Introdução a metodologia científica

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Unidade 1 — Introdução à Metodologia Científica Material elaborado pelo Prof. Edilson Carlos Caritá e adaptado pelo Prof. Lucas de Souza Lehfeld Nesse momento iniciaremos a disciplina Metodologia Científica. Os conceitos apresentados irão auxiliá-lo(a) na elaboração e escrita de documentos científicos (projetos de pesquisa, artigos científicos e monografia), assim como norteá-lo(a) para elaboração de relatórios técnico-científicos. Será apresentado um conjunto de métodos e técnicas necessários para você conhecer os fundamentos de metodologia científica. O objetivo dessa unidade é expor a você os conceitos iniciais sobre a metodologia científica, assim como o que é conhecimento científico. Metodologia Científica Segundo Marconi e Lakatos (2003), a Metodologia Científica, mais do que uma disciplina, significa introduzir o discente no mundo dos procedimentos sistemáticos e racionais, base da formação tanto do estudioso quanto do profissional, pois ambos atuam, além da prática, no mundo das ideias. Podemos afirmar até que a prática nasce da concepção sobre o que deve ser realizado, e qualquer tomada de decisão fundamenta- se naquilo que se afigura como o mais lógico, racional, eficiente e eficaz. Conforme Wazlawick (2008), a Metodologia é o estudo dos métodos, que tem como finalidade captar e analisar as características dos vários métodos disponíveis; avaliar suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização. Para Eiterer (2010), metodologia científica é o estudo sistemático e lógico dos métodos empregados nas ciências, seus fundamentos, sua validade e sua relação com as teorias científicas. Em geral, o método científico compreende basicamente um conjunto de dados iniciais e um sistema de operações ordenadas adequado para a formulação de conclusões, de acordo com certos objetivos predeterminados. 1

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Unidade 1 — Introdução à Metodologia Científica

Material elaborado pelo Prof. Edilson Carlos Caritá

e adaptado pelo Prof. Lucas de Souza Lehfeld

Nesse momento iniciaremos a disciplina Metodologia Científica. Os conceitos

apresentados irão auxiliá-lo(a) na elaboração e escrita de documentos científicos

(projetos de pesquisa, artigos científicos e monografia), assim como norteá-lo(a) para

elaboração de relatórios técnico-científicos. Será apresentado um conjunto de métodos e

técnicas necessários para você conhecer os fundamentos de metodologia científica.

O objetivo dessa unidade é expor a você os conceitos iniciais sobre a

metodologia científica, assim como o que é conhecimento científico.

Metodologia Científica

Segundo Marconi e Lakatos (2003), a Metodologia Científica, mais do que uma

disciplina, significa introduzir o discente no mundo dos procedimentos sistemáticos e

racionais, base da formação tanto do estudioso quanto do profissional, pois ambos

atuam, além da prática, no mundo das ideias. Podemos afirmar até que a prática nasce

da concepção sobre o que deve ser realizado, e qualquer tomada de decisão fundamenta-

se naquilo que se afigura como o mais lógico, racional, eficiente e eficaz.

Conforme Wazlawick (2008), a Metodologia é o estudo dos métodos, que tem

como finalidade captar e analisar as características dos vários métodos disponíveis;

avaliar suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os

pressupostos ou as implicações de sua utilização.

Para Eiterer (2010), metodologia científica é o estudo sistemático e lógico dos

métodos empregados nas ciências, seus fundamentos, sua validade e sua relação com as

teorias científicas. Em geral, o método científico compreende basicamente um conjunto

de dados iniciais e um sistema de operações ordenadas adequado para a formulação de

conclusões, de acordo com certos objetivos predeterminados.

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Ainda segundo Eiterer (2010), a metodologia científica tem sua origem e razão,

considerando que o objetivo primordial de toda ciência é aproximar o homem dos

fenômenos naturais e humanos por meio da compreensão e do domínio dos mecanismos

que os regem. Essa aproximação não requer formulações prévias de nenhum tipo, pois

os estímulos externos chegam à mente humana por meio dos sentidos e o acúmulo de

experiências sensoriais e intelectuais supõe por si mesmo um certo grau de

conhecimento de cada indivíduo.

A Metodologia Científica tem a função de nos fornecer subsídios para que

desenvolvamos esse processo da maneira mais adequada.

Para buscar estas respostas precisamos refletir sobre o que queremos conhecer e

para isso iniciamos com a pesquisa para a construção ou busca de novos conhecimentos.

