INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

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1 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA FACULDADE ÚNICA

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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFACULDADE ÚNICA

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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA JORGE BENEDITO DE FRIETAS TEODORO

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FACULDADE ÚNICA EDITORIAL

Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Design: Aline de Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Taisser Gustavo Soares Duarte

© 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor

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Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.

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INTRODUÇÃO Á FILOSOFIA

1° edição

Ipatinga, MGFaculdade Única

2020

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LEGENDA DE

Ícones

São os conceitos, definições ou afirmações importantes aos quais você precisa ficar atento.

Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir:

São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.

Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações.

Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro.

Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro.

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VAMOS PENSAR?

FIXANDO O CONTEÚDO

GLOSSÁRIO

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SUMÁRIO UNIDADE 1

UNIDADE 2

UNIDADE 3

1.1 O que significa filosofar? .......................................................................................................................................................9

1.2 O nascimento da Filosofia: Filosofia Grega ..............................................................................................................12

1.3 A Filosofia ao longo da história ........................................................................................................................................18

FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................19

2.1 Polis: Democracoa e cidadania .......................................................................................................................................23

2.2 Ética : Aspectos introdutórios ..........................................................................................................................................26

2.2.1 Éticas Clássicas ......................................................................................................................................................................28

2.3 Filosofias políticas: Conceitos fundamentais .......................................................................................................30

FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................35

3.1 Teoria do conhecimento ( Epistemologia) ..............................................................................................................39

3.1.1 René Descartes ( 1596-1650)...................................................................................................................................................41

3.1.2 O Empirismo Inglês ...............................................................................................................................................................42

3.2 Filosofias da ciência: Introdução ...................................................................................................................................43

3.2.1 Thomas Kuhn ..........................................................................................................................................................................43

3.2.2 Karl Popper ..............................................................................................................................................................................45

3.2.3 Paul Feyrabend ......................................................................................................................................................................45

FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................47

O PENSAMENTO FILOSÓFICO

ÉTICA E A POLÍTCA

CONHECIMENTO E CIÊNCIA

UNIDADE 4

4.1 Metafísica e ontologia: Introdução ................................................................................................................................51

4.2 Filosofia da religião ................................................................................................................................................................56

FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................59

METAFÍSICA E ONTOLOGIA

UNIDADE 5

5.1 Estéticaa: Introdução histórica ........................................................................................................................................63

5.2 A filosofia e arte: Novas imagens e o contemporâneo ..................................................................................67

FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................72

FILOSOFIA DA ARTE

UNIDADE 6

6.1 Filosofias contemporâneas ................................................................................................................................................76

6.1.1 O existencialismo ....................................................................................................................................................................77

6.1.2 Filosofia francesa ...................................................................................................................................................................78

6.1.3 A Escola Frankfurt .................................................................................................................................................................80

6.1.4 Pós- modernidade ................................................................................................................................................................82

FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................84

RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ....................................................................................................................88

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................89

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

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UNIDADE 1Apresentaremos a especificidade da filosofia como disciplina em busca de uma concepção de conhecimento aproximado da verdade, destacando, sobretudo, o surgimento do logos como método de resolução de problemas próprios do pensamento filosófico. Não obs- tante, objetivaremos pensar o nascimento da filosofia no cenário his- tórico grego e, finalmente, abordaremos uma periodização da filosofia ao longo da história.

UNIDADE 2Tem como finalidade apresentar os campos filosóficos que dizem respeito ao entendimento da ética e da política. Discutiremos a composição da ética no campo da polis grega, evidenciando a determinação de leis (nómos) e normatizações de conduta para a vida em sociedade. Abordaremos, ainda, noções e pensadores fundamentais para o desdobramento da filosofia enquanto pensamento político.

UNIDADE 3Delimitaremos o campo de atuação da teoria do conhecimento (epistemologia) em sua tentativa da construção de um método seguro para a obtenção do conhecimento. Para tanto, discutiremos os aspectos fundamentais dos Racionalistas e Empiristas na obtenção de um caminho para responder à questão de adquirimos conhecimento. Introduziremos três entendimentos de filosofia da ciência com a finalidade de explicitação do método científico.

UNIDADE 4Tem como destinação introduzir os campos da metafísica e da ontologia no cenário filosófico procurando, sobretudo, ressaltar aspectos clássicos da metafisica aristotélica e demais correntes ontológi- cas na tentativa de conceituar a essência do ser. Ademais, introdu- ziremos aspectos da filosofia da religião de Agostinho e Tomás de Aquino como aportes para uma discussão sobre a realidade além do físico e, finalmente, apresentaremos brevemente a filosofia de Friedrich Nietzsche como oposição à metafísica religiosa.

UNIDADE 5Objetivará apresentar algumas correntes de pensamento contemporâneo com a finalidade de evidenciar tanto a permanência, quanto a multiplicidade da filosofia ao longo do tempo. Diante disso, esboçaremos as importantes contribuições do Existencialismo, da Filosofia Francesa Contemporânea, de alguns pensadores da Escola de Frankfurt, bem como daremos destinações à pertinência da filosofia no mundo atual.

UNIDADE 6Serão estudados como a Geografia se estabeleceu no Brasil até 1930 – período conhecido como Geografia vernacular, e após esse período, quando houve a institucionalização da Geografia como Ciência nas universidades e institutos, a partir da influência da Geografia clássica e posteriormente rompendo com esta, culminando na adoção das outras correntes do pensamento geográfico: geografiateorética, Geografia crítica e a Geografia Humanística.

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A filosofia surge no cenário da Grécia Clássica com a finalidade de afastar os mitos e, consequentemente, diminuir o medo tecido pelo ser humano tecia com relação à natureza. Destinado, portanto, o logos (a razão) como a palavra fundante dos processos de entendimento do real e, finalmente, introduzindo o questionamento (a dúvida; a incerte-za) como motores centrais para o pensamento e para os seres humanos. Diante disso, o presente livro didático tem a função do despertar, isto é, de desper-tar o sujeito leitor para um mundo de descobertas e de questionamentos relaciona-dos à sua própria compreensão. Frisa-se, portanto, que para o saber filosófico, seja em temos platônicos (em busca de sua essência única), seja em termos heraclitianos (em perpétuo estado de movimento), o ser humano encontra-se em plena descoberta de si trafegando, como este livro pretende demonstrar, pelos diversos campos nos quais atua: ética e politicamente; epistemologicamente; metafisica e ontologicamente; estéti-ca e artisticamente; histórica e contemporaneamente. Frente a isso, convidamos a todos(as) para aventurarem-se pelas páginas do livro em busca de descobertas e fazermos, juntamente, justiça à questão socrática:

“Conhece-te a ti mesmo”

INTRODUÇÃO

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O PENSAMENTO FILOSÓFICO UNIDADE

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1.1 O QUE SIGNIFICA FILOSOFAR?

A filosofia nasce do questionamento e do abandono das certezas previamente con-cebidas. “Só sei que nada sei”, a frase inaugural proferida por Sócrates (469 a.C– 399 a.C), ilustra esse movimento no qual a atividade crítica determinada pela razão (lógos), isto é, a atividade orientada pelo pensamento ordenado, reflexivo e, principalmente, oposto a todo e qualquer saber místico/ilusório, inicia a sua interrogação dos diversos campos que compõe os seres humanos. É no reconhecimento dessa ignorância inicial, submetida aos desígnios da racionalidade, que o significado do filosofar ilumina-se, trazendo ao campo reflexivo do ser humano questões próprias a sua natureza, a realidade, ao conhecimento, procurando sempre perguntar o que?; o porquê?; e o como? das coisas. Deste modo, o filosofar, ao adotar a razão como força motriz de suas interroga-ções, procura afastar-se das explicações triviais, óbvias e evidentes para situar o sujeito em um novo mundo determinado pela incessante atividade filosófica do questionamento. Trata-se, portanto, do movimento filosófico/reflexivo de, através do aprofundamento das questões, conduzir o ser humano a ultrapassar a aparência simples da realidade para, final-mente, buscar a verdade. Assim, a atitude do filosofar adota as vestes da tarefa socrática de dar à luz ao conhecimento verdadeiro, ao tomar como método à maiêutica, regendo o sujeito ao encontro com o próprio conhecimento ou, em outros termos, uma atividade que se relaciona diretamente com a inquietante expressão: Conhece-te a ti mesmo.

A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo. (Merleau-Ponty)

Método: Caminho ou menio para se chegar a um fim.Maiêutica: Método socrático para a interrogação da verdade. Consiste na interrogação suces-siva com a finalidade de, com superação de questões simples, conduzir o sujeito a alcançar o conhecimento a partir de si mesmo

GLOSSÁRIO

Figura 1: Busto de SócratesFonte: Arquivo do Autor

É justamente a atitude do autoconhecimento a que se propõe a reflexão filosófica buscando, no interior de suas in-dagações, revelar ao sujeito à possibilidade de construção do conhecimento diferenciado das crenças e das superstições. Em outras palavras, um conhecimento livre de dogmas, preconcei-tos e, sistematicamente, vinculado ao desejo crítico e teórico de um saber próximo da verdade. Nesse sentido, a indagação filosófica acerca do sujeito e do mundo procura se fundamen-tar mediante um percurso teórico racionalmente desenvolvido com a finalidade de se deparar com as questões incontorná-veis sobre a existência e a essência humana, questionando-se acerca da vida e da morte, do ser e do ente, do bom e do belo,

da experiência e do conhecimento, da origem, da forma e da causa das coisas. Portanto, questões admiráveis, tais como, o que é a verdade?; o que é a essência do ser humano?;

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o que é a justiça, a liberdade, a democracia?; para onde vamos e de onde viemos?; entre tantas outras interrogações são o que fornecem o substrato para a consolidação do filo-sofar como uma atitude crítico-reflexiva fundamental ao ser humano e sem a qual toda e qualquer interação humana torna-se insuficiente.

A inscrição “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o univer-so”, datada entre 650 a.C. a 550 a.C., encontra- se inscrito no Templo de Apolo, na antiga cidade de Delfos, guardado pelo famoso Oráculo. De acordo com Sócrates, o desvendar tal inscrição significa o processo determinante de fundamentação humana em busca de uma vida mais equilibrada, autêntica e feliz.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=0MKSHRBS7xk

O filme Sócrates (1971), do cineasta italiano Roberto Rosselini, baseia-se na vida e nos pensamentos de Sócrates. LINK:https://www.youtube.com/watch?v=5Ta-aT30L8yg

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A filosofia surge da admiração diante do mundo, conforme ressaltado por Platão (427 a.C – 347 a.C), do reconhecimento da ignorância e dos esforços feitos para sua supe-ração. Assim, na esteira do pensamento platônico, o filosofar aponta para a admiração de um novo mundo que se abre não a observação sensível do mundo captado pelos sentidos, mas sim àquele captado racionalmente pelos “olhos da alma”, local no qual o verdadeiro conhecimento repousa. Deste modo, para Platão, filosofar torna-se de uma atitude de, como dito por “Conhecer a verdade” “com os olhos da alma ou com os olhos da inteligência (CHAUÍ, 2002). O novo mundo referido por Platão e aberto pela atitude filosófica, só pode ser atin-gido pela razão que coloca em questão a aparência da realidade. Isto é, trata-se, novamen-te, da atividade incessante do questionamento das nossas opiniões, das nossas crenças e de nossos preconceitos, algo que, por sua vez, coloca-nos em um estado constante de crítica/questionamento da realidade afirmativa. Assim, o filosofar inaugura a tarefa atri-buída à racionalidade de crítica do mundo e da realidade sensível, ressaltando que aquilo que percebemos pelos sentidos constitui-se apenas como uma cópia da essência que repousa no mundo inteligível ou mundo das ideias. Conhecer a verdade com os olhos da alma significa, justamente, superar as limitações impostas pelos sentidos que são capazes apenas de nos fornece opiniões/cópias das verdades essenciais que só podem ser conhe-cidas pela ação da racionalidade livre dos grilhões das aparências. Apresenta-se, portanto, com a filosofia platônica temos um significado para a ati-vidade do filosofar que se fixa no dualismo, ou seja, na oposição entre mundo sensível e mundo das ideias. Tomando o mundo das ideias como o local por excelência da verdade e da essência das coisas presentes na realidade, Platão tornou-se conhecido como um dos principais filósofos do Idealismo.

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Figura 2: Representação do Mito da CavernaFonte: Arquivo do Autor

A figura ao lado funciona como a repre-sentação visual da importante alegoria platô-nica intitulada de Mito da Caverna, presente no Livro VII, da República. O Mito da Caverna exemplifica, justamente, a oposição entre mun-do sensível e mundo inteligível, bem como o processo de saída do sujeito das sombras do fal-so-conhecimentopromovido pela aparência das coisas.

Alegoria: figura de linguagem utilizada para expressão de um pensamento. Representa- ção de uma teoria por meio de imagens

GLOSSÁRIO

Platão inicia a alegoria da Caverna com a descrição de sujeitos que se encontram acorrentados desde a infância, sem a possibilidade de nenhum tipo de movimentação, dentro de uma profunda caverna iluminada pela luz de uma pequena fogueira. Diante de seus olhos, estende-se uma parede na qual são refletidas as sombras dos objetos que passam atrás deles. Durante toda a vida, os prisioneiros tomam aquelas sombras como a realidade, contemplando-as sem jamais questionarem as coisas visíveis. Um dos prisioneiros consegue escapar da condição de aprisionamento e, após ul-trapassar as dificuldades do caminho pouco iluminado, dirige-se à saída da caverna. Ali, ele consegue avistar a luz do Sol e, pouco a pouco, sua visão acostuma-se com a lumi-nosidade solar, tornando-o capaz de distinguir as sobras e os objetos verdadeiros. A partir desse momento, ele compreende que estivera preso durante toda a sua existência e aquilo que lhe apresentava à visão como verdade era, apenas, a sombra dos objetos verdadeiros, levando-o a conclusão de que, durante toda a sua vida, a realidade que se apresentava não era senão uma falsidade ou, em termos platônicos, uma mera cópia da verdade. Ao retornar à caverna, os demais prisioneiros, que ainda se encontravam aprisionados, não acreditam nas suas palavras e decidem permanecerem confinados na confiança prove-niente das sombras sem, portanto, abandonarem as falsas-certezas construídas no interior da caverna.

Mundo Sensível (Dentro da Caverna) Mundo das ideais (Fora da Caverna)

Coisas visíveis Coisas pensadas/ Ideias (Eidos)

Seres vivos Objetos matemáticos

Senso comum/ Opinião (Dóxa)/ Crença Razão/ Conceito/Ideia

Imagens / Sombras Essência

Sentidos (Sensível) Intelecto / Racionalismo dedutivo

Conhecimento não-verdadeiro Conhecimento verdadeiro

Quadro 1 : O Dualismo de Platão: Mundo sensível X Mundo das ideias (inteligível)

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O Mito de Caverna ilustra a busca da verdade como tarefa primária da filosofia. Nesse sentido, por meio da utilização da razão, o filosofar torna-se capaz de ultrapassar as antigas certezas provenientes do senso comum, das opiniões e das crenças, situando-se como uma constante busca racional da saída de cavernas. Diante disso, a Filosofia transforma-se num instrumento de libertação e de configuração de um novo mundo preenchido pelo questionamento e pela busca incessante da verdade, não aceitando as coisas que se co-locam, aparentemente, como naturais e óbvias como inquestionáveis.

O filme Matrix, de 1999, tem como influência o Mito da Caverna, de Platão, ao ques-tionar a existências de uma realidade ilusória controlada por um computador. Os questionamentos de Neo (Keanu Reaves), o protagonista do filme, têm sua origem no des- pertar da consciência do seu estado de adormecimento na Matrix.Ainda sobre o Mito da Caverna veja o LINK:https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-caverna-platao.htm

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Finalmente, o significado do filosofar ilumina-se como algo imprescindível à con-dição humana, ocupando-se, enquanto de atividade de liberação, do processo de emanci-pação e de construção de um sujeito reflexivo e atento à necessidade do questionamento racional e da atitude crítica perante a realidade como ferramentas fundamental para o bem-viver em sociedade. Portanto, como vimos anteriormente, o filosofar parte da afirma-ção e, posterior, contestação do nosso estado de ignorância, não seguindo a atitude dos demais prisioneiros do Mito da Caverna, de Platão, que permanecem sentados diante da parede contemplando a falsa-certeza e a segurança ilusória das sombras, mas, pelo con-trário, fundamentando-se racionalmente enquanto abertura de novos mundos e, sobretu-do, de novos sujeitos questionadores, atentos à busca pela verdade na construção de uma sociedade plural, distante dos mecanismos de dominação, livre de preconceitos e aberta ao exame racional/avaliativo da vida e das coisas.

1.2 O NASCIMENTO DA FILOSOFIA: FILOSOFIA GREGAAssim, a raiz da filosofia é precisamente esse “ma-ravilhar-se”, surgindo no homem que se confronta com o Todo (a totalidade), perguntando-se qual a sua origem e o seu fundamento, bem como o lugar que ele próprio ocupa nesse universo.

(Giovane Reale)

Tales de Mileto (624 a.C. – 546 a.C.) é considerado o primeiro filósofo ao propor, ra-cionalmente, a água como princípio originário da totalidade. Assim, remontando ao final do século VII a.C. e início do século VI a.C., temos em Mileto, na Jônia, a primeira proposta racional para ordenamento do mundo. Contudo, antes de tratarmos das cosmologias filosóficas e da proeminência da filosofia como palavra ordenadora do cosmos, faz-se necessário situarmos a relação entre o mito e o lógos.

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Cosmologia: mundo ordenado e organizado racionalmente.Lógos: pensamento racional; discurso e conhecimento.

GLOSSÁRIO

Para Vernant (1981, p. 73), “o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pen-samento mítico e o começo de um saber de tipo racional”. Assim, falamos, incialmente, da necessidade de reordenação de uma nascente sociedade para qual a antiga explica-ção mítica já não era suficiente. Nesse sentido, o mito, enquanto esquema de compreen-são e organização do mundo, perde espaço para o lógos, um saber organizado segundo a lógica racional e que tem, sobretudo, a busca pela explicação verdadeira das coisas como pilar fundamental. Sobre o mito, Chauí (2000, p. 32) acentua o seguinte:

[...] mito é um discurso pronunciado ou proferido para ou-vintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma nar- rativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilida-de da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está nar-rando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.

Como dito por Chauí, a autoridade do mito advém daquele que o narra, isto é, o poeta é um sujeito inspirado pelos deuses e tocado pelas musas. Tal autoridade consiste, deste modo, em um pacto inquestionável de confiabilidade entre o poeta inspirado que narra o mito e o ouvinte que recebe a mensagem reveladora. Nesse sentido, a verdade transmitida pelo poeta é objeto da revelação divina e, consequentemente, não diz respeito à investigação racional. Portanto, uma característica essencial da diferenciação entre o mito e o lógos é que o primeiro não faz da busca pela verdade um compromisso irrevo-gável, uma vez que, tanto a autoridade do poeta, quanto a do discurso não são passiveis de interrogação, contudo, o saber mítico possui um poder não apenas de explicação da realidade, mas também de explicação sobre a origem do mundo e das coisas. Como narrativa de origem do mundo e das coisas, a mitologia grega funciona como uma cosmogonia, ou seja, o mito apresenta-se como uma narrativa sobre a organização e o nascimento do mundo a partir de forças geradoras naturais e divinas. Assim, podemos listar algumas características determinantes das narrativas mitológicas gregas:

1. Processo de antropomorfização da natureza, ou seja, conferir à natureza característi-cas e formas humanas e, com isso, diminuir o seu temor e dar início ao processo de sua dominação: Exemplo: o tempo torna-se Cronos; o raio torna-se Zeus; os mares tornam-se Poseidon; a sabedoria torna-se Athena.

2. Os mitos possuem um caráter simbólico explicativo.3. Conservam em seu entorno um Poder Divino e Ritualístico.4. Não há separação entre o mundo divino e a realidade terrena.5. O cosmos se constitui como uma hierarquia de poderes determinada por um agente

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soberano que institui a ordenação.6. Possui uma ordenação politeísta, composta por um panteão de vários deuses e deu-

sas.

Kerényi (2015), publicou o livro A mitologia dos gregos: vol. I: a história dos deuses e dos homens, oferendo uma importante coletânea de narrativas mitológicas, in-cluindo narra- ções sobre a origem do cosmos, dos deuses e dos humanos.LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/114707/pdf

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Nesse cenário cosmogônico centrado na palavra de autoridade proferida pelo poeta e na hierarquização/ritualização dos poderes cósmicos geradores, dois grandes narradores se destacam: Hesíodo e Homero.

A filosofia é uma cosmologia, pois é uma tentativa racional de explicação da origem e das transformações do mundo. O mito, por sua vez, é uma cosmogonia que toma as forças naturais primordiais e suas relações (combates, lutas, relações sexuais) como fundamentos determinantes para origem do mundo e das coisas sem, no entanto, preocupar-se coma verdade, pois, aproxima-se de legitimações narrativas mágicas e fabulações.

FIQUE ATENTO

Hesíodo (750 a.C. – 650 a.C.), na Teogonia, exibe uma narrativa genealógica de funda-mentação do universo centrada, sobretudo, nas lutas e disputas parentais pela soberania do cosmos. Em resumo, a Teogonia apresenta a derrota do Titã Cronos (ou Saturno) pelas mãos do deus olímpico Zeus, seu filho, e, consequentemente, a instituição de uma nova ordem cósmica ou, como ressalta Vernant: “A vitória de Zeus, em cada vez, é uma criação do mundo” ou seja, a vitória e a superação inicial da violência natural primordial (VERNANT, 1981).

Genealogia: exposição narrativa de como um ser gera outro ser. Compõe traços de filiações, ligações familiares e origens.

