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1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o mundo das notícias e, em especial, das notícias internacionais, tem sofrido profundas alterações. O aparecimento da Internet, enquanto fator decisivo nesta mudança, criou a possibilidade do aparecimento de novos meios de difusão e produção de notícias, mas também permitiu o aparecimento de novos produtores de informação. Organizações não-governamentais e outras instituições apoderaram-se desta ferramenta para produzirem, também elas, notícias. Atualmente, os meios tradicionais dividem o espaço noticioso com outros meios, deixando o jornalista correspondente de ter nas suas mãos o papel de difusor de notícias internacionais. A evolução tecnológica e a globalização têm vindo também a alterar a noção de espaço e tempo, tendo efeito direto na forma como hoje são produzidas as notícias. Estes dados tem especial impacto nos jornalistas correspondentes uma vez que, uma notícia sobre Portugal pode já não ser internacional para os leitores do país para onde se escreve. Todas estas mudanças têm contribuído, de certa forma, para a diminuição do número de correspondentes. Desde a década de noventa, que o número de correspondentes internacionais tem vindo a ser restringido. Nos últimos anos, causado sobretudo pela grave crise económica que assolou grande parte do mundo, esta tendência não conseguiu ser alterada. Os órgãos de comunicação passaram a escolher criteriosamente os países para onde enviariam destacados. Portugal não se inclui no lote de países com prioridade máxima para os órgãos de comunicação, como França, Alemanha, Estados Unidos, China ou outros países que tenham regularmente situações de conflito. Por essa razão, o número de correspondentes destacados no nosso país não é significativo. Em contrapartida, o número de jornalistas freelancers tem vindo a crescer. Outra tendência que se eleva, é o aparecimento de “correspondentes nacionais” que, segundo Hamilton & Jenner, têm como objetivo a redução dos custos por parte dos meios de comunicação, em países considerados da «periferia» jornalística internacional.

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o mundo das notícias e, em especial, das notícias

internacionais, tem sofrido profundas alterações. O aparecimento da Internet,

enquanto fator decisivo nesta mudança, criou a possibilidade do aparecimento de novos

meios de difusão e produção de notícias, mas também permitiu o aparecimento de

novos produtores de informação. Organizações não-governamentais e outras

instituições apoderaram-se desta ferramenta para produzirem, também elas, notícias.

Atualmente, os meios tradicionais dividem o espaço noticioso com outros meios,

deixando o jornalista correspondente de ter nas suas mãos o papel de difusor de notícias

internacionais. A evolução tecnológica e a globalização têm vindo também a alterar a

noção de espaço e tempo, tendo efeito direto na forma como hoje são produzidas as

notícias. Estes dados tem especial impacto nos jornalistas correspondentes uma vez

que, uma notícia sobre Portugal pode já não ser internacional para os leitores do país

para onde se escreve.

Todas estas mudanças têm contribuído, de certa forma, para a diminuição do

número de correspondentes. Desde a década de noventa, que o número de

correspondentes internacionais tem vindo a ser restringido. Nos últimos anos, causado

sobretudo pela grave crise económica que assolou grande parte do mundo, esta

tendência não conseguiu ser alterada.

Os órgãos de comunicação passaram a escolher criteriosamente os países para

onde enviariam destacados. Portugal não se inclui no lote de países com prioridade

máxima para os órgãos de comunicação, como França, Alemanha, Estados Unidos, China

ou outros países que tenham regularmente situações de conflito. Por essa razão, o

número de correspondentes destacados no nosso país não é significativo. Em

contrapartida, o número de jornalistas freelancers tem vindo a crescer. Outra tendência

que se eleva, é o aparecimento de “correspondentes nacionais” que, segundo Hamilton

& Jenner, têm como objetivo a redução dos custos por parte dos meios de comunicação,

em países considerados da «periferia» jornalística internacional.

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O objetivo é então compreender, não só de que maneira estas mudanças têm

afetado o trabalho do correspondente, principalmente nos últimos 20 anos, mas

também perceber como é trabalhar em Portugal nesta área. Tentar descobrir se é um

país onde, apesar de todas as conjunturas, é favorável exercer-se jornalismo

internacional. Aferir o que motiva estes profissionais a viverem no nosso país, uma vez

que, que na sua maioria, vivem há mais de uma década em Portugal.

A ambição de conhecer o interior desta comunidade jornalística nasceu durante

o período do Estágio Curricular, efetuado na Associação da Imprensa Estrangeira em

Portugal (AIEP). Trabalhar para e com a Associação, convivendo diariamente com

correspondentes, fez-me descobrir um mundo, até então desconhecido, que será

descrito no presente relatório.

A escolha do tema para o desenvolvimento do relatório, surgiu de forma natural,

pela convivência com os correspondentes internacionais da Associação, que vivem

atualmente em Portugal. Tornou-se fundamental compreender a sua existência como

um todo e também de forma singular.

O capítulo um tem como objetivo fazer uma breve descrição da Instituição onde

estagiei durante três meses, entre os meses de Outubro e Dezembro de 2014. Para além

de uma breve história da Associação, desde os seus primeiros passos até ao dia de hoje,

está também incluído neste capítulo uma breve descrição de todas as tarefas que

realizei e eventos em que estive envolvida durante o estágio.

Uma vez que o objetivo é perceber quem é o jornalista correspondente em

Portugal e como é a sua vida enquanto profissional, num país com limitada importância

noticiosa internacional, o capítulo dois remete para a importância do significado de ser

jornalista correspondente. Este capítulo descreve a história e a sua evolução; o que

influenciou o seu aparecimento e o seu desenvolvimento; e remete para as principais

influências na sua profissão. É importante perceber qual é o papel do jornalista

correspondente no mundo, bem como a sua evolução, para que se possa,

posteriormente, fazer uma comparação entre os jornalistas correspondentes que vivem

em Portugal e os que estão espalhados pelo mundo.

O capítulo três dedicar-se-á à explicação da metodologia de trabalho adotada

nesta investigação que, com o objetivo de ser o mais completa possível, utilizou três

abordagens diferentes: o inquérito, para que se obtenha um quadro geral das

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características da comunidade correspondente em Portugal; a entrevista, que embora

não presencial, conseguiu responder a questões que, só com esta abordagem poderiam

ser clarificadas e, por último, a observação participante. Esta última abordagem foi

realizada antes do início da elaboração do relatório.

O capítulo quatro será dedicado à análise dos inquéritos realizados aos

correspondentes, membros da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal. Nesta

fase será analisado o género, a idade, a nacionalidade, o estado civil, o grau e área

académica, o número de anos de experiência profissional internacional, bem como o

número de anos de experiência em Portugal. Estará ainda em análise, com

desenvolvimento noutros capítulos, o número e tipo de órgãos para quem os jornalistas

internacionais trabalham em Portugal, o regime em que trabalham, – se com contrato,

se em regime de freelancer - e se trabalham para empresas ou instituições não

jornalísticas, bem como o número de peças que desenvolvem e o vencimento líquido

mensal médio.

Neste capítulo será ainda dado destaque à relação do correspondente com os

órgãos de comunicação, ou seja, perceber se há uma relação direta entre o trabalho

para órgãos não jornalísticos e, em consequência, maior vencimento, ou se, o fato de

um jornalista ter uma maior produção jornalística, implica, invariavelmente, uma maior

renumeração.

O capítulo cinco tem como objetivo fazer uma análise entre os dados recolhidos

no inquérito e apresentados no capítulo quatro, com as constatações e dados estudados

na revisão bibliográfica. A meta é, em particular, perceber as diferenças entre as nossas

conclusões sobre o perfil da comunidade em 2014, com as conclusões da comunidade

em 2004, elaboradas num estudo realizado por Ana Luísa Rodrigues. A partir daí,

perceber o que mudou e o porquê dessa mudança, apontando os possíveis fatores de

influência. Por último, apresentar, à luz das tendências mundiais do jornalismo

internacional, os principais tipos de correspondentes presentes na comunidade

portuguesa: o jornalista correspondente estrangeiro freelancer e o jornalista

correspondente local.

O capítulo seis surge da necessidade de dar a conhecer um fato curioso, ao qual

tive acesso pela convivência diária com estes profissionais: os jornalistas

correspondentes estrangeiros que trabalham em Portugal, fazem-no, na sua maioria,

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por opção. Nesta fase do relatório serão apresentados os dados recolhidos no inquérito

e na revisão bibliográfica todo o material conseguido nas entrevistas, perspetivando a

imagem e valores que os correspondentes têm em relação a Portugal. Serão aqui

apresentadas as justificações pela escolha e permanência destes profissionais pelo

nosso território nacional e, obviamente, os problemas que essa escolha implica.

Através da escolha, da metodologia, da análise e do estudo, implícito nos sete

capítulos no relatório de estágio, foi possível desenhar o Retrato Socioeconómico dos

Jornalistas Correspondentes em Portugal. Foi desta forma que se descobriu quem é

correspondente em Portugal, quais as dificuldades que enfrentam e o que mais

influencia o seu trabalho. Foi através de rostos, de palavras, de longas histórias

contadas, de homens e mulheres jornalistas que trabalham para meios internacionais e

que vivem, ou escolheram viver, em Portugal, que o estágio em causa proporcionou o

presente relatório.

O jornalismo mudou. Mudaram os seus principais intervenientes e atores,

mudaram as tecnologias de apoio e distribuição e as ferramentas de trabalho. Mudaram

os canais de transmissão de notícias, ou, pelo menos, surgiram outros; e o papel

exclusivo de as transmitir desapareceu para sempre. Ao mesmo tempo, os jornais têm

vindo a observar uma contínua queda na sua circulação, acompanhada por

despedimentos coletivos. Contudo, o jornalismo não está a morrer, está apenas a

adaptar-se às imposições estabelecidas pelo aparecimento da Internet e proliferação da

tecnologia.

Proponho com este trabalho, perceber e identificar todas as alterações que o

jornalismo tem vindo a sofrer, ao mesmo tempo que é feita uma caracterização da

comunidade de correspondentes estrangeiros em Portugal, que são automaticamente

influenciados e marcados por estas condições.

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CAPITULO I – ESTÁGIO: CONTEXTO E CARACTERIZAÇÃO

I.1. Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal

A Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP) teve a sua criação não-

oficial em Dezembro de 1975. Portugal fervilhava. A nova liberdade corria pelas ruas e

jornalistas estrangeiros começaram a chegar pela primeira vez a terras portuguesas. Até

à data, a ditadura imposta por Salazar fechou as fronteiras ao mundo. Nada entrava,

nada saía. Eram poucos os jornalistas que eram enviados para Portugal e aqueles que

por cá estavam, tinham muito pouco espaço de manobra. Antes da Revolução dos

Cravos, Portugal era o país onde nada acontecia:

Durante cerca de cinquenta anos, Portugal foi um país fechado ao mundo e para

o mundo. Com a chegada de António Oliveira Salazar, em 1932, a presidente do Conselho

de Ministros, Portugal entrou numa era de obscurantismo. (…) O governo chefiado por

Salazar ficou conhecido como o Estado Novo e conduziu o país para um atraso significativo

relativamente às democracias europeias devido às suas políticas sociais, económicas e

culturais. (Laranjeiro, 2009: 28)

A ditadura de Salazar muniu-se de vários meios para garantir que os seus

princípios não eram postos em causa: não havia oposição política, a PIDE (Polícia

Internacional de Defesa do Estado) prendia todos aqueles que desafiassem ou fossem

contra o regime e a Censura, ou o “Lápis Azul”, garantia que nada contra o regime era

publicado. “O arcaísmo da sociedade portuguesa, impedindo o desenvolvimento dos

vários sectores da sociedade, impediu também o jornalismo nacional de crescer”

(Laranjeiro, 2009: 30). Durante quase cinquenta anos, nada era publicado sem passar

pelo Lápis Azul. Assim, pode dizer-se que durante anos, Portugal não teve qualquer tipo

de liberdade de expressão ou comunicação, o que se traduzia num jornalismo sem

expressão, arcaico e com pouco prestígio.

Esta realidade é a causa e efeito do pouco interesse noticioso por parte dos

órgãos de comunicação internacionais. Marcel Niedergang (cit. in Laranjeiro, 2009),

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jornalista do Le Monde, apontou que “a obsessão do regime em guardar silêncio, é a

vontade de Salazar de fechar fronteiras, é a hostilidade contra tudo o que poderia vir do

exterior e corromper Portugal (…) que explica (…) a ausência da cobertura jornalística

de Portugal pela imprensa estrangeira” (2009: 33). E tudo permaneceu assim até Abril

de 1974.

O dia 25 de Abril desse ano foi um marco na histórica política e social do país,

mas também um marco nas relações com a imprensa estrangeira: “os acontecimentos

proporcionados por este dia focaram a atenção mundial em Portugal” (Laranjeiro, 2009:

44). Embora já se tivessem assistido a muitas revoluções, o golpe do exército português

surpreendeu pela forma como se foi desenrolando. Prova disso foram os mais de 3001

jornalistas estrangeiros que chegaram de todo o lado.

Mário Dujisin (IPS), Marta de la Cal (Time Magazine), Diana Smith (Financial

Times) e Peter Collis (The Times) eram jornalistas correspondentes destacados em

Lisboa para cobrir estes acontecimentos. Estavam todos a jantar numa cervejaria na Rua

das Portas de Santo Antão, quando começaram a ouvir o barulho vindo da rua.

Como «qualquer jornalista, a curiosidade aguçada fê-los sair do restaurante»

para ver o que se passava, «mas um polícia tentou afastá-los»2. Esta impossibilidade de

fazerem o que era da sua competência, ou seja, de tomar nota do que se estava a passar

para reportar às respetivas redações, fez nascer dentro deles a necessidade da criação

de uma associação que os protegesse. A primeira reunião, que originou a AIEP, acontece

ainda nesse ano.

Legalmente, a AIEP só nasce em 1978 mas, durante três anos, o número de

membros, de ações e reuniões foram-se multiplicando. Em 1976 começaram a projetar

a sua estrutura: «Os objectivos da Associação passariam então pela proteção dos

jornalistas, pela organização de eventos onde todos os sócios possam participar, assim

como dar apoio aos novos jornalistas»3 que chegavam ao país.

Nesta altura, entra outro grupo de jornalistas, que veio fechar o círculo daqueles

que ficaram conhecidos como os «históricos da AIEP»: Ken Pottinger (Associated Press),

1 Como aponta Manuel Correia (cit. in. Laranjeiro, 2009) 2 http://aiep.eu/historia_frame.html 3 http://aiep.eu/historia_frame.html

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Sandy Sloop (UPI), Riccardo Carucci (ANSA), Ramon Font (RNE), Mary Castanheira,

Patrick Ryne (Associated Press), Duda Guennes e Carlos Alberto Pontes (Reuters).

A 21 de Abril de 1978, no Hotel Tivoli, em Lisboa, a AIEP teve a sua primeira

Assembleia Geral oficial. A partir desta data e, até hoje, os Estatutos da Associação

foram sofrendo algumas alterações, mas os objetivos permaneceram sempre

semelhantes:

Artigo 2º

São fins da Associação:

1) Defender a independência, os direitos e os interesses morais, material e

profissionais de todos os seus membros, sem discriminação politica, religiosa ou racial

2) Defender a igualdade de direito de acesso às fontes de informação para

todos os seus membros, sem discriminação;

3) Representar os seus membros junto das entidades oficiais;

4) Promover actividade úteis ao exercício da profissão dos seus membros.4

Embora os membros não tenham sido sempre os mesmos, porque os jornalistas

vão entrando e saindo do país, o leque de atividades manteve-se ao longo do tempo:

almoços com jornalistas nacionais, encontros com figuras da política nacional,

Primeiros-Ministros, Ministros e representantes da oposição ou mesmo com o

Presidente da República. A AIEP foi convidada e organizou também algumas viagens

dentro e fora de Portugal.

Em 1990 criaram o Prémio Personalidade do Ano – mais tarde também

designado como Prémio Martha de la Cal - que tem notabilizado, ao longo dos anos, a

Associação e os seus membros. O objetivo passa por «prestigiar um português que se

tenha distinguido pelo seu trabalho»5, ao levar o nome de Portugal além fronteiras.

Têm vindo, desde esta altura, a organizar, também, uma Festa de Natal. Na lista

de convidados entram os familiares e amigos dos membros, assim como jornalistas

nacionais e assessores de imprensa. O objetivo é um convívio informal, aproveitando a

ocasião para divulgar o vencedor do Prémio Personalidade do Ano.

4 http://aiep.eu/estatuto_frame.html 5 http://aiep.eu/historia_frame.html

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A AIEP não tem sede oficial (embora nos estatutos se indique uma provisória),

mas os seus membros sempre tiveram à sua disposição a Sala de Imprensa do Palácio

Foz6. A Sala, equipada com computadores, com acesso à internet, está ao dispor

(consoante um horário que tem vindo a ser reduzido) de qualquer jornalista

correspondente com carteira, mesmo que não seja membro da Associação.

Situada no centro histórico de Lisboa – Praça dos Restauradores – tem uma

posição central na capital do país. A equipa responsável pelo espaço, que outrora já foi

composta por quatro pessoas7, sendo atualmente constituída por apenas duas, está ao

dispor dos jornalistas para os ajudar no que precisarem. Esta redução pode ser explicada

pela pouca afluência diária de jornalistas correspondentes na sala ao longo dos anos

e/ou devido a uma contenção de custos por parte do Ministério dos Negócios

Estrangeiros.

Segundo os estatutos, no Artigo 3, a Associação tem quatro tipos de membros:

membros efetivos, membros associados, membros honorários e membros subscritores.

Poderão apenas ser admitidos como membros efetivos – os mais comuns - os jornalistas

estrangeiros que tenham residência legal em Portugal, mas cuja atividade principal seja

com órgãos estrangeiros – diários, revistas, rádios, televisões, agências de notícias e

fotográficas, serviços on-line. Serão estes membros – cuja lista se encontra no anexo 13

– que são o objeto de estudo desta investigação. É sobre a sua vida profissional e pessoal

será feita uma análise detalhada.

A Associação da Imprensa Estrangeira, juntamente com a Sala de Imprensa do

Palácio Foz foram, durante muitos anos, a única “casa” de apoio dos jornalistas

correspondentes em Portugal. A Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas só

começou a conceder carteiras de identificação a partir de 1999: «A Lei n.º 1/99, de 13

de Janeiro, que aprova o Estatuto do Jornalista, estipula no seu artigo 17.1 que os

correspondentes de órgãos de comunicação social estrangeiros em Portugal têm direito

a um cartão de identificação que titule a sua actividade e garanta o acesso às fontes de

informação.»8. O que significa que até a esta data a AIEP era o principal apoio dos

jornalistas correspondentes em Portugal.

6 Segundo Alberto Pontes, um dos «históricos» da AIEP (em entrevista), esta Sala já estava disponível para a imprensa estrangeira durante o Estado Novo. 7Rodrigues, 2008: 70 8 http://www.ccpj.pt/legisdata/LgPortaria148de99de4deMarco.htm

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I.2. Descrição da rotina de produção

Durante os três meses de estágio foram feitas diversas tarefas: de caráter

administrativo, na gestão da página de Facebook, Website e Blogue da Associação;

caráter jornalístico, como entrevistas e redação de alguns textos para as plataformas

digitais; ainda uma terceira vertente, relacionada com a parte teórica do estágio, cujo

objetivo foi pensar no jornalismo, ou seja, que trabalhos gostaria de fazer, distinguindo-

me, e o que precisaria para os conceber.

Como foi acima exposto, faz parte das atividades da Associação o encontro com

jornalistas nacionais e com representantes de instituições públicas. Neste sentido,

participei nestes encontros, com o objetivo de descrever o que observei e informar os

outros membros que, por alguma razão, não conseguiram estar presentes nos eventos.

Os textos foram todos publicados no Website da Associação, na secção Atividades9.

Durante os três meses de estágio acompanhei três encontros:

- O almoço com o jornalista Paulo Magalhães, da TVI24. O objetivo de almoços

com jornalistas portugueses passa pela discussão dos temas da atualidade. Após o

almoço redigi, então, um pequeno texto, que foi publicado no Website da AIEP – Anexo

1.

- Visita às instalações da Escola de Turismo de Lisboa e apresentação sobre as

metas do Turismo de Portugal para 2015 pelo próprio presidente João Cotrim

Figueiredo. Para além do pequeno resumo da visita – Anexo 2 – fiz também uma notícia

sobre os dados que foram apresentados por João Cotrim – ver Anexo 3 – publicado no

blogue da Associação10.

- A AIEP foi convidada ainda para a apresentação dos objetivos para 2015 e 2016

da Agência para o Investimento e Comércio Externo em Portugal (AICEP). Após o

encontro redigi dois textos: um, onde resumi a apresentação feita – ver Anexo 4 – e que

9 http://aiep.eu/actividades_frame.html 10 https://blogaiep.wordpress.com/2014/10/14/setor-do-turismo-vai-crescer-11-este-ano-em-portugal/

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foi publicado no Website da Associação e outro, em formato de notícia, que foi

publicado no Blogue – ver Anexo 5.

Fez também parte das minhas tarefas estar em contacto com os membros da

Associação e ir partilhando os seus trabalhos no Blogue da Associação. Juntamente com

a hiperligação respetiva do trabalho, escrevi um resumo, em português, sobre os temas.

Foram poucos os trabalhos partilhados no Blogue, devido principalmente, à falta de

tempo dos jornalistas partilharem os seus textos comigo.

Para a Festa anual de Natal, que a Associação organiza, tive contato direto e fiz

parte da sua preparação. Dias antes da Festa – à semelhança de outros anos – redigi,

em conjunto com Jair Rattner11, uma Nota de Imprensa sobre a realização da Festa e

sobre o anúncio do vencedor do Prémio Personalidade. Uma vez que nesta altura, o

“título” estava entre dois possíveis vencedores, escrevi outras duas notas de imprensa,

uma para cada um. Para tal, foi necessária alguma pesquisa sobre o percurso dos dois,

dos seus projetos e conquistas.

Ambas as notas – da Festa de Natal12 e do vencedor do Prémio de 201413 - foram

enviadas para os mais variados meios de comunicação nacionais e, ainda em Dezembro,

fiz uma publicação no Blogue14 e um texto para o Website, sobre este evento – Anexo

11.

Sendo esta uma Associação composta por jornalistas na sua direção e, uma vez

que todos têm outros trabalhos em simultâneo, houve sempre assuntos que acabaram

por ser adiados. Um deles foi o da história da Associação. Foi-me incumbido, diga-se,

com contentamento pessoa, entrevistar alguns dos «históricos da Associação» e passar

as suas estórias e lembranças para o papel. Neste sentido, falei com Riccardo Carucci,

Mário Dujisin, Alberto Pontes e Ramon Font. A junção dos quatro discursos e alguma

pesquisa nas atas, religiosamente guardadas ao longo dos mais de 30 anos, resultaram

num texto que veio preencher o espaço vazio sobre a história desta Associação – Anexo

8.

11 Membro da AIEP e Orientador do meu estágio 12 Ver Anexo 10 – Press Release Festa de Natal 13 Ver Anexo 9 - Press Release Prémio Personalidade do Ano 2014 14 https://blogaiep.wordpress.com/

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Para “pensar” no jornalismo que há em Portugal e no que me poderia aliciar no

futuro enquanto jornalista, Jair Rattner sugeriu que todos os dias lê-se jornais

portugueses. Por isso, durante os três meses, li frequentemente o Publico, o Sol, o Diário

de Notícias, o Expresso, o Correio da Manhã e, na plataforma online, o Observador e o

Dinheiro Vivo. Para além de perceber as diferentes opções editoriais e políticas de cada

meio, tinha como tarefa pensar, a partir do que li, três ou quatro possíveis reportagens

ou notícias que faria. Tendo, também, que ponderar com quem falaria e porquê. No

Anexo 12, encontram-se alguns temas.

Por último, durante estes três meses, foi-me possível acompanhar de perto o dia-

a-dia de jornalistas correspondentes e perceber as suas dificuldades, o seu método, o

seu trabalho e o seu percurso. Encontrei-me com três jornalistas e, em dois dos casos,

elaborámos trabalhos jornalísticos que tinham como único intuito a aprendizagem

pessoal:

- João Carlos, de São Tomé e Príncipe, vive já há muitos anos em Portugal,

trabalha apenas para a Deutsche Welle (DW), num programa de rádio em português

transmitido para os países Africanos de língua portuguesa. O trabalho deste jornalista é

encontrar notícias no nosso país, que digam respeito a estes países.

No trabalho que acompanhei, entrevistou dois modelos africanos, o guineense

Fernando Cabral e a cabo-verdiana Alécia Morais, que iriam desfilar na 43ª Edição da

Moda Lisboa. Após as entrevistas – realizadas em dois dias diferentes – elaborei,

juntamente com o jornalista da DW, a peça de rádio que foi transmitida na emissão

seguinte - Anexo 6. Gravei o áudio para a peça e fiz a sua montagem.

- Marie-Line Darcy é uma jornalista francesa, que escreve para vários meios

diferentes: rádio, jornal, revista, meios online, etc.. Fui a uma exposição no museu Mude

e tive como tarefa escrever uma crónica cultural para rádio – Anexo 7. O plano inicial

era gravar mas, devido à falta de tempo da jornalista, acabou por não ser possível.

Durante a visita fiz algumas perguntas sobre a sua vida profissional e como era trabalhar

em Portugal.

