INTRODUÇÃO

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1. INTRODUÇÃO O papel moeda existe desde 1618, quando foi posto em circulação na China. As cédulas constituem-se em excelentes marcadores, inclusive o de higiene, podendo revelar diversos aspectos sócio-culturais de um povo. Essas características ficam claras, principalmente, por meio das notas de menor valor, devido à rapidez com que circulam e pelas camadas sociais que alcançam (MARTINS; COSTA; TÓRTORA, 2005). A superfície das cédulas monetárias propicia um habitat de proliferação de diversas espécies microbianas que se multiplicam a partir de resíduos e substâncias das mãos. No Brasil, o tempo médio de cédulas de menor valor colocadas em circulação não ultrapassa quinze meses, estando expostas a diversas injúrias como abrasão, dobras, rasgos, riscos, pregas, absorção de poeira, óleo e graxa. Instrumento indispensável à sociedade capitalista, nesse ínterim, as cédulas são manipuladas milhares de vezes no período de circulação, adquirindo microrganismos do ambiente e do organismo humano. Estes podem provocar no ser humano uma série de doenças, variando de infecções cutâneas oportunistas e das vias urinárias a acometimentos sistêmicos que podem levar à morte (SOUZA et al., 2005). Pesquisa realizada, com 210 indivíduos de dez profissões diferentes, demonstrou que, em média, as mãos de cobradores de ônibus e de caixas de supermercados apresentam 98,69 bactérias e fungos por centímetro quadrado. É quase a mesma taxa de microrganismos existentes em uma ferida infectada, de 100 por centímetro quadrado. O resultado dessa pesquisa não 10

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1. INTRODUÇÃO

O papel moeda existe desde 1618, quando foi posto em circulação na China.

As cédulas constituem-se em excelentes marcadores, inclusive o de higiene,

podendo revelar diversos aspectos sócio-culturais de um povo. Essas características

ficam claras, principalmente, por meio das notas de menor valor, devido à rapidez

com que circulam e pelas camadas sociais que alcançam (MARTINS; COSTA;

TÓRTORA, 2005).

A superfície das cédulas monetárias propicia um habitat de proliferação de

diversas espécies microbianas que se multiplicam a partir de resíduos e substâncias

das mãos. No Brasil, o tempo médio de cédulas de menor valor colocadas em

circulação não ultrapassa quinze meses, estando expostas a diversas injúrias como

abrasão, dobras, rasgos, riscos, pregas, absorção de poeira, óleo e graxa.

Instrumento indispensável à sociedade capitalista, nesse ínterim, as cédulas são

manipuladas milhares de vezes no período de circulação, adquirindo

microrganismos do ambiente e do organismo humano. Estes podem provocar no ser

humano uma série de doenças, variando de infecções cutâneas oportunistas e das

vias urinárias a acometimentos sistêmicos que podem levar à morte (SOUZA et al.,

2005).

Pesquisa realizada, com 210 indivíduos de dez profissões diferentes,

demonstrou que, em média, as mãos de cobradores de ônibus e de caixas de

supermercados apresentam 98,69 bactérias e fungos por centímetro quadrado. É

quase a mesma taxa de microrganismos existentes em uma ferida infectada, de 100

por centímetro quadrado. O resultado dessa pesquisa não surpreendeu, pois o

dinheiro é uma das coisas mais sujas que passam pelas mãos das pessoas e

pouquíssimas são aquelas que têm consciência disso (MARTINS; COSTA;

TÓRTORA, 2005).

Em 2001, a pedido do Banco Central, foram analisadas 110 notas de R$ 10 e

de R$1 e o resultado das análises dos resíduos foi taxativo: as cédulas de R$ 1, as

que mais transitam pelas mãos da população, especialmente a que vivem em

regiões com sérias deficiências sanitárias, era um grande depositário de

microrganismos patogênicos que, dependendo do estado de saúde dos indivíduos,

podem deflagrar problemas gravíssimos, como a septicemia, uma infecção

generalizada. Em cada centímetro quadrado das notas de R$ 1 havia 30,4 bactérias

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e fungos. Nas cédulas de R$ 10, a relação era de 8,24 microrganismos por

centímetro quadrado, praticamente o mesmo nível de sujeira encontrada em uma

nota de US$1 (de 8,33). Mais recentemente, foi realizado um estudo, desta vez

concentrado nas cédulas de R$ 1. Na média, as notas apontaram a existência de

247,25 microrganismos por centímetro quadrado. A conclusão foi que o dinheiro,

principalmente as cédulas de R$ 1 é mais sujo do que se imagina. Este estudo

indicou a existência de muitos microrganismos nas cédulas analisadas. Entre eles, a

maior presença (42%) foi de estafilococos, um tipo de bactéria que causa furúnculos,

terçóis, inflamação no ouvido (otite) e faringite, além de intoxicação alimentar. Para

adquirir essas doenças, basta passar a mão contaminada sobre a pele ou pegar um

alimento e ingeri-lo sem lavar. Já os fungos encontrados no dinheiro são

causadores de alergias respiratórias e de contato, mas as notas de real também

apresentam elevada quantidade de coliformes fecais, resultado da falta de higiene

das pessoas depois de usarem o banheiro (MARTINS; COSTA; TÓRTORA, 2005).

Falta de hábitos higiênicos da população aumenta a presença de

microrganismos. Problema também existente em outros países e a troca de papel

por moeda reduz os riscos (MARTINS; COSTA; TÓRTORA, 2005).

A decisão do Banco Central de substituir as notas de R$ 1 por moedas do

mesmo valor não tem como motivação apenas a redução de custos. Também é uma

questão de saúde. Como se desgastam demais e os hábitos de higiene da

população não são os mais desejáveis, as notas acabam se transformando em

depósitos de bactérias e focos de transmissão de doenças. As moedas, por sua vez,

minimizam esses riscos, pois os metais têm atividade antimicrobiana. O Banco

Central terá que fazer uma ampla campanha de conscientização, pois há uma

resistência grande da população, principalmente da masculina, de aceitar moedas

como troco. O dinheiro sujo não é exclusividade do Brasil, mesmo em países ricos,

como os Estados Unidos e a Áustria, onde o frio é rigoroso, as cédulas apresentam

grande quantidade de microrganismos. É que, no inverno, as pessoas tomam menos

banho e lavam menos as mãos, estimulando a disseminação de bactérias e fungos

(MARTINS; COSTA; TÓRTORA, 2005).

