INTRODUÇÃO AO LIVRO DE DANIEL

download INTRODUÇÃO AO LIVRO DE DANIEL

of 10

Transcript of INTRODUÇÃO AO LIVRO DE DANIEL

6

ANLISE BBLICA DO ANTIGO TESTAMENTO DANIELINTRODUO DO LIVRO

1. TTULOO ttulo desse livro, em hebraico, grego e nas lnguas ocidentais o mesmo, Daniel (em hebraico laYEnID" , dniyyl, Deus meu juiz), o personagem principal do livro.

2. AUTORIAO livro de Daniel um produto do exlio e foi escrito pelo prprio Daniel. Pode-se notar que Daniel fala na primeira pessoa do singular e assevera que as revelaes foram feitas a Ele (Dn 7.2,4; 8.1; 8.15; 9.2). Visto, entretanto, que esse livro forma uma unidade, segue-se que o autor da segunda poro (captulos 7 a 12) deve tambm ter composto a primeira (captulos 1 a 6). O segundo captulo, por exemplo, preparatrio para os captulos 7 e 8, que desenvolvem seu contedo de modo mais completo e claramente o pressupem. As idias do livro refletem um ponto de vista bsico e essa unidade literria tem sido reconhecida por eruditos de diferentes escolas de pensamento. O livro de Daniel reflete ambientes babilnicos e persas, e as alegadas objees histricas no so realmente vlidas. Finalmente, uma aprovao indireta autenticidade do livro parece encontrar-se nas seguintes passagens do Novo Testamento: Mt 10.23; 16.27 e segs.; 19.28; 24.30; 25.31; 26.64. Na Igreja Crist tem sido tradicionalmente mantido, devido s reivindicaes do prprio livro, que o Daniel histrico foi seu autor.

3. DATAConforme as datas dadas no texto, os doze captulos de Daniel cobrem todo o perodo do exlio. O livro comea com informaes que nos levam ao ano de 605 a.C. (Dn 1.1), quando Nabucodonosor pela primeira vez colocava os ps na regio Siro-palestina, depois de ter derrotado e perseguido o exrcito egpcio; e a ltima data mencionada o terceiro ano do rei Ciro, 537 a.C. (cf. 10.1), logo aps o primeiro grupo de exilados ter retornado a Jud para reconstruir as suas runas.Embora 537 seja a ltima data fornecida pelo livro, no assinala o ltimo evento registrado, pois as profecias, cobrem os sculos quinto, quarto, terceiro e parte do segundo. Sendo axiomtico que a data de um livro histrico na sua forma final no pode ser anterior ao ltimo acontecimento por ele registrado, aqueles que pensam que a maior parte do captulo 11 consiste de histria e no de profecia aderem a uma data ao redor de 167-165 a.C, na Palestina. Heaton, por exemplo, assinala a mudana de histria para profecia em Dn 11.40, argumentando que isto nos fornece a data da composio final do livro.

4. ARGUMENTOS LITERRIOSBrevard Childs argumenta que os captulos 1 6 evidenciam um autor diferente do que escreveu os captulos 7 12, em virtude de sua narrativa na terceira pessoa com respeito a Daniel e seus amigos, em contraste com relatos na primeira pessoa, na segunda metade do livro. Tal argumento, todavia, insustentvel, porque historiadores e narradores em geral, tanto bblicos quanto seculares, freqentemente, recorrem a narrativas na terceira pessoa (Moiss, Xenofonte, e Jlio Csar, por exemplo).

5. ARGUMENTOS LINGUISTICOSUm aspecto interessante desse livro de Daniel o fato de ser escrito em duas lnguas. De 2.4 at o fim do captulo 7, a lngua o aramaico. No restante, o hebraico. [...] Os captulos de 2 a 7 esto em aramaico, que era na poca a lngua gentlica usada no comrcio e na diplomacia em todo o mundo conhecido. Portanto, podemos ver, nessa passagem da lngua judaica para a lngua comum dos gentios, um smbolo significativo do que de fato estava acontecendo na histria, por um ato soberano de Deus.Antes dos dias de Daniel, os judeus no entendiam aramaico (2 Reis 18.26). Depois da poca de Daniel, eles deixaram de compreender o hebraico (Neemias 8.8). No tempo de Daniel, porm, eles compreendiam ambas as lnguas.[footnoteRef:1] [1: J. Sidlow Baxter. Examinai as Escrituras: Ezequiel a Malaquias. So Paulo: Vida Nova, 1995. Pg 86.]