O termo Metodologia significa na sua origem o estudo dos caminhos, dos

instrumentos usados para se fazer ciência. É uma disciplina instrumental cujo objetivo é

aprender a pesquisar. A metodologia procura desvendar por que os fenômenos existem,

explicando a realidade por meio da teoria e da prática, utilizando métodos para a

produção do conhecimento. O método constitui-se de uma série de regras que têm como

objetivo resolver determinado problema ou explicar um fato por meio de hipóteses ou

teorias que resultam na construção do conhecimento científico.

A Metodologia Científica, como estudo dos procedimentos e técnicas da

investigação e trabalho científicos, é o conjunto de definições, procedimentos, rotinas,

métodos e técnicas utilizados para a obtenção e apresentação das informações desejadas.

Assim, a metodologia científica ensina desde como fazer uma pesquisa

bibliográfica, a ler e analisar os textos, resumos, ou seja, como fazer o próprio trabalho

intelectual sobre o tema, até a como expor o trabalho feito, colocá-lo no papel, e

divulgá-lo nos meios de publicação científicas, ou seja, escrever um artigo sobre o

trabalho, publicá-lo em um congresso profissional, até escrever um livro.

A função do cientista não se restringe em testar hipóteses apenas por observação,

mas este pode interferir para controlar as variáveis e tornar os resultados mais precisos.

Contudo, atualmente, há entre a arte e a ciência uma finalidade compartilhada

que é a de criar e a de construir conhecimento. Para a construção de conhecimento é

necessário ousar, inovar e dar vazão a criatividade, a qual é também comum na criação

artística.

Segundo Lehfeld (2007), tanto na ciência como na arte, a liberdade daquele que

cria deve ser considerada como ontológica, ou seja, deve possuir a finalidade de

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apreender e explicar o ser, com a diferenciação de que o cientista, no processo do

conhecimento, deve controlar a sua subjetividade com base numa lógica racional e

metodológica, e na arte isso não ocorre.

Conhecimento Humano

Um problema crucial para a Filosofia é como explicar o que é conhecimento

humano. Trata-se de uma relação entre o pensamento e os objetos, a consciência e a

realidade, no intuito de conhecê-la. O conhecimento, portanto, forma-se a partir dessa

interação entre o sujeito e o objeto (fenômeno e realidade), na busca do entendimento.

É a relação entre o sujeito e o objeto percebido que irá constituir o elemento a

ser pesquisado e se transformar num conhecimento científico.

Todo conhecimento está baseado num pré-conhecimento, em herança cultural,

tradições, em pontos de partida ligados a mundivisões subjetivas.

O homem na sua existência vive rodeado de fenômenos que ainda não foram

percebidos por ele. Porém, a partir da sua percepção, ele passa a questioná-lo e assim

inicia-se a pesquisa e, a partir da pesquisa, a construção do conhecimento, como já

dissemos anteriormente. Para entender um pouco mais das origens desse

questionamento, podemos refletir, sucintamente, sobre a civilização grega.

Os primeiros filósofos gregos dedicavam-se a um conjunto de indagações

principais: Por quê e como as coisas existem? O que é o mundo? Qual a origem da

natureza e quais são as causas de sua transformação?

Num primeiro momento, a essas indagações tinham como resposta que conhecer

é alcançar o idêntico, imutável. No entanto, segundo esses filósofos, nossos sentidos nos

oferecem imagens de um mundo em incessante mudança, num fluxo perpétuo, em que

nada permanece igual. Assim, tudo se torna contrário em si mesmo, como o dia que vira

noite, ou mesmo o frio que se aquece. E esse processo de mutação que é importante

para formar o conhecimento.

Assim, o conhecimento pode ser definido como sendo a manifestação da

consciência-de-conhecer, é a consciência de conhecimento, simplificando, diz-se que o

conhecimento existe quando a pessoa ultrapassa o “dado” vivido, explicando-o. (É o

sujeito que percebeu o objeto, buscou informações, pesquisou sobre o mesmo e agora é

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capaz de explicar a sua origem, estrutura, funções, entre outros). Por exemplo, vamos

admitir que uma criança esteja aprendendo tabuada. Quando consegue perceber as

regularidades nas tabuadas dos diferentes números e consegue explicar/justificar tais

regularidades, fazendo uso do raciocínio matemático, dizemos que ela sabe, ou melhor,

conhece tabuada. Conhecemos aquilo que explicamos. O conhecimento é, por isso,

diferente da crença. A crença não depende da explicação, mas de fé.

Como toda ciência, o Conhecimento tem seus objetivos, dentre eles a busca da

verdade, respostas e interpretações para o objeto percebido.

Níveis de Conhecimento

Como podemos chegar a conclusões verdadeiras por meio da pesquisa?