GLOSSÁRIO

Figura 3: Saturno devorando um de seus filhos (1820-1823) – Francisco de GoyaFonte: Arquivo do Autor

Ademais, a narrativa de Hesíodo ao apresentar, com ex-celência, a origem do cosmos centrada no embate entre for-ças naturais, ao fim e ao cabo, pode ser interpretada como imprescindível para a consolidação do processo de diminui-ção da distância entre a natureza e o ser humano – desde o processo de antropomorfização da natureza, até a concre-tização de uma nova ordem cósmica menos ameaçadora, enquanto estágio determinante não apenas para a raciona-

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lização do mundo e surgimento da filosofia, mas, sobretudo, para a consolidação do ser humano como ser político ou, em outras palavras, como ser da polis. Homero (850 a.C.), por sua vez, apresenta duas das mais importantes epopeias oci-dentais, a Ilíada e a Odisséia, ambas completamente relacionadas com o imaginário social grego. Na Ilíada, o poeta narra os anos finais da Guerra de Tróia, motivada por uma dis-puta entre as deusas Hera, Afrodite e Athena que, ao fim e ao cabo, culminaria no rapto de Helena e na destruição da cidade troiana. Na Odisséia, por sua vez, Homero narra os desafios enfrentados pelo grego Ulisses (ou Odisseu) para retornar à Ítaca após a derrota de Tróia.

Epopeia: poema amplo cuja narração relata grandiosos acontecimentos heroico

GLOSSÁRIO

Ambas as narrativas apresentam elementos essenciais para a configuração de uma totalidade mitológica, conforme ressaltado por Reale (1990, p. 15), ao afirmar que em Homero tem-se a tentativa de “procurar apresentar a realidade em sua inteireza, ainda que de forma mítica: deuses e homens, céu e terra, guerra e paz, bem e mal, alegria e dor, a totalidade dos valores que regem a vida dos homens.” Seguindo o aspecto levantado por Reale, é possível acentuar que na totalidade re-presentada pelo mito, notam-se, principalmente, dois aspectos centrais: 1) o fortalecimen-to dos rituais religiosos presentes na relação entre os humanos e os deuses, ou seja, a vida do grego encontrava-se, inseparavelmente, relacionada com o poderio divino/ritualístico simbolizado pelos deuses e afirmado na autoridade daquele que narra; e 2) que a ausên-cia de separação entre o mundo dos deuses e dos humanos é um dos motores principais para a configuração dessa totalidade. Assim, deuses e humanos relacionam-se entre si, conspiram, desafiam-se, enfrentam-se e tecem os caminhos que dão forma à realidade sempre, contudo, tendo o destino dos humanos como matéria primária do deleite dos deuses. Podemos observar, por exemplo, que as dificuldades enfrentadas por Ulisses têm início quando ele, um simples humano, nega-

-se a dar graças aos deuses pela vitória sobre os troianos; ou, até mesmo, a representação de Aquiles, o herói da Ilíada, um semideus pratica-mente invulnerável, cuja vida se faz regida por uma profética destinação, atravessa as fron-teiras entre o mundo dos humanos e o mun-do dos deuses, pois, ele não só é filho de uma deusa, como também, é detentor de armas e armaduras forjadas pelas mãos dos deuses.

Figura 4: Ulisses e as sereias (1909) – Hebert James DraperFonte: Arquivo do Autor

Em seu canal no Youtube, a Professora Doutora Cristina Franciscato narra à jornada de Ulisses, na Odisseia, até o seu retorno à Ítaca, com destaque para o oitavo episódio que descreve o encontro da Nau de Ulisses com as Sereias. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Qd9SxHZjAYI

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A série Tróia: a queda de uma cidade, disponível na Netflix, é uma adaptação da epopeia homérica na qual se pode avistar a impossibilidade de separação entre o mundo dos humanos e o mundo dos deuses, característica importante na mitologia grega.Disponível em: www.netflix.com.br

A filosofia surge, justamente, quando as narrativas mitológicas descompromissadas com a verdade começam a perder a sua eficácia para a explicação da realidade, ou seja, o filósofo não se contenta com as explicações magicas e teológicas expressadas pelo poeta. Deste modo, a atividade do filosofar procura uma concepção de conhecimento livre de toda a preocupação ritualística presente no mito, dando início, portanto um processo de dessacralização do saber e do poder. O conhecimento torna-se, em oposição ao mito, fruto do lógos, em outros ter- mos, a palavra de autoridade – típica do poeta inspirado pelos deuses – torna-se frágil diante da atitude investigativa própria ao pensamento racional, dando lugar, portanto, a explicações lógicas, racionais, demonstrativas, sistemáticas. As explicações cosmológicas têm início com a filosofia pré-socrática, preocupando--se, principalmente, com a origem do mundo e com a natureza. Tal período filosófico divide-se em diferentes escolas e importantes filósofos, tais como:

Escola Jônica Tales de Mileto Anaximandro de Mileto Heráclito de Éfeso

Escola Itálica Pitágoras de Samos

Escola Eleata Parmênides de Eleia

Escola daPluralidade

AnaxágorasEmpédoclesDemócrito

Quadro 2: Escolas e filósofos pré-socráticosFonte: Adaptado de Chauí (2002)

A filosofia pré-socrática apresenta o conceito de physis como unidade temática para o fornecimento da resposta acerca da origem do mundo e das coisas. Pode-se compreen-der a physis como a natureza “no sentido original de realidade primeira e fundamental” (REALE, 1990, p. 30). Nesse sentido, é na physis que se é capaz de se encontrar o princípio (arché) capaz de fazer surgir todas as coisas. Portanto, os pré-socráticos trazem consigo a alcunha de fi-lósofos naturalistas, ou seja, são pensadores ligados à investigação natureza para o conhe-cimento do princípio capaz de fazer surgir o mundo. Para Tales, tal princípio originário seria a água, pois, dela tudo se derivaria devido a sua totalidade líquida original. Anaximandro, por sua vez, define a arché como o áperion: o infinito, o indeterminado, o ilimitado. Heráclito de Éfeso, um dos mais importantes pensadores pré-socráticos, determina o dinamismo, isto é, o movimento (devir) como princípio fundamental. Deste modo, Herá-clito situa a realidade em um incessante processo de transformação, segundo o qual, tudo muda, nada permanece inerte. E é justamente a constatação do movimento (devir) cons-tante que fornece bases para a colocação heraclitiana de nos encontramos em um per-manente estado de tensão, pois, por meio do devir, passamos de um contrário ao outro, por exemplo: o frio torna-se quente; a noite torna-se dia; a vida torna-se morte; etc. Nesse

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sentido, o princípio do devir assegura, conforme Reale (1990), uma permanente conciliação na busca pela harmonia dos contrários.

Heráclito de Éfeso foi um dos primeiros pensadores de tradição DIALÉTICA, cujo pendor fi-losófico se dá, principalmente, pela concepção da realidade como um devir constante no qual o combate entre polos opostos prevalece como um suposto motor para esse mesmo o qual o combate entre polos opostos prevalece como um suposto motor para esse mesmo devir. Nessa mesma tradição, temos Platão que, por sua vez, considerava o método dialético uma ferramenta de pesquisa capaz de evidenciar o caminho para a assunção ao mundo das ideias. A tradição do pensamento dialético encontrará pensadores na modernidade, tais como René Descartes e Jean-Jacques Rousseau, contudo, apenas com Georg Wilhelm Friedrich Hegel o método dialético entrará no centro do debate filosófico. Posteriormente, com Karl Marx e Friedrich Engels, a dialética torna-se materialista e passa a ser utilizada como método analítico/científico/filosófico para a análise das condições materiais regen-tes da sociedade, fundamentando-se, sobretudo, como a análise das contradições materiais/

VAMOS PENSAR?

econômicas do social. Ao passo que se a dialética hegeliana focava o cami-nho do espírito em direção ao Absoluto, a dialética marxista se preocupa com o entendimento da realidade através das contradições existentes no reino do material e, consequentemente, no embate entre as classes existentes nessa mesma realidade.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=JS0Xr2Bg6PE

Parmênides de Eleia propõe “a identidade entre o ser e o pensamento” (MAT-TAR, 2010, p. 44), visto que o princípio originário é o ser que, por sua vez, é o uno, o eterno, o imutável, em direta oposição a Heráclito de Éfeso. É com Parmênides que se tem o início de uma filosofia do ser e os pilares para a corrente de pensamento que, posteriormente, será determinada como ontologia (lógica do ser). Diante disso, a importância do filósofo de Eleia pode ser medida pelo fato de dar ensejo a uma das questões fundamentais para a filosofia: a pergunta pela essência do ser.

É, justamente, essa questão sobre o ser que coloca a filosofia em seu período se-guinte. Impulsionada pelo crescimento e expansão das cidades, bem como pelo au-mento populacional, torna-se necessário o desenvolvimento de uma compreensão ra-cional do ser desvinculada da obrigação de se questionar sobre a natureza e a origem das coisas. Tem-se, portanto, um desdobramen-to filosófico dominado pelo desenvolvimen-to da palavra como instrumento racional/político com vistas à consolidação do ser

humano enquanto cidadão social. O homem é um animal político, conforme destacado por Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), na obra A Política, ou seja, é da natureza do humano re-lacionar-se politicamente, travar discussões, interessar-se pelos rumos da sociedade, per-guntar-se sobre a liberdade, sobre a justiça, enfim, transitar pelos caminhos da cidadania.

Figura 5: A escola de Atenas (1509 – 1511) – Rafael Sanzio.Fonte: Arquivo do Autor

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Frente a tal configuração humana e social, a filosofia adentra nos caminhos da Pólis, como veremos adiante, como método racional, crítico e reflexivo para responder às questões inerentes a esse novo sujeito que se faz na multiplicidade de suas indagações de ordens ética e política; epistemológica e científica; metafísica e ontológica; artística e cultura e, inevitavelmente, subjetiva.

Tavares e Noyama (2017), na obra “Textos clássicos de filosofia antiga: uma intro-dução a Platão e Aristóteles”, realizam uma importante leitura acerca dos tópicos principais dos pensamentos platônicos e aristotélicos.LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/147877/pdf

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1.3 A FILOSOFIA AO LONGO DA HISTÓRIA

A vida não examinada não vale a pena ser vivida. (Sócrates)

A divisão histórica da filosofia pode ser compreendida do seguinte modo:

Filosofia Período Principais filósofos

Clássica/Antiga

Séc. VI a.C. – Séc. VI d.C.

Filósofos Pré-socráticos; Sócrates; Platão; Aristóteles; Filósofos Helenistas.

Patrística e Ida-de Média

Séc. I – Séc. XIV

Santo Agostinho; São Tomás de Aquino.

Renascimento; Modernidade e

IluminismoSéc XIV – Séc. XIX

Nicolau Maquiavel; Giordano Bruno; Francis Bacon; René Descartes; Thomas Hobbes; Voltaire; David Hume; John Locke; Jean Jacques Rousseau; Imma-nuel Kant; Hegel.

Filosofia Contemporânea Séc XIX –

em diante

Friedrich Nietzsche; Karl Marx; Edmund Husserl; Martin Heidegger; Theodor Adorno; Walter Benja-min; Jean-Paul Sarte; Simone de Beauvoir; Hanna Arendt; Giorgio Agamben; Achille Mbembe; Judith Butler (entre outros).

Quadro 3: Períodos históricos da filosofiaFonte: Elaborado pelo autor (2020)

O livro “Introdução à Filosofia”, de Paulo Ghirardelli Jr. (2003), oferece não apenas uma precisa introdução ao pensamento filosófico, mas também, apresenta uma periodização interessante da história da filosofia.LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2002/pdf

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1.A filosofia nasce da interrogação do sujeito sobre as múltiplas configurações da realidade, despertando-o, portanto, para o senso crítico e o saber racional. Diante disso, a máxima socrática: Conhece-te a ti mesmo, diz respeito ao seguinte:

a) À reflexão sobre si mesmo enquanto sujeito que supera o senso comum, as cren- ças e as opiniões na busca por um conhecimento verdadeiro.b) Ao mundo como fruto do mito e da obscuridade.c) À visão do sujeito como desvinculado do saber racional.d) À autorreflexão desprovida de questionamentos e assentada nas certezas do co- tidiano.e) Ao desconhecimento de si mesmo.

2. Sócrates, um dos principais filósofos da humanidade, salienta que a filosofia tem como ponto de partida a seguinte colocação: Só sei que nada sei.Tal colocação refere-se:

a) A certeza de que sabemos de tudo.b) Ao conhecimento inquestionável da filosofia.c) A assertiva da ignorância como ponto de partida do conhecimento. d) A autoridade do poeta na fabulação mitológica.e) As certezas promovidas pelas opiniões do cotidiano.

3. (ENEM 2015) Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público e sobre os quais exibem seus prestígios.

PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural do pensamento grego antigo, cuja ideia central, manifesta:

a) Caráter antropológico, descrevendo as origens do homem primitivo.b) Sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da sociedade ateniense. c) Vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e cômicos gregos.d) Sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da democracia ateniense.e) Teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo ilusório para o mundo das ideias.

4. ENEM (2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a pro- posição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição

FIXANDO O CONTEÚDO

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enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.

NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999.

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?

a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em ver- dades racionais.b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

5. Considerando o seu conhecimento sobre a physis e sobre a filosofia pré-socrática, assinale a alternativa CORRETA sobre os pensamentos de Heráclito de Éfeso e de Tales de Mileto com auxílio do texto a seguir:

“Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras.”

Heráclito de Éfeso

“O Universo é feito de água.” Tales de Mileto

a) Segundo Heráclito, a realidade do Ser é a imobilidade, uma vez que a luta entre os opostos neutraliza qualquer possibilidade de movimento. De acordo com Tales de Mileto, a terra é o princípio natural (physis) de todas as coisas.b) Segundo Heráclito, o um é múltiplo e o múltiplo é um. Segundo Tales, a physis é o fogo que renova as coisas vivas através de consumação do velho.c) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, o mundo em estado de movimento que produz mudanças inesgotáveis. Para Tales, a physis (princípio natural) é a água, pois a observação de seu movimento ilustra o desenvolvimento de novas formas de vida.d) Para Heráclito, água é o princípio originário do movimento do mundo e da natureza.Para Tales o movimento (devir) é o que concede à physis a possibilidade da produção constante de mudanças geradoras de vidas.e) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, o mundo em estado de movimento que produz mudanças inesgotáveis. Para Tales, a physis (princípio natural) é a água, pois a observação de seu movimento ilustra o desenvolvimento de novas formas de vida.

6. A razão (lógos) no mundo grego caracteriza-se por ser:

a) Mítico; racional; sistêmico.b) Racional; sistêmico; demonstrativo.c) Inquestionável; sistêmico; demonstrativo. d) Sistêmico; falso; racional.

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e) Demonstrativo; racional; inquestionável

7. Acerca da passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a seguir:

I. Os poemas de Homero – Ilíada (Guerra de Tróia) e Odisséia –, em razão de muitos de seus componentes, contêm características essenciais da compreensão de mundo grega e, consequentemente, de sua relação com a realidade/natureza, incluindo, sobretudo, a impossibilidade da separação entre o mundo di- vino e o mundo humano.

II. As narrativas míticas gregas representam uma tentativa de diminuição do medo e da hostilidade que o ser humano enfrenta na sua relação com a natureza.

III. A antropomorfização (humanização) dos deuses na mitologia grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos seres humanos auxiliou no desenvolvimento do pensamento de compreensão da realidade.

IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido necessidade de refinamento da racionalização na busca por um conhecimento que se aproximasse da verdade.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e II. b) II e IV.c) Todas as alternativas. d) I, II e III.e) III e IV.

8. O pensamento racional que se indaga sobre a origem do cosmos e a transformações da natureza é conhecido como:

a) Cosmologia. b) Mitologia.c) Cosmogonia. d) Fabulaçõese) Politeísmo.

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ÉTICA E POLÍTICAUNIDADE

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2.1 POLIS: DEMOCRACIA E CIDADANIA

Dentro desses limites, assim como em suas inova-ções, a razão grega é de fato filha da cidade.

(Jean-Pierre Vermant)

A filosofia é uma criação da cidade-estado grega de Atenas, principalmente, dado as necessidades surgidas tanto da configuração de um novo sujeito que se reconhece como cidadão, quanto das novas relações sociais surgidas no convívio entre várias e dife-rentes pessoas. Necessidades que vão, desde a criação de leis que garantam a palavra como o instrumento fundamental de organização social da polis (cidade-estado), até a definição de condutas éticas, em outras palavras, o estabelecimento das práticas e das normas de comportamento direcionadas para o bem viver em comunidade. Com o ultrapassamento do modo de vida agrário, assentado unicamente na pro-dução agrícola, subdividida em pedaços de terra dominados pelo patriarca (o pater), e com a superação do modo de vida régio, no qual a cidade – visando proteção – se organiza-va próximo ao rei e das fortificações de seu palácio, tem-se na Grécia Antiga a eclosão de uma nova ordenação social centrada na consolidação de centros urbanos impulsionados pela expansão comercial e formados da conjunção territoriais sociopolíticas, conhecidas como demus (VERNANT, 1981). A estruturação do demus destaca-se pela possibilidade da reorganização o espaço territorial – como herança do modo de vida agrário – não em torno do rei ou de determi-nada aldeia, mas sim, como sendo posse de indivíduos ou famílias independentes que, posteriormente, irão se sobressair na consolidação democrática da cidade-estado através da possibilidade de discussão pública dos rumos da polis. A divisão territorial proporcionada pelo demus, aliada aos desenvolvimentos urba-nos e comerciais do território grego, garante não apenas a soberania da palavra racional/argumentativa nas decisões públicas tomadas por uma determinada coletividade, como também situa o habitante da polis dentro de um espaço geográfico demarcado pela iso-nomia e pela instituição de uma sociedade político/democrática atenta à efervescência de novos desdobramentos sociais, culturais, artísticos.

Atenas e Esparta são as duas cidades-estados gregas mais conhecidas. De tra-dições opostas, Atenas destaca-se pela sua organização democrática focada na formação filosófica, espiritual e cultural do sujeito, tendo na palavra a principal fonte de poder. Esparta, por sua vez, conserva-se enquanto uma sociedade oligár-quica de fundamentação agrícola e de tradição educacional militar.LINK: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/esparta-atenas.htm

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Segundo Vernant (1981, p. 94):

Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiados estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e men-tais próprias da cidade grega.mentos narrados.

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Assim pensado, a filosofia atenta-se, justamente para a tentativa de responder aos anseios desta nova sociedade centrada em uma organização coletiva ou, como destaca-mos acima, uma sociedade política pautada pela democracia. Dizemos democrática, pois, pela primeira vez na história da humanidade as decisões centrais não são de posse de uma individualidade (o rei; o sábio; o déspota) estacionada em um espaço privado, mas sim, obras de um coletivo reunido no espaço público, os Eupátridas (os bem-nascidos). Nesse espaço público, que os gregos denominaram de Ágora, o coletivo dos Eu-pátridas reunia-se para exercer o fazer político, isto é, por meio da argumentação e da discussão em público, os Eupátridas visavam traçar os direcionamentos legais/sociais da polis. Entretanto, por mais revigorante que seja a instituição do processo de tomada cole-tiva das decisões da cidade-estado, paira sobre a democracia grega algumas dissonâncias importantes. A primeira delas é que para fazer parte da classe dos legisladores (os Eupá-tridas) o sujeito deveria obedecer às seguintes condições:

a) Ser do sexo masculino;b) Nascido em Atenas;c) Proprietário de terra (o demus);d) Ser livre.

Isonomia: o princípio da Isonomia era a base que garantia a existência de leis e normas para todos os habitantes da polis.Democracia: regime político direcionado à participação de todos os cidadãos. Controle polí-tico exercido pelo povo.Legislador: aquele que cria as leis.

GLOSSÁRIO

Assim, de antemão, na Grécia Clássica, falamos de uma democracia exclusiva que, em seu fazer, exclui as mulheres, os estrangeiros (Metecos) e os despossuídos, assentan-do-se sobre a manutenção de uma estrutura escravocrata que garantiria a participação dos Eupátridas na vida pública da polis. Portanto, por mais que a fundação democrá-tica tenha significado um ganho social importante com a instituição de leis coletivas, a abertura da Ágora como um espaço público para a tomada de decisões e, sobretudo, o questionamento sobre as noções de política, de ética e de justiça, mantém-se intacta a

estruturação de uma sociedade dividida em classes sociais. Nesse sentido, a máxima aris-totélica do homem enquanto ser político e, consequentemente, cidadão, é válida, tão so-mente, para aqueles que se enquadram nas condições para serem Eupátridas.

Figura 6: Pirâmide política/social da Grécia AntigaFonte: Bernardes (s/d)

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A instituição da democracia na Grécia Antiga percorre diversos períodos históricos, iniciando-se com os pensamentos de Sólon (638 a.C.– 558 a.C) “o pai da democracia” que, como vimos anteriormente, antecipa a substituição de um modo de vida estritamente agrícola, de organização régia, pela atividade mercantil e, consequentemente, dotado de maior mobilidade social com organização territorial em demus. Clístenes (565. a.C – 492 a.C) e Perícles (490 a.C – 429 a.C), destacam-se nesse cenário como grandes legisladores e reformadores do ideal democrático grego.

Figura 6: Discurso de Perícles (1853) - Phillipp von FoltzFonte: Arquivo do Autor

Dotada dessa herança grega, a democracia mostrou-se como modelo governamen-tal voltado para o povo, capaz de incluir em suas decisões o maior número de cidadãos. Felizmente, ao longo dos séculos, o modelo democrático sofreu intensas modificações que procuram ultrapassar as condições de exclusão e ampliar tanto o caráter popular do poder, quanto estender as igualdades de condições e o direito político/civil a todos os gêneros, sexos e modos de seres humanos, sem distinção.

A Grécia Antiga contribuiu em diversos campos da vida humana, em especial, como vi- mos anteriormente, com a fundação da democracia – do poder popular pela palavra. No entanto, a ideia democrática grega é exclusiva, isto é, exclui aqueles(as) que não se encaixam em seus pré-requisitos. Algo que, de fato, diminuiu o seu impacto na organiza- ção da socie-dade. A democracia, como definida atualmente, parte do princípio que ne- nhum sujeito é excluído do processo de decisão popular, alargando, portanto, o entendi- mento do que vem a ser um cidadão ao considerar todo ser humano como um ser político, transformando, deste modo, a democracia, efetivamente, em um governo do povo.

VAMOS PENSAR?

