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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS
INTOXICAÇÃO POR COBRE
ASPECTOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS
Thays Nascimento Costa
Orientador: Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno
GOIÂNIA
2011
ii
THAYS NASCIMENTO COSTA
INTOXICAÇÃO POR COBRE
ASPECTOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS
Seminário apresentado junto à Disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Nível: Mestrado
Área de Concentração:
Patologia, Clínica e Cirurgia Animal
Linha de Pesquisa:
Alterações clínicas, metabólitas e
toxêmicas dos animais e meios auxiliares de diagnóstico
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Fabiano José Ferreira de Sant’Ana – CAJ/UFG
Profª Drª Veridiana Maria Brianezzi Dignani de Moura - EVZ/UFG
GOIÂNIA
2011
iii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 6
2.1 Fatores de risco ambientais .......................................................................... 9
2.2 Fatores de risco relacionados ao animal ....................................................... 9
2.3 Metabolismo do cobre ................................................................................. 10
2.4 Intoxicação aguda e acumulativa (crônica) por cobre ................................. 12
2.5 Aspectos laboratoriais da intoxicação por cobre ......................................... 19
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 22
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 23
1 INTRODUÇÃO
Além das biomoléculas orgânicas, os tecidos animais também
possuem elementos inorgânicos que fazem parte dos tecidos e se encontram
na proporção de 2 a 5% do peso total dos animais. Entre esses elementos,
estão os minerais que possuem funções essenciais tanto na estrutura de
tecidos e biomoléculas, como no próprio metabolismo animal, participando
como co-fatores enzimáticos, ativação de ação hormonal, como responsáveis
pela pressão osmótica e pelo equilíbrio ácido-básico (McDOWELL, 1992).
Os minerais podem ser divididos em macro e microelementos. Os
microelementos estão presentes em quantidades pequenas no organismo e
são expressos em mg/kg ou ppm (partes por milhão) de peso vivo. Neste grupo
são incluídos o cobre, zinco, selênio e cobalto (McDOWELL, 1992). Dentre os
minerais, o cobre (Cu) é um elemento essencial para sobrevivência dos
animais por atuar como componente de muitas metaloproteínas como a
ceruloplasmina, a superóxido dismutase (CuZnSOD) e a citocromo oxidase
(McDOWELL, 1992; ZHANG et al., 2009). O Cobre participa de diversos
processos no organismo, tais como a metabolização do ferro por enzimas; a
formação de elastina e do colágeno, que são proteínas presentes em várias
partes do corpo como, por exemplo, nos vasos sanguíneos; a produção de
melanina, responsável pela pigmentação da pele, pelos e lã (McDOWELL,
1992).
Após a ingestão, o Cobre é absorvido no intestino delgado e seu
transporte pela mucosa intestinal é controlado por uma metaloproteína
chamada metalotioneína. Quanto maior sua concentração, menor a absorção
de Cobre (ORTOLANI, 2002) e após a passagem pela mucosa intestinal é
transportado ao fígado para ser incorporado à ceruloplasmina e,
posteriormente, atingir a circulação sistêmica, distribuindo-se para todo
organismo (BRADBERRY, 2007). Aproximadamente 90% do Cobre no plasma
de mamíferos está na forma de metaloproteínas (McDOWELL, 1992).
Existe normalmente uma ampla diferença entre níveis deficientes e
níveis tóxicos de Cobre para mamíferos. A ingestão continuada de Cobre em
níveis acima das exigências dietéticas dos animais conduz a um acúmulo
5
gradativo do elemento em vários tecidos, principalmente no fígado, e
eventualmente leva à intoxicação (McDOWELL, 1992). Entre as espécies de
animais, os ovinos são os mais sujeitos a apresentar tanto quadros de
deficiência quanto de intoxicação (GOONERATNE, 1989; ORTOLANI, 1996).
