira no final
do primeiro semestre não voltar mais às quadras, perdendo a
bolsa.
- Pretende assistir as aulas daqui? – Miguel passou por
ela.
- Você está bem? – Lucas aproximou-se preocupado,
pois sabia o quanto era duro para ela voltar.
- Não. – olhou-o com medo. – Mas, vou ficar.
Ambos viram Miguel cumprimentando a todos. Ele
realmente era um sucesso, Laís pode constatar.
- Pode contar comigo, sempre. – Lucas segurou na mão
dela.
Laís olhou para a mão dele, sorrindo.
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- Sei disso... Mas... – soltou a mão dele. – Não vai ficar
legal para mim, entrar no colégio em pleno ano letivo de mãos
dadas com meu irmão caçula.
- Caçula?! Que papo é este? – caminhou ao lado dela. –
Segundo nossa mãe fui eu quem nasceu primeiro.
- O que são segundos? – Laís ergueu o ombro, sorrindo.
- Minutos! – corrigiu-a. – É isto que nos separa e me
torna mais velho.
- Não mais esperto. – assanhou o cabelo dele, que se
afastou.
- É ótimo tê-la novamente aqui, conosco! – Lucas foi
sincero, parando na frente do portão que estava aberto.
- Eu amo vocês. – referia-se à família.
- Lucas! – chamou Miguel acenando de longe.
- Vai lá. O “garoto popular” o chama. – fez sinal de
aspas.
- Vai ficar bem?
- Falando assim nem parece que em cinco minutos
estaremos na mesma sala. – sorriu Laís.
- Tá. – Lucas correu até Miguel.
Ao vê-lo afastar-se sacudiu a cabeça sorrindo.
- Laís Souza?! – parou a seu lado uma garota de
reluzentes olhos cor de mel, parecidos com o de Lucas, cabelos
castanhos bem cuidados e um corpo invejável.
- Lilis? É você mesma? – espanou-se ao vê-la diferente.
- Voltou ao colégio caipira? E sua vida mega-
desenvolvida na capital? – pôs a mão sobre a cintura.
- Para você ver... Estou de volta! – sorriu disfarçando.
- Muita coisa mudou. E você vai ver! – falou cheia de
si.
- Percebi. – disse sem ânimo.
- Sou a nova capitã do time de vôlei, sabia?
- Bom para você. – afastou-se dela.
- Ótimo para mim. – sussurrou.
Ingrid no escritório do “Sol Nascente” lia pela quinta
vez a mesma carta relutando em acreditar no conteúdo desta.
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Afastou por fim a carta de si e com lágrimas lhe
correndo a face, cobriu o rosto com as mãos.
O que será de nós? Pensava em meio aos soluços. Ao
ouvir batidas à porta tentou se arrumar o mais rápido possível,
sem conseguir.
- Ingrid? – entrou um senhor beirando os 70 anos, ao
vê-la fechou a porta por trás de si logo em seguida.
- Desculpa. – passava a mão pelo rosto.
- Não precisa pedir desculpas por chorar. – aproximou-
se. – O que foi?
- Leia. – estendeu a carta para ele. – Perdemos, Silas.
Perdemos na justiça.
- O quê? – preocupou-se lendo o papel.
- Estamos na beira da falência. – levantou-se
caminhando de um lado para o outro.
- É muito dinheiro o que estão cobrando. – Silas olhou-
a boquiaberto.
- E não sei de onde tirar... Como pode ter ocorrido isto?
– desabou em lágrimas, sendo abraçada por ele.
- Provações, filha. – falou carinhosamente. – Se Deus
permitiu que isto ocorresse é porque tem algo de especial lhe
aguardando. Já ouviu falar que a alegria é fruto da espera?
- O que Deus quer de mim, Silas? Primeiro levou
Giovane, o amor de minha vida neste acidente terrível com o
caminhão da empresa e agora temos que arcar com todo o
prejuízo material. – dizia indignada afastando-se dele. – Como
vou sustentar meus filhos com esta dívida? Precisamos
hipotecar o restaurante, a casa, tudo!
