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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo ressaltar a importância da
Língua Portuguesa na universidade, levando-se em conta que a modalidade
escrita é fundamental no exercício profissional de várias pessoas. No
entanto, sabe-se que, para muitos, o ato de escrever não é agradável, pois a
pouca ou total ausência da Língua Portuguesa e sobretudo da modalidade
escrita, é uma das falhas deixadas pelo Ensino Superior. Não cabe à
universidade resolver as falhas deixadas pelos ensinos fundamental e
médio, mas sim despertar aqueles que têm dificuldade ao escrever, fazendo
com que esses leiam, escrevam bastante independentemente da área em
curso, para que consigam, ao longo dos anos e com a prática, resolver esse
mal da escrita. Para isso, a produção de textos deve fazer parte da rotina
acadêmica. Após a leitura de um poema, de um trecho de um romance, de
um texto científico, de uma reportagem, ou até mesmo após um debate, o
educando sentir-se-á estimulado a elaborar um texto sobre o tema sugerido.
Com isso, a importância desse trabalho está ligada à sugestão de
implantação e organização de programas de Língua Portuguesa em
universidades, principalmente no que diz respeito à produção de textos
dentro e fora das aulas de redação, visando assim, um melhor domínio da
expressão escrita por parte dos alunos.
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Capítulo1- CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E ENSINO
DE LÍNGUA
Nos dias atuais tem se atribuído ao ensino de Língua Portuguesa uma
série de “ranços”. Para Geraldi (1997), se torna necessário “reconhecer um
fracasso da escola e, no interior desta, do ensino de Língua Portuguesa tal
como vem sendo praticado na quase totalidade de nossas aulas” (p.39).
O professor, de forma geral, tem sido responsabilizado por esse
fracasso, sem se considerar as condições de trabalho e vida a que ele é
submetido, e, muito menos, a influência de práticas consolidadas de ensino
da Língua Portuguesa, baseadas na metalinguagem, que resultam em
desperdício de tempo e esforço, por parte de educadores e educandos,
durante o processo escolar.
Geraldi (1997) complementa que é preciso conhecer a diferença de
saber língua e analisá-la, sugerindo que no Ensino Fundamental as
atividades devem girar em torno do ensino da língua e apenas
subsidiariamente se deverá apelar para a metalinguagem.
Para que isso seja possível, é necessário que o professor tenha
conhecimento das concepções de língua e tenha clareza de qual dessas
concepções ele defende. Assim, ele pode dar as diretrizes para responder
as questões que Geraldi considera prévias quando se trata de ensino: “Para
que ensinamos o que ensinamos?, e sua correlata: para que as crianças
aprendem o que aprendem?” (p.40).
Para responder a estes “para quês”, se torna imprescindível um
estudo mais detalhado sobre as concepções de linguagem, que na visão de
Geraldi são as seguintes: linguagem como a expressão do pensamento;
linguagem como instrumento de comunicação; e linguagem como forma de
interação.
Na concepção de linguagem como expressão do pensamento,
Travaglia (1996) diz que existe a noção de que as pessoas não se
expressam bem porque não pensam. Isso porque, segundo essa corrente, a
expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas
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uma tradução. Presume-se que há regras a serem seguidas para a
organização lógica do pensamento e, conseqüentemente, da linguagem. Já
na linguagem como instrumento de comunicação, ainda de acordo com
Travaglia, a língua é vista como um código, ao transmitir uma mensagem,
informações de emissor a um receptor. Essa concepção está representada
pelo estruturalismo saussuriano e pelo transformacionalismo chomskiniano.
Por último, o mesmo autor trata da linguagem como forma de interação,
afirmando que nessa concepção a linguagem é tomada como um lugar de
interação comunicativa através de efeitos de sentido entre interlocutores. É
representada por todas as correntes de estudo da língua, reunidas sob o
rótulo de “lingüística da enunciação”.