A presena de palavras persas, a maioria delas relacionada a postos de governo, no apresenta problemas, uma vez que o livro alega ter sido composto durante o perodo persa por um homem intimamente relacionado com a poltica imperial. O que impressiona o fato de que as verses gregas de Daniel so notavelmente obscuras na traduo desses ttulos, o que seria surpreendente se eles fossem de uso corrente 60 anos antes de tais verses serem produzidas.O uso das palavras gregas notvel em virtude de seu pequeno nmero depois de supostos 200 anos de dominao cultural grega na Palestina. Os livros de Macabeus fornecem evidncia do impacto dos gregos na lngua e na cultura judias.Em segundo lugar, os trs substantivos em Daniel 3.5 se referem a instrumentos musicais, um ramo da atividade humana em que termos tcnicos at hoje so muito comuns. Isso sugere que Daniel poderia ter usado termos tcnicos comuns a todo o Oriente Mdio em sua descrio da Filarmnica de Babilnia. Em terceiro lugar, a histria e a arqueologia oferecem evidncias de empreendimentos artsticos e comerciais no Oriente Mdio desde o perodo imperial assrio (sculo 8 a.C.).Finalmente, o aramaico usado em Daniel exibe caractersticas do dialeto imperial oriental, o que encaixa bem com uma data no sculo 6, mas cria um problema srio para os que advogam uma data no sculo 2 e uma origem ocidental para o livro.[footnoteRef:2] [2: Foco e Desenvolvimento do AT]

6. GNERO LITERRIOOs doze captulos de Daniel dividem-se em duas partes iguais, sendo os primeiros seis histricos (relatando incidentes que ocorreram com Daniel e seus amigos), e os ltimos seis, profticos (contam, com detalhes, quatro vises que vieram a Daniel quando j era homem velho).Embora Daniel seja geralmente consignado ao gnero apocalptico de literatura, o livro contm mais de um gnero. A primeira diviso principal, captulos 1 6, contm principalmente narrativas histricas, com um captulo dedicado ao material apocalptico, embora formatado de maneira ligeiramente diferente. O contedo do captulo apocalptico em natureza, embora a forma em que comunicado uma viso concedida a um rei pago difira do costumeiro meio de comunicao, geralmente um xtase ou uma viso angelical.Nos captulos 7 12 encontram-se as caractersticas tpicas da literatura apocalptica a presena de mensageiros e intrpretes celestiais, uma abordagem teleolgica da histria, eventos cataclsmicos que conduzem ao estabelecimento do reino celestial sobre a terra, e o uso de linguagem altamente simblica. 7. ESTRUTURAA estrutura do livro pode ser vista de ngulos diferentes. Literaria-mente, os captulos 1 6 so narrativas relacionadas s atividades de Daniel na Babilnia durante o imprio neobabilnico e o estabelecimento da Medo-Prsia como o poder dominante no Oriente Mdio. Os captulos 7 12 relatam as vises de Daniel sobre Israel e o estabelecimento do reino divino. Na primeira diviso, Daniel interpreta os sonhos de outras pessoas; na segunda, os anjos interpretam suas vises.Lingisticamente, o livro oferece uma introduo em hebraico (1.12.3), seguida por uma diviso em aramaico (2.47.28), e uma diviso final em hebraico (8.112.13). Isso parece correlacionar-se s nfases em questes gentlicas (caps. 27) e histria israelita (812). luz de tais observaes, parece melhor dividir o livro em trs sees principais, como se segue:I. Contexto histrico de Daniel e seu ministrio (1.1-21).II. As intervenes soberanas de Deus na histria gentlica (2.17.28).III. As intervenes soberanas de Deus na histria israelita (8.112.13).