- Calma Ingrid. – pediu em vão.
- Como posso ter calma, Silas? Como? Sou humana e
muito fraca! Não agüento mais toda esta pressão. Às vezes
tenho vontade de...
- É melhor não continuar. – ergueu o indicador. – Não
diga algo que possa arrepender-se mais tarde.
- Tem razão. – sentou-se pesadamente no sofá. – Como
sempre.
- Não seja sarcástica! – repreendeu-a se sentando.
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- Desculpa... O que faço?
- Primeiro temos que pedir para seu advogado
renegociar a dívida e depois falamos com o contador. – Silas
apoiou os cotovelos nas pernas, depois a olhou. – Tudo tem
jeito. Vamos sair desta. Você vai ver.
- O que seria de nós sem você? – abraçou-o
choramingando.
- Seu pai confiou o que segundo ele, lhe era mais
precioso, não posso decepcioná-lo. – beijou a testa dela, lhe
afagando os cabelos.
O restaurante Sol Nascente era bastante requisitado,
pela sua comida e preço, além de ter um ambiente bastante
agradável.
Lucas e Laís trabalhavam ajudando a mãe a servir. Laís
ficava no caixa enquanto Lucas servia assim como Talita e
Miguel que de vez em quando o faziam.
- Mãe, acabou o rolo do cartão. – avisou Laís, que não
conseguia imprimir.
- Tem outro dentro da primeira gaveta do birô, lá no
escritório... Vai pegar meu bem, por favor. – pediu Ingrid
supervisionando a lista de pedidos.
- Tá.
Laís à medida que caminhava rumo ao escritório
observou seus irmãos, Miguel, Silas servindo e divertindo-se
conversando com os clientes. Onde mais encontraria um
ambiente de trabalho com aquele clima familiar? Refletiu Laís
sorrindo. É muito bom estar de volta!
Abriu a porta pensando um pouco no seu pai, na alegria
dele, olhando para o alto.
- Isto tudo é obra sua, pai. – falou baixo como se seu
pai tivesse ouvindo-a do céu. – Você sempre será o melhor!
Foi até o birô, ao abrir a gaveta em busca do rolo uma
carta lhe chamou atenção por ter um carimbo judicial.
Curiosa abriu-a, lendo.
Com a mão sobre a boca sentou-se pesadamente da
cadeira de rodízio.
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- E agora? – com olhos arregalados de espanto, permitiu
que lágrimas de desespero lhe corressem a face.
Quando ouviu batida à porta, sendo esta em seguida
aberta, guardou rápido a carta, ficou de costas para secar o
rosto.
- Laís, sua mãe... O que foi? – Miguel notou a reação
estranha dela.
- “O que foi” o quê? – se recompôs ficando em pé.
- Estava chorando? – apontou-a, preocupado.
- Claro que não! – ridicularizou a suposição dele, indo
até a porta. – Por que eu estaria chorando?
- Você não me engana. – Miguel encostou a mão no
braço dela fazendo-a recuar. – O que tá pegando?
Laís baixou a cabeça em busca de qualquer desculpa
convincente, erguendo-a com um semblante triste.
- Você está certo. Eu estava chorando... Não imagina o
quanto é difícil para uma garota como eu... – dizia sem fitá-lo. –
Ter sido reduzida a nada no colégio.
- Era por isto? – surpreendeu-se com a futilidade dela.
- Até parece que ninguém mais lembra o quanto sou
melhor que todas as outras. Quer saber? – aproximou-se dele
toda cheia de si, batendo no tórax dele. – Eu sou mais eu.
Laís saiu de cabeça erguida fingindo se achar o
máximo, enquanto por dentro sofria pela realidade que acabara
de descobrir.
- Fútil! – xingou-a sacudindo a cabeça.
UM “FINAL DE SEMANA” QUALQUER
O tão esperado sábado chegara, assim como a festa do
clube organizada pela socialite Anice Rodrigues, mãe de Teresa
e seus ilustres convidados.