O filme “As sufragistas” (2015) retrata, no início do século XX, a luta das mulheres no Reino Unido pelo direito ao voto e participação nas decisões governamentais.Saiba mais sobre o movimento Sufragista:LINK: https://mdemulher.abril.com.br/cultura/quem-foram-as-sufra- gistas-da-vi-da-real/

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2.2 ÉTICA: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Querer ser livre é também querer livres os outros. (Simone de Beauvoir)

A ética, do grego ethos, é um campo da filosofia que procura compreender as no-ções e princípios que governam a vida do indivíduo em sociedade. Nesse sentido, a ética lida com problemas sobre a essência da liberdade, as normas e as condutas que regem o comportamento e a vida dos sujeitos nas esferas coletivas e individuais. Além disso, a éti-ca, como disciplina filosófica de caráter teórico e prático, pergunta- se sobre os vícios e as virtudes dos seres humanos em consonância com os limites e as atribuições da justiça se-gundo as ações dos cidadãos dentro das relações social. Enfim, a ética questiona-se sobre o indivíduo inserido em sociedade. Com isso, a ética aborda as manifestações e os conflitos inerentes ao impacto das leis e da justiça enquanto instâncias normativas e limitadoras do que se entende como liber-dade, compreendendo que a moralidade, a cultura, os costumes e os valores são instâncias variáveis dentro da heterogeneidade dos indivíduos e das sociedades. Como salienta Antunes (2012), a heterogeneidade ou multiplicidade das variáveis que compõe a vida dos sujeitos, pode ser exemplificada pelo uso do hijab, uma vez que é um costume, ensinado pela doutrina islâmica, que as mulheres árabes usem o hijab ao saírem de casa, mas, contudo, esse não é um costume adotado pelas mulheres brasilei-ras. Portanto, é matéria da ética discutir sobre os modos de vida, costumes e comporta-mento humano. Assim, os campos da ética dividem-se do seguinte modo:

ÉticaNormativa:

a investigação racional ou teoria dos padrões do correto e do incorreto, do mal e do bem, a respeito do caráter e da conduta, que uma classe de indivíduos deve aceitar.Essa classe pode ser a humanidade em geral, mas também podemos pensar na ética médica, ética empresarial, etc., como um conjunto de padrões que os profissionais em questão devem aceitar e observar.Hoje em dia, a expressão teoria ética é frequentemente usadaneste sentido. Grande parte do que se chama filosofia moral é ética normati-va ou aplicada.

Ética Social ou Religiosa:

um conjunto de doutrinas sobre o correto e o incorreto, o bem e omal, a respeito do caráter e da conduta. Reivindica implicitamente a obediên-cia geral. Neste sentido há, por exemplo, a ética confuciana, a ética cristã, etc. É semelhante à ética filosófica normativa porque pretende ter legitimidade geral, mas difere dela porque não pretende ser estabelecida meramente com base na investigação racional.

Moralidade positiva:

os ideais e as normas geralmente declaradas e acatadas por umgrupo de pessoas, acerca do correto e do incorreto, do bem e do mal, a res-peito do caráter e da conduta. O grupo pode ser uma nação (e.g., a ética dos índios hopis), uma entidade política (e.g., a ética sudanesa), uma organização profissional, etc.A moralidade positiva contrasta com a moralidade crítica ou ideal. A morali-dade positiva pode tolerar a escravatura, mas esta pode ser declarada into-lerável apelando a uma teoria que supostamente tem a autoridade da razão (ética normativa) ou apelando a uma doutrina que tem a autoridade da tradi-ção ou da religião (ética social ou reli-giosa).

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Ética descritiva:

o estudo, de um ponto de vista externo, dos sistemas de crenças epráticas de um grupo social também se chama “ética”, e mais especificamen-te “ética descritiva”, visto que um dos seus principais objectivos é descrever a ética de um grupo. Também tem sido denominada etno-ética, e pertence às ciências sociais.

Metaética:

tipo de investigação ou teoria filosófica, distinto da ética normativa, também chamada “análise ética”. Tem essa designação porque toma os conceitos éticos, proposições e sistema de crenças como objetos da investigação filosó-fica. Analisa os conceitos de correto e incorreto, de bem e mal, a respeito do caráter e da conduta, e conceitos relacionados como, por exemplo, a respon-sabilidade moral, a virtude, os direitos, etc.

Quadro 4: Tipos de ética” - (Adaptado de MAUTNER, Thomas. “Dicionário de filosofia” (2010))

A ética propõe-se como uma ferramenta de investigação científica racional sobre o com- portamento moral dos indivíduos em sociedade que pressupõe uma validade ampla, bus- cando determinar normas e meios de conduta direcionados à manutenção da esfera social. A moral, por sua vez, diz respeito ao modo de vida histórica, cultural e, sobretudo, variável das sociedades.

FIQUE ATENTO

Pensando em consonância com o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau (1772 - 1778), o ser humano, em estado de natureza e de solidão, abdica de sua liberdade natu-ral para adentrar em sociedade e, deste modo, relacionar-se com os demais. Contudo, tal entrada só ocorre quando o sujeito se faz amparado pelo pacto social, isto é, o ser humano dirige-se à vida social quando lhe são apresentadas as garantias de que seus direitos indi-viduais serão respeitados dentro do convívio social. Trata-se, como vimos anteriormente, da modificação de uma vida solitária para comungar de uma realidade comunitária ou, em outras palavras, da inserção do indivíduo na vida política, democrática, regida por leis e regras que serão responsáveis pela manutenção da permanência do humano. Não obs-tante, a ética discorre sobre tais leis e regras perguntadas, de fato, o que é necessário para o viver eticamente em sociedade.

Jean-Jacques Rousseau apresenta na obra “Do contrato social”, de 1762, um im-portante marco sobre as noções de sociedade e de liberdade.LINK:http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-Form.do?select_action=&co_obra=2244

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Vasquez (2006), salienta que devido a sua natureza moral, os problemas éti- cos compreendem indivíduo e sociedade. Obviamente que, em cada período histórico, as questões éticas se modificam seguindo os anseios dos indivíduos inseridos no corpo so-cial, exigindo uma atividade filosófica capaz de repensar-se diante de novos dilemas su-gerindo resoluções para tais. Por exemplo, se na época de Aristó- teles era necessária à construção de uma doutrina ética direcionada tanto para o entendimento da ideia de

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justiça (diké), quanto para a educação virtuosa e elaboração do sujeito de acordo com bem-viver e a felicidade (Eudaimonia), cuja finalidade última seria o bem comum social, nos dias de hoje, por sua vez, buscamos teorias e práticas capazes de responder questões que dizem respeito diretamente às questões que se colocam aos indivíduos e as socieda-des contemporâneas, tais como:

diké: significa justiça em sentido primitivo tomando dois direcionamentos: 1) justiça dis- tribu-tiva: igualdade na distribuição de bens ao coletivo e, 2) justiça retributiva: vingança coletiva.

GLOSSÁRIO

1) O aborto deve ser permissível?

2) A liberdade, de fato, existe?

3) O progresso da ciência deve possuir limites?

4) É necessário um balizamento ético/moral para o uso das redes sociais? porque

5) Porque a corrupção é permitida?

6) Como pensar uma sociedade que preserve o meio ambiente

7) A eutanásia (o direito à morte) deve ser permitida?

Quadro 5: Tipos de ética” - (Adaptado de MAUTNER, Thomas. “Dicionário de filosofia” (2010))

A Grécia Antiga contribuiu em diversos campos da vida humana, em especial, como vimos anteriormente, com a fundação da democracia – do poder popular pela palavra. No entanto, a ideia democrática grega é exclusiva, isto é, exclui aqueles(as) que não se encaixam em seus pré-requisitos. Algo que, de fato, diminuiu o seu impacto na organização da sociedade. A democracia, como definida atualmente, parte do princípio que nenhum sujeito é excluído do processo de decisão popular, alargando, portanto, o entendimento do que vem a ser um cidadão ao considerar todo ser humano como um ser político, transformando, deste modo, a democracia, efetivamente, em um governo do povo.

VAMOS PENSAR?

2.2.1 Éticas Clássicas

Como campo do conhecimento filosófico, é interessante destacarmos algumas con-cepções éticas determinantes para o entendimento desta disciplina como investigação e normatização das relações do indivíduo na sociedade. Aristóteles, na obra “Ética a Nicômaco”, apresenta lições de doutrina ética direciona-da aos indivíduos da polis, salientado, a necessidade do bom senso (temperança/equilíbrio) para a busca da felicidade e consolidação do bem-viver. A ética aristotélica é conhecida como uma ética das virtudes, pois tem como finalidade educar o bom cidadão, determi-nado como aquele que, como salientado por Aristóteles (1984), participa da vida públi-ca, agindo de maneira virtuosa, procurando a justa medida das ações em sua vivência na

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polis. Deste modo, Aristóteles (1984), salienta que os atos individuais refletem-se na co-munidade, interferindo na convivência da sociedade, portanto, o sumo bem, e a felicidade de todos depende de cada indivíduo.

De acordo com Aristóteles, o sujeito só pode alcançar a felicidade dentro da polis, isto é, politicamente inserido em sociedade. Portanto, a política destina-se com a vinculação do indivíduo com a comunidade. A ética, consequentemente, volta-se para a compreensão das ações morais do indivíduo. Deste modo, ressalta-se ain-da que, o sumo bem e a felicidades apenas são alcançados na vida em comuni-dade.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=hngoOxji2yQ

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O filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804), propõe uma ética deontológica, isto é, uma doutrina ética focada no conceito de dever. Para Kant, o ser humano é, fundamen-talmente, egoísta, portanto, diante dessa natureza corrupta faz-se necessário a consolida-ção de uma noção consistente de cumprimento do dever que, ao fim e ao cabo, seria o conceito responsável pelas ações verdadeiramente morais. Tal dever, ou lei moral, é “uma forma que deve valer para qualquer toda e qual- quer ação moral” (CHAUÍ, 2000, p. 346), formulado pelo ser dotado de racionalidade e que, con-sequentemente, possui a vontade de desvincular-se da sua natureza sensível e corruptiva para, finalmente, buscar um fundamento consistente para a ação moral. Deste modo, subsiste no filósofo alemão a ideia de um sujeito cuja ação, necessariamente, encontra-se ancorada sobre leis objetivas e racionais independentes da experiência sensível. Kant de-nominou essas leis, que regem as ações e a vontade do sujeito, como imperativos, sendo que o mais conhecido deles é o imperativo categórico, expressado com a finalidade de constituição de uma máxima moral racionalmente orientada e com validade universal. Falamos, portanto, de uma lei universal, em outras palavras, de uma máxima ética válida a todos os seres dotados de razão.

Imperativo: que exprime uma ordem; que ordena autoritariamente.

GLOSSÁRIO

Qual seria o problema de uma doutrina ética focada no cumprimento inquestionável do de-ver? A filósofa Hannah Arendt, na obra “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a bana-lidade do mal”, descreve a situação em que um conhecido criminoso nazista invoca a ética kantiana para legitimação de seus atos criminosos. Diante disso, a pensadora demonstra o mau uso do imperativo categórico e as desvirtuações que a filosófica kantiana sofre quan-do colocada sob um véu de irracionalidade. O artigo “O imperativo categórico kantiano no julgamento de Otto Adolf Eichmann no tribunal de Jerusalém”, apresenta tanto um preciso panorama histórico do julgamento, quanto propriedades conceituas para o entendimento do uso corrupto da doutrina ética de Kant.

VAMOS PENSAR?

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A terceira das éticas consideradas clássicas foi formulada pelo filósofo britânico John Stuart Mill (1806 – 1873). Denominada de ética utilitarista ou consequencialista, o pensa-mento de Mill tem como condição básica o princípio da utilidade ou da maior felicidade. O princípio da ética utilitarista resume-se da seguinte maneira: a ação considerada moralmente correta é aquela capaz de proporcionar a felicidade para o maior número de pessoas. Diante disso, toda ação considerada ética deve maximizar a felicidade, indepen-dentemente, de a ação proporcionar felicidade para aquele que a realiza, ou seja, trata-se de uma ação imparcial direcionada a felicidade do maior número de sujeitos, diferente-mente do egoísta, cujas ações parciais visam, tão somente, a sua felicidade própria.

Sobre a ética utilitarista e seus impasses no mundo contemporâneo:

LINK: https://criticanarede.com/eti_mill.html

Um dos dilemas mais conhecidos do utilitarismo é o caso do trem:

“Você vê um trem desgovernado movendo-se em direção a cinco pessoas amar- radas nos trilhos. Caso nada seja feito, elas serão mortas pelo trem. Mas você está de pé ao lado de uma alavanca que controla um interruptor. Se você puxar a ala- vanca, o trem será redirecio-nado para uma pista lateral e as cinco pessoas na pista principal serão salvas. No entanto, na pista lateral também há uma pessoa presa que acabará morrendo.” (GODOY, 2019, p. online)

Qual é o caminho correto a seguir?

BUSQUE POR MAIS

a) Permitir que cinco indivíduos morram?b) Puxar a alavanca dos trilhos e redirecionar o trem para matar apenas uma pessoa? Segundo a ética utilitarista, o correto a fazer é, agir imparcialmente, e realizar a ação que irá proporcionar a felicidade para o maior número de pesso-as.LINK: https://filosofianaescola.com/moral/utilitarismo/

2.3 FILOSOFIAS POLÍTICAS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo”

(Karl Marx)

Aristóteles considera a política como a ciência prática suprema e, consequentemen-te, o ser humano como um animal político dotado da capacidade racional para a tomada de decisões individuais e coletivas. De fato, a atividade política coletiva é uma invenção da sociedade grega que, devido a sua divisão em classes, exigiu a criação e consolidação

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de legisladores capazes de introduzirem leis e modos de conduta para os cidadãos. Nesse sentido, segundo Chauí (2000), temos como passo determinante da invenção da política no mundo grego, as seguintes características:

• Substituição da autoridade pessoal (do poder pessoal/unitário) pela organização da pa-lavra coletiva (os legisladores).

• Separação da autoridade militar e do poder civil.• Fim da autoridade mágico-religiosa. Laicização do estado e das decisões políticas.• Lei (nómos): teoria e prática legislativa como expressão da vontade coletiva.• Instituição de um espaço público (Ágora) para a discussão (Assembleias) e tomadas de

decisões visando o direcionamento das cidades.

Com a organização dos sujeitos em sociedades, como visto anteriormente com a premissa rousseauniana, fazem-se necessárias destinações políticas para a manutenção dos direitos sociais, consolidações das garantias legais e concepções de justiça para a vida social, fatores que garantem, principalmente, a condição de cidadania conferida pela en-trada em sociedade. Diante disso, faz parte da história da filosofia questionar-se sobre as teorias e práticas políticas, visando conceituar o melhor modelo de governo. Contudo, nem sempre os direcionamentos democráticos serviram de base à fundamentação go-vernamental, conforme veremos a seguir.

Platão, na obra “A República”, conceitua o modelo ideal de cidade, pautado pela or-gani- zação política e educacional direcionada à superação das paixões sensíveis e, principalmente, fundamentada na proeminência do Rei Filósofo. Trata-se, de uma classe se sujeitos racionalmente educada durante toda a vida e que, portanto, con-

FIQUE ATENTO

templaram a essência das coisas, tornando-se, por excelência, os governantes ideais.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=8YBne9Ln_38&t=2s

Afastando-nos das premissas gregas, sobretudo, no que diz respeito ao caráter laico do estado e da política, é preciso ressaltar a organização política teocêntrica predominante em longo período da Idade Média, uma vez que, a disposição do poder e das decisões polí-ticas pertencia, predominantemente, a Deus. Em outros termos, a escolha dos dirigentes e das ordenações políticas respeitavam as decisões provindas da Igreja católica, em síntese, os governantes eram escolhidos por Deus e o governo regido pela sabedoria onipresente do Divino. Diante disso, Santo Agostinho (354-430), o filósofo da Patrística, apresenta uma relação indissociável entre fé e razão na busca pela felicidade e na condução dos su-jeitos em direção à plenitude do conhecimento. Finalmente, o bom governo, seria aquele que encarnasse, sem ressalvas, as virtudes cristãs. Ademais, é com o pensador florentino Dante Alighieri que preconiza-se a separação entre o poder espiritual teocrático e o poder temporal, dando vazão, deste modo, ao pensa-mento Renascentista e ao “princípio de todo o governo na Idade Moderna: a independên-cia entre ordem temporal e ordem espiritual” (BITTAR, 2005, p. 125).

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Patrística: doutrina filosófica que propõe a retomada da filosofia platônica (neoplatonismo) fundando-se na necessidade da consolidação de uma moral rigorosa, pautada pelo controle das sensibilidades, das paixões e a predileção por um mundo celestial, superior e desvincula-do da realidade.Renascentista: que diz respeito ao Renascimento. O Renascimento foi um período histórico determinado por uma revolução no modo de compreensão da realidade, da arte, da cultura e do conhecimento, sobretudo, no que diz respeito à substituição de um pensamento teocrá-tico por uma visão de mundo centrada no humano. Por isso, o Renascimento caracteriza-se por uma visada humanista (antropocêntrica).

GLOSSÁRIO

É, justamente, a partir deste princípio e, principalmente, das experiências de vida e de realidade, que Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), formula “O príncipe”, uma obra revolu-cionária ao questionar a extensão do poder e apresentar, em caráter de normatividade, os passos de conduta para a consolidação de um governante pleno. De viés absolutista, o poder do príncipe deve ser superior aos demais, deste modo, o princípio central da atividade política não é a justiça, a liberdade ou o bem comum, mas sim, a conservação do poder. Assim, as ações do soberano, pensado por Maquiavel, estão “além do bem e do mal” (BOBBIO, 1994, p. 14), isto é, as ações do príncipe estão direciona-das somente para o controle e a manutenção do poder adquirido, independentemente, de tais ações serem violentas, mentirosas ou astuciosas. Trata-se, portanto da ideia de virtù (coragem; eficácia; valor), enquanto qualidade in-dispensável ao soberano, pensada como a capacidade astuciosa de construir estratégias, de controlar ocasiões e acontecimentos fortuitos para, enfim, manter-se no poder.

“muito mais seguro é fazer-se temido que amado, quando se tem de renunciar uma das duas.” (MAQUIAVEL, 2008, p. 80).

A frase acima corresponde a um ideal maquiavélico de manutenção do poder, assentan-do-se na ideia de que o amor é passageiro e cindido mediante interesses maiores, mas, o temor é um sentimento permanente, portanto, ao príncipe, em sua luta pela manutenção do poder, interessa mais ser temido do que amado pelo povo. Maquiavel utiliza César Bórgia, cujos atos serviram de inspiração para obra de Maquiavel, foi taxado de “reputado e cruel” (MAQUIAVEL,2008, p. 79), como o modelo de soberano bem sucedido.O seriado “Os Bórgias” (2011), retrata a história de César Bórgia em consonância com o o mo- delo de soberano bem sucedido. O seriado “Os Bórgias” (2011), retrata a história de César Bórgia em consonância com o papado de Alexandre VI.

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No histórico das filosofias políticas absolutistas, no final do período Renascentista e pré-modernidade, pode-se atentar para o pensamento filosófico de Thomas Hobbes (1588 – 1679), autor de “O Leviatã”. Segundo Hobbes, o homem é o lobo do homem, em outras palavras, o homem é o maior inimigo do homem sendo necessário, portanto, um pacto político capaz de garantir a manutenção da vida humana e, consequentemente, a

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Ambos os filósofos, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rou-sseau, são considerados pensadores contratualistas, pois, compreendem a saída do ser humano do estado natural e sua entrada em sociedade regida pelo contrato social. Contudo, a ideia de contrato é, completamente, oposta em ambos os pensadores: Hobbes prevê a consolidação de um estado absolutista regido pelas mãos-de-ferro de um rei detentor de todos os poderes; já Rousseau, ideólo-go da Revolução Francesa, considera a ideia do estado democrático, fundamentado pelo direito do exercício de voto e, consequentemente, determinado pela vontade política da maioria.

VAMOS PENSAR?

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Thomas Hobbes(1588- 1679)

Com o advento das Revoluções Burguesas (Revolução Gloriosa (1688 – 1689), Inde-pendência dos Estados Unidos (1775 – 1783) e Revolução Francesa (1789 –1799)), aliada a um evento anterior, a Reforma Protestante (1517 – 1648) e ao Mercantilismo, têm se a eclosão de um novo modo de organização sócio-política demarcado, sobretudo, pelo fim do absolutismo, pelo fortalecimento de uma sociedade dividida em classes sociais e pelo acirramento relações comerciais com a elevação da Burguesia como classe econômica e política dominante e, finalmente, da instauração do direto à propriedade privada como direito natural do sujeito. Falamos, em outros termos, da nascente modernidade organizada de acordo com os modelos do mercado e, consequentemente, do surgimento do capitalismo como dou-trina econômica dominante. Assim, adentramos num período político demarcado pela consolidação do Estado Liberal fundamentado na ideia de que Estado deve ser capaz de garantir alguns direitos fundamentais para manutenção da sociedade: 1) liberdade econômica e direito à propriedade privada; 2) sociedade civil: sociedade organizada se-gundo os interesses econômicos dos proprietários privados; 3) a liberdade de pensamento e divisão fundamental entre sociedade pública e sociedade privada. Ademais, é na figura do Estado Liberal que ocorre a consolidação da divisão administrativa em três poderes centrais: a) o Executivo; b) o Legislativo e; c) o Judiciário. Adam Smith (1732 - 1790), considerado o pai do Liberalismo econômico, introduz, na obra “A riqueza das nações”, que a economia deve ser uma atividade estritamente in-dividual e independente da influência estatal. Além da instituição da divisão do trabalho como marco essencial da modificação da estrutura do trabalho em sociedade e uma das forças motrizes do capitalismo, Smith salienta que o enriquecimento das nações se dá, prioritariamente, através da liberdade para o desenvolvimento de seus indivíduos.

organização política em sociedade. Diante disso, para Hobbes, o pacto consiste em que o ser humano abra mão de seus direitos políticos/sociais, transferindo-os para o Leviatã que impediria a queda da humanidade em um estado perpétuo de caos. Hobbes tem na imagem do Leviatã, um monstro bíblico, a ideia do Estado absolutis-ta fundamentado no controle autoritário do déspota esclarecido pela razão. Assim, todas as decisões e determinações políticas/sociais seriam de soberania absolutado déspota que detém o poder em todos os aspectos.