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- Paul Ames, jornalista inglês, tem agora contrato a termo com o Global News,

jornal americano online que apenas aborda notícias internacionais. Como o Paul, muitos

são os jornalistas que, um pouco por todo o mundo, colaboram com este projeto.

Contudo, este não é o seu único trabalho e, em conversa, Paul explicou as suas rotinas,

para quem trabalha, como foi o seu percurso jornalístico e a sua vida em Portugal. Ao

contrário do que aconteceu com os outros jornalistas, não tive oportunidade de

acompanhar nenhum trabalho.

Com estes encontros pude, por um lado, elaborar trabalhos jornalísticos,

aprender e melhorar a minha técnica de observação e escrita e, por outro, perceber a

rotina dos jornalistas correspondentes em Portugal. Foi a partir deste ponto que

estruturei o presente Relatório: descobrir qual a situação atual dos jornalistas

estrangeiros que trabalham em Portugal, face ao resto do mundo e descobrir quem é,

verdadeiramente, o jornalista correspondente em Portugal.

CAPITULO II - O QUE É UM JORNALISTA CORRESPONDENTE

II.1. Jornalista e Jornalista Correspondente

Os jornalistas correspondentes são considerados, por alguns autores,

cosmopolitas por excelência. Segundo Fortuna e Silva (cit. in Rodrigues, 2008) o

jornalista correspondente vive entre várias culturas e origina “novas formas culturais,

compósitas, a partir de cruzamentos” (Rodrigues, 2008: 47) da sua cultural e da cultura

do outro. Os autores consideram que estes jornalistas nunca estão num lugar da mesma

maneira que os seus habitantes, porque são profissionais que têm de estar sempre

ligados a duas realidades.

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Segundo Garcia, (cit. in Rodrigues 2008) o jornalista é considerado um ator

político porque, por um lado, “exerce influência sobre as instituições, os movimentos, e

grupos sociais, políticos e económicos”, sem deixar de estar sujeito “à influência da

lógica mercantil e de outros detentores de poder (…) e de um certo tipo de

condicionamento com o público” (2008: 27). Um jornalista correspondente também

exerce essa influência, só que num país diferente à luz da cultura do seu país.

Assim como Fortuna e Silva, Sauvage (cit. in Rodrigues, 2008) afirma que o

correspondente ao mesmo tempo que tem de incorporar o país onde está destacado,

nunca o pode fazer por completo. Tem de se situar entre dois países e duas culturas: “é

preciso partilhar a vida do país que o acolhe e ‘guardar’ o ritmo do seu próprio país”

(2008: 47). Assim, para além de atender ao fuso horário, aos hábitos e línguas para onde

escreve, tem também de ter atenção aos mesmos critérios de onde escreve, sem nunca

os adquirir como seus.

De forma concisa, os jornalistas correspondentes são profissionais que “estão

estacionados num país que não o da sua origem, com o intuito de reportar eventos e

características da área onde estão estacionados, através de meios de informação com

base num outro lugar.” (Hannerz, 1998: 550). O que distingue os jornalistas dos

correspondentes é o nível dos estudos. Já em 1996, o relatório “International News and

Foreign Correspondents” (cit. in. Hamilton & Jenner, 2003) mostrava que o número de

jornalistas correspondentes a frequentar universidades privadas era o dobro, quando

comparado com os outros profissionais. Contudo, os autores já consideram esta imagem

desatualizada e segundo o texto publicado na sequência do VI Congresso de Sociologia

em 2006, 60% do universo jornalístico em Portugal tinha pelo menos uma licenciatura,

o que vem refutar esta ideia. Como será descrito no capítulo IV, mais de 90% da amostra

da presente investigação tem, pelo menos, uma licenciatura, mostrando que quase toda

a comunidade tem formação superior.

Outro fator que diferencia grande parte dos jornalistas correspondentes dos

outros jornalistas é o facto de estarem quase sempre separados dos seus editores, das

suas redações e das suas audiências por várias “time zones”. Para Dubravka Savic, um

jornalista correspondente para o Belgrade Daily (cit. in Hess, 2005), esta questão do

tempo é a mais complicada: “Eu estou sempre a correr atrás do tempo e nunca o consigo

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apanhar” (2005: 69). Todavia esta realidade começa a estremecer e quilómetros de

distância deixaram de parecer ficar tão longe.

Durante muitos anos, a grande diferença entre um jornalista e um

correspondente debatia-se, principalmente, pelo facto dos correspondentes

estrangeiros serem jornalistas que trabalham num país diferente do país de origem do

seu órgão, que geralmente coincida com o seu. Hoje, para além de haver jornalistas

ingleses a trabalhar para meios americanos, como é o caso de Paul Ames15, há jornalistas

nacionais a trabalhar para meios internacionais, ocupando o espaço que era exclusivo

aos jornalistas estrangeiros.

São os chamados “correspondentes locais”, segundo Hamilton e Jenner (2003:

137). E em Portugal também já é uma realidade, como será referido no capítulo V.

Embora continuem a existir os jornalistas correspondentes tradicionais, começam a

surgir novos tipos, tornando menos acentuada a diferença entre jornalista e

correspondente.

II.2. Uma perspetiva histórica

Os primeiros jornalistas correspondentes eram “pessoas com disponibilidade em

Londres ou Paris, que escreviam cartas para casa, assim como passageiros ou

tripulantes, que arribavam aos portos, trazendo jornais de outros sítios e contando as

suas próprias histórias” (Cole & Hamilton, 2008: 799). Nesta altura, uma notícia sobre

Itália poderia demorar duas a três semanas a chegar aos jornais britânicos e, segundo

os autores, na altura a velocidade não importava, nem para os jornalistas, nem para

editores e leitores.

Estas “almas amigáveis” do jornalismo, como acontece em qualquer outra

profissão, tiveram que se ir adaptando às mudanças que o mundo e, em particular, o

mundo jornalístico foi sofrendo. Segunda Ana Valente Laranjeiro, este tipo de jornalista

começou a desenvolver-se no século XIX, mas o seu expoente máximo foi durante o

século XX devido a todos os acontecimentos que se foram desenrolando: “Se

15 Jornalista correspondente, membro da AIEP. O seu país de origem é a Inglaterra, mas neste momento tem contrato com o GlobalPost, um jornal digital americano.

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atendermos o relato do correspondente estrangeiro na época da Guerra Fria, podemos

verificar que eles afirmam ter sido a época única, que lhes permitiu ver o mundo de uma

forma particular” (2009: 26).

Cole e Maxwell também defendem que os anos entre as duas guerras mundiais

foram o início dos “anos dourados” para os jornalistas correspondentes. Por um lado, é

“o ponto alto em termos profissionais e de competências, e a ideia clara da definição do

que são notícias de qualidade ” (2008: 803). Por outro, surge também muito interesse

por parte dos leitores por notícias internacionais, principalmente pelo aparecimento do

rádio.

Bernard Cohen (cit. in Hamilton & Jenner, 2003) em 1969 afirmava que o típico

jornalista correspondente era “um cosmopolita, um homem numa camisa de flanela

cinzenta que está num ponto muito alto da hierarquia dos repórteres” (2003: 137).

Contudo, com o fim da Guerra Fria, veio o arrefecimento do jornalismo internacional e

os números de jornalistas correspondentes destacados começou a diminuir, assim como

o seu prestígio.

O que começou também a diminuir nesta época foi o tempo. Devido à evolução

tecnológica, os correspondentes começaram a conseguir comunicar, de forma mais

rápida e sistemática, com os seus editores, o que se veio considerar positivo. No outro

lado da moeda, estava a perda de liberdade, uma vez que o aparecimento de novas

tecnologias fez com que os correspondentes começassem a perder liberdade editorial:

“a comunicação imediata tornou possível às redações coordenarem de perto o trabalho

dos seus correspondentes” (Cole & Hamilton, 2008: 805), tornando-os assim menos

livres para procurar estórias por si.

A maneira como trabalham e como existem tem vindo, aos longo das últimas

décadas, a sofrer grandes alterações, tanto na sua prática, como na sua existência

profissional. Noutros tempos o correspondente emergia na sociedade como herói:

Era o herói do imaginário criado pelos livros e pelos filmes. Era, então, o herói que

transmitia a realidade de um mundo conturbado e que vivia uma vida boémia. Era o herói

galã que em cada país tinha um amor diferente. Era o herói que, por vezes, e em nome da

pátria ou do amor, mantinha uma relação estreita com os serviços secretos, indo algumas

vezes, além de apenas uma relação estreita. (Laranjeiro, 2009: 6)

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A figura do jornalista como correspondente teve, durante muito tempo,

associada ao expoente máximo do jornalismo. Contudo, não é apenas isto que define o

seu papel. Segundo Enrique Muller (cit. in Laranjeiro, 2009), “la figura del corresponsal

está también rodeada de una aureola de aventuras, de magia, de miedos, de sudor; pero

también muchas veces nuestro trabajo diario está marcado por la rutina” (2009: 16),

como todos os outros jornalistas.

II.3. Hoje: papel, características, novas fontes e influências

Ontem, os correspondentes emergiam como uma elite, mas “mudam-se os

tempos mudam-se as vontades” (Laranjeiro, 2009: 6). Hoje, o correspondente, outrora

herói, encontra-se numa posição mais discreta no mundo das notícias, e a forma como

a própria profissão é desempenhada é diferente – porque a maneira de fazer notícias

também mudou.

Esta transformação deve-se ao facto dos media tradicionais estarem a mudar e

ao aparecimento de novos meios de comunicação, principalmente impulsionados pelas

novas tecnologias. Hoje, qualquer pessoa pode reportar a partir de qualquer local,

deixando lugar de qualquer jornalista vulnerável. Para além das longas horas, de

trabalho, entre pesquisa, trabalho de campo e edição, os correspondentes têm

dificuldades de acesso aos acontecimentos e às fontes, principalmente institucionais. O

facto de mudarem constantemente de país dificulta também a sua vida familiar, ainda

que faça um esforço de adaptação aos tempos e aos lugares. O próprio conceito tem

vindo a alterar-se. Atualmente, o conceito de jornalista correspondente não vai de

encontro a um único sentido:

Existem várias formas de ser correspondentes estrangeiro (…) o correspondente

por acaso, que nem é um jornalista, publicando por si próprio os conteúdos na Internet,

ou o correspondente especial, como o Kevin Sites que é uma espécie de serviço

internacional para a Yahoo! Também existem os peritos altamente qualificados que

preenchem a Web, sendo os jornalistas do Dow Jones News Service e da Bloomberg, um

desses exemplos. (Cole & Hamilton, 2008: 807)

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Segundo Hamilton & Jenner, “as mudanças introduzidas pelas novas tecnologias

estão a dar uma nova forma ao fluxo de notícias internacionais, devido à diminuição das

barreiras económicas da publicação e radiodifusão e à proliferação de fontes não

tradicionais de notícias internacionais” (2003: 132). Por outro lado, a própria audiência,

muito mais ativa e fragmentada – devido também à maior oferta – está, segundo os

autores, mais capaz de escolher e até de moldar as próprias notícias.

O papel do correspondente hoje, é muito mais intenso, uma vez que tem de estar

não só atento ao que se passa no país onde está destacado, mas também muitas vezes,

atento ao que se passa nos países circundantes. Segundo Sambrook esta

é uma maneira dos editores conseguirem dar mais valor à sua cobertura

internacional, fazendo com que o dinheiro não esteja apenas numa base. Isto permite mais

correspondentes no terreno e ajuda a desenvolver as suas competências jornalísticas. Em

termos de quantidade e diversidade, a tecnologia tornou o jornalismo de paraquedismo

eficiente duma maneira que as bases fixas não conseguiram. (2010, 18)

Hamilton e Cozma (cit. in Vicente, 2003) levantam um novo papel no conceito de

correspondente. Muitas vezes, quando algo “extraordinário” acontece, como

catástrofes naturais, certos jornalistas deslocam-se para o local, para reportar de volta

para o seu país: “Hoje quando alguma coisa acontece num canto remoto do mundo, os

correspondentes podem voar para lá e reportar os acontecimentos em direto.” (2013:

102). O problema surge no fato destes jornalistas poderem não estar familiarizados com

a zona e terem menos tempo para perceber as circunstâncias. Esta situação “ é muito

menos dispendiosa comparada com a programação com sofisticada edição e produção”

de conteúdos jornalísticos (2013: 102).

A evolução tecnológica tem feito com que seja o mesmo jornalista a pesquisar, a

entrevistar, a filmar e a editar, tornando-o, por outro lado, muito mais autónomo. Esta

autonomia pode ser também sinónimo de solidão: hoje em dia, o recorrente é haver,

num país, um único representante do seu órgão de comunicação. Isto traz também

vantagens e, segundo Rodrigues, “é sobretudo na possibilidade de escolha dos temas e

na diversidade de trabalhos que podem realizar, que os correspondentes encontram

vantagens” (2008: 53). Eles são editores e jornalistas ao mesmo tempo.

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Por outro lado, este avanço tecnológico fez com que o jornalista correspondente

perdesse certas tarefas e sofresse maior pressão por parte da redação, que fisicamente

pode estar a milhares de quilómetros de distância, embora esteja sempre à distancia de

um e-mail ou telefonema:

Mais de um em cada quatro correspondentes a tempo inteiro afirmam que o seu

trabalho mais recente foi requisitado pela redação. Dois em cada três discutiram a estória

com a redação antes de a escreverem, e quase metade dos jornalistas discutiram a estória

com a redação depois de a escreverem. (Setenta e sete por cento afirmam que isto é

normal). (Hess, 2005: 77)

Um exemplo que Hess dá para demonstrar esta situação é o de um jornalista

correspondente japonês, Takeshi Yamashita, para a NHK, uma televisão japonesa. O

jornalista afirma que a pressão que a sua redação exerce tem vindo a intensificar-se:

“Eles estão sempre a ver, e eles tiram [ideias] da CNN e depois ligam-nos. Isto é um

pouco embaraçoso.” (Hess, 2005: 79)

A tecnologia não surge como o único problema para os correspondentes.

Segundo Zelizer (cit. in Rodrigues, 2008), “a crescente diversidade de fontes a partir das

quais a informação pode ser compilada para a construção de uma notícia, também

conduziu a mudanças nas práticas noticiosas, que, com frequência, tornam o jornalismo

uma operação mais coletiva” (2008: 27).

Assim, o aparecimento de canais de notícias 24horas, ou o que Hess chama de

“CNN effect” tem vindo, desde os finais da década de 90, a criar dificuldades aos

jornalistas. Por um lado, faz com que os editores saibam primeiro dos acontecimentos,

fazendo com que os correspondentes estejam “atrasados” e, por outro lado, faz com

que os editores percam a noção de tempo e espaço, invadindo a privacidade do seu

correspondente, por exemplo, a meio da noite querendo que vá para uma cidade, ou

país, diferente.

Estes canais de notícias de 24h não são as únicas novas fontes de informação das

redações, os blogues surgem também como fonte para possíveis trabalhos:

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Entre os jornalistas correspondentes que trabalham na China, a utilização de

blogues têm-se traduzido numa ferramenta bastante vantajosa no trabalho: 90% seguem

blogues e a maior parte consideram-nos fontes valiosas para ideias de estórias,

especialmente para descobrir novas estórias, reconhecendo que de outra maneira não iam

descobrir. (Vicente, 2013: 100)

As redes sociais são outra importante fonte de informação para os jornalistas

correspondentes. Segundo um estudo, (cit. in Vicente, 2013) os jornalistas

correspondentes americanos são muito ativos e interativos no Twitter: “Descobertas

revelaram que os jornalistas recorrem aos serviços do micro-blogging para discutir os

acontecimentos que estão a acontecer onde eles estão baseados ou noutro sítio

qualquer, as notícias de última hora (…) e promover os seus media e partilhar uma

opinião” (2013: 101).

Esta necessidade de presença participativa em vários meios, deve-se

principalmente ao facto, segundo Matheson & Allan (cit. in Vicente, 2013), dos

jornalistas correspondentes já não terem o monopólio da informação, assim como já

não serem os únicos com as capacidades para passar tais informações, principalmente

porque editores e leitores têm acesso instantâneo a várias vozes – profissionais ou

amadoras.

Apesar de todas as mudanças tecnológicas e da emergência de outros atores no

mundo das notícias, serão sempre necessários jornalistas. E para fazer notícias

internacionais, serão sempre precisos jornalistas correspondentes. Estamos a entrar

uma nova Era, onde deixou de ser central a forma como aprendemos sobre o mundo,

devido, principalmente, a “uma variedade de fatores de pressão que estão a debilitar o

papel do jornalista correspondente e a criar oportunidades – e imperativos – para as

organizações dos media, adotarem uma nova abordagem em como reportar notícias

internacionais” (Sambrook, 2010: 1).

A tecnologia, em conjunto com outros fatores, como a crise económica, a

globalização e a própria evolução tecnológica, transformou substancialmente a forma

como se faz e distribui notícias. Estes novos modelos têm levado a uma descida do

número de jornalistas correspondentes, um pouco por todo o mundo e, Portugal, na

cauda da Europa, com pouco valor de notícia para o resto do mundo, não foi exceção.

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De década para década, os números de correspondentes estrangeiros em território

nacional vão diminuindo.

CAPÍTULO III – METODOLOGIA

O método e as técnicas adotadas nesta investigação tiveram como objetivo fazer

o Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes em Portugal. Quis perceber

o que mais influencia o trabalho do correspondente, quais são as dificuldades que

enfrenta, descobrir como é viver em Portugal, quais as condições que o país oferece e

quais as condições que lhes são oferecidas, pelos meios internacionais, por escolherem

ou serem colocados num país com um valor notícia reduzido no panorama internacional.

Foi também um dos principais objetivos descobrir o tipo de correspondentes que

trabalham em território nacional.

Segundo Gilbert (cit. in Vicente, 2013) qualquer método de investigação impõe

perspetivas específicas sobre a realidade:

É essencial para qualquer investigação em ciências sociais que reconheça

explicitamente que 1) teoria, método e análise estão interligados; decisões num afetam o

outro; 2) os dados recolhidos e a sua interpretação nunca estão isentos à teoria subjacente

do método escolhidos; 3) teorias podem ser construídas a partir de conceitos e relações, e

conceitos podem ser medidos através de indicadores. Indicadores precisam de ser

avaliados em termos de validade e fiabilidade. (2013: 113)

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III.1. Técnicas de recolha e tratamento da informação

A observação participante, o questionário online e a entrevista foram as técnicas

de recolha de informação escolhidas, por considerar serem as que melhor se adequam

aos objetivos pretendidos com esta investigação:

(…) optámos por técnicas que nos dão, a várias dimensões, perspectivas diferentes

sobre uma mesma realidade e nos permitem uma visão mais completa. O inquérito em

plano geral dá-nos um retrato da «família»; a observação participante revela-nos cenários

e imagens em movimento do grupo ou dos indivíduos; e a entrevista, em grande plano,

revela-nos as expressões pertencentes a cada um. (Rodrigues, 2008: 56)

Assim como acontece em outras investigações, foram utilizadas várias

ferramentas para obter uma visão mais completa, tendo em vista os objetivos acima

referidos. Foram objeto de estudo, os jornalistas que fazem parte da Associação da

Imprensa Estrangeira em Portugal, frequentadores, ou não, do Palácio Foz. Para serem

membros, estes jornalistas são obrigadas a trabalhar para, pelo menos, um meio

jornalístico, cuja sede seja fora de Portugal. E, independentemente da sua

nacionalidade, é este o alvo de estudo: jornalistas correspondentes estrangeiros que

trabalham para órgãos de comunicação internacionais.

III.1.1. Observação participante

A observação participante foi uma das técnicas adotadas nesta investigação,

uma vez que, o inquérito e a entrevista, que, por si só “devolvem ao investigador, sob a

forma de discurso, inúmeras perspetivas de análise com diferentes níveis de

aprofundamento. No entanto, deixam de fora as práticas dos indivíduos” (Rodrigues,

2008: 58), fazendo com que não sejam técnicas metodológicas suficientes nesta

abordagem.

Segundo Buckingham & Saunders (cit. in Vicente 2013), os questionários têm

limitações, quando as perguntas da investigação lidam com a prática e não apenas com

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um autorretrato construído pelos inquiridos. Nesse sentido é “crucial avaliar ao mesmo

tempo, a interpretação dos dados estáticos com detalhe – descritivos assim como

analíticos – e as perceções in loco das rotinas de trabalho dos jornalistas

correspondentes internacionais” (Vicente, 2013: 114).

Esta observação das práticas dos jornalistas correspondentes providenciou

perceções complementares, porque o “investigador não fica assim estritamente

dependente daquilo que é expresso pelos entrevistados, tando acesso aos julgamentos

em acção, à forma como os sistemas de representação são convocados para resolver

situações.” (Rodrigues, 2008: 58)

A observação participante foi um dos pilares desta investigação, uma vez que o

Estágio possibilitou, durante três meses, a presença diária na Sala de Imprensa do

Palácio Foz. Esta Sala é a “casa” da comunidade dos jornalistas correspondentes em

Portugal e foi nela que, durante o período de estágio, foi feito o contato direto com a

rotina dos jornalistas correspondentes em Portugal.

Apenas esta presença diária, possibilitou a perceção de certos pontos que, numa

outra situação, nunca seria possível. Entre os quais: que a sala de imprensa é um local

importante para a Associação, por ser considerado um ponto de encontro, ou seja,

mesmo que os jornalistas não a utilizem diariamente, é la que se realizam as reuniões e

assembleia de trabalho. Há, contudo, jornalistas que a frequentam diariamente –

embora este número seja reduzido.

A um outro nível, a presença diária, permitiu-me confrontar a realidade deste

“centro de imprensa” com considerações de outros investigadores, de outros centros

internacionais, e perceber as diferenças entre um jornalista e um jornalista

correspondente estrangeiro.

O estágio também me possibilitou – como já foi referido no capítulo um –

acompanhar e conhecer, de forma direta, a rotina de três membros efetivos. Este

contato permitiu ter acesso às rotinas de trabalho dos correspondentes: perceber como

trabalham, onde trabalham, quais as dificuldades que enfrentam trabalhando em

Portugal, etc. Assisti a discursos singulares, caracterizadores de uma comunidade.

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III.1.2. Questionário online

Segundo Ana Luísa Rodrigues o “ inquérito é considerado como uma das técnicas

mais úteis e mais utilizadas quando se pretende efetuar um retrato à superfície – neste

caso como caracterização sociográfica - de um determinado grupo ou população” (2004,

57), sendo esta a justificação para a sua utilização na presente investigação.

Apesar de o inquérito ser um meio que permite fazer conceptualizações de um

todo, ao mesmo tempo que permite apresentar respostas de forma fácil e rápida com

poucos custos, “o questionário acarreta também o perigo epistemológico de subsumir

cenários culturais sob a égide quantitativa: além de não olhar diretamente para o

comportamento do sujeito, também não olha para aquilo que eles dizem que fazem.”

(Vicente, 2013: 14).

O inquérito foi útil para a presente investigação, na medida que permite fazer

um retrato da comunidade em análise, de forma simples e rápida. A falta de tempo foi

o principal motivo para a escolha do questionário online. Seria impossível conseguir, em

três meses, as respostas aos questionários de todos os membros da AIEP. Neste sentido,

o questionário online tornou-se uma alternativa favorável, uma vez que as respostas

ficaram, literalmente, apenas à distância de um clique.

As perguntas do inquérito – Anexo 14 – tinham como objetivo revelar diferentes

dados sobre esta comunidade. Por um lado, informações gerais e por outro lado,

informações que pudessem revelar a qualidade de vida face à profissão em Portugal. O

inquérito, à comunidade de correspondentes estrangeiros a trabalhar em Portugal, tem

por base uma amostra de 32 profissionais – dum total de 56 membros da AIEP (Anexo13)

- que responderam ao questionário, com 16 questões e respetivos desdobramentos,

entre Janeiro e Fevereiro de 2015. Esta amostra representa 57,14% da população

considerada. É de referir que, nem todos os membros exercem ainda funções como

jornalistas, mas que são membros da Associação. É o caso de Riccardo Carucci, Alberto

Pontes, Marvine Howe, entre outros.

Assim como acontece em outras investigações, foram utilizadas várias

ferramentas para obter uma visão mais completa, tendo em vista os objetivos acima

referidos. Foram objeto de estudo os jornalistas que fazem parte da Associação para a

Imprensa Estrangeira em Portugal, que frequentam, ou não, o Palácio Foz. Para serem

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membros, estes jornalistas são obrigados a trabalhar para, pelo menos, no meio

jornalísticos, cuja sede seja fora de Portugal e, independentemente da sua

nacionalidade é este o alvo de estudo: jornalistas correspondentes estrangeiros que

trabalham para órgãos de comunicação estrangeiros.

Os dados recolhidos pelo questionário online pretendem construir o perfil do

correspondente em Portugal, no ano de 2014. Será analisado o género, a idade, a

nacionalidade, o estado civil, o grau e área académica e o número de anos de

experiência profissional internacional e o número de anos de experiência em Portugal.

Estará ainda em análise, com desenvolvimento noutros capítulos, o número e tipo de

órgãos para quem os jornalistas internacionais trabalham em Portugal, o regime em que

trabalham. Já sabíamos à priori, que o regime de freelancer tem uma forte presença em

Portugal, daí que o vencimento e o número de peças, não tenham um valor e número

fixo mas sim um média, existindo meses com maior rendimento e, invariavelmente,

outros meses com menor rendimento, ou mesmo rendimento nulo.

