IRAS COMPRAS · 2014-01-22 · 63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. ... ção...

4
FUSOES E AQUISIÇOES por Adriana Aguilar 60 I Valor FINANCEIRO r A HORA E BOA PARA "' IRAS COMPRAS Setores em expansão, relacionados ao consumo, atraem mais investidores locais e do exterior I nvestidores de diferentes países e empre- sários nacionais continuam prospectando oportunidades nas cinco regiões do Brasil. Otimistas, os profissionais ouvidos acreditam que-a quantidade de transações de fusões e aqui- sições em 2012 continuará no mesmo patamar ou até superior ao de 2011. Uma pesquisa feita pela auditoria Ernst & Young Terco com cerca de mil executivos em todo o mundo revela que 37%dos entrevistados no Brasil indicaram a intenção de comprar uma companhia no próximo ano. Seis meses atrás, esse índice alcançava 28%. "Mesmo com a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) inferior ao do ano passado, a economia brasileira ainda supera a de outros mercados no exterior. Internamente, há se- tores relacionados a consumo que ultrapassarão o crescimento do PIB. Esses setores em expansão .' atraem os investidores", explica Marco Gonçalves, sócio responsável pela área de fusões e aquisições do BTGPactual. No primeiro semestre de 2011, o BTGPactual foi contratado para assessorar 19tran- sações, que somaram o volume de US$lS,7 bilhões. Em 2010, o banco esteve envolvido em 28 opera- ções, que representaram R$69,5 bilhões.

Transcript of IRAS COMPRAS · 2014-01-22 · 63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. ... ção...

Page 1: IRAS COMPRAS · 2014-01-22 · 63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. ... ção de escala é importante para maior e melhor produção, aum custo mais baixo, ...

FUSOES E AQUISIÇOES por Adriana Aguilar

60 I Valor FINANCEIRO

r

A HORA EBOA PARA

"'IRASCOMPRASSetores em expansão,relacionados ao consumo,atraem mais investidoreslocais e do exterior

Investidores de diferentes países e empre-sários nacionais continuam prospectandooportunidades nas cinco regiões do Brasil.

Otimistas, os profissionais ouvidos acreditamque-a quantidade de transações de fusões e aqui-sições em 2012 continuará no mesmo patamar ouaté superior ao de 2011. Uma pesquisa feita pelaauditoria Ernst & Young Terco com cerca de milexecutivos em todo o mundo revela que 37%dosentrevistados no Brasil indicaram a intenção decomprar uma companhia no próximo ano. Seismeses atrás, esse índice alcançava 28%.

"Mesmo com a estimativa de crescimento doProduto Interno Bruto (PIB) inferior ao do anopassado, a economia brasileira ainda supera a deoutros mercados no exterior. Internamente, há se-tores relacionados a consumo que ultrapassarãoo crescimento do PIB. Esses setores em expansão .'atraem os investidores", explica Marco Gonçalves,sócio responsável pela área de fusões e aquisiçõesdo BTGPactual. No primeiro semestre de 2011, oBTGPactual foi contratado para assessorar 19 tran-sações, que somaram o volume de US$lS,7 bilhões.Em 2010, o banco esteve envolvido em 28 opera-ções, que representaram R$69,5 bilhões.

Page 2: IRAS COMPRAS · 2014-01-22 · 63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. ... ção de escala é importante para maior e melhor produção, aum custo mais baixo, ...

o apetite das empresas brasileiras é estimuladopela segurança de um caixa reforçado, o que deixaas companhias mais preparadas para enfrentar aatual crise. Apenas 28%dos executivos entrevista-dos no Brasil afirmam que farão dívida, enquanto63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. Para Gonçalves, quatro fatores impulsionamas transações no Brasil. Oprimeiro é que as empre-sas brasileiras estão olhando as oportunidades in-ternas para também participar do mercado nacio-nal. Outro fator é o interesse delas por tecnologiapara o próprio crescimento. O terceiro motivo seriaa consolidação do mercado brasileiro para ganhode escala e diluição dos custos. No varejo, a obten-ção de escala é importante para maior e melhorprodução, a um custo mais baixo, com eliminaçãode duplicidade de atividades, sistema de distribui-ção eficiente e acesso a novos mercados. E, por úl-timo, as empresas de fora querem garantir acessoaos produtos e oportunidades daqui.

"Há um crescente interesse dos asiáticos por em-presas de mineração e do setor de óleo e gás para agarantia de acesso às commodities", diz Gonçalves.Oaumento do interesse dos asiáticos pelo Brasil tam-bém chama a atenção do responsável pela divisãodo banco de investimento do Credit Suisse no Brasil,Allan Libman. "De2010 para cá, eles estão mais pre-sentes. O fato é que oBrasil tem uma demanda repri-mida grande. Nenhum "player" estratégico pode sedar o luxo de ficar fora do país", afirma Libman.

