Introdução à Sociologia - Lulismo e Desigualdade

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1 Introdução à Sociologia Fabrício Monteiro Neves Aluno: Ricardo Fernandes Paixão 14/0161180 2ª Avaliação - exercício de interpretação da realidade brasileira. Desigualdade, Lulismo e Patrimonialismo O ciclo lulista diminuiu a desigualdade no Brasil? De acordo com o criador do termo, André Singer 1 , uma controvérsia voltou à tona recentemente. De acordo com reportagem publicada "Valor" (bit.ly/vecdes), a fatia apropriada no Brasil pelo 1% mais rico da população não caiu entre 2000 e 2010. Tal faixa abocanhava cerca de 17% da renda nacional no início do século 21, e continuava a fazê-lo uma década depois. Não houve então diminuição de desigualdade? Por outro lado como articular a desigualdade com o patrimonialismo, elemento identitário de nossa formação, tomando a desigualdade como consequência do patrimonialismo. Usaremos aqui a abordagem Weberiana de Jessé Souza. 1. Os sentidos do Lulismo Em seu livro, Os Sentidos do Lulismo, André Singer parte de uma constatação: no ano da chegada do PT ao poder, o Brasil era o país mais desigual do mundo. Por razões que remontam ao passado colonial, havia no Brasil uma “sobrepopulação trabalhadora superempobrecida permanente”, que estaria abaixo da condição proletária seria o subproletariado. Responsável pela derrota de Lula em 1989, o subproletariado, segundo André Singer, teria se convertido em base do lulismo 2 . 2. Carga Tributária Com uma carga tributária próxima dos 36% do PIB, o Brasil é um dos países que mais tributa no mundo. Isso se compara com a Colômbia (23%), Chile (18%), Peru (15%) e México (30%), países em estágio de desenvolvimento similar. Dentre os países ricos, a carga tributária brasileira é superior à dos EUA (26%), Suíca (29%), Nova Zelândia (34%), Austrália (30%), Canadá (33%) e se aproxima da Noruega (43%). 1 http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2014/06/1477835-distribuicao-de-renda.shtml 2 http://www.brasildefato.com.br/node/11399

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    Introduo Sociologia Fabrcio Monteiro Neves Aluno: Ricardo Fernandes Paixo 14/0161180 2 Avaliao - exerccio de interpretao da realidade brasileira.

    Desigualdade, Lulismo e Patrimonialismo

    O ciclo lulista diminuiu a desigualdade no Brasil? De acordo com o criador

    do termo, Andr Singer1, uma controvrsia voltou tona recentemente. De

    acordo com reportagem publicada "Valor" (bit.ly/vecdes), a fatia apropriada no

    Brasil pelo 1% mais rico da populao no caiu entre 2000 e 2010. Tal faixa

    abocanhava cerca de 17% da renda nacional no incio do sculo 21, e continuava

    a faz-lo uma dcada depois. No houve ento diminuio de desigualdade?

    Por outro lado como articular a desigualdade com o patrimonialismo,

    elemento identitrio de nossa formao, tomando a desigualdade como

    consequncia do patrimonialismo. Usaremos aqui a abordagem Weberiana de

    Jess Souza.

    1. Os sentidos do Lulismo

    Em seu livro, Os Sentidos do Lulismo, Andr Singer parte de uma

    constatao: no ano da chegada do PT ao poder, o Brasil era o pas mais

    desigual do mundo. Por razes que remontam ao passado colonial, havia no

    Brasil uma sobrepopulao trabalhadora superempobrecida permanente, que

    estaria abaixo da condio proletria seria o subproletariado. Responsvel

    pela derrota de Lula em 1989, o subproletariado, segundo Andr Singer, teria se

    convertido em base do lulismo2.

    2. Carga Tributria

    Com uma carga tributria prxima dos 36% do PIB, o Brasil um dos

    pases que mais tributa no mundo. Isso se compara com a Colmbia (23%), Chile

    (18%), Peru (15%) e Mxico (30%), pases em estgio de desenvolvimento

    similar. Dentre os pases ricos, a carga tributria brasileira superior dos EUA

    (26%), Suca (29%), Nova Zelndia (34%), Austrlia (30%), Canad (33%) e se

    aproxima da Noruega (43%).