8. CONTEXTO HISTRICODaniel deve ter nascido durante o reinado de Josias (640-609 a.C.), uma vez que provavelmente era um adolescente quando foi capturado e exilado em Babilnia (Dn 1.3).Ele testemunhou a meterica ascenso de Babilnia sob a liderana de Nabopolassar e o declnio igualmente rpido da Assria no derradeiro quarto do sculo 7 a.C.O declnio de Jud, por sua vez, foi igualmente brutal depois da morte de Josias na batalha em Megido (609 a.C.), quando o jovem rei tentou impedir que os exrcitos egpcios levassem ajuda aos assrios cercados em Har.A suserania egpcia sobre Jeoiaquim, rei de Jud (609-597 a.C.), foi breve e terminou com a vitria de Nabucodonozor em Carqumis (605 a.C.). Pouco depois da batalha, o prncipe caldeu foi at Jud e imps vassalagem a Jeoiaquim, levando como refns algumas pessoas da nobreza e levando consigo objetos do templo como prova de conquista (Dn 1.1).O livro de Daniel cobre o perodo que vai de 605 a 536 a.C., 70 anos dramticos que testemunharam a ascenso e a queda do imprio neo-babilnico e a ascenso da Medo-Prsia como o poder dominante no Oriente Mdio.A prpria ascenso de Daniel fama e ao poder foi meterica, uma vez que seu contemporneo Ezequiel o menciona como modelo de sabedoria e virtude (Ez 14.14,20). Uma vez que Ezequiel comeou seu ministrio em 593 a.C. (Ez 1.1, 2), isso indica que foram necessrios pouco mais de quinze anos para que a reputao de Daniel atingisse propores imperiais.Ao todo, Daniel serviu durante o reinado de cinco reis de Babilnia e dois governantes persas (presumindo que Dario, o Medo, no seja Ciro, o Persa, por delegao de quem o general medo teria exercido autoridade em Babilnia). Alm de oferecer uma perspectiva interna das cortes pags e do trato de Deus com os soberanos seculares de seu tempo, Daniel oferece informao sobre a ascenso do imprio macednio e oferece detalhes significativos do prolongado conflito entre os poderes que sucederam a Alexandre. Os principais reis e eventos mencionados no livro esto alistados nas tabelas a seguir:Xerocar algumas datas de importncia para o livro de Daniel pg. 78

9. PROPSITONo monte Sinai, no deserto, o Deus do cu e da terra depositou Sua afeio de modo peculiar sobre Israel, escolhendo essa nao para ser Seu povo e declarando que Ele seria seu Deus. Dessa maneira entrou em relao de concerto com Israel, manifestando tal relao por um poderoso ato de livramento. Seu propsito para com essa nao era que ela fosse um "reino de sacerdotes" e que Deus fosse seu governante. Assim foi estabelecida a teocracia (governo de Deus). Israel deveria ser uma nao santa, uma luz para iluminar os gentios e dar testemunho do conhecimento salvador do verdadeiro Deus a todos. Israel, todavia, no foi fiel a esse alto propsito. Depois que j se achava por algum tempo na Terra Prometida, exibiu insatisfao com os princpios fundamentais da teocracia ao solicitar um rei humano, para que fosse semelhante s naes ao seu derredor. Em primeiro lugar lhe foi dado um homem mau como rei, e ento um homem segundo o prprio corao de Deus. Davi, entretanto, era homem de guerra, pelo que no foi seno durante o reinado pacfico de Salomo que o templo, o smbolo externo do reino de Deus, foi edificado. Aps a morte de Salomo rebelaram-se as tribos do norte, renunciando s promessas da aliana. Dessa ocasio em diante, tanto nos reinos do norte como do sul, a iniqidade passou a caracterizar o povo, pelo que Deus anunciou Sua inteno de destru-los (cf. Os 1.6; Am 2.13-16; Is 6.11-12, etc.). Os instrumentos que o Deus soberano empregou para realizar Seu propsito de fazer ponto final na teocracia foram os assrios e babilnios. Sob o poder dessas naes o povo teocrtico foi levado em cativeiro, e o exlio ou perodo de "Indignao" foi iniciado (Is 10.25; Dn 8.19). O prprio exlio foi seguido por um perodo de expectativa e preparao para a vinda do Messias. Foi revelado que um perodo de setenta vezes sete tinha sido determinado por Deus para a materializao da obra messinica (Dn 9.24-27). O livro de Daniel, um produto do exlio, serve para mostrar que o prprio exlio no seria permanente. Pelo contrrio, a prpria nao que havia conquistado Israel desapareceria da cena da histria para ser substituda por outra e, de fato, por trs outros grandes imprios humanos. Enquanto esses imprios estivessem em existncia, entretanto, o Deus do cu erigiria outro reino que, diferentemente dos reinos humanos, seria ao mesmo tempo universal e eterno. O propsito de Daniel, por conseguinte, ensinar a verdade que, embora o povo de Deus esteja escravizado em uma nao pag, o prprio Deus seu soberano e aquele que em ltima anlise dispe dos destinos, tanto dos indivduos como das naes.O pensamento chave e o propsito central do livro so expressos no captulo 4 trs vezes para ressaltar bem (VV. 17, 25, 32) A FIM DE QUE CONHEAM OS VIVENTES QUE O ALTSSIMO TEM DOMNIO SOBRE O REINO DOS HOMENS; E O D A QUEM QUER. significativo que esse grande pronunciamento chegue at ns mediante os lbios do humilhado Nabucodonosor, que era a cabea de ouro e o primeiro imperador mundial dos tempos dos gentios. tambm digno de nota de que esse propsito central de Daniel corresponda ao de Ezequiel, o outro livro do cativeiro. O destaque de Ezequiel : ELES (ISRAEL) SABERO QUE EU SOU O SENHOR.[footnoteRef:3] [3: Idem 2]