III.1.3. Entrevistas

Até certo ponto, os inquéritos estão a tornar-se vítimas da sua própria eficácia,

especialmente quando aplicados a jornalistas. Estes são, suscetíveis de ser, segundo D.

Weaver (cit. in Vicente, 2013), “mais críticos às perguntas feitas e menos dispostos a

escolher categorias de respostas” (2013: 114). E, tentando colmatar este facto, foram

escolhidas mais perguntas de resposta aberta para as entrevistas.

Outra das fraquezas do questionário, apontada por Weaver, prende-se com o

fato de este método frequentemente “não responder muito bem a questões de ‘porquê’

ou ‘como’, porque a maior parte das perguntas forçam os inquiridos a escolher entre as

categorias fixadas” (Vicente, 2013: 114). Assim, utilizando entrevistas como outro

método de investigação “estamos conscientes que não estamos a apreender ação

direta, mas sim auto narrativas sobre experiências que nos permitem chegar à vida

social indiretamente, através dos seus participantes (Vicente, 2013: 127).

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A entrevista tem então como objetivo, aprofundar certos pontos específicos que

apenas este método permite. Neste sentido, foi escolhida a entrevista estruturada para

conseguir “minimizar a variação entre as questões postas ao entrevistado”16,

principalmente por não ser uma entrevista presencial e porque o seu principal objetivo

era o controlo e verificação desta comunidade. Segundo a Metodologia da Investigação

da DEFCUL, este tipo de entrevista aplica-se a este objetivo.17

Com o intuito de ver aprofundados certos pontos, que o inquérito ou a

observação não possibilitaram, foi elaborado um conjunto de 12 perguntas, – Anexo 15

– que foram enviadas por e-mail a sete membros efetivos: Jair Rattner, Alison Roberts,

Paul Ames, Marie-Line Darcy, João Carlos, Lea Teixeira e Begoña Iñiguez. Apenas quatro

responderam atempadamente.

A escolha destes correspondentes foi feita, tendo em conta, o facto de serem os

membros mais presentes na Associação, de terem uma atividade jornalística alta, de

responderem a órgãos de diferentes nacionalidades e de representarem diferentes

nacionalidades. Foi considerado que estes sete entrevistados seria uma amostra

suficiente para responder às questões elaboradas.

III.1.4. Análise de conteúdo

Depois dos dados recolhidos, procedeu-se ao seu tratamento, tendo em conta

que estes “não podem ser separados da teoria e predefinições teóricas” (Vicente, 2013:

113). “Como a análise de conteúdo não deve ser algo previamente estanque e definido,

mas sim «tributária do corpus e dos fins que se pretende atingir»” (Rodrigues, 2008: 62),

assim foi feita uma análise que permitiu fazer o Retrato Socioeconómico dos Jornalistas

Correspondentes em Portugal.

O Relatório, organizado em sete capítulos, distingue todos os elementos que

compõe, sendo todos os capítulos considerados etapas fundamentais para delinear as

16 Metodologia da Investigação: Entrevista Estruturada da DEFCUL - http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi1/entrevistat2.pdf 17 Idem.

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características e o rosto que se “esconde” dos jornalistas correspondentes em Portugal.

O próximo capítulo desvenda quem são estes rostos.

CAPITULO IV – CORRESPONDENTES INTERNACIONAIS EM PORTUGAL

IV.1. Análise dos inquéritos

Com o objetivo de traçar um perfil atual da comunidade de jornalistas

correspondentes foi realizado, como já foi mencionado, um questionário online. O

objetivo deste era claro: perceber que tipo de jornalistas correspondentes temos em

Portugal.

Para que o Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes em Portugal

fique o mais completo possível, é necessário saber, não só o tipo de correspondentes,

mas também em que condições trabalham. Para tal, foram necessários dados concretos

sobre o género, idade, estado civil, nacionalidade, habilitações e áreas académicas,

experiência profissional enquanto jornalista correspondente e o número de anos de

permanência em Portugal, o número e tipo de órgãos de comunicação para que

trabalham e, ainda, perceber se existem casos de jornalistas que trabalham para meios

não jornalísticos. Importou saber ainda, em que regime de trabalho se encontram, o

número de trabalhos médio mensal e o vencimento médio mensal líquido.

Os resultados do inquérito à comunidade de correspondentes que trabalham em

Portugal, tem por base uma amostra de 32 profissionais que responderam a um

questionário de 16 perguntas. Desta amostra, fazem parte, única e exclusivamente, os

membros da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal que frequentam, ou não,

a sala de Imprensa do Palácio Foz.

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IV.1.1. Género

Numa profissão historicamente marcada pela presença masculina, é possível

observar, pelo gráfico 1, que a presença feminina começa a ser uma norma. Entre os 32

inquiridos, 15 são mulheres e 17 são homens, deixando de existir a diferença, outrora

evidente, entre géneros.

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Na investigação de Rodrigues, em 2004, quase dois terços dos 44 inquiridos eram

homens (29). Ou seja, segundo estes dados, num espaço de 10 anos houve um

crescimento da presença feminina, na casa dos 14 pontos percentuais: de 34% em 2004,

as mulheres chegam, em 2014, a representar 46,9% do universo do jornalismo

correspondente em Portugal.

Esta situação mostra uma clara tendência para a feminização da profissão,

tendência esta que começou a sua marcha há décadas, embora de forma lenta. Segundo

Hess, referido por Rodrigues, em 1996, “o rácio, entre os correspondentes

internacionais, de dois homens para cada mulher reproduz-se nas comunidades

jornalísticas dos Estados Unidos”, no entanto, “o autor não deixava também de apontar

a previsibilidade de crescimento do número de mulheres correspondentes”. (Rodrigues,

2008: 83)

Masculino53%

Feminino 47%

Masculino Feminino

Gráfico 1 - Género dos jornalistas correspondentes em Portugal

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IV.1.2 Idade

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Em relação à idade dos inquiridos, segundo o gráfico 2, há clara predominância

(50%), de jornalistas correspondentes que têm mais de 50 anos. Também através da

análise do gráfico, pode-se verificar que não há jornalistas correspondentes com idades

inferiores aos 26 anos, o que vai contra a tendência mundial do jornalismo, que está a

ser invadido, cada vez mais por jovens. Em 2004, Rodrigues constatou que havia uma

tendência para uma idade intermédia – entre os 31 e os 50 anos – uma vez que a maioria

da comunidade se situava nesta faixa etária.

Em 2014, a comunidade de correspondentes estrangeiros é veterana, ou seja,

tem mais de 50 anos. A considerar, é também a presença de 19% de inquiridos que têm

entre 42 e 50 anos e o facto de haver apenas três casos de jornalistas que têm entre 26

e 33 anos. Esta fraca presença de jovens jornalistas pode estar diretamente relacionada

com o facto de Portugal não ter interesse noticioso a nível internacional e, por isso, os

meios optarem por não enviar novos correspondentes.

9%

22%

19%

50%

26-33 anos 34-41 anos 42-50 anos Mais

Gráfico 2- Idade dos jornalistas correspondentes em Portugal

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29

IV.1.3. Estado Civil

Em relação ao estado civil dos jornalistas correspondentes em Portugal, verifica-

se que há uma predominância de jornalistas – 20 casos – que se encontram casados ou

em união de facto. Os restantes, ou se encontram solteiros – oito casos – ou divorciados

ou separados – quatro casos.

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

O facto de termos hoje uma população mais envelhecida, também no universo

do jornalismo correspondente em Portugal, pode estar diretamente relacionado com

esta predominância de jornalistas casados ou em união de facto. Em 2004, Rodrigues

deparava-se com uma situação diferente, onde havia um empate entre solteiros e

casados. A autora explicava o facto de haver tantos solteiros devido à “entrada

tendencialmente mais tardia na conjugalidade, motivada por razões profissionais, a que

se alia uma mudança de pais ” (Rodrigues, 2008: 85). Por outro lado, a predominância

de casados devia-se ao facto de haver também um predomínio das faixas etárias

intermédias.

Neste sentido, uma vez que o número de jovens jornalistas correspondentes

baixou, o número de jornalistas solteiros também diminuiu.

25%

62%

13%

Solteiro Casado/União de Facto Divorciado/Separado

Gráfico 3- Estado civil dos jornalistas correspondentes em Portugal

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30

IV.1.4. Nacionalidade

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Como podemos verificar pelo gráfico acima, existem 13 nacionalidades

diferentes entre os jornalistas correspondentes que se encontram em Portugal:

portuguesa, marroquina, mexicana, dinamarquesa, britânica, norte-americana, alemã,

italiana, francesa, brasileira, russa e espanhola. Há ainda cinco situações, que não estão

identificadas no gráfico de dupla nacionalidade.

Ao contrário do que seria de esperar, há um empate entre a nacionalidade

Portuguesa e Brasileira, cada uma com sete casos. Sendo que cinco, destes sete têm

dupla nacionalidade: portuguesa/brasileira, portuguesa/são-tomense, alemã/brasileira,

portuguesa/holandesa, portuguesa/francesa.

Podemos verificar que, em sete destes inquiridos, apenas três são efetivamente

nascidos em Portugal. Não deixa contudo de ser significativo e ilustrativo de uma nova

tendência no jornalismo correspondente, que Hamilton & Jenner designam por

correspondentes nacionais.

Portuguesa Dinamarquesa Britanica Francesa

Russa Marroquina Chilena Alemã

Brasileira Espanhola Mexicana Norte-Americana

Italiana

Gráfico 4 – Nacionalidade dos jornalistas correspondentes em Portugal

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31

Devido aos cortes que os meios de comunicação tradicionais têm vindo a ser a

fazer, e, ao facto de o jornalismo internacional requerer grandes investimentos, estão a

obrigar os órgãos de comunicação a desinvestir em jornalismo internacional único e de

qualidade. Em alternativa, recorrem às agências noticiosas ou aos jornalistas locais que

reportem para eles, da mesma maneira que um jornalista internacional, mas com menos

custos.

Assim, excluindo o caso dos espanhóis, com cinco correspondentes, os britânicos

com três, os franceses com três e os brasileiros com sete, as outras nacionalidades

tendem a ter apenas um representante. É de notar também a presença de menos

espanhóis: nos dados apontados por Ana Luísa Rodrigues em 2004, os espanhóis tinham

uma presença mais forte em Portugal, ultrapassando os brasileiros. Há dez anos existiam

10 jornalistas de nacionalidade espanhola e sete de nacionalidade brasileira, sendo hoje

a situação inversa.

Quando comparadas as nacionalidade por continente, torna-se evidente o

predomínio de jornalistas de nacionalidade europeia, com 21 casos, seguido do

continente americano, com 11.

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

21

2

11

E U R O P A A F R I C A A M É R I C A

Gráfico 5- Nacionalidade por continente dos jornalistas correspondentes em Portugal

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32

Embora tenham entrado neste gráfico os três casos de dupla nacionalidade em

continentes diferentes - portuguesa/brasileira, portuguesa/são-tomense e

alemã/brasileira – a verdade é que há claro predomínio da presença de correspondentes

provenientes da Europa, com 21 casos. Segue-se a América, com 11 casos e apenas dois

correspondentes nascidos em países africanos.

Este domínio europeu já era uma tendência em 2004. Contudo, se há 10 anos

havia dois correspondentes provenientes da Ásia, hoje, não temos nenhum registado

como membro na AIEP. Apesar de não traduzirem “necessariamente a nacionalidade do

órgão de comunicação, as nacionalidades dos correspondentes são um bom indicador

da representatividade das regiões” (Rodrigues, 2008: 81).

“Lisboa não é, como vimos, uma cidade como Londres ou Paris, com capacidade

de atrair muitos correspondentes pela actualidade noticiosa” (Rodrigues, 2008: 82). Por

isso, o predomínio claro de correspondentes provenientes da Europa, pode ser

justificado, não só pela proximidade geográfica, mas também por Portugal ter interesse

noticioso, maioritariamente, para a Europa, devido à problemática europeia, em que

vicemos atualmente, tanto económica como política.

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33

IV.1.5. Habilitação e área académica

IV.1.5.1. Grau de educação

É predominante o nível elevado de habilitações literárias dos jornalistas

correspondentes em Portugal. Em 32 casos, apenas dois não possuem uma licenciatura.

Os restantes 12 afirmam ser licenciados e 13 terem mestrado concluído. Há ainda a

registar quatro casos com o nível de doutoramento e outro caso que obteve uma Pós-

Graduação. Atente-se no gráfico abaixo.

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Este nível académico elevado justifica-se pela maior exigência de rigor, sendo as

especificidades desta classe também superiores, como explica Rodrigues na sua

pesquisa. A ideia dos jornalistas correspondentes serem uma elite, não é algo diga só de

hoje e, o facto de serem tão instruídos, – numa profissão que onde se aprende com a

prática – é prova disso.

Ensino Secundário Licenciatura Mestrado Doutoramento Pós-Graduação

Gráfico 6- Grau de educação dos jornalistas correspondentes em Portugal

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34

IV.1.5.2. Área de formação

Em relação à área de formação ou especialização, há claro predomínio das

Ciências Humanas, seja a nível de Licenciatura, Mestrado ou Doutoramento, como

podemos ver pelo gráfico 7:

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Num total de 44 referências às respetivas áreas de educação, sendo que dois

deles apenas completaram o ensino secundário, pode-se afirmar que há clara presença

da área das Ciências Humanas, onde mais de 50% afirmam ter formação em Jornalismo

(13 casos) ou Comunicação Social (oito casos). São também referidas formações em

História, três casos, Ciência Política, cinco dos inquiridos, Direito e Sociologia, dois casos,

e Literatura, Relações Internacionais, Língua e Cultura Portuguesa, Relações Públicas e

Letras, cada um com uma referência.

Em minoria estão as formações em Ciências Económicas ou Artes, com apenas

três referências para a Economia e uma para formação em Artes e Fotografia. Há ainda

que referir que dois inquiridos, no total da amostra, não responderam corretamente à

questão e, por isso, não entram para estes números. Esta realidade, onde há clara

tendência para a formação na área das Ciências Humanas, não é algo novo. Rodrigues

chegou à mesma conclusão em 2004, onde “a predominância é clara para cursos da área

Ciências Humanas Ciências Económicas Artes Ensino Secundário

Gráfico 7- Área de educação dos jornalistas correspondentes em Portugal

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35

das humanidades (…) – realidade também observada pelo investigador americano”

(2008: 89).18

IV.1.6. Experiência profissional em jornalismo internacional e a permanência em

Portugal

Em Portugal, predominam os jornalistas com muitos anos de profissão. O escalão

que mais referências tem é o de “11 a 17 anos” e “mais de 27 anos” de profissão, com

sete casos cada. Os jornalistas com pouca experiência – 0 a 5 anos – são apenas quatro

e os jornalistas com “6 a 11 anos” de experiência são apenas cinco. Assim, podemos

verificar que 72% dos jornalistas têm pelo menos 11 anos de experiência e desses, 38%,

tem pelo menos 23 anos de carreira. Observe-se o gráfico 8:

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Há uma clara tendência para os jornalistas com muitos anos de experiência,

enquanto jornalistas internacionais. O que, quando comparado com as idades já

18 A autora referia-se aqui a Stephen Hess, e a sua obra “International News & Foreign Correspondents”

0 a 5 anos12%

6 a 11 anos16%

11 a 17 anos22%18 a 22 anos

12%

23 a 27 anos16%

Mais 22%

Gráfico 8- Experiência profissional em jornalismo internacional dos jornalistas correspondentes em Portugal

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36

analisadas, se forna grande surpresa. Sendo que 16 jornalistas tem mais de 50 anos, é

evidente que 38% têm mais de 23 anos de experiência.

Importa também referir o facto de haver, tal como acontecia em 2004, a

tendência para os jornalistas ficarem longos períodos a trabalhar em Portugal. Veja-se

o gráfico 9:

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Embora o inquérito mostre que pouco mais de um terço dos jornalistas (34,4%)

chegaram a Portugal há menos de cinco anos, importa referir que metade dos jornalistas

– 16 – já trabalham em Portugal há pelo menos 11 anos. O que mostra que há uma clara

tendência da escolha de Portugal como país para viver, não só pela idade da maior parte

dos correspondentes, mas também pelos anos em que já vivem em Portugal.

Por outro lado, o que pode justificar a existência de uma percentagem

considerável de jornalistas com pouca experiência profissional em Portugal, é a

presença significativa – como mais adiante veremos – de jornalistas a trabalhar para

agências noticiosas. Neste meio, há maior rotatividade: “A especial incidência deste

escalão19 deve-se em grande parte aos jornalistas de agências noticiosas, que por regra

19 A autora referia-se ao escalão de 2 a 5 anos

0-5 anos34%

6-11 anos16%

11-17 anos12%

18-22 anos13%

23-27 anos19%

Mais6%

Gráfico 9- Anos de permanência dos jornalistas correspondentes em Portugal

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são colocados em cada país por um período determinado de tempo, que vai até

normalmente cinco anos” (Rodrigues, 2008: 91).

Assim, como a autora identificou dois tipos de jornalistas correspondentes em

Portugal, também se pode afirmar que se verifica, em Portugal, a existência de spiralits,

ou seja correspondentes que mudam frequentemente de país ao longo da sua carreira,

e de long-timers, correspondentes que, pelo contrário, permanecem longos períodos na

mesma comunidade, segundo Ulf Hannerz (2007). Em Portugal, pode-se considerar que

há clara tendência de long-timers, uma vez que 72% dos jornalistas estão a trabalhar no

nosso país há pelo menos 11 anos.

IV.1.7. Número de órgãos de trabalho

Para perceber o que implica a escolha do jornalista para trabalhar em Portugal,

importa conhecer o número de órgãos para quem os nossos jornalistas correspondentes

trabalham. Assim, verifica-se que apenas 13 dos inquiridos, ou seja 40% dos jornalistas,

trabalham exclusivamente para um órgão. Oito dos inquiridos trabalham para dois

órgãos e os restantes trabalham para três ou mais órgãos, como se observa no gráfico a

baixo.

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

0

2

4

6

8

10

12

14

1 2 3 4 5 6 Mais

13

8

23

21

3

Gráfico 10 – Número de órgãos para quem os jornalistas correspondentes em Portugal trabalham

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38

Analisando as outras hipóteses, 11 jornalistas correspondentes trabalham para

três ou mais órgãos e quatro deles chegam a trabalhar para seis ou mais. Estes valores

mostram que, por um lado, há clara tendência para os jornalistas serem freelancers,

traduzindo-se em alguma precariedade de trabalho, uma vez que não auferem salário

fixo ao final do mês. Mas, por outro, há maior liberdade, uma vez que, na maioria, das

vezes, escrevem sobre os assuntos que querem e não sob ordem do editor.

Na verdade, embora longe da redação, a evolução tecnológica aproximou o

jornalista ao seu órgão e fez com que o correspondente perdesse a liberdade editorial

que lhe era característica. Por isso, esta situação, onde a maior parte dos jornalistas

trabalha para mais de um órgão, pode também ser uma opção, para conseguir, ao

mesmo tempo, obter maiores rendimentos e manter uma certa liberdade.

IV.1.8. Tipos de órgãos de comunicação social e instituições para quem trabalham

IV.1.8.1 Tipos de órgãos de comunicação

Cada vez mais, os meios online têm vindo a ganhar importância sobre todos os

outros órgãos. Contudo, a situação dos jornalistas correspondentes em Portugal é

diferente, uma vez que apenas oito deles trabalham para meios digitais. Em Portugal há

13 jornalistas que trabalham para Agências Noticiosas, o que mostra a força que este

tipo de órgão tem no nosso país, sendo também um espelho do que acontece no resto

do mundo. Mas o meio que surge com mais jornalistas é o “dinossauro” desta área, o

jornal.

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39

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em

Como se pode observar pelo gráfico 11, 50% dos jornalistas (16 casos) trabalham

para um jornal, não querendo isto dizer que seja em exclusivo (podiam indicar mais que

uma opção). Ainda assim este órgão não deixa de ter forte presença no nosso país, uma

vez que metade dos jornalistas trabalham para a imprensa estrangeira.

Quando analisados os questionários individualmente, oito jornalistas que

trabalham em modo exclusivo, trabalham para uma agência, um para uma revista e

quatro para um jornal. Os jornalistas que trabalham para um só meio, na sua maioria,

trabalham para Agência Noticiosas.

IV.1.8.2 Empregadores não jornalísticos

O facto de haver a tendência para o jornalismo freelancer, faria com que os

jornalistas procurassem outros meios não jornalistícos para trabalhar. Quando

questionado: “Trabalha para alguma empresa ou instituiçao não jornalística?”, apenas

10 jornalistas responderam que sim e, desses, sete são freenlancers. Embora não tivesse

sido possível obter uma descrição do tipo de empresa ou instituição que se tratava,

0

2

4

6

8

10

12

14

16

AgênciaNoticiosa

Televisão Rádio Jornal Revista Blog Meiosonline

Gráfico 11 – Tipos de meios de comunicação para quem os jornalistas correspondentes em Portugal trabalham

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40

mostra que 31% dos jornalistas correspondentes em Portugal, procuram outros meios

não jornalísticos para trabalhar.

Em relação a este grupo, é importante referir o seu vencimento médio mensal.

Estes jornalistas procuram instituições ou empresas não jornalísticas como forma de

obter maior rendimento ao final do mês. Neste sentido, analisando caso a caso, um dos

jornalistas tem um rendimento entre 700 e 900 euros, quatro jornalistas têm

vencimento médio mensal líquido entre os 900 e os 1200 euros. Dos outros cinco

jornalistas, dois obtêm um vencimento que ultrapassa os 2000 euros e três auferem um

rendimento entre 1500 a 2000 euros.

Tabela 1: Número de peças realizadas em média mensalmente e o rendimento mensal médio líquido dos

jornalistas correspondentes que trabalham para meios não jornalísticos em Portugal

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Através da observação da Tabela 1, não há uma relação direta entre o trabalho

– esporádico ou não – com instituições não jornalísticas e os rendimentos mensais. Há

jornalistas que ganham entre 700 e 900 euros e jornalistas que ganham mais de 2000

euros. No entanto, nenhum jornalista recebe menos de 700 euros líquidos por mês.

Também não há relação direta entre o volume de trabalho jornalístico e não jornalístico.

Contudo, quanto mais peças os jornalistas produzem, em norma, mais ganham.

Número de Peças Rendimento mensal médio liquido

Mais de 20 900 a 1200 €

Mais de 20 1500 a 2000 €

Mais de 20 1500 a 2000 €

17 a 21 Mais de 2000 €

13 a 17 1500 a 2000 €

9 a 12 700 a 900 €

9 a 12 900 a 1200 €

9 a 12 900 a 1200 €

9 a 12 Mais de 2000 €

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41

Não se pode afirmar com toda a certeza que, o fato dos jornalistas trabalharem

para mais que uma instituição ou organização não jornalística, faça com que o seu

rendimento seja mais alto, comparando com os outros. Mas, o fato da maioria ser

freelancer, mostra que a procura destes meios não jornalísticos têm como objetivo

assegurar um rendimento mais seguro ou extra, melhorando diretamente a sua

qualidade de vida e estabilidade financeira.

IV.1.9. Regime de trabalho

A tendência mundial para a situação dos jornalistas correspondentes é o regime

de freelancer. Os meios tradicionais estão atualmente a passar por transformações e

dificuldades económicas, ao mesmo tempo que procuram não perder a sua importância,

face aos novos meios de comunicação, como é o caso de Websites como o Bloomberg

ou para as agências noticiosas. Como tal, grande parte dos meios tiveram de abdicar de

muitos jornalistas destacados em países menores. Sendo Portugal um país com pouca

importância noticiosa, seria de esperar que grande parte dos jornalistas não tivesse

nenhum contrato. Contudo, em Portugal, o número não mostra um grande intervalo.

Neste momento, trabalham 18 jornalistas em regime de freelancer, contra 12, com

regime de contrato.

Quando questionados sob o tipo de contrato, a maioria declarou ter um contrato

sem termo (10) e, dois, contrato a termo. Foi ainda dada a opção de existirem jornalistas

que prestassem serviços a certos meios: seis afirmaram que prestaram serviços a

recebidos verdes. Observe-se o gráfico 12:

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42

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Quando analisadas as respostas dos jornalistas que trabalham a contrato em

Portugal, verificou-se que cinco dos jornalistas que têm contrato, a termo ou sem termo,

têm contrato exclusivo com uma agência noticiosa. Verificou-se também que quatro

jornalistas têm contrato exclusivo com um jornal e, os outros três casos, têm contrato

com vários meios. O que mostra que, num total de 32 jornalistas, apenas 12 têm

contrato e, destes 9, têm contrato com um só meio. Ou seja, ter contrato não é sinónimo

de exclusividade.

Com a obtenção de seis respostas, referentes a prestação de serviços, registasse

que existem quatro jornalistas em regime de freelancer20 que colaboram com alguma

frequência com certos meios e que recebem a recibos verdes. Contudo, o trabalho

pontual entre jornalistas correspondentes e os meios de comunicação específicos, é algo

que é usual, não tendo o meio de arcar com custos de manutenção do jornalista – como

rendas ou outras contas – tendo apenas de pagar pelos trabalhos efetuados. Isto

significa também que não são trabalhos que sejam regulares, mas que podem acontecer

pontualmente.

