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www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 1 Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA Disciplina: Geografia das Indústrias Professor: Tibério Mendonça INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA DAS INDÚSTRIAS A atividade industrial é à base do desenvolvimento econômico mundial desde o século XVIII. As indústrias foram os primeiros estabelecimentos a empregar trabalhadores assalariados em grande número e na atualidade são responsáveis pela automação cada vez maior do processo produtivo em substituição a força da mão de obra. A atividade industrial é aquela pela qual os seres humanos transformam matéria-prima em algum bem, acabando ou semiacabado. O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o renascimento comercial e urbano e definia-se pela produção independente; o produtor possuía os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realizava todas as etapas da produção. O artesanato antecedeu a indústria e era disperso pelo espaço geográfico. A produção era limitada e predominava o sistema familiar de trabalho. Nas cidades o sistema de corporações produzia para o mercado local. Na passagem da ordem feudal para a capitalista, o processo de transformação das terras comunais em propriedades privadas, chamadas cercamentos, significou mudanças na estrutura fundiária inglesa. Esse processo também se relaciona à Revolução Agrícola, ocorrida no século XVIII. Os senhores de terras, adotando técnicas modernas para a época, eliminaram os campos comunais utilizados pelos pequenos camponeses. A criação de ovelhas ganhou importância, sobretudo na produção de lã para a indústria têxtil. Esse conjunto de elementos, combinado a uma produção comercial capitalista mais produtiva, possibilitou o aumento da produção agrícola para abastecer as cidades e o fornecimento de mão de obra abundante para as indústrias nascentes. A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica. A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII. Com o desenvolvimento da atividade industrial como base do sistema capitalista, surgiu a necessidade de se incrementar cada vez mais a produção. A indústria passou a comandar outros setores da economia, principalmente a atividade agrícola e o setor de serviços. O sistema de fábrica caracteriza a indústria moderna. Trabalhadores, máquinas e matérias primas ficam reunidos em um mesmo local. Trabalhadores não são donos dos meios de produção. O sistema fabril com sua divisão do trabalho e a organização para produzir em larga escala, representou um aumento significativo no volume de produção. Na década de 1860, uma nova palavra entrou no vocabulário econômico e político do mundo: “capitalismo”, embora haja relatos em 1848, mas tenha ganho amplo uso naquele ano. O triunfo global do capitalismo é o tema mais importante da história nas décadas que se sucederam a 1848. Foi o triunfo de uma sociedade que acreditou que o crescimento econômico repousava na competição da livre iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no mercado

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INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA DAS INDÚSTRIAS

A atividade industrial é à base do desenvolvimento econômico mundial desde o século XVIII. As indústrias foram os primeiros estabelecimentos a empregar trabalhadores assalariados em grande número e na atualidade são responsáveis pela automação cada vez maior do processo produtivo em substituição a força da mão de obra. A atividade industrial é aquela pela qual os seres humanos transformam matéria-prima em algum bem, acabando ou semiacabado.

O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da Idade Média com o renascimento comercial e urbano e definia-se pela produção independente; o produtor possuía os meios de produção: instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a família, o artesão realizava todas as etapas da produção.

O artesanato antecedeu a indústria e era disperso pelo espaço geográfico. A produção era limitada e predominava o sistema familiar de trabalho. Nas cidades o sistema de corporações produzia para o mercado local.

Na passagem da ordem feudal para a capitalista, o processo de transformação das terras comunais em propriedades privadas, chamadas cercamentos, significou mudanças na estrutura fundiária inglesa. Esse processo também se relaciona à Revolução Agrícola, ocorrida no século XVIII. Os senhores de terras, adotando técnicas modernas para a época, eliminaram os campos comunais utilizados pelos pequenos camponeses. A criação de ovelhas ganhou importância, sobretudo na produção de lã para a indústria têxtil.

Esse conjunto de elementos, combinado a uma produção comercial capitalista mais produtiva, possibilitou o aumento da produção agrícola para abastecer as cidades e o fornecimento de mão de obra abundante para as indústrias nascentes.

A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação acompanhado por notável evolução tecnológica.

A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. Completou ainda o movimento da revolução burguesa iniciada na Inglaterra no século XVII.

Com o desenvolvimento da atividade industrial como base do sistema capitalista, surgiu a necessidade de se incrementar cada vez mais a produção. A indústria passou a comandar outros setores da economia, principalmente a atividade agrícola e o setor de serviços.

O sistema de fábrica caracteriza a indústria moderna. Trabalhadores, máquinas e matérias primas ficam reunidos em um mesmo local. Trabalhadores não são donos dos meios de produção. O sistema fabril com sua divisão do trabalho e a organização para produzir em larga escala, representou um aumento significativo no volume de produção.

Na década de 1860, uma nova palavra entrou no vocabulário econômico e político do mundo: “capitalismo”, embora haja relatos em 1848, mas tenha ganho amplo uso naquele ano. O triunfo global do capitalismo é o tema mais importante da história nas décadas que se sucederam a 1848. Foi o triunfo de uma sociedade que acreditou que o crescimento econômico repousava na competição da livre iniciativa privada, no sucesso de comprar tudo no mercado

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mais barato (inclusive trabalho) e vender no mais caro. Uma economia assim baseada e, portanto, repousando naturalmente nas sólidas fundações de uma burguesia composta daqueles cuja energia, mérito e inteligência os elevou tal posição, deveria – assim se acreditava – não somente criar um mundo de plena distribuição material mas também de crescente esclarecimento, razão e oportunidade humana, de avanço das ciências e das artes, em suma, um mundo de contínuo progresso material e moral. Os poucos obstáculos ainda remanescentes no caminho do livre desenvolvimento da economia privada seriam levados de roldão. As instituições do mundo, ou mais precisamente daquelas partes do mundo ainda não excluídas pela tirania das tradições e superstições, ou pelo infortúnio de não possuírem pele branca (preferivelmente originária da Europa Central ou do Norte), gradualmente se aproximariam do modelo internacional de um “Estado-nação” definido territorialmente, com uma Constituição garantindo a propriedade e os direitos civis, assembleias representativas e governos eleitos responsáveis por elas e, quando possível, uma participação do povo comum na política dentro de limites tais que garantissem a ordem social burguesa e evitassem o risco de ela ser derrubada. A economia agrícola, sob suas múltiplas formas, estende-se por todo o globo. Mesmo a noção de deserto não é absoluta: existem civilizações agrícolas do deserto. A economia industrial, ao contrário, é essencialmente descontínua, pelo menos quanto às suas implantações materiais, pois sua influência financeira e social tende a ser universal. A mobilização das fontes de energia mecânica, que é um dos índices mais seguros da importância do desenvolvimento industrial, é muito desigual segundo as regiões geográficas. Mais de três quartos da energia mecânica são consumidos por um terço da população do globo: os europeus, os norte-americanos e os japoneses.