Estimular esperana na restaurao futura de Israel demonstrando como Yahweh est concretizando Seus objetivos para a nao por meio de imprios humanos at que o reino divino seja estabelecido.[footnoteRef:4] [4: Foco de Desenvolvimento AT]

10. DESENVOLVIMENTODaniel um dos poucos homens das Escrituras em torno de quem Deus desenvolveu um bloco de revelao. Sua vida contm aquela combinao de sonhos, vises, milagres e revelao direta que faz dele um dos personagens mais pitorescos da Bblia.O livro classificado como literatura apocalptica, embora boa parte de seu material seja estritamente histrico (captulos 1 6). Esses dois estilos literrios so unidos pelo tema da soberania de Yahweh na histria e pelo propsito de encorajar Israel a manter suas esperanas no cumprimento das alianas abramica e davdica a despeito da triste situao em que a nao se encontrava desde a destruio de Jerusalm pelos babilnios em 586 a.C.A primeira diviso do livro, que apresenta as circunstncias histricas da presena de Daniel na corte babilnica, serve o propsito do livro indicando como Yahweh poderia sustentar, proteger e demonstrar favor a um judeu exilado mesmo em meio s mais adversas condies (1.3-7) em resposta determinao desse indivduo em obedecer a Sua lei a qualquer preo (1.8-16). Fidelidade traz favor e, eventualmente, fama (1.17-21).A segunda diviso do livro, que enfatiza as soberanas intervenes de Yahweh na histria gentlica, contribui para o propsito do livro apresentando o programa divino para as naes (captulos 2 e 7), enfatizando que quando a Histria coloca os fiis de Deus em situaes aflitivas devido ao orgulho e arrogncia de governantes humanos, Ele fiel e poderoso para livr-los (captulos 3 e 6), e demonstrando quo efetivamente Yahweh pode humilhar homens que, em virtude de um momento de triunfo passageiro, presumem que obtiveram vitria sobre Aquele que Vencedor por toda a eternidade (captulos 4 e 5).O sonho de Nabucodonozor e a viso de Daniel apresentam o mesmo panorama bsico de duas perspectivas distintas. O rei recebeu uma viso do governo humano do mundo de uma perspectiva humana, uma esttua majestosa que no conseguia sustentar-se para sempre e seria eventualmente destruda em juzo por um reino eterno estabelecido sem auxlio de poder humano (2.44,45).O aspecto histrico no captulo 2 apresenta Nabucodonozor exigindo a descrio e explicao de seu sonho, com a ameaa de mudana total de sua liderana por meio de execuo coletiva (2.1-13). A isso segue-se a petio que Daniel e seus amigos fazem a Deus por sabedoria e percepo, petio que Deus concede (2.14-23), capacitando-o a relatar e interpretar o sonho (2.24-45). A seguir, encontra-se a concesso de honrarias reais a Daniel e seus companheiros (2.46-49).O captulo 3 relata o livramento miraculoso dos amigos de Daniel na ocasio em que Nabucodonozor tentou afirmar sua suserania sobre o imprio, obrigando todos os seus vassalos e subalternos a adorar uma esttua que ele fizera construir prximo a Babilnia.Essa narrativa transcende sua realidade histrica, oferecendo um quadro da milagrosa preservao de Israel em resposta a sua fidelidade. Esse incidente pode ter acontecido em 594 a.C., quando Zedequias, rei de Jud, fez uma visita a Babilnia (cf. Jr 51.59,60) com outros reis vassalos. O propsito da cerimnia em Daniel 3, todavia, parece ter sido mais do que poltico, pois ela envolvia adorao (3.1-7); por ter se