Para cada concepção de linguagem está intimamente ligada uma
concepção de gramática. Para linguagem como expressão do pensamento,
é necessário estudos da gramática tradicional ou normativa, que dá ênfase
ao estudo da sintaxe e morfologia; gramática é nada mais que o “estudo do
pensamento”. Quando considera a linguagem como instrumento de
comunicação – Código – a gramática passa a ser entendida como um
conjunto de regras a serem memorizadas e seguidas. Esse tipo de
gramática privilegia a língua padrão que é falada pela classe social que
domina a sociedade, os que dispõem do poderio político e econômico na
sociedade. Ao entender a linguagem como forma de interação, a gramática é
vista como um feixe de variações e recursos lingüísticos que deve ser usado
em função do texto (oral e escrito) que se produz e de seu contexto. Essa
concepção possibilita o estudo e o uso de várias formas dialetais por parte
de lingüistas, professores, alunos, etc...
Segundo Castilho (1998), as duas primeiras concepções de
linguagem e de gramática no seu conjunto mostram a língua como um
fenômeno homogêneo, como um produto que deve ser examinado
independentemente de suas condições de produção. Já a terceira
concepção (de linguagem e gramática) mostra a língua como um fenômeno
funcionalmente heterogêneo, representável por meio de regras variáveis,
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socialmente motivadas. A língua é, em sintaxe, uma enunciação, um elenco
de processos.
Por fim, Geraldi (1997) acrescenta que a alteração da situação atual
do ensino de Língua Portuguesa não passa apenas por uma mudança nas
técnicas e nos métodos empregados na sala de aula. Uma diferente
concepção de língua constrói não só uma nova metodologia, mas
principalmente um “novo conteúdo” de ensino.
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Capítulo2- O ATO DE ESCREVER E A REDAÇÃO
O ensino de Língua Portuguesa já sofreu uma série de mudanças ao
longo dos anos, mas hoje, mais do que nunca, é preciso repensar o papel do
ensino da Língua Portuguesa na universidade, para que se possa ter um
profissional ciente das questões gramaticais que envolvem um texto, e
escrevê-lo com coesão e coerência, independentemente da área que
exerça. Não se pode esquecer de que, durante muitos anos, o ensino da
língua não se destinou à produção, à leitura e à interpretação de textos, mas
sim se limitou a exigir do aluno as nomenclaturas gramaticais, uma vez que
essas eram, e continuam sendo exigidas pelo vestibular e pelos concursos
em geral. O resultado de tal postura foi um universitário que mal sabe
escrever e, o pior, que pode passar quatro anos na universidade sem saber.
Atualmente, a sociedade exige do profissional, seja ele engenheiro,
advogado, jornalista, dentista, analista de sistemas ou professor, a
capacidade de passar para o papel todos os seus estudos, divulgando assim
o seu trabalho. Para isso, é preciso alguns conhecimentos específicos da
elaboração da redação e, o principal, exige de qualquer um muita leitura.
Escrever significa comunicar-se e, nas empresas e instituições a
comunicação se faz muito mais através da modalidade escrita do que da
oral.
Por outro lado, em inúmeras faculdades, o que se vê são pessoas
quase formadas com dificuldade de escrever um texto. Essa dificuldade se
explicita quando o profissional tem de fazer uma pós-graduação, em que o
exercício da escrita é uma constante, ou quando ele é solicitado a escrever
um relatório, uma declaração, ou um outro documento na empresa. No
momento em que esses questionamentos se colocam, pensamos porque
essas pessoas, formadas por uma instituição, não conseguem escrever com
certa tranqüilidade e atender às necessidades exigidas pelo mercado de
trabalho ou pelas instituições de pós-graduação.
É importante ressaltar que esse problema não está diretamente ligado
à universidade, e sim aos ensinos fundamental e médio. Contudo, tal
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problema é levado à universidade e os docentes de Língua Portuguesa,
geralmente não conseguem êxito para resolver esse “mal da escrita”, uma
vez que sua disciplina é dada na minoria dos cursos de graduação. Ao final
do curso, o que se tem é um profissional incapaz de escrever bem o que
aprendeu. Incapaz de dissertar com segurança gramatical e estrutural a
respeito de um tema apresentado.
Não se pode deixar de lembrar que o estudo gramatical é importante
para elaboração de um bom texto. Assim, para se escrever bem o texto
deve-se saber utilizar, corretamente, os sinais de pontuação, ortografia,
acentuação, crase, concordâncias verbal e nominal, regências verbal e
nominal, além de se fazer um texto com dois elementos mais importantes
que são coesão e coerência. Sem estes dois elementos, o texto perde a
intenção de comunicação, ou melhor, de intercomunicação.