Até que ponto este conhecimento é verdadeiro com comprovação científica?

Partindo destes questionamentos passaremos a buscar e conhecer os Níveis de

Conhecimento dividindo-os em:

• conhecimento popular - Este tipo de conhecimento está centrado nos sentidos

do ser humano e sua percepção do mundo dos fenômenos no seu

cotidiano; não tem respostas científicas. É a obra do acaso. É a percepção

que o ser humano tem das coisas da natureza (mundo) que o rodeiam no

seu dia-a-dia. Como exemplo podemos citar aquilo (fenômenos, objetos)

que descobrimos todos os dias quando passamos pelo mesmo lugar. Um

dia é um risco na calçada, um detalhe em um prédio, um animal, uma

árvore que antes não havíamos percebido.

• conhecimento filosófico - É o conhecimento resultante da reflexão, do pensar

sobre determinado fenômeno. Tem como centro a filosofia, o

pensamento e não o rigor técnico científico na sua obtenção. É na

verdade uma visão e interpretação de mundo, percepção da natureza por

meio da razão, da lógica e até de emoções.

• conhecimento teológico - Este tipo de conhecimento tem suas explicações

centradas em Deus que explica, analisa e interpreta as “coisas” do

mundo. É na realidade a interpretação dos fenômenos da natureza por

meio da fé, das verdades reveladas, da relação entre espírito e matéria,

corpo e alma.

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• conhecimento científico - O conhecimento científico é aquele construído a

partir de questionamentos e indagações que o homem faz sobre a

natureza. Por meio da pesquisa sistematizada, organizada, utilizando

métodos próprios, chega-se a um resultado comprovado, que é o

conhecimento científico. Inicia-se a pesquisa tendo como meta e

objetivos a construção de um novo conhecimento. Neste ponto é que o

pesquisador percebe a importância da Metodologia Científica na

pesquisa em busca da construção do Conhecimento.

Como se observa, o conhecimento humano trata-se de um instituto complexo,

que envolve sensações, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição

intelectual. São elementos que, na verdade, desenvolvem-se em maior ou menor

intensidade de acordo com os fins propostos pelos diferentes níveis de conhecimento.

Conhecimento Científico

O conhecimento científico é real porque lida com ocorrências ou fatos, isto é,

com toda “forma de existência que se manifesta de algum modo”. Constitui um

conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou

falsidade conhecida por meio da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no

conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado

logicamente, formando um sistema de ideias (teorias) e não conhecimentos dispersos e

desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações

(hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.

Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou

final e, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o

desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente

(MARCONI; LAKATOS, 2003).

No caso do conhecimento científico é fundamental que o pesquisador tenha uma

base teórica e metodológica que lhe possibilite concretizar o processo a ser

desenvolvido, seja pela demonstração lógica ou pela experiência ou, ainda, pela

interpretação e síntese elaborada com base nos dados obtidos.

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O conhecimento, além de ser um procedimento político, também se constitui em

estratégia fundamental do ser humano para fazer história própria individual e/ou

coletivamente. De acordo com Lehfeld (2007), metodologicamente, o conhecimento

científico formaliza a realidade e o discurso sobre ela. Contudo, a formalização de

processos complexos que compõem a realidade é que faz surgir elementos para os

questionamentos e para as dúvidas, construindo assim a base fundamental da ciência, ou

seja, a discutibilidade dos fenômenos e das descobertas.

O Método Científico é o instrumento da Metodologia Científica. Numa definição

em sentido amplo, Metodologia Científica é o estudo dos métodos de conhecer.

O trabalho científico é um conjunto de atividades que busca um determinado

conhecimento. Quando se faz uma pesquisa científica, nós fazemos atividades de

identificação, reunião, tratamento, análise, interpretação e apresentação de informações

para satisfazer certa finalidade. Cada ciência busca a clareza (não gera ambiguidades), a

precisão (adequação das ideias), e a objetividade (não se deixa afetar por crenças,

desejos e valores).

O conhecimento científico difere de outras formas ou modalidades de

conhecimento (vulgar, filosófico, religioso ou teológico e empírico) pelo uso da

observação, da experimentação, da análise crítica e por ser sistemático, metódico e

ordenado.

LEITURA COMPLEMENTAR

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Texto de Mario Bunge. La Ciencia su método in Um outro olhar sobre o mundo, mar-

nov/2002, p. 215-217.

O conhecimento científico é fático: Parte dos fatos, respeita-os até certo ponto e

sempre retorna a eles. A ciência procura descobrir os fatos tais como são,

independentemente do seu valor emocional ou comercial: a ciência não poetiza os fatos.