    1 http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2014/06/1477835-distribuicao-de-renda.shtml 2 http://www.brasildefato.com.br/node/11399

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    Uma carga tributria alta supe a presena de um Estado forte e polticas

    amplas de redistribuio de renda. Tal no caso. O Brasil, apesar de inegveis

    avanos nas ltimas dcadas, continua como um dos pases mais desiguais do

    mundo. E estudos recentes indicam que a desigualdade vem aumentando.

    consenso tanto esquerda quanto direita que o Brasil tem um sistema

    tributrio em que a populao de menor renda a que paga, proporcionalmente,

    mais impostos. Afinal, "quem ganha dois salrios mnimos paga o mesmo preo

    e os mesmos impostos por um saco de arroz do que quem ganha muitos salrios

    mnimos", afirma Mrcio Pochmann, economista da Unicamp ligado ao PT.

    O Brasil tem a segunda maior carga tributria entre os pases da Amrica

    Latina, segundo estudo divulgado nesta segunda-feira (20) pela Organizao

    para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE). No ranking, que

    compreende 18 pases, o pas aparece atrs apenas da Argentina.

    Segundo o levantamento, os impostos e tributos pagos pelos brasileiros e

    pelas empresas no pas correspondem a 36,3% do Produto Interno Bruto (PIB)

    do pas. Na Argentina, essa proporo de 37,3%. No Uruguai, terceiro no

    ranking, a carga tributria de 26,3%.

    Na outra ponta, Guatemala, Repblica Dominicana e Venezuela so os

    pases onde a "mordida" dos impostos mais leve: 12,3%, 13,5% e 13,7% do

    PIB, respectivamente. Os dados so referentes a 2012, os mais atuais da

    entidade.

    Em mdia, a carga tributria da regio ficou em 20,7% do PIB em 2012,

    segundo a OCDE, acima da taxa de 20,1% do ano anterior.

    A entidade aponta, no entanto, que a taxa ainda est abaixo da registrada

    entre os pases que fazem parte da organizao, de 34,6%. Trinta e quatro

    pases em sua maioria desenvolvidos compem a OCDE. Nesse grupo, a

    maior carga tributria a da Dinamarca, de 48% do PIB.

    3. Desigualdade no Brasil

    Os mais ricos apropriam-se de uma parcela substantiva da renda total,

    sem mudanas claras entre 2006 e 20123. O grfico 1 traz os percentuais

    3 Medeiros, Marcelo; Souza, Pedro H. G. F.; Castro, Fabio Avila. O Topo da Distribuio de Renda no Brasil: primeiras estimativas com dados tributrios e comparao com pesquisas domiciliares, 2006-

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    apropriados pelos 0,1%, 1% e 5% mais ricos, de acordo com os dados da DIRPF.

    Nesse perodo, em mdia, o 0,1% mais rico recebeu quase 11% da renda total,

    o que implica que sua renda mdia foi quase 110 vezes maior do que a mdia

    nacional. O 1% mais rico, incluindo esse 0,1%, apropriou-se de 25%, e os 5%

    mais ricos receberam 44%, quase a metade da renda total. Na Colmbia e nos

    Estados Unidos a parcela do 1% mais rico na renda total situa-se em torno de

    20%. Os resultados para outros pases desenvolvidos indicam percentuais entre

    10% e 15%, caindo abaixo disso nos pases mais igualitrios. Todavia,

    diferenas entre pases e sistemas tributrios impedem que esses nmeros

    sejam diretamente comparados aos nossos.