As cédulas de real começam a se tornar um perigo para a saúde à medida

que vão perdendo o verniz que as recobrem. Sem essa proteção, passam a reter

muitas coisas, entre elas, o suor, um campo fértil para o desenvolvimento de

microrganismos. Nas notas de R$ 1, esse processo de deterioração é mais rápido. A

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reposição de cédulas custa tão caro ao Banco Central. Dos R$ 160 milhões gastos

todos os anos para a fabricação de papel moeda, 80%, ou R$ 128 milhões, são

destinados à substituição de notas estragadas. No ano passado, foram destruídos

860 milhões de cédulas. Em 2006, a projeção é de que 1,2 bilhões de notas sejam

retiradas de circulação (MARTINS; COSTA; TÓRTORA, 2005).

Ciente dos riscos de lidar com esse dinheiro imundo, o Banco Central reduziu

o contato dos funcionários com as cédulas estragadas. Atualmente, 90% do

processo de destruição do papel moeda é automatizado. Diminuindo ao máximo o

contato com esse dinheiro (MARTINS; COSTA; TÓRTORA, 2005).

A substituição de cédulas de papel para as de polímero poderia resultar em

diminuição das populações de microrganismos que aderem a essas notas.

Entretanto, este procedimento não pode ser visto como uma solução fácil para o

problema de saúde que envolve a contaminação das notas de papel por

microrganismos (AYRES et al., 2001; SOUZA et al., 2005).

Em se tratando de notas de dez reais, as de papel apresentam uma maior

contaminação por microrganismos do que as cédulas de plástico, porém, todas as

notas de real apresentam microrganismos de origem fecal, independente do seu

valor ou material de confecção (SOUZA et al., 2005).

O dinheiro não seria um perigo tão grande à saúde pública se as pessoas

realmente se preocupassem em lavar as mãos depois de manuseá-lo. No entanto,

20 ou 30 segundos de lavagem não são suficientes para reduzir a quantidade de

microrganismos, o ideal seria esfregá-las por três minutos com um álcool gel usado,

constantemente, pelo pessoal que trabalha na área de saúde (MARTINS; COSTA;

TÓRTORA, 2005).

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2. MICRORGANISMOS FREQÜENTEMENTE ENCONTRADOS EM DINHEIRO

2.1 ENTEROBACTÉRIAS

É a maior e mais heterogênea família de bactérias Gram negativas de

importância médica. São considerados atualmente 27 (vinte e sete) gêneros, 102

(cento e dois) espécies e 8 (oito) grupos indefinidos. Independente da complexidade,

mais de 95% das amostras implicadas em casos clínicos é colocada em 25 (vinte e

cinco) espécies, sendo possível o isolamento de enterobactérias de qualquer

amostra clínica (ANVISA, 2004).

A família das enterobactérias talvez seja a mais importante família bacteriana,

nela estão inseridos diversos gêneros como Escherichia, Proteus, Citrobacter,

Klebsiella, Enterobacter, Shigella e Salmonella. Podem ser encontradas na natureza

ou na microbiota normal do homem e animais. Com relação ao homem, estes

patógenos estão entre os principais agentes de infecção hospitalar e, sem dúvida,

constituem a principal causa de infecção intestinal e urinária em muitos países. As

suas relações com os animais também interessam muito ao homem não só porque

causam perdas econômicas, mas também porque os animais representam vasto

reservatório de patógenos humanos. Por estas razões, poucos microrganismos têm

sido tão estudados quanto os membros mais importantes da família (TRABULSI;

ALTERTHUM, 2005).

Nesta família estão contidos também os coliformes totais que são bacilos

Gram negativos que fazem parte, entre outros, da microbiota residente no trato

gastrointestinal dos mamíferos. A presença de coliformes totais não é um indicativo

de contaminação fecal, pois este inclui bactérias não entéricas como a Serratia sp. e

Aeromonas sp. No entanto sua presença serve como indicativo da qualidade

higiênico-sanitária do produto. Os coliformes termotolerantes diferenciam-se dos

totais por fermentarem a lactose com produção de gás a uma temperatura de

44,5ºC. O principal representante do grupo, e o indicador específico de

contaminação fecal é a Escherichia coli (GASPAROTTO; ROCHA; GRECELLÉ,

2006).

Esta família é dividida através de diferentes provas em 11 (onze) principais

gêneros, tendo sido descritos nos últimos anos outros 16 (dezesseis) gêneros e

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algumas espécies, mas ainda consideradas de pouca ou nenhuma importância

clínica (ANVISA, 2004).

São bacilos Gram negativos, não esporulados, com motilidade variável,

oxidase negativos, e que crescem em meios básicos (caldo peptona), meios ricos

(ágar sangue, ágar chocolate e CLED), meios seletivos (Mac Conkey, EMB). São

anaeróbios facultativos (crescem em aerobiose e anaerobiose), fermentam a glicose

com ou sem produção de gás, são catalase positivos, e reduzem nitrato a nitrito

(ANVISA, 2004).

São capazes de metabolizar uma ampla variedade de substâncias como

carboidratos, proteínas e aminoácidos, lipídeos e ácidos orgânicos. Utilizam glicose

e amônia como fontes únicas de carbono e nitrogênio, respectivamente (TRABULSI;

ALTERTHUM, 2005).