recusado a prostrar-se perante a imagem, os trs jovens administradores incorreram na indignao real (3.8-18), sendo submetidos prova da fornalha de fogo ardente (3.19-23). Sua milagrosa libertao teve forte impacto emocional sobre o rei, que acabou por honrar a eles e a seu Deus (3.24-30).O captulo 4 contm uma histria mais pessoal que serve o propsito de demonstrar a soberania de Yahweh sobre o homem e Sua disposio de manifestar Seu carter queles que se humilham perante Ele. O orgulho de Nabucodonozor por suas realizaes o estopim dos eventos descritos em seu sonho (4.9-18, 20-26). O maior monarca do mundo foi humilhado a ponto de assemelhar-se a um animal antes de perceber Quem realmente detm as rdeas do poder sobre os reinos da terra (4.31-37).O mesmo padro de orgulho humano e humilhao se acha presente no captulo 5, em que, no entanto, Deus no oferece uma segunda oportunidade. Belsazar, prncipe regente em nome de seu pai, Nabonido, procurou encorajar seu desanimado exrcito com uma celebrao sem limites, para a qual ordenou que fossem trazidos os utenslios de ouro do templo de Yahweh em Jerusalm, que serviriam como prova da supremacia babilnica sobre outros deuses e suas naes (5.1-4). Sua festa blasfema foi interrompida por um sinal divino, a clebre escrita na parede (5.5-9), que interpretada e aplicada arrogncia e idolatria de Belsazar (5.13-28). Ao contrrio de Nabucodonozor, Belsazar no recebe uma segunda oportunidade, pois naquela mesma noite (5.30,31), 12 de outubro de 539 a.C., os persas, sob o comando do general Gubaru (Gobrias), invadiram a Babilnia e executaram o devasso prncipe.O captulo 6 apresenta outra confrontao entre a idolatria e a fidelidade a Yahweh. Dessa feita a questo no prostrar-se perante um dolo, mas orar a um ser finito e mortal. A fidelidade de Daniel no recm-formado governo persa na satrapia de Babilnia levou a uma trama em que ele foi acusado perante Dario (6.10,11) e condenado execuo na cova dos lees (6.12-18), onde foi milagrosamente preservado, acabando por ser libertado pelo prprio rei e reconduzido a seu cargo, ao passo que seus acusadores receberam a punio antes designada para ele (6.19-24). A soberania de Yahweh reconhecida por mais um governante mundial (6.25-28).O captulo 7 cobre o mesmo assunto do captulo 2. Uma viso de quatro animais (7.1-8), de Yahweh, como o Ancio de Dias [i.e., o Eterno] (7.9-12), e do Filho do Homem (7.13,14) seguida por uma detalhada interpretao do curso do poder gentlico sobre a histria humana (7.15-28).O elemento novo nessa viso a revelao sobre o pequeno chifre do tempo escatolgico, um governante mundial que emergir do quarto animal/reino (7.21-28). Ele cometer o ltimo e maior ato de hbris (7.25), que ser diretamente punido pelo Filho do Homem, quando este estabelecer Seu reino sobre a terra (7.26-28).Comeando com o captulo 8, o foco da ateno deixa de ser a histria mundial e passa a ser a histria de Israel. O captulo 8 contm um esboo da histria do povo escolhido sob a hegemonia persa e helnica, representadas por um carneiro e um bode, respectivamente (8.1-14). O grande chifre do bode representa Alexandre o Grande, e os quatro chifres resultantes de sua quebra aludem aos quatro reinos estabelecidos depois da diviso do imprio macednio entre os quatro principais generais de Alexandre. O pequeno chifre do captulo 8 parece ser mais historicamente localizado