    4. Regressividade e Progressividade

    No Brasil, assim como nos pases emergentes pesquisados, os tributos

    indiretos sobre o consumo impactam mais na formao da carga tributria bruta

    (CTB) do que os tributos sobre a renda. Enquanto os tributos sobre o consumo

    so responsveis por 45,8% da CTB brasileira, os incidentes sobre a renda

    representam 24,6% da CTB. Na maioria dos pases desenvolvidos ocorre o

    2012. (August 14, 2014). Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=2479685

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    inverso. Esse um dos pontos da crtica de Piketty4 para os sistemas tributrios

    de pases em desenvolvimento: alta concentrao de tributos sobre consumo

    (invisveis, de arrecadao simplificada) em detrimento de tributos sobre

    patrimnio (visveis, arrecadados da elite).

    Segundo Higgins e Pereira, as transferncias sociais so extremamente

    eficazes na reduo de desigualdades.5 No entanto, quando os impostos

    indiretos so-considerados, a reduo da ultra pobreza diminui

    significativamente, a reduo da pobreza extrema quase desaparece e pobreza

    moderada na verdade aumenta quando se compara o rendimento bruto com a

    renda lquida de impostos. Em outras palavras, o nmero de quase-pobres que

    so empurrados para a pobreza moderada, pagando mais em impostos do

    que recebem em benefcios, maior do que o nmero de pobres que

    escapam da pobreza recebendo mais em transferncias do que pagam em

    impostos.

    Concluso

    Por que o sistema perverso de impostos indiretos no foi objeto de

    reforma? O patrimonialismo como causa da desigualdade.

    Segundo Jess Souza,6 no mbito de suas generalizaes sociolgicas,

    o patrimonialismo, termo weberiano apropriado no Brasil, acaba se tornando, de

    forma implcita, em um equivalente funcional para a mera interveno estatal,

    passando a ser substitutivo da mera noo de interveno do Estado.

    A quem interessa a idealizao do mercado e a demonizao do Estado?

    Como fica, em vista disso, a falsa oposio entre mercado idealizado e

    Estado corrupto? Ora, trata-se de um conceito que se refere a todos e a

    ningum e pouco ou nada esclarece. Se o potencial cientfico e esclarecedor

    dessa noo tendencialmente nulo, o mesmo no pode ser dito de seu

    potencial ideolgico e poltico. Ela simplifica e distorce a realidade social de

    diversas maneiras e sempre em um nico sentido: aquele que simplifica e

    4 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141127_piketty_entrevista_ru_lgb 5 Higgins, Sean and Pereira,Claudiney The Effect of Brazils High Taxation and Social Transfers on

    Household Income CEQ Working Paper No. 7 JANUARY 2013 6 http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/a-atualidade-de-max-weber-no-brasil/

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    idealiza o mercado e subjetiviza e demoniza o Estado. Segundo Souza, de

    weberiano, pelo menos, esse processo no tem nada. O mercado cria riquezas

    com uma eficincia singular, mas produz, simultaneamente, desigualdades e

    injustia social de todo tipo. O Estado pode agir das mais diversas maneiras,

    dependendo da correlao de foras poltica que esteja no controle do poder de

    Estado.

    essa contraposio entre Estado ineficiente, corrupto, ou seja,

    patrimonialista, no sentido criticado por Souza, com o mercado eficiente, que

    tem, ao longo da histria brasileira, impedido os esforos de reforma real do

    sistema tributrio de maneira a beneficiar o maioria da populao. Talvez esse

    reformismo fraco, nas palavras de Andr Singer, seja o retrato mais fiel de

    nossa herana patrimonialista. Sendo assim podemos concluir que o

    patrimonialismo pode ser uma causa da desigualdade.

    Se a desigualdade brasileira remonta ao passado colonial que concentrou

    riqueza, estamos diante de um problema histrico que apenas o excesso de

    ingenuidade poderia achar que seria resolvido por esse ou aquele governo e

    no com o esforo contnuo de geraes de brasileiros. A concluso de Andr

    Singer, sobre o reformismo lulista, agora embasada nas pesquisas de Marcelo

    Medeiros e outros, melanclica7: o reformismo fraco, por ser fraco, implica

    ritmo to lento que, por vezes, parece apenas eternizar a desigualdade.

    7 http://www.brasildefato.com.br/node/11399