- Cara, esta festa só vai dar a gente! – dizia Miguel
empolgado para Lucas ao entrar no clube. – Vê só! A
mulherada tá saindo pela janela.
- Esqueceu Lílite?
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- Ela ainda precisa aprender muito até estar pronta para
mim. Por enquanto vou fazendo minha boa ação ensinando as
outras a encontrar a felicidade. – apontou para si mesmo, cheio
de si.
- Sei. – Lucas achou graça, rindo.
- Acho que não precisarei procurar muito. Olha lá
aquela gatinha de rosa. – Miguel mostrou-a para ele. – Ela não
parou de me encarar desde entrei. Tá no papo.
- Vai lá! – gesticulou Lucas.
- Pra você se mandar? – olhou-o desconfiado. – Até
quando vai fugir da vida, cara? Reage!
- Não estou fugindo da vida. Só num tô em clima de
festa. – caminhou, sendo acompanhado por Miguel.
- Se o problema for clima... – Miguel pôs o braço na
frente dele o freando, enquanto procurava por alguém, ao
encontrar sorriu chamando-a. – vou trazer um sol para
esquentar seu clima.
- Não é disso que preciso, agora. – garantiu Lucas,
ficando admirado ao ver uma bela garota negra aproximando-
se.
- Oi, Fran! – Miguel beijou o rosto dela sensualmente.
- Oi. – falou com charme.
- Queria que conhecesse meu amigo Lucas.
- O-oi! – gaguejou Lucas encantado com a beleza dela.
Enquanto isto Laís estava na cozinha do clube
organizando a distribuição das bebidas, assim como o momento
que deveria ser servido cada petisco. Sua farda era um pouco
distinta das dos serventes, que usavam um enorme avental preto
padronizado, sobre calças pretas e camisa social laranja.
- Abra um guaraná diet e outra garrafa de vinho tinto. –
avisou Laís segurando uma prancheta em que controlava todas
as quantidades. Virou-se depois para outro grupo. – Comecem
com a empada e pãezinhos, enquanto as frituras estão sendo
terminadas.
A cozinha apesar de enorme e lotada de pessoas
trabalhando, cada qual com sua tarefa específica, estava tudo
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organizado. Laís surpreendera-se com a quantidade de gente
participando, eram quase 800. De vez em quando ela observava
o movimento fora da cozinha. Tinha até repórteres da “Gazeta
São Genaro”, realmente aquela estava sendo a maior festa que a
cidade de São Genaro já havia presenciado.
Tanto dinheiro sendo desperdiçado! Pensava com
tristeza comparando involuntariamente o enorme investimento
naquela com a dívida de sua mãe. Veja o lado bom. “Dizia”
para si mesma. Ao menos hoje vou faturar uma boa grana.
- Laís! – chamou Anice Rodrigues, a mulher elegante
que a contratara.
- Pois não, senhora. – tratou-a com educação.
- Eu preciso de você.
- Claro. Em que posso...
- Esta situação é um pouco constrangedora para mim. –
dramatizou Anice, pondo a mão sobre o peito. – Confesso que
você acertou e eu errei.
Laís franziu a testa.
- Realmente contratei poucos serventes, por isto eu
queria que você...
- Opa! Alto lá! Não. Não foi este o combinado. – Laís
repreendeu-a erguendo o dedo. – Minha condição era de não
sair da cozinha, lembra?
- Dobro o que iria lhe pagar. – dizia desesperada.
- Olhe, dona Anice, eu... – Laís balançava a cabeça,
relutante.
- Por favor, Laís! Preciso de você... Não posso servi-
los, assim. – mostrou sua roupa elegante.
- Qual é seu tamanho? Temos fardas de reserva. – Laís
não se deixou contrariar.
- Quer quanto? – Anice falou séria.
- A questão não é preço. É que... – ao desviar os olhos
dela viu de longe Lucas e Miguel conversando despreocupado
com algumas garotas. Sorrindo, olhando-a. – E se eu lhe
arranjar mais dois serventes para ajudar? O que me diz?