As diversas regiões que compõem a economia global da atualidade se industrializaram em períodos distintos e com características diferentes. Chamamos de industrialização clássica a que ocorreu durante o período da Primeira Revolução Industrial e de industrialização tardia a que se desenvolveu ao longo do século XX.

A indústria representa um dos mais fortes agentes de diferenciação espacial. Embora seja atividade básica ao mundo moderno, apenas uma minoria de países foi até hoje intensamente afetada pela atividade industrial, e esse conjunto assegura ainda o essencial da produção mundial e se beneficia de elevado nível de vida. Mas esse privilégio não é exclusivo: há crises nas antigas regiões industriais, que oscilam em seu desempenho, e surgem novos focos de industrialização em várias partes do mundo. Esboça-se uma reorganização nas velhas regiões industrializadas, enquanto aumenta a concorrência dos países em via de desenvolvimento. Estrutura-se um novo espaço industrial.

A localização e a limitação do número das regiões industriais não são estreitamente ligadas às condições geográficas de repartição das bases naturais de industrialização. Aliás, se no começo do período industrial pareceu que a indústria só podia desenvolver-se na proximidade imediata das bases carboníferas, os progressos técnicos tendem a libertar cada vez mais a indústria dessas limitações geográficas, enquanto que as necessidades de atividades e de produtos industriais são capazes de criar ditames bem mais autoritários.

A fase pioneira da industrialização foi movida essencialmente pela força da água corrente dos rios (energia hidráulica). As rodas d’água transferiam energia para os teares hidráulicos e, assim, o sistema fabril se impunha sobre a manufatura tradicional, que era baseada no tear manual. Os cursos fluviais, que sempre serviram como vias de transporte, passavam a funcionar como fonte de energia para o mundo industrial. As fábricas se estabeleciam junto aos rios.

Ao lado da indústria têxtil, a modernização das fundições de ferro impulsionou o ciclo inicial da industrialização. Há séculos, o ferro era fundido em fornalhas a lenha. A utilização do

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carvão mineral em altos fornos capazes de gerar temperaturas elevadíssimas inaugurou a siderurgia moderna.

A utilização do carvão mineral como força motriz teve início com o aperfeiçoamento da máquina a vapor, em 1769. Mas apenas em meados do século XIX, na Inglaterra, a máquina a vapor substituiu o tear hidráulico. Fora das fábricas, a revolução do carvão expressou-se no setor de transportes. As ferrovias e os navios a vapor “encurtaram” as distâncias, ou seja, diminuíram o tempo utilizado nos deslocamentos reduzindo brutalmente os custos de transporte de matérias-primas e alimentos.

O primeiro ciclo tecnológico da era industrial restringiu-se, praticamente, ao Reino Unido. No segundo ciclo, caracterizado pelo grande salto da siderurgia, permitindo o uso do aço, em meados do século XIX, a industrialização se espalhou pela Europa, fincando raízes na Bélgica, França, Alemanha, Suécia, entre outros países. Além destes, a indústria estabelecia-se nos Estados Unidos e no Japão.

O longo reinado de petróleo, iniciado no terceiro ciclo tecnológico da Revolução Industrial, imprimiu suas marcas em diferentes escalas do espaço geográfico. Afinal, a tecnologia do motor a combustão interna, impulsionados pela explosão de óleo diesel ou gasolina, ambos derivados do petróleo, dentro de um cilindro, movimenta não apenas caminhões e automóveis como também barcos e aeronaves, continua a ser ponto-chave na logística de transportes das sociedades modernas.

Além de sua inegável importância como fonte primária de combustível para os transportes e para a geração de calor em fornos e caldeiras industriais, o petróleo também serve de matéria-prima para um dos mais importantes setores industriais da atualidade: a indústria petroquímica. A indústria moderna nasceu da conjunção, na Europa Ocidental, do racionalismo moderno, instrumento do progresso do pensamento científico e das descobertas técnicas dele resultantes, e de condições financeiras próprias à aplicação dessas descobertas à produção. O impulso do grande comércio nos séculos XVII e XVIII e o mercantilismo asseguraram a acumulação de capitais, sobretudo na Inglaterra, e secundariamente nas principais encruzilhadas continentais: na França, na Alemanha, na Suíça, na Áustria, entre outros. Estas regiões constituíram os diversos centros de aplicação das novas técnicas, à medida que as condições políticas se prestavam à circulação dos capitais e das mercadorias, e à constituição de sistemas econômicos fortes. Sendo a máquina a vapor e as construções técnicas, à base de fundição e de aço, as duas primeiras formas mais importantes da revolução técnica do século XIX, a localização das minas de carvão e de ferro teve papel importante na escolha das implantações de estabelecimentos industriais. Entretanto, os fatores humanos também exercem sua influência. A indústria foi atraída, por exemplo, para terras ricas em mão de obra operária preparada para o trabalho industrial por longo passado de atividades manufatureiras, em regiões onde o desenvolvimento comercial e uma tradição de transformação de matérias brutas já haviam introduzido uma diferenciação econômica em relação à estrutura agrícola dos países circunvizinhos. A indústria moderna, em relação ao artesanato e à atividade manufatureira anteriores, apresenta-se como um fato concentrado. A concentração é primeiramente técnica, o maquinismo exigido o agrupamento das atividades produtivas em estabelecimentos maiores que as oficinas de outrora. Ela é também financeira. A produção industrial tornou-se geradora de lucros, pelo funcionamento do sistema capitalista. Com efeito, se o resultado do desenvolvimento industrial é a maior quantidade e variedade da produção de objetos elaborados com matérias brutas provenientes do subsolo ou da agricultura, seu fim, no quadro do sistema