2.1.1 Escherichia coli

A diversidade patogênica da Escherichia coli chega a ser fantástica. A

espécie compreende pelo menos cinco categorias de amostras que causam infecção

intestinal por diferentes mecanismos e várias outras especificamente associadas

com infecções urinárias, meningites e provavelmente outras infecções extra-

intestinais. As categorias que causam infecção intestinal são coletivamente

chamadas de Escherichia coli diarreiogênicas e as associadas a infecções extra-

intestinais de EXPEC (Extraintestinal Pathogenic Escherichia coli). Além de ser um

patógeno importante, Escherichia coli é membro da flora intestinal normal do

homem, sendo encontrada nas fezes de todos os indivíduos normais. Esta estreita

associação com as fezes do homem (e também dos animais) representa a base do

teste para verificar contaminação fecal da água e dos alimentos, tão usado em

saúde pública. Em termos quantitativos, Escherichia coli provavelmente seja o

patógeno humano mais importante (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

2.1.2 Proteus

Proteus mirabilis é a espécie mais importante, principalmente em relação a

infecções urinárias adquiridas na comunidade e em hospitais. As espécies de

Proteus produzem grandes quantidades de urease que degrada a uréia formando

amônia e outros produtos. Acredita-se que a alcalinização da urina durante

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infecções urinárias causadas por estes organismos contribua para a formação de

cálculos urinários (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

2.1.3 Citrobacter

As espécies mais importantes são Citrobacter freudii e Citrobacter diversus

(Citrobacter koseri), as quais podem causar infecções urinárias, bacteremias e

infecções respiratórias entre outras. Uma espécie que tem sido bastante citada

ultimamente é Citrobacter rodentium, que, embora não cause infecção no homem,

compartilha fatores de virulência (intimina) com patógenos humanos como

Escherichia coli enteropatogênica e Escherichia coli enteroemorrágica (TRABULSI;

ALTERTHUM, 2005).

2.1.4 Klebsiella

O habitat mais comum da Klebsiella sp é o ambiente natural (solo, água, etc.)

e a superfície mucosa dos mamíferos. Nos seres humanos, os locais freqüentes de

colonização são o trato gastrointestinal, os olhos, as vias respiratórias e o sistema

genito-urinário. Classicamente descrita por Friedlander como causa da pneumonia, a

Klebsiella é uma enterobactéria que pode causar infecção em diferentes órgãos e

sistemas, como o trato urinário e sistema nervoso central, especialmente em recém-

nascidos de alto risco (ALMEIDA, 2005).

As características das diferentes espécies de Klebsiella incluem a ausência

de motilidade e a presença de cápsula polissacarídea. As quatro espécies mais

comumente descritas são: Klebsiella pneumoniae (patógeno humano mais comum),

Klebsiella oxytoca (patógeno humano menos comum), Klebsiella terrigena e

Klebsiella planticola (espécies do solo e ambientes aquáticos). Os organismos são

definidos sorologicamente pelas cápsulas de polissacarídeos (antígenos K) e

lipossacarídeos (antígenos O) (ALMEIDA, 2005).

2.1.5 Enterobacter

Duas espécies Enterobacter cloaceae e Enterobacter aerogenes predominam

sobre todas as demais como causa de infecções humanas em vários órgãos. Uma

característica importante das duas espécies é a capacidade de contaminar

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equipamentos médicos e soluções para uso parenteral (TRABULSI; ALTERTHUM,

2005).

2.1.6 Shigella

A Shigella é semelhante aos outros membros da família Enterobacteriaceae.

Diferem da maioria por serem imóveis no teste-padrão de motilidade. Através de

estudos de hibridação de DNA, a Shigella não pode ser diferenciada de Escherichia

coli, e ambas são consideradas, inclusive, como uma única espécie por alguns

autores. Shigella infecta principalmente o homem e, excepcionalmente, outros

primatas como macacos e chimpanzés, causando shigelose ou disenteria bacilar.

Raramente ocorre em animais (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

O gênero Shigella é constituído de quatro espécies, designadas Shigella

dysenteriae (sorogrupo A; treze sorotipos), Shigella flexneri (sorogrupo B; seis

sorotipos), Shigella boydii (sorogrupo C; dezoito sorotipos) e Shigella sonnei

(sorogrupo D; um sorotipo). Shigella sonnei costuma aparecer em duas formas,

denominadas formas I (lisa) e II (rugosa). A passagem da forma I para a forma II é

conseqüência da perda de um plasmídio, que confere a síntese do antígeno O de

Shigella sonnei. As amostras dos sorogrupos A, B e C são muito similares

fisiologicamente, enquanto Shigella sonnei pode ser diferenciada das demais pela

positividade na reação da descarboxilação da ornitina e da produção de -D-

galactosidase. Os sorotipos de Shigella são caracterizados somente pelos antígenos

O, uma vez que estas bactérias são desprovidas de antígenos K e H. A Shigella

dysenteriae tipo I (bacilo de Shiga) difere das demais por produzir a toxina Stx

(TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

2.1.7 Salmonella

As Salmonellas apresentam características semelhantes às descritas da

família Enterobacteriaceae. Entretanto, ao contrário de muitas delas e em comum

com outras, as Salmonellas clinicamente mais importantes não fermentam a lactose,

o que é básico para a diferenciação de colônias nos meios de isolamento contendo

lactose. Esta característica pode variar, pois foi observado que amostras de

Salmonellas podem adquirir plasmídios que transportam genes que codificam

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enzimas que permitem a cepa a fermentação da lactose e assim desenvolverem

colônias lactose positivas em meios de isolamento, semelhantes às de Escherichia

coli (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

As Salmonellas infectam o homem e praticamente todos os animais

domésticos e selvagens, incluindo pássaros, répteis e insetos. No homem, as

Salmonellas causam vários tipos de infecção, e as mais comuns são a

gastroenterites e a infecções sistêmicas (febres tifóide e paratifóide) (TRABULSI;

ALTERTHUM, 2005).

2.2 BACTÉRIAS GRAM-NEGATIVAS NÃO FERMENTADORAS

Os bacilos Gram negativos classificados como não fermentadores (BNFs) são

microrganismos aeróbios, não esporulados, que se caracterizam pelo fato de serem

incapazes de utilizar carboidratos como fonte de energia através de fermentação,

degradando-os pela via oxidativa (ANVISA, 2004).