20 À resposta “Há quanto tempo trabalha como freelancer?”, obtivemos 18 respostas, o que comparando com esta pergunta, nos fez perceber que há quatro jornalistas que estão em regime de freelancer mas que colaboram com certos meios de forma mais regular.

a termo sem termo Prestração de serviços

Gráfico 12- Tipo de contrato que os jornalistas correspondentes em Portugal possuem

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Importa também perceber há quanto tempo os jornalistas correspondentes

freelancers em Portugal, se encontram nesta situação. As respostas foram equilibradas,

não havendo um intervalo de tempo que se destaque. Contudo, cinco dos jornalistas

responderam ser freelancers, num intrevalo entre seis a 10 anos. Em relação aos outros

intervalos de tempo, os números variam entre um e três jornalistas. Observemos o

gráfico 13:

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Quando analisado o género dos freelancers, há um “empate”. Em Portugal, 50%

dos jornalistas correspondentes freelancers são mulheres e outros 50% são homens.

Contudo, o número de mulheres freelancers é mais marcante quando comparado com

o número de jornalistas correspondes mulheres a contrato. Como se pode verificar pela

investigação de Rodrigues: “Existe uma maior incidência de free-lancers entre as

mulheres correspondentes do que entre os homens. Do total de 15 mulheres, 11 são

free-lancers (…)” (Rodrigues, 2008: 93). Hoje, de 15 mulheres, nove são freelancers e,

de um total de 17 homens, também nove são freelancers. A situação, hoje, menos

relevante, não deixa de ser significativa.

3

5

3

1

2

30 A 5 A N O S 6 A 1 0

A N O S1 1 A 1 5

A N O S1 6 A 2 0

A N O S2 1 A 2 5

A N O SM A I S

Gráfico 13- Número de anos como freelancers por parte dos jornalistas correspondentes em Portugal

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44

IV.1.10. Número médio de trabalhos produzidos mensalmente

De modo a perceber a quantidade de trabalhos jornalísticos, em média, que são

feitos pelos correspondentes por mês, foram divididas as possíveis respostas por seis

escalões. De um modo geral, podemos concluir que apenas sete jornalistas produzem,

em média, mais de 20 trabalhos e que, pouco mais de 50% dos jornalistas, produz, em

média, por mês, no máximo 12 peças. Ou seja, uma média de três peças por semana. O

que mostra, mais uma vez, que Portugal não é um país gerador de notícias diárias.

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

No gráfico 14, é possível observar que pouco mais de metade dos jornalistas está

nos escalões de menor produção de notícias: há quatro jornalistas que produzem menos

de quatro peças por mês, seis que produzem entre quatro a oito e sete que produzem

entre nove a doze. Os restantes 15 encontram-se nos escalões com maior produção de

peças: seis jornalistas produzem entre 13 a 17, dois entre 17 a 20 e sete produzem mais

de 20 peças. O que significa que, a maior parte dos jornalistas não produz uma peça por

dia e 17 dos inquiridos faz, no máximo, 12 peças por mês. Ou seja, três por semana. Mas

isto pode significar que são feitos geralmente trabalhos mais longos, necessitando de

mais tempo de preparação, execução, tratamento e redação. Portugal não é um país

Menos de 412%

Entre 4 a 819%

Entre 9 a 1222%

Entre 13 a 1719%

Entre 17 a 206%

Mais de 2022%

Gráfico 14 - número de trabalhos produzidos em média por mês dos jornalistas correspondentes em Portugal

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45

que tenha interesse para a maior parte dos países e, por isso, apenas situações que não

sejam corriqueiras vão interessar aos órgãos estrangeiros.

IV.1.11. Vencimento médio mensal líquido

Maior volume de trabalho nem sempre é sinónimo de vencimento alto. Nesse

sentido questionei os inquiridos sobre qual era o seu vencimento médio mensal líquido

e, uma vez que a maior parte trabalha como freelancer, o rendimento pode ser variável.

Assim, pode-se concluir que 28% dos jornalistas ganham mais de 2000 euros, em média,

por mês e 22% ganha entre 1500 a 2000 euros. Analisemos o gráfico 15:

Fonte: Questionário online “Jornalistas Correspondentes em Portugal” – Retrato Socioeconómico dos Jornalistas Correspondentes

em Portugal

Apenas seis jornalistas ganham menos de 900 euros, em média, por mês. Os dois

casos, onde o vencimento líquido mensal é inferior a 500, a produção média de

trabalhos é baixa, sendo inferior a quatro. Dois dos quatro casos, onde o vencimento

líquido está entre os 700 e os 900 euros, o trabalho jornalístico está entre as quatro e as

oito peças por mês e nos outros dois casos, está entre as nove e as 12 peças por mês.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Menos de 500€

Entre 500 e 700€

Entre 700 e 900€

Entre 900 e 1200

Entre 1200 e 1500

Entre 1500 e 2000€

Mais de 2000€

Gráfico 15 - Vencimento médio mensal líquido dos jornalistas correspondentes em Portugal

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46

Em suma, metade dos jornalistas – 16 dos inquiridos – têm um vencimento mensal

líquido não inferior a 1500 euros, o que, para o nível de vida em Portugal, está adequado

face aos custos – algo que os jornalistas reconhecem.

CAPITULO V – EVOLUÇÃO DA COMUNIDADE CORRESPONDENTE EM PORTUGAL NOS

ÚLTIMOS DEZ ANOS

Segundo Jason Motlagh21, um jornalista correspondente que já passou pela Ásia,

Oeste de África e Caraíbas, trabalhando para vários meios americanos e europeus, a

melhor decisão que um freelancer correspondente pode ter é a escolha do sítio para

onde ir:

Paris pode soar ideal, o que significa que as oportunidades de trabalho são

escassas. Em alternativa, um correspondente de guerra em Bagdad apela para um espírito

de aventura. Contudo, inexperiência pode ser mortal e as despesas são proibitivas. As

mulheres, em particular, devem também ter em conta as morais culturais que podem

impedir o seu trabalho jornalístico (…). Escolha um destino onde se possa esperar um fluxo

contínuo de notícias comerciais, onde a competição seja baixa e os custos de vida mais

baixos ainda. 22

Motlagh defende que a melhor opção para os jornalistas correspondentes

freelancers, passa pela procura de bases menos procuradas, como Paris ou Londres, ou

perigosas, como Bagdad e Jerusalém. Assim, países como Portugal, com um baixo custo

de vida em relação ao resto da europa, e onde o número de correspondente, ou seja de

“rivais”, será baixo, é uma boa opção para um correspondente freelancer.

21 Segundo o website www.transitionsabroad.com: “Jason Motlagh is a Washington, D.C.-based editor at United Press International but a freelancer at heart. He has reported from West Africa, Asia, and the Caribbean for various U.S. and European news media”. 22http://www.transitionsabroad.com/publications/magazine/0609/work_as_a_freelance_foreign_correspondent.shtml

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Contudo, a nível de produção de notícias, pode ser a escolha mais acertada,

ainda que seja dada pouca importância internacional a Portugal. Garante-se, assim,

maior possibilidade de destaque aos jornalistas que optem pelo nosso país. Segundo

McQuail (cit. in Laranjeiro, 2009), normalmente os países em desenvolvimento

importam mais notícias que os países desenvolvidos, ou seja, o interesse dos países

desenvolvidos é menor pelos países subdesenvolvidos “sobretudo quando não tem

interesse estratégicos nesses países. Nesses casos, a atenção do ‘centro’ fica reduzida a

episódios não regulares.” (2009: 12). Embora Portugal não seja um país considerado em

desenvolvimento, é, ainda, um país que tem pouco interesse noticioso para a maior

parte dos países.

O desinteresse noticioso sobre o nosso país é algo que tem vindo a acompanhar

a nossa história. Na altura do expoente máximo do jornalismo correspondente, período

até ao final da Guerra Fria, Portugal encontrava-se de costas voltadas para o resto do

mundo. O nosso país viveu mais de 40 anos, até 1974, sob um regime ditatorial e,

consequentemente, fechado sobre si. Com o fim do Estado Novo e, devido à natureza

da revolução, chegaram ao nosso país centenas de correspondentes.

Antes da Revolução e, segundo o investigador Manuel Correia (cit. in. Laranjeiro,

2009), o número de correspondentes em Portugal rondava os 25. Após essa altura,

chegaram a ser mais de trezentos. Contudo, este número foi decrescendo

acompanhando a tendência de normalização governamental do nosso país. Com a

entrada de Portugal na União Europeia, no ano de 1986, o país voltou a ser considerado,

um pequena sombra para as agências noticiosas internacionais.

Correia afirma que, em 1994, existiam apenas 126 jornalistas correspondentes

acreditados (2009:53). Dez anos depois, Rodrigues aponta para uma realidade

totalmente diferente. Em 2004, a AIEP tinha apenas 47 membros representantes de 15

países diferentes. Um traço caracterizador desta comunidade prende-se com o

cruzamento entre: “a permanência dos jornalistas de agências noticiosas, que podemos

considerar a base da cobertura regular sobre Portugal, e simultaneamente a existência

maioritária de free-lancers” (2008: 76).

Em 2009, este número sobe significativamente, estando acreditados, segundo a

investigadora Valente, 60 jornalistas na AIEP e 76 na Comissão de Carteira Profissional.

Hoje, a Associação tem um total de 54 membros. Número que não é representativo da

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realidade dos inscritos na Comissão: 113. É, no entanto, de ressalvar, que 43 dos 113

inscritos na Comissão, são jornalistas correspondentes de nacionalidade portuguesa,

representando 38% do número total de jornalistas correspondentes.

Este número elevado de jornalistas portugueses que trabalham para meios

internacionais, é o espelho das transformações que esta profissão tem vindo a sofrer.

Para além desta classe já não ter o poder total sobre as notícias internacionais, e de

trabalhar em regime de freelancer, Livingston and Asmolov (cit, in Vicente, 2013)

afirmam que “reportar notícias internacionais, está atualmente, a ser confrontado por

uma mudança na natureza da informação, suportado pela revolução da microeletrónica,

particularmente o progresso da rede de noticiais digitais.” (2013: 103).

A evolução tecnológica não é o único fator que influencia esta transformação. A

globalização, que afeta todos os setores da vida humana, conduziu a significativas

mudanças na maneira como o mundo é noticiado e por quem é reportado: “As agendas

nacionais e internacionais fundiram-se num grau significativo. Muitas organizações

dependem de trabalhadores locais – com as vantagens e riscos que isso acarreta.”

(Sambrook, 2010: 2).

Uma destas vantagens é, sem dúvida, a poupança dos gastos por parte dos

meios. Nos últimos vinte anos, os meios de comunicação têm vindo a desfazer-se de

jornalistas destacados em várias partes do mundo. Esta situação acontece devido à

necessidade de cortar despesas e, sendo o jornalismo internacional muito dispendioso,

é, incontornavelmente, o setor que mais sofreu: “Um estudo recente da imprensa

britânica, baseado na análise de conteúdos, descobriu que a cobertura noticiosa

internacional caiu quase 40% entre 1979 e 2009.” (Vicente, 2013: 35)

Apesar da tendência ser o despedimento de correspondentes em certas bases,

continuam a existir grandes meios modernos de comunicação com consideráveis

estruturas de repórteres internacionais. Segundo Vicente, a agência Reuters tem 196

jornalistas em 131 países diferentes, a agência Associted Press está presente em mais

de 120 países e a BBC trabalha com 200 correspondentes diariamente e com outros 400

esporadicamente. (2013: 35).

Para perceber melhor o panorama da comunidade de correspondentes

estrangeiros em Portugal atualmente, é pertinente perceber como tem sido a sua

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evolução nos últimos dez anos e quais os fatores que influenciaram a sua presença no

país.

V.1. Evolução dos jornalistas correspondente em Portugal nos últimos dez anos

O jornalismo correspondente em Portugal nunca foi aposta por parte dos órgãos

internacionais. Primeiro, porque somos um país pequeno, e segundo, porque apenas a

Europa e os países dos PALOP, devido às ligações geográficas e económicas tem

interesse nas notícias e terceiro, porque durante muitos anos, Portugal teve de costas

voltadas para o mundo.

Pode-se afirmar que, com a exceção da década de 70/80, Portugal nunca foi um

país que tivesse presente uma grande diversidade de jornalistas de diferentes

nacionalidades, sendo esse um fator sensível a possíveis vagas. Nos últimos anos,

segundo Laranjeiro e Rodrigues, a nacionalidade com maior representação é a

espanhola, embora a presença de correspondentes brasileiros esteja a ser cada vez

maior: “há um domínio muito forte da Europa, com quase metade dos casos (21),

seguida da América Latina” contudo estes valores podem estar “influenciados pelo peso

de nacionalidades espanhola e brasileira.” (Rodrigues, 2008: 81).

Serem estas as nacionalidades que mais optam pelo nosso país, deve-se

simplesmente ao fator língua. Segundo Rodrigues, “quase metade dos correspondentes

presentes na amostra (21, para um total de 44) são espanhóis, brasileiros ou dos PALOP,

nacionalidades com relações próximas com Portugal.” (2008: 82).

Como já referido anteriormente neste relatório, desde 2004 que o número de

jornalistas correspondentes registados aumentou. Por detrás deste aumento está a

inclusão da nacionalidade portuguesa dentro do próprio país, sobrepondo-se a todas as

outras. Na Associação, há sete jornalistas portugueses, dos quais, cinco têm dupla

nacionalidade, e são sete brasileiros. Quando analisada a lista dos correspondentes

inscritos na Comissão, há mais de 40 jornalistas que são portugueses. Espanhóis e

brasileiros, as outras duas nacionalidades mais presentes, perfazem 30 jornalistas (18 e

12 respetivamente).

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Concluiu-se, então, que há mais portugueses a trabalhar para meios de

comunicação estrangeiros, do que qualquer outra nacionalidade a trabalhar sobre o

nosso país e que, apenas países da Europa e América Latina, tem maior ligação e

interesse sobre Portugal.

Ao contrário do panorama jornalístico geral, em Portugal, a média de idades dos

correspondentes é tendencialmente alta. Em 2004, o cenário era diferente: 20

jornalistas estavam nos escalões mais baixos, sendo que 14 deles tinham entre 31 e 40

anos, e seis tinham até 30 anos. Este fato deve-se, segundo Duarte Gunis,

correspondente espanhol (cit. in Rodrigues, 2008), a uma vaga de novos colegas com

menos de 20 anos. Embora com alguma presença jovem, já em 2004, as faixas etárias

mais velhas estavam em maioria.

Atualmente, 50% dos correspondentes têm mais de 50 anos e 19% tem entre 42

e 50 anos. Ou seja, cerca de 70% da comunidade dos correspondentes têm pelo menos

42, mas tendencialmente mais de 50. Ressalva-se ainda a inexistência de jornalistas com

menos de 26 anos e a presença de apenas três casos de jornalistas entre os 26 e os 33

anos. O que significa que a «onda jovem» no jornalismo correspondente desapareceu

de Portugal.

Na luta dos sexos, as mulheres começam a ganhar cada vez mais terreno, ainda

que continuem em minoria. Em 2004, 29 eram homens, contra apenas 15 mulheres.

Hoje, dos 32 inquiridos, 15 são mulheres e 17 são homens, assistindo-se a uma

diminuição do domínio masculino. Ao analisar a lista completa de membros da

Associação, a discrepância é maior: atualmente há 34 homens e 23 mulheres, ou seja,

59% da população é masculina. Contudo, em 2004, segundo os dados levantos por

Rodrigues, este valor ascendia aos 66%. Esta descida de 7%, em relação à atualidade, é

um reflexo da tendência mundial: mais mulheres no mundo do jornalismo.

Outra tendência a nível mundial no jornalismo correspondente, é a presença de

um elevado nível de educação por parte destes profissionais. Num estudo realizado por

Willnat, Weave e Choi, oito em cada dez jornalistas tinham uma licenciatura, e “maior

parte deles não se focaram em jornalismo nos seus estudos.” (2013: 177). Os jornalistas

correspondentes que trabalham em Portugal não fogem a esta tendência.

Em 2004, Rodrigues já afirmava que o nível de habilitações destes profissionais

era muito elevada: “A grande maioria – mais de quarto quintos dos inquiridos – têm

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uma formação superior concluída, sendo que metade do total possui uma licenciatura

(22 casos) e cerca de um terço (16 casos) uma pós-graduação” (2008: 88). Juntava-se

ainda a existência de apenas oito jornalistas que não tinham qualquer tipo de formação

superior. Em 2014, o grau de educação dos correspondentes ficou mais apurado,

uma vez que 30 dos inquiridos têm pelo menos uma licenciatura: 13 têm mestrado,

quatro doutoramento e um jornalista com pós-graduação. É ainda de referir, o fato de

apenas dois dos jornalistas inquiridos terem apenas o secundário.

Esta situação, deve-se ao fato de haver uma classe onde predominam as faixas

etárias mais velhas, acarretando mais responsabilidades e competências práticas e

teóricas: “Jornalistas mais velhos tendem a ser mais experiência profissional e detêm

cargos mais avançados nas organizações de notícias para quem trabalham” (Willnat,

Weaver e Choi, 2013: 166).

Em relação à área de educação, Rodrigues verificou que havia uma clara

tendência para as áreas da comunicação e jornalismo. Em relação aos inquiridos, a

tendência mantem-se: mais de 50% tem algum tipo de formação superior – entre

licenciatura, mestrado, doutoramento ou pós-graduação – na área das Ciências

Humanas, com especial foco em Comunicação (8 casos) e Jornalismo (13).

A existência de um elevado nível de habilitações nesta classe profissional, vem

então reforçar a ideia que estes jornalistas são uma elite “dentro de uma comunidade

profissional que apresenta marcas de diferenciação educacional” (Rodrigues, 2008: 88).

Como já foi constatado, o regime laboral mais comum entre os jornalistas

correspondentes, um pouco por todo o mundo, é o regime freelancer. Os jornalistas que

escolhem este regime, fazem-no por ser uma forma de conseguir produzir aquilo que

pretendem, vendendo o seu trabalho a quem querem. Este regime ganha cada vez mais

adeptos, uma vez que os próprios órgãos de comunicação tradicionais têm vindo a

desfazer-se dos contratos profissionais, procurando outras alternativas.

Neste sentido já em 2004 este regime era “a situação laboral mais comum entre

a comunidade de correspondentes em Portugal, representando metade do total da

amostra (23 casos).” (Rodrigues, 2008: 92). Em 2014, a situação mantêm-se idêntica: 18

dos jornalistas inquiridos afirmam ser jornalistas freelancers.

Outra das tendências do jornalismo correspondente atual, é o fato dos

correspondentes trabalharem para vários meios ao mesmo tempo. Em 2004 esta

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tendência era menos visível, uma vez que 27 dos inquiridos por Rodrigues trabalhava

para apenas um órgão. Destes, 14 trabalhavam para agências noticiosas, nove para a

imprensa e apenas em quatro casos, jornalistas trabalhavam para rádio ou televisão:

tínhamos “assim em Portugal um predomínio claro das agências e da imprensa” (2008:

89).

Hoje, a situação é diferente. No total dos 32 inquiridos, 13 trabalham para

apenas um órgão, sendo que oito deles trabalham para agências e quatro para a

imprensa. Em 2004, 61% dos inquiridos trabalhavam apenas para um órgão, hoje apenas

40% o fazem. Embora sejam as agências que trabalham, com maior frequência, em

regime de exclusividade, 60% dos jornalistas trabalham para mais que um órgão: oito

inquiridos trabalhavam para dois e 11 para pelo menos três, sendo que quatro deles

trabalham para mais de seis meios.

O tipo de órgão com maior presença em Portugal é a Imprensa, – com 16

menções – as agências, – com 13 – e a rádio – com 10. Embora os meios online sejam os

principais inimigos dos órgãos de comunicação tradicionais para o resto do mundo, em

Portugal ainda não tem forte presença.

O regime de freelancer poderá ser sinónimo de precaridade, devido ao fato do

jornalista não obter um salário fixo mensalmente. De maneira a garantir uma qualidade

de vida aceitável, estes profissionais poderão procurar empresas ou instituições não

jornalísticas com o objetivo de assegurar maiores rendimentos, como defende Hannerz,

(cit. in. Rodrigues, 2008): “free-lancers e stringers constituem aquilo que podemos

considerar como o ‘sector informal’ da correspondência estrangeira. (…) Uns

desempenham a função a tempo inteiro, outros conciliam-na de forma flexível com

outros meios de sobrevivência, quando surge a oportunidade” (2008: 94).

Em Portugal, não são muitos os jornalistas que se encontram nesta situação.

Segundo a investigação de Rodrigues, 31 dos jornalistas inquiridos têm o jornalismo

como profissão exclusiva. Contudo, os 13 casos que acumulam outras funções “são

casos de profissionais em regime free-lancers” (2008: 93). Em 2014, foram encontrados

10 casos de correspondentes que trabalham de forma esporádica com empresas não

jornalísticas. Deles, apenas 7 são freelancers.

A tendência é que esta acumulação de trabalhos se mantenha, embora de forma

não tão significativa, como acontece noutros países. Talvez porque na sua maioria os

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correspondentes consigam obter bons rendimentos apenas com o trabalho jornalístico

em Portugal.

Importa também referir o fato de que os jornalistas correspondentes que

trabalham em Portugal fazem-no principalmente por opção, devido ao elevado número

de freelancers e ao fato da maioria deles exercerem este tipo de regime há muitos anos.

Já em 2004, Rodrigues deparou-se com as seguintes situações:

- O predomínio de jornalistas com alguma experiência profissional

internacional, uma vez que quase três quartos dos jornalistas responderam ter “mais de

dez anos de profissão, sendo o escalão de 11 a 20 o que mais ocorrências tem (16 casos)”

(2008:89);

- O elevado número de correspondentes com mais de 30 anos de

profissão, pode ser indicar de passagem por Portugal pode não ser uma passagem mas

uma “opção de vida”. O predomínio de freelancers entre a comunidade vai também

consolidar a possibilidade desta opção.

Em 2009, Laranjeiro deparou-se com a mesma realidade, constatando a

existência de vários casos de correspondentes que se encontravam em Portugal há mais

de duas décadas, grande parte deles por opção pessoal: “No caso dos correspondentes

que se encontram no país há mais tempo, pudemos verificar que houve situações em

que estes se reajustaram para continuar no país” (2009: 75).

Em 2014, a situação continua semelhante. Em relação à experiência profissional

predominam os jornalistas com muita experiência: os escalões com mais ocorrências –

sete cada – tem experiencia com intervalo de tempo entre “11 a 17 anos” e “mais de 27

anos” e apenas três casos têm menos de cinco anos de experiência e cinco entre “6 a

11”. Em relação à permanência em Portugal – ou à escolha – é notória uma forte

presença de jornalistas estrangeiros baseados em Portugal há várias décadas, sendo que

alguns deles começaram a sua profissão aqui.

Tal como acontecia em 2004, hoje pode “dizer-se que há uma tendência para os

correspondentes estrangeiros permanecerem alguns anos em Portugal” (Rodrigues,

2008: 90), ou adotarem mesmo este país como seu.

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Em suma na última década, a comunidade de jornalistas correspondentes em

Portugal manteve-se sem grandes alterações nas suas principais características, sendo

que o número de jornalistas portugueses a exercer a sua profissão em Portugal aumento

muito de 2004 para 2014. Esta situação deve-se também ao fato destes jornalistas só

poderem começar a fazer parte da comissão, enquanto jornalistas correspondentes, no

ano de 2008, situação justifica mais à frente no relatório. Outra modificação resultante

da comparação entre 2004 e 2014 é o envelhecimento da comunidade, mostrando que

a maioria dos jornalistas que veio para Portugal, encontraram no nosso país, um local

de residência fixa.

V.2. Principais fatores de mudança

Quando os correspondentes surgiram, tinham o papel exclusivo de reportar

notícias de um país para o outro. Durante algum tempo, estes jornalistas eram muito –

ou totalmente – independentes. Todas as mudanças que esta classe tem vindo a sofrer

são, segundo Lavingston e Asmolov (cit. in Vicente, 2013), causadas pela índole da

informação noticiosa, que tem origem na revolução tecnológica, com especial foco no

surgimento dos meios digitais.

Outros autores defendem, também, que a globalização tem transformado os

significados de local e global, alterando a forma como o mundo é noticiado, através da

fusão das agendas nacionais e internacionais (Sambrook, 2010). Hoje, uma notícia sobre

Portugal não significa que é uma notícia internacional para um habitante de Paris de

nacionalidade portuguesa, como tal uma notícia sobre em India nos jornais portugueses,

são notícias de “casa” para um indiano que vive em Lisboa.

Embora o avanço tecnológico, com todas as oportunidades que fez surgir, –

redes sociais, websites, etc. – e a globalização tenham sido os principais

empreendedores das mudanças na maneira como o mundo é reportado, e o próprio

papel dos jornalistas correspondentes, há ainda que ter em conta outros fatores. A crise

económica, que assombrou o mundo na última década, fez com que os meios

tradicionais vissem as suas receitas com a publicidade descer gradualmente, obrigando

a uma reorganização e mesmo ao fecho de certas bases internacionais. O fato de

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Portugal ser um país com pouca importância noticiosa para quase todo o mundo,

influenciou a evolução da comunidade correspondente que trabalha no nosso país.

V.2.1. Transformações Tecnológicas e Globalização

Segundo Paulo Nuno Vicente, o antigo modelo de acesso a notícias

internacionais era restrito a apenas algumas organizações, que tinham dinheiro e

recursos tecnológicos para enviar correspondentes para qualquer parto do mundo.