como Antoco IV Epfanes (ou Epifnio), que reinou de 175 a 163 a.C. Os nmeros desse captulo, os quais tm sido grosseiramente mal interpretados ao longo da histria, mais provavelmente se referem ao tempo transcorrido da remoo do altar de sacrifcios por Antoco IV e sua restaurao por Judas Macabeu 3 anos depois (dezembro de 165 a.C.). A interpretao da viso concedida por um anjo, uma caracterstica marcante da literatura apocalptica (8.15-27).O captulo 9 contm aquilo que alguns consideram a profecia crucial do Antigo Testamento, pois traa o programa divino para o povo de Israel. A viso foi concedida em resposta orao de confisso e petio feita por Daniel (9.3-19) depois de entender (de acordo com a predio de Jeremias) que o castigo de Israel duraria 70 anos.A resposta divina est alinhada com o nmero setenta. O terminus a quo (ponto de partida) das 70 semanas de anos o decreto de Artaxerxes autorizando a reconstruo das muralhas de Jerusalm, promulgado em Nis de 444 a.C. O terminus ad quem (a data limite) das primeiras 69 semanas a entrada triunfal de Jesus em Jerusalm no dia 9 de Nis de 33d.C. A ltima semana, ainda futura, guarda o tempo de perseguio dos santos descrita no captulo 7, que servir de preparativo para o estabelecimento do reino descrito nos captulos 2 e 7.A viso final de Daniel encontra-se nos captulos 10 12. O captulo 10 fala do conflito espiritual em que Daniel se achou envolvido (10.12-14) e de seu sofrimento fsico e sua recuperao associados prpria viso (10.1-11, 15-19). Comeando com 10.20, o mensageiro angelical descreve, a mdio prazo, a histria da terra de Israel, o perodo de tempo em que a nao israelita se viu apanhada no conflito entre os reinos helnicos da Sria e do Egito, muitas vezes em uma gangorra blica que ameaava a sobrevivncia de Israel e da f israelita. Quatro reis persas se seguiriam a Ciro antes que a supremacia persa fosse quebrada pelos gregos (11.2) em Platia e Salamina (480 a.C.). A isso se seguiria a conquista do imprio persa pelos macednios (11.3) e a diviso do vasto imprio de Alexandre (11.4). Dessa diviso surgiram as guerras siro-egpcias entre as dinastias dos Selucidas e dos Ptolomeus, respectivamente, que duraram mais de cem anos (11.5-20). Daniel deu particular ateno ao papel de Antoco IV Epfanes, que representou a mais sria ameaa cultura, f e raa judias (11.21-35).A parte final da viso trata da realidade ltima da qual Antoco era uma manifestao histrica em escala menor (11.3612.3). Essa passagem est ligada com a septuagsima semana do captulo 9 e com o pequeno chifre do captulo 7. Naes de toda a bacia mediterrnea se envolvero em uma conflagrao final, em que o rei de semblante feroz encontrar seu fim e castigo (11.40-45).Daniel promete que o remanescente fiel de Israel ser preservado em meio aos sofrimentos da septuagsima semana (12.1, 5-11), ao passo que os que morreram na justia tm a promessa da ressurreio fsica (12.2,3), de modo a desfrutar a bno definitiva do reino milenar (12.12, 13). Assim, o livro termina com a concretizao do objetivo da Histria. Na verdade, apresenta o objetivo inquestionvel da revelao bblica, apontando ao homem o plano divino de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que esto nos cus como as que esto na terra (Ef 1.10). Nesse plano e para esse plano, a preservao de Israel um elemento chave, e o livro de Daniel demonstra sua verdade e realidade.