Em um estudo retrospectivo ao longo de cinco anos, com várias
espécies animais, observou-se elevado número de amostras com suspeita de
intoxicação por Cu, sendo confirmado em boa parte das amostras, o que
permitiu inferir que o Cobre constituiu-se um dos elementos minerais mais
importantes envolvidos em casos de intoxicação juntamente com o chumbo
(HOOF et al., 1998). Tal situação, alerta para o fato de que a intoxicação por
Cobre pode estar ocorrendo em um número muito maior de casos, visto que o
diagnóstico confirmativo nem sempre é estabelecido ou que o mesmo seja
confundido com outras enfermidades que causem quadros hemolíticos
(BIDEWELL & LIVESEY, 2002). Diante deste fato, este seminário apresenta
uma revisão de literatura das principais características clínicas e laboratoriais
da intoxicação por cobre de modo a permitir o diagnóstico tanto de quadro de
intoxicação aguda quanto crônica.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
A incidência da intoxicação por cobre é bastante variável,
dependendo das condições nutricionais estabelecidas. Praticamente não são
registrados casos clínicos de intoxicação cúprica em rebanhos criados
extensivamente e que recebem sais minerais com baixos teores de cobre.
Contudo, em rebanhos cujos ovinos foram alimentados por longos períodos
com dietas ricas em concentrados, essa incidência pode variar de 6% a mais
de 50% (FERREIRA et al., 2008).
O coeficiente de letalidade depende da realização do tratamento e
do momento em que ocorre esse procedimento, ou seja, a possibilidade de
morte chega a 95% nos animais não tratados (FERREIRA et al., 2008).
Os prejuízos econômicos podem ser bastantes altos, já que entre os
animais acometidos estão aqueles de grande valor zootécnico, como
reprodutores e animais de elite, mais comumente mantidos em sistema
intensivo de criação (FERREIRA et al., 2008). De acordo com levantamentos
de CASTRO et al. (2007), a intoxicação por cobre representa uma enfermidade
de grande ocorrência do sul do país, sendo reportada também na região
Nordeste e nos estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo.
As exigências de cobre para bovinos e ovinos são aproximadamente
as mesmas e estão em torno de 5 ppm do elemento na matéria seca da dieta.
A grande diferença entre as duas espécies reside nos níveis de tolerância, que
são de aproximadamente 700 ppm para bovinos e 15 ppm para ovinos. Uma
ingestão diária de 9 mg de cobre é considerada um nível seguro para ovinos
(RADOSTIS et al., 2002).
A capacidade de acumular cobre nos tecidos varia grandemente
com as espécies animais e mesmo com as raças dentro de uma mesma
espécie (McDOWELL, 1992). As raças North Ronaldsay e Texel são as mais
sensíveis, enquanto a Merino Australiano apresenta-se como a mais resistente
(MENDÉZ, 2001). Os caprinos da raça Angorá parecem mais susceptíveis e os
da raça Nubiana mostram-se mais resistentes em relação aos ovinos
(RADOSTIS et al., 2002). A categoria animal também exerce influência, sendo
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que animais recém-nascidos ou lactantes são mais susceptíveis aos quadros
de intoxicações em relação aos indivíduos adultos, provavelmente em virtude
de uma maior absorção e menor capacidade de excreção do cobre
(BREMNER, 1998). Além disso, depende das concentrações dos antagonistas
que interferem com a absorção e a subseqüente utilização para os processos
metabólicos (GOONERATNE, 1989).
Os surtos esporádicos de intoxicação primária por cobre ocorrem em
diferentes circunstâncias, dentre elas: administração acidental de grandes
quantidades de sais de cobre solúveis, como por exemplo, soluções para
beberagem como parasiticidas; contaminação de plantas com sprays
fungicidas; contaminação de água de beber durante a erradicação de
caramujos; pastejo, logo em seguida a aplicação no pasto de sal de cobre ou
esterco de aves/suínos; pastejo de forragens que crescem em solos ricos em
cobre; pastejo em pastos contaminados por fumaça de fundições ou por
precipitação de cobre oriundo dos cabos elétricos de alta tensão, mas
corroídos por substâncias químicas existentes em uma região industrial
poluída; fornecimento de sementes de grãos tratadas com agentes antifúngicos
que contêm cobre; fornecimento de misturas minerais ou de blocos minerais
para lamber que contêm quantidades excessivas de cobre; sal ou misturas
minerais com cobre; rações concentradas, enriquecidas com cobre,
administradas em quantidades excessivas (ODELL, 1997).
A intoxicação parenteral aguda pode ocorrer por injeções profiláticas
de sais de cobre, preparados solúveis como o edetato de cobre e cobre na
forma de sulfonato de oxiquinolina dietilamina. A absorção é rápida, o que leva
a níveis elevados no sangue (GALEY et al., 1991).