A identificação dos bacilos Gram negativos não fermentadores sempre foi um

desafio para os laboratórios de rotina em microbiologia, considerando que a maioria

deles não realiza este tipo de identificação, ou o faz de maneira elementar em

virtude da pouca incidência em amostras ambulatoriais, assim como pela

complexidade e elevado custo dos esquemas completos de identificação. São

também algumas das bactérias mais difíceis de serem identificadas

laboratorialmente, pois dão resultados negativos em muitos testes convencionais

(ANVISA, 2004; MENEZES et al., 2004).

A caracterização deste grupo de bactérias é de grande importância nos casos

de infecção hospitalar. Embora a sua incidência, mesmo em hospitais, seja pequena

quando comparada a outros agentes etiológicos, geralmente eles apresentam

resistência elevada a vários antibióticos e são capazes de causar infecções graves.

Estas bactérias colonizam e causam infecções, em especial, em pacientes graves

oriundos de Centro Terapia Intensiva e submetidos a procedimentos invasivos,

sendo importante classificá-los até o nível de gênero e espécie (ANVISA, 2004).

Neste grupo está incluído o gênero Pseudomonas e alguns outros gêneros

estreitamente relacionados, que constituem a família atualmente denominada

Pseudomonadaceae. Os membros dessa família caracterizam se como bacilos

Gram negativos retos ou ligeiramente curvos, aeróbios estritos; a maioria das cepas

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apresenta motilidade por meio de um ou mais flagelos polares, utilizam glicose e

outros carboidratos oxidativamente e em geral são citocromo oxidase positivas

(MENEZES et al., 2004).

As Pseudomonas são microrganismos ubíquos encontrados no solo, na

matéria orgânica em decomposição, na vegetação e na água. São também

encontradas em todo o ambiente hospitalar em reservatórios úmidos, como

alimentos, flores cortadas, pias, sanitários, esfregões para piso, equipamento de

tratamento respiratório e diálise e, até mesmo em soluções desinfetantes. A

persistência do estado de portador nos seres humanos é rara como parte da

microbiota normal, a não ser que o indivíduo esteja hospitalizado, ou seja, um

hospedeiro imunocomprometido ambulatorial. Pseudomonas aeruginosa é o

pseudomonéo mais freqüentemente isolado de amostras clínicas. A ampla

distribuição ambiental das Pseudomonas é assegurada por suas exigências simples

para crescimento (MENEZES et al., 2004).

A gravidade das infecções das vias aéreas inferiores por Pseudomonas

aeruginosa pode variar desde uma colonização ou traqueo-bronquite benigna até a

ocorrência de broncopneumonia necrosante grave. A colonização é observada em

pacientes com fibrose cística, outras doenças pulmonares crônicas ou neutropenia.

A infecção pulmonar por Pseudomonas em pacientes com fibrose cística tem sido

associada à exacerbação da doença subjacente, bem como a doença invasiva no

parênquima pulmonar. As cepas mucóides estão comumente associadas nestes

pacientes, e sua erradicação é difícil com antibioticoterapia. Os pacientes

neutropênicos e outros pacientes imunocomprometidos são freqüentemente

expostos a Pseudomonas através de exposição a equipamento de tratamento

respiratório contaminado. A doença invasiva nesta população caracteriza-se por

broncopneumonia difusa e geralmente bilateral, com formação de microabscessos e

necrose tecidual (MENEZES et al., 2004).

As infecções por Pseudomonas são basicamente oportunistas, isto é, restrita

a pacientes com comprometimento das defesas do hospedeiro. Isto ilustra a

importância da capacidade do hospedeiro de impedir a colonização e invasão por

Pseudomonas (MENEZES et al., 2004).

Em todo o mundo é reconhecida a crescente prevalência de bactérias

resistentes aos antimicrobianos, sobretudo das multirresistentes, que não vêm

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mostrando, em geral, comprometimento em relação à sua virulência, infectividade ou

sobrevida (MENEZES et al., 2004).

Autoridades e organizações científicas internacionais vêm expressando, com

freqüência e ênfase, suas preocupações com o fenômeno e têm recomendado

esforços no sentido de sua melhor caracterização nas diferentes regiões e no correr

do tempo. Nesse sentido, estudos longitudinais, que visem obtenção e análise de

taxas de resistência dos agentes bacterianos isolados de pacientes, constituem-se

em valioso recurso prático para o adequado direcionamento da antibioticoterapia

(MENEZES et al., 2004).

De maneira mais comum, a transmissão de bactérias multirresistentes se dá

de maneira cruzada, através dos profissionais de saúde, tanto pelo contato direto

entre um paciente e outro, como pelo contato indireto devido ao manuseio de artigos

ou superfícies contaminadas. Mais raramente pode ocorrer transmissão por uma

fonte única diretamente de artigo ou equipamento contaminado (MENEZES et al.,

2004).

As cepas de bactérias resistentes a múltiplos antibióticos não apresentam

maior potencial de transmissibilidade ou virulência quando comparadas às cepas

sensíveis, entretanto, as infecções devidas a agentes multirresistentes apresentam

opção terapêutica restrita (MENEZES et al., 2004).

2.3 Staphylococcus

Os Staphylococcus são bactérias esféricas, que formam colônias de células

aderidas umas às outras, ora encadeadas, aos pares ou formando correntes, ora

agrupadas em forma de cachos, o que deu origem a seu nome. São cocos Gram

positivos, anaeróbios facultativos, imóveis e não esporulados que mais resistem no

meio ambiente. Podem sobreviver por meses em amostras clínicas secas, são

relativamente resistentes ao calor e podem tolerar uma concentração aumentada de

sal. Pertencem à família Micrococcaceae, que contém todos os Gram positivos que

produzem catalase. Há 33 (trinta e três) espécies de Staphylococcus, mas destas

apenas 11 (onze) infectam o homem e a única patogênica é a Staphylococcus

aureus. Das outras 10 (dez), as mais conhecidas são: Staphylococcus epidermidis e

Staphylococcus saprophyticus (SANTOS, 2000).