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econômico e financeiro que presidiu à Revolução Industrial, é aumentar constantemente o capital. A gestão da empresa é concebida de modo que, para uma real produtividade do trabalho efetuado, a remuneração deste trabalho seja tal que, uma vez pagas as matérias-primas, a energia, o encaminhamento e a apresentação das mercadorias fabricadas, e uma vez assegurada a amortização do material e do capital inicial, reste à disposição do conselho de administração uma margem a reempregar, que por sua vez será geradora de lucros por meio do mesmo mecanismo. Cada empresa, cada conjunto industrial, cuja gestão corresponde a este esquema, cresce de maneira tal como uma bola de neve. Os maiores crescem mais rapidamente e, por meio da concorrência, tendem a eliminar ou anexar os menores. Os lucros constituem massas quantitativamente crescentes de capitais, que foram reinvestidos, pelo menos no começo, no equipamento industrial dos primeiros países industrializados e nas empresas beneficiárias. Daí resultou o desenvolvimento das indústrias do próprio lugar de sua origem, enquanto que, no plano financeiro, edificavam-se os cartéis ou os trustes. O desenvolvimento da indústria exige o equipamento apropriado das regiões industriais em vias de comunicação de grande potência e em cidades para moradia, providas das infraestruturas da vida de coletividades importantes. Uma vez realizado, este equipamento oferece comodidades para o desenvolvimento imediato da indústria. A concentração geográfica das indústrias é, pois o resultado das diversas formas de concentração técnica e financeira, e da criação de meios favoráveis à implantação industrial, em vista de seus antecedentes na matéria.

Mas o mecanismo da economia industrial em sistema capitalista teve por resultado exceder as capacidades de absorção de produtos industriais dos primeiros países industrializados, a partir do momento em que a massa crescente de produtos fabricados excedeu, em valor comerciável, a quantidade de poder aquisitivo disponível em cada mercado nacional. Duas soluções apresentavam-se: Vender a países cujos recursos fossem provenientes da economia agrícola e do

artesanato, desprovidos de indústrias concorrentes, e que possuíssem um poder aquisitivo representado pelo produto da economia agrícola ou pelo das vendas de materiais brutos.

Descongestionar o mercado dos capitais criando bases industriais fora dos países

primitivamente equipados, ou empregando dinheiro a Estados estrangeiros para facilitar-lhes o equipamento. Este processo permite efetuar um duplo desafogamento: por exportação de capitais e pela venda de produtos e ferramentas indispensáveis à industrialização. Ele apresenta um perigo para um futuro mais ou menos próximo: a criação de novos concorrentes no mercado internacional.

Até o século XVIII, a ação humana sobre a natureza, salvo raras exceções, não ocasionava

transformações profundas e irreversíveis. O ser humano construía habitações, caçava e domesticava animais, recolhia frutos das árvores e derrubava uma parte pequena das matas para fazer plantações. Pode-se dizer que havia um equilíbrio nas relações do ser humano com a natureza. Foi a partir da Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, que a natureza passou a ser profundamente modificada, até chegar ao grave problema atual de poluição e degradação do meio ambiente. A Revolução Industrial, portanto, constitui um momento importante na mudança das relações da humanidade com a natureza. É por isso que dizemos que foi com a Revolução Industrial que a sociedade moderna ou industrial passou a produzir o seu espaço geográfico.

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A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em quatro estágios: artesanato, manufatura, indústria e revolução técnico-científica.

A Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), ocorrida na Inglaterra, disseminou-se por outros países da Europa ocidental, pelo Japão, Estados Unidos e Canadá. Várias colônias da Ásia e da África foram ocupadas na busca frenética dos novos "donos" da indústria por matéria-prima e novos mercados de consumo. Essa época ficou conhecida como imperialismo. A nova atividade transformou e agilizou o que antes era chamado de artesanato e manufatura.

Estágio intermediário entre o artesanato e a maquinofatura. Nessa etapa, além do trabalho manual, havia o emprego de máquinas mais simples, divisão do trabalho (cada pessoa desempenhava uma etapa da produção) e o trabalhador era assalariado. A evolução da atividade industrial

Ao longo da história da humanidade a capacidade de transformação do homem vem evoluindo e continua a evoluir até hoje. O homem desenvolveu novas técnicas, usou cada vez mais novos produtos, o que lhe permitiu uma maior quantidade e variedade de produtos. Para que isso acontecesse, várias transformações foram necessárias na forma de produzir.

Houve um tempo em que a única forma que o homem conhecia para transformar materiais em novos produtos era a atividade artesanal. No artesanato o trabalho era manual, usando-se ferramentas simples.

O produto era feito por uma única pessoa, o artesão, que realizava sozinho todo o processo de transformação. A produção era feita na própria casa do artesão ou em pequenas oficinas que reuniam alguns trabalhadores manuais. Os produtos feitos eram destinados para o uso da família ou para vender. Esta prevaleceu até meados do século XVII, mas sobrevive nos dias atuais. Sua principal característica é a produção individual, que desenvolve todas as fases de produção e comercialização do produto, sem divisão de tarefas e apenas com o uso de ferramentas simples

Com o aumento do comércio das cidades, consequentemente do consumo, os comerciantes passaram a encomendar aos artesãos alguns produtos que ele, comerciante achava que feitos com estas ou aquelas características, seriam mais facilmente vendidos, logicamente por um preço maior do que aquele pago ao artesão. A partir de um tempo alguns artesãos mais ricos passaram a comprar as oficinas dos artesãos mais pobres, estes por sua vez, tornaram-se trabalhadores assalariados.