A intoxicação cúprica pode ser dividida em duas formas: intoxicação
aguda, decorrente da ingestão abrupta de grandes quantidades de cobre, em
um curto espaço de tempo; e intoxicação cúprica acumulativa, onde o depósito
de cobre hepático é progressivo, podendo durar de meses a anos, até o
desencadeamento da fase hemolítica (ORTOLANI et al., 2003). A classificação
etiológica e sintomática da intoxicação por cobre está apresentada no Quadro
1.
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QUADRO 1 - Classificação, principais formas de manifestações e causas mais
comuns para os quadros de intoxicação por cobre (Cu).
ETIOLOGIA
NÍVEIS DE
COBRE
INGERIDO
FORMAS DE
MANIFESTAÇÃO
CAUSAS MAIS
COMUNS
PRIMÁRIA
↑↑↑ Intoxicação oral
aguda e crônica
Consumo de
concentrados e sal
mineral contendo ↑↑↑
concentrações de
Cu; pastagens
contaminadas com
sais de Cu;
fungicidas, estercos
de aves e suínos
↑↑↑ Intoxicação
parenteral aguda
Injeções contendo
↑↑↑ níveis de cobre
para prevenção de
deficiências em
animais criados a
pasto.
SECUNDÁRIA
↓↓↓ Intoxicação
crônica fitógena
Consumo de
pastagens de trevo
ou de ↓ qualidade
apresentando ↓↓↓
níveis de Mo
↓↓↓
Intoxicação
crônica
hepatógena
Animais previamente
acometidos por
lesões hepáticas por
consumo de plantas
tóxicas
Adaptado de Radostis et al. (2002).
Legenda: ↓ baixo, diminuição; ↑ alto, aumento.
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2.1 Fatores de risco ambientais
Ambas as formas de intoxicação, aguda e crônica, ocorrem a
campo. A intoxicação aguda geralmente ocorre devido à administração
acidental de grandes quantidades de sais solúveis de cobre principalmente
como resultado da ingestão de alimentos que contêm ou são contaminados por
cobre oriundo do solo ou da sua incorporação na alimentação sob a forma de
um produto químico agrícola (ODELL, 1997).
A toxicidade do cobre ingerido dessa forma depende não somente
da quantidade absoluta de cobre, mas também da interação de numerosos
fatores, como a quantidade de molibdênio e sulfatos presentes na dieta, a
presença ou ausência de plantas específicas, bem como o nível de proteína da
alimentação. De fato, tanto a deficiência de cobre como a intoxicação por cobre
podem ocorrer em solos com níveis aparentemente normais de cobre,
dependendo a síndrome da presença de determinados fatores condicionantes.
Níveis elevados de molibdênio e sulfatos no rúmen propiciam a síntese
microbiológica de tiomolibdatos não-absorvíveis, e dieta com teores elevados
de sulfatos também propicia maior redução na retenção do cobre pelos tecidos
(BRADLEY, 1993).
2.2 Fatores de risco relacionados ao animal
Os eqüinos são os menos suscetíveis com uma tolerância a níveis
de 800 ppm na alimentação. Os bovinos normalmente podem tolerar 100 ppm,
e suínos 250 ppm, mas ocorre hemólise letal em bovinos que recebem por dois
anos suplemento mineral com nível baixo de cobre (38mg/kg PV para vacas
em lactação). Os caprinos não são mencionados na literatura que trata desse
assunto, e os critérios usados para ovinos são recomendados como guia
(BRADLEY, 1993). Os ovinos não toleram quantidades maiores que 15mg/kg
PV (CAVALHEIRO, 1992). Os níveis toleráveis de cobre na dieta, nas diversas
espécies animais, estão apresentados no Quadro 2.
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QUADRO 2 - Teores máximos toleráveis de cobre na dieta
(PPM/kg matéria seca) sem causar intoxicação
cúprica nas várias espécies animais
Espécie Teores de Cobre (ppm)
Aves 1.100
Rato, homem 1.000
Pôneis 800
Outros eqüídeos 500
Bovinos adultos 400
Suínos 350
Bezerros, caprinos 125
Gatos 50
Cães 35
Ovinos 15
Fonte: FERREIRA et al., 2008
2.3 Metabolismo do cobre
O cobre é absorvido preferencialmente na sua forma bivalente no
intestino delgado. Dependendo das fontes dietéticas desse metal e da
presença de elementos antagonistas que compõem a dieta, a absorção do
cobre será maior ou menor. A maior disponibilidade desse metal encontra-se
em sais de sulfato, carbonato e nitrato, compostos nos quais o cobre
apresenta-se na sua forma bivalente (FERREIRA et al., 2008). Os sais solúveis
de cobre em concentrações elevadas coagulam as proteínas (ODELL, 1997).