Para Bechara (2001), “o enunciado não se constrói com um
amontoado de palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios
gerais de dependência e independência sintática e semântica, recobertas
por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”. Dessa
forma, entende-se que não é só escrever diversas frases e se ter um texto,
mas é imprescindível unidade, é preciso que estas frases sejam coesas e
coerentes e então somem um texto.
A essência do problema é verificar o ensino de Língua Portuguesa na
universidade, nos poucos cursos que oferecem tal disciplina, principalmente
no que diz respeito à produção de textos, ou seja, ao ensino de redação
dissertativa objetiva na universidade.
Ao produzirmos um texto, estamos exercitando dois planos
importantes no processo de produção textual: o plano conceitual e o plano
lingüístico. Tais planos garantem ao texto uma melhor compreensão do que
foi dito, como também se responsabilizam pela tessitura textual. Assim,
podemos dizer que o plano lingüístico e o conceitual estabelecem a coesão
e a coerência textuais.
Produzir um texto é realizar um processo de seleção que consiste na
organização de palavras que se juntam e formam as orações. Essas se
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interrelacionam em blocos para formar uma cadeia lingüística superior: o
texto.
Se um texto é um processo de seleção (como uma redação, por
exemplo), cabe ao autor organizar, sistematizar e adequar as idéias à
modalidade de texto que pretende produzir. Por isso, a seleção vocabular e
o uso de nexos lingüísticos deve haver, de forma coerente, para que o texto
não fique desprovido de sentido, ambíguo, prolixo ou, até mesmo,
incoerente.
O texto é um bloco cujas partes estão interligadas através de dois
processos importantes na sua superfície: a coesão e a coerência. Uma não
se sobrepõe à outra. Elas andam paralelas. A coesão é responsável pela
seqüência e encadeamento das partes do texto, através dos elementos
lingüísticos, e a coerência é o sentido que tais elementos expressam no
texto.
Considerando o exposto, ao produzirmos um texto, é necessário
estabelecermos relações sintático-semânticas, desde a seleção lexical à
estruturação dos parágrafos para que possam garantir-lhe clareza e
concisão de acordo com o tipo de texto e objetivos propostos.
Dessa forma, o ensino da sintaxe deve partir do texto e para o texto,
uma vez que as relações sintáticas ocorrem não apenas em orações soltas,
pré-fabricadas com determinados fins, mas também em orações articuladas
e interligadas no texto e essas interligação e articulação se dão graças à
sintaxe atrelada à semântica. Em outras palavras são os planos conceitual e
lingüístico do e no texto.
Vale lembrar que, um aluno de ensino médio, ao realizar um texto em
um processo de seleção, como uma redação em uma prova de vestibular,
não tem idéia de tudo isso que foi dito anteriormente e, conseqüentemente,
produz o texto sem ao menos saber o que lhe será cobrado. Esse mesmo
aluno entra na universidade com esse conhecimento escasso e,
infelizmente, sua única chance de ampliar seus estudos em Língua
Portuguesa e técnicas redacionais, é cursando uma Faculdade de Letras ou
quiçá, uma Faculdade de Jornalismo. Todos os demais cursos ignoram
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completamente a Língua Portuguesa, pois partem do princípio que esse
conhecimento já foi adquirido nos ensinos fundamental e médio. Isso é um
erro. Deveríamos estudar Língua Portuguesa e todas as suas
complexidades sempre, para que pudéssemos ter um conhecimento
vernacular mínimo e nos expressarmos bem tanto na modalidade oral,
quanto na escrita.
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Capítulo3- A LÍNGUA PORTUGUESA
3.1- A Língua Portuguesa no Ensino Médio
Na área de Língua Portuguesa, deslocou-se o eixo do ensino voltado
para a memorização de regras e nomenclaturas, para um ensino cujo a
finalidade é o desenvolvimento da competência textual, isto é, o
desenvolvimento da capacidade de produzir e interpretar textos. Nesta
perspectiva não cabe mais a divisão do ensino de Língua Portuguesa em
ensino do sistema alfabético e ensino da língua (redação, ortografia e
gramática), nem o tratamento da língua descontextualizado como conteúdo
em si.