“Agora, qualquer pessoa pode fazer a mesma coisa com ligação à internet e um

computador portátil” (2013: 36). O antigo modelo era feito, segundo Harding, “de um

para muitos”, seno que hoje, com a nova tecnologia e a Internet, é feita de “muitos para

muitos”.

Na verdade, o processo de globalização e as novas tecnologias de comunicação,

aceleraram a comunicação e o fluxo informativo, implicando permanentes mudanças

para o jornalismo internacional e seus atores. (Rodrigues, 2009). Uma delas, é o fato de

surgirem, com a Internet, novos meios jornalísticos, que vêm desafiar os tradicionais:

Para começar, a Internet tornou possível que as empresas de media criassem

“agências” especiais de notícias estrangeiras. Um exemplo óbvio é a Bloomberg News, que

ao contrário das tradicionais agências de notícias, vende ao público diretamente. A

Bloomberg tem cerca de 255 jornalistas de imprensa e 100 de radio e televisão dentro do

Estados Unidos e muitos mais – 100 imprensa e 200 de radio e televisão – pelo mundo.

(Hamilton & Jenner, 2003: 132)

Outra novidade introduzida pela evolução tecnológica no jornalismo

correspondente é a possibilidade de um único jornalista poder reportar e editar de

forma autónoma, bastando para tal, ter acesso aos meios certos. A esta independência,

alia-se a solidão, ou seja, só é preciso um jornalista para um único meio, para que se

reporte sobre um país ou acontecimento. Para completar esta ideia, surge a facilidade

e acesso os meios necessários: tecnologias como câmaras e computadores, estão

acessíveis para um público geral e não apenas para os profissionais da área.

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Hoje qualquer pessoa pode tornar-se um jornalista correspondente: “Em casa,

os cidadãos podem agrupar notícias para si próprios na Web ou, adquirindo o papel do

tradicional editor de notícias internacionais, podem reunir atualizações de

acontecimentos para os outros”. (Hamilton & Jenner, 2003: 134). Ao longo dos anos, já

são relatadas situações onde os meios tradicionais não foram suficientes para dar a

conhecer, ao resto do mundo, o que se passava num certo país. Um desses exemplos

foram as manifestações em 2009, no Irão, onde o governo bloqueou todo o acesso aos

meios de comunicação estrangeiros e nacionais. O mundo foi sabendo do desenrolar da

situação através do Twitter, que recebia milhões de atualizações dos cidadãos do país.

A Internet permitiu que redes globais como o Twitter e outras redes sociais

estejam, segundo Sambrook, a funcionar como “suplemento e complemento daquilo

que as organizações profissionais de notícias oferecerem, fornecendo materiais de

novas e frescas fontes para os jornalistas, mas também competindo com eles por

atenção dos leitores” (2010: 2). Assim, ao mesmo tempo que o jornalista profissional

pode descobrir novas estórias e fontes nas redes sociais, ou mesmo partilhar o seu

trabalho, também o cidadão pode vestir a pele do jornalista e reportar algo que está a

testemunhar e partilhar com o mundo, deixando assim de ser exclusivo o papel do

jornalista, enquanto repórter dos acontecimentos.

Mas não é apenas o cidadão comum que aproveitou a rede global da Internet para

transmitir notícias. Muitas organizações aproveitaram a oportunidade para contribuir

com os seus próprios serviços de informação. Governos, Organizações não-

Governamentais e empresas comerciais utilizam as novas tecnologias e serviços para

“falar diretamente com o público em favor dos seus próprios interesses” (Sambrook,

2010: 2). A Greenpeace, segundo Hamilton e Jenner, utiliza o seu website para transmitir

notícias que suportem ou defendam os seus ideais:

No mesmo dia um visitante poderia encontrar nesse website (…) uma atualização

continua sobre os problemas de saúde das vítimas da explosão no Nhopal, na India, em

1984 na “Union Carbide”, e um relatório sobre um estudo acerca das implicações na

biodiversidade dos corpos geneticamente alterados, feito por uma comissão

internacional. (2003: 135)

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Para além desta perda da exclusividade em reportar o mundo, surgem ainda

outros problemas, associados à evolução tecnológica e ao aparecimento da Internet.

Um inquérito de 2002, que tentava perceber o efeito da Internet nos jornalistas políticos

americanos, aferiu que os inquiridos sentiam que estas novas ferramentas fizeram com

que notícias e informações falsas ou rumores, surgissem mais corriqueiramente (Hess,

2005). Para Hess, a Internet reduz ainda as vantagens dos correspondentes em certos

tipos de notícias: “Devido às bases de dados dos governos e das empresas, que diferença

faz ter um correspondente em Nova Iorque ou Frankfurt?” (2005: 125). Neste sentido,

o simples telefone põe em causa o lugar dos correspondentes que, em certas situações,

– mesmo com milhares de quilómetros de distância – deixam de ser necessários.

Nem tudo na Internet são más notícias para o jornalismo correspondente. Esta

ferramenta permite que os jornalistas possam partilhar estórias através de blogues

pessoais, como o exemplo levantado por Hamilton e Jenner, do blogue Eurotrash. Trata-

se de dois jornalistas americanos que publicaram crónicas sobre as suas experiências na

Europa. Esta ferramenta, permite ainda o aparecimento de outros projetos jornalísticos

diferentes, como a GlobalPost ou a Vice. A Internet cria, assim, a oportunidade de novas

e diversificadas fontes e canais, enquanto a tecnologia faz com que o limite para os

correspondentes seja apenas a sua criatividade.

V.2.2. Crise económica

Portugal, como já referido, nunca foi um país que atraísse um grande número de

correspondentes estrangeiros, excetuando os anos após a Revolução dos Cravos. Mas

em 1994, encontravam-se ainda em Portugal mais de 100 jornalistas oriundos de outras

partes do mundo. Em 2004, esse número desceu quase para metade. Um dos motivos,

que pode estar relacionado com esta quebra, é a crise económica aliada a uma pesada

contenção de custos por parte dos meios tradicionais de comunicação, onde o primeiro

a ser descartado é o correspondente.

Embora haja uma crescente indiferença, por parte dos leitores, para as notícias

internacionais, não se traduzindo do trabalho do correspondente em lucro, a crise tem

vindo, desde 2004, a fazer com que os meios de comunicação tradicionais se desfaçam

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dos seus correspondentes em certas partes do mundo. Mas “o verdadeiro golpe

financeiro veio em 2009 com a crise económica, quando as receitas de alguns jornais

caíram 30 por cento no primeiro trimestre” (Livingstonn e Asmolov, 2010: 747), tendo

sido nesta altura que que milhares de jornalistas começaram a ser despedidos. Segundo

Massing, (cit. in Livingstonn e Asmolov, 2010) em 2008 foram despedidos dos jornais

15947 jornalistas e nos primeiros seis meses de 2009 outros 10 mil.

Pode-se por isso afirmar que a crise económica tem provocado algumas

alterações no universo do jornalismo correspondente em Portugal e no resto do mundo:

Uma das primeiras alterações está na redução acentuada das redes de

correspondentes por parte das empresas de media, pois uma função de elite que,

considerada na sua forma tradicional (a tempo inteiro e com inerentes despesas de

variados tipos), acarreta custos consideráveis, é um dos primeiros “sacrificados” numa

gestão que visa a contenção de custos. (Rodrigues, 2008: 49)

Segundo Paulo Nuno Vicente, o custo para um jornal, por ano, de ter um

jornalista destacando no estrangeiro, e de cerca de 200 a 300 mil dólares. Embora este

tipo de jornalistas seja sinónimo de boa qualidade noticiosa internacional, o valor que é

atribuído aos media não é traduzido em lucro direto. E, uma vez que os órgãos de

comunicação estão incorporados em empresas, o que interessa ao acionista é o lucro.

Neste sentido, Hennerz (cit. in Rodrigues, 2008) defende que, para um órgão ter

um correspondente destacado, ficam em jogo várias questões: “saber se o alto custo do

noticiário internacional e sobretudo uma extensa rede de correspondentes, é de facto

equilibrado com a ‘conquista de mais leitores ou ganhos publicitários” (2008: 49). Sendo

a resposta ‘não’, os órgãos procuram alternativas ou “então não prestam-lhe pouca

atenção”.

As alternativas podem variar entre o recurso a agências noticiosas, que têm sido

praticamente as únicas a manter bases em vários países do mundo, a freelancers e

jornalistas locais. Marie-Line é um desses exemplos. É jornalista correspondente

francesa, vive em Portugal há mais de 20 anos e na última década deixou de ter contrato

fixo: “perdi o meu emprego assalariado numa OCS, e tive que optar para ficar como

independente”.

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Contudo, não deixou de fazer peças e, nos últimos quatro anos, afirma ter tido

muito trabalho devido à crise e ao programa de ajustamento portguês. O que mostra

que não deixou de haver interesse em saber notícias sobre Portugal, simplesmente

deixou de ser possível, por parte do órgão da correspondente, suportar todos os custos

que implicava mantê-la a contrato exclusivo.

Esta contenção de custos, por parte dos órgãos de comunicação, tem provocado

alterações na dinâmica da vida dos correspondentes quando estão destacados por um

órgão:

- Antes o jornalista ficava apenas destacado durante alguns anos no mesmo sítio.

Hoje, segundo a investigadora Laranjeiro, está a torna-se recorrente a permanência por

um período alargado de tempo do correspondente do mesmo país. O que pode justificar

os números relativos à permanência em Portugal dos jornalistas correspondentes,

mesmo os que trabalham a contrato ou para agências de comunicação.

- Na maioria dos casos, se o órgão de comunicação optar por ter presença num

país, fica normalmente reduzido a um único correspondente por base.

As empresas detentoras dos meios de comunicação começaram a focar-se na

retenção de custos e no crescimento dos lucros e, uma vez que tanto a publicidade como

as audiências se tornaram fragmentadas, devido aos serviços de satélite, cabo e

Internet, “todas as organizações noticiosas começaram a procurar maneiras de

conseguir mais dinheiro para investir nos novos serviços de noticiais digitais. E na

primeira linha das preocupações com os custos estavam as dispendiosas noticiais

internacionais”. (Sambrook, 2005: 9)

V.2.3. O lugar de Portugal no contexto geopolítico internacional

Numa época de intensa globalização e avanços tecnológicos, seria de esperar

que houvesse um maior fluxo de notícias internacionais. Mas a tendência tem sido

inversa. Rodrigues afirma que a globalização não foi sinónimo de mais notícias

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internacionais ou mais correspondentes espalhados pelo mundo, porque os efeitos

sentidos na cobertura noticiosa refletiram-se a dois níveis: “quantitativo”, devido à

redução do número de notícias internacionais nos meios tradicionais e “qualificativo”,

uma vez que a tendência é para uma estandardização e repetição dos conteúdos

informativos.

Esta repetição de conteúdos internacionais de diferentes órgãos em diferentes

países, deve-se ao recurso da agência de comunicação, por parte dos órgãos de

comunicação, como uma alternativa aos correspondentes próprios.

A própria crise fez com que os correspondentes destacados também fossem

desaparecendo: “As pressões económicas, em manter bases internacionais de notícias

noutros países, fizeram com que o número de correspondentes tenha vindo a ser

regularmente reduzido, pela maior parte das organizações de notícias ocidentais, nos

últimos 20 anos ou mais” (Sambrook, 2010: 1).

Neste sentido, torna-se óbvio que Portugal tem vindo desde a década de 90, a

perder correspondentes estrangeiros, uma vez que noticias portuguesas não são

prioritárias para a maior parte dos outros países. Junta-se ainda o fato de Portugal não

ser um produtor diário de notícias internacionais, como podemos ver pela produção dos

correspondentes que responderam ao questionário.

Como já foi abordado, em Portugal, os jornalistas correspondentes de outros

países são provenientes da Europa, Brasil e de países africanos de língua portuguesa.

Exemplo disso, é o trabalho que o correspondente João Carlos elabora para um

programa em português emitido para África, na Rádio DW. O jornalista afirma que tem

sempre trabalho devido à ligação da estação com os PALOP.

Quanto ao resto do mundo, a presença de correspondentes é muito escassa.

Fora deste círculo, temos apenas a presença de outros quatro países: Turquia, México,

Marrocos e EUA, cada um – exceto a Turquia23 - com um correspondente. Mas esta

escassez é generalizada para países fora da “periferia noticiosa”. Os Estados Unidos da

América, ao contrário de Portugal, é um país com interesse para o maior parte dos

23 Segundo a Lista da Comissão da Carteira Profissional consultado em Março de 2015

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países, a nível noticioso. Segundo Sambrook, em 1999 estavam destacados neste país

jornalistas de 98 nacionalidades diferentes.

V.3. Tipos de correspondentes em Portugal

O conceito de «jornalista correspondente» é algo complexo e vai de encontro às

características do trabalho do jornalista. “O tradicional jornalista correspondente não

exerce mais um papel hegemonia sobre as notícias internacionais. No seu todo, os novos

jornalistas correspondentes não são uma elite e as suas características pessoais não são

facilmente definidas.” (Hamilton & Jenner, 2003: 137). Hoje, temos jornalistas

correspondentes a tempo inteiro e a part-time; jornalistas correspondentes

internacionais e jornalistas correspondentes locais; «spitalists» ou «long-timers»;

freelancers ou a contrato.

Na base desta multiplicidade, está o fato desta classe já não ser a elite do

jornalismo, deixando assim de usufruir de vários benefícios e condições que eram

adequados ao seu estatuto, fazendo com que o seu estatuto mude. Hoje, “os

correspondentes estrangeiros são jornalistas que trabalham, em muitos casos, como

freelancers, desempenhando a sua atividade profissional para vários órgãos de

comunicação” (Valente, 2009: 6)

No caso de Portugal, devido a todas as suas características, é ainda de referir que

a escolha deste país para trabalhar acaba por ser uma opção, um estilo de vida:

Muitos dos jornalistas que escolherem Portugal como local de trabalho optaram

por ficar cá, casaram por cá, educaram cá os seus filhos. Outros, só abraçaram a profissão

depois de cá chegarem, para estudar, para acompanhar o cônjuge ou por qualquer outra

razão particular. O ingresso no jornalismo tornara-se, para eles, uma forma interessante

de (sobre)vivência. 24

24 José Rebelo in Aos Olhos do Mundo: Portugal e os Portugueses Retratados por Correspondentes Estrangeiros, de Ana Luísa Rodrigues, pág. 15.

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Hoje, em Portugal encontram-se principalmente dois tipos de jornalistas: os

jornalistas correspondentes que escolhem Portugal para viver e trabalham como

freelancers e os jornalistas correspondentes locais, que são jornalistas portugueses que

são contratados pelos órgãos de comunicação como uma alternativa ao jornalista

correspondente “tradicional”.

V.3.1. Jornalistas Correspondentes Estrangeiros

Os jornalistas correspondentes em Portugal são na sua maioria «long-timers»,

segundo Ulf Hannerz (cit. in Rodrigues, 2008):

long-timers ocupam com frequência posições mais modestas – tanto do ponto de

vista organizacional quanto local, ou ambos. Mais do que correspondentes de alguma

delegação são geralmente free-lancers, o que pode acontecer por várias razões. Não só

porque estes profissionais trabalham fora dos grandes centros noticiosos para

organizações com menos destaque, como também porque se encontram em locais de

importância efetivamente reduzida, onde as empresas de media julgam desejável a

presença de um repórter, mas não a qualquer preço (2008: 91)

O contrário de um long-timer, seria um correspondente spiralist que, segundo o

autor, muda de posto a cada 3-5 anos (Hannerz, 2007: 302), ao longo de toda uma

carreira. A diferença entre eles está no seguinte fato: “os spitalists seriam como raposas

e os long-timers como ouriços; raposas sabem muitas coisas, e os ouriços sabem muito

sobre uma só coisa” (Hannerz, 2007: 304)

Olhando para o panorama português, apenas poderemos se enquadram nesta

caracterização 34% do universo jornalístico (11 jornalistas membros da AIEP).

Atualmente a estes jornalistas estão associadas as agências de comunicação por serem

os mais impulsionadores da rotação. Todavia, em Portugal, apenas três dos 11

jornalistas trabalham para uma agência e apenas dois em modo exclusivo, o que mostra

que esta nova vaga de jornalistas – jornalistas que estão há menos de cinco anos em

Portugal – pode estar relacionada com outros fatores.

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Podemos, no entanto, afirmar que são os correspondentes long-timers que

caracterizam a comunidade correspondente em Portugal, uma vez que 66% - 21

jornalistas – já trabalham em Portugal há mais de seis anos e 38% já vive país há pelo

menos 18 anos. Esta longa permanência, por parte dos jornalistas, pode também

significar que a comunidade de correspondentes “não é muito experiente no que diz

respeitos à variedade de países onde exercem a função de correspondência” (Rodrigues,

2008: 91). Esta variedade é costume dos spiralists, como já referido.

Ser correspondente «long-timer» em Portugal parece, contudo, trazer certos

benefícios profissionais. O jornalista João Carlos, membro da AIEP, afirma que, à medida

que os anos vão passando, torna-se mais fácil trabalhar em Portugal: “A facilidade

resultará dos anos de vivência no país e da rede de contatos que o jornalista cria. Quanto

mais conhecimento e contato tem com as pessoas/fontes mais facilmente se abrem as

portas.”. Isto porque um dos grandes problemas apontados, não só por este jornalista,

é o difícil acesso às instituições, sempre demorados e demasiado burocráticos.

Hannerz, também defende que é característico dos long-timers, o trabalho como

freelancer e em Portugal 56% dos jornalistas estão nesta posição. Sendo assim,

podemos concluir que no nosso país predominam os jornalistas correspondentes

estrangeiros os long-timers. Estes jornalistas tem uma posição privilegiado porque

“podem aproveitar o background que possuem para a explicação e contextualização da

situação” (Rodrigues, 2008: 48) do acontecimento que estão a cobrir.

Quando se trata de acontecimentos rotineiros, mas que são desconhecidos para

o público para o qual se escreve, pode haver uma desvantagem: “Ao fenómeno de

estranhamento, pode substituir-se o da saturação, pois ao 3º ou 4º artigo sobre um

mesmo tema é muito provável que a frescura jornalística já não seja a mesma”

(Rodrigues, 2008: 48).

V.3.2. Jornalistas Correspondentes Locais

Durante décadas o jornalista correspondente teve o duplo papel de reportar as

notícias que interessavam à audiência do seu país, ao mesmo tempo que analisava e

comentava esses mesmos eventos (Sambrook, 2010). Eram a principal fonte de

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informação, mas a evolução tecnológica fez mudar o que era esperado dos

correspondentes.

Segundo Alfred Hermida, (cit. in Vicente, 2013) há duas tendências que estão a

marcar a atualidade das notícias internacionais. Uma prende-se com o fato dos

principais órgãos de comunicação estarem, como já foi referido, a cortar na cobertura

internacional através do despedimento dos correspondentes baseados. Outra, está

relacionada com o fato destes mesmos meios procurarem outras alternativas deixadas

por este vazio. Uma dessas alternativas é a contratação de jornalistas correspondentes

locais: “as noticias internacionais estão a chegar a partir das pessoas desse país; alguns

deles são jornalistas, alguns deles não são necessariamente jornalistas profissionais mas

estão a ocupar o papel dos jornalistas ao reportar os acontecimentos” (Vicente, 2013:

36).

Rodrigues não identificou a existência deste tipo de correspondentes na sua

investigação em 2004, talvez porque não fosse tão forte a sua presença ou então porque

só a partir de 2009 é que os jornalistas portugueses puderem inscrever-se na Comissão

da Carteira Profissional25, enquanto jornalistas correspondentes, ou por causa de

ambas.

Em 2014, na Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal, a nacionalidade

portuguesa é, ao mesmo tempo que a brasileira, a nacionalidade com mais presença.

Contudo, num total de sete, apenas três não têm dupla nacionalidade. Mas quando se

olha para as nacionalidades na lista (Cartão de Correspondente Estrangeiro) da

Comissão26, num total de 113 jornalistas, encontram-se 43 portugueses. Esta diferença

pode prender-se pela natureza da AIEP, uma vez que o seu objetivo é apoiar os

jornalistas correspondentes estrangeiros na sua chegada e durante a sua estadia. Os

jornalistas portugueses não precisam desse apoio.

25 Despacho n.º 22266/2009 1 — Ao abrigo do artigo 16.º do Decreto -Lei n.º 70/2008, de 15 de Abril, e de acordo com o disposto no artigo 16.º da Lei n.º 1/99, de 13 de Janeiro, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.º 64/2007, de 6 de Novembro, aprovo o modelo do título de identificação de correspondente local, colaborador especializado e colaborador da área informativa de órgão de comunicação social nacional, regional ou local que exerçam regularmente actividade jornalística sem que esta constitua a sua ocupação principal, permanente e remunerada, que agora se publica em anexo. - http://www.ccpj.pt/comissao/regulamentodacomissao.pdf 26 http://www.ccpj.pt/jornalistas/ccest.php

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Este tipo de jornalistas não é exclusivo do nosso país. Segundo Hess, um quinto

dos 410 correspondentes que responderam ao inquérito sobre a nacionalidade,

disseram que eram americanos (incluindo nove de dupla nacionalidade): estamos a falar

de 82 jornalistas. Esta é a nacionalista com maior presença: “Em resumo há mais

jornalistas correspondentes nos Estados Unidos de nacionalidade norte-americana que

de nacionalidade japonesa (12 por cento) ou de nacionalidade alemã (11 por cento)”

(Hess, 2005: 37).

Sean Maguire (cit. in Sambrook, 2010), na altura o editor das notícias gerais e

políticas da Reuters, afirma que houve uma alteração na contratação de staff para os

diferentes escritórios espalhados pelo mundo: “Nós contratamos muito menos

britânicos do que o normal (...). Os nossos funcionários tendem a ser mais do seco

feminino, jovens e de nacionalidade do país onde trabalham” (2010: 48). Segundo o

Editor Chefe, David Shclesinger, os jornalistas locais são vitais para conseguir uma boa

estória: “Eles conhecem as suas áreas; eles têm as capacidades e os contatos” (2010:

49).

Também a Associted Press segue a mesma linha. A agência tem feito um esforço

para deixar o modelo tradicional com jornalistas expatriados, através de parcerias com

trabalhadores locais. Segundo Kathleen Carrol (cit. in Sambrook, 2010), a Editora

Executiva não foi apenas uma questão económica: “Não é apenas uma questão

económica, simplesmente não era sustentável. É muito mais eficaz contratar pessoas

locais” (2010: 49).

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CAPITULO VI – Portugal: uma opção de vida

Os dados recolhidos e analisados, incluindo os que foram reunidos por Ana Luísa

Rodrigues, demonstram que, trabalhar em Portugal como correspondente internacional

é, na maioria dos casos, uma opção de vida. Esta afirmação é fundamentada pelo regime

de trabalho dos correspondentes, que opta pelo regime de freelancer; pelo fato de mais

de metade dos jornalistas viverem em Portugal há mais de 11 anos e de terem mais de

50 anos de idade. A todas estas características, junta-se ainda o fato do nosso país não

ser considerado noticiosamente cobiçado, por parte da maioria dos países.

Sendo então uma opção de vida, várias variáveis devem ser analisadas, para que

se compreenda as razões desta escolha. As variáveis em análise são: A Associação da

Imprensa Estrangeira e de uma sala para a imprensa estrangeira, enquanto

infraestruturas de apoio; as características de Portugal e, em particular, de Lisboa; a

produtividade e o vencimento que estes jornalistas obtêm da sua escolha de vida.

V.1. Infraestruturas de Apoio

Uma das referências para a comunidade de jornalistas correspondentes

estrangeiros em Portugal é a Sala da Imprensa, no Palácio Foz, na Praça dos

Restauradores:

O Palácio Foz era já um lugar de referência para os jornalistas estrangeiros

durante o Estado Novo, pois aí funcionava o organismo que tutelava a comunicação social

e era onde Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros, dava as suas

conferências de imprensa previamente preparada para os correspondentes acreditados

em Lisboa (Rodrigues, 2008: 69).

Com o fim da ditadura e a chegada de centenas de correspondentes a território

nacional, esta sala ganhou uma outra importância e os seus funcionários, segundo

Rodrigues, passaram a ter várias tarefas: fazer acreditações, apoiar os jornalistas e

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garantir o bom funcionamento do espaço. Nesta altura, chegaram a trabalhar neste

espaço 11 funcionários.

Com a saída dos correspondentes do país, o funcionamento da sala alterou-se.

Em 2004, apenas trabalhavam quatro pessoas e “os horários de funcionamento foram

reduzidos em função das novas realidades” (Rodrigues, 2008: 70). Dez anos mais tarde,

esta sala tinha apenas dois funcionários e com um horário de funcionamento entre as 9

e as 18 horas, com paragem para hora de almoço. Esta situação não é atrativa para os

jornalistas, uma vez que as noticias não escolhem horas e o desafio destes profissionais

é, precisamente, conseguir divulgar a notícia em tempo real.

Esta Sala está equipada com computadores, acesso à Internet, ainda que

limitado, e impressora. No entanto, estes recursos começam a não ser suficientes. João

Carlos, que escreve para a Deutsh Weller, apontou que, devido às restrições financeiras

impostas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, o centro de apoio começa a notas

carências. Na verdade não há Wi-Fi, os computadores não foram atualizados e são

demasiado lentos, sendo que alguns funcionam mal.