Também pode ser achado cobre proveniente de cereais, feno, silagem, capins
tenros ou maduros e, finalmente, em fontes ricas em cobre metálico
(FERREIRA et al., 2008).
Ressalta-se a disponibilidade do cobre é média quando está
complexado a aminoácidos ou proteínas, como é o caso de parte do cobre
presente nos cereais ou nos quelatos. A adição de ácido ascórbico na dieta
diminuirá a absorção do cobre, pois promoverá a redução de Cu2+ (íon cúprico)
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para Cu+ (íon cuproso). Já a fenação aumenta a disponibilidade do elemento,
pois na forragem original se encontra como cobre metálico e, durante esse
processo, parte do cobre passa a ligar-se a proteínas (FERREIRA et al., 2008).
A entrada do cobre no enterócito será facilitada quanto menos for a
quantidade de metalotioneína presente nessa célula, que se liga fortemente ao
cobre, retendo-o nesse local e diminuindo sua absorção. As dietas ricas em
zinco aumentam a síntese de metalotioneína do enterócito, diminuindo o risco
de intoxicação cúprica em ovinos (FERREIRA et al., 2008).
Em ruminantes, outros macro e microelementos também têm papel
fundamental na disponibilidade dietética de cobre. O milibdênio e o enxofre
podem combinar-se dentro do rúmen, formando os compostos denominados
tiomolibdatos, os quais podem ligar-se fortemente ao cobre, impossibilitando-o
de ser absorvido. O sulfeto, gerado a partir da redução das fontes de enxofre
no rúmen, também pode se ligar firmemente ao cobre, tornando-o indisponível.
O ferro também pode interferir na absorção do cobre, principalmente se a dieta
contiver altos teores de enxofre. Dessa forma, considerando que o aumento de
molibdênio, enxofre e ferro causam carência de cobre, a freqüência de
intoxicação cúprica será maior naqueles animais que receberam altos teores de
cobre e baixos de molibdênio, enxofre e ferro (FERREIRA et al., 2008).
Após a passagem pela mucosa intestinal o cobre liga-se à albumina
e é transportado via circulação porto-hepática ao fígado, que é o órgão-estoque
(BRADBERRY, 2007). A partir do fígado, poderá ter destinos diferentes,
dependendo do status orgânico do cobre. No tecido hepático, o cobre se liga a
uma metaloproteína carreadora denominada ceruloplasmina, sendo
transportado para todo o organismo do animal (FERREIRA et al., 2008). A
ceruloplasmina (cobre mono amino oxidase, Cu-MAO) é uma fração alfa-2
globulina do sangue, em que cerca de 95% do cobre sérico encontra-se ligado
(McDOWELL, 1992). Em situações em que há superávit, o cobre acumulará no
interior dos hepatócitos, em diferentes organelas, tais como núcleo,
mitocôndria, microssoma, lisossomo. No entanto, quando o acúmulo é
exagerado, o cobre passa a se depositar principalmente nos lisossomos,
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praticamente dobrando o número dessas organelas nos hepatócitos
(FERREIRA et al., 2008).
A bile é a via de eliminação de cobre do organismo. Para tanto, o
cobre estocado no fígado deve ser complexado com a metalotioneína hepática
para ser posteriormente excretado (FERREIRA et al., 2008).
2.4 Intoxicação aguda e acumulativa (crônica) por cobre
O excesso de diferentes compostos químicos e minerais podem
levar a quadros de intoxicações nos rebanhos. De uma forma geral, a suspeita
de intoxicação é considerada quando a doença ocorre em determinado número
de animais anteriormente sadios, todos acometidos ao mesmo tempo,
apresentando os mesmos sinais clínicos e mesmo grau de intensidade
(RADOSTIS et al., 2002).