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Nesse processo historicamente orientado de separação entre o Estado e a socie-dade civil que, por conseguinte, fortalece os mecanismos econômicos do capitalismo e, posteriormente, favorece o processo técnico de industrialização, tem-se a divisão funda-mental da sociedade entre os burgueses (a classe dominante / os proprietários privados) e os proletários (a classe dominada / sujeitos que possuam apenas a força de trabalho como propriedade a ser vendida). Karl Marx (1818 - 1883), sociólogo e filósofo político, busca empreender uma análise material da história, com a finalidade de compreender a sociedade moderna em suas dimensões econômicas e sociais. Para tanto, o pensador contrapõe-se não apenas à orga-nização da sociedade em termos da economia liberal, mas também à ideia de um Estado completamente aquém do funcionamento da sociedade civil. Marx apresenta a luta de classes como motor da história, luta impulsionada, inclu-sive, pelas contradições do método de produção capitalista, capazes de revelar, sobretudo, que seu fundamento essencial é o processo de exploração entre os sujeitos, isto é, para Marx, o capitalismo se fortalece através das cadeias de dominação promovidas pela classe burguesa sobre os proletários. Ademais, o filósofo ressalta a necessidade de emancipação dos indivíduos em prol de, primeiramente, o socialismo ou, em outras palavras, do fortalecimento estatal na es-trutura de manutenção da vida social da classe proletária (a classe produtiva) e, posterior-mente, devido à emancipação teórica e pratica do proletariado, a abolição da sociedade de classes e, portanto, do próprio estado, ocasionando o que Marx determina como comunis-mo.

Em “O capital”, obra central do marxismo, Marx analisa os conceitos centrais do capitalismo questionando-se, sobretudo, sobre a organização deste modo de produção centrada na ideia do lucro. Diante disso, o pensador alemão, dis-cute os conceitos de mais-valia, de alienação e de mercadoria como pilares do

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modo de produção capitalista. Magalhães (2015), em “10 Lições sobre Marx”, apresenta uma importante introdução aos temas do pensamento marxista. LINK:https://plataforma.bvirtual.com.br/Lei-tor/Publicacao/149514/pdf

Ao longo da história são matérias do pensamento filosófico as recorrentes trans-formações do entendimento de política e das organizações sociais, questionando, in-clusive, as eclosões de tiranias; as emergências das revoluções políticas e sociais; os limites e deveres do Estado; os direitos e deveres dos cidadãos; os ataques à democracia frente a regimes políticos opressores; entre outros temas de importância fundamental para os seres humanos. Assim, a filosofia, durante o percurso de entendimento político, buscou acentuar que, o restabelecimento do modelo político democrático, fundado no direito à igual manifestação da ampla e não excludente vontade popular mostrou-se como o mo-delo mais racional e abrangente do fazer político.

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1. O Eupátrida, membro da nobreza ateniense, que fazia e executava as leis regidas por uma vontade coletiva, se define do seguinte modo:

a) Homens, livres, portadores de terra, atenienses. b) Homens e mulheres, livres, portadores de terra. c) Escravos, estrangeiros, portadores de terra.d) Homens, estrangeiros, portadores de terra, livres. e) Mulheres, livres, portadoras de terra, atenienses.

2. O filósofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) prestou contribuições a diversos campos do conhecimento humano, entre eles a ética, cuja obra Ética a Nicômaco, conceitua noções de suma importância para a disciplina ética, os quais podemos destacar como:

a) a Virtude; o Bem Comum; a Felicidade. b) a Virtude; o Dever; a Utilidade;c) o Dever; a Utilidade; a Virtude.d) o Bem Comum; a Felicidade; o Dever.e) a Felicidade; o Dever; a Utilidade.

3. Para Aristóteles, os atos individuais se refletem dentro da comunidade como um todo e aquilo que o indivíduo faz de bem ou de mal vai interferir diretamente na consciência social. Assim, a felicidade (Eudaimonia) de todos depende de cada um e, a felicidade individual, depende de todos. Deste modo, tendo isso em vista, podemos compreender a relação estabelecida entre a felicidade e o social do seguinte modo:

a) partindo da concepção aristotélica de que todo ser humano é uma ilha e seus atos não ser relacionam com os demais seres sociais e, por isso, o ser humano só pode ser feliz individualmente. b) partindo da concepção aristotélica que toda ação ética é uma ação individual e despreocupada com o bem comum da sociedade.c) partindo da concepção aristotélica que a ética, enquanto disciplina do conhecimento moral dos seres humanos, funda-se sob a obediência ao dever como norma moral racional existente dentro de cada ser humano.d) partindo da concepção aristotélica de que todo ser humano é um ‘animal político’ que constrói relações com os demais seres humanos com a finalidade da construção do bem comum social.e) partindo da concepção aristotélica que uma sociedade eticamente construída só pode ser consolidada se fundada na supremacia inquestionável da razão sob as paixões.

4. Devido a condições como a divisão territorial (demus), a rápida urbanização e a possibilidade da propriedade de terras, Atenas, cidade-estado (polis) grega, é conhecida como local de nascimento da Democracia. Diante disso, assinale a opção CORRETA que destaca os direcionamentos desta nova forma de governo democrático:

FIXANDO O CONTEÚDO

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a) Fim da autoridade pessoal; Vontade coletiva como definidora das leis; Separação entre estado e religião (mitologia); Elevação da classe dos Eupátridas como legisladores.b) União entre estado e religião (mitologia); Autoridade pessoal; Elevação da figura do Rapsodo como legislador divino. Vontade coletiva como definidora das leis.c) Fim da autoridade pessoal; Elevação da classe dos Eupátridas como legisladores; União entre estado e religião (mitologia); Vontade individual como definidora das leis.d) Elevação da classe dos Eupátridas como legislador; Fim da autoridade pessoal; Vontade individual como definidora das leis. Elevação da figura do Rapsodo como legislador divinoe) Vontade individual como definidora das leis; Fortalecimento da autoridade pessoal; Elevação da classe dos Eupátridas como legisladores; Separação entre estado e religião (mitologia).

5. A ética de Immanuel Kant busca fornecer critérios para ações morais baseadas no cumprimento do dever racionalmente instituído. Diante disso, a ética kantiana é definida como:

a) Ética deontológica b) Ética das virtudes c) Ética normativad) Ética utilitaristae) Subjetivismo ético

6. Maquiavel, em “O Príncipe”, apresenta a seguinte afirmação:

“muito mais seguro é fazer-se temido que amado, quando se tem que renunciar uma das duas”.MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Porto Alegre: L&PM, 2008.

Podemos entender a afirmativa de Maquiavel como:

a) A manutenção do poder por parte do Príncipe depende de seu elevado carisma e disponibilidade ao cometimento de atos violentos.b) Para que o governo perdure é necessário que o Príncipe esteja disposto a amar seus semelhantes.c) A manutenção do poder principesco passa pela escolha entre o amor e o temor, tendo no sentimento de temor uma segurança permanente de poder.d) O amor, por ser eterno, garante ao Príncipe o direito de governar.e) A manutenção do poder principesco passa pela escolha entre o amor e o temor, tendo no amor popular a garantia de que seu governo perdurará.

7. Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes são filósofos contratualistas, isto é, baseiam a saída do homem do estado de natureza e sua entrada em sociedade por meio da assinatura de um contrato social. Contudo, ambos os pensadores possuem uma visão diferente do que vem a ser o contrato social. Com base nos estudos anteriores e nos textos abaixo assinale a opção correta.

“[…] só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade de sua instituição, que é o bem comum, porque, se a oposição dos interesses par- ticulares tornou necessário o estabelecimento das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o possibilitou.”

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(Rousseau, “Do contrato social”)“Qualquer governo é melhor que a ausência de governo. O despotismo, por pior que seja, é preferível ao mal maior da Anarquia, da violência civil generalizada, e do medo permanente da morte violenta.”

(Hobbes, “O Leviatã”).

a) Segundo Rousseau, o contrato social prevê a instauração de uma sociedade não democrática fundada na vontade de um monarca. Para Hobbes o contrato social é uma fantasia para o homem solitário.b) Para Rousseau, o contrato social constitui-se como uma peça que garante os de- mocráticos dos indivíduos e a condução do Estado por meio da vontade coletiva. Para Hobbes, o contrato social, prevê que os poderes estejam concentrados na figura individual do déspota (rei), dirigente do Estado.c) Segundo Rousseau, o contrato social prevê a instauração de uma sociedade não democrática fundada na vontade de um monarca. Para Hobbes, o contrato social, prevê que os poderes estejam concentrados na figura individual do déspota (rei), dirigente do Estado.d) Para Rousseau, o contrato social constitui-se como uma peça que garante os de- mocráticos dos indivíduos e a condução do Estado por meio da vontade coletiva. Para Hobbes o contrato social é uma fantasia para o homem solitário.e) De acordo com Rousseau, não há a possibilidade de os indivíduos viverem em harmonia. Para Hobbes, o homem é o lobo do homem, portanto, é necessária a consolidação de um Estado forte para contenção dos sujeitos.

8. Para Marx, o capitalismo era o núcleo central a ser investigado para que fosse pos- sível entender as mudanças sociais e políticas surgidas em um dado momento histórico. Entende-se por capitalismo:

a) A mais-valia absoluta e relativa. b) A política cultural.c) O sistema de entendimento. d) O sistema econômico.e) Um acordo de repartição da propriedade privada.

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CONHECIMENTO E CIÊNCIA UNIDADE

03

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3.1 TEORIA DO CONHECIMENTO (EPISTEMOLOGIA)

Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis. (René Descartes)

A pergunta sobre a essência do conhecimento é uma das mais relevantes para o campo filosófico. Platão, como visto anteriormente, já ressaltava que o conhecimento verdadeiro não se encontrava na realidade obtida pelos sentidos, mas sim, no mundo das ideias que só pode ser conhecido pela razão. Aristóteles, por sua vez, coloca a questão em outros termos, para ele, para o alcance do verdadeiro conhecimento é imprescindível à observação sensível da realidade. Diante disso, tem-se uma oposição inicial acerca da essência do conhecimento que irá perdurar durante longos séculos e, consequentemente, fundamentará a relação entre filosofia e ciência na modernidade, dividindo, como veremos a seguir, a teoria do conheci-mento (epistemologia) entre empiristas e racionalistas.

Epistemologia: discurso (logos) acerca da ciência (episteme). Investigação racional sobre o conhecimento científico.

GLOSSÁRIO

Conhecimento: Verdade ou Convencimento?Como vimos nas Unidades 1 e 2, a preocupação da filosofia na nascente sociedade grega tem uma preocupação genuína com o conhecimento verdadeiro, colocando a palavra mo- vida pelo logos como ferramenta para o seu alcance. Contudo, há, na Grécia Clássica, outra classe de sujeitos que maneja a palavra racional: os sofistas. Para os sofistas, não há uma

VAMOS PENSAR?

verdade conhecível, apenas convicções relativizáveis. Portanto, a palavra não é instrumento do conhecimento, mas sim, argumentação com a função de persu-asão/convencimento com vistas à obtenção de poder político.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=WBDTTH99UOU

Antes, contudo, de adentramos na disputa entre empiristas e racionalistas, faz- se necessária uma explicitação do ambiente teórico e histórico da modernidade, iniciando-se com alguns tópicos centrais sobre o Iluminismo (Séc. XVI). Immanuel Kant, no artigo “Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento?”, acen-tua que o Iluminismo ou Esclarecimento, é a saída do ser humano do seu estado de mino-ridade, ou seja, trata-se da configuração de sujeito capaz de romper com o pensamen-to tutelado/controlado por fatores exteriores e, deste modo, o início da consolidação da construção de um entendimento que lhe seja próprio. Um entendimento que ousa saber (“Sapere aude”) e fazer uso público e livre da racionalidade, como postulado por Kant, rom-pendo com a herança medieval de um pensar mediado pela Igreja.

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Ademais, fortalecido pelas Revoluções Burguesas, Reforma Protestante (1517), descoberta de novos territórios e novos mercados, o pensador iluminista possui força su-ficiente para romper com a tradição vigente e dar início a consolidação de um novo su-jeito. Assim, tomando como inspiração fundamental a Revolução promovida por Nicolau Copérnico (1473 – 1543) (Revolução Copernicana) que retira a Terra do centro do Universo (modelo geocêntrico) e institui o Sol como cento (modelo heliocêntrico), o Iluminismo retira Deus do centro (Teocentrismo) do conhecimento e institui o ser humano (Antropo-centrismo).

O cientista Galileu Galiei, figura-se como um importante pensador ilumi-nista devido, principalmente, às suas contribuições cientificas posteriores. Dentre as quais podemos ressaltar: a mentalidade ativa na obtenção

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O sujeito do Iluminismo tem a razão (ratio) como determinação fundamental e ele-mento comum aos seres humanos. Diante disso, temos a elevação das potencialidades da razão como determinante do mundo e da realidade, contudo uma razão que é instrumen-to/propriedade do sujeito, portanto, uma razão subjetiva. Aliado à posse da razão, o conceito de método coloca-se como ferramenta teórica e prática indispensável para a obtenção do conhecimento, dando ensejo, portanto, a um processo metódico/sistemático/seguro e tecnicamente comprovado de aquisição do co-nhecimento ou, em outros, termos dá-se início à Ciência Moderna, compreendida como a articulação entre o método e a sua possibilidade de comprovação técnica/instrumental. Entretanto, instaura-se, inicialmente, a oposição entre duas correntes epistemológicas de investigação sobra a natureza do conhecimento, o empirismo e o racionalismo. Ambas as correntes epistemológicas possuem o conceito de método como determi-nante em seus questionamentos sobre os fundamentos do conhecimento, contudo, como se é possível apontar abaixo, são completamente opostas:

RACIONALISMO EMPIRISMO

Conhecer é conferir razão Conhecer é comparar dados

O mundo é racional O mundo é captado pelos sentidos

Método racional/ lógico-matemático Método experimental

As ideias são verdades inatas As verdades fundamentais são recebidas pela observação

O conhecimento existe a priori O conhecimento existe a posteriori

do conhecimento; a atividade ativa na compreensão/domina-ção da natureza; o refinamento e a universalização do método científico experimental.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=Uxko6

Quadro 6: Racionalismo e Empirismo

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Assim, para o racionalista o método de investigação do conhecimento é pura- men-te racional, ligado as disciplinas abstratas: lógica e matemática, sem estabelecer, por con-seguinte, nenhuma relação com a realidade sensível/material, pois, trata-se da ideia do conhecimento enquanto instância a priori, isto é, como completamente independente da experiência sensível. O empirista, por sua vez, compreende que o método tem a obser-vação e a experimentação da realidade/natureza como ponto de partida indispensável, entendendo, portanto, que o conhecimento somente pode ser obtido a posteriori, ou seja, após a experimentação sensível da realidade. Em síntese, para o racionalista o conhecimento é inato ao ser humano, pois, encon-tra-se, no interior do sujeito, sendo tarefa da razão reencontrá-lo; já para o empirista não há conhecimento que não seja antecedido pela experiência/observação sensível do mundo.

3.1.1 René Descartes (1596 - 1650)

O racionalista René Descartes, matemático e filósofo francês, busca a fundamenta-ção de uma nova ciência calcada autonomia da razão como única fonte de conhecimento, ao passo que o funcionamento da racionalidade independe de qualquer experiência sen-sível. Descarte propõe, em “Discurso do método”, regras certas, fáceis e amplas de condu-ção para a utilização correta da razão e da dedução e, consequentemente, obtenção do conhecimento verdadeiro. Ainda, no “Discurso do método”, o pensador põe em evidência quatro regras para dissecação dos objetos colocados à razão (CHAUÍ,2000):

• Regra da evidência: algo se impõe como evidente.• Regra da análise: dividir as dificuldades/ deduzir as complexidades.• Regra da síntese: concluir do mais simples ao mais complexo.• Regra do desmembramento: fazer enumerações exatas sem omitir nada.

Dedução: a dedução é uma das operações fundamentais da razão. O método dedutivo, se-gundo Descartes, tem como finalidade partir de uma generalidade para chegar a uma uni-versalidade. Portanto, parte-se de algo já conhecido visando chegar-se à verdadesinquestionáveis.

GLOSSÁRIO

Nas “Meditações metafísicas”, Descartes coloca em meditação o alcance do méto-do cartesiano, partindo da premissa de que se faz necessária a destituição de todas as antigas opiniões para, finalmente, encontrar um ponto fixo, seguro e inquestionável para o conhecimento claro e distinto. Para tanto, o pensador faz uso da dúvida metódica, um processo racional de colocar tudo em dúvida. Deste modo, as meditações apresentam a seguinte ordem: a) primeira meditação “os sentidos”: colocar os sentidos em dúvida, partindo do pressuposto que os sentidos são fonte de enganação; b) segunda meditação “natureza corpórea”: discutir a impossibilidade da distinção entre sonho e vigília a partir

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das sensações corporais, mas, contudo, afirmar a continuidade do pensamento; c) terceira meditação “prova da existência de Deus”: racionalização de Deus como substância perfei-ta e criadora e garantia da razão. Finalmente, passada a ampliação extensiva da dúvida como método de conheci-mento, o pensador apresenta a certeza segura e inquestionável: o penso, logo existo (cogito ergo sum) que, ao fim e ao cabo, servirá como ponto fixo para a construção do conhecimento. Portanto, se tudo pode ser colocado em dúvida, apenas a certeza de que o sujeito pensa e, logo, é um ser de razão, permanece intocável, pois “Duvido, penso: existo, pois eu não poderia existir sem pensar” (MOSER; LOPES,2016, p. 73).

3.1.2 O Empirismo Inglês

Francis Bacon (1561 – 1626), John Locke (1632 – 1704) e David Hume (1711– 1776), destacam-se como importantes pensadores do empirismo inglês tendo como ponto em comum o fortalecimento do método experimental e da observação como constantes para a obtenção do conhecimento. Bacon destaca-se pela acentuação do rigor metodológico, fundamentado pela observação sistemática da natureza e pelo labor intelectual do sujeito que se coloca como o grande intérprete do natural. O rigor do método baconiano propõe não somente a destituição dos ídolos enquanto entraves ao progresso científico, como também ressalta a divisão da metodologia experiencial do seguinte modo: a) primeiro passo: surgimento da hipótese a ser comprovada; b) segundo passo: verificação e documentação das experiên-cias e observações obtidas; c) terceiro passo: a consoli- dação de bases científicas sólidas para a compreensão do fenômeno; e d) quarto passo: o surgimento dos axiomas, compre-endidos como a transformação das bases sólidas em leis gerais que garantem o progresso científico. Locke, em franca oposição ao inatismo cartesiano, postula a ideia de tábula rasa, isto é, a ideia de que o sujeito nasce se conhecimento algum, em outras palavras, como uma folha em branco que vai sendo preenchida pelas experiências ao longo da vida. Diante disso, todo o conhecimento, segundo Locke, depende da experiência (a posteriori) e não além dela. Hume, por sua vez, argumenta que tudo é entendido por meio da percepção que são transformadas em impressões e, posteriormente, convertidas em ideias. Ademais,

Hume argumenta sobre a noção do co-nhecimento obtido por hábito ou costu-me que são experiências consolidadas. Por exemplo: por que se pode afirmar que o sol nascerá amanhã? Porque o su-jeito já teve a experiência de presenciar o nascer do sol outros 364 dias, portanto, a experiência converte-se em hábito.

Figura 7: Racionalistas x Empiristas.Fonte: Alvarenga ( s/d )

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No decorrer da disputa entre racionalistas e empiristas, Kant surge como um conci-liador ao propor a compreensão do conhecimento humano através de um esquematismo que considere os caráteres a priori e a posteriori da razão. Demarcando, para tanto, uma revolução na ordem do conhecimento ao colocar o sujeito como aporte reflexivo e orde-nador do objeto.

O filósofo alemão, Immanuel Kant unificou os debates entre a priori e a posteriori a partir da realização de uma crítica à razão em três partes: a) a razão pura; b) a razão prática; e c) a faculdade de julgar. Culminando na

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ideia de um sujeito de percepção e de razão que, enfim, torna-se capaz de emitir juízos após a destituição do objeto de seu cará-ter de coisa.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=chGB-7yZmM4

O livro “Para compreender a teoria do conhecimento”, de Alvino Moser e Luís Fer-nando Lopes, apresenta um histórico preciso da fundamentação da disciplina epistemologia. Com destaque para os desdobramentos dos empasses entre ra-cionalistas e empiristas.LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/42173/pdf

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3.2 FILOSOFIAS DA CIÊNCIA: INTRODUÇÃO)

Existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que estão certas.

(Carl Sagan)

O período após a modernidade é marcado por um grande positivismo no discurso da ciência, delimitado pela certeza de que a ciência seria capaz de responder a todos os dilemas da humanidade. Devido, não apenas a tal positivismo, mas também, a capacidade do método científico em apresentar resoluções mais efetivas para os problemas ineren-tes à realidade, o discurso rigoroso/seguro da Ciência substitui a reflexão filosófica como modelo de resposta à realidade. Nesse sentido, tem-se o surgimento de teorias filosófi-cas atreladas aos desenvolvimentos, às questões e aos progressos científicos, buscando, sobretudo, indagar o processo de afirmação da ciência ao longo da história. Diante disso, podem-se ressaltar, inicialmente, três importantes filósofos da ciência: Thomas Kuhn (1922 - 1996), Karl Popper (1902 - 1994) e Paul Feyerabend (1924 - 1994).

3.2.1 Thomas Kuhn

O pensamento de Thomas Kuhn destaca-se na obra “A estrutura das Revoluções

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Científicas”, na qual o pensador ressalta a existência de períodos de Ciência Normal e Revoluções Científicas, além de fundamentar a existência de um importante conceito no âmbito da filosofia da ciência: o paradigma. Para Kuhn, o paradigma funciona como um princípio geral de orientação para o empreendimento científico capaz de figurar-se como o conjunto de compromissos de pesquisas adotado pela comunidade científica, contendo a constelação de valores e pro-cedimentos técnicos adotados por tal comunidade. Diante disso, o paradigma possuiu um caráter disciplinador, segundo o qual, toda e qualquer pesquisa aceita pela comunidade de cientistas deve ser realizada de acordos com os métodos delimitados pelo paradigma dominante.