Com o tempo, houve a necessidade de aumentar a produção dessas oficinas e consequentemente o número de trabalhadores empregados. Os donos das oficinas perceberam que dividindo a tarefa entre os trabalhadores, a produção tornava-se mais rápida e maior e com isso os lucros aumentariam. Surgiu assim a manufatura, isto é, em vez de uma pessoa sozinha fabricar o produto inteiro, esse trabalho passou a ser dividido entre várias pessoas, cada uma fazendo uma parte do produto. Esse tipo de indústria, que surgiu nos séculos XVII e XVIII, representou os primórdios do sistema capitalista. Suas características principais são a divisão de tarefas e o uso de ferramentas e máquinas simples. Instituiu a figura do dono dos meios de produção (patrão) e o trabalhador assalariado (empregado)

Nessa etapa os trabalhadores usavam a matéria-prima e as ferramentas pertencentes ao proprietário do local onde trabalhavam passando a receber um salário, pela sua carga horária de trabalho, não eram donos nem de ferramentas e nem produziam mais os produtos sozinhos.

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Passam a ser usados na manufatura algumas máquinas simples que multiplicavam os gestos dos trabalhadores, aumentando a capacidade de produção. A manufatura foi assim o inicio da atividade industrial moderna e de novas relações de trabalho entre os homens.

A indústria moderna substitui as ferramentas e as máquinas simples pelas máquinas mais potentes e velozes, movidas por novas fontes de energia e não mais pela força do trabalhador, aumentando assim a capacidade de produção. Esta iniciou com a Revolução industrial e compreende o atual estágio de desenvolvimento industrial. Suas principais características são o uso intensivo de máquinas, das mais simples às mais sofisticadas, diversas fontes de energia e a produção em larga escala. As formas de gerenciamento promovem a divisão de tarefas, a automação industrial e a especialização da produção e do trabalho.

Nas fábricas, concentra-se um grande número de operários, todos recebendo um salário como pagamento pelas horas que passam trabalhando nas fábricas. Cada operário da fábrica realiza apenas uma parte do processo de produção, sendo treinado e especializado para desenvolver aquela tarefa específica, ou seja, o mundo industrial se torna um mundo de especialistas de técnicos.

A atividade industrial continua evoluindo nos dias de hoje, empregando técnicas cada vez mais modernas e sofisticadas. Nos países mais industrializados há muitas indústrias onde quase tudo é feito automaticamente e por máquinas robotizadas, apenas programadas pelos trabalhadores.

Esse processo de industrialização e evolução industrial demorou vários séculos para acontecer e se desenvolveu em diferentes épocas e nos diversos países do mundo de forma diferente preservando suas especificidades. Por isso nem todos os países tem hoje o mesmo desenvolvimento industrial e tecnológica.

A indústria inglesa moderna nasceu do desenvolvimento da extração do carvão e da atividade do comércio marítimo, que assegurava ao mesmo tempo o reabastecimento em matérias-primas e o escoamento dos produtos fabricados. Por conseguinte, parece razoável procurar as grandes regiões industriais inglesas na zona das minas de carvão e ao redor dos grandes portos.

Toda região carbonífera é região industrial, tendo o carvão fixado as indústrias que o utilizam como matéria-prima (fabricação de matais, química), ou como fonte de energia (todas as indústrias de transformação). A densidade dos estabelecimentos industriais é particularmente grande, onde a extração do carvão chega até o mar ou até grande estuários que permitem à navegação marítima penetrar no interior das terras.

Pensar a indústria e mais concretamente o espaço da indústria nos remete a uma paisagem urbana onde predominam as chaminés expelindo fumaça de tons e odores diferenciados, uma concentração de operários e um adensamento de redes de transporte. Ao contrário da atividade agrícola, que se estende por imensas porções do planeta, a atividade industrial é altamente concentrada do ponto de vista espacial e exige a inter-relação entre parcelas do espaço, já que está longe de ser uma atividade que se auto-sustenta.

Nesse sentido, enquanto suas instalações se acham concentradas espacialmente, suas relações e articulações ocorrem em nível mundial, graças ao desenvolvimento necessário de trocas, associadas ao processo de divisão social e espacial do trabalho. Se, por um lado, a indústria é um fenômeno concentrado que gera grandes aglomerações urbanas, de outro, suas articulações extrapolam os limites do “espaço próximo” para se inter-relacionarem com espaços mais amplos, cujos limites são aqueles do globo terrestre.

Para que se dê início à atividade industrial faz-se necessário a acumulação, nas mãos do capitalista, de uma quantidade de dinheiro (capital em potencial) e de meios de produção; que

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haja concentração de trabalhadores dispostos a vender sua força de trabalho; e que exista um mercado consumidor.

Se parece óbvio que a existência da indústria vincula-se à concentração de capital e meios de produção nas mãos dos capitalistas de um lado, e de outro de mão de obra relativamente grande para constituir um mercado, não é evidente que esta concentração foi gerada em condições históricas específicas, num determinado momento da história específicas, num determinado momento da história da humanidade e que constitui o ponto de partida da produção capitalista.

Este ponto se consubstancia na medida em que num mesmo tempo e espaço, um número relativamente grande de trabalhadores, sob o mando e a vigilância de um capitalista, tendo por base o estabelecimento de uma divisão do trabalho, reúne-se para produzir, ao mesmo tempo, um determinado tipo de produto. Este processo tem como pressuposto a divisão do trabalho na sociedade, a propriedade privada de bens e sua acumulação em poucas mãos; isto é a chamada acumulação primitiva.

O processo histórico que produziu a acumulação primitiva, iniciada com o ressurgimento das cidades, gerou a separação entre o produtor direto e os meios de produção através da expropriação dos trabalhadores, formando a base sobre a qual se ergue o sistema capitalista de produção.

A acumulação de capital e a revolução industrial são dois momentos fundamentais da história da humanidade, e refletem a passagem do modo de produção feudal ao modo de produção capitalista. A ordem capitalista sai das entranhas da feudal, à medida que o processo de desenvolvimento social da humanidade, realizado em toda formação econômica e social, efetiva-se por meio do aparecimento e da resolução de contradições. O espaço do capital

Visto na sua aparência, o modo capitalista de produção é um modo de produção de mercadorias. A produção da mercadoria, contudo, mascara a produção da mais-valia. Visto na sua aparência apresenta-se como um modo de produção movido pelo interesse do lucro. Mas o lucro é a mera forma que assume a mais-valia após sua realização no lucro na forma do dinheiro. O trabalho produz mais-valia produzindo mercadorias. A mercadoria pela sua venda gera a transformação da mais-valia nela contida em lucro. O lucro se expressa em forma monetária e o dinheiro fecha um ciclo para abrir outro. A mais-valia na sua expressão monetária será reinventada na produção (na forma de compra suplementar de força de trabalho, objeto e meios de trabalho), para geração de mais mais-valia. Reproduzir-se-á em escala ampliada o ciclo da reprodução do capital. Esta é a dialética do capital, seu móvel e objetivo: a acumulação de capital.