A intoxicação aguda por cobre ocorre toda vez que altíssimas
concentrações de cobre são subitamente ingeridas ou injetadas por via
parenteral (FERREIRA et al., 2008). Em relação à ingestão oral, a intoxicação
pode ocorrer após o recebimento de uma ou mais doses de cobre num período
reduzido, que pode passar para o abomaso e os intestinos na sua forma
ionizável, combinando-se com estruturas da mucosa e provocando, dessa
forma, erosões e úlceras, as quais podem acarretar uma severa gastroenterite,
hemorragias e choque grave, sendo seguida por rápida instalação de um grave
quadro tóxico (BRADLEY, 1993). Embora tenha sido descrito que quantidades
tão pequenas quanto 20 a 50 ppm de cobre tenham causado intoxicação em
cordeiros (4 a 10 mg/kg PV), estudos posteriores indicaram que seria
necessário pelo menos 150 ppm (30 mg/kg PV) de cobre para desencadear
efeitos tóxicos (FERREIRA et al., 2008). O principal fator desencadeante dos
quadros de intoxicação primária em ovinos relaciona-se à administração de
concentrados (rações) e sal mineral formulados para bovinos. CASTRO et al.,
(2007) relataram um surto de intoxicação por cobre no interior de São Paulo a
partir da administração de ração peletizada para bovinos leiteiros, ressaltando
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que todos os animais que exibiram sintomatologia da doença (6 em 20 ovinos)
morreram.
Quadros clínicos mais severos são verificados quando são ingeridas
soluções com altas concentrações de cobre, pois é direcionado rapidamente ao
abomaso e aos intestinos pela goteira esofágica (FERREIRA et al., 2008).
Foram relatados surtos em rebanhos de ovinos que ingeriram
solução de sulfato de cobre de um pedilúvio. Isso ocorreu durante o tratamento
para pododermatite, após os animais serem mantidos por mais de 17 horas
sem acesso à água ou terem de consumi-la de um pequeno lago contaminado
com altos teores de cobre. A alta concentração justificou-se por causa da
limpeza de um tanque-aspersor contendo calda bordaleza, e o cobre seria
empregado como fungicida na cultura de tomates (FERREIRA et al., 2008).
A intoxicação pela via parenteral é advinda de erros no uso de
medicamentos contendo cobre em diferentes sais (glicinato, EDTA, sulfato,
dietilamina oxiquinolina, metionato) para prevenir ou tratar carências desse
microelemento. Quanto mais rápida for a liberação do cobre do composto e do
local de aplicação, maior será o risco de intoxicação, na seguinte ordem
decrescente: sulfato, EDTA, dietilamina oxiquinolona, glicinato e metionina
(FERREIRA et al., 2008). Quando são injetadas quantidades excessivas de
cobre, a resposta é rápida, e os animais começam a morrer no dia seguinte,
sendo o pico de mortalidade ao redor do terceiro dia após a administração. As
primeiras mortes parecem resultar de insuficiência hepática grave e as mortes
mais tardias devem-se à insuficiência renal decorrente da necrose tubular
(BRADLEY, 1993). Doses cerca de duas a cinco vezes superiores podem levar
a um quadro tóxico sistêmico ou a lesões peroxidativas nos tecidos
(FERREIRA et al., 2008).
A intoxicação acumulativa de cobre é sem dúvida a principal forma e
possui na espécie ovina uma maior freqüência dos casos sendo uma
intoxicação de desenvolvimento lento, mas de aparecimento súbito,
caracterizado por hemólise, anemia, icterícia e hemoglobinúria. É causada pelo
acúmulo gradual de cobre no fígado e por uma súbita liberação no sangue
(OSWEILER, 1998).
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A maioria dos ovinos acometidos é proveniente de manejo intensivo,
os quais recebem dietas ricas em concentrados energéticos. No entanto, esse
tipo de intoxicação também tem sido descrito em animais mantidos em
condições extensivas, principalmente quando as pastagens estão
contaminadas com altos teores de cobre (FERREIRA et al., 2008).
No Brasil, foi relatado um surto em ovinos que pastoreavam num
pomar de macieiras pulverizadas com solução de sulfato de cobre (2%). Sete
semanas após a exposição, vários desses animais apresentaram sinais
característicos de intoxicação. A concentração de cobre encontrada na
pastagem foi de 60 mg/kg (RIBEIRO, 1995). No Rio Grande do Sul, os solos e
pastagens contêm entre 5-10mg/kg de cobre (CAVALHEIRO et al., 1992) e não
mais que 0,2-0,3 mg/kg de molibdênio, estando esse elemento em condições
limítrofes para dificultar a absorção do cobre da pastagem. Essa intoxicação
também foi descrita em ovinos mantidos em pastagens constantemente
adubadas com esterco de suínos, tais dejetos podem conter valores acima de
600 mg/kg de cobre tornando desaconselhável seu uso para pastagens de
ovinos (UNWIN, 1980).