A teoria de Kuhn apresenta o modelo do paradigma do quebra-cabeça, isto é, um uma ca-tegoria central de problemas que serve para testar a habilidade das soluções. Entretanto, tal condição fornece, sobretudo, um caráter limitado da natureza e das soluções científicas, pois, todos os problemas devem se encaixar nas seguintes leis:

a) Apresentar uma solução assegurada;b) Obediência às regras do método segundo o paradigma;c) Definir-se segundo uma concepção prévia de problemas anteriores.

VAMOS PENSAR?

Ademais, o conceito de paradigma é responsável pela instituição de um período de Ciência Normal, isto é, um período no qual a ciência e o cientista encontram-se vinculados a segurança fornecida pelo método e pelo conjunto de teorias e práticas determinadas pelo paradigma. Deste modo, a Ciência Normal não apenas restringe a visão do cientista, como se faz, conservadora e dogmática. Ao passo que a natureza do conhecimento se encontra limitada pelas teorias e práticas fornecidas pelo para- digma. As Revoluções Científicas, por sua vez, são produtos de anomalias, ou seja, ocorrem quando o paradigma perde a sua capacidade de adequar os problemas às suas possiblida-des de solução ou, em outras palavras, o quebra-cabeça não é capaz de fornecer critérios/métodos seguros para a resolução dos problemas científicos, colocando em questão a normalidade da ciência. Assim, instaura-se um período de crise e de emergência de um novo paradigma, inaugurando, portanto, um movimento de transição entre paradigmas e, consequentemente, um período de Ciência Extraordinária, no qual, de fato, o progresso científico ocorre.

Figura 8: : Ciência Normal e Revolução Científica de Thomas KuhnFonte: Adaptado de Lundgren (2015)

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A ciência caminha por saltos, revoluções e não linearmente:“O filósofo Thomas Kuhn afirma que uma teoria se torna um modelo de conheci-mento ou um paradigma científico. O paradigma se torna o campo no qual uma ciência trabalha normalmente, sem crises. Em tempos normais, um cientista, dian-te de um fato ou de um fenômeno ainda não estudado, o explica usando o modelo

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ou o paradigma científico existente. Em contraposição à ciência normal, ocorre a revolução científica. Uma revolução científica acontece quando o cientista descobre que o paradigma disponível não consegue explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir um outro paradigma.” (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 200, p. 327-328)

3.2.2 Karl Popper

Karl Popper, na “Lógica da pesquisa científica”, introduz a noção de que o conheci-mento é, essencialmente, falível, corrigível, provisório e imperfeito e, por conseguinte, en-contra-se vinculado à sociedade como um todo e não somente à comunidade científica. Portanto, a construção do conhecimento só é possível se as leis científicas se figuram como hipotéticas e provisórias e, consequentemente, a construção das hipóteses encontrar-se em estreita relação com a realidade. Diferentemente de Kuhn, Popper não vislumbra o entendimento de ciência depen-dente de períodos de segurança fornecidos pela Ciência Normal, pelo contrário, o pensa-mento popperiano inclui em seu fazer teórico, sobretudo, o erro ou, em outras palavras, os conteúdos que escapam ao paradigma como determinantes do progresso científico. Diante disso, podemos definir o método científico de Popper como um constante método de aprendizagem tributário da tentativa e ao erro, pois, é, justamente, o erro que gera a crítica e a possibilidade da ciência. Enfim, pode-se dizer que,segundo Popper, o erro é o método. 3.2.3 Paul Feyrabend

O filósofo Paul Feyerabend, é conhecido pela sua proposta de um anarquismo epis-temológico. Em outros termos, o pensamento feyerabendiano propõe um posicionamen-to contrário às regras científicas universais e, para tanto, contrário à ideia de um método científico dominante. Deste modo, a ciência não se fundamentaria na segurança do mé-todo, mas sim, na pluralidade dos diversos saberes que se interpenetram na construção do conhecimento. Ademais, a ciência, segundo Feyerabend, é uma atividade metodologicamente anár-quica, ligada à subjetividade e as escolhas dos sujeitos singulares e, finalmente, não pode ser reduzida a um processo metodológico uniforme. Assim, o pensador destaca o processo da contra-regra, isto é, um processo capaz de ampliar o conteúdo da concepção científica vigente pelo fato de ajustar o pensamento científico em torno de teorias não firmadas e formular hipóteses que não se adequam ao método científico uniforme. Conceituando, portanto, a ciência como atividade livre, não dogmática e, sobretudo, de maior alcance crítico.

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Um dos tópicos centrais de epistemologia e filosofia da ciência, como foi possível observar, é a constante busca e afirmação de um método seguro para obtenção do co- nhecimento. Diante disso, o link a seguir ressalta a configuração e importância do método para os diversos saberes relacionados aos seres humanos.

FIQUE ATENTO

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=eRDBggKy0js

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1. (UNICAMP/2014) - A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pen- samento filosófico moderno. Neste comportamento, a verdade é atingida através da supressão provisória de todo conhecimento, que passa a ser considerado como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia.

Adaptado de Gerd A. Bornheim. Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Globo, 1970, p. 11.)

A partir do texto, é correto afirmar que:

a) Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes.b) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes.c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes.d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pen- samento filosófico moderno.e) A Filosofia determina que a crítica e a dúvida são caminhos em direção ao falso conhecimento.

2. Segundo Immanuel Kant, o Esclarecimento (Iluminismo) é definido como:

a) A saída do ser humano de seu estado de minoridade mediada pela atitude de ousar saber.b) A permanência do ser humano em um estado de completa dependência de uma razão exterior.c) A saída do ser humano de seu estado de minoridade e descoberta de uma racio- nalidade guiada pelos princípios teocêntricos.d) A permanência do homem em seu estado natural sem ter acesso ao conhecimento racional.e) A ousadia pelo saber estabelecido, de antemão, pela tradição tutelada pela religiosidade.

3. (UECE 2018) – Adaptado - Johannes Hessen afirma, sobre o empirismo e o racio- nalismo na modernidade, que “quem enxerga no pensamento humano, na razão, o único fundamento do conhecimento, está convencido da independência e especifi- cidade psicológica do processo de pensamento. Por outro lado, quem fundamenta todo conhecimento na experiência negará independência, mesmo sob o aspecto psicológico, ao pensamento”

HESSEN, J. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 48.

Relacione empirismo e racionalismo à descrição apresentada por Hessen e assi- nale a afirmação verdadeira.

a) Racionalista é quem entende que o conhecimento depende psicologicamente de fatos extra mentais.b) Empiristas fundamentam todo seu conhecimento na capacidade da razão humana. c) Empirista baseia o conhecimento na experiência e o racionalista entende que a

FIXANDO O CONTEÚDO

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razão é o fundamento do conhecimento.d) Racionalista baseia o conhecimento na experiência e o empirista entende que a razão é o fundamento do conhecimento.e) Empiristas fundamentam todo o seu conhecimento na capacidade sensível da ob- servação e na experiência com a realidade e racionalista compreende o conhecimento como sensibilidade/paixões própria do sujeito.

4. (UNICAMP 2015) - Adaptado

“A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento constitui suficiente prova de que não é inato”.

LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.13.

O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte:

a) Afirma que o conhecimento é inato, pois sua aquisição deriva da racionalidade au- tônoma.b) É uma forma de ceticismo, pois nega que os conhecimentos possam ser obtidos.c) Aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a existência de ideias inatas. d) Acentua o caráter de tabula rasa do sujeito, pois o conhecimento provém apenasda racionalidade.e) Afirma que o conhecimento não é inato, pois sua aquisição deriva da experiência, uma vez que, o sujeito é tabula rasa.

5. O método científico, como determinado por Francis Bacon (1561 - 1626), caracte- riza-se pelo:

a) Surgimento de hipóteses; verificação e documentação rigorosas; consolidação de bases científicas; axiomas.b) Surgimento de hipóteses; acentuação do poder dos ídolos; desconsideração pelas bases científicas; axiomas.c) Axiomas; verificação e documentação rigorosas; contra método; bases científicas; paradigmas.d) Paradigmas; falseabilidades; axiomas; observação; experimentação.e) Surgimento de hipóteses; verificação e documentação rigorosas; consolidação de bases científicas; anarquismo epistemológico.

6. Na obra “A estrutura das revoluções científicas”, Thomas Kuhn apresenta a existência de períodos de Ciência Normal e Revoluções Científicas que rompem com a normalidade do fazer científico orientado pelo paradigma. Diante disso, o paradigma é definido como:

a) Princípio de orientação da ciência normal, figurado como uma contra-regra científica.b) Princípio de orientação da ciência normal capaz de figurar-se como o conjunto de compromissos e procedimentos técnico/teóricos adotados pela comunidade científica garantindo a segurança para o fazer científico.c) Princípio de orientação incompleto, pois na ciência normal têm-se a constante mo- dificação das teorias dominantes.d) Princípio de orientação revolucionário capaz de figurar-se como o conjunto de com-

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promissos e procedimentos técnicos teóricos dogmáticos adotados pela comunidade científica garantindo a volatividade para o fazer científico.e) Princípio de orientação da revolução científica capaz de figurar-se como o conjunto de compromissos e procedimentos técnico/teóricos adotados pela comunidade científica garantindo a segurança para o fazer científico.

7. (UFSM, 2015) Há muitas razões para valorizar a ciência. A importância de prever e explicar fenômenos naturais e facilitar nosso controle de ambientes hostis, facilitando nossa adaptação, é uma delas. Em função do sucesso que a ciência tem em explicar muitos fenômenos, a maioria das pessoas não diretamente envolvidas com atividades científicas tende a pensar que uma teoria científica é um conjunto de leis verdadeiras e infalíveis sobre o mundo natural. Mudanças teóricas radicais na história da ciência (como a substituição de um modelo geocêntrico por um modelo heliocêntrico de explicação do movimento planetário) levaram filósofos a suspeitar dessa imagem das teorias científicas. A teoria da ciência do físico e filósofo austríaco Karl Popper se caracterizou por sustentar que as leis científicas possuem um caráter

I. Hipotético e provisório.II. Assistemático e irracional.III. Matemático e formal.IV. Contraditório e tautológico.

É/São verdadeira s) a(s) assertiva(s):

a) I apenas.b) I e II apenas. c) III apenas.d) II e IV apenas. e) III e IV apenas.

8. O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend é:

a) Um método seguro para obtenção do conhecimento.b) Um método único centrado na ideia de que o conhecimento é imutável. c) Um contra-método definido pela crítica às regras científicas dominantes.d) Um método uniforme e rigoroso de caminho para o conhecimento.e) Um contra-método centrado no rigor das leis científicas.

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METAFÍSICA E ONTOLOGIA

UNIDADE

04

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4.1 METAFÍSICA E ONTOLOGIA: INTRODUÇÃO

Metafísica e ontologia entrelaçam-se na tentativa de compreensão da essência da realidade, a primeira, em caráter mais amplo, pergunta-se, segundo Chauí (2000), justa-mente, pelo “O que é?”. Ao passo que o “é” apresenta dois sentidos: a) existência real; e b) essência do que existe; a segunda, por sua vez, como um ramo da metafísica, tem o ser como questão fundamental. Portanto, pode-se afirmar que a metafísica e a ontologia in-vestigam a existência e a essência em seus diversos aspectos, diferenciando-se, contudo, de acordo com cada período histórico predeterminado pelas teorias vigentes. Assim, a metafísica – enquanto campo do saber filosófico – procura investigar os princípios, fundamentos e causas de todas as coisas perguntando-se sobre o porquê das suas existências e, consequentemente, sobre as suas estruturas mais básicas, isto é: como são; o que são e porque são ou, conforme colocado por Aristóteles, à metafísica destina-se a interrogação das causas primeiras das coisas. A metafísica, no sentido proposto por Aristóteles, apresenta-se como uma ciência universal, centrada nas interrogações sobre o ser enquanto ser e sobre as coisas enquanto existentes não, contudo, como construções opostas, mas sim, complementares.

‘‘O homem é um animal metafísico’’(Arthur Schopenhauer)

A “Metafísica”, de Aristóteles, é a primeira investigação sistemática sobre a essência do Ser enquanto ser em geral. Dividida em quatorze livros, o filósofo buscou discutir as causas, princípios e substâncias que dizem res-peito aos seres. Contudo, Reale (1990) res- salta que: “É sabido que o termo ‘metafísica’ ( = o que está além da física) não é um termo aristotélico [...]. A mais das vezes, Aristóteles usava a expres-são “filosofia primeira” ou ainda “teologia”, em oposição à “filosofia se-gunda”, a física. Entretanto, o termo “metafísica” foi sentido como mais significativo pela posteridade, tornando-se o preferido. Com efeito, a “fi-losofia primeira” é precisamente a ciência que se ocupa das realidades--que-estão-acima-das-realidades-físicas.” (REALE, 1990,p. 179)

VAMOS PENSAR?

Diferentemente de Aristóteles, Platão, conforme visto na Unidade 1, propõe uma divisão radical entre as coisas existentes na realidade e as suas respectivas essências. As-sim, Reale (1990), salienta que já em Platão é possível avistar-se um horizonte metafísico no questionamento platônico acerca da essência das coisas. Sendo assim:

Platão chega até a dizer expressamente que o que ele afirma vale “para todas as coisas”. Isso significa que toda e qualquer coisa física existente supõe uma causa supre-ma e última, que não é de caráter físico, mas sim, como se dirá com uma expressão cunhada posteriormente, de caráter “metafísico” (REALE, 1990, p. 136).

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Não obstante, o dualismo platônico já apontava que a investigação racional sobre a essência das coisas físicas sugere o direcionamento rumo à verdade descolada da realida-de material. Portanto, Platão acentua que o questionamento das coisas em-si repousa, so-bretudo, no abandono da realidade física (material/sensível) rumo ao livre encontro com as ideias, isto é, com as substâncias que conservam em-si mesmo o verdadeiro ser das coisas e, para tanto, residem em um mundo à parte do real, o qual, na esteira de Reale (1990), revela um horizonte metafísico (além do físico). Tal horizonte metafísico platônico expõe uma divisão fundamental à filosofia, à me-tafísica e, como veremos adiante, à ontologia, ao salientar as categorias de não ser e de ser. O Não-ser platônico não é, exatamente, o nada, mas sim, a cópia imperfeita do ser que repousa no mundo real (sensível) e, por conseguinte, distinta da verdade (do essencial) e, finalmente, o ser, cuja essência é imutável (não-muda), no qual repousa a verdade das coi-sas em sua perfectibilidade imperecível no mundo das ideias. Por exemplo, ao comentar o diálogo platônico “O banquete”, Chauí (2000, p.275), apresenta o ser (ideia/essência) do amor (Eros) do seguinte modo:

O amor é o desejo da perfeição imperecível, aquilo que permanece sempre idêntico a si mesmo, que pode ser plenamente conhecido e contemplado pelo puro pensa-mento. Esse amor pela ideia ou essência do belo é amor intelectual. Esse amor pelo inteligível é o desejo de saber: philo sophia, ‘amor pela sabedoria’. Pelo amor, o pensa-mento humano conhece as ideias, portanto, o ser verda-deiro

Em um dos maiores clássicos da literatura, “Hamlet”, de William Shakespeare (1564 - 1616), tem-se a famosa indagação metafísica e ontológica sobre a natureza do ser, sua essência e vi-cissitudes no mundo real “Ser ou não ser, eis a questão”. O filósofo Leandro Karnal, aborda tal indagação demonstrando os amplos desdobramentos filosóficos da questão hamletiana.

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Com o pensamento Aristóteles, tem-se o primeiro sistema como modelo de orga-nização filosófica, isto é, o pensador compõe a filosofia como uma unidade composta por todos os seus campos que se correspondem e se confirmam. Assim, Aristóteles organiza--se a filosofia do seguinte modo:

FILOSOFIA FINALIDADE CAMPO FILOSÓFICO

Teorética Buscar o saber em si mesmo. Metafísica; Física; Matemática (Lógica).

Prática Buscar o saber para atingir a perfei-ção moral.

Ética; Política.

Poiética Buscar o saber em função do fazer. Arte e Técnica.

Quadro 7: A divisão da filosofia segundo AristótelesFonte: Elaborado pelo autor

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O modelo de filosofia sistemática proposto por Aristóteles determina uma modificação no modo de apresentação filosófica em direção a um método rigoroso de argumentação críti-ca, diferente de Platão, seu antecessor, que optou pela utilização dos diálogos (formas literá-rias) com vistas à apresentação racional/conceitual da filosofia. Ademais, o sistema aristoté-lico não prevê a divisão dos campos do saber, uma vez que a filosofia torna- se um modo de investigação extensivo à totalidade, discutindo os aspectos mais elementares da botânica (naturais) até as questões mais metafísicas, como por exemplo, a existência de Deus como substância criadora. Convém ressaltar ainda, que na modernidade a concepção de sistema filosófico alcança o seu apogeu com as filosofias de Baruch Spinoza (1632 - 1677) e Wilhelm Friedrich Hegel (1770 - 1831).

FIQUE ATENTO

Sobre a filosofia de Aristóteles:LINK: https://www.youtube.com/watch?v=f5sljjuTkzg

A partir da configuração sistemática da filosofia de Aristóteles, a metafísica assume destaque enquanto filosofia primeira, justamente, pela visão aristotélica de que ela é capaz de dizer, de fato, a essencialidade dos sujeitos, das coisas e da realidade. Para tanto, não se trata, segundo Aristóteles, da divisão dualista da filosofia, conforme colocado por Platão, mas sim da relação entre existência e essência na investigação da verdade. Nesse sentido, afirma Chauí (2000, p. 276) que, diferentemente, sobretudo, do pensamento pla-tônico:

[...] Aristóteles considera que a essência verdadeira das coisas naturais e dos seres humanos e de suas ações não está no mundo inteligível, separado do mundo sensível, onde as coisas naturais existem e onde vivemos. As es-sências, diz Aristóteles, estão nas próprias coisas, nos pró-prios homens, nas pró- prias ações e é tarefa da Filosofia conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem.

Portanto, a busca pela essência, de acordo com Aristóteles não prevê uma supera-ção da realidade física, mas, pelo contrário, trata-se de conhecer o ser dos sujeitos e das coisas na realidade em que se encontram inseridos demarcando, enfim, um afastamento do modelo dualista platônico de horizonte metafísico. Assim, as elaborações da metafísica aristotélica estão ancoradas numa relação de reciprocidade com a Natureza.

Ademais, diferentemente de Parmê-nides, filósofo pré-socrático, Aristóteles não afirma a imutabilidade ou univocidade do ser, pelo contrário, é justamente o movi-mento (devir) e as diferenças entre os se-res que dá aval ao caráter de verdade do ser.

Figura 9: O liceu de Aristóteles (1883 - 1888) – Gustav Adolph SpangenbergFonte: Domínio público

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Dando sequência, a metafísica aristotélica, assume três objetos principais de inves-tigação: a) o Primeiro Motor (ser divino); b) os princípios e causas primeiras dos seres; c) a substância e os predicados gerais dos seres (CHAUÍ, 2000). Aristóteles afirma a existência de um ser divino determinando como o Primeiro Mo-tor, isto é, como a força motriz do cosmos, a substância plena e perfeita que coloca todo o cosmos em movimento, ao passo, que o Primeiro Motor (divino) é o fim para o qual as coi-sas naturais (em movimento [devir] constante) tendem. Ademais, o filósofo grego, elenca quatro causas primeiras dos seres:

a. causa material (aquilo que o ser é feito; sua matéria prenhe de potência a ser trans-formada);

b. causa formal (a forma que o ser possui; o ato que atualiza a potência contida na ma-téria dando-lhe uma forma; exemplo: a madeira vir a tomar a forma de cadeira);

c. causa eficiente (a explicação da transformação da matéria em forma);d. causa final (a finalidade da existência do objeto; exemplo: a cadeira tem a finalidade

de servir como assento).

Finalmente, a substância é o atributo essencial e acidental de cada ser, ou em outros termos, é a unidade primordial do ser, aquilo que de fato o constitui; os predicados, por sua vez, são constitutivos da substância. Os predicados dizem respeito à configuração essen-cial do ser, assumindo a condição de categorias complementares ou necessárias para a determinação da essência (substância), dizem respeito, portanto, a qualidades, quantida-des, lugares, tempo, ação, posse, paixões e relações que constituem o ser. Deste modo, a metafísica de Aristóteles, coloca em evidência a pertinência do pensamento filosófico na tentativa de afirmar a existência e a essência do ser em um percurso de questionamento racional que, ao fim e ao cabo, é tarefa primária da filosofia dizer o ser enquanto ser. Como vimos anteriormente, a ontologia, isto é, a lógica que visa responder à questão sobre o ser, encontra-se iniciada pelo filósofo pré-socrático Parmênides de Eleia. Parmêni-des conceitua o ser como instância imutável, idêntica, eterna e única causa da realidade, retirando, portanto, toda condição de multiplicidade do ser, diferentemente da metafísica aristotélica que considera o ser em seu movimento e em sua transformação. Durante todo o período moderno, a filosofia retomou o questionamento sobre os limites e determinações metafísicas e ontológicas em suas capacidades de responderem à pergunta pelo ser. Para Kant, todo o percurso de afirmação metafísica tem como ponto de partida a concepção dogmática (inquestionável) da existência de uma realidade supras-sensível, conhecível pela razão, que diz respeito à afirmação de uma realidade em si e por si mesma (metafísica) identicamente correspondente ao mundo real. Diante disso, ao realizar a crítica dos limites da razão, Kant – despertado por Hume (empirista britânico) – afirma que uma realidade em si e por si mesma (realidade do nôu-meno) centrada na existência de um Primeiro Motor (Deus/ o Divino) é impossível de ser conhecida pelo conhecimento racional que, em seu aspecto necessário e universal, deve corresponder, verdadeiramente, à realidade enunciada (realidade fenomênica).

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Kant institui duas ordens de organização da realidade: a) a realidade fenomêni-ca, isto é, aquela que é possível ser conhecida mediante a relação entre a expe-riência (empírico) e a racionalidade e, para tanto, é possível de ser conhecida; b) a realidade do nôumeno (metafísica) que diz respeito aquilo que se encontra além da natureza, sendo que, tal realidade não é perceptível pelos sentidos nem afirmada pelo entendimento e, portanto, ultrapassa os limites da razão

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não sendo possível conhecê-la.LINK:https://www.youtube.com/watch?v=wR8V1Gakpgk

Diante da impossibilidade de conhecer aquilo que se encontra além do fenomê-nico, Kant põe em crise a metafísica instaurando a noção de uma filosofia idealista, na qual a realidade a ser conhecida é uma produção das ideias e representações provenientes do sujeito do conhecimento (sujeito transcendental/ ideal) e não, como se queria ante-riormente, onde a realidade e o ser determinavam-se em si mesmos. Assim, a metafísica vê-se incapaz de dizer o ser em si mesmo (uma vez que tal questionamento ultrapassa os limites da razão), tornando-se, conforme dito por Chauí (2000), uma investigação sobre as “condições gerais da objetividade, isto é, do conhecimento universal e necessário dos fenômenos” (CHAUÍ, 2000, p. 299). Em meados do século XX, o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), afirma que a fi-losofia esqueceu-se de sua questão fundamental: a pergunta pelo ser. Deste modo, dá-se ensejo à ontologia fundamental como questionamento sobre a universalidade do concei-to de ser inserido no mundo: o ser no mundo (o ser-aí [dasein]). Destaca-se, ainda, no pensamento de Heidegger, a busca pela compreensão do sentido do ser e do movimento no tempo em direção à realização das possibilidades do ser, por isso, o título principal obra heideggeriana, “Ser e tempo”. Diante disso, a ontologia heideggeriana, apresenta as relações entre o ser e o ente como configurações determi-nantes da ontologia fundamental, ao passo que, se o ser é, o ente pode ser entendido, em sentido geral, como a sua manifestação em tudo o que se é referido. Dividida em três correntes, a ontologia determina-se do seguinte modo:

Ontologia do Uno

Univocidade do ser; Determinação única da essência e do real.

Parmênides; Platão

Ontologia do Ser

Multiplicidade do ser condicionada às suas categorias e determinações

Aristóteles

Ontologia do tempo

Reintrodução da pergunta pelo ser; o ser se determi-na no mundo e no movimento do tempo e em suas realizações.

Heidegger

Quadro 8: Ontologias (adaptado de “O que é ontologia”Fonte: Elaborado pelo autor

O professor Pedro Rennó, no vídeo “O que é ontologia? ”, do canal “Parabólicas”, apresenta um importante resumo do que significa Ontologia.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=sVR71qrLRZ8

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4.2 FILOSOFIA DA RELIGIÃO

A religião propõe uma relação de proximidade entre o sujeito e a experiência do sa-grado. Seja na Grécia Antiga, como vimos anteriormente, com a recorrência ao politeísmo dos mitos para explicação da origem do mundo e ordenação do cosmos, seja na configu-ração de experiências religiosas monoteístas – judaísmo, cristianismo, islamismo – o sujeito procura respostas para fenômenos naturais e sobrenaturais. A filosofia da religião, por sua vez, investiga, justamente, a relação do humano com o sagrado buscando, sobretudo, compreender a multiplicidade de questões oriundas desse encontro, tais como: a relação entre fé e razão; a existência de Deus; os valores de bem e de mal e outros postulados reli-giosos. É na Idade Média que ocorre o fortalecimento da tradição religiosa e, principalmen-te, o surgimento de correntes filosóficas pautadas na indissociabilidade entre fé e razão, determinando, para tanto, uma razão teológica. Santo Agostinho, Bispo de Hipona, é um dos principais filósofos da religião. Com base no dualismo platônico – na superação do mundo sensível – Agostinho introduz o ideal da Patrística como modo de conduta, baseado no controle racional das paixões, para uma vida regrada em direção ao mundo dos céus.

‘‘As religiões, assim como as luzes, necessitam de escuridão para brilhar.’’

Arthur Schopenhauer

A Patrística é uma doutrina teológica e filosófica que propõe a reto-mada da filosofia de Platão (neoplatonismo) para a educação moral dos seres humanos, fundando-se, para tanto, no dualismo entre graça (bem) e pecado (mal) e na necessidade da consolidação de uma mo-ral rigorosa, pautada pelo controle das sensibilidades, das paixões e a predileção por um mundo celestial (graça), superior e desvinculado da

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realidade.

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=hpf_Gjq2RyE

O pensamento agostiniano fortalece a ideia da razão teológica, ao introduzir a Reve-lação religiosa como elemento indispensável à meditação filosófica, ao passo que, siste-matizando a experiência cristã, Agostinho propõe a exposição racional da doutrina religio-sa ao acentuar que a verdade é iluminada pela fé ou, em outros termos, o sujeito só pode alcançar a verdade das coisas iluminadas por Deus. Trata-se, portanto, da ideia da fé e da razão como instâncias complementares no exercício do conhecimento, pois, como núcleo de seu pensamento Agostinho fornece à máxima: compreende para crer, crê para compreender (intellige ut credas, crede ut in-telligas), significando: “Com efeito, compreendendo aquilo em que se deve crer, cremos e, crendo, podemos compreender aquilo em que cremos” (CAMPOS,2007, p. 11-12) ou,

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ainda, atestando que a razão transforma-se em um meio de se compreender a experiên-cia de fé e a fé, portanto, é o caminho para o conhecimento que é produto do Divino. Juntamente com Agostinho, São Tomás de Aquino (1225 – 1274) destaca-se como um importante filósofo da religião. Ligado a Escolástica e ao pensamento aristotélico, To-más de Aquino procurou auxiliar na transmissão da doutrina religiosa por meio do estudo, da leitura e do comentário dos textos Sagrados. Diante disso, o pensamento tomista volta--se para a educação do sujeito em termos diretamente relacionados com o fortalecimen-to da doutrina cristã no combate às heresias e nas fundamentações dos conceitos de bem e de mal. Ademais, o pensamento de Tomás de Aquino, na “Suma Teológica”, possui a inten-ção de apresentar argumentos racionais para a existência de Deus em cinco vias:

1. a via do movimento: o Primeiro Motor, aquilo que coloca tudo em movimento, é Deus;

2. a via da causa eficiente: Deus é a causa primeira para todas as coisas, pois, nada pode ser a causa eficiente de si mesma;

3. a via do contingente e o necessário: o mundo é preenchido por coisas contin-gentes (que existem, mas poderiam não existir) e, para tais coisas, é fundamental a existência de algo necessário (imperecível), esse algo é Deus;

4. a via dos graus de perfeição: Deus é a fonte da Suma Perfeição e, portanto, a fonte do ser;

5. a via da finalidade das coisas: Deus, enquanto ser inteligente, dirige a finalidade das coisas e dos seres.

O artigo “Tomás de Aquino e os argumentos para provar a existência de Deus (ou sobre as cinco vias)”, do Professor Lira (2014), apresenta uma importante discussão sobre o pensamento e a fundamentação argumentativa de Tomás de Aquino.LINK: https://frankwcl.atavist.com/tomas-de-aquino-e-os-argumentos-para-pro-var-existencia- de-deus-ou-sobre-cinco-vias

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De fato, na Idade Média têm-se a introdução de valores morais que servirão como guias futuros para a constituição da sociedade moderna, mesmo que tal tradição seja questionada ele permanecerá como um poder atemporal na condução dos sujeitos. O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) apresenta uma crítica radical aos valores da tradição religiosa judaico-cristã. Acentuando a crítica às doutrinas metafí-sicas, isto é, as tradições de pensamento que retiram da realidade a busca pela realização humana, atribuindo-a a destinações ideias (Platão) ou divinas (Religiões), Nietzsche, na obra “Gaia Ciência”, atesta a morte de Deus e o fim das certezas metafísicas reafirmando a existência do humano como ligada a natureza física da realidade. Nesse sentido, o pensador alemão propõe a transvaloração dos valores, exigindo o rompimento com os valores autoconservados pelas tradições metafísicas, com as deter-minações de bem e de mal e, principalmente, afirmando valores humanos (não metafísi-cos/ nada além do próprio humano) visando buscar a realização/afirmação incondicional de cada instante vivido, acolhendo, portanto, a beleza da condição de finitude do sujeito.

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Na obra “Ecce Hommo”, Nietzsche faz uma apresentação geral de sua filoso-fia destacando os conceitos centrais na crítica à moralidade religiosa, desta-cando a necessidade de uma filosofia do martelo.

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1. A Metafísica, como ciência primeira que questiona as causas primeiras das coisas, procura:

a) Conhecer a ciência e o métodos de experimentação científica.b) Compreender a existência e a essência das coisas, da realidade e dos seres;c) Responder a questionamentos de ordem filosófica diretamente relacionadas com a fundamentação apenas da realidade material.d) Compreender, em caráter amplo, a determinação dos seres humanos em sociedade e o alcance de suas ações.e) Responder à questão sobre o conhecimento como campo estritamente racional do sujeito.

2. O pensamento de Platão apresenta um horizonte metafísico determinado pela primazia do mundo das ideias sobre o mundo físico. Aristóteles, por sua vez, discorda de Platão afirmando que as essências dos seres e das coisas encontram-se fundadas na realidade experiencial. Diante disso, podemos afirmar o seguinte:

a) Ambos os pensadores entendem a concepção da metafísica (além-da-realidade) como um processo de superação do caráter experiencial/sensorial da realidade.b) O dualismo platônico, ao fundamentar-se como uma doutrina da soberania da sen- sibilidade, opõe-se ao pensamento aristotélico que considera o ser em sua multiplicidade de movimentos (devires).c) A busca pela essência, de acordo com Aristóteles, não prevê uma superação da realidade física, mas sim uma relação de reciprocidade com o real. Platão, por sua vez, conceitua que a realidade é o reino do Não-ser, a cópia imperfeita do ser, portanto, não é capaz de conter a essência verdadeira.d) Aristóteles concebe a ideia de ser como algo único, imutável e imóvel. Platão concebe a existência do ser no mundo das ideias, distanciado, para tanto, da concepção falsa do real.e) O verdadeiro ser das coisas, para Platão, repousa na idealidade metafísica da essência imutável. Logo, dizer o ser na metafísica de Aristóteles prevê uma continuidade com a razão ideal platônica.

3. O sistema filosófico de Aristóteles apresenta a seguinte divisão da filosofia:

a) Teorética; Prática; Estética.b) Prática; Epistemológica; Poiética. c) Técnica; Estética; Prática.d) Metafísica; Teorética; Prática. e) Teorética; Prática; Poiética.

4. A filosofia primeira, segundo Aristóteles, apresenta três objetos principais de in- vestigação: o Primeiro Motor; os princípios e as causas primeiras e a substância e os predicados gerais. Diante disso, assinale a alternativa contendo as causas primeiras dos seres conforme destacado pela metafísica aristotélica:

FIXANDO O CONTEÚDO

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a) Causa material; causa formal; causa eficiente; causa final.b) Causa material; causa informal; causa substancial; causa final.c) Causa substancial; causa fenomênica; causa formal; causa material. d) Causa nôumenica; causa material.; causa formal; causa final.e) Causa fenomênica; causa formal; causa eficiente; causa final.

5. Immanuel Kant, filósofo moderno, determina o período de crise da metafísica, ins- taurando a filosofia idealista. Nesse sentido, o período de crise da metafísica é fomentado pelos limites da razão, tal limitação revela que:

a) O conhecimento racional é capaz de conhecer todos os campos da realidade, incluindo aquilo que se encontra para além-da-realidade-física.b) O conhecimento racional é limitado pelas barreiras propostas pelos sentidos em sua busca de afirmação do horizonte metafísico.c) O conhecimento racional é incapaz de conhecer a realidade por si mesma centrada na existência de fatores metafísicos, portanto, deve ater-se à realidade passível de ser enunciada pelo sujeito.d) O conhecimento racional é ilimitado, portanto retira o sujeito de seu estado de mi- noridade fazendo-o capaz de se autodeterminar enquanto sujeito do conhecimento.e) O conhecimento racional é incapaz de conhecer os fenômenos experienciais do real, devendo, para tal, limitar-se a responder questões para além-da-realidade- física.

6. Acerca da ontologia, considere as afirmativas a seguir:

I. A Ontologia do Uno diz respeito à univocidade do ser enquanto essencialmente imutável.

II. A Ontologia do Tempo insere a questão do ser em relação direta com as suas determinações/movimentações temporais.

III. A Ontologia do Ser trata de um ser múltiplo condicionado às suas categorias e determinações predicativas.

IV. A Ontologia é um ramo da metafísica responsável por buscar responder à pergunta pela essencialidade do ser.

stão corretas apenas:

a) I e IVb) I, II e IVc) II, III e IVd) Todas as alternativas e) II e III

7. Os filósofos Agostinho de Hipona (Patrística) e Tomás de Aquino (Escolástica), são os grandes expoentes do pensamento na Idade Média. Tal pensamento caracteriza-se:

a) Pela junção entre racionalidade e cientificismo.b) Pela separação entre racionalidade e espiritualidade (fé).

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c) Pela junção entre racionalidade e espiritualidade (fé).d) Pela junção entre espiritualidade (fé) e sensibilidade. e) Pela separação entre racionalidade e sensibilidade.

8. O movimento de transvaloração dos valores, segundo Nietzsche afirma:

a) A ruptura com os valores autoconservados pela tradição e a afirmação do humano frente às narrativas metafísicas.b) A ruptura com os valores humanos e a afirmação dos valores tradicionais/religiosos.c) O humano enquanto ser orientado pela fé e pela razão na busca pela Revelação do conhecimento.d) O humano demasiado humano preenchido pela experiência oceânica do sagrado. e) A ruptura com o instante vivido e com a finidade, com a finalidade de assentar aideia de humano em um horizonte pleno de metafísica.

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FILOSOFIA DA ARTE UNIDADE

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5.1 ESTÉTICA: INTRODUÇÃO HISTÓRICA

A relação entre a filosofia e arte é antiga. A busca pela definição de arte e do belo remete-se à Grécia Clássica. Lá, o surgimento do termo aísthesis, compreendido como sen-sação, percepção, sentimento já indicava a fundamentação, posterior, da Estética como disciplina filosófica ligada às artes e aos sentidos. Contudo, é tão somente na modernida-de que a Estética encontrara por meio de Alexander Baumgarten (1714 – 1762) fundamen-tação científica atrelada ao racionalismo moderno. Contudo, a investigação sobre o belo torna-se um tema recorrente nos diálogos de Platão. Na “República”, o filósofo idealista, advoga em favor de uma arte colocada a serviço da cidade ideal e, consequentemente, em consonância com o processo racional de for-mação (paideia) dos sujeitos da polis. Como já é sabido, Platão institui a separação entre mundo sensível e mundo inteligível (ideal), compreendendo, portanto, as emanações sensíveis como distanciadas do conhecimento verdadeiro. Assim, a arte assume um cará-ter marginal na República de Platão, a saber, o papel de desviar os sujeitos do caminho em direção à formação racionalmente delimitada. Compreendendo a arte como imitação (mímesis), Platão a afasta da verdade con-tida no mundo das ideais, uma vez que, se o mundo sensível, como vimos anteriormen-te, fornece, tão somente, uma cópia da verdade, a arte, por sua vez, encontra-se afastada ainda mais da realidade por figurar-se como a cópia da cópia da verdade. Portanto, por ter acesso à realidade através dos sentidos, a única coisa que a arte é capaz de imitar é a realidade sensível (a cópia da verdade) que lhe chega aosolhos. Assim, diante da necessidade imposta por Platão da formação de ser humanos ra-cionais aptos para a condução e defesa da cidade, tem-se a radicalização da postura do filósofo, nos capítulos “III” e “X” da República, com a eleição de Homero como o grande inimigo da cidade ideal e, consequentemente, a expulsão de todos os poetas devido à pro-fusão de modelos imitativos não-virtuosos. Ademais, o Belo a que Platão se refere em diversos diálogos, entre os quais desta-cam-se o “Íon”, o “Hípias Maior” e a “República”, não seria, de modo algum, a beleza obtida pelos sentidos, pelo contrário, seria o Belo conhecido pelos olhos da alma, alcançado pela racionalidade, promovendo, para tanto, a identidade entre beleza e verdade, pois, o co-nhecimento da verdade já é, em si, a expressão máxima da Belo para Platão.

‘‘A arte existe porque a vida não basta.’’ (Ferreira Gullar)

É evidente a condenação platônica dos sentidos e da sensibilidade em face do desenvolvimento da perspectiva racional da alma. Entretanto, é inte-ressante notarmos que o filósofo idealista adota o diálogo como modelo de apresentação filosófica. O diálogo, nada mais é, que uma forma literária e, portanto, artística. O que nos leva a pensar: será que Platão já fazia ciência do imenso potencial cognitivo da arte e, assim, elegeu uma forma artística como meio mais proeminente de filosofia?

VAMOS PENSAR?

O pensador (1902) – Auguste Rodin

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É com o Aristóteles que ocorre uma espécie de reabilitação da arte imitativa no es-paço da polis. Deste modo, como salienta Barros, tem-se a retirada:

[...] da fachada duvidosa e sedutora – a um só tempo “enganosa” e “admirável” – na qual havia sido expos-ta pela metafísica platônica, a filosofia aristotélica tratará de recuperá-la em termos de sua realização antropológico-cultural, associando o comprazimen-to mimético ao próprio processo de aprendizagem (BARROS, 2012, p. 35).

Assim, trata-se da reconsideração da arte imitativa em suas dimensões antropoló-gicas e culturais, compreendendo a imitação como um traço congênito ao sujeito, pois, desde o nascimento, o ser humano apreende o mundo por meio da imitação (o bebê que imita os gestos d os pais) e, não somente, passa a fazer parte da cultura dos habitantes da polis o deleite com as artes da imitação. É, justamente, na “Poética”, que Aristóteles realiza a realiza tal processo de reconsi-deração pelo potencial educativo da arte ao discutir a arte literária: a epopeia e a tragé-dia. Dando ensejo à arte imitativa não como a descrição literal da realidade, mas como um processo de verossimilhança que se propõe fazer uso do real e, até mesmo, dos mitos como matéria-prima para a construção da arte, Aristóteles acentua o caráter potencial-mente didático da arte trágica como a “imitação de homens melhores do que nós” (ARIS-TÓTELES, 1993, p. 81). Apresentada como a “imitação de uma ação de caráter elevado, de completa e certa extensão” capaz de suscitar “terror e piedade” tendo “por efeito a purificação dessas emo-ções” (ARISTÓTELES, 1993, p. 37). A arte trágica coloca-se como todo ordenadamente construído para a produção do efeito desejado: a catarse, isto é, a purificação de elementos sensíveis indesejados ao conví-vio social. Deste modo, uma vez que o sujeito, por meio da verossimilhança, se reconhece e reflete sobre a cena representada dramaticamente, ele é capaz de manter um nível de envolvimento com a peça que o faz expurgar os ânimos mais elevados, conferindo, dife-rentemente de Platão, uma aplicação determinante para a arte no cenário social da polis, acentuando ainda que “sentir e pensar não são com plemente incompatíveis” (BARROS, 2012, p. 47).

Para Aristóteles, a tragédia mais bela, ou seja, aquela que melhor alinha os requisitos da grandeza, extensão, duração e do efeito ordenado com desdo-bramentos climáticos excep- cionais é a peça “Édipo Rei”, do dramaturgo Só-focles (497 a.C. – 405 a.C)

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LINK: https://www.youtube.com/watch?v=YemeaEEVN5k

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Na Idade Média, a relação entre filosofia e arte é participante das relações entre fé e racionalidade, em outras palavras, a arte encontra-se a serviço da Igreja Católica sendo, portanto, uma expressão de fé e, consequentemente, afirmação da doutrina religiosa. O belo, para tanto, estaria emanando de influência teológica e suas determinações obedeceriam às máximas da Igreja. Com efeito, a finalidade (o telos) da arte, conforme dito por Tomás de Aquino, era ensinar, lembrar e comover segundo as determinações eclesiásticas do catolicismo.

Figura 10 : O jardim das delícias (1504)Fonte: Domínio público

Como dito anteriormente, é na modernidade que disciplina Estética irá adquirir o caráter de investigação sistemática e racional sobre o belo. A partir de Baumgarten, a Es-tética ganha status de “ciência do conhecimento sensitivo” (BAUGARTEM, 2012, p. 70) que procura, no ínterim da elevação do racionalismo, definir os aspectos do belo artístico em relação paradoxal de diferenciação e de reciprocidade com o belo natural. Enfim, a discipli-na Estética busca delimitar o os caráteres da beleza e do conhecimento sensível presente nas artes. Frente a isso, Nunes (1999, p. 06), atesta que na modernidade:

A reflexão filosófica em torno da Arte derivou, assim, para uma ciência que fez da apreciação da Beleza o seu tema fundamental. Fruto de certas ten- dências mani-festadas no pensamento teórico desde o século XVII, a nova ciência concebeu a Arte como aquele produto da atividade humana que, obe- decendo a determinados princípios, tem por fim produzir artificialmente os múl-tiplos aspectos de uma só beleza universal, apanágio das coisas naturais.

Assim, impulsionada pelas revoluções teóricas propostas pelo Iluminismo e, portan-to, distanciando-se das determinações conferidas pela Idade Média, a arte assume uma posição laica e, por conseguinte, mais livre em suas temáticas e destinações, restando à filosofia proferir juízos sobre as múltiplas configurações do fazer artístico atentando-se para o fortalecimento de conceitos importantes, tais como, o gosto e o sublime.

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Gosto não se discute?Para o filósofo David Hume o gosto é objeto da reflexão filosófica, logo, é motivo de discussão. Assim, para Hume: “É natural que se procure um Padrão de Gosto, uma regra capaz de conciliar as diversas opiniões dos homens, um consenso estabelecido que faça com que uma opinião seja aprovada e outra condenada.” (HUME, 2012, p. 94). É, justamente, no texto “Do padrão do gosto” que Hume apresentará algumas carac-terísticas inerentes ao crítico ideal, o sujeito educado sem preconceitos, capaz de afirmar a beleza e a permanência de uma determinada obra de arte.

VAMOS PENSAR?

Tornando-se um objeto da reflexão filosófica, a arte passa a ser pensada por diferen-ciados filósofos e, para tanto, sujeita às mais diversas tentativas de conceituação do que vem a ser o seu caráter e, consequentemente, o entendimento do belo artístico. Kant fornece uma importante contribuição à fundamentação da estética na obra “Crítica da faculdade de julgar”. Com efeito, o pensador busca definir a experiência estéti-ca, situando-a em uma relação direta entre o sujeito e o objeto delimitada não pelo enten-dimento (pela lógica), mas sim, pela faculdade da imaginação, configurando-se, portanto, como uma experiência subjetiva na qual é o sujeito sensível que julga, tornando-se um juízo de gosto (juízo reflexivo/juízo estético). Em outros termos, na experiência estética kantiana, os objetos por si mesmo “des-pertam e alimentam em nosso espírito uma atitude que não visa ao conhecimento e à consecução dos interesses práticos da vida”, são deste modo, encontrados na experiên-cia baseada na “atitude contemplativa, de caráter desinteressado” (NUNES, 1999, p. 08, grifo nosso). Diante disso, através da experiência estética, Kant, define o belo do seguinte modo: o belo é um objeto independente de todo interesse, representado sem a necessidade de conceitos e que apraz universalmente.

Kant, na “Crítica da faculdade de julgar”, também discute outro senti-mento: o sublime. “Denominamos sublime o que é absolutamente gran-de”, diz Kant (KANT, 2012, p.138). É, portanto, um sentimento que ultra-passa a capa- cidade de apreensão sensível e falha da imaginação em compreendê-lo, gerando, assim, um sentimento de desprazer, suplan-tado, tão somente, pela ação do entendi- mento no auxílio à compre-ensão de tamanha grandeza e, finalmente, gerando prazer. Podemos, então, entendê-lo como um sentimento de prazer antecedido por um senti- mento de desprazer.

FIQUE ATENTO

Link: https://www.youtube.com/watch?v=SqyLSVLOQyM

David Hume (1711- 1776)

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A estética e a filosofia da arte ganham fôlego e renovação com a perspectiva ro-mântica da Filosofia Idealista e a instituição do gênio. Ocorre com a determinação do gênio a configuração da ideia do ser humano amplamente imaginativo, inspirado e, so-bretudo, criador capaz de, enfim, romper com as tradições artísticas anteriores e atingir a idealidade em sua representação da natureza. Deste modo, não se trata apenas de imitar (mímesis) o belo natural, mas sim, de atuar efetivamente na ativação de uma natureza viva e criadora. Ao passo que, o artista não é, tão somente, um imitador da natureza, pelo contrário, o gênio é um partícipe da própria força natural, uma vez que ambos – artista e natureza – são pensados, conforme proposto por Friedrich Schelling (1775 – 1854), como a unidade entre espírito criativo e natureza. O pensamento sistemático de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), busca o entendimento do Absoluto, isto é, a compreensão da realidade em “todas as suas relações, inteiramente explicitada e reconstruída pelo pensamento” (NUNES,1999, p. 29). A arte integra o sistema hegeliano como uma manifestação primária do espírito, co-locando, portanto, o belo artístico como superior ao belo natural, uma vez que a arte é produto do espírito humano, ela se faz superior a qualquer manifestação do natural. Diferentemente da ideia de uma identidade entre natureza e gênio criador, como vimos acima, o pensamento hegeliano pressupõe uma separação entre cultura e nature-za, acentuando, como coloca Chauí (2000, p. 372) a palavra cultura como “os resultados daquela formação ou educação dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado”. Tem-se, assim, uma distinção determinante entre a natureza, compreendida como o reino das necessidades ou o local de ordenações de causa e efeito, e, a cultura como o produto da racionalidade livre do sujeito e, como afirmado por Hegel, mais próxima do espírito. E, finalmente, como veremos a seguir, as teorias filosóficas contemporâneas de-bruçam-se, cada vez mais, com a perspectiva da arte em seu estado de desligamento da natureza com o arrefecimento das técnicas artísticas e, subsequentemente, das técnicas de reprodução de imagens.

Hegel elabora o seu pensamento sobre as artes nos “Cursos de estética”, procurando questionar o histórico da arte desde as suas origens eviden-ciando os modos de fazer artístico ao longo do tempo.Mais sobre o pensamento estético de Hegel: LINK:https://www.youtube.com/watch?v=ouvxt-3apfk

VAMOS PENSAR?

5.2 A FILOSOFIA E ARTE: NOVAS IMAGENS E O CONTEMPORÂNEO

‘‘A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade. ‘‘(Pablo Picasso)

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770- 1831)

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Com a evolução dos meios técnicos de entendimento da realidade, no início do sé-culo XX, impulsionada, sobretudo, pelos desenvolvimentos científicos e Revoluções Indus-triais, a arte adentra em um novo regime de representação. O surgimento das vanguar-das artísticas - cubismo, dadaísmo, surrealismo, entre outras – e a consequente ruptura com o modelo clássico de arte, fornece um outro instituto às chamadas artes.

Os movimentos de vanguardas artísticas surgidas na Europa a dotavam como di-recionamentos centrais a ruptura com toda a tradição artística anterior procuran-do com a utilização de materiais diversos, novas técnicas e, principalmente, com a livre experimentação apresentar novos e diferentes caminhos para a arte.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=-1BK3KRLTtk

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O artista Marcel Duchamp (1887 - 1968), por exemplo, ao submeter “A fonte” para uma exposição artística, acentua ainda mais o debate sobre o que é arte. Desolando, por-tanto, o campo de pensamento sobre a arte para discussões até então inexistente.

Figura 11 : A fonte (1917) - Marcel DuchampFonte: Domínio público

Não se trata, tão somente, da eclosão de novas diretrizes artísticas, mas, principal-mente da reformulação do campo perceptível do sujeito e da sociedade, pois, novas tendências, suportes e objetos artísticos surgem com a finalidade, justamente, de colocar questões centrais para a arte, para o artista e para o filósofo. Essa reformulação sugere a diluição dos limites de cada campo artístico, dando a entender que as antigas fronteiras entre os diversos tipos de arte encontram-se, para tanto, diluídas. Tal diluição de fronteiras dá-se, de modo exemplar, com a inserção de elementos tecnológicos na atitude do fazer artísticos. Ou seja, a revolução científica que irrompeu em todos os campos de atuação do sujeito também influenciou os novos modos de fazer arte, especialmente, no que diz respeito à fotografia e ao cinema. Nesse sentido, segundo Barros, “no início do século XX, o espectador já não se encon-trará na presença de uma obra visual cujo propósito é o de mostrar uma perspectiva segura exata do mundo” (BARROS, 2012, p. 117), mas, pelo contrário, a arte da técnica da reprodução de imagens abre-se ao sujeito como um novo mundo artístico efetivamente e rapidamente traduzível à experiência do sujeito.

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Os irmãos Lumière destacam-se como os criadores do cinema. A primeira exi-bição cinematográfica ocorreu em Paris, no ano de 1895, e foi marcada por um episódio interessante. A exibição do filme “A chegada do trem à Estação Ciolat”, proporcionou ao público um pequeno espanto, pois, os espectadores as-sustaram-se com a imagem cinematográfica da chegada do trem, chegando a abandoarem a sessão. Tal episódio ilustra a mudança significativa da percep-ção ocasionada pela chega da do cinema que reproduzia imagens em movi-mento.

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Em outros termos, a arte cinematográfica adequa-se à rápida e chocante experi-ência do sujeito na nascente sociedade capitalista marcada, sobretudo, pelo tempo dedicado ao trabalho, substituindo, portanto, a antiga contemplação demorada da arte, o valor de culto, conforme dito pelo pensador alemão Walter Benjamin (1892- 1940), pela frenética exposição imagética, cuja valoração é medida pelo maior alcance expositivo (va-lor de exposição). Deste modo, o cinema institui-se como uma arte destinada ao controle das massas: arte para as massas. É interessante notarmos que Benjamin (2012), no ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, ressalta, em tom crítico, que a transformação do cará-ter da arte e, consequentemente, o declínio do valor de culto da obra de arte encon-tram-se, intrinsecamente, ligados ao “aumento crescente das massas” e a necessidade de “orientação da realidade para as massas e das massas para a realidade” (BENJAMIN, 2012, p. 286). Em outras palavras, a reprodução tecnológica proporcionaria uma interseção entre as massas e a nova realidade tecnológica, dando às massas apenas uma imagem superfi-cial da realidade, orientada segundo os donos do capital econômico e dos meios de repro-dução cinematográfica.

O filósofo Walter Benjamin, integra ao lado de Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse e Jünger Habermas, a chamada Escola de Frankfurt. Em termos gerais, o grupo de teóricos objetivou pensar as mo-dificações da sociedade ocasionadas pelo controle econômico e político do capitalismo.

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A autora Viviane Rodrigues D.S. Ramos, na obra “Teoria crí-tica e Escola de Frankfurt: uma análise interdisciplinar da sociedade”, oferece um panorama preciso sobre os conceitos e pen- sadores frankfurtianos.LINK:https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica-cao/177815

Walter Benjamin (1892 - 1940)

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É com Theodor W. Adorno (1903 – 1969) que o pensamento filosófico direciona as suas reflexões sobre as relações entre arte e capitalismo. Fundamentando a ideia de Indústria Cultural, Adorno pensa a produção artística e cultural a partir da lógica da produção indus-trial, determinando, portanto, que a arte tem a mesma identidade da mercadoria e, deste modo, destina-se à obtenção do lucro. Diante disso, ocorre uma produção massificada de conteúdos artísticos/culturais de qualidade duvidosa, com a intenção de preencher o tempo livre do sujeito, impedindo, sobretudo, que este reflita sobre as condições de exploração a que se encontra subme-tido. Diante disso, para Adorno, uma arte a serviço do capitalismo, destituída de seu po-tencial transformador, fundamenta uma sociedade de indivíduos controlados incapazes, inclusive, de refletirem sobre os conteúdos dos produtos artísticos que consomem.

Como vimos, segundo Adorno a produção artística vinculada à Indústria Cultual produz constructos artísticos de qualidade duvidosa e direcionados, principalmente, a obtenção do lucro. Deste modo, como podemos pensar os fenômenos artísticos de hoje, como por exemplo, os blockbusters cinematográficos de imensas bilheterias? Seriam eles as grandes obras artísticas atuais ou produtos carentes de reflexão e, por conseguinte, apenas um entre-tenimento rápido e de grande infecundidade intelectual?

VAMOS PENSAR?

Um dos maiores desafios da filosofia da arte surge em face da enorme profusão de elementos artísticos da arte contemporânea. Situamos, a partir de Duchamp, o nasci-mento desta relação difusa da arte com outros objetos não artísticos, mas é na contem-poraneidade, sobretudo, com os ready-mades de Andy Warhol (1928 - 1987) que a arte, de fato, adentra no mundo do conceito.

Figura 12 : Brillo Box (1964) – Andy WarholFonte: Domínio público

A pop-art, de Warhol, ao introduzir objetos do cotidiano (caixas de sabão em pó [as Brillo Box]; latas de sopa [Sopa Campbell], etc.) como obras de arte rompe com a definição clássica de arte e torna ainda mais fluídas as fronteiras entre aquilo que era considerado arte e a não-arte, restando a necessidade, como colocado pelo filósofo Arthur Danto (1924 - 2013), da ação efetiva do conceito filosófico para a determinação do que é considerado arte, sinalizando, portanto, o fim da arte. Diante disso, segundo Danto (2012), a compreensão da arte como conceito filo-sófico aponta para o fim da significação autônoma da obra de arte. Nesse sentido, no entendimento contemporâneo da arte, para que algum objeto seja considerado obra de

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arte é preciso que um conjunto de determinações conceituais ateste o significado artístico do objeto ou, conforme afirmado pelo pensador, é precioso que a teoria confira respaldo ao teor artístico do objeto. Entramos deste modo, na teoria que Danto (2012) chamou de Mundo da Arte, isto é, na compreensão de que o espaço institucional do Museu, preenchido pelo regime de críticas, de interpretações e de conceitos, garante o caráter de arte às obras pertencentes a tal espaço.

O Museu do Inhotim reúne um dos maiores acervos de arte contem-porânea do Brasil. Composto por obras de importantes artistas, No acervo de Inhotim pode-se destacar a instalação “Beam Drop Inho-tim” (2008), de Chis Burden.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=VVDiohAl8cM

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O percurso filosófico sobre a arte encontra-se vinculado a potentes transformações artísticas e conceituais, lidando, portanto, com a difícil tarefa das definições de arte e de beleza, pois, em seus desdobramentos ao logo da história, ambos os conceitos se apresen-taram como móveis e mutáveis.

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1. O termo mímesis, presente nas estéticas de Platão e de Aristóteles, significa:

a) Aparência. b) Essência. c) Imitação.d) Reprodução.e) Arte.

2. (Uel 2015) Leia os textos a seguir:

A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição.

Adaptado de: PLATÃO. A República. 7.ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira.

Lisboa: Ca- louste Gulbenkian, 1993. p. 457.

O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado.Adaptado de: ARISTÓTELES. Poética. 4.ed. Trad. De Eudoro de Souza.

São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 203. Coleção “Os Pensadores”.

Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão e Aristóteles, assinale a alternativa correta.

a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomênicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem.b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do ar- tista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia.c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à reprodução de objetos existen- tes, o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida.d) Aristóteles concebe a mímesis artística como uma atividade que reproduz passiva- mente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das coisas segundo uma nova dimensão.e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador.

3. (Uema) (Adaptada) Considere o texto a seguir e as demais discussões realizadas acima:

O juízo estético em Kant é uma intuição do inteligível no sensível, em que o sujeito não proporciona nenhum conhecimento do objeto que provoca, não consiste em um juízo sobre a

perfeição do objeto, é válido independentemente dos conceitos e das sensações produzidas pelo objeto

TAVARES, Manoel; FERRO, Mário. Análise da obra fundamentos da metafísica dos costumes de Kant.

Lisboa- Portugal: Editorial Presença, [s.d.]. p. 43-44.

FIXANDO O CONTEÚDO

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Deste modo, segundo o pensamento de Kant, a estética é uma intuição de ordem:

a) objetiva. b) cognitiva.c) subjetiva e cognitiva. d) subjetiva e objetiva. e) subjetiva.

4. (Uenp) (Adaptado) A Estética é um ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o juízo e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes.

Sobre filosofia estética julgue as proposições:

I. Aristóteles desvaloriza as manifestações artísticas, posto que as considera como imitação da imitação.

II. Platão desenvolve um conceito de beleza baseado na ideia de proporciona- lidade, na simetria e na definição.

III. Hume sugere uma teoria do gosto no ensaio “Do padrão do gosto”.

Assinale a alternativa correta:a) I, II e III estão corretas. b) I e III estão corretas.c) II e III estão corretas.d) apenas III está correta. e) todas estão incorretas.

5. A arte integra o sistema hegeliano como uma manifestação primária do espirito humano. Assim, segundo o pensamento de Hegel:

a) O belo artístico é superior ao belo natural, pois é produto do humano. b) O belo natural é superior ao belo artístico, pois é produto do natural.c) O belo artístico é igual ao belo natural, pois ambos são produtos do espirito humano.d) O belo natural é inferior ao belo artístico, pois é produto do humano. e) O belo artístico é superior ao belo natural, pois é produto do natural.

6. As vanguardas artísticas inauguradas por Marcel Duchamp diluem as antigas fronteiras entre arte e não-arte com a inserção de novos objetos e novas técnicas de arte. Como efeito de tal diluição pode-se apontar:

a) O fortalecimento das fronteiras entre arte e não-arte. b) A ruptura com as técnicas de reprodução imagética.c) A reformulação do campo perceptível do sujeito e da sociedade. d) A constatação de que a arte e não-arte são campos separados. e) O fortalecimento dos dogmas artísticos tradicionais.

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7. De acordo com Walter Benjamin, o cinema institui-se como uma arte voltada para as massas. Nesse sentido, podemos ressaltar utilização inicial do cinema do seguinte modo:

a) Como a superação do valor de culto da arte tradicional e acentuação do valor de exposição e, consequentemente, do modo de ordenação das massas seguindo os designíos dos donos do capital.b) Como a superação do valor de exposição. Situando a arte no âmbito dos museus e afastada das massas.c) Como a atividade de reprodução de imagens em movimento visando à consolidação de uma arte revolucionária seguindo os anseios dos valores de culto e de tradição.d) Como uma arte vinculada aos anseios das massas de se libertarem de sua condição de classe explorada.e) Como a superação dos valores vanguardistas da arte em prol da consolidação da identidade entre arte e emancipação humana.

8. Leia o texto abaixo e responda à questão que se segue:

O que, afinal de contas, faz a diferença entre uma caixa de Brillo e uma obra de arte consistente de uma caixa de Brillo é uma certa teoria da arte. É a teoria que a recebe no

mundo da arte e a impede de cair na condição do objeto real que ela é (num certo sentido de é diferente da identificação artística).

DANTO, Arthur. O mundo da arte. IN: DUARTE, R. (org.). Belo autônomo: textos clássicos de estética.

Belo Horizonte: Autêntica/Crisálida, 2012.

De acordo com o texto é a teoria que faz a o objeto (Brillo Box) significar arte. Diante disso, como podemos compreender tal teoria?

a) Como uma significação autônoma presente no objeto que o faz ser arte por si mesmo.b) Como um compromisso de regras artísticas em torno de elementos tradicional- mente entendidos como arte.c) Como um conjunto de significações conceituais, próprio ao espaço institucional em que o objeto se encontra e aos demais campos teóricos circundantes.d) Como a ação efetiva dos conceitos em determinar o caráter artístico como imitação da realidade e da instituição a que se encontra.e) Como teoria filosófica aberta à determinação transcendental da arte, desvinculada, sobretudo, do espaço institucional a que o objeto se encontra.

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FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA UNIDADE

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6.1 FILOSOFIAS CONTEMPORÂNEAS

Friedrich Nietzsche, Karl Marx e Sigmund Freud (1856 - 1939) são conhecidos como os pensadores da suspeita, isto é, cada um a seu modo questionou os limites da razão. Como vimos anteriormente, na modernidade (racionalismo/empirismo) e, consequen-temente, com o desenvolvimento da ciência moderna, têm-se a ideia de que as po-tencialidades de descoberta via racionalidade são ilimitadas. Contudo, pensadores como Nietzsche, Marx e Freud instauram uma dúvida acerca dos alcances da racionalidade questionando, deste modo, o otimismo filosófico acerca dos desenvolvimentos da razão. Nietzsche questiona a liberdade de ação do sujeito advinda da racionalidade, pergun-tando-se, de fato, se sujeito racional é livre frente ao fortalecimento de normas e doutrinas morais; Marx põe em investigação as determinações do sujeito na história apontando, para tanto, a existência de ideologias (forças econômicas-sociais) criadas por essa mesma razão que promete emancipação, mas que, ao fim e ao cabo, sub- metem o sujeito à instancias ainda mais dominadoras (tal como o trabalho alienado); Freud, o pai da Psicanálise, por sua vez, critica os fundamentos da própria consciência ao questionar se todas as ações de conhecimento, os pensamentos, as fantasias e ilusões são, verdadeiramente, frutos da consciência (da racionalidade), destacando que, por baixo das ações racionalmente orien-tadas, subsiste uma força psíquica ainda mais poderosa: o inconsciente.

O eu não é mais senhor em sua própria casa. (Sigmund Freud)

Figura 13 : Os pensadores da suspeita: Nietzsche; Marx e FreudFonte: Elaborado pelo Autor (2020)

Diante de críticas a dois de seus expoentes principais: o sujeito conhecedor e a razão; a filosofia se vê diante da necessidade de uma reformulação e redirecionamento de seus temas. Com efeito, ocorre, portanto o surgimento de diversas linhas filosóficas influencia-das pelos ‘pensadores da suspeita’, como veremos a seguir.

O filósofo Paulo Ghiraldelli apresenta uma definição precisa dos posicionamentos críticos dos ‘pensadores da suspeita’ e de suas críticas ao ideal moderno de racio-nalidade.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=WWLtMXok-9s

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6.1.1 O existencialismo

O filósofo Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é o grande expoente da filosofia existencia-lista. O conceito central do existencialismo é a liberdade, de modo que, segundo Sarte, “o homem está condenado a ser livre”, o “homem é livre, o homem é liberdade” (SARTE, 1970, p. 18). Com efeito, como se pode notar, para o existencialista, a liberdade é o que define o ser humano, não havendo possibilidade alguma de livrar-se dela, pois, não há escolha para o ser humano senão lidar com as suas ações oriundas do exercício da liberdade. A determinação existencialismo se dá pelo fato de que, para o pensador francês, a “existência precede a essência” (SARTE, 1970, p. 18), isto é, em primeiro lugar o homem existe, cria-se no mundo sendo livre para sua própria realização, independentemente, de fazer jus a qualquer instância exterior a si mesmo. Em outros termos, a existência do sujeito delimita-se em si mesmo, ou como dito por Sartre: “O homem nada mais é do que aquilo que faz de si mesmo: esse é o primeiro princípio do existencialismo” (SARTE, 1970, p. 10). O existencialismo valoriza o indivíduo e considera a liberdade como uma ação inten-cional, isto é, para o existencialista não há ações realizadas ao acaso ou ações acidentais, pelo contrário, cada ação realizada é carregada de intencionalidade e uma tomada de es-colha. Tal ação carregada de intencionalidade é uma ação consciente na qual o sujeito exerce a sua condição humana através da liberdade de escolha e de realização ação. Dian-te disso, não há outra escolha para o sujeito que não seja exercer a própria liberdade de escolher, em outros termos, da responsabilidade de ter que tomar uma decisão algo que, por sua vez, relega o ser humano uma segunda condenação: a da angústia.