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No entanto, apesar dos antimicrobianos existentes, da melhora das condições

sanitárias e das medidas de controle de infecção hospitalar, este microrganismo

continua a ser um dos mais importantes patógenos para o homem (ANVISA, 2004).

Os Staphylococcus estão presentes na água, no solo e em alimentos

derivados de animais, como ovos, carne de animais e de aves, leite e seus

derivados. Apesar de sobreviverem em diversos ambientes, eles habitam

principalmente a pele e mucosas de mamíferos e aves. Podem também estar

presentes no trato respiratório, urinário e gastrointestinal e o seu principal

reservatório são as narinas (SANTOS, 2000).

Os Staphylococcus estão geralmente mais envolvidos em infecções de pele

superficiais e profundas, podendo atingir os tecidos subcutâneos e musculatura.

Quando ocorre uma quebra na barreira da pele, cria-se a oportunidade para a

agressão. A resposta do sistema de defesa resulta no surgimento dos fenômenos

vasomotores que irão gerar calor, tumoração, dor no local e produção de pus.

Também podem provocar conjuntivites, pneumonias, meningites, endocardites e

mesmo infecções da corrente sangüínea, como a septicemia, que pode provocar

uma doença generalizada, envolvendo vários órgãos (SANTOS, 2000).

2.4 Clostridium

Este gênero é extremamente heterogêneo, composto de cerca de 150

espécies e seu hábitat natural é o solo e o intestino. Felizmente, poucas espécies

são responsáveis por importantes infecções no homem e nos animais, a saber:

Clostridium perfringens, Clostridium clostridioforme, Clostridium innocuum,

Clostridium ramosum, Clostridium difficile, Clostridium butyricum, Clostridium

cadaveris, Clostridium sporogenes, Clostridium bifermentans, Clostridium glycolicum,

Clostridium tertium, Clostridium septicum, Clostridium tetani, Clostridium botulinum,

Clostridium sordelli, Clostridium histolyticum, Clostridium novyi. As dozes primeiras

espécies são responsáveis por 95% de casos de infecções por Clostridium sp

(TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

O gênero é definido como aquele que reúne bacilos Gram-positivos

esporulados, alguns anaeróbicos obrigatórios (Clostridium perfringens), outros

aerotolerantes (Clostridium tertium) e, alguns, raros, que não toleram traços de

oxigênio (Clostridium haemolyticum e Clostridium novyi). As células vegetativas, da

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maioria das espécies, são bacilos retos ou curvos, variando de pequenas formas de

bastonetes cocóides a formas longas, filamentosas com extremidades arredondadas

ou retas. Algumas vezes, em cultivos prolongados, podem ser observados bacilos

com aparência de Gram-negativos e, em muitas ocasiões, formas Gram-positivas e

Gram-negtivas são observadas em uma mesma lâmina. Os endósporos ovais ou

esféricos usualmente são maiores do que as células vegetativas. Certas espécies só

produzem esporos sob condições especiais, como é o caso de Clostridium

perfringens. A maioria não é capsulada, e praticamente todos são catalase-

negativos. Os clostrídeos usualmente são fermentadores e/ou proteolíticos, porém

alguns são assacarolíticos e não-proteolíticos. As espécies Clostridium perfringens,

Clostridium ramosum e Clostridium innocuum são imóveis, porém a maioria é móvel

através de flagelos peritríqueos (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

Estão amplamente distribuídos na natureza e são encontrados no solo, em

vegetações, em sedimentos marinhos e no intestino do homem e de outros

vertebrados, além de insetos. A espécie Clostridium perfringens já foi encontrada em

praticamente todos os solos examinados, com exceção das areias do deserto Saara.

As espécies componentes do gênero são, em sua maioria, avirulentas, embora

algumas possam ser isoladas de infecções endógenas, enquanto outras são

patógenos reconhecidos (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005).

2.5 Bacillus

O gênero Bacillus compreende mais de 50 espécies, algumas delas sendo

bastante conhecidas. É uma bactéria Gram-positiva esporulada que, quando

cultivada no laboratório, costuma apresentar-se em longas cadeias serpentinosas, a

maioria das células mostrando esporo central ou subterminal. Entretanto, em

material clínico, as células são isoladas e não apresentam esporos. Seu habitat

natural é o solo, onde os esporos podem permanecer viáveis por dezenas de anos,

água, matéria orgânica animal e vegetal nas condições mais variadas de

temperatura, umidade, pH, etc. Por exemplo, Bacillus anthracis é um patógeno

humano e animal conhecido como agente do antraz ou carbúnculo. A doença

humana quase sempre foi dependente do contato com animais doentes ou produtos

provenientes destes animais. A introdução da vacinação animal e de medidas

higiênicas adequadas reduziu bastante a importância de Bacillus anthracis como um

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patógeno humano e animal até recentemente. O Bacillus subtilis é um dos

contaminantes mais comuns em laboratório. O Bacillus cereus tem sido

responsabilizado por casos de intoxicação alimentar em diferentes países. Duas

formas clínicas de intoxicação são conhecidas. Uma manifesta-se principalmente por

vômitos (forma emética) e outra por diarréia (forma diarréica). A primeira é mediada

por uma toxina termoestável, cujo mecanismo de ação não é conhecido. O período

de incubação é de aproximadamente seis horas e duração média dos sintomas é de

nove horas. O alimento mais comumente implicado é o arroz. A forma diarréica é

mediada por uma toxina termolábil semelhante à toxina colérica, inclusive com

relação ao mecanismo de ação. O período de incubação é de 8-10 horas e a

duração dos sintomas é de em média 24 horas. Os alimentos mais implicados são

carnes e vegetais. Outra espécie do gênero Bacillus bastante conhecida,

principalmente em agricultura, é Bacillus thurigencis. Esta espécie produz uma

toxina altamente letal para certas espécies de insetos e assim é muita usada no

combate de pragas. Um achado recente e bastante surpreendente refere-se à

semelhança existente entre cromossomos de Bacillus anthracis, Bacillus cereus e

Bacillus thurigencis. Na realidade, tendo-se por base esta semelhança, as três

bactérias pertencem a uma única espécie, embora sejam extremamente diferentes

em suas características fenotípicas. Estas diferenças são mediadas por plasmídios

específicos. Do ponto de vista evolutivo, pode-se pensar que a diversificação foi

decorrência de uma simples aquisição de diferentes tipos de plasmídios pela mesma

espécie de bactéria. Demonstrou-se recentemente que alguns destes plasmídios

podem ser transferidos por conjugação e uma espécie para outra (TRABULSI;

ALTERTHUM, 2005).

2.6 FUNGOS

Os fungos incluem organismos muito diversificados e em muitos casos pouco

relacionados. Apresentam algumas características comuns aos vegetais e outras

aos animais, sendo que sua posição entre os seres vivos foi polêmica durante muito

tempo. No sistema de cinco reinos, proposta por Wittaker (1969) para a classificação

dos seres vivos, o grupo adquiriu identidade própria: Reino Fungi (grego: sphongos

= esponja; latin = fungus) (DIAS; ROCHA, 2000).

22

Fungos são seres dispersos no meio ambiente, em vegetais, ar atmosférico,

solo e água e, embora sejam estimados em 250 mil espécies, menos de 150 foram

descritos como patógenos aos seres humanos (ANVISA, 2004).

Os fungos são eucarióticos, diferem, portanto, das bactérias, algas azuis e

proclorofíceas. Não possuem clorofila e nesta característica constituem um grupo

bastante homogêneo; não há exceções. Excetuando-se os raros casos, possuem

paredes celulares definidas, são geralmente imóveis, porém podem possuir estágios

reprodutivos móveis, reproduzindo-se assexuadamente através de esporos, na

maior parte dos casos. Não possuem caule, raízes ou folhas, nem um sistema de

condução sofisticado como as plantas superiores. A forma varia desde um simples

talo esférico sem qualquer outro acessório e que se transforma totalmente em um

esporângio na maturidade, até a forma filamentosa multicelular (micelial), ramificada

ou não. Os núcleos são relativamente fáceis de serem observados e as estruturas

somáticas, com raras exceções, demonstram possuir restrita ou nenhuma divisão de

trabalho (DIAS; ROCHA, 2000).

Os fungos de interesse médico, agentes de micoses, são de dois tipos

morfológicos: leveduras, que são unicelulares e bolores ou fungos filamentosos, que

são multicelulares. Existe um subgrupo dentro dos filamentosos, chamados fungos

dimórficos, que se apresentam sob ambas as formas, dependendo principalmente

da temperatura, mas sob influência também do teor de CO2 e condições nutricionais

(ANVISA, 2004).

Os fungos aclorofilados, nucleados, produtores de esporos e heterotróficos,

que geralmente se reproduzem sexuadamente à assexuadamente e cujas estruturas

somáticas filamentosas e ramificadas são envolvidas por paredes celulares

contendo celulose ou quitina ou ambas. Possuem pigmentos responsáveis pelas

cores variadas que apresentam, mas nenhuma capaz de absorver energia para

síntese de carboidratos a partir de CO2. Assim, são heterotróficos, mas se nutrem

por absorção, ao contrário dos animais, por ingestão. Executam-se os

representantes da classe Nyxomicetes que também se nutrem por ingestão. Os

fungos dependem de água líquida para seu crescimento e desenvolvimento. A

maioria também depende do oxigênio para a respiração, sendo, portanto, aeróbicos.

Muitos, entretanto, são anaeróbicos facultativos, isto é, respiram na presença de

oxigênio e fermentam na ausência. Conforme a nutrição, os fungos são classificados

em duas categorias: saprófitas (ou sapróbios) e parasitas. Os saprófitas se

23

alimentam de matéria orgânica animal ou vegetal morta e os parasitas vivem dentro

de ou sobre organismos vivos (animais ou vegetais), deles retirando seus alimentos

(DIAS; ROCHA, 2000).

2.6.1 LEVEDURA

As leveduras são fungos unicelulares, isto é, formados por uma única célula

e, geralmente, não formam filamentos com micélio. São maiores que a maioria das

bactérias, podem ter forma oval, podendo ser alongadas e esféricas. As leveduras

gostam de açúcar preferindo como habitat, frutas, flores e as cascas das árvores

(LACAZ et al., 2002).

As leveduras se reproduzem assexuadamente multiplicando-se por

brotamento, processo pelo qual na superfície da célula adulta (célula mãe)

desenvolve-se uma pequena saliência (célula-filha) que se transformará numa nova

célula (LACAZ et al., 2002).

As leveduras são capazes de crescimento anaeróbio facultativo. Podem

utilizar oxigênio ou um componente orgânico como aceptor final de elétrons, sendo

um atributo valioso porque permitem que esses fungos sobrevivam em vários

ambientes. Se for dado acesso a oxigênio, as leveduras respiram aerobicamente

para metabolizar hidratos de carbono formando dióxido de carbono e água; na

ausência de oxigênio elas fermentam os hidratos de carbono e produzem etanol e

dióxido de carbono (LACAZ et al., 2002).

A levedura é um fungo em regra, unicelular que se reproduz geralmente por

brotamento (ANVISA, 2004).

Leveduras são fungos capazes de colonizar o homem e animais e, frente à

perda do equilíbrio parasita-hospedeiro, podem causar diversos quadros infecciosos

com formas clínicas localizadas ou disseminadas (ANVISA, 2004).

São utilizadas como Saccharomyces cerevisiae, Saccharomyces ellipsoideus

e Saccharomyces calbergensis, são agentes normais da fermentação alcoólica

utilizada na fabricação de vinhos, cervejas e fermentos. Zygosaccharomyces tem

capacidade de se desenvolverem em líquidos com alta concentração de açúcar. E

por isso são responsáveis pela deterioração de mel, melaço e xaropes.

Schizosaccharomyces, muito comum na superfície de frutos, no solo, no bagaço e

em substratos. Picchia, Hansenula e Debaryomyces responsáveis pela formação de

24

filme na superfície de líquidos de origem vegetal, ácidos. Endomyces vernalis,

utilizável na síntese de produtos graxos. Endomyces fiberliger, levedura capaz de

produzir amilase (LACAZ et al., 2002).

2.6.2 BOLOR

O bolor é um fungo filamentoso, multicelular, constituído de hifas (ANVISA,

2004).

Os bolores, normalmente, não fazem parte da microbiota animal e, portanto o

homem não é um reservatório importante para esse grupo de fungos. As portas de

entrada no hospedeiro são as vias aéreas superiores ou quebra na barreira

epidérmica após traumatismos com objetos perfuro-cortantes (ANVISA, 2004).

25

3. OBJETIVOS

Avaliar a contaminação microbiológica do dinheiro coletado em feira livre nos

municípios de Fernandópolis e Jales, e comparar a prevalência de colonização nas

cédulas de dez reais confeccionadas de matéria celulose com as de polímero, uma

vez que, no Brasil, são as únicas veiculadas sob estas duas formas.

26

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Amostra analisada:

Foram coletadas e analisadas 48 amostras de cédulas de real, distribuídas da

seguinte maneira: quinze de R$1; nove de R$2; oito de R$5; dezesseis de R$10;

sendo que destas, oito feitas de material-papel e oito feitas de polímero.

4.2 Procedimento no ato da coleta:

Cada nota foi depositada sobre um plástico rígido estéril em superfície plana.

O material para análise foi coletado assepticamente com swab umedecido em

solução salina estéril, esfregado sobre ambas as faces da cédula e imediatamente

introduzido em tubo de ensaio contendo caldo de infusão de cérebro e coração (BHI)

e incubado por 24 horas a 37°C (AYRES et al., 2001).

4.3 Identificação de bactérias Gram-positivas:

Após a turbidez do caldo BHI, as amostras foram inoculadas pela técnica de

esgotamento em ágar Chocolate e incubadas por 24 horas a 37°C. Decorrida a

multiplicação microbiana, estas foram observadas pela técnica de coloração de

Gram e identificadas pela prova da catalase e coagulase em tubo (KONEMAN et al.,

2001; ANVISA, 2004).

4.4 Identificação de bactérias Gram-negativas:

Após turbidez do caldo BHI, as amostras foram inoculadas pela técnica de

esgotamento em ágar Mac Conkey e incubadas por 24 horas a 37°C. Após a

multiplicação bacteriana, estas foram identificadas através dos seguintes meios:

Tríplice Açúcar Ferro (TSI); Sulfato Indol e Motilidade (SIM); Vermelho de Metila

(VM); Voges Proskauer (VP); meio de oxidação e fermentação (OF); Citrato de

Simmons (KONEMAN et al., 2001; ANVISA, 2004).

4.5 Identificação fúngica:

27

Os fungos foram identificados através de observações macroscópicas e

microscópicas das colônias, por meio do exame direto com salina estéril (KONEMAN

et al., 2001; ANVISA, 2004).

28

5. RESULTADOS

Das 48 amostras de dinheiro analisadas todas apresentaram contaminação

microbiana. Das 15 cédulas de um real, tivemos 21 Bacillus sp e 1 Enterobactéria.

Nas 9 cédulas de dois reais, foram 11 Bacillus sp e 1 Clostridium sp. As 8 cédulas

de cinco reais, forneceu 6 Bacillus sp, 3 Clostridium sp e 1 Bactéria não-

fermentadora. Já, nas 8 cédulas de dez reais de papel, foram 5 Bacillus sp, 1

Staphylococcus sp e 3 Enterobactérias. E, nas 8 cédulas de dez reais de plástico,

tivemos 7 Bacillus sp, 1 Staphylococcus sp e 1 Enterobactéria, conforme mostra a

figura abaixo.

21

1

11

1

6

3

1

5

1

3

7

1

1

0%

20%

40%

60%

80%

100%

R$1 R$2 R$5 R$10 depapel

R$10 deplástico

Figura 1- Microrganismos isolados em dinheiro brasileiro coletado em feira livre nos municípios de Fernandópolis e Jales

Não Fermentador

Enterobactérias

Staphylococcus sp

Clostridium sp

Bacillus sp

29

6. CONCLUSÕES

As amostras analisadas apresentaram os seguintes microrganismos: Bacillus

sp, Staphylococcus sp coagulase negativa, Enterobactérias, Bacilo Gram-negativo

Não Fermentador e Clostridium sp.

Este estudo indicou a existência de muitos microrganismos nas cédulas

analisadas, principalmente as cédulas de R$ 1, que mais transitam pelas mãos da

população.

Em se tratando de notas de dez reais, as de papel apresentaram pouca

diferença de contaminação por microrganismos do que as cédulas de plástico,

porém, todas as notas de real apresentam microrganismos, independente do seu

valor ou material de confecção, mostrando também, a possibilidade de

contaminação sanitária.

O dinheiro não seria um perigo à saúde pública se as pessoas se

preocupassem em lavar as mãos depois de manuseá-lo.

30

7. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M.C.L. Sepse de origem hospitalar por Klebsiella spp. em unidades neonatais: evolução clínica. São Paulo: Universidade de São Paulo – Faculdade de Medicina, 2005. 76 f. Tese de mestrado em Ciências. Disponível em: www.teses.usp.br . Acessado em: 19 set. 2007.

AYRES, A.F.S.M.C.; PINHO, D.L.; MACHADO - JÚNIOR, F.F. Contaminação microbiana de cédulas de real. Jornal Brasileiro de Medicina 2001, n. 81, p. 48 – 54.

BURTON, G.R.W.; ENGELKIRK, P.G. Microbiologia para as ciências da saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

DIAS, E. S.; ROCHA, M. A. Estudo dos fungos. Disponível em: www.estudanet.hpg.ig.com.br . Acessado em: 19 set. 2007.

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GASPAROTTO, P.H.G.; ROCHA, C.S.; GRECELLÉ, C.B.Z. Quantificação de coliformes totais e fecais pela técnica do NMP em amostras de água do município de Ji- Paraná. Disponível em: www.revista.ulbrajp.edu.br. Acessado em: 19 set. 2007.

KONEMAN, E.W. et al. Diagnóstico microbiológico. Rio de Janeiro: Medsi, 2001.

LACAZ, C. S.; PORTO, E.; MARTINS, J. E. C.; HEINS-VACCARI, E. M.; MELO, N.T. Tratado e micologia médica Lacaz. São Paulo: Sarvier, 2002.

Ministério da Saúde. Manual de microbiologia clínica para o controle de infecção em serviços de saúde. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2004.

MARTINS, P. P.; COSTA, C. R. M.; TÓRTORA, J. C. Contaminação microbiana nas mãos de pessoas com diferentes atividades profissionais. Jornal Brasileiro de Medicina 2005, n. 88, p. 10 – 16.

MENEZES, E. A. et al. Perfil de infecção e resistência aos antimicrobianos de bacilos Gram negativos não fermentadores isolados no Laboratório de Patologia Clínica Dr. Edilson Gurgel, Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, Ceará. Revista Brasileira de Análises Clínicas 2004, n. 36, p. 209 – 212.

MONTEIRO, C.L.B. et al. Caracterização de estafilococos encontrados em dinheiro brasileiro coletado em ambiente hospitalar. Jornal Brasileiro de Medicina 2001, n. 81, p. 17 – 23.

SANTOS, A. A. M. Estafilococos: bactéria que é um desafio constante para a medicina. Disponível em: www.boasaude.uol.com.br . Acessado em: 22 set. 2007.

31

SOUZA, A. C. et al. Microrganismos encontrados em dinheiro coletado em feira livre. Revista Newslab 2006, n. 77, p. 178 – 186.Staphylococcus. Disponível em: www.microbiologia.sapo.com.pt . Acessado em: 22 set. 2007.

TRABULSI, L.R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

32

8. ANEXOS

Prova da catalase: É realizada para observar se a bactéria em questão

produz a enzima que decompõe o peróxido de hidrogênio (H2O2) em água e

oxigênio. É utilizada para diferenciar Staphylococcus, Streptococcus, Enterococcus,

Listeria, Corynebacterium, Micrococcus, Bacillus, Moraxella catarrhalis (ANVISA,

2004; KONEMAN et al., 2001).

Prova da coagulase: É realizada para verificar a capacidade de o

microrganismo reagir com o plasma e formar um coágulo. É utilizada para separar

as espécies de Staphylococcus de importância clínica, Staphylococcus aureus –

coagulase positiva, das demais espécies – coagulase negativa (ANVISA, 2004;

KONEMAN et al., 2001).

Tríplice açúcar ferro (TSI): Contém três açúcares: 0,1%glicose, 1,0%

lactose, 1,0% sacarose; vermelho de fenol para detecção da fermentação de

carboidratos e sulfato de ferro para detecção da produção de sulfato de hidrogênio

(indicado pela cor preta na base do tubo). A fermentação é indicada pela mudança

da cor do indicador de pH de vermelho para amarelo. Utilizado para diferenciar

bacilos Gram negativos com base na fermentação de carboidratos, produção de

sulfato de hidrogênio e gás (ANVISA, 2004; KONEMAN et al., 2001).

Sulfato, indol e motilidade (SIM): Determina a habilidade de o

microrganismo metabolizar o triptofano em indol. O triptofano é um aminoácido que

pode ser oxidado por certas bactérias resultando na produção de indol, após a

adição de reagentes de Kovacs. Utilizado para diferenciar gêneros e espécies de

enterobactérias, não fermentadores, Haemophilus e anaeróbios (ANVISA, 2004;

KONEMAN et al., 2001).

Vermelho de metila (VM): É um teste quantitativo para identificar espécies

bacterianas que produzem ácidos orgânicos (láctico, acético e fórmico) a partir da

fermentação da glicose, pois muitas bactérias produzem ácidos suficientes para

manter o pH abaixo de 4,4. A formação desses ácidos pode ser detectada pelo

33

indicador vermelho de metila, que adquire a coloração vermelha ao reagir com o

meio no pH de 4,4 (ANVISA, 2004; KONEMAN et al., 2001).

Voges Proskauer (VP): É a outra via de fermentação da glicose que as

bactérias podem utilizar. Tem a formação do composto acetoína que adquire a

coloração vermelha devido à ação catalítica de -naftol e hidróxido de potássio

(ANVISA, 2004; KONEMAN et al., 2001).

Oxidação e fermentação (OF): Verifica a capacidade do microrganismo em

utilizar os carboidratos pela via oxidativa ou fermentativa. Diferencia bacilos Gram

negativos quanto ao tipo de metabolismo empregado em utilizar carboidratos

(ANVISA, 2004; KONEMAN et al., 2001).

Citrato de Simmons: Verifica a capacidade da bactéria de utilizar o citrato de

sódio como única fonte de carbono, juntamente com sais de amônia, alcalinizando o

meio. Diferencia gêneros e espécies de enterobactérias e não fermentadores

(ANVISA, 2004; KONEMAN et al., 2001).

Prova da oxidase: É útil para categorizar inicialmente muitas espécies de

bactérias que apresentam colônias com morfologia característica. Considera-se que

as colônias oxidase-positivas não pertençam a enterobactérias e, em geral, isto

ajuda a identificar certas espécies bacterianas produtos de oxidase, como as de

Aeromonas, Plesiomonas, Pseudomonas e Pasteurella (KONEMAN et al., 2001;

ANVISA, 2004).

34