Introdução à História da Igreja Cristã

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INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ Introdução Certamente que dentro de nossas igrejas nós estamos acostumados a estudar somente as doutrinas bíblicas. Soa estranho colocar dentro do nosso currículo a História da Igreja Cristã. Contudo, devemos compreender que o estudo da história faz parte da nossa vida como seres humanos. Todos nós temos história! Neste caso aprenderemos sobre a história da Igreja vendo como Deus levou a Sua Igreja durante sua jornada neste mundo, e como Ele agiu durante o percorrer deste tempo. Deus é o personagem principal desta história. Deus se relaciona com a história de duas maneiras principais. Em primeiro lugar, em sua soberania ele dirige a história, ainda que muitas vezes o faça de maneira incompreensível e insondável para nós. O cristianismo tem uma concepção linear da história, como algo que tem um princípio, um meio e um fim. Em cada uma dessas etapas, Deus é o personagem central. 1 Em resumo, o que queremos dizer é que não é bom desprezar a história, visto que podemos aprender muito com ela: [...] uma coisa é não gostar de história como matéria, como área de estudo; outra coisa bem diferente e não gostar da história, ou seja, não valorizar a história, não considerá-la algo importante. Essa é uma tendência muito comum em nossos dias: o desprezo ou indiferença em relação à história, como se fosse algo dispensável, algo que só interessa a estudiosos ou diletantes. Essa atitude é no mínimo lamentável e no máximo perigosa. 2 Lamentável porque devido a esse desinteresse as pessoas deixam de conhecer muitas coisas valiosas que poderiam enriquecer as suas vidas e dar-lhes maior apreço por tantas realidades que as cercam. Perigosa porque a história é repleta de lições e advertências sobre coisas muito sérias, e quando as pessoas a ignoram, deixam de aprender com ela e correm o risco de repetir os seus erros. A importância do estudo da história da Igreja Tendo em vista que nossa denominação não surgiu “do nada” e “da noite para o dia”, podemos então estudar o passado e aprender muito com ele. Não somente sobre nossa própria denominação, como também a respeito das outras demais igrejas ao nosso redor. Para esclarecer mais a importância de se estudar a história da Igreja Cristã, vejamos abaixo algumas razões apresentadas por certos escritores: 1. James P. Eckman: Primeiramente, o conhecimento da história da igreja traz um senso de perspectiva. Muitas batalhas culturais e doutrinárias travadas atualmente não são novas e, dessa forma, podemos nos beneficiar bastante com o estudo do passado. Em segundo lugar, a história da igreja nos faz compreender mais precisamente as complexidades e a riqueza do cristianismo. Ao percebermos essa diversidade e as contribuições feitas por muitas pessoas e grupos à igreja, surgem tolerância e apreciação em relação aos grupos dos quais discordamos pessoalmente. Por fim, a história da igreja reforça a convicção cristã de que a igreja triunfará! As palavras de Jesus “edificarei a minha igreja” – assumem um significado mais rico. 3 2. Earle E. Cairns: A História da Igreja é também valiosa como explicação do presente. Podemos compreender melhor o presente se conhecermos as suas raízes no passado. 4 Os problemas contemporâneos da Igreja são geralmente iluminados pelo estudo do passado, pois existem padrões e paralelos na história... A reparação dos males existentes na Igreja ou o evitar dos erros e dos costumes equívocos é outro valor do estudo do passado da Igreja. O presente é certamente o produto do passado e a semente do futuro. Paulo nos lembra em 1Coríntios 10:6, 11 que os eventos do passado devem nos ajudar a evitar o mal e buscar o bem. 5 3. Alderi Souza de Matos: 1 MATOS, Alderi Souza de. A Síndrome de Adão Por que devemos valorizar a história. Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 01.08.2007. 2 Ibid. 3 ECKMAN James P. Panorama da História da Igreja. São Paulo, Vida Nova, 2005, p 11. 4 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 17. 5 Ibid., p 17, 18.

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Page 1: Introdução à História da Igreja Cristã

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

Introdução

Certamente que dentro de nossas igrejas nós estamos acostumados a estudar somente as doutrinas

bíblicas. Soa estranho colocar dentro do nosso currículo a História da Igreja Cristã. Contudo, devemos

compreender que o estudo da história faz parte da nossa vida como seres humanos. Todos nós temos história!

Neste caso aprenderemos sobre a história da Igreja vendo como Deus levou a Sua Igreja durante sua jornada

neste mundo, e como Ele agiu durante o percorrer deste tempo. Deus é o personagem principal desta história.

Deus se relaciona com a história de duas maneiras principais. Em primeiro lugar, em sua

soberania ele dirige a história, ainda que muitas vezes o faça de maneira incompreensível e

insondável para nós. O cristianismo tem uma concepção linear da história, como algo que tem

um princípio, um meio e um fim. Em cada uma dessas etapas, Deus é o personagem central.1

Em resumo, o que queremos dizer é que não é bom desprezar a história, visto que podemos aprender

muito com ela:

[...] uma coisa é não gostar de história como matéria, como área de estudo; outra coisa bem

diferente e não gostar da história, ou seja, não valorizar a história, não considerá-la algo

importante. Essa é uma tendência muito comum em nossos dias: o desprezo ou indiferença em

relação à história, como se fosse algo dispensável, algo que só interessa a estudiosos ou

diletantes. Essa atitude é no mínimo lamentável e no máximo perigosa.2

Lamentável porque devido a esse desinteresse as pessoas deixam de conhecer muitas coisas valiosas

que poderiam enriquecer as suas vidas e dar-lhes maior apreço por tantas realidades que as cercam. Perigosa

porque a história é repleta de lições e advertências sobre coisas muito sérias, e quando as pessoas a ignoram,

deixam de aprender com ela e correm o risco de repetir os seus erros.

A importância do estudo da história da Igreja

Tendo em vista que nossa denominação não surgiu “do nada” e “da noite para o dia”, podemos então

estudar o passado e aprender muito com ele. Não somente sobre nossa própria denominação, como também a

respeito das outras demais igrejas ao nosso redor. Para esclarecer mais a importância de se estudar a história da

Igreja Cristã, vejamos abaixo algumas razões apresentadas por certos escritores:

1. James P. Eckman:

Primeiramente, o conhecimento da história da igreja traz um senso de perspectiva. Muitas batalhas culturais

e doutrinárias travadas atualmente não são novas e, dessa forma, podemos nos beneficiar bastante com o

estudo do passado. Em segundo lugar, a história da igreja nos faz compreender mais precisamente as

complexidades e a riqueza do cristianismo. Ao percebermos essa diversidade e as contribuições feitas por

muitas pessoas e grupos à igreja, surgem tolerância e apreciação em relação aos grupos dos quais

discordamos pessoalmente. Por fim, a história da igreja reforça a convicção cristã de que a igreja triunfará!

As palavras de Jesus – “edificarei a minha igreja” – assumem um significado mais rico.3

2. Earle E. Cairns:

A História da Igreja é também valiosa como explicação do presente. Podemos compreender melhor o

presente se conhecermos as suas raízes no passado.4

Os problemas contemporâneos da Igreja são geralmente iluminados pelo estudo do passado, pois

existem padrões e paralelos na história... A reparação dos males existentes na Igreja ou o evitar dos erros

e dos costumes equívocos é outro valor do estudo do passado da Igreja. O presente é certamente o

produto do passado e a semente do futuro. Paulo nos lembra em 1Coríntios 10:6, 11 que os eventos do

passado devem nos ajudar a evitar o mal e buscar o bem.5

3. Alderi Souza de Matos:

1 MATOS, Alderi Souza de. A Síndrome de Adão – Por que devemos valorizar a história. Centro Presbiteriano de

Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 01.08.2007. 2 Ibid.

3 ECKMAN James P. Panorama da História da Igreja. São Paulo, Vida Nova, 2005, p 11.

4 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 17.