O mau funcionamento da Sala, no entanto, deve-se também à fraca utilização

que lhe é dada por parte dos correspondentes devido às novas tecnologias, a maior

parte dos jornalistas trabalha a partir de casa. No Palácio Foz são apenas regulares

quatro ou cinco membros da AIEP. Os restantes visitam o espaço poucas vezes, apenas

para reuniões pontuais ou para encontros pessoas entre membros. Apesar das

condições limitares que a sala dispõe, é, ainda assim, um local agregador da comunidade

jornalística.

Esta situação não acontece apenas em Portugal. Segundo Jerome Godfroy,

correspondente francês nos EUA (cit. in Hess, 2005) afirma que “os Centros de Imprensa

Estrangeira são muito úteis para correspondentes com poucos recursos ou para aqueles

que acabaram de chegar aos Estados Unidos.” (2005: 96).

Devido à natureza do seu trabalho, o jornalismo correspondente é naturalmente

uma profissão que implica alguma solidão, uma vez que, na maioria das vezes, o trabalho

é feito, todo ele, de forma individual. As associações para a imprensa estrangeira podem

também ajudar neste ponto. A AIEP, para além de tentar proteger os seus membros e

apoiar os recém-chegados, cria um elemento agregador, fazendo com que todos,

independentemente do país de origem, façam parte da mesma comunidade.

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Hannerz, defende que o objetivo destas associações é exatamente a formação

de uma comunidade. Comunidade esta que, segundo o autor, “é um conjunto

heterogéneo de pessoas, dividas ao longo de várias dimensões, mas não por

nacionalidade. Os membros são reunidos no mesmo espaço por alguns eventos e

contextos organizados, mas no dia-a-dia a comunidade é fragmentada e individualizada”

(1998: 556).

As atividades que a AIEP organiza, ou em que participa, têm como objetivo juntar

de forma mais regular os seus membros, para tornar o seu trabalho menos solitário.

Durante a minha passagem na Associação, foram organizados vários encontros e visitas:

almoço com o jornalista Paulo Magalhães, apresentação da estratégia para 2015 do

Turismo de Portugal, apresentação da estratégia da AICEP até 2016 e uma visita às

vinhas da Casa Santos Lima e da Adega Mãe. Foi ainda organizada a Festa de Natal, que

tem por objetivo juntar os membros da Associação e respetivos familiares num

ambiente mais descontraído, onde o convívio é a palavra de ordem.

Apesar do esforço para a integração de todos, existem alguns problemas que

foram relatados pelos correspondentes. De forma informal, em conversas que tive o

privilégio de ter, informaram-me que o acesso às instituições é difícil. Ou seja, o acesso

que, à primeira vista, deveria ser facilitado, vê-se restringido e demorado. Falar com

presidentes das câmaras, ministros, presidentes de instituições, como a AICEP, ou do

Turismo de Portugal, é, atualmente, dificultado, principalmente por ação dos Assessores

de Imprensa.

Este problema de acesso não é exclusivo a Portugal. Stephen Hess afirma que,

também nos Estados Unidos, os correspondentes apresentam as mesmas reclamações.

Contudo há uns que “têm acesso se o país ou a cultura que eles representam tiver

importância para os Estados Unidos” (2005: 86).

Um dos objetivos destas Associações é o de colmatar este problema de acesso:

“Para aqueles cujo acesso é mais dificultado, há centro os Centros de Imprensa

Estrangeira do Estado” (Hess, 2005: 89). Contudo, Marie-Line, correspondente francesa

há mais de vinte anos a viver em Lisboa, diz que a comunicação com as instituições

nunca foi fácil:

A estratégia institucional, governamental ou empresarial é de tentar que as coisas

não fogem fora! (…) Mas isto tem a ver com uma visão provinciana da qual sofre as vezes

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Portugal. É pequeno e sofre disto, mas também não é muito entusiasta para que seja

falado fora. Com instituições oficiais é complicado, e sobretudo pela demora da resposta:

3 dias, uma semana, as vezes duas…. É um ritmo que não corresponde a realidade dos

medias de hoje.

VI.2. Características de Lisboa e do país

Apesar da pouca produção noticiosa que o nosso país produz, a verdade é que,

temos presente na nossa comunidade muitos jornalistas que já vivem há muitos anos

em Portugal, mostrando que há condições, pessoais e profissionais, que os atraem a

ficar por cá.

Peter Wise (cit. in Rodrigues, 2008) afirma que Portugal é um país muito

agradável para se viver devido à sua cultura, às paisagens, às pessoas, ao clima. E

segundo Rodrigues, esta “é provavelmente uma das ideias-força sobre Portugal mais

consensual entre os entrevistados: a possibilidade de qualidade de vida” (2008: 138).

Também a correspondente húngara Katalin Muharay, entrevistada por Rodrigues, optou

por viver em Portugal e disse ter conhecido poucas pessoas que não gostassem de aqui

viver.

Begonã Perez (cit. in Rodrigues, 2008) defende a ideia de que Portugal é melhor

opção que muitos países europeus: “O nível de vida pode não ser os mais elevados como

em Inglaterra ou na Alemanha, por exemplo… Mas por outro lado tem uma coisa que os

outros países não têm que é o saber viver” (2008: 139). Santiago Hedero (cit. in

Rodrigues, 2008), chega mesmo a afirmar que prefere o Porto a Tóquio ou a Londres,

por não haver tanto stresse e frenesim típico de uma grande cidade: “eu acho que

qualquer un gostaria de viver en Portugal” (2008: 139)

Este lado humano e capacidade de acolhimento que é tao conhecida de Portugal

e dos portugueses, é também um dos elementos cativadores apontados pela

investigação de Rodrigues. Há mesmo quem, sem qualquer relação histórica e/ou

afetiva pelo nosso país se sinta em casa. É caso de Mário Dujisin, de nacionalidade

chilena, afirma (cit. in Rodrigues, 2008):

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Rapidamente todas as pessoas que aqui vêm parar sentem-se lisboetas não é? (…)

Ninguém se sente madrileno… são todos de fora, já não há praticamente malta de Madrid,

há poucos (…) Aqui não… à parte de que ainda há muitos lisboetas, mas sendo os que

adoptaram a cidade como sua, todos vestem a camisola de Lisboa (…) para mim Lisboa é

como uma canção do Carlos do Carmo ‘Lisboa cidade mulher da minha vida (2008: 136)

Os jornalistas que vêm para Portugal identificam-se pelo país, apaixonam-se por

ele e é por ele que ficam, enfrentando as dificuldades que daí advêm a nível profissional.

Marie-Line, que vive em Portugal há mais de 20 anos, não pensa em deixar o país.

Apontou a dimensão humana, a diversidade e os serviços que a cidade tem à disposição,

como características positivas de Lisboa, não deixando de referir a sua beleza e a

segurança. Todavia, considera que o setor da saúde tem vindo a piorar nos últimos anos.

Paul Ames, jornalista corresponde inglês que trabalha atualmente para o Global

Post, está em Portugal pela segunda vez e, embora só viva por cá há um ano e meio, tem

opinião formada sobre a cidade que escolheu para trabalhar: “Para mim, é a mais bela

capital na Europa, a luz, o clima, a proximidade das praias, gastronomia, cultura, etc.”.

Considera, contudo, que existe alguma falta de civismo e defende que a cidade poderia

ser mais limpa: “as vezes há uma falta de civismo (no nosso bairro à noite, por exemplo),

a polícia deve ser mais atenta à pequena criminalidade.”.

Há ainda os jornalistas que trabalham tantos anos em Portugal que, quando se

reformam, optam por se manter por cá. Mário Dujisin, é um dos fundadores da AIEP,

esteve destacado noutros países, mas vive em Portugal desde o início da década de 90.

Atualmente, é reformado e vive em Oeiras. Exemplo semelhante é o de Riccardo Carucci,

jornalista italiano e também conhecido por ser um dos «históricos» da Associação, que

optou também por permanecer em Portugal depois dos anos de trabalho, gozando aqui

a sua reforma.

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VI.3. Produtividade e remunerações

A forma encontrada pelos jornalistas para se sustentar, tendo em conta a pouca

atualidade noticiosa que o nosso país gera diariamente, foi o regime de freelancer. “O

aumento do número de free-lancers é assim uma tendência marcada da comunidade, e

é consequência também de uma mudança de mentalidade relativamente ao que se

espera do mundo do trabalho” (Rodrigues, 2008: 51).

Analisando a produção mensal média dos jornalistas, onde se verifica que apenas

sete produzem mais de 20 trabalhos e que a maioria não produz mais de 12, mostra,

demonstra, mais uma vez, que Portugal não é um gerador de notícias internacionais

diárias. Como já foi referido anteriormente, há quatro jornalistas que produzem menos

de quatro peças por mês, seis que produzem entre quatro a oito e sete que produzem

entre nove a doze. Os restantes quinze, encontram-se nos escalões com maior produção

de peças: seis jornalistas produzem entre 13 a 17, dois entre 17 a 20 e sete produzem

mais de 20. O que significa, que a maior parte dos jornalistas produz no máximo 3 peças

por semana, numero consideravelmente baixo.

Portugal não é um país que tenha interesse para maior parte dos países, por isso,

apenas situações que não sejam corriqueiras interessam aos órgãos estrangeiros e, por

outro lado, estes mesmos trabalhos podem ser mais longos, necessitando de mais

tempo de preparação, execução, tratamento e redação. É esta falta de interesse

noticioso que surge como principal problema na vida dos correspondentes. Marie-Line

diz que este é um país pequeno e “que não tem agenda política de relevo na EU ou no

mundo”. Por isso nem sempre é “fácil vender uma peça sobre Portugal, porque o

assunto não é novidade, ou porque já foi falado, ou porque o país não está associado a

um conflito…”.

Contudo, a correspondente afirma ter a alguma sorte: Portugal “é um país

original, muito parecido a, por exemplo, França e, ao mesmo tempo, muito diferente. É

igual, mas não é: uma fronteira às vezes ténue, mas que permite de falar da maneira de

ser e de viver.”. Mas esta semelhança acrescenta-se também a facilidade na aprovação

ou venda de trabalhos.

A produtividade está diretamente relacionada com a ligação de Portugal e o país

de destino, ou seja, se houver interesse do país de origem ao nosso, haverá mais

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produção de notícias. João Carlos garante que nos últimos dez anos, a rádio DW aceitava

muito dos seus trabalhos propostos:

Depois de 1992, quando comecei como correspondente ainda era reduzido o

interesse por Portugal. Esse interesse foi aumentando gradualmente até o período do

resgate, mas também pela ligação de Portugal com África e Brasil, alvos principais da

linha editorial da Rádio DW. Terminado o resgate e devido a mudanças resultantes da

reestruturação na DW, reduziu o volume de peças sobre o país, que, entretanto, continua

a aparecer mas com menor frequência nas emissões agora encurtadas de 30 para 20

minutos.

Um dos grandes problemas apontados pelos jornalistas correspondentes é o

acesso às instituições, como já foi referido. Um processo que caracterizado pela sua

lentidão e burocracia. João Carlos afirma que, embora de um modo geral seja “fácil

chegar às pessoas”, em alguns “casos (e sobretudo na capital, o centro de todas as

decisões), há instituições de difícil acesso. Os pedidos quando aceites, passam por um

procedimento burocrático que afeta a velocidade do trabalho do jornalista”.

Esta burocracia faz com que a produtividade dos correspondentes seja mais

baixa e haja menos publicação de notícias. O correspondente aponta ainda, à

semelhança de outros, a dificuldade que tem em falar com assessores de imprensa,

implicando ainda mais a produção do seu trabalho.

A maior parte dos jornalistas vive e trabalha em Lisboa e raras são as deslocações

a outras partes do país, devido aos custos que isso implica. Por isso, encontrar trabalhos

fora de Lisboa, segundo João Carlos é raro, diminuindo ainda mais a sua produtividade

de trabalho. Apesar da falta de interesse por Portugal e falta de relevância que o nosso

país tem para o resto do mundo, o rendimento mensal médio liquido, na maioria dos

casos, não esta abaixo dos 1200€. Tendo em conta o custo de vida em Portugal, estes

valores são considerados aceitáveis. Visto que a média de produção de trabalhos é

baixa, significa que os correspondentes acabam por ser bem pagos pelo que faze. Para

a produtividade de um jornalista não está apenas em causa a sua criatividade. Para a

equação entra:

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- A relação que o país de origem do órgão tem. O jornalista produz mais se

houver uma relação de interesses económicos ou históricos, caso dos PALOP e da

Europa;

- O tema que o jornalista quer abordar e as suas fontes, que precisa para

escrever a sua estória. Se os jornalistas quiserem fazer trabalhos sobre o governo ou as

instituições, será mais difícil e demorado chegar a certas figuras, devido à burocracia e

aos assessores de imprensa;

- A zona. Lisboa é o centro da atividade política e económica do país. Fora daqui,

são muito pouco os acontecimentos que possam ter algum interesse para o resto do

mundo. Se o jornalista quiser ir atrás de estórias fora de Lisboa, terá um aumento de

custos, sendo que, possivelmente, os meios onde se inserem não estão dispostos a

suportá-los.

Juntando a estes três fatores, o jornalista tem ainda de ter em conta todas as

influências que o jornalismo está a sofrer: a evolução tecnológica e a globalização.

Segundo Paulo Ames, nos últimos anos muita coisa mudou, mesmo num país tão

pequeno e longínquo:

A evolução tecnológica, mudo muito - fazendo que e muito mais fácil obter

informações através das redes sociais. Agora as noticias sairiam muito mais rápidos e o

público tem acesso direto. Isso mude a papel do jornalista, fazendo que têm de fazer

trabalho mais analítico para adjunta valor. A multiplicação de fontes online ajude o

jornalista ter um visão mais global das coisas num tempo mais curto.

Ainda que Portugal seja considerado um país da periferia noticiosa, nos últimos anos

tem estado na mira devido aos escândalos financeiros, como os casos BPN ou do BES;

políticos, como o caso Sócrates ou dos Submarinos; bem como a crise económica, que

colocou o país sob a alçada da Troika. A analisar o valor das remunerações médias

mensais liquidas, os jornalistas estrangeiros ou nacionais, que escrevem para meios

internacionais, têm estado numa situação privilegiada e, talvez por isso, optem por ficar

aqui a trabalhar, uma vez que, neste caso, a situação estável, a nível de segurança, é

também uma razão valida para que permaneçam no país.

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CAPITULO VII - DISCUSSÃO DE RESULTADOS

VII.1. Quem é o jornalista correspondente em Portugal?

Em 1995, segundo um estudo realizado por Sandra Arruda (cit. in Laranjeiro,

2009), a média de idades, na comunidade de correspondentes em Portugal, era de 45

anos e o sexo masculino ocupava 60% do universo total. Em 2004, na investigação

realizada por Ana Luísa Rodrigues, existia um maior número de homens

correspondentes e, em relação à idade, havia maior incidência entre os 31 e os 40 anos.

Dos 44 inquiridos, 27 afirmaram trabalhar apenas para um órgão de comunicação,

havendo o predomínio das agências noticiosas e da imprensa.

Em 2014, o jornalista correspondente:

- é maioritariamente masculino, com mais de 50 anos e casaco. Contudo, é de

apontar, o fato de a diferença entre o número de homens e mulheres ser muito baixo;

- é um profissional com um alto nível de formação, na área das Ciências

Humanas, com predomínio na Comunicação e no Jornalismo;

- trabalha para mais do que um órgão de informação, sendo que a imprensa e as

agências de notícias continuam a ter maior presença;

- trabalha em regime freelancer e produz uma média de 1227 trabalhos

jornalísticos por mês, obtendo um vencimento médio mensal líquido de 1,431€28.

- vive há mais de uma década no nosso país.

Na generalidade, divido aos longos anos de permanência, fala fluentemente

português e vive em Lisboa. Utiliza a sua residência ou escritório para trabalhar, não

utilizando a Sala de Imprensa na sua rotina de trabalho. O que os fez escolher Portugal

para trabalhar, está diretamente relacionado com o clima, a cultura, a “arte” de bem

receber e a beleza arquitetónica da cidade e do país. Os principais problemas adjacentes

à sua profissão, em território nacional, prendem-se, com o fato, de existirem grandes

dificuldades em aceder às fontes institucionais, devido à pesada burocracia e à falta de

27 Ver Anexo 16 – Número médio mensal de trabalhos realizados pelos jornalistas correspondentes 28 Ver Anexo 17 – Vencimento médio mensal líquido dos correspondentes.

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capacidade de diálogo dos assessores de imprensa. No entanto, é da opinião geral, o

fato de Portugal ser um país onde se vive e se “sabe viver”.

Embora não seja um país capaz de produzir notícias diárias com interesse

internacional, a verdade é que grande parte dos jornalistas consegue obter rendimentos

mensais suficientes para manter uma vida com qualidade. Consideram, ainda, Portugal

uma segunda casa e por aqui permanecem longos anos, podendo ser considerados long-

timers.

Há ainda que declarar o aparecimento dos jornalistas correspondentes locais.

Esta nova “categoria” surgiu como forma alternativa, de os órgãos tradicionais se

desfazerem de algumas bases fixas, sem perder o contato direto em terreno. Assim,

como referido no capítulo 6, estão inscritos, na Comissão da Carteira Profissional, 43

jornalistas, de nacionalidade portuguesa, como correspondentes.

Apesar da nacionalidade, os jornalistas correspondentes têm de estar atentos às

mudanças que a sua profissão tem vindo a sofrer, ao longo dos últimos anos, tendo que

fazer o esforço para a elas se adaptarem, de forma a conseguirem sobreviver. Nesse

sentido, estes profissionais tem de perceber que, hoje existe

uma maior necessidade de especialização e formação por parte do jornalista, para

este ser capaz de refletir, com precisão, as histórias complexas além-fronteiras. Num

mundo interconectado, o jornalismo internacional precisa de estar mais informado e mais

consciente culturalmente, do que nunca. (Sambrook, 2010: 95)

VII.2. Observações finais

Cada vez mais, os meios de comunicação tradicionais têm vindo a cortar nas

despesas com o jornalismo internacional, investindo na tecnologia digital. Segundo o

presidente da ABC, David Westin, (cit. in. Sambrook, 2010) a tecnologia torna possível

ter uma base num determinado país, sem que para isso seja necessário ter despesas

com pessoas, salas de edição e todo o equipamento necessário. Chuck Lustig, seu antigo

colega, (cit. in. Sambrook, 2010) defende a mesma ideia:

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Nós conseguimos fazer a cobertura com menos pessoas, à medida que o

equipamento têm vindo a encolher, chegando ao ponto que apenas um jornalista

consegue carregar consigo, tudo o que precisa para filmar, editar e transmitir uma estória.

O jornalista correspondente tornou-se apenas num bombeiro que vai de fogo em fogo (…)

quando o fogo está apagado ele segue para o próximo. (2010: 18)

Esta citação, deixa clara a ideia que a definição do que é um jornalista

correspondente, hoje em dia, é um conceito complexo de formular. E, o significado que

lhe atribuímos atualmente estará, certamente, desatualizado num futuro próximo.

Hoje, o jornalista correspondente continua a trabalhar para órgãos que têm sede num

país diferente, mas cuja nacionalidade não tem, necessariamente, de ser a mesma que

a sua. Exemplo disso, são os jornalistas de nacionalidade portuguesa que trabalham para

meios internacionais, ou mesmo, os jornalistas estrangeiros que trabalham para órgãos

que não são os do seu país de origem: a chamada “aldeia global”29 parece ter chegado

ao jornalismo correspondente.

Na mesma linha de pensamento, a própria ligação entre o jornalista e a redação

alterou-se devido à evolução tecnológica. O contato entre o editor e a sua base, tornou-

se rápido e praticamente instantâneo mesmo que, a milhares de quilómetros de

distância. O correspondente, ao mesmo tempo que se tornou um “lobo solitário”,

trabalhando sozinho, também perdeu a liberdade editorial que lhe era característica.

O seu editor, devido ao aparecimento de novas fontes de informação, como as

redes sociais e os canais de notícias 24horas, passou a estar, muitas vezes, à sua frente

no tempo, fazendo com que seja ele a decidir os temas diários. O editor consegue hoje

informar o seu correspondente sobre as notícias do país onde está baseado, mesmo

antes de este acordar. Esta inversão de papéis vem dificultar, ainda mais, a permanência

dos correspondentes em certos países, considerados menos importantes.

É nesta posição que Portugal se encontra. “No século XXI, a importância de

Portugal como notícia é esporádica. (…) A realidade portuguesa apenas gera

29 “Conceito desenvolvido pelo teórico Marshall McLuhan (1964) para explicar a tendência de evolução do sistema mediático como elo de ligação entre os indivíduos num mundo que ficava cada vez mais pequeno perante o efeito das novas tecnologias da comunicação.” http://www.infopedia.pt/$aldeia-global

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acontecimentos relevantes internacionais espaçadamente (…) é o caso do Euro 2004 ou

da presidência da Comissão Europeia” (Laranjeiro, 2009: 56), ou da visita dos

representantes do FMI. Assim, pode-se afirmar, como a própria história nos conta, que

excetuando a Revolução dos Cravos em 1974 e os meses que a sucederam, o nosso país

nunca mereceu atenção por parte dos órgãos internacionais. E, o fato da maior parte

dos jornalistas correspondentes estrangeiros, em Portugal, trabalhar em regime de

freelancer, vem apenas reafirmar esta posição.

Mas esta situação não é única em Portugal. O mesmo acontece com os jornalistas

baseados em África. Na investigação de Paulo Nuno Vicente, em 2013, 50% da sua

amostra era caracterizada por trabalhar como freelancer ou stringer. Segundo o autor,

este regime faz com que os jornalistas desenvolvam uma narrativa de precaridade

socioeconómica: “Esta precaridade no trabalho traduz-se em salários baixos e

irregulares, pagamentos por trabalho, contratos de trabalho temporário, insegurança

social e rotinas de produção agitas.” (2013: 192).

À semelhança do que Ana Valente Laranjeiro concluiu em 2009, o número

reduzido de jornalistas correspondentes em Portugal deve-se, a uma conjugação de

muitos fatores. Entre eles:

- O fato destes profissionais trabalharem para vários meios ao mesmo tempo,

faz com que um só ocupe o lugar que poderia ser doutro. Porque “um correspondente

que trabalhe para vários órgãos de comunicação diminui a necessidade, dos mesmo,

enviarem outros profissionais para ocuparem o lugar”. (Valente, 2009: 61);

- A posição de Portugal face aos outros países. “Portugal pode inserir-se nos

chamados “países periféricos”, o que leva alguns meios de comunicação internacionais

a efectuarem a cobertura do país a partir de Espanha.” (Valente, 2009: 61);

- As novas tecnologias e o aparecimento da Internet permitiram, por um lado,

o aparecimento de novos meios e, por outro, a disponibilização de informação à

distância, fazendo com que as notícias chegassem de forma instantânea a todo lado.

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Esta mudança, para além de ter alterado a forma de fazer notícias, pôs em causa a

necessidade de ter jornalistas correspondentes, bem como os custos elevados que isso

implica, em países da periferia noticiosa.

- A crise económica que assolou o mundo inteiro, veio impulsionar a tendência

de despedimentos que o jornalismo correspondente vivia. Com os custos que os

jornalistas correspondentes envolvem, as novas fontes e tecnologia, que ligam tudo e

todos de maneira fácil, rápida e barata, fizeram com que os meios tradicionais, perante

uma situação de crise económica, tivessem de dispensar mais jornalistas

correspondentes. Como vimos, nos últimos dez anos, muitos foram os jornalistas

correspondentes que perderam os seus vínculos.

“Durante a maior parte do século XX, o jornalista correspondente era

tendencialmente masculino, de classe média, trabalhando com um alto nível de

independência, com um ou dois trabalhos por dia e com apoio de staff local, numa base

bem financiada.” (Sambrook, 2010: 98). Para além de serem a única fonte de

informação, da sua audiência em casa, não falavam a língua do país onde estavam

estacionados. No futuro, Sambrook, defende que o jornalista será diverso no género, na

etnia e no background e falará a língua do país, terá vários trabalhos no mesmo dia, para

vários e diversos órgãos e será freelancer “em vez de ser staff de uma organização. Eles

provavelmente trabalharão a partir de casa” (2010: 99).

Este futuro que o autor descreveu em 2010, apresenta-se, como o presente da

realidade dos jornalistas correspondentes em Portugal: falam português; trabalham

principalmente a partir de casa; há diversidade no género e nas etnias; trabalham como

freelancers para vários e diferentes órgãos de comunicação. E isto deve-se às “mudanças

introduzidas pelas novas tecnologias, que estão a dar uma nova forma ao fluxo das

notícias internacionais, devido à diminuição das barreiras económicas da publicação e

radiodifusão, e à proliferação de fontes não tradicionais de notícias internacionais”

(Hamilton & Jenner,2003: 132).

Pode-se concluir que a crise económica, a globalização e a evolução tecnológica,

transformou a maneira como se faz e distribui notícias. Estes novos modelos têm levado

a uma descida do número de jornalistas correspondentes necessários, um pouco por

todo o mundo e Portugal, na cauda da Europa, e com pouco valor noticioso, não é

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exceção. De década para década, o número de jornalistas correspondentes estrangeiros,

em território nacional, vão diminuindo.