Muitas propostas de redes públicas de ensino que apontavam no
sentido de uma educação mais democrática, se propuseram a elaborar
novos currículos a partir daquelas reflexões acerca da língua e seu ensino,
colocadas pelos especialistas. Estas propostas procuravam dar conta das
mudanças ocorridas na área de linguagem. Nos últimos dez anos muitas
redes oficiais de ensino buscaram através da revisão curricular reorientar o
ensino da língua. Em Pernambuco, na gestão governamental relativa ao
período 1987-1990, foi elaborada uma proposta para o ensino de língua no
ensino fundamental, explicitamente formulada de modo a assumir as
redefinições do “saber a ser ensinado” apontadas pelas mais recentes
pesquisas na área de linguagem.
Os princípios orientadores do trabalho de Língua portuguesa para as
séries fundamentais apresentados por aquela proposta vigente na rede
estadual de Pernambuco, referem-se a três eixos básicos: a escrita, a leitura
e a gramática.
Quanto à escrita, a proposta orienta o professor a permitir que a
escrita escolar tenha a autoria das crianças e que esta escrita estabeleça
vínculos comunicativos de modo que faça referência aos usos sociais da
mesma. Com relação à leitura, a proposta apresenta, entre outras
implicações pedagógicas, cuidar para que se utilizem textos reais desde a
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alfabetização, que os exercícios de escrita se convertam em exercícios de
leitura e que estejam presentes na escola os diferentes tipos de textos
usados na prática cotidiana extra-escolar. Quanto à gramática, a proposta
privilegia o estudo da gramática funcional, prescrevendo, assim, uma
gramática que tem como referência o uso da língua.
Como forma de fazer chegar à escola as novas direções apontadas
para o ensino de Língua Portuguesa, algumas propostas pedagógicas de
redes públicas se voltaram para a formação do professor em serviço. Pois,
se a mudança na forma de se conceber um objeto do saber, em nosso caso
a língua escrita, requer a mudança no saber a ser ensinado pela escola, a
forma de transpor este saber na escola também deverá ser mudada. Da
constatação de que a formação recebida pelo professor não tinha oferecido
a ele os elementos necessários para que pudesse intervir em sala de aula
dentro das novas perspectivas prescritas, optou-se pela formação em
serviço. Seria, portanto, através desses momentos de formação que se
colocaria o professor frente à discussão acerca das mudanças do ensino de
língua, de modo a prepará-lo para um novo trabalho em sala de aula.
Tomando como objeto de estudo a formação proporcionada através
das capacitações em rede e das oficinas, busca-se investigar algumas
questões com respeito ao processo de formação em serviço na área de
Língua Portuguesa destinado às professoras das séries iniciais: como nos
momentos de formação em serviço o tratamento conceitual dado aos temas
e às atividades vivenciadas tem contribuído para a compreensão do que
está sendo prescrito pela proposta de ensino? Em que medida a estrutura de
participação e o “contrato didático” estabelecido nestes momentos refletem
os princípios pedagógicos requeridos ao professor nas situações com o
aluno? Têm as “capacitações” permitido ao professor a reflexão sobre a sua
prática? Em que medida os momentos de formação têm oportunizado a
apresentação de discussão de seqüências didáticas, procurando assim
auxiliar o professor na organização de estratégias de ensino que o ajudem a
enfrentar dificuldades colocadas pelo cotidiano da sala de aula?
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Procurou-se, portanto, estudar a formação em serviço tomando-a
como fenômeno que possui uma dinâmica própria enquanto relação didática
estabelecida entre formador e professor. Essa relação didática, no entanto,
não é pautada pelo estabelecimento rígido dos papéis de quem ensina e
quem aprende. Mas, sobretudo, pela oportunidade de aprendizado e
reflexão sobre a prática. Nela o formador pode ter antes de tudo o papel de
articulador do processo e não o de quem vai ensinar algo que cabe ao
professor aprender.
Estudar esta relação que se estabelece entre formador e professor,
ou melhor, alguns fenômenos presentes nesta relação poderá ser útil para a
compreensão de como o professor reconstrói o saber a que tem acesso e
como dele utiliza-se na sala de aula. Procurou-se, assim, analisar
qualitativamente instâncias de formação em serviço, buscando contribuir
para a compreensão do baixo impacto desta formação na melhoria da
qualidade do ensino.
3.2- A Língua Portuguesa na Universidade
O aprendizado da nomenclatura dos elementos da língua acontece a
partir da 3ª série do ensino fundamental e é reforçado durante as demais
séries até o término do ensino médio.