Para o capital, os homens só existem enquanto homens para o capital. O trabalho só é produtivo se for trabalho produtor de mais-valia. Trabalho que não gera mais-valia é trabalho improdutivo.

A mais-valia é o trabalho não pago, o trabalho que excede ao equivalente ao valor da reprodução do trabalhador e pago como salário. Expliquemos. Suponhamos um tempo de trabalho de oito horas/dia. Nestas oito horas o proletário deverá produzir mercadorias. Numa parte da jornada do trabalho o proletário produzirá uma quantidade de mercadorias que, se posta à venda, iguala o montante do seu salário. Digamos quatro horas. Nas quatro horas restantes produzirá uma quantidade que excede o montante do salário que acabou de reproduzir, da qual o capital apropria-se. É a mais-valia. Ao vender a totalidade das mercadorias

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que o proletário produziu na jornada de oito horas, o capitalista terá de volta as despesas havidas com a produção e uma quantidade suplementar de dinheiro, o seu lucro, que é a mais-valia transformada no dinheiro adicional. Com esse dinheiro suplementar o capitalista compra força de trabalho e meios de produção suplementares, para obter a reprodução ampliada do capital em caráter permanente.

O salário é, assim, o pagamento parcial da jornada de trabalho do operário e com o qual este se suprirá no mercado dos meios de subsistência de que necessita para se reproduzir como homem vivo. O salário é o preço da reprodução de sua existência. Para que seu nível fique sempre nos limites da subsistência o capital cria nas cidades um “exército industrial de reserva”. Com isto o salário torna-se meramente o preço da reprodução da força de trabalho do operário, que se tornará eterno vendedor dela. Para elevar o nível salarial o operário tem que se apropriar de parte de trabalho excedente, na forma de mais salário. E é em torno da busca desse aumento que irão se dar os primeiros choques entre capital e trabalho. A alienação do trabalho

Marx afirma que a especialidade vitalícia de manejar uma ferramenta parcial converte-se, com esse processo, na especialidade vitalícia de servir a uma máquina especial. O novo processo de produção e de trabalho vai se utilizar abusivamente da máquina para transformar o operário, desde sua infância, em parte de uma máquina parcial. O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin é um exemplo de como o homem se torna escravo e apêndice da máquina.

A máquina aparece como o elo de transformação, não do modo de produção em outro, mas do homem no processo de trabalho e da mudança do seu papel neste mesmo processo. A máquina, enquanto meio de produção e meio material de existência do capital passa a ser o fundamento material do modo de produção capitalista. A grande indústria, ao revolucionar as relações gerais de produção da sociedade, produz uma nova concepção de trabalho, de vida, de relação entre os seres humanos. Isto é provocado pela mudança das relações entre o capital e o trabalho, pois a maquinaria de meio de trabalho, converte-se de imediato, em competidor do próprio operário e a habilidade deste desaparece. Não se exige mais que o operário produza algo com uma ferramenta que ele maneje com o movimento de seus músculos. Exige-se, isto sim, que ele utilize uma máquina que ditará um novo ritmo de trabalho.

Tal fato é decorrente da mudança dos meios de produção gerada pelo desenvolvimento técnico que levou à mecanização do processo de trabalho e à necessidade de um novo homem para operacionalizar o processo produtivo, agora desenvolvido sobre novas bases. Não será mais o homem que dominará a máquina, mas o contrário.

Neste momento, a vida do operário passa a ser determinada pelos ciclos da indústria. Em fases de desenvolvimento da atividade há um aumento da mão de obra empregada; em fases de crise e estancamento, liberação de empregados. Isso cria a insegurança e a instabilidade na

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classe trabalhadora, pois os operários vêem-se constantemente atraídos e repelidos do processo produtivo.

A introdução da máquina, que não tem por objetivo aliviar o trabalho do homem e sim baratear as economias, acaba produzindo a intensificação do trabalho, desqualifica-o e transforma o operário em uma parte da máquina. Com isso, o trabalho perde o seu conteúdo e passa a ser reprimido. Revolução social

A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas. O aspecto mais

importante, que trouxe radical transformação no caráter do trabalho, foi esta separação: de um lado, capital e meios de produção (instalações, máquinas, matéria-prima); de outro, o trabalho. Os operários passaram a assalariados dos capitalistas (donos do capital).

Em meio a tanta riqueza, vemos que essa nova situação se contrastava com a situação miserável dos vários operários que trabalhavam nos centros fabris. Essa situação contraditória, em pouco tempo passou a ser percebida por vários trabalhadores que trocavam o extensivo uso de sua força de trabalho por salários que não supriam suas necessidades materiais elementares.

Em muitos casos, essa situação era explicada pelo fato das fábricas reduzirem sensivelmente a demanda por mão de obra, graças ao uso das máquinas. Nesse contexto, se organizava uma grande massa de desempregados que se sujeitava a um pagamento baixo mediante a falta de empregos e a grande disponibilidade de trabalho. Aos poucos, alguns trabalhadores responderam a essa deplorável realidade.

Uma das primeiras manifestações da Revolução foi o desenvolvimento urbano. Londres chegou ao milhão de habitantes em 1800. O progresso deslocou-se para o norte; centros como Manchester abrigavam massas de trabalhadores, em condições miseráveis. Os artesãos, acostumados a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de submeter-se à disciplina da fábrica. Passaram a sofrer a concorrência de mulheres e crianças. Na indústria têxtil do algodão, as mulheres formavam mais de metade da massa trabalhadora. Crianças começavam a trabalhar aos 6 anos de idade. Não havia garantia contra acidente nem indenização ou pagamento de dias parados neste caso.