5 Ibid., p 17, 18.

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As considerações acima nos mostram a importância da história bíblica, da história da igreja e até mesmo

da história secular. Portanto, quais devem ser as nossas atitudes diante disso? Em primeiro lugar,

precisamos recordar continuamente a história em busca de ensinos relevantes para a nossa vida. Essa é

uma ênfase encontrada com freqüência nas páginas da Escritura. A recordação pode ter como objeto

episódios negativos, quer na vida pessoal (Dt 24.9; Lc 17.32) ou coletiva (Salmos 78 e 106), servindo

assim de solene advertência. Mais comumente, essa recordação é positiva, constituindo-se em motivo de

humildade, aprendizado, gratidão e louvor (Dt 8.1-20; 15.15; 16.12; Ef 2.1-7; Tt 3.3-7). Em segundo

lugar, deve-se ter em mente que para recordar a história é preciso conhecê-la. E só podemos conhecer

lendo, pesquisando e estudando. Isso se aplica tanto à história bíblica quanto à história da igreja e da

sociedade... Em terceiro lugar, é preciso considerar que não se deve conhecer e valorizar a história por

um simples saudosismo e apego ao passado. A história pode nos ajudar a viver melhor o presente e a

construir um futuro mais promissor. Uma coisa de que nunca se deve esquecer é o fato de que todos nós

somos parte do grande fluxo da história e de que continuamos a escrevê-la no presente, com as nossas

ações, com a nossa vida, sob a orientação de Deus.6

Aprendendo com o passado podemos construir um futuro melhor. Nossa humildade deve levar-nos a

ver o passado como um professor que tem algo a nos ensinar.

Divisões principais da história da Igreja

A fim de termos uma compreensão melhor de toda história da Igreja, geralmente se divide ela em

períodos definidos. Pode haver diferenças quanto às datas destes períodos, variando de escritor para escritor.

Nós utilizaremos a seguinte divisão:

Período histórico da Igreja Datas que este período compreende

Igreja Apostólica (Pentecostes – 100 d.C.)

Igreja Antiga (100 – 590 d.C.)

Igreja Medieval

(590 – 1517 d.C.) Ao término do período, a

Antiga Igreja Católica Imperial transformou-se

na Igreja Católica Romana.

Igreja na Reforma

(1517 – 1648 d.C.) Só depois do Tratado de

Westfália (1648), que pôs fim à triste Guerra

dos 30 anos, os dois lados se acalmaram para

consolidar suas conquistas.

Igreja Moderna (1648 d.C. – até os dias atuais)

Características de cada período da Igreja

Observemos abaixo algumas características que permeiam cada um destes períodos históricos.

Período histórico da Igreja Características do período

Igreja Apostólica (Pentecostes – 100 d.C.)

A Igreja caminhava bem, guiada pelas

instruções inspiradas dos apóstolos de Cristo.

Igreja Antiga (100 – 590 d.C.)

A Igreja começa a sofrer devido ao surgimento

das intensas perseguições, heresias, e início do

desvio da mensagem apostólica.

Igreja Medieval (590 – 1517 d.C.)

A Igreja cresce muito em seu poder diante da

sociedade, e ocupa vários países do mundo.

Contudo, caminha cada vez mais distante da

doutrina dos apóstolos, aceitando e criando

heresias.

Igreja na Reforma (1517 – 1648 d.C.)

A Igreja se divide entre aqueles que desejam

reformá-la e torná-la submissa à doutrina

apostólica, e aqueles que desejam continuar

seguindo com as práticas heréticas. Tem início

a “igreja protestante”.

A Igreja é atacada por vários pensamentos

6 Alderi Souza de Matos, A Síndrome de Adão – Por que devemos valorizar a história. Centro Presbiteriano de

Pós-Graduação Andrew Jumper. Acessado em 01.08.2007.

Page 3: Introdução à História da Igreja Cristã

Igreja Moderna (1648 d.C. – até os dias atuais)

seculares contrários à Escritura. Há realização

de vários movimentos missionários,

entretanto, também há vários surgimentos de

novas denominações e seitas supostamente

cristãs.