Com este relatório de estágio, foi possível traçar o perfil socioeconómico do jornalista

correspondente em Portugal, permitindo assim visualizar um rosto que é tantas vezes

desconhecido e se esconde por detrás de uma voz ou de um computador. O jornalismo

correspondente é e deve continuar a ser reconhecido como um esforço que determinada pessoa

fez para dar notícias, sobre um país não nativo, para o resto do mundo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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Disponível em

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Correspondentes Estrangeiros. Lisboa: Livros Horizonte , 2008.

Sambrook, Richard. “Are Foreign Correspondents Redundant? Te changing face of

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Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 2013.

Willnat, Lars, David H. Weaver, e Jihyang Choi. “The Global Journalist in the Twenty-First

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Outras consultas:

<http://aiep.eu/index.html>

<https://blogaiep.wordpress.com/>. Consultado em Março de 2015

<http://www.ccpj.pt/comissao/regulamentodacomissao.pdf >. Consultado em Março

de 2015

<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi1/entrevistat2.pdf>. Consultado em

Março de 2015

< http://www.infopedia.pt/$aldeia-global>. Consultado em Abril de 2015

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ANEXOS

Anexo 1 – Encontro com o jornalista Paulo Magalhães

Encontro com o jornalista Paulo Magalhães

31/10/2014

O convidado de honra da AIEP, para um almoço onde se abordam os temas atuais entre

os membros e um jornalista nacional, foi Paulo Magalhães, apresentador do programa

Política Mais da TVI24. O jornalista tenta que o seu programa não seja, única e

exclusivamente, uma análise do Parlamento ou um debate entre deputados, mas sim

uma análise de todos os temas: «tudo é política hoje em dia» adianta Paulo Magalhães.

Com uma bela vista sobre as Sete Colinas de Lisboa, que o restaurante Tágide oferece,

os membros presentes e o apresentador debateram os mais variados temas: Orçamento

de Estado 2015, as medidas que são positivas e as que são, pelo contrário, negativas;

quem ocupará o cargo de Primeiro-Ministro nas eleições do próximo ano, e o jornalista

adianta que não está convencido que será, com toda a certeza, uma maioria clara do PS;

o funcionamento do seu programa; o seu percurso como jornalista – começou na TSF,

passou pela Renascença e está há quatro/cinco anos na TVI; a crise, os portugueses e o

pós-Troika.

Foi assim, num ambiente descontraído, que se discutiram, durante duas horas, os temas

que mais preocupam os portugueses e também os jornalistas.

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Anexo 2 – AIEP visita Escola de Turismo de Lisboa e almoça com o presidente

do Turismo de Portugal, João Cotrim Figueiredo.

AIEP encontra-se com o presidente do Turismo de Portugal

20/10/2014

A convite do Turismo de Portugal, alguns sócios da Associação para a Imprensa

Estrangeira visitaram no passado dia 10 de Outubro a Escola de Hotelaria e Turismo de

Lisboa.

Com início às 12 horas e após uma pequena visita guiada pelas instalações da escola, o

presidente do Turismo e Portugal, João Cotrim Figueiredo, fez uma apresentação das

principais metas e objetivos da estratégia da organização para 2015.

De seguida foi oferecido um almoço, cujo objetivo passou não só pela degustação dos

pratos executados pelos alunos, como por uma conversa informal entre os jornalistas e

o responsável pelo Turismo em Portugal.

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Anexo 3 – Notícia sobre o turismo em Portugal

Setor do turismo vai crescer 11% este ano em Portugal

Apesar das restrições orçamentais que impedem o aumento no investimento em

promoção, o setor do turismo em Portugal vai registar em 2014 o dobro do crescimento

em relação à média europeia e mesmo em relação aos países do mediterrâneo. Segundo

João Cotrim Figueiredo, em encontro com a AIEP no dia 10 de outubro, o presidente do

Turismo de Portugal, o setor vai crescer 11% em 2014.

Cotrim afirmou que um dos principais pilares da estratégia que permitiu este

crescimento foi a promoção online do país. Com um orçamento de 30 milhões para a

promoção, foram utilizados 25%, ou seja 7,5 milhões, para dar notoriedade a Portugal

da rede. Registaram-se 16 mil visitantes no website visitportugal.com por dia, o que se

traduz num crescimento de 134% em comparação com o ano de 2013. Já no Youtube,

há por dia 25 mil visualizações diárias – 25 vezes o que havia no ano anterior.

Um exemplo das atividades de promoção de Portugal como destino turístico é o projeto

“MacNamara Surf Trip”, apresentado no próprio dia 10 de outubro em Carcavelos, com

o objetivo de construir a imagem como um dos melhores destinos mundiais de surf. O

norte-americano Garrett MacNamara, que detém o recorde de ter surfado a maior onda

até hoje no canhão da Nazaré, percorreu todas as regiões do país com o objetivo de criar

vídeos com as suas escolhas do que de melhor o país tem.

Para o próximo ano, as verbas de promoção do Turismo de Portugal deverão manter-se

em 30 milhões de euros e a estratégia é apostar em 13 mercados considerados

prioritários. Além dos mercados já consolidados, como a França, Espanha, Reino Unido,

Escandinávia, Brasil e Estados Unidos, o objetivo é atrair turistas russos e chineses, de

forma a manter o ritmo de crescimento nos dois dígitos.

Joana Coelho

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Anexo 4 – Texto para o Website sobre o encontro com a AICEP´

AICEP apresenta estratégia para os próximos dois anos

12/11/2014

Na sede da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), o

presidente Miguel Frasquilho reuniu-se com a AIEP para apresentar a estratégia que

elaborou para o investimento e comércio externo português: "O plano que está a ser

lançado esta semana, resulta numa análise de quatro meses, que tiveram em conta as

perspetivas da economia. Havia por isso apenas dois caminhos possíveis: a captação de

novo investimento, mantendo o que já existe e um aumento das exportações".

Neste sentido vai haver um reforço em alguns dos mercados em que a AICEP já tem

presença: em algumas cidades da Europa; nos Estados Unidos, com a reabertura da

delegação em São Francisco; ou na Turquia onde vão abrir um escritório em Istambul.

Para além deste reforço vão ser criadas delegações em 12 novos países: Noruega,

Finlândia, Cazaquistão, Coreia do Sul, Equador, Gana, Senegal, Nigéria e Guiné Bissau e

Equatorial, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Este último grupo faz com que a Agência

marque presença em todos os países que fazem parte da CPLP e da Lusofonia.

Também neste países vão passar a marcar presença aquilo a que a AICEP chama de FID

(Foreign Direct Investment) Scouts, ou seja, especialistas na captação de investimento

cujo objetivo é apenas esse mesmo. Inicialmente esta equipa vai focar-se em três áreas

que a Agência considerou prioritárias: Canada e Estados Unidos, na Europa, a Alemanha,

a Bélgica, a França, a Holanda, Itália, Luxemburgo, Reino Unidos e Suíça e na Ásia, a

Coreia do Sul, Japão e claro, a China.

Para o fomento das exportações o trabalho vai passar por duas vertentes: ajudar as

empresas que já têm ajudado e aquelas que procurem ajuda direta da Agência e através

do programa "Roadshow Portugal Global", que tem por objetivo apresentar aos

produtores nacionais as oportunidades de exportação certas para cada região.

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Outra das medidas apontadas pelo presidente é um programa de visitas para imprensa

estrangeira especializada a Portugal, cujo objetivo é a publicação de trabalhos sobre

regiões e empresas portuguesas para criar oportunidades de exportação ou

investimento. Ficou também a promessa uma aproximação entre a Agência e a AIEP.

Joana Coelho

Anexo 5 – Notícia sobre a AICEP

Exportações em Portugal ultrapassam os 40% em 2013

O ano passado Portugal viu as exportações ultrapassarem os 40% do PIB. Para este

índice muito contribuiu a grande aposta que se tem feito os produtos portugueses.

Segundo Miguel Fasquilho, presidente da Agência para o Investimento e Comércio

Externo em Portugal (AICEP), o crescimento das exportações, “que continua ainda

aquém das potencialidades do país”, tem contribuído para a descida do défice

português.

Segundo os dados da Prodata, o défice externo tem vindo, nos últimos três anos, a

diminuir. Em 2010, Portugal chegou ao valor máximo de 11,2%, mas em 2013 fechou o

ano com 4,9. Para o próximo ano, o Governo português pretende obter um défice abaixo

dos 3%, feito que não acontece há pelo menos 20 anos.

Miguel Fasquilho, na estratégia que apresentou, e que terminará no final de 2016,

pretende chegar ao produtor português, encontrando as oportunidades adequadas a

cada um. Para tal criou o “Roadshow Portugal Global”, uma espécie de convenção

que passará pelas diferentes regiões de norte a sul. A ideia é “levar a cada região as

oportunidades certas de exportação”, afirma Fasquilho.

Para além de ir tentar ensinar os empresários portugueses a exportar e para onde

exportar, a AICEP vai criar 12 novas delegações, na Finlândia, Noruega, Gana,

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Cazaquistão, Equador, Senegal, Nigéria, Coreia do Sul, a Guiné Bissau, Guiné Equatorial,

São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, alargando, assim, as possibilidades de exportação

dos produtores nacionais.

Este conjunto de países representam um mercado de mais de 250 milhões novos

possíveis consumidores. Na Guiné Equatorial, por exemplo, “nos últimos cinco anos, as

exportações portuguesas têm crescido 47% ao ano”, afirma o presidente da agência.

Será ainda convidada imprensa estrangeira especializada para visitar o país e para

conhecer empresas, com o objectivo de internacionalizar os produtos portugueses.

Embora se encontre satisfeito pelo rumo do crescimento das exportações, Miguel

Fasquilho pretende que Portugal chegue ao patamar de países como a Holanda e a

Bélgica, “onde os índices ultrapassam os 80% do PIB”.

Com presença em 65 países, um pouco por todo o mundo, a estratégia da AICEP passará

também pela captação de novos investimentos estrangeiros em terras nacionais. Para

tal, foram criados os FDI (Foreign Dirct Investment) Scouts, uma rede de especialistas na

captação de investimento estrangeiro.

Joana Coelho

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Anexo 6 – Texto de rádio para a DW

O guineense Fernando Cabral entrou casualmente no mundo da moda aos 23 anos, a

convite de dois estilistas angolanos que participaram na Moda Lisboa de 2010.

(O-ton/Abordaram-me… com o meu irmão.)

Em 2012, Alécia Morais, 17 anos, venceu o concurso da Elite Models Look de Cabo

Verde. Em Shangai, na China, representou o país tendo ficado no Top 15 entre as

finalistas.

(O-ton/O meu sonho… ser eleita.)

Foi assim que começou a carreira como manequim, tendo já desfilado na Moda Lisboa.

(O-ton/Ando a viajar… em Paris.)

Alécia Morais, praticamente no início de carreira, e Fernando Cabral, já com mais

experiência nas passarelles internacionais, são dois exemplos de manequins africanos

bastante procurados no mundo da moda. África oferece muito potencial, afirma o

angolano Ary Amado, da Karacter Models. O agente do jovem guineense, que veio para

Portugal com cinco anos, aponta algumas singularidades que atraem os estilistas

mundiais.

(O-ton/A musicalidade… e no sítio certo.)

Agências como a angolana Dabanda, com pólo em Lisboa, cuidam da carreira dos

modelos selecionados com muito rigor. É uma das exigencias para o sucesso, refere

Sandra Teixeira, agente da jovem cabo-verdiana Alécia.

(O-ton/Temos casos… a trabalhar.)

No passado recente, lembra, o modelo africano não era muito requisitado. Sandra

recorda o caso da manequim angolana, Amilna Estevão, a primeira modelo negra a ficar

nos primeiros três lugares na final do concurso Elite Models Look Mundial, realizado em

2013, na China.

(O-ton/A modelo negra… futuro à frente.)

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Embora os modelos africanos tenham vindo a conquistar o seu lugar a nível mundial,

particularmente na Europa, ainda existem algumas barreiras impostas pelos próprios

consumidores. Dá conta Ary Amado.

(O-ton/Existe qualquer… a nível europeu.)

Mas, Fernando Cabral assegura que nunca se sentiu discriminado.

(O-ton/Não, não, graças a Deus… no que estava a fazer.)

Os modelos entrevistados pela DW participam este fim-de-semana na 43ª edição da

Moda Lisboa, que, segundo os seus agentes, constitui necessariamente uma rampa de

lançamento para os que dão os primeiros passos no mundo da moda. LX/DW/JC

Anexo 7 – Crónica para rádio: Exposição no Mudeu MUDE, “Por detrás das Sombras”

Descendo as escadas que levam a um antigo cofre, as relíquias que lá vai

encontrar não serão joias ou barras de ouro, encontrará sim uma coleção de mais de

400 pares de óculos. A exposição “Por detrás das sombras”, que está no Museu MUDE

em Lisboa, é apenas uma mostra dos 3000 exemplares que André Leal vem a adquirir

desde os 15 anos.

Em cinco secções diferentes encontrará óculos de 1720 até aos dias de hoje, de

todos os estilos, cores, matérias e formas. Os criadores também são muitos: Pierre

Cardin, Dior, Ray Ban, Versage, Lacoste.

Poderá ainda encontrar óculos assinados por André Leal, réplicas de modelos

popularizados pelos grandes nomes de Hollywood, como Audrey Hepburn, até aos

modelos mais estranhos, em formato de diamante ou mais futuristas - há de tudo e para

todos os gostos.

Uma das características que salta à vista na exposição é a sua organização. Se

acha que vai encontrar algo com uma lógica temporal engane-se. Aqui no mesmo grupo

encontrará óculos de décadas diferentes. O que os une é o modelo, o formato, o design.

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Assim numa mesma sessão encontrará óculos de 1970 e de 2000, mostrando a

intemporalidade de certos modelos.

André Leal mostra que houve uma clara evolução deste acessório, cujo objetivo

era apenas funcional, ou seja ajudar a ver melhor. Sem hastes ou qualquer preocupação

com a estética no seculo XVIII, este acessório, hoje considerado indispensável, para além

de funcional tem de ter um design que se enquadre com a atualidade.

Anexo 8 – História da Associação

Criação…

Decorria o ano de 1975 e, embora fosse Dezembro, o ambiente era quente. Havia

por todo o lado manifestações que eram permitidas pela implementação da liberdade e

o fim da ditadura de Salazar. Mario Dujisin (IPS), Marta de la Cal (Time Magazine), Diana

Smith (Financial Times) e Peter Collis (The Times), encontravam-se numa cervejaria na

Rua das Portas de Santo Antão, em Lisboa, quando começam a ouvir vozes exaltadas

que vinham da rua.

Como para qualquer jornalista, a curiosidade aguçada fê-los sair do restaurante,

mas um polícia tentou afastá-los, não os deixando fotografar ou falar com os

manifestantes. Diana Smith foi empurrada, caiu no chão. Tentaram fazer queixa mas

ninguém os quis ouvir. A jornalista sentiu que estava na altura de criarem uma

associação para os proteger – é então aqui que nasce a Associação da Imprensa

Estrangeira em Portugal (AIEP). A primeira reunião aconteceu ainda em 1975, no

escritório da Inter Press Service (IPS) na Praça da Alegria.

Em Janeiro convidam Michel Trichet (Agence France Press) a fazer parto do grupo

inicial e para posteriormente ocupar o cargo de presidente, porque o mundo estava em

plena Guerra Fria e a AFP representava a França, uma grande potência mundial mas uma

agência menos militante no enfrentamento Este-Oeste, e Vladimir Resnichenko

(Novosti, da URSS) para ocupar o cargo de 2º vice-presidente. Com Dujisin em 1º vice-

presidente, representante de uma agência estritamente internacional, sendo uma

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cooperativa de jornalistas de 62 países, criou-se o equilíbrio, principalmente político,

que os fundadores desejavam.

Formação…

Legalmente a AIEP só nasceu em 1978, devido à burocracia portuguesa, mas a

primeira assembleia aconteceu em Março e Abril de 1976, no Hotel Plaza. A partir daqui

começaram a desenhar a estrutura. Os objetivos da Associação passariam então pela

proteção dos jornalistas, pela organização de eventos onde todos os sócios possam

participar, assim como dar apoio aos novos jornalistas que chegam ao país.

Nesta altura une-se ao quinteto inicial, para estruturar a Associação um novo

grupo: Ken Pottinger (BBC), Sandy Sloop (UPI), Riccardo Carucci (ANSA), Ramon Font

(RNE), Mary Castanheira, Patrick Ryne (Associated Press), Duda Guennes, Carlos Alberto

Pontes (Reuters). Todos eles ficaram conhecidos pelos “históricos da AIEP” e, para além

de reuniões, começaram a organizar encontros com várias entidades: o Conselho de

Revolução, o então primeiro-ministro, Mário Soares, e o Presidente da República,

Ramalho Eanes, entre outros.

A 21 de Abril de 1978, no Hotel Tivoli, em Lisboa, dá-se a primeira Assembleia

Geral oficial. A obtenção de uma sede é algo que tem sido discutido ao longo dos 30

anos, mas com a Sala de Imprensa, no Palácio Foz nos Restauradores, à disposição dos

correspondentes, foram custos extra que acabaram sempre por ser postos de lado.

A Sala da Imprensa, que sempre esteve disponível para a imprensa estrangeira,

mesmo antes da queda do Regime, teve ao serviço dos jornalistas, máquinas telex e

telefones para ajudar os jornalistas no seu trabalho. Depois da Expo 98 recebeu

computadores. Os que sempre frequentaram menos a Sala são os jornalistas de agências

noticiosas, porque estas dispõem sempre, ou quase sempre, escritório próprio, assim

como correspondentes das televisões. Mas sempre foi um espaço muito procurado,

devido à sua localização central.

A partir da primeira Assembleia Geral, os jornalistas foram entrando e saindo

consoante a sua presença em Portugal e o número de atividades foi aumentando. Entre

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encontros, reuniões, pequenos-almoços, almoços ou jantares, os membros da

Associação tiveram ao longo dos anos a preocupação de se reunir com as figuras mais

importantes da política, como os Presidentes da República, os Primeiros-Ministros e

alguns ministros, mas também com outros políticos e jornalistas nacionais, entre outros.

O objetivo destes encontros é a discussão dos principais temas nacionais e o

estreitamento de laços. A AIEP fez também, ao longo dos anos, algumas viagens: Índia,

Macau, Espanha, Sines, Porto, Açores e Fundão, entre outras.

No ano de 1990 é criado o Prémio Personalidade do Ano. Este prémio deu uma

maior visibilidade à Associação devido ao seu intuito: prestigiar um português que se

tenha distinguido pelo seu trabalho. Já foram entregues prémios a políticos, artistas,

desportistas, entre outros. Entre eles encontra-se Mário Soares, que se distinguiu ao

longo dos anos pelo apoio que mostrou à imprensa estrangeira, Luís Figo e Cristiano

Ronaldo, pelas suas carreiras futebolísticas, ou artistas como Joana Vasconcelos ou

Paula Rego, por levarem a arte portuguesa além-fronteiras (para ver lista completa

aceda à secção Prémio - http://www.aiep.eu/premio_frame.html).

O Prémio Personalidade do Ano, que desde 2012 é também conhecido por

Prémio Marta de la Cal, em homenagem a todo o trabalho e empenho para o bom

funcionamento da Associação que essa saudosa jornalista sempre prestou, é eleito de

forma democrática com a plena participação dos correspondentes, e com a escolha final

anunciada em Dezembro.

Outra nova tradição começou mais ou menos na mesma altura: o Jantar de Natal.

Decorre em Dezembro e tem como objetivo juntar todos os membros e os seus

familiares, assim como assessores de imprensa, jornalistas portugueses e

representantes do Governo. Cada sócio é suposto levar, também, alguma coisa típica do

seu país para partilhar com o resto dos convidados. A Associação aproveita do momento

ainda para revelar o nome do Personalidade do Ano, cujo prémio entregue no ano

seguinte.

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Presidentes…

Todos os anos é realizada uma Assembleia Geral, onde os membros por presença

ou por representação votam para eleger os Corpos Gerentes da Associação. Desde a sua

criação a AIEP pode contar com um leque variado de nacionalidades à frente da

presidência. Deve-se a cada um deles o trabalho e persistência dedicada à Associação,

para que esta continuasse a prestar os serviços e completar os objetivos pela qual foi

criada.

1978 – Michel Trichet (França – Agence France Press)

1979 – Mario Dujisin (Chile – IPS)

1980 – Diego Carcedo (Espanha – TVE)

1981 – Diego Carcedo (Espanha – TVE)

1982 – Diego Carcedo (Espanha – TVE)

1983 – Diego Carcedo (Espanha – TVE)

1984 – Ramon Font (Espanha – RNE-TVE)

1985 – Ramon Font (Espanha – RNE-TVE)

1986 – Ramon Font (Espanha – RNE-TVE)

1986 – Marta de la Cal, em funções (EUA – Time)

1987 – José Alberto Braga (Brasil – Jornal do Commércio)

1988 – José Alberto Braga (Brasil – Jornal do Commércio)

1989 – Carlo Giacobbe (Itália – ANSA)

1990 – Jill Jolliffe (Austrália – The Guardian)

1991 – Jill Jolliffe (Austrália – The Guardian)

1992 – Eva Henningsen (Dinamarca – Politiken)

1993 – Eva Henningsen (Dinamarca – Politiken)

1994 – Mario Dujisin (Chile – IPS)

1995 – Mario Dujisin (Chile – IPS)

1996 – Jill Jolliffe (Australia – The Observer)

1997 – Jair Rattner (Brasil – BBC Brasil e Deutsche Welle)

1998 – Erik T. Burns (EUA – AP-Dow Jones)

1999 – Eva Henningsen (Dinamarca – Radio Dinamarca)

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2000 – Eva Henningsen (Dinamarca – Radio Dinamarca)

2001 – Eva Henningsen (Dinamarca – Radio Dinamarca)

2002 – Corneliu Popa (Roménia – BBC Serviço Romeno)

2003 – Corneliu Popa (Roménia – BBC Serviço Romeno)

2004 – Ramon Font (Espanha – TVE e ACN)

2005 – Ramon Font (Espanha – TVE e ACN)

2006 – Ramon Font (Espanha – TVE e ACN)

2006 – Barry Hatton, em funções (EUA – Associated Press)

2006 – Belén Rodrigo (Espanha – Onda Cero e ABC)

2007 – Belén Rodrigo (Espanha – Onda Cero e ABC)

2008 – Belén Rodrigo (Espanha – Onda Cero e ABC)

2009 – Adriana Niemeyer (Brasil – Globo News)

2010 – Adriana Niemeyer (Brasil – Globo News)

2011 – Marie-line Darcy (França – Radio France Internationale)

2012 – Marie-line Darcy (França – Radio France Internationale)

2013 – Belén Rodrigo (Espanha – Onda Cero e ABC)

2014 – Alison Roberts (Reino Unido – BBC News)

Assembleias gerais…

As Assembleias Gerais da Associação para a Imprensa Estrangeira em Portugal,

sempre tiveram lugar em Lisboa, cidade onde se encontram a maior parte dos jornalistas

estrangeiros. Ao longo dos anos estes encontros, de uma forma muito livre, tiveram

como objetivo a discussão dos anos transactos e o que deveria ser feito no novo, com a

eleição de um novo presidente e conselho executivo. Foi também lugar de

implementação e alteração de estatutos, de combinações, como viagens e encontros, e,

às vezes, da escolha do Personalidade do Ano.

As reuniões tiveram lugar em vários sítios: Hotel Tivoli (1978), Hotel Diplomático

(1979), Hotel Fenix (de 1980 a 1985), Hotel Alfa (1985), Casa da Imprensa (1987 e de

1992 a 1996), Fórum Picoas (1988 e 1989), Hotel Metrópole (1997 e 1998), Hotel Altis

(2004) e no Palácio Foz (1990, 1991, 1996, de 2000 a 2003 e de 2005 até à data).

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Agradecimentos…

Destaque para duas pessoas que não eram estrangeiros, nem jornalistas, mas

que ajudaram sempre muito a Associação e os seus membros:

Benjamim Costa, era administrador da Agence France Press em Portugal e

tratava de toda a burocracia da Associação;

Arlindo Reis era tradutor do IPS do serviço espanhol para português e fez muitas

traduções para a Associação.

Isso além da Anne Governo, que pelo seu longo serviço de secretária executiva

tem assegurado à Associação uma continuidade preciosa.

Destaque para alguns jornalistas portugueses, devido à solidariedade e

companheirismo com os correspondentes: Adelino Gomes, Carlos Gil, Eugénio Alves,

José Carlos Vasconcelos e Cáceres Monteiro.

Destaque para os militares do 25 de Abril, com quem a Associação sempre

manteve uma boa relação, em especial Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e

Melo Antunes.

Destaque para Mário Soares, que nas palavras de Mario Dujisin é “uma espécie

de pai para a imprensa estrangeira”. Mesmo antes da criação da Associação sempre

manteve uma boa relação com os jornalistas estrangeiros, tendo sido várias as

oportunidades para encontros.

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Anexo 9 - Press Release Prémio Personalidade do Ano 2014

Informação à imprensa

Carlos do Carmo é eleito a personalidade do ano 2014 pela imprensa estrangeira

O fadista Carlos do Carmo foi escolhido para o Prémio Personalidade do Ano (Prémio

Martha de la Cal) de 2014, da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP). O

anúncio foi feito durante a anual Festa de Natal da AIEP, na Sala de Arquivo, da Câmara

Municipal de Lisboa.