A mecanização desqualificava o trabalho, o que tendia a reduzir o salário. Havia frequentes paradas da produção, provocando desemprego. Nas novas condições, caíam os rendimentos, contribuindo para reduzir a média de vida. Uns se entregavam ao alcoolismo. Outros se rebelavam contra as máquinas e as fábricas, destruídas em Lancaster (1769) e em Lancashire (1779). Proprietários e governo organizaram uma defesa militar para proteger as empresas.

A situação difícil dos camponeses e artesãos, ainda por cima estimulados por ideias vindas da Revolução Francesa, levou as classes dominantes a criar a Lei Speenhamland, que garantia subsistência mínima ao homem incapaz de se sustentar por não ter trabalho. Um imposto pago por toda a comunidade custeava tais despesas. Havia mais organização entre os trabalhadores especializados, como os penteadores de lã. Inicialmente, eles se cotizavam para pagar o enterro de associados; a associação passou a ter caráter reivindicatório. Assim surgiram as trade unions, os sindicatos. Gradativamente, conquistaram a proibição do trabalho infantil, a limitação do trabalho feminino, o direito de greve.

Entre os anos de 1811 e 1812, surgiu na Inglaterra o ludismo, um movimento social ocorrido na Inglaterra. Contrários aos avanços tecnológicos ocorridos na Revolução Industrial, os

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ludistas protestavam contra a substituição da mão de obra humana por máquinas. O nome do movimento deriva de um dos seus líderes, Ned Ludd.

Com a participação de operários das fábricas, os "quebradores de máquinas", como eram chamados os ludistas, fizeram protestos e revoltas radicais. Invadiram diversas fábricas e quebraram máquinas e outros equipamentos que consideram os responsáveis pelo desemprego e as péssimas condições de trabalho no período.

O Ludismo enquanto prática de destruição de máquinas passou a ser cada vez mais hostilizado pelo patronato que recorreram aos parlamentos, visando a criação de leis mais severas para punir os envolvidos em revoltas. O Reino Unido que já possuía em sua legislação uma lei datada de 1721 que definia o exílio como pena máxima para a destruição de máquinas, em 1812 como resultado da oposição contínua a mecanização adotou o Frame-Breaking Act definindo a pena de morte para casos de destruição de máquinas.

O movimento ludista perdeu força com a organização dos primeiros sindicatos na Inglaterra, as chamadas trade unions.

Formas de organização do trabalho Outro tipo de inovação tecnológica é a que altera o processo de produção de trabalho, objetivando produzir mais em menos tempo. Este é o caso das diversas formas de organização do trabalho criadas no século XX, que coexistem na atualidade e têm o mesmo objetivo comum, ou seja, aumentar a lucratividade para ampliar os lucros. Taylorismo/ Fordismo No início do século XX, o engenheiro Frederick Taylor, criou um método de organização do trabalho que ficou conhecido por taylorismo. Taylor observou que havia um grande esbanjamento de tempo durante o processo produtivo, o que para ele significava tempo perdido. Assim, cronometrou cada fase do trabalho e eliminou os movimentos longos ou inúteis, ou seja, cada trabalhador desenvolveria uma atividade específica no sistema produtivo da indústria (especialização do trabalho). Com isso, a produção dobrou. A cronometragem estabeleceu, para cada operário, o tempo de execução de certo trabalho, cabendo aos engenheiros – e não aos trabalhadores – definir esse tempo.

No taylorismo, o trabalhador é monitorado segundo o tempo de produção, cada indivíduo deve cumprir sua tarefa no menor tempo possível, sendo premiados aqueles que se sobressaem, isso provoca a exploração do proletário que tem que se “desdobrar” para cumprir o tempo cronometrado.

Segundo Taylor, os operários eram incapazes de determinar não apenas o tempo mas também o tipo de ferramenta que deveriam usar na execução de um trabalho. Taylor deixava claro em seus escritos que os trabalhadores eram incompetentes por não terem instrução adequada. Além disso, argumentava que eles muitas vezes se apresentavam indiferentes, não

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tendo vontade para executar de modo satisfatório o que deveriam. Taylor enfatizava a importância do papel da gerência, cuja função era a de controlar toda a produção; para tanto, era fundamental que o gerente tivesse pleno domínio de todo o processo produtivo. Desse modo, Taylor reduziu o trabalho humano a gestos repetitivos, sem permitir ao trabalhador desenvolver habilidades criativas. O empregado era comparado a uma máquina, passível de ser “programado”. O ganho na produção trouxe, porém, sérios problemas para os trabalhadores, que não eram respeitados, recebiam baixos salários e era explorado.

Dando prosseguimento à teoria de Taylor, Henry Ford, dono de uma indústria automobilística (pioneiro), desenvolveu seu procedimento industrial baseado na linha de montagem para gerar uma grande produção que deveria ser consumida em massa. Sabemos quanto a motorização e a mecanização marcaram a sociedade industrial do Séc. XX: simbólica e materialmente determinaram não só a produção e o consumo como o próprio conteúdo e a organização do trabalho.

Historicamente, a indústria automóvel desenvolveu-se de acordo com os princípios da produção em grande série, postos em prática por Henry Ford em 1913, na sua fábrica de Detroit. O que Ford na realidade fez, primeiro que os seus competidores, foi juntar e integrar um conjunto de inovações (técnicas e organização).

Na realidade, Ford é mais do que um grande capitão de indústria: o Fordismo é um sistema de produção em massa e de consumo em massa, que teve (e ainda) tem grande impacto na maneira como trabalhamos, vivemos e pensamos. Até aos anos 60 a indústria automóvel norte-americana e os seus métodos baseados no taylorismo-fordismo reinaram sem contestação. A partir de 1970, dá-se início a um processo de reestruturação tanto espacial como organizacional.

Historicamente, foi graças ao taylorismo-fordismo que o automóvel se tornou um produto de consumo de massas ou pelo menos ao alcance da classe média, e inclusive dos operários que o fabricavam, graças ao seu baixo preço, aos salários elevados e às próprias facilidades de crédito introduzidas pela administração da Ford Motor Company.

A intensificação do ritmo de trabalho, graças à especialização, parcelarização e individualização das tarefas em linhas de montagem mecanizadas, permitiu um considerável aumento da produtividade, e, por conseguinte o abaixamentos dos custos de produção.

Com uma produção anual de quase 250 mil unidades, Ford consegue baixar o preço do seu modelo T para os 500 dólares. Comercialmente, o modelo T foi uma história de sucesso: venderam-se mais de 15 milhões de carros deste tipo até 1927.

Henry Ford surpreendeu o mundo ao anunciar, em 1914, um salário mínimo de US$ 5 por dia, quando nos Estados Unidos a média salarial era de US$ 2,34 por uma jornada de nove horas. Fez mais: instituiu a jornada de oito horas e a semana de 40 horas. Condições de trabalho que virariam bandeiras de sindicatos da América do Norte e da América do Sul. Para os empresários da época, especialmente os da área de mineração e siderurgia, que olhavam com preocupação o movimento que passou à história como ‘Fordismo’, ele tinha uma resposta pronta: “Se você corta os salários, simplesmente corta o número de seus consumidores.”

Estavam lançadas, assim, as condições de trabalho pelas quais muitos sindicatos ao redor do mundo brigaram durante anos. A diferença é que Ford se antecipou às reivindicações que fariam parte da agenda dos trabalhadores. Não seriam as únicas mudanças que ele faria na conturbada relação entre capital e trabalho. O empresário também lançaria as bases sobre as quais floresceria a classe média americana ao abrir condições de crédito para que todos

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pudessem comprar seus carros. Primeiro, Ford financiou seus próprios empregados. Depois, estendeu esse crédito aos consumidores.

A cadeia clássica fordiana foi rapidamente imitada e adotada por todos os concorrentes (nomeadamente na Europa: Citröen, Renault, Fiat, Morris, Opel, Mercedes-Benz, etc.). A resistência operária (sobretudo da aristocracia operária) à introdução da "organização científica do trabalho" (como se dizia em França) foi-se esbatendo até à época da grande crise mundial do capitalismo (1929). Mesmo depois da II Guerra Mundial, é preciso esperar pelos anos 60 para que o taylorismo-fordismo comece a ser contestado, primeiro do ponto de vista técnico e depois social. Durante mais de meio século (1910-1965), a indústria norte-americana produzia anualmente mais de 50% dos veículos automóveis. A supremacia começa a ser posta em causa pelos construtores europeus e japoneses. Toyotismo

O Sistema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS) tem sido, mais recentemente, referenciado como Sistema de Produção Enxuta. A produção enxuta (do original em inglês, lean) é um sistema de produção muito mais eficiente, flexível, ágil e inovador do que a produção em massa; um sistema habilitado a enfrentar melhor um mercado em constante mudança.

A Toyota entrou na indústria automobilística, especializando-se em caminhões para as forças armadas, mas com o firme propósito de entrar na produção em larga escala de carros de passeio e caminhões comerciais. No entanto, o envolvimento do Japão na II Guerra Mundial adiou as pretensões da Toyota.

Com o final da II Grande Guerra em 1945, a Toyota retomou os seus planos de tornar-se uma grande montadora de veículos. No entanto, qualquer análise menos pretensiosa indicava que a distância que a separava dos grandes competidores americanos era simplesmente monstruosa. Costumava-se dizer, há esta época, que a produtividade dos trabalhadores americanos era aproximadamente dez vezes superior à produtividade da mão de obra japonesa. Esta constatação serviu para “acordar” e motivar os japoneses a alcançar a indústria americana, o que de fato aconteceu anos mais tarde.

O fato da produtividade americana ser tão superior à japonesa chamou a atenção para a única explicação razoável: A diferença de produtividade só poderia ser explicada pela existência de perdas no sistema de produção japonês. A partir daí, o que se viu foi a estruturação de um processo sistemático de identificação e eliminação das perdas.

O sucesso do sistema de produção em massa Fordista inspirou diversas iniciativas em todo o mundo. A Toyota Motor Company. tentou por vários anos, sem sucesso, reproduzir a organização e os resultados obtidos nas linhas de produção da Ford.

A produção em massa precisava de ajustes e melhorias de forma a ser aplicada em um mercado discreto e de demanda variada de produtos, como era o caso do mercado japonês. Os trabalhadores eram sub-utilizados, as tarefas eram repetitivas além de não agregar valor, existia uma forte divisão (projeto e execução) do trabalho, a qualidade era negligenciada ao longo do processo de fabricação e existiam grandes estoques intermediários.

A Toyota começou a receber o reconhecimento mundial a partir do crise do petróleo de 1973; ano em que o aumento vertiginoso do preço do barril de petróleo afetou profundamente toda a economia mundial. Em meio a milhares de empresas que sucumbiam ou enfrentavam pesados prejuízos, a Toyota Motor Company. emergia como uma das pouquíssima empresas a

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escaparem praticamente ilesas dos efeitos da crise. Este fenômeno despertou a curiosidade de organizações no mundo inteiro: Qual o segredo da Toyota?!!!

Na verdade, a essência do Sistema Toyota de Produção é a perseguição e eliminação de toda e qualquer perda. É o que na Toyota se conhece como princípio do não-custo. Este princípio baseia-se na crença de que a tradicional equação Custo Lucro = Preço, deve ser substituída por Preço - Custo = Lucro

Segundo a lógica tradicional, o preço era imposto ao mercado como resultado de um dado custo de fabricação somado a uma margem de lucro pretendida. Desta forma, era permitido ao fornecedor transferir ao cliente os custos adicionais decorrentes da eventual ineficiência de seus processos de produção.

Com o acirramento da concorrência e o surgimento de um consumidor mais exigente, o preço passa a ser determinado pelo mercado. Sendo assim, a única forma de aumentar ou manter o lucro é através da redução dos custos.

Na Toyota, a redução dos custos através da eliminação das perdas passa por uma análise detalhada da cadeia de valor, isto é, a sequência de processos pela qual passa o material, desde o estágio de matéria-prima até ser transformado em produto acabado.