O diretor do Bradesco BBI,Renato Ejnisman, ava-lia que o movimento de fusões e aquisições ocorreem todas as direções, em diferentes setores. Umacaracterística em relação a 2011, apontada por ele,é o alto índice de sucesso das operações em anda-mento. Ou seja, há um maior número de transaçõesconcluídas, sem desistências no meio do caminho."A contrafação de uma assessoria ajuda a colocardisciplina no processo. Sem a ajuda profissional, asoperações tendem a demorar mais", diz Ejnisman.

Não há números oficiais sobre fusões e aquisi-ções realizadas no Brasil. A contagem é realizadaisoladamente pelas _consultarias, com base emanúncios feitos por diferentes tipos de mídia: jor-nal, internet, televisão, entre outros. Portanto, onúmero exato de fusões e aquisições pode divergirentre uma empresa e outra.

Segundo a Associação Brasileira das Entidadesdos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima),os anúncios de fusões, aquisições, OPAs (oferta

Valor FINANCEIRO 161

Page 3: IRAS COMPRAS · 2014-01-22 · 63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. ... ção de escala é importante para maior e melhor produção, aum custo mais baixo, ...

FUSOES E AQUISIÇOES

621 Valor FINANCEIRO

pública de aquisição de ações) e reestruturaçõessocietárias alcançaram R$ 75,3 bilhões no pri-meiro semestre de 2011. Embora o volume tenhasido inferior ao observado no mesmo período doano anterior (R$91,7 bilhões), é o segundo maiorda série observada desde 2006. É preciso levar emconta que, tradicionalmente, o primeiro semes-tre costuma ser mais fraco do que o segundo emnúmero de operações realizadas.

Alexandre Pierantoni, especialista em fusõese aquisições e sócio do PricewaterhouseCoopers(PwC), calcula que, de janeiro a agosto de 2011, fo-ram contabilizadas 483 transações, ante 515 ope-rações no mesmo período de 2010. "Continuamosem um movimento crescente, mantendo o pata-mar das operações e, provavelmente, com expec-tativa de recorde em 2011",afirma. Segundo dadosda PwC, a região Sudeste liderou o movimento,com 71% das transações ocorridas no primeirosemestre de 2011, seguida pelas regiões Sul (17%),Nordeste (13%),Centro-Oeste (9%)e Norte (5%).

Cerca de 60%das consultas que a Ernst &YoungTerco recebeu em 2010 e 2011 estiveram ligadasàs cadeias locais de consumo, com potencial decrescimento, como varejo (eletrônicos, móveis efarmácia), saúde (planos de saúde, empresas de tec-nologia, laboratórios e clínicas), educação (gráfica,cursos, etc.) e infraestrutura, entre outros. "Para osestrangeiros, a parceria local na administração donegócio é fundamental para a redução dos riscos ecompreensão da cultura regional", completa Car-los Asciutti, sócio de transações da consultoria.

Ele afirma que 99% das transações são feitasem dinheiro. "O crédito é pouco usado nas fusõese aquisições no Brasil, enquanto na Europa e nosEstados Unidos os empréstimos bancários parti-cipam da consolidação de indústrias. Terum mer-cado ativo de crédito é um obstáculo que tem deser superado. É preciso estabelecer um ambienteatrativo para a instituição finan eira entrar nessetipo de negócio", explica.

Alguns setores se destacam pelo forte movi-mento de consolidação. A consultaria KPMG,emrecente pesquisa, identificou essa tendência envol-vendo as indústrias farmacêuticas globais. Em co-municado, a consultoria informa que no primeirosemestre de 2011 foram feitas 11 negociações noBrasil, ante 18 operações ao longo de 2010 e 12 em2009. "As transações no' setor estão acontecendoem ritmo acelerado e vêm aumentando relativa-mente a cada ano, o que prova que é um setor quevem se consolidando", afirma no comunicado LuisMotta, o sócio da KPMGno Brasil.

Seguindo amesma trilha da indústria farmacêu-tica, que está em busca de ganhos de escala comofator de sobrevivência, o setor de educação também

Pierantoni,da PwC: aexpectativa

_é de recordede transaçõesem 2011

exibe intensa movimentação por parte dos gruposconsolidadores. Depois de realizar cinco aquisiçõesno primeiro semestre, investindo R$ 82 milhões, aAnhanguera Educacional fez sua aposta mais altacom a compra da Uniban, por R$ 531 milhões, emsetembro, o que possibilitará ao grupo educacionalentrar de vez na capital paulista, maior mercadode ensino privado do país. A Kroton, por sua vez,anunciou a compra da faculdade União Sorrisensede Educação (USE),do Mato Grosso do Sul. O valorda transação é de R$5,4 milhões. AUSEconta com1.302 alunos e 1.400 vagas anuais.

Emjaneiro de 2011, o BTGadquiriu 70%da Casa& Vídeo e 37,64% do Banco Panamericano, porR$450 milhões. Outra operação foi realizada pelaHJ. Heinz, que adquiriu 80% da brasileira QueroAlimentos por R$ 1,2 bilhão; a BP assumiu 83%da Companhia Nacional de Açúcar e Álcool porUS$ 680 milhões; a Estre Ambiental comprou a'Cavo Serviços eMeioAmbiente por R$610milhões.Ea CBSS-VisaVale adquiriu, por R$976,9 bilhões, aparticipação que o Bradesco detinha na Ibi Promo-tora de Vendas e na Fidelity.

Os números do primeiro semestre mostramuma redução do número de operações com valo-.res superiores a R$ 1 bilhão. Em 2010, as operaçõesacima desse valor responderam por mais de 30%

Page 4: IRAS COMPRAS · 2014-01-22 · 63%pretendem fazer aquisições com recursos pró-prios. ... ção de escala é importante para maior e melhor produção, aum custo mais baixo, ...

do número de anúncios de fusões e aquisições, en-quanto nos primeiros seis meses de 2011 o percen-tual ficou pouco acima de 20%.

O volume médio por transação de fusão e aqui-sição, no primeiro semestre de 2011, correspondeua US$ 160 milhões. Não ficou muito distante dovalor médio de US$ 170 milhÕes por transação re-gistrado nos primeiros seis meses de 2010, explicao responsável pela área de fusão e aquisição do Cre-dit Suisse no Brasil, Fábio Mourão.

Historicamente, os setores de mineração, quími-ca e petroquímica, financeiro, alimentos e bebidas etecnologia da informação sempre estiveram à fren-te do movimento de fusões e aquisições no Brasil,apresentando volumes cada vez maiores. Somentenos últimos quatro anos ocorreram, com mais in-tensidade, as fusões em outros setores, como saúde,educação, varejo e logística, com valores menores.

Atualmente, o diferencial é a participação dosfundos de private equity - considerados "players"fundamentais nas operações. Os fundos compramposição de controle ou participação acionâria deempresas que não são listadas em bolsa com à ob-jetivo de alavancar o desenvolvimento delas. Osinvestimentos nas empresas são mantidos por mé-dio e longo prazos. De janeiro a agosto de 2011, osfundos de private equity tiveram presença em 43%

das transações. "Em 2010, as aquisições de controlerepresentaram 55%das transações anunciadas porprivate equities", diz Pierantoni, da Pwc.

NaAmérica Latina, o Brasil é responsável por 70%dos recursos investidos por esses fundos. Em relaçãoaos emergentes, é o primeiro colocado. A China é asegunda colocada na preferência dos private equi-ties. Ao se tornarem protagonistas dos investimen-tos na economia brasileira, os fundos nacionais einternacionais investiram US$8 bilhões em 2005 ealcançaram US$41 bilhões em 2010.Há perspectivade novo recorde em 2011, estima Pierantoni.

"No primeiro semestre de 2011, houve um acrés-cimo de US$ 6 bilhões no estoque dos fundos departicipações nacionais ou internacionais que in-vestem no Brasil.É um recorde em relação aos anosanteriores, pois representa um acréscimo de 50%so-bre o número de 2010",afirma o presidente da 1\sso-ciaçao Brasileira de Private Eguity eVenture Capital(ABVCAP),Sidney Chameh,

Dentre os fundos que declaram investir no Brasil,50%deles têm origem nos Estados Unidos. Eles pro-curam no Brasil um crescimento maior do que o re-gistrado em países maduros da Europa enos EstadosUnidos. As aquisições de controle continuam tendoa preferência. Representaram pouco mais de 50%das transações ocorridas no país no primeiro semes-tre de 2011, principalmente em função dos privateequities. As compras de participação sem assumiro controle estiveram presentes em 30%do total ana-lisado no período, mantendo a média histórica (nopatamar de 29%),de acordo com dados da Pwc.

As transações com investimentos estrangeirosaumentaram nas empresas brasileiras. Represen-taram 44% do total no primeiro semestre de 2011,comparado aos 36%verificados no mesmo períodode 2010. No ano passado, quase metade das opera-ções (47%)envolveu companhias brasileiras dos doislados. Os recursos captados na abertura de capital

, de empresas brasileiras em anos anteriores contri-buíram para as transações nacionais.

"Os investimentos dos estrangeiros destinam-separa setores que, dificilmente, serão afetados pelaconcorrência internacional: educação, saúde, vare-jo, consumo, financeiro, por exemplo. São setoresque se beneficiam da ascensão social da classe C,independentemente de fatores externos", explicaReinaldo Grasson, sócio de corporate finance da De-loitte, especializadaern fusões e aquisições.

Com a aprovação da nova Lei Antitruste peloCongresso, as fusões e aquisições só serão efetivadascom a aprovação do Super Cade, o novo órgão anti-truste. Para o presidente do Cade, Fernando Furlan,antes de realizarem uma fusão, as empresas terão deverificar o risco de prejudicar a concorrência. Paraespecialistas, a mudança é revolucionária.

, Valor FINANCEIRO 163