Com o vestibular, cada vez mais interpretativo, a leitura começa a
ganhar espaço nas aulas de Língua Portuguesa. Após a leitura de textos
literários e não-literários, inicia-se um debate sobre a temática do texto que
culmina com a proposta de elaboração de um texto sobre o assunto
debatido. Difícil é receber todas as redações, pois muitos se esquivam da
dramática tarefa de pôr no papel tudo que foi dito em sala.
A diferença básica entre o ensino médio e a universidade é que o
discente universitário tem que colocar em prática o conteúdo que foi
ensinado no ensino médio. No entanto, a Língua Portuguesa,nem sempre foi
ensinada da melhor maneira possível, isto é, com a intenção de realmente
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dar autonomia ao educando, a fim de que ele, agora na universidade, saiba
concatenar o conteúdo de todas as disciplinas e possa elaborar um texto rico
sintática e semanticamente.
O aluno pensa que só se faz dissertação no momento em que um
professor de Língua Portuguesa determina. O aluno não percebe que ao
responder um questionário de filosofia, ou de história, ele também está
dissertando e deve, portanto, usar todos conhecimentos gramaticais
aprendidos nas séries anteriores e deve utilizar seus conhecimentos de
português, geografia, literatura, biologia, sociologia, enfim perceber as
interrelações entre as disciplinas.
Os alunos de universidades escrevem a todo momento, ou pelo
menos, deveriam escrever constantemente, então porque eles escrevem tão
mal? Por que não conseguem escrever textos coesos e coerentes? Por que
muitas frases parecem estar desconexas? Por que os erros de pontuação,
de ortografia e de acentuação são freqüentes no nível universitário? Será
por causa da pouca, ou nenhuma, leitura extra-classe? Será pelas
facilidades do computador, com seu corretor ortográfico e seus softwares de
concordância e regência? Será pelo relaxamento dos chats e e-mails, que
ignoram as vírgulas, os acentos e fazem uso de neologismos?
Não sabemos, mas é o que se quer descobrir também, o motivo da
falência da expressão escrita. É imprescindível saber como são dadas, de
fato, as aulas de português hoje e como a produção de texto é incentivada e
corrigida, se é que ela é tratada com destaque.
Portanto, o fato é que o ensino de Língua Portuguesa tem de passar
por uma reformulação, ou melhor, deve seguir as novas exigências da
educação e do mercado de trabalho, pois ambos defendem o fato de o
aluno, ao sair da universidade, ser capaz de se comunicar a partir das
modalidades oral e escrita com destreza e não com medos e erros que se
igualam a erros de alunos dos ensinos fundamental e médio.
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3.3- A Língua Portuguesa no Exercício Profissional
Com a globalização, o mercado torna-se cada vez mais exigente e
apenas absorve aqueles que forem qualificados em vários sentidos. Agora o
que se pretende é um profissional que saiba planejar, executar e divulgar o
seu trabalho. Para isso, o profissional de hoje deve saber, além de exercer
bem seu ofício, uma ou duas línguas estrangeiras – sendo uma, com
certeza, o inglês e a outra que diga respeito à sua especialidade, como por
exemplo: um filósofo deve aprender alemão; um literato,francês e um
economista, espanhol.
Ao contrário do que se pensa, não se pode deixar de lado a Língua
Portuguesa a não ser que o profissional não trabalhe no Brasil, pois o que se
vê é uma desvalorização de nossa língua e, sobretudo, a banalização da
modalidade escrita. Hoje há uma preferência por gráficos e fatos, valorizam-
se os números por não saberem organizar as letras.
No entanto, determinados profissionais utilizam-se da modalidade
escrita para discriminar tarefas, para expor idéias, divulgar pesquisas, propor
negócios, etc... Nesse momento, o domínio da língua padrão se faz
necessário no mercado de trabalho.
É possível que um professor, um médico, um biólogo, um engenheiro
ou um físico, entre outros, sejam chamados a fazer um seminário, uma
palestra, ou mesmo dar um curso, como também; na área tecnológica, em
webdesigner, ou um programador, pode ser solicitado à elaboração de
relatórios mensais, principalmente, se esses trabalham para um cliente que,
eventualmente, procura saber o andamento de seu investimento, como no
caso de um site de uma empresa de grande porte.