Em todos os campos, a ciência começa por estabelecer os fatos: isto requer curiosidade

impessoal, desconfiança pela opinião prevalecente e sensibilidade à novidade. (...)

Nem sempre é possível, nem sequer desejável, respeitar inteiramente os fatos

quando se analisam, e não há ciência sem análise, mesmo quando a análise é apenas um

meio para a reconstrução final do todo. O físico perturba o átomo que deseja espiar; o

biólogo modifica e pode inclusive matar o ser vivo que analisa; o antropólogo,

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empenhado no seu estudo de campo de uma comunidade, provoca nela certas

modificações. Nenhum deles apreende o seu objeto tal como é, mas tal como fica

modificado pela suas próprias operações. (...) O conhecimento científico transcende os

fatos: põe de lado os fatos, produz fatos novos e explica-os. O senso comum parte dos

fatos e atém-se a eles: amiúde, limita-se ao fato isolado, sem ir muito longe no trabalho

de o correlacionar com outros, ou de o explicar. Pelo contrário, a investigação científica

não se limita aos fatos observados: os cientistas exprimem a realidade a fim de ir mais

além das aparências; recusam o grosso dos fatos percebidos, por serem um montão de

acidentes, selecionam os que julgam relevantes, controlam fatos e, se possível,

reproduzem-nos. Inclusive, produzem coisas novas, desde instrumentos até partículas

elementares; obtêm novos compostos químicos, novas variedades vegetais e animais e,

pelo menos em princípio, criam novas regras de conduta individual e social. (...)

Há mais: o conhecimento científico racionaliza a experiência, em vez de se

limitar a descrevê-la; a ciência dá conta dos fatos, não os inventariando, mas

explicando-os por meio de hipóteses (em particular, enunciados e leis) e sistemas de

hipóteses (teorias). Os cientistas conjecturam o que há por detrás dos fatos observados

e, em seguida, inventam conceitos (como os de átomo, campo, classe social, ou

tendência histórica), que carecem de correlato empírico, isto é, que não correspondem a

perceptos, ainda que presumivelmente se referem a coisas, qualidades ou relações

existentes objetivamente. (...)

A investigação científica é especializada: uma consequência da focagem

científica dos problemas é a especialização. Não obstante a unidade do método

científico, a sua aplicação depende, em grande medida, do assunto; isto explica a

multiplicidade de técnicas e a relativa independência dos diversos setores da ciência.

(...) A especialização não impediu a formação de campos interdisciplinares, como a

biofísica, a bioquímica, a psicofisiologia, a psicologia social, a teoria da informação, a

cibernética ou a investigação operacional. Contudo, a especialização tende a estreitar a

visão do cientista individual (...).

O conhecimento científico é claro e preciso: os seus problemas são distintos, os

seus resultados são claros. (...) A ciência torna preciso o que o senso comum conhece de

maneira nebulosa. (...)

O conhecimento científico é comunicável: não é inefável, mas expressável; não

é privado, mas público. A linguagem científica comunica informações a quem quer que

tenha sido preparado para a entender. (...) O que é inefável pode ser próprio da poesia

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ou da música, não da ciência, cuja linguagem é informativa e não expressiva ou

imperativa. (...)

O conhecimento científico é verificável: deve passar pelo exame da experiência.

Para explicar um conjunto de fenômenos, o cientista inventa conjecturas fundadas de

algum modo no saber adquirido. As suas suposições podem ser cautelosas ou ousadas,

simples ou complexas; em todo o caso, devem pôr-se à prova. O teste das hipóteses

fáticas é empírico, isto é, observacional ou experimental. (...) Nem todas as ciências

podem experimentar; e em certas áreas da astronomia e da economia, alcança-se uma

grande exatidão sem ajuda da experimentação. (...)

A investigação científica é metódica: não é errática, mas planejada. Os

investigadores não tateiam na obscuridade; sabem o que buscam e como o encontrar. A

planificação da investigação não exclui o azar; só que, ao deixar lugar para os

acontecimentos imprevistos, é possível aproveitar a interferência do azar e a novidade

inesperada. (...)

Todo o trabalho de investigação se baseia no conhecimento anterior e, em

particular, nas hipóteses melhor confirmadas. (...) Mais ainda, a investigação procede de

acordo com regras e técnicas que se revelaram eficazes no passado, mas que são

aperfeiçoadas continuamente, não só sob a ótica de novas experiências, mas também de

resultados do exame matemático e filosófico.