Figura 14 : O grito (1893) – Edvard MunchFonte: Domínio público

Salienta-se, portanto, que ciente de seu caráter existencial através das livres esco-lhas feitas no momento da tomada de decisão, para o existencialismo “o homem é angús-tia” (SARTE, 1970, p. 10). Mas, a angústia advém não apenas pela tomada de decisão, mas, sobretudo, porque no existencialismo falamos de uma liberdade engajada, isto é, de uma liberdade para a

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tomada de ações que refletem para si e para humanidade inteira, uma vez que cada escolha conjuga ao mesmo tempo responsabilidades individuais e cole- tivas. Trata-se, deste modo, de um agir pelo outro e, consequentemente, de uma res- ponsabilidade em amplo aspecto: por si e pelo outro. Assim, fundamentalmente, po- demos pensar o sujeito existencialista através do seguinte esquema:

ANGÚSTIA ← SER HUMANO → LIBERDADE

• Angústia: produzida tarefa de escolher em âmbito individual e coletivo.• Ser humano: ontologicamente livre e angustiado; responsável pelas

ações individuais e coletivas.• Liberdade: condição humana fundamental.

O programa do existencialismo é apresentado por Sartre no ensaio “O existen-cialismo é um humanismo”.

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“O segundo sexo”, obra da filósofa existencialista Simone de Beauvoir (1908 - 1986), preconiza a teoria do feminismo moderno discutindo, so-bretudo, o papel da mulher em uma sociedade dominada pelo sexo mas-culino. A obra de Beauvoir é considerada um marco para o pensamento

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LINK: http://stoa.usp.br/alexccarneiro/files/1/4529/sartre_exis- tencia-lismo_humanismo.pdf

Jean-Paul Sartre

feminista na busca pela desconstrução das determinações sociais do gênero e, consequentemente, do papel subalter-no do feminino na sociedade. Ademais, em uma perspecti-va ontológica/existencialista, Beauvoir apresenta a famosa afirmação:“Não se nasce mulher, torna-se mulher”

(BEAUVOIR, 1980, p. 09)LINK: https://www.youtube.com/watch?v=zhaq6AqeS_o

6.1.2 Filosofia francesa contemporânea

Seguindo com as correntes de pensamento francês, podemos destacar o movimen-to da filosofia francesa contemporânea que culminou em uma multiplicidade de pensa-dores importantes, tais como Jacques Derrida (1930 - 2004), Michel Foucault (1926 - 1984), Alain Badiou (1937). Influenciados pelos críticos da razão, a filosofia francesa contempo-rânea buscou, sobretudo, desconstruir a estrutura formal do pensamento racional guiado pelo método rigoroso, por isso, a alcunha de pós-estruturalismo. Trata-se, deste modo, da superação de uma antiga e rígida estrutura de pensamento tendo em vista o trânsito fi-

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losófico em direção à pluralidade de outros saberes. É, justamente, esse direcionamento que Derrida atribuiu à filosofia ao determiná--la como um procedimento de desconstrução. A desconstrução aponta, principalmente, para a desconstrução do logocentrismo e de conceitos inquestionáveis. Com efeito, a des-construção caracteriza um rompimento com a tradição que compreende o logos filosófico como o núcleo central do conhecimento e, para tanto, o coloca em uma condição extre-mamente autoritária. Diante do autoritarismo do logos que não reconhece outros modos de saber, Der-rida propõe a reorganização do pensamento ocidental em direção à reconsideração pelos outros logos provenientes das artes, da literatura, da linguagem, da política caracterizando, assim, a desconstrução como uma abertura em direção ao Outro, ou seja, um pensamen-to rumo à alteridade.

O ‘Outro’ (a alteridade) é uma noção importante em toda a filosofia francesa contempo-rânea, por exemplo, Emmanuel Levinas (1906-1995) estruturou todo o seu pensamento ético em torno das relações tecidas com o Outro. Derrida, por sua vez, acentua a noção de hospitalidade em torno do reconhecimento e do recebimento da figura do Outro que lhe é, paradigmaticamente, igual e diferente. Ademais, nos tempos atuais, marcados pelo (re) sur-gimento de vários ‘Outros’ [várias concepções de mundo; movimentos migratórios; discursos de empoderamento, etc.], as filosofias da alteridade surgem como importantes referenciais para a construção de um processo empático de aceitação e reconhecimento do Outro [da-quele que lhe é diferente] como ser humano.Sobre a ética de Levinas, Nodari (2010, p. 168), destaca que a ética é a “recusa de um mundo em que o outro caiu no esquecimento do ser.”

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Michel Foucault (2010) desenvolve uma profunda análise sobre as relações de poder e sobre os modos de controle social proporcionados pelo exercício do poder. Ancorando o seu pensamento, inicialmente, no método arqueológico, Foucault realiza uma análise sistemática da história procurando destacar os múltiplos sentidos que a história possui, apostando, sobretudo, que os interstícios da história (aquilo que não foi dito) são capazes de revelar mais do que o conteúdo da história oficial. O pensamento foucaultiano acentua ainda a preponderância de uma história do outro, isto é, de uma releitura da história pautada por aqueles que ‘não possuem história’, os oprimidos. Para tanto, o filósofo realiza a interpretação dos mecanismos de poder que garantem o encarceramento do sujeito: os manicômios, as prisões e, surpreendentemente, as escolas. Na “História da loucura na Idade Clássica”, Foucault (2010) encontra na figura do louco o estereótipo da desrazão, isto é, do sujeito desprovido de racionalidade siste-mática/metódica e, portanto, o Outro (o diferente) do protótipo do sujeito moderno carte-siano. Em “Vigiar e punir”, o pensador empreende a interpretação dos modelos prisionais como meios de privação do sujeito estruturados, não somente como construções de pu-nição, mas, principalmente, como instrumentos de vigilância e de controles dotados da forma panóptica. Deste modo, enquanto instrumento de vigilância e de controle, Foucault inclui a escola como o local de práticas normalizadoras e da docilização dos sujeitos, onde a potência do pensamento diferente é vigiada e, consequentemente, o corpo é preparado para o trabalho.

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O PANÓPTICO“O princípio é conhecido: na periferia uma cons- trução em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado”.(FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010)

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Ademais, Foucault (2010) chama de biopolítica a passagem de uma sociedade centrada das punições físicas (Idade Média) para uma sociedade da vigilância (sociedade contemporânea). Biopolítica, portanto, diz respeito ao poder que passa conduzir e con-trolar a vida das populações em sentido amplo, enquanto um conjunto de estratégias de gestão-política direcionadas ao biológico: controle da alimentação, da natalidade, da sexu-alidade, enfim, do corpo.

Influenciado pela noção foucaultiana de biopolítica, o filósofo ca- maronês Achille Mbembe (2016) ressalta que, atualmente, a ideia do controle po-lítico do corpo foi substituída pela concepção de poder sobre a vida, isto é, os mecanismos de poder decidem, a partir de critérios políticos, raciais, geográficos, sociais, quem deve viver e quem deve morrer, tratando-se, portanto, de uma necropolítica (política de morte).LINK: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993

FIQUE ATENTO

Achille Mbembe

Na pluralidade dos discursos advindos da filosofia francesa contemporânea, pode--se, por exemplo, salientar a problematização da democracia feita por Jacques Rancière ao discutir a invenção grega da democracia enquanto governo de qualquer um. A pergunta pelo real, realizada por Alain Badiou, coloca em questão as possibilidades de modificação e de permanência do mundo. Assim, ao desdobrar-se por diferentes campos de atuação do humano, a filosofia francesa contemporânea ressalta os caminhos para o pensamento atual em meio aos diversos desafios urgentes.

6.1.3 A Escola de Frankfurt

Os pensadores da Escola de Frankfurt procuraram consolidar uma teoria crítica da sociedade por meio da denúncia das estruturas socioculturais delimitadas pelas ações do capitalismo e, através da auto-reflexão, conduzir à emancipação dos sujeitos submetidos aos meios de dominação e controle.

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Influenciados, sobretudo, pela junção dos pensamentos de Marx e Freud, o Insti-tuto de Pesquisa Social, comumentemente, conhecido por Escola de Frankfurt, engloba uma série de pensadores dispostos a uma reflexão transdisciplinar sobre a sociedade suas diversas repartições: política, cultura, educação, arte, violência

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(barbárie), etc. Ressaltando, sobretudo, a necessidade de reflexão e emancipação do sujeito dominado pelos meios do capital.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=wsz3FMaEkkE

Os pensadores Theodor W. Adorno e Max Horkheimer (1895 - 1973) figuram- se como os fundadores da Escola de Frankfurt com a publicação da obra “Dialética do esclare-cimento”, de 1947. Na “A dialética do esclarecimento”, Adorno e Horkheimer questionam o conceito de Esclarecimento e, consequentemente, a racionalidade própria ao Iluminis-mo ao apontarem que o processo de racionalização ocorrido na modernidade acentuou ainda mais as condições de dominação exercidas sobre o sujeito. Em outros termos, a pro-messa de emancipação prometida pela razão moderna não se realiza, posto que a própria racionalidade converte-se em instrumento de dominação e transforma a natureza em um mero objeto. Deste modo, a razão centralizada em seu poder de conhecimento insere o sujeito em uma trama de conceitos inquestionáveis, portanto, de aparência mítica que, ao fim e ao cabo, impedem o sujeito de refletir criticamente sobre si mesmo. Assim, a tese central de Adorno e Horkheimer é a de que, em face da razão instrumentalizada:

O mito converte-se em esclarecimento e a natureza em mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação da- quilo sobre o que exercem o poder. O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os ho-mens. Este os conhece na me- dida em que pode mani-pulá-los (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 21).

Ou seja, a racionalidade que deveria libertar o sujeito dos desconhecimentos do mito converte-se em uma nova mitologia de aparência ainda mais desconhecida e, sobretudo, de instrumentos de dominação ainda mais efetivos, restando ao sujeito, tão somente, o vazio de sentido promovido pela sua regressão ao desconhecimento. Portanto, a crítica realizada na “Dialética do esclarecimento”, revela o processo cíclico da racionalidade em direção, novamente, ao domínio do mitológico. Walter Benjamin, crítico e teórico ligado a Escola de Frankfurt, apresenta uma crítica incisiva à ideia de história pautada pela ideologia do progresso, isto é, Benjamin, nas teses “Sobre o conceito de história”, atesta para a emergência de se “escovar a história a contra-pelos” (BENJAMIN, 2012a, p. 13) ou, reescrever a história, dando a transparecer o processo de violência presente na escrita da história feita pelos vencedores e em seus patrimônios culturais, restando aos perdedores, para tanto, o esquecimento em sua condição de opri-midos.

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Na nona tese “Sobre o conceito de história”, escrita em 1940, Benjamin apresenta a alegoria do Anjo da História, baseada na obra Angelus Novus, de Paul Klee (1920). Na alegoria, Benjamin ressalta o desejo impossível do anjo em parar o vendaval da história pautada na ideologia do progresso e regatar o passado oprimido que jaz em ruínas.LINK: https://www.youtube.com/watch?v=vuL2xvbNNYo

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Angelus Novus (1920) – Paul Klee

Ademais, destaca-se no pensamento benjaminiano a leitura da modernidade en-quanto um período temporal regido pelo capitalismo e, principalmente, pela capacidade do capitalismo em criar uma atmosfera onírica determinada tanto pelas inovações tecno-lógicas (cinema; fotografia; passagens; exposições universais), quanto pela elevação da categoria da mercadoria.

6.1.4 Pós-modernidade

O pensador Zygmunt Bauman (1925 - 2017) apresenta a pós-modernidade como um tempo da liquidez, isto é, das relações sociais fluidas, frágeis, onde relações mais du-radouras são impossíveis de serem estabelecidas. Deste modo, não há possibilidade da construção de relações que não sejam mediadas por outros dispositivos, como por exem-plo, as rápidas e frágeis conversas via celular, a liquidez de relações estabelecidas em redes sociais e, portanto, como radicaliza Bauman, não há relações, mas sim, fluidas conexões.

O mundo líquido de Zygmunt Bauman:LINK: https://www.youtube.com/watch?v=8Xlp1mfMAI8

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Zygmunt Bauman

David Harvey (1935), por sua vez, apresenta a modernidade como o tempo das relações fugidias e transitórias, marcado, principalmente, pelas caóticas e fragmentárias correntes de sucessivas mudanças, em suma, um tempo no qual nada se fixa. Há um caos reinante na pós-modernidade que se ancora nas mais diversas combinações e possibilida-de de refeitura das coisas no momento em que se encontram, sem, de fato, assentá-las so-bre nenhum núcleo de fixidez ou segurança. Deste modo, para Harvey ocorre um declínio do saber em direção à informação que desconsidera as raízes do conhecimento para, de fato, marcar-se pela rapidez com que se propaga. Listamos apenas dois pensadores do contemporâneo, mas a filosofia atualmente

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apresenta-se em diversos campos, discutindo desde o pós-marxismo até questões centrais para o debate atual, tais como a permanência do racismo, a necessidade do feminismo e os problemas de gênero. Deste modo, a filosofia apresenta-se em pleno desenvolvi-mento, procurando indagar acerca do mundo, do sujeito e das constantes transformações acontecidas no amplo tecido social demarcado por múltiplas e diversas subjetividades e discursos.

Sobre os conceitos e visões de pós-modernidade, o artigo “A pós-modernidade em Lyo- tard, Harvey e Jameson”, da professora Drummond (2014), oferece um im-portante referencial:LINK:https://www.academia.edu/15397307/A_p%C3%B3s-modernidade_em_Lyo-tard_Harvey_e_Jameson_Exagium_

Sobre os debates pós-modernos, vide a obra “A Invenção do futuro: um debate sobre a pós-modernidade e a hipermodernidade”.LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/1657/pdf

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As discussões sobre gênero e feminismo ocuparam a centralidade do debate contemporâneo graças, sobretudo, aos trabalhos da filósofa Butler (2019). Butler reflete não apenas a necessidade de revisão dos papéis do gênero e a centralidade do discurso feminista, mas também, acentua a necessidade do pensamento ir em direção às categorias de vida desprezadas pela socie-dade: as vidas precárias.LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica- cao/177830

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Judith Butler

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1. As filosofias contemporâneas apresentam seu referencial teórico embasado pelos pensamentos de Nietzsche, Marx e Freud. Diante disso:

a) Nietzsche, Marx e Freud realizam uma afirmação radical da modernidade, sobre tudo, na determinação do positivismo da razão em conhecer a totalidade do real.b) Nietzsche, Marx e Freud preconizam um retorno à filosofia de Platão como suporte para o pensamento reorganizar a realidade em prol do abandono do sensível.c) Nietzsche, Marx e Freud questionaram os limites da razão e, consequentemente a afirmação positivista de que seria possível conhecer a totalidade do real por meio da ação racional.d) Nietzsche, Marx e Freud determinaram a racionalidade como um caminho meto- dológico de investigação da realidade baseado tanto nas ações dos sentidos, quanto nas determinações da razão.e) Nietzsche, Marx e Freud preconizaram a modernidade como um amplo período temporal demarcado pela racionalidade progressista e tecnicista.

2. (UEL-PR 2016) Leia o texto a seguir.

O mito converte-se em esclarecimento e a natureza em mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder. O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os homens. Este os conhece na medida em que pode manipulá-los. O homem de ciência conhece as coisas na medida em que pode fazê-las. É assim que seu em-si torna para ele. Nessa metamorfose, a essência das coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato de dominação.

ADORNO; HORKHEIMER. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.21

O uso da razão para fins irracionais criou, principalmente no século XX, uma des- confiança crônica a respeito da sua natureza e dos seus usos. Com base nos conhecimentos sobre a racionalidade instrumental presente no texto, assinale a alternativa correta.

a) Tanto a dominação da natureza quanto a alienação do homem são o preço inevitável a ser pago pela razão, pois o conhecimento ocorre quando o mundo e o homem se tornam objetos.b) O esclarecimento, na medida em que efetiva a superação do mito, atualiza a essência e o próprio destino do homem, que consiste em transformar a natureza, produzindo objetos que tornam a vida mais confortável.c) Mito e razão são forças primitivas antagônicas de natureza distinta: o mito caracteriza-se pela imaginação, fantasia e falta de objetividade; já a razão, pela objetividade, por cujos processos de formalização a certeza é instituída.d) Dada a dimensão puramente formal da ciência, os aspectos práticos do mundo da vida lhe são alheios, razão pela qual os usos com vistas à dominação são estranhos à sua essência, resultando na dominação de um mau uso prático.e) A instrumentalização da razão e a objetivação da natureza são dois momentos de um

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mesmo processo, cujo resultado consiste em conceber o homem e o mundo como objetos disponíveis à manipulação e ao exercício de poder.

3. Segundo Jean-Paul Sartre “o homem está condenado a ser livre” e, portanto, angustiado. Tal colocação pode ser interpretada como:

a) A liberdade como princípio central do existencialismo garante que o homem seja, sobretudo, um sujeito de escolha e, consequentemente, escolher para si e para o outro torna-o angustiado.b) A angústia é um estado de espírito promovido pela ação de uma liberdade contin- genciada.c) A liberdade é o princípio central do existencialismo garantindo, para tanto, a concepção de um sujeito livre de suas possibilidades de escolha. d) Liberdade e angústia são incompatíveis para o existencialismo, pois, ser livre pressupõe liberdade e não angústia.e) O existencialismo valoriza o indivíduo que não realiza escolhas e, para tal, concebe a liberdade como sancionada a instâncias distanciadas do ser humano.

4. A filosofia francesa contemporânea volta-se para:

a) A construção de uma estrutura filosófica distanciada da alteridade.b) A desconstrução da filosofia em prol do retorno à tradição metódica.c) A desconstrução da estrutura formal do pensamento em prol da alteridade. d) A alteridade como modelo unitário de pensamento.e) O ser como núcleo imutável da filosofia.

5. Leia o texto a seguir:

“O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado”.

FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010

Com base no texto a seguir podemos afirmar que:

a) Foucault analisa as instituições como instrumentos de liberdade e, por isso, a sua organização de modo panóptico;b) O pensamento foucaultiano sugere a análise da vida humana demarcada por ins- tituições que priorizam a formação plural dos sujeitos;c) Foucault destaca os modelos prisionais atuais segundo o modelo de punição fo- cado em castigos corporais, por isso, a modo panóptico mostra-se mais eficaz.d) Foucault ressalta os modos e meios de normatização e docilização dos sujeitos em instituições prisionais focadas na biopolítica, isto é, na liberalização do corpo para a vida afetiva.e) O pensamento foucaultiano dirige a sua análise as estruturas de poder delimitadas para o controle do sujeito, para tanto, define o modelo do panóptico como modo de vigilância

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eficaz.

6. O conceito de biopolítica define-se como:

a) A condução da vida das populações em sentido amplo como estratégias direcionadas ao biológico.b) A libertação da vida das populações em sentido amplo como estratégias direcionadas ao biológico.c) A condução da vida das populações em direção a uma ampla destituição das estratégias de controle do corpo.d) A condução do real em direção ao encarceramento dos corpos.e) A libertação dos corpos em face da vigilância social ampliada pelas instituições.

7. FGV (2016) – Adaptada - Na Tese 9, Walter Benjamin se refere a um quadro de Paul Klee intitulado Angelus Novus. Nele está representado um anjo que crava o seu olhar sobre algo do qual parece estar se afastando. Olhos arregalados, boca aberta e asas estiradas: para Benjamin, este é o retrato do anjo da história que, ao olhar para o passado, no lugar de ver uma cadeia de eventos, enxerga uma única catástrofe que amontoa escombros e os arremessa aos seus pés. Frente às ruínas, o anjo tem o intuito de despertar os mortos e juntar os destroços, mas do paraíso sopra uma tempestade que o atira em direção ao futuro de maneira inexorável. Para Benjamin o que chamamos de progresso é essa tempestade e a sua Tese 9 é uma alegoria que associa progresso a catástrofe.

A respeito desta associação nas Teses Sobre o Conceito de História (1940), analise as afirmativas a seguir.

I. A crítica de Benjamin à concepção progressiva e finalista da história se baseia na crítica à ideia de uma temporalidade contínua e progressista.

II. O sentimento de urgência presente nas Teses resulta do dilema pessoal que o autor vive em 1940 e também de seu programa historicista de, com base em instâncias metódicas, reconstituir objetivamente o patrimônio histórico e cultural do passado que a guerra e os fascismos estavam destruindo.

III. Ao “anjo da História”, incapaz de mudar o passado e eliminar a catástrofe da guerra, cabe resgatar a memória de cada “ruína” da história, vale dizer, de todas as etapas que foram necessárias para que a humanidade conquistasse a consciência do progresso como razão e liberdade.

Está correto o que se afirmar em:

a) I, apenas.b) II, apenas.c) III, apenas.d) I e II, apenas.e) I, II e III.

8. A pós modernidade é demarcada pela:

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a) Solidez das relações sociais e estabilidade do tempo.b) Solidez do tempo e durabilidade das relações sociais.c) Liquidez das relações sociais e transitoriedade do tempo.d) Durabilidade das relações sociais e liquidez do tempo.e) Transitoriedade do tempo e solidez das relações sociais.

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RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO

UNIDADE 1

UNIDADE 3

UNIDADE 5

UNIDADE 2

UNIDADE 4

UNIDADE 6

QUESTÃO 1 A

QUESTÃO 2 C

QUESTÃO 3 E

QUESTÃO 4 C

QUESTÃO 5 E

QUESTÃO 6 B

QUESTÃO 7 C

QUESTÃO 8 A

QUESTÃO 1 A

QUESTÃO 2 A

QUESTÃO 3 D

QUESTÃO 4 A

QUESTÃO 5 A

QUESTÃO 6 C

QUESTÃO 7 B

QUESTÃO 8 D

QUESTÃO 1 D

QUESTÃO 2 A

QUESTÃO 3 C

QUESTÃO 4 E

QUESTÃO 5 A

QUESTÃO 6 B

QUESTÃO 7 A

QUESTÃO 8 C

QUESTÃO 1 B

QUESTÃO 2 C

QUESTÃO 3 E

QUESTÃO 4 A

QUESTÃO 5 C

QUESTÃO 6 D

QUESTÃO 7 C

QUESTÃO 8 A

QUESTÃO 1 C

QUESTÃO 2 A

QUESTÃO 3 E

QUESTÃO 4 C

QUESTÃO 5 A

QUESTÃO 6 C

QUESTÃO 7 A

QUESTÃO 8 C

QUESTÃO 1 C

QUESTÃO 2 E

QUESTÃO 3 A

QUESTÃO 4 C

QUESTÃO 5 E

QUESTÃO 6 A

QUESTÃO 7 A

QUESTÃO 8 C

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