Sabemos que as grandes transações são feitas de forma escrita. Por
isso a universidade, como espaço “gerador” de profissionais, tem que
apresentar mais rigor com a produção de textos, uma vez que é uma das
habilidades mais importantes para o profissional contemporâneo.
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O profissional de hoje, se quer, realmente, sobreviver no novo
mercado, precisa ser multifuncional e apresentar diferentes habilidades,
como ter iniciativa, ter conhecimento especializado em mais de uma área, ter
leitura, ter um bom vacabulário, ter texto próprio, ter capacidade de
pesquisa, ter vontade de se manter sempre atualizado, participando,
constantemente, de cursos, de palestras, de congressos e de seminários
nos quais os temas referem-se à sua área de atuação. Além desses
aspectos, o profissional contemporâneo precisa ter domínio de inglês e/ou
do espanhol, contudo, seja qual for a sua profissão, o conhecimento de
informática é essencial.
Dessa forma, não podemos mais ver um sujeito sair da universidade
sem saber passar suas idéias para o papel de forma coesa e coerente, sem
ter o hábito de verificar a concordância ou a regência verbal em uma
gramática ou em um livro especializado. Para Feitosa (2000), cabe ao
pesquisador o trabalho de relatar suas descobertas, pois tão importante
quanto descobrir e experimentar coisas é comunicá-las. Vejamos: “Escrever
é parte inerente ao ofício do pesquisador. O trabalho do cientista ou do
tecnólogo não se esgota nas descobertas que faz, nos engenhos que cria: é
de sua responsabilidade a comunicação do que descobriu, criou,
desenvolveu. No entanto, é fato tão notório quanto lastimável que a
comunicação escrita está em crise, e essa crise se faz notar até mesmo nos
meios mais especializados e intelectualizados. A comunicação escrita,
mesmo quando é muito pouco formal, confere à mensagem que se quer – ou
se deve – transmitir uma forma, um corpo, que vai minimizar os efeitos
negativos da transmissão oral do conhecimento.”( Feitosa, 1991, p.11)
Dado o exposto, percebe-se a importância do domínio de vários
aspectos, sobretudo os gramaticais, da Língua Portuguesa para o mercado
de trabalho, já que esse encontra-se mais exigente quanto ao profissional
contemporâneo. O mercado exige um sujeito qualificado, especialista na sua
área, mas também com conhecimento diversificado.
Seja qual for a nossa profissão, devemos levar em consideração a
realidade circundante. Não podemos ignorar o que ocorre na sociedade pós-
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moderna, uma vez que as mudanças são notórias e já afetam vários setores
da sociedade.
Assim, a educação não pode ficar de fora dessas transformações no
trabalho, uma vez que a universidade representa um espaço no qual
cidadãos estão sendo orientados, de forma interdisciplinar, para enfrentar o
mundo real. A universidade não pode ser vista como um espaço fora da
sociedade. É preciso vincular o “trabalho” realizado em sala de aula com a
realidade da sociedade atual, principalmente, no que diz respeito às
exigências educacionais, competências e habilidades do profissional
contemporâneo.
É óbvio que não cabe, nesse momento, comentar as mudanças
relativas ao trabalho, em sua profundidade, mas é importante perceber que a
informação geral é preciosa, mesmo para um técnico. A leitura precisa
acrescentar alguma coisa às necessidades do trabalho, ainda que seja um
vocabulário melhor. Assim, pode-se somar essa recomendação à
modalidade escrita, uma vez que é tão importante ter um bom vocabulário
para a fala quanto para a produção de um texto.
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CONCLUSÃO
A Língua Portuguesa é o nosso instrumento de comunicação e é
através da língua escrita ou falada que nós expressamos nossos
sentimentos, nossas idéias, nossas dúvidas e certezas, nossas alegrias e
tristezas.
É também através da língua escrita que os homens de negócio
iniciam ou terminam importantes transações. É a partir da língua escrita que
um cientista pode divulgar suas descobertas para os seus e para todo o
mundo. E, na busca da comunicação melhor e maior, o homem esquece-se
de dizer obrigado à língua – mãe, banalizando-a e diminuindo-a à condição
de objeto cortante, de poder censurador. No mundo há regras. Na vida há
normas a serem seguidas, não com total silêncio, mas com murmúrios
sensatos de quem sabe o que diz, ou no nosso caso, o que escreve.