O conhecimento científico é sistemático: uma ciência não é um agregado de

informações desconexas, mas um sistema de ideias ligadas logicamente entre si. Todo o

sistema de ideias, caracterizado por um certo conjunto básico (mas refutável) de

hipóteses peculiares, e que procura adequar-se a uma classe de fatos, é uma teoria. (...)

O caráter matemático do conhecimento científico, ou seja, o fato de ser fundado,

ordenado e coerente é que o torna racional. A racionalidade permite que o progresso

científico se efetue não só pela acumulação gradual de resultados, mas também por

revoluções. (...)

O conhecimento científico é geral: situa os fatos singulares em hipóteses gerais,

os enunciados particulares em esquemas amplos. O cientista ocupa-se do fato singular

na medida em que este é membro de uma classe, ou caso de uma lei; mais ainda,

pressupõe que todo o fato é classificável, o que ignora o fato isolado. Por isso, a ciência

não se serve dos dados empíricos - que sempre são singulares - como tais; estes são

mudos enquanto não se manipulam e convertem em peças de estrutura teóricas. (...)

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O conhecimento científico é legislador: busca leis (da natureza e da cultura) e

aplica-as. O conhecimento científico insere os fatos singulares em regras gerais

chamadas "leis naturais" ou "leis sociais". Por detrás da fluência ou da desordem das

aparências, a ciência factual descobre os elementos regulares da estrutura e do processo

do ser e do devir. (...)

A ciência é explicativa: tenta explicar os fatos em termos de leis e as leis em

termos de princípios. Os cientistas não se conformam com descrições pormenorizadas;

além de inquirir como são as coisas, procuram responder ao porquê: porque é que

ocorrem os fatos tal como ocorrem e não de outra maneira. A ciência deduz as

proposições relativas aos fatos singulares a partir de leis gerais, e deduz as leis a partir

de enunciados nomológicos ainda mais gerais (princípios).

O conhecimento científico é preditivo: transcende a massa dos fatos de

experiência, imaginando como pode ter sido o passado e como poderá ser o futuro. A

previsão é, em primeiro lugar, uma maneira eficaz de pôr à prova as hipóteses; mas

também é a chave do controlo ou ainda da modificação do curso dos acontecimentos. A

previsão científica, em contraste com a profecia, funda-se em leis e em informações

específicas fidedignas, relativas ao estado de coisas atual ou passado. (...)

A ciência é aberta: não reconhece barreiras a priori, que limitem o

conhecimento: Se o conhecimento fático não é refutável em princípio, então não

pertence à ciência, mas a algum outro campo. As noções acerca do nosso meio natural

ou social, ou acerca do nosso eu, não são finais; estão todas em movimento, todas são

falíveis. Sempre é possível que possa surgir uma nova situação (novas informações ou

novos trabalhos teóricos) em que as nossas ideias, por firmemente estabelecidas que

pareçam, se revelem inadequadas em algum sentido. A ciência carece de axiomas

evidentes; inclusive, os princípios mais gerais e seguros são postulados que podem ser

corrigidos ou substituídos. Em virtude do caráter hipotético dos enunciados de leis, e da

natureza perfectível dos dados empíricos, a ciência não é um sistema dogmático e

fechado, mas controvertido e aberto. Ou melhor, a ciência é aberta como sistema,

porque é falível, por conseguinte, capaz de progredir.

Síntese da Unidade

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Nesta unidade foi possível conhecer o que é metodologia científica, mostrando

que ela é muito importante para a eternização dos conhecimentos.

Desta forma, foram apresentados os conceitos de conhecimento, subdivididos

em conhecimento popular, filosófico, teológico e científico.

Detalhou-se o conhecimento científico, que é fruto de experimentos e análises a

partir de hipóteses, buscando sempre o inovador, o confirmar.

E por fim, finalizamos com um texto complementar de Mario Augusto Bunge

que apresentar uma reflexão sobre o conhecimento científico.

Referências

BUNGE, M. A. La Ciencia su método in Um outro olhar sobre o mundo, mar-nov/2002, p. 215-217. Disponível em: <http://ocanto.esenviseu.net/apoio/ciencia1.htm>. Acessado em 30/06/2010.EITERER, L. M. Metodologia Científica. Disponível em <http://lheiterer.blogspot.com/2010/07/metodologia-cientifica.html>.LEHFELD, L. S. et al. Disciplina de Metodologia Científica na modalidade a distância. Universidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2007.LEHFELD, N. A. S. Metodologia e Conhecimento Científico: horizontes virtuais. Petrópolis: Editora Vozes, 2007.LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001.WASLAWICK, R. S. Metodologia de Pesquisa para Ciência da Computação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

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