Muitos alimentos concentrados ricos, de alto teor energético (por
exemplo: farelo de trigo, glúten de milho, sorgo, dentre outros) são
razoavelmente ricos em cobre e pobres em molibdênio, enxofre e ferro,
levando à alta disponibilidade do cobre. Embora os teores de cobre sejam bem
mais altos em concentrados protéicos (farelo de soja ou de algodão), as
concentrações dos elementos antagonistas também são altas, especialmente
do enxofre (FERREIRA et al., 2008).
Um estudo nacional analisou os teores de cobre em 28 rações
oferecidas para rebanhos de ovinos com histórico de intoxicação cúprica
acumulativa. Os teores médios atingiram 22,2 ± 6,7 ppm, os quais são
ligeiramente superiores (Cu-18±5 ppm; Mo-0,4±0,1 ppm; S-0,25±0,6 ppm) aos
detectados em rações de ovinos intoxicados (FERREIRA et al., 2008).
Os sais minerais ricos em cobre (superior a 800 ppm) apropriados
para bovinos têm sido frequentemente responsabilizados como as causadores
de intoxicação cúprica em ovinos. Esses sais minerais têm um papel
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importante na quantidade total de cobre ingerido quando oferecidos em
conjunto com rações concentradas, porém não constituem problema para
rebanhos mantidos exclusivamente em regime extensivo (GUMMOW et al.,
1991).
Mesmo sendo proibido o seu uso pelo Ministério da Agricultura em
razão da sua associação com a ocorrência encefalopatia espongiforme dos
bovinos, muitos casos de intoxicação em ovinos continuam acontecendo após
a ingestão de cama-de-frango. Num levantamento realizado em 45 camas-de-
frango utilizadas para bovinos, foram detectados altíssimos valores médios de
cobre, em torno de 250 ppm (S-0,39% e Mo-3,84 ppm) (FERREIRA et al.,
2008).
A administração de rações destinadas a porcos e aves ruminantes é
altamente desaconselhável, por causa do alto teor de cobre existente nesses
alimentos, o qual é utilizado como antifúngico e promotor de crescimento
animal (FERREIRA et al., 2008).
Dessa forma a intoxicação acumulativa caracteriza-se por três fases
distintas: pré-hemolítica, hemolítica e pós-hemolítica. Na primeira delas, o
cobre se acumula gradativamente no fígado e, em menor escala nos rins, sem
provocar o surgimento de sintomas característicos, a não ser nos últimos dez
dias. Esse período pode variar de um mês até dois anos (MACHADO, 1998 &
ORTOLANI, 2003).
Na intoxicação cúprica acumulativa, o cobre vai gradativamente se
depositando no fígado, e quanto maior for este armazenamento mais se pode
afirmar que os animais serão susceptíveis a apresentarem a crise hemolítica de
caráter superagudo (LÓPEZ-ALONSO et al., 2005).
A partir do momento em que o cobre satura a capacidade de
armazenamento, pode tornar-se livre dentro dos hepatócitos. O acúmulo de
cobre ocorre na mitocôndria e nos lisossomos hepáticos causando lesões
progressivas nas organelas dos hepatócitos, degeneração ou necrose
(OSWEILER, 1998). Este fato é indicado pela liberação de certas enzimas
hepáticas como a gama-glutamiltransferase (GGT), a aspartato
aminotransferase (AST) e a sorbitol desidrogenase (SDH). Esse processo
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passa a ocorrer com mais intensidade nas últimas três semanas antes da crise
hemolítica, exarcebando-se nos dois últimos dias (FERREIRA et al., 2008).
Nesse estágio, como há um grande número de hepatócitos necrosados, ocorre
súbita liberação de cobre livre, lisozimas e outros produtos para a corrente
sanguínea (ORTOLANI, 1996).