Com esse trabalho, aprende-se que o poder da língua é soma. O
poder da língua, a censura da língua – vista pelos poetas e literatos – existe
para que esses possam ousar. Se tudo fosse livre, não teria nenhum sabor a
liberdade.
O uso padrão da língua tem hora e lugar para acontecer e é papel da
universidade fornecer textos motivadores para que a língua formal, para que
a língua padrão, seja utilizada em textos dissertativos e/ou argumentativos.
Assim, se os ensinos fundamental e médio não foram suficientes para
inspirar ou seduzir as pessoas para o ato de escrever, cabe à universidade
não deixar que um indivíduo saia desse espaço sem organizar suas idéias e
articular as palavras, transformando-as em períodos coesos e coerentes que
formarão um texto claro para ele e para seus receptores.
Portanto, escrever é importante antes, durante e depois da
universidade, ou melhor, o ato de escrever se faz necessário para sempre
na vida de qualquer pessoa.
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ANEXOS:
Cuidado com a Língua
Não diga para o chefe que você vai estar lendo esse texto.
Ao receber de seus funcionários um relatório incompleto, o diretor da
empresa tem o direito de pedir maiores esclarecimentos, certo? Segundo a
consultora Miriam Gold, a resposta é não. O problema não envolve
hierarquia, mas português. “Uma informação não pode ser maior, em termos
de crescimento. O correto é mais ou melhores esclarecimentos”, diz Miriam
no livro Redação Empresarial, que acaba de ter sua segunda edição
publicada pela Makron Books.
Miriam, que já trabalhou para companhias como Gerdau e Accenture,
dá palestras sobre linguagem em empresas e realiza programas de
treinamento para executivos. Seu trabalho é apontar e corrigir
impropriedades na comunicação. “Um documento mal escrito ou confuso
pode significar o fracasso numa negociação, diz”. Formada em letras
vernáculas, com pós-graduação em educação e qualidade da empresa, ela
só passou a ser procurada por homens engravatados e de pastinha no início
da década de 90 (até então a maioria de seus clientes se preocupava
apenas com a redação do vestibular). Com a globalização, a linguagem
também virou um produto da empresa, pois começou a influir na sua
imagem.
A partir daí, o modelo americano de comunicação escrita foi adotado:
claro e direto, sem formalidade exagerada. Expressões como “destarte” e
“subscrevemo-nos”, que faziam a alegria dos eruditos de plantão,
começaram a ser abandonadas. “Em vez de causar uma boa impressão,
elas desacreditam a empresa e fazem parecer antiquada”, diz Miriam. Mas a
busca de objetividade não pode ser confundida com desleixo ou rudeza.
Para a consultora, o vocabulário empresarial deve ser simplificado,
mas continuar formal, elegante e – claro – gramaticalmente correto.
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Miriam também tenta ajudar a melhorar a comunicação interna nos
escritórios. Isso porque, acredita, a falta de diálogo claro pode diminuir a
sinergia e afetar a produtividade. Ela conta que, certa vez, os funcionários de
uma empresa receberam um memorando do departamento de recursos
humanos sobre o recadastramento no plano de saúde. O texto estava tão
truncado que as pessoas não entenderam exatamente que tipo de
informação teriam de enviar. Resultado: o processo de utilização dos dados,
que deveria levar dois meses para ser concluído, levou seis.
Segundo a consultora, há dois problemas freqüentes na linguagem
empresarial nos dias de hoje. Um é gerundismo – aquele corriqueiro
(sobretudo nas centrais de atendimento telefônico), eu vou estar te enviando
e suas variantes. “Isso se espalhou como vírus”, diz. “O pessoal de recursos
humanos, por exemplo, usa muito”. Outro, os textos de correio eletrônico.
Miriam passa parte de seu tempo tentando convencer as pessoas de que
escrever um e-mail é diferente de bater papo. “Muita gente se senta ao micro
e escreve sem planejamento algum”, diz. Se as informações não forem
claramente compreensíveis, de nada adianta trocá-las em alta velocidade.
Fábio Peixoto.
26
BIBLIOGRAFIA:
BARRETO, Cíntia. A Importância do Ato de Escrever. 3ª edição, 1998.