Carlos Manuel de Ascenção do Carmo de Almeida, mais conhecido como Carlos do

Carmo, nasceu em Lisboa, em 1939. Três anos depois de o fado ser considerado pela

Unesco como Património Imaterial da Humanidade, o mais importante fadista

português da atualidade recebeu o prémio Emmy Latino por sua carreira. Trata-se da

primeira vez que o fado foi galardoado pela Latin Recording Academy.

Com mais de 30 álbuns editados, ao longo de 50 anos de carreira, Carlos do Carmo já

cantou um pouco por todo o mundo. Entre outras distinções, em 1997 recebeu o grau

de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e em 1998 ganhou o Globo de Ouro.

Recebeu também o Prémio Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de

Autores, em 2008 e o diploma do Senado de Rhode Island, nos Estados Unidos, pelo seu

papel na divulgação da música portuguesa.

O 25º Prémio Personalidade do Ano Martha de la Cal será entregue numa cerimónia no

início de 2015. Tendo a sua primeira edição em 1990, o seu objetivo é o reconhecimento

da pessoa ou da instituição portuguesa que mais fez pela imagem do país no estrangeiro

no ano, numa escolha realizada pelos jornalistas de meios de informação estrangeiros

acreditados em Portugal. Em edições anteriores, o prémio já foi entregue a Carlos

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Paredes, aos Capitães de Abril, José Saramago, Mariza, António Guterres, Durão

Barroso, Rosa Mota, Álvaro Siza Vieira, Luís Figo e Mário Soares, entre outros.

Mais informações com:

Alison Roberts: 919541226

(presidente da AIEP)

____________

Anexo 10 - Press Release Festa de Natal e anúncio do Premio Personalidade de 2014

Informação de agenda

Imprensa estrangeira divulga personalidade portuguesa do ano 2014

No dia 16 de dezembro, na Sala do Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa, na Praça do

Município, em Lisboa, a Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal vai revelar

quem será o escolhido como a Personalidade do Ano 2014. O anúncio vai ocorrer pelas

19h50 na anual Festa de Natal da AIEP.

Com 25 edições, o Prémio Personalidade do Ano Martha de la Cal constitui um

reconhecimento da pessoa ou da instituição portuguesa que mais fez pela imagem do

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país no estrangeiro. Entre o rol dos escolhidos nas edições anteriores encontram-se

figuras de relevo como José Saramago, Luís Figo, os Capitães de Abril, Carlos Paredes,

Mariza, Joaquim de Almeida, Álvaro Siza Vieira, Rosa Mota, Vanessa Fernandes, Mário

Soares, José Manuel Durão Barroso e António Guterres.

Mais informações com:

Alison Roberts: 919541226

(presidente da AIEP)

Durante o evento, a responsável pelos contatos com a imprensa será Jair Rattner:

967099005

Anexo 11 – Texto Website Festa de Natal

Festa de natal

16/12/2014

No passado dia 16 de Dezembro, os membros e amigos da Associa ção para

Imprensa Estrangeira reuniram-se num pequeno lanche de Natal na Sala de Arquivo, da

Câmara Municipal de Lisboa.

Com hora marcada para as 18 horas, cedo a bela sala se encheu de conversas

acompanhadas de um bom copo de vinho. Pelas 19 horas, a presidente Alison Roberts

fez um breve discurso agradecendo a presença de todos e ao apoio da Câmara de Lisboa

por ter cedido o espaço.

Os convidados foram presenteados com alguns prémios, concedidos pelos

patrocínios do El Corte Inglês, o Turismo de Portugal, o Hotel Santa Marta, RitualSpa e

as Hospedarias da Extremadura. Foram ainda entregues dois livros da autoria de Anete

Ferreira.

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Além do apoio da Câmara, a festa pôde ainda contar com os patrocínios dos

queijos Président, da marca de máquinas de café Delta Q, do FESTin, dos Pasteis de

Belém, dos vinhos da Quinta das Ratoeiras e da Quinta de Covela, e da cerveja Sagres e

água Luso. No final da festa a presidente revelou que Carlos do Carmo tinha sido eleito

pelos sócios Personalidade do Ano de 2014 -- o prémio a ser entregue numa data a ser

anunciada.

Anexo 12 – Possíveis Reportagens

Jornais dia 30 de Outubro

Observador, Publico

- Do que é que tem de ser feita uma mulher iraniana?

Conversar com a comunidade Iraniana em Portugal, em especial as mulheres, para

perceber as normas que estas têm de cumprir segundo as leis do país. Perceber porque

que saíram do Irão, perceber se alguma coisa mudou no seu pensamento desde que

pisaram terras portuguesas e o que acham sobre o agravamento dos direitos da mulher

no país natal

Conversar com um sociólogo perito em religião muçulmana

Conversar com o responsável da ONU para o Irã, Ahmed Shaheed: porque que está a

piorar? O que se pode fazer?

- O que aconteceu dia 8 e 9 de Novembro em Portugal enquanto o Muro caia em

Berlim?

Falar com historiador; ver registos dos jornais da época; falar com a comunidade Alemã

para saber se há alguém em Portugal que vivesse cá nessa altura

- No dia mundial da poupança o que se pode fazer para poupar recursos: energia, lixo,

agua – ao mesmo tempo que se poupa dinheiro

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Falar com um ambientalista fazer um guia básico de poupança de energia e de água,

assim como de reciclagem. Que por um lado ajudem a “poupar” o ambiente e a

“poupar” na carteira.

- Como têm sido os comportamentos e consumos culturais dos portugueses nos

últimos dez anos?

Ver estatísticas e inquéritos sobre idas ao cinema, teatro, museus, concertos, literatura.

Ver quais as exposições, concertos, peças, livros que mais sucesso de bilheteira têm.

Falar com responsáveis de museus: perceber que apostas se fazem, quem vai ao museu

(faixa etária, nível de educação, sexo, etc.)

Jornais dia 3 de Novembro

Observador, Diário de Noticias, Publico

- Universo do Plástico português

Quantas empresas produtoras de plástico há em Portugal? O que significa para elas a

nova taxa sobre os sacos? Quais as suas consequências diretas e indiretas

(despedimentos, perda de volume de negócio de empresas transportadoras).

Falar com a Associação Portuguesa das Industrias de Plástico (APIP)

Falar com o Ministério do Ambiente: saber se previu as consequências, saber para que

foi imposto este novo imposto (destino das verbas)

Falar com algumas empresas de plástico: Plásticos Miragaia (PME) e Alberplás e Topack

(Maiores fabricantes)

Falar com empresas que trabalham diretamente com empresas de plástico/ e com

Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED)

Falar com um ambientalista: saber se faz sentido, se há outras medidas que poderiam

substituir esta e não serem menos prejudiciais à industria e ao trabalho

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- Web Summit 2014: 36 empresas portuguesas

Embora seja um número muito reduzido, principalmente quando comparada como

países como o Reino Unido (223) ou os Estados Unidos (188), mas o número é mais do

dobro quando comparada com 1013 (15). Isto mostra que o mundo das Tecnologias é

algo que está a crescer em Portugal.

Falar com empresas que tenham participado. Conhecer o seu projeto e as suas

ambições.

Falar com a organização: com alguém que tenha ficado responsável pela seleção das

empresas. Perceber o que fez com que as empresas fossem selecionadas.

- Europa perdeu 421 milhões de aves em três décadas. E Portugal?

Quais são os motivos pelos quais estão a desaparecer tantas aves? A velocidade é a

mesma em Portugal? Os motivos são os mesmos?

Falar com alguém da EcologyLetters (realizou um estudo recente): saber a que

conclusões chegaram em Portugal

Falar com o responsável da Sociedade Portuguesa para Estudo das Aves (SPEA) e da

Fapas (Fundação para a Proteção dos animais selvagens): saber o que isso pode

provocar, a nível do ambiente por exemplo, saber os motivos que estão a levar ao

desaparecimento das aves.

- O que é preciso para ser um bom líder? Portugal tem bons CEOS?

Numa altura em que há muita precaridade no trabalho, o que é preciso para um CEO

poder ser considerado líder? Terá Portugal bons patrões e o ditado “patrão fora dia

santo na loja” já não faz sentido?

Falar com Aida Chamiça que faz Coaching Executivo Corporate, Coaching

executivo, Coaching para Expatriados eTeam Coaching: saber o que ela ensina, se tem

tido muitos clientes de empresas portuguesas

Falar com “Great Place to work”: saber no que se baseiam; perceber se as empresas que

aparecem no top são portuguesas ou multinacionais internacionais;

Falar com: Pequenos negócios, PME e grandes empresas portuguesas e estrangeiras –

com empregados e empregadores

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Jornais dia 6 de Novembro

Correio da Manha, Publico

- Os Expulsos

Do lado de Timor: liberdade e autonomia/incapacidade dos magistrados

“Em 16 casos já julgados, o Estado perdeu todos”, recordou, explicando que foram

perdidos 35 milhões de dólares. “Os erros foram tanto, tao inamissíveis, que paramos

para não influenciar o processo, porque estamos em recurso para recuperamos o

dinheiro que é nosso”

Falar com o embaixador de Timor

Do lado de Portugal: investigação a oito ministros

Falar com os seis magistrados e com o oficial de polícia – Seja qual for o motivo a

expulsão foi muito repentina

- Isolados nos lares

A situação dos idosos nos lares sempre foi uma questão sensível. Agora um novo estudo

vem afirmar que muitos idosos tomam medicamentos duplicados e inapropriados:

Em 126 idosos – 1/6 dos 1315 fármacos administrados diariamente foram identificados

com «potencialmente inadequados». Em média cada idoso tomava dois remédios que

não faziam sentido. Depois há medicamentos duplicados: podem causar sonolência, e

levar a quedas.

Há medicamentos em falta, tendo em conta a idade: Estatinas, cálcio, vitamina C

Falar com o Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (fez este estudo)

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Falar com o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social: saber a reação a este

estudo; o que pretende fazer; que tipo de controlo há por parte do próprio ministério

Falar com dois ou três lares: diretores, enfermeiros, assistentes socias, pacientes,

familiares de pacientes - perceber se é intencional, perceber se há queixas internas,

perceber o funcionamento dos lares, perceber como são prescritos os medicamos, como

pode haver má prescrição; porque têm de tomar tantos medicamentos (mais de dez por

dia). Haverá por parte de certos profissionais intenção de os deixar sonolentos?

- O que é ser Catalão

Características, tradições, diferenças: falar com catalães, falar com espanhóis – em

Portugal - falar com pessoas jovens, idosas, ricos, mais modestos

Porque é que querem tanto separar-se da Espanha: falar com representantes dos ANC

(Associação Nacional Catalã)

Porque não se deviam separar: fala com o governo, falar com o Movimento Cívico de

Espanha e Catalães

- Romeu e Julieta (em Portugal)

Quantos filmes já foram feitos? Quantas peças já estiveram em cena? Quais as

diferenças entre elas?

Fazer este levantamento, ver o que der para ver (no caso de filmes) - fazer observações

Falar com os responsáveis da nova peça que estreia no Clube Estefânia: Romeu e Julieta

só com mulheres de Joana Linda

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Jornais dia 13 de Novembro

Diário de Noticias, Observador

- Homicídios no Vaticano

Em declarações a uma emissora de Buenos Aires, o padre argentino Juan Carlos Molina

contou que o Papa tem noção que podem tentar mata-lo devido à história da Igreja e

de outros papas

Fazer uma pesquisa sobre atentados concretizados e falhados a Papas.

Falar com o Patriarca de Lisboa, D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente -

perceber porque existem estas ameaças, de quem vêm, se acha que o papa Francisco

corre esse perigo

Falar com um JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA: especialista em estudos bíblicos,

considerado nos 100 portugueses mais influentes em 2012, pela REVISTA do Jornal

Expresso (2012)

Falar com Herminia Maria Vasconcelos - doutorada em historia medieval

- Ser escuteiro é ser…

Conhecer o mundo dos escuteiros: os números, as provas, as fases, as atividades, as

idades. Passar um fim-de-semana em atividades com escuteiros: entrevistas crianças e

adolescentes, entrevistar quem toma conta deles, entrevistar os países

Contactar: Escoteiros de Sintra - Grupo 93, a Associação de Escuteiros de Portugal

- Quem são os três Portugueses que aterram no Cometa?

“O modelo interativo da viagem da sonda Rosetta, apresentada pela ESA, foi feita por

investigadores portugueses, três em Braga e três em Berlim. Demorou um ano a

construir.

A TECField, sediada em Braga e a Science Office em Berlim (empresa de portugueses)

desenvolveram de raiz o software que permite processar, em tempo real, os dados

adquiridos pela ESA. “Estou muito satisfeito”, contou com orgulho ao Observador João

Martinho Moura, fundador da TECField e investigador de interação e arte digital da

Universidade do Minho.”

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Como chegaram aqui? Quem são? Falar com eles, falar com a

família, falar com outros profissionais, falar com a ESA

Jornais dia 5 de Dezembro

- Aprender no século XXI

11 professores portugueses estão entre os mais inovadores do mundo, segundo a

Microsoft. E duas escolas entre 150, que se destacam pela inovação e utilização de

tecnologias no ensino e aprendizagem.

Ir às duas escolas: colégio Monte Flor, em Carnaxide, e o Agrupamento de Escola de

Freixo, em Ponte de Lima

Conhecer as suas práticas pedagógicas, perceber porque que foram então distinguidas.

Falar com os professores, saber as suas motivações, que tecnologias utilizam, em que

disciplinas. Ver o funcionamento normal das aulas. Ver as dinâmicas.

Falar com os alunos, perceber se sentem mais motivados, quais as disciplinas mais

gostam e porquê.

Falar com a Microsof Portugal: saber que critérios utilizam, são as próprias que se

candidatam ou é trabalho exclusivo da empresa, saber no que consiste o Showcase em

que vão participar, saber se haviam mais escolas portuguesas em concurso.

- Aprender no século XX

Em comparação a estas duas escolas, que inovação no ensino e utilização tecnologia,

conhecer duas escolas, uma publica e uma privada, que continuam com o mesmo tipo

de ensino.

Falar com os professores, com os diretores: porque não inovam? Falta de verbas? Ou

porque não acreditam no ensino mais tecnológico?

Falar com os alunos: perceber que disciplinas menos gostam e porquê? Conhecer o que

gostariam que mudasse na escola, o que os tornaria mais interessados e ativos.

Apresentar algumas ideias, através do que é feito nas outras duas escolas, e saber se

gostariam que fosse implementado na delas.

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- Quem é Carlos Santos Silva?

Ao lado do nome José Sócrates tem surgido sempre o nome Carlos Santos Silva.

Conhecido como o testa-de-ferro do ex-primeiro-ministro, encontra-se igualmente em

prisão preventiva: comprou pelo menos três imoveis à mãe de José Sócrates; a alegada

compra da casa de Paris pelo mesmo empresário;

“o jornal Sol diz que Sócrates receberia regularmente das mãos de Carlos Santos Silva

quantias em dinheiro da ordem dos 10 mil euros, alegadamente por conta das verbas

que estariam em nome do empresário e amigo dos tempos da Covilhã.”

“Quem é Carlos Santos Silva? Foi administrador do Grupo Lena até 2009 e as instalações

da empresa em Leiria estiveram no roteiro das buscas realizadas pelas autoridades. A

empresa desmente qualquer ligação entre este inquérito e a atividade da empresa ou

atuais quadros, não obstante o Grupo Lena ter ficado associado aos governos Sócrates

pelos contratos que assinou em viagens oficiais do então primeiro-ministro sobretudo à

Venezuela de Hugo Chavez. A ligação será pessoal e antiga. Carlos Santos Silva é indicado

como amigo de Sócrates desde os tempos da Covilhã e a sua empresa, a Conegil, fez

parte do consórcio que se suspeitou ter sido favorecido na adjudicação de um aterro

sanitário na Cova da Beira – sem que isso tivesse sido provado em tribunal. O nome

Santos Silva terá ainda sido referido nas gravações do caso Face Oculta.”

Falar com a família; falar com empregas do Grupo Lena – conhecer quem é o homem

por detrás do testa-de-ferro

- A construtora do regime socrático: Grupo Lena

Fazer uma infografia sobre o percurso do grupo:

Com as empresas que detêm, sendo uma delas a Proengel.

Com os contratos que conseguiu desde a sua criação: com data, país, para quem

(instituição, governo, camaras, empresas)

Fazer comparação entre o antes e depois de Sócrates com chefe de Estado.

Dados:

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“De 2009 até hoje, em nome dessa empresa, celebrou 86 contratos no valor de 3,7

milhões de euros com entidades do setor público.”

“De acordo com os contratos públicos, entre 2009 e 2011, o período em que os dois

coincidiram nos cargos, Santos Silva como administrador da empresa e José Sócrates

como primeiro-ministro, a empresa ganhou 43 contratos com entidades do setor

público.”

“Mas estes são apenas os valores dos contratos diretamente adjudicados com a

Proengel porque o valor dos ganhos com obras do Estado é bastante superior, uma vez

que a empresa de Santos Silva, é muitas vezes contratada pelo Grupo Lena e outras

empresas que têm elas próprias vários contratos com o Estado.”

“Grupo Lena é aliás apelidado da “construtora do regime socrático e, de acordo com

contas do jornal i, que foi detido pelo Grupo Lena, a construtora conseguiu contratos no

valor de 151 milhões de euros.”

- Contratos em Angola e na Venezuela

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Anexo 13 - Lista dos membros da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal

(retirada do website)

Membros da AIEP:

NOME ÓRGÃO SOCIAL PAÍS

Almeida, Henrique Bloomberg News EUA

Alvarenga, Daniel Thomson Reuters Inglaterra

Ames, Paul Global Post EUA

Araújo, Marise Correspondente/fotógrafo:

Blue Bus Noticias

Electornicas – Brasil

Brasil

Bonamici, Olivier Radio-Television Belge

Francophone

France Inter

Radio Suice

Bélgica

França

Suíça

Borges, Emilio Cabo Verde Rádio Cabo Verde

Cabral, Tomas Schimitt Agence France Press França

Caetano, Silvia Jornal Entrelagos – Brasil Brasil

Carlos, João Deutche Welle Alemanha

Carucci, Riccardo Revista ANCI

Radio Blue Set

Itália\

Darcy, Marie-Line Radio France

Internationale

Radio France

La Tirbune

França

Devos, Oliver Agence France-Presse França

Dujisin, Mario ANSA Itália

El Akkani, Hasnaa Agence Maghreb Arabe

Presse (MAP)

Marrocos

Ferreira, Anete Revista Pará+ Brasil

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Jornal Estado do

Maranhão

Gonçalves, Sérgio Reuters Inglaterra

Hagemann, Brigitte France Press França

Hatton, Barry Associeted Press

Henningsen, Eva Birgitte Radio Dinamarquesa Dinamarca

Howe, Marvine New York Times EUA

Iñiguez, Begoña Cadena Cope

Voz de Galicia

Espanha

Iorio, Juliana Correspondente freelancer Brasil

Jolly, Mary Frenlancer EUA

Kowsmann, Patricia Dow Jones Newswires

Wall Street Journal

EUA

Leong, Francisco Agence France Presse

Fotografo

Lima, João Bloomber News EUA

Lopez, Virginia El Mundo

Cadena SER

Canal Cuatro/CNN

Espanha

Lozano, Patricia Milenio – Radio

Mexico.com

Mexico

Marcos, José da Silva VRT Radio & TV

NOS Radio e & TV

Belgica

Holanda

Martin, Javier El País Espanha

Mirny, Vitaly Radio Voz da Russia Russia

Montero, Eduardo

Moreira, Patricia de Melo Agence France Presse

Stringer photographer

France

Muharay, Katatin HVG

Népszabadság

Hungria

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111

Mussuaili, José Caras Angola Angola

Niemeyer, Adriana Globo News TV

Radio France Internacional

(programa português)

Radio Nederçands

(programa português e

espanhol)

Swissinfo (programa

português)

Brasil

França

Holanda

Suiça

Novikov, Maksim Rossiyskaya Gazeta Russia

Pereira, Miguel Thomon Reuters Television Reino Unido

Pontes, Carlos Alberto Freelancer (ex-Reuters

Visnews TV)

Reino Unido

Rattner, Jair O Estado de S. Paulo

Agencia Estado

BBC – World Service

(Serviço Brasileiro)

Brasil

Rechetilov, Vladimir Telegraf Letónia

Reis, Anabela Bloomber News EUA

Ribeiro, José Manuel Thomson-Reuters Reino Unido

Roberts, Alison BBC News Inglaterra

Rodrigues, Nelson Mergermarket (a

subsidiary of the Financial

Times Group, a Pearson

Company)

Reino Unido

Sacco, Marcello Q Code Mag

L’Espresso

Italia

Serbonchini, Wanderley TV Globo Brasil

Sloop, Alexander Argus newsapers EUA

Teixeira, Lea Brasilia Agora

Agencia Amazanonia

Brasil

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Tomasi, Oscar Agencia EFE Espanha

Torres, Antonio Agencia EFE Espanha

Valadares, Marcelo (in)visível

Viñas, Piedad Agencia EFE Espanha

Vives, Maribel El Holandonista Espanha

Wagner, Tilo Deutschalandradio Alemanha

Wise, Peter The Financial Times

The Economist

Reino Unido

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Anexo 14 – Inquérito realizados aos membros da Associação da Imprensa Estrangeira

em Portugal: http://www.survio.com/survey/d/A7L7P3L8Y5O3E2U1L

Pergunta 1 – Género

Feminino

Masculino

Pergunta 2 – Nacionalidade

Pergunta 3 – Estado Civil

Solteiro

Casado/união de facto

Divorciado/separado

Outra situação

Pergunta 4 – Idade

18-25 anos

26-33 anos

34-41 anos

42-50 anos

Mais

Pergunta 5 – Qual é o seu grau de educação

Ensino Secundário

Licenciatura

Mestrado

Doutoramento

Outra (indique qual)

Pergunta 6 – qual a sua área de educação (pode indicar mais que uma se for o caso)

Pergunta 7 – há quantos anos é jornalista correspondente

0-5 anos

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6-11 anos

11-17 anos

18-22 anos

23-27 anos

Mais

Pergunta 8 – Há quantos anos é jornalista correspondente em Portugal

0-5 anos

6-11 anos

11-17 anos

18-22 anos

23-27 anos

Mais

Pergunta 9 – Para quantos órgãos de comunicação trabalha?

1

2

3

4

5

6

Mais

Pergunta 10 – Qual dos seguintes se adequa melhor ao seu principal órgão de

comunicação (pode selecionar mais que um)

Agência Noticiosa

Televisão

Rádio

Jornal

Revista

Blog

Meios online

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Outra (especifique)

Pergunta 11 - Trabalha para alguma empresa ou instituição não-jornalística?

Sim

Não

Enumere

Pergunta 12 – Tem contrato fixo com algum órgão ou meio?

Sim

Não

Pergunta 13 – Se disse que sim, que tipo de contrato tem?

Contrato a termo

Contrato sem termo

Prestação de serviços (recibos verdes)

Outra

Pergunta 14 – Se disse que não, há quanto tempo trabalho como freelancer?

Pergunta 15 - Quantos trabalhos faz em média por mês

Menos de 4

Entre 4 e 8

Entre 9 e 12

Entre 13 e 17

Entre 17 a 20

Mais de 20

Pergunta 16 – Qual é o seu vencimento mensal médio líquido? (em euros)

Menos de 500

Entre 500 e 700

Entre 700 e 900

Entre 900 e 1200

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Entre 1200 e 1500

Entre 1500 e 2000

Mais de 2000

Anexo 14 – Entrevista

1. Sente que Lisboa é uma boa cidade para viver?

2. Porquê?

3. Diria que Portugal é um país que oferece qualidade de vida?

4. Existem infraestruturas suficientes de apoio à sua profissão e à sua condição

como correspondente?

5. É fácil chegar às instituições, ou seja, comunicar com elas, pedir entrevistas,

desclorações, etc.?

6. É fácil ser jornalista correspondente em Portugal?

7. Porquê?

8. Descreva as principais dificuldades que enfrenta na sua profissão em Portugal

9. Há quanto tempo vive em Portugal?

10. O que o/a fez ficar esse tempo?

11. Quais foram as principais alterações no seu trabalho na última década e o que

acha que as influenciou (a crise, a evolução tecnológica, a maneira de fazer

notícias, a globalização, etc.)?

12. O que mais influencia tem no seu trabalho como jornalista estrangeiro em

Portugal?

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Anexo 16 – Número médio de trabalhos realizados por mês

Coluna1 Dados fi Xi fi*Xi

1 0-4 4 2 8

2 4-8 6 6 36

3 9-12 7 11,5 80,5

4 13-17 6 15 90

5 17-20 2 18,5 37

6 >20 7 22* 154

7 Total 32 405,5

Média 12,67

*valor estimado para não enviesar a média

Anexo 17 – Vencimento médio mensal líquido dos correspondentes

Coluna1 Dados fi Xi fi*Xi

1 0-500€ 2 250 € 500 €

2 500€-700€ 0 600 € - €

3 700€-900€ 4 800 € 3 200 €

4 900€-1200€ 7 1 050 € 7 350 €

5 1200€-1500€ 3 1 350 € 4 050 €

6 1500€-2000€ 7 1 750 € 12 250 €

7 >2000€ 9 2 050 €* 18 450 €

8 Total 32 45 800 €

Média 1 431 €

*valor estimado para não enviesar a média