A urgência na redução dos custos de produção fez com que todos os esforços fossem concentrados na identificação e eliminação das perdas. Esta passou a ser a base sobre a qual está estruturado todo o sistema de gerenciamento da Toyota Motor Company

O objetivo da Toyota é atender da melhor maneira as necessidades do cliente, fornecendo produtos e serviços da mais alta qualidade, ao mais baixo custo e no menor time possível. Tudo isso enquanto assegura um ambiente de trabalho onde segurança e moral dos trabalhadores constitua-se em preocupação fundamental da gerência.

O Just in time

Outra inovação japonesa tem sido implantada em todo o mundo; o Just in time – “tempo justo”, que determina que nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora exata. Pode ser aplicado em qualquer organização, para reduzir estoques e os custos decorrentes. As atividades diárias da fábrica são programadas em função das demandas: quanto produzir? Qual é a cor preferida? Quem vai querer os acessórios? As respostas, definidas pela rede de distribuição e vendas, desencadeiam a produção. Assim, o capital não fica empatado nos depósitos da indústria, aguardando as vendas, e pode se reproduzir no sistema financeiro voltado à produção quando preciso.

Com este sistema, o produto ou matéria prima chega ao local de utilização somente no momento exato em que for necessário. Os produtos somente são fabricados ou entregues a tempo de serem vendidos ou montados.

O conceito de just in time está relacionado ao de produção por demanda, onde primeiramente vende-se o produto para depois comprar a matéria prima e posteriormente fabricá-lo ou montá-lo.

Nas fábricas onde está implantado o just in time o estoque de matérias primas é mínimo e suficiente para poucas horas de produção. Para que isto seja possível, os fornecedores devem ser treinados, capacitados e conectados para que possam fazer entregas de pequenos lotes na frequência desejada.

A redução do número de fornecedores para o mínimo possível é um dos fatores que mais contribui para alcançar os potenciais benefícios da política just in time. Esta redução, gera, porém, vulnerabilidade em eventuais problemas de fornecimento, já que fornecedores

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alternativos foram excluídos. A melhor maneira de prevenir esta situação é selecionar cuidadosamente os fornecedores e arranjar uma forma de proporcionar credibilidade dos mesmos de modo a assegurar a qualidade e confiabilidade do fornecimento. Um dos casos em que esta redução trouxe resultados negativos foi depois do terremoto que devastou o Japão em março de 2011, quando muitas indústrias (inclusive as montadoras da Toyota) ficaram sem fornecimento de matérias-primas por meses, afetando também a produção em outras plantas ao redor do mundo. Os grandes fornecedores da montadora também compravam suas matérias-primas de poucos pequenos fornecedores, o que contribuiu para que toda a cadeia de suprimentos ficasse concentrada na dependência de poucas fábricas, agravando ainda mais o problema neste episódio do Japão. Tipos de indústrias

A preponderância de um fator ou de outro na alocação industrial vai depender do tipo de indústria a ser analisada. As indústrias de bens de produção - também chamadas indústrias de base, pesadas ou intermediárias -, por transformarem grandes quantidades de matérias-primas ou de energia (como é o caso das siderúrgicas, das metalúrgicas, das petroquímicas e das indústrias de cimento), tendem a se localizar perto de fontes fornecedoras ou de portos e ferrovias, o que facilita a recepção de matérias-primas e o escoamento da produção.

As indústrias de bens de capital (como as de máquinas e equipamentos) têm um papel fundamental: equipar outras indústrias, leves ou pesadas, sem o que seria impossível a produção de bens para um amplo mercado consumidor. Essas indústrias tendem a se localizar perto de empresas consumidoras de seus produtos, ou seja, em grandes regiões industriais.

Chegamos, por fim, àquelas indústrias mais espalhadas espacialmente, no plano nacional e internacional, que se instalam preferencialmente nos lugares onde há maior disponibilidade de mão de obra e maior facilidade de acesso ao mercado consumidor. Graças à melhoria dos sistemas de transporte, elas encontram-se localizadas em grandes, médios e pequenos centros urbanos ou mesmo na zona rural de diversos países. Trata-se das indústrias de bens de consumo ou leves, os quais podem ser não-duráveis (alimentos, bebidas, remédios etc.), semiduráveis (vestuário, calçados etc.) ou duráveis (móveis, eletrodomésticos, automóveis, aparelhos eletrônicos etc.). A produção, portanto, destina-se a um mercado consumidor mais amplo: ao abastecimento da população em geral. As consequências da Revolução Industrial

A partir da Revolução Industrial o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de um salário.

Outra das consequências da Revolução Industrial foi o rápido crescimento econômico. Antes dela, o progresso econômico era sempre lento (levavam séculos para que a renda per capita aumentasse sensivelmente), e após, a renda per capita e a população começaram a crescer de forma acelerada nunca antes vista na história. Por exemplo, entre 1500 e 1780 a população da Inglaterra aumentou de 3,5 milhões para 8,5, já entre 1780 e 1880 ela saltou para 36 milhões, devido à drástica redução da mortalidade infantil.

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A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e se tornaram cada vez maiores e mais importantes.

Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo. Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhas e desconfortáveis, se comparadas com as habitações dos países industrializados hoje em dia. Mas representavam uma grande melhoria se comparadas às condições de vida dos camponeses, que viviam em choupanas de palha. Convivia com a falta de água encanada, com os ratos, o esgoto formando riachos nas ruas esburacadas.

O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas monótonas e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes. A cada instante, surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas.

Referências Bibliográficas CARLOS, ANA FANI ALESSANDRI. Espaço e Indústria. 6ª Ed. São Paulo: Contexto/EDUSP, 2001. GEORGE, PIERRE. Geografia Industrial do Mundo. São Paulo: Difel, 1979. HARMON, Roy L. Reinventando a fábrica II: conceitos modernos de produtividade na prática. Rio de Janeiro: Campus, 1993. HOBSBAWM, ERIC J. A Era do Capital. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. MANGAZOL, CLAUDE. A Lógica do Espaço Industrial. São Paulo: Difel, 1985. MONDEN, Y. Sistema Toyota de Produção. São Paulo: IMAM, 1984. MOREIRA, RUY. O que é Geografia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Brasiliense, 2009.