DORZIAT, Ana. FIGUEIREDO, Maria Júlia Freire. Problematizando o Ensino
de Língua Portuguesa na Educação. 3ª edição, Rio de Janeiro, 1999.
SANTOS, Carmi Ferraz. MORAIS, Artur Gomes de. O Ensino de Língua
Portuguesa: Um estudo de caso numa rede pública estadual. 14ª edição,
São Paulo, 2001.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: Uma proposta para o
ensino de gramática no 1° e 2° graus. 6ª edição. Cortez Editora.
CAMARA JR, Joaquim Mattoso. Estrutura da Língua Portuguesa. 26ª edição.
Editora Vozes.
27
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
A Ausência do Estudo de Língua Portuguesa no Ensino Superior
por
Maíra da Costa Perrout
Prof° orientador: Antônio Ney
Rio de Janeiro, 1 de outubro de 2005.
28
Universidade Cândido Mendes
A Ausência do Estudo de Língua Portuguesa no Ensino Superior
Objetivos: Ressaltar a importância da Língua Portuguesa na universidade,
para que se possa ter um profissional ciente das questões gramaticais que
envolvem um texto, e escrevê-lo com coesão e coerência,
independentemente da área que exerça. Ressaltar o ensino de Língua
Portuguesa nos poucos cursos que oferecem tal disciplina, principalmente
no que diz respeito à produção de textos.
Docência do Ensino Superior
Maíra da Costa Perrout
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Agradeço àqueles que contribuíram para a realização desse trabalho
como meus familiares e meus colegas de turma. Agradeço também aos
professores que estiveram comigo durante todo esse período acadêmico,
principalmente àqueles que fizeram parte do corpo docente do Projeto A Vez
do Mestre, ministrando com muita maestria as disciplinas do curso de
Docência do Ensino Superior.
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Esse trabalho será dedicado ao meu professor orientador do estágio
supervisionado do colégio estadual Eça de Queirós, Marcelo Rodrigues.
Dedico também à turma que lecionei durante esse período, e à toda equipe
da escola. À todos vocês, muito obrigada.
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RESUMO
É de conhecimento de todos que a modalidade escrita é fundamental
no exercício profissional de várias pessoas?
A Língua Portuguesa nem sempre foi ensinada da melhor maneira
possível, isto é, com intenção de dar autonomia ao educando para que saiba
concatenar o conteúdo de todas as disciplinas e possa elaborar um texto rico
sintática e semanticamente. Com isso, no trabalho que se segue, será
exposto a importância do estudo gramatical para a elaboração de um bom
texto, e os cuidados que se deve ter para o texto não perder a intenção de
comunicação, ou melhor, de intercomunicação.
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METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido através de pesquisas realizadas em livros,
leitura de jornal, revistas, artigos e periódicos em geral. A Internet também
foi usada como fonte de pesquisa. Mas o procedimento metodológico foi
enfatizado nos livros presentes na Bibliografia.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Universidade Cândido Mendes
Departamento de Pós-Graduação Lato-Senso
Docência do Ensino Superior
A Ausência do Estudo de Língua Portuguesa no Ensino
Superior
Maíra da Costa Perrout
Profº orientador: Antônio Ney
Assinaturas e Conceitos:
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ÍNDICE
Folha de rosto.....................................................................................2
Introdução...........................................................................................8
Capítulo 1- Concepções de Língua e Ensino de Língua....................9
Capítulo 2- O Ato de Escrever e a Redação......................................12
Capítulo 3- A Língua Portuguesa.......................................................16
3.1- A Língua Portuguesa no Ensino Médio.......................................16
3.2- A Língua Portuguesa na Universidade........................................18
3.3- A Língua Portuguesa no Exercício Profissional..........................20
Conclusão..........................................................................................23
Anexos...............................................................................................24
Bibliografia.........................................................................................27
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SUMÁRIO
Capítulo 1- Concepções de Língua e Ensino de Língua................9
Capítulo 2- O Ato de Escrever e a Redação.................................12
Capítulo 3- A Língua Portuguesa..................................................16
3.1 -A Língua Portuguesa no Ensino Médio..................................16
3.2- A Língua Portuguesa na Universidade..................................18
3.3- A Língua Portuguesa no Exercício Profissional.....................20
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Programa Cultural