A crise hemolítica aguda ocorre em situações onde os animais que
sofrem algum tipo de estresse fisiológico como viagens, confinamento,
exposições, baixa na imunidade e fome (GONÇALVES et al., 2004)
Na fase hemolítica, o cobre livre penetra com certa facilidade no
interior das hemácias, combinando-se inicialmente com a glutationa, peptídeo
com propriedades antioxidantes e protetora da membrana celular, oxidando a
glutationa. O cobre livre interage com radicais sulfidrila da hemoglobina,
gerando, nesse processo, radicais livres (ORTOLANI, 1996).
Principalmente as hemácias velhas que já não conseguem sintetizar
glutationa com tanta facilidade e aquelas com alguma lesão anterior sofrerão
severos danos em suas membranas citoplasmáticas, hemolisando-se com
facilidade e liberando no sangue, dessa maneira, cobre, radicais livres e
hemoglobina (JAIN, 1993; INABA, 2000).
O cobre no interior das hemácias também pode provocar a oxidação
do ferro presente na hemoglobina, incapacitando temporariamente o oxigênio
de ser carreado e gerando, assim, meta-hemoglobinemia em até 35% das
hemácias. No entanto, grande parte das hemácias poderá ter o ferro
hemoglobínico reduzido novamente em menos de 24 horas, por meio da
enzima meta-hemoglobina redutase. O cobre poderá, ainda, provocar
modificações oxidativas na molécula de hemoglobina, desencadeando o
aparecimento dos corpúsculos de Heinz, levando essas hemácias a serem
retiradas da corrente circulatória e destruídas como se fossem defeituosas
(JAIN, 1993; INABA, 2000).
Existem outras numerosas explicações para o desenvolvimento da
hemólise, como a que descreve que os eritrócitos de um ovino acometido
tornam-se imunogênicos em virtude do acúmulo de cobre. Sugere-se que essa
imunogenicidade propicia o desenvolvimento de um auto-anticorpo que tem
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como resultado final anemia hemolítica do tipo auto-imune (GALEY et al.,
1991).
É comum, num processo hemolítico, existir a diminuição em cerca
de 70% das hemácias circulantes, provocando um quadro de anemia. A
hemoglobina livre aumentará a produção de bilirrubina, a qual se acumula nos
tecidos, resultando num acentuado quadro de icterícia (FERREIRA et al.,
2008).
Tanto o cobre como os radicais livres, lisozimas e a hemoglobina
são filtrados pelos rins. Portanto, no decorrer dos primeiros dias da crise
hemolítica, a hemoglobinúria é notória. A passagem dessas substâncias
provoca um intenso quadro lesivo nos glomérulos e túbulos renais. São
danificados especialmente os túbulos contornados proximais, resultando em
marcante insuficiência renal, sendo esta a principal causa mortis (MACHADO,
1998; SOARES, 2004).
A hemoglobina livre pode provocar obstrução dos néfrons,
ocasionando acentuada oligúria. Essa substância, associada aos demais
agentes supracitados, causa lesão severa de células tubulares, fazendo surgir
hipostenúria, proteinúria e glicosúria. FERREIRA et al. (2008) descreveram que
a taxa de filtração glomerular, 48 horas após a crise hemolítica, pode ser
apenas 5% do normal.
A lesão renal pode causar, durante os três primeiros dias da crise
hemolítica, um quadro de alcalose metabólica por retenção de bicarbonato no
sangue e maior excreção de íons H+ na urina (FERREIRA et al., 2008).
Um dos perigos da intoxicação pelo acúmulo de cobre é que os
animais apresentam saúde normal até o momento da crise hemolítica, quando
subitamente ficam doentes e morrem rapidamente (GALEY et al., 1991).
Animais que conseguem sobreviver ou que são devidamente
tratados têm recuperação lenta, apresentando diminuição gradativa no grau de
hemoglobinúria, de icterícia e, mais lentamente, de anemia (FERREIRA et al.,
2008).
Ovinos com dieta deficiente em selênio e com níveis baixos de
glutationa peroxidase são mais suscetíveis à intoxicação crônica pelo cobre.
18
Alguns ovinos também são condicionados em virtude de herança genética, por
possuírem níveis baixos no sangue de glutationa independente da ingestão
normal de selênio na alimentação. Também apresentam baixos níveis de
glutationa peroxidase no sangue, podendo, por essa razão, ser mais
suscetíveis (GALEY et al., 1991).
É de conhecimento ainda, a intoxicação secundária por cobre, que
pode se apresentar como uma intoxicação crônica fitógena por cobre, onde
segundo SARGISON (1996), essa forma ocorre em ovinos que ingerem pasto
com quantidades normais de cobre. Embora a ingestão do cobre possa ser
baixa, os níveis de cobre no fígado são elevados, ocorrendo crise hemolítica
típica de intoxicação crônica por cobre. A causa predominante é a infestação
do pasto por trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum), que pode conter
quantidades de cobre mais baixas do que o normal (15-20 mg/kg). As raças
inglesas de ovinos e o cruzamento dessas raças com a merina são mais
susceptíveis.
O controle dessa doença se faz promovendo o crescimento de
gramíneas nos pastos (SARGISON, 1996). Os surtos poderão ser evitados, se
no outono for impedido o acesso dos ovinos aos pastos luxuriantes com
predomínio de trevo (VAN SAUN, 1988).
A intoxicação crônica hepatógena por cobre, que também é uma
intoxicação secundária, é a mais comum após a ingestão de quantidades
suficientes da planta Heliotropium europaeum (Senecio spp. e Echium
plantagineum) por um período de dois a cinco meses, para que ocorram
alterações morfológicas e bioquímicas nas células hepáticas sem maiores
prejuízos das funções do fígado. Após a ingestão dessas plantas, as células
hepáticas têm maior afinidade por cobre, e quantidades anormais acumulam-se
no fígado, aumentando o risco de crise hemolítica. Os ovinos que pastaram H.
europaeum e depois trevo subterrâneo tornam-se particularmente suscetíveis a
essa forma de doença (PERRIN et al., 1990).
A intoxicação pode ser causada diretamente por Heliotropium
europaeum, pois o mesmo contém alcalóides, e a ingestão contínua dessa
planta causa lesão hepática. Se houver grande quantidade de cobre
19
armazenada no fígado, poderá desenvolver-se intoxicação crônica hepatógena
por cobre. Por outro lado, se a condição de armazenamento pelo ovino estiver
dentro do normal, a lesão hepática progredirá, até o animal vir a adoecer de
hepatite tóxica. Os efeitos da planta são cumulativos, e o pastejo por uma
estação do ano pode causar ligeira perturbação, mas o pastejo ano após ano
pode provocar grande mortalidade (PERRIN et al., 1990).
2.5 Aspectos laboratoriais da intoxicação pelo cobre
Os achados laboratoriais são os mais diversos possíveis,
dependendo da fase evolutiva da intoxicação nos ovinos. Apenas no segundo
dia que precede a crise hemolítica é que a cupremia se eleva, mantendo-se
desse modo até o sexto dia (FERREIRA et al., 2008). Na intoxicação aguda,
são necessários muitos dias após a ingestão, antes que os níveis de cobre
aumentem de maneira significativa. O exame de fezes pode revelar grandes
quantidades de cobre (8.000-10.000mg/kg) (SARGISON, 1996).
Os níveis de cobre no sangue durante a crise hemolítica são
geralmente da ordem de 78-114µmol/L, em comparação aproximadamente
com 15,7µmol/L nos animais normais. Os níveis normais no fígado menores
que 5,5mmol/kg da matéria seca aumentam para valores acima de
15,7mmol/kg nos estágios finais da intoxicação crônica nos ovinos, para
95mmol/kg nos suínos e para 30mmol/kg nos bezerros. Nos ovinos, valores no
fígado maiores que 7,85mmol/kg e nos rins valores maiores que 1,25-
1,57mmol/kg da matéria seca são considerados diagnósticos. Após grande e
única dose, é importante incluir o rim entre as amostras enviadas para
dosagem de cobre, porque os níveis podem estar elevados (maiores que
25mg/kg de matéria seca), e os níveis no fígado não se encontram elevados
ainda (SARGISON, 1996).
Os indicadores precoces de que está ocorrendo acúmulo hepático
de cobre são as alterações detectadas nos níveis séricos das enzimas GGT e
AST. A primeira já aumenta sua atividade por volta do 28º dia antes do início
da crise hemolítica, enquanto a AST apresenta essa elevação por volta de
20
duas semanas depois (FERREIRA et al., 2008). Nos ovinos, os níveis séricos
da AST podem elevar-se até seis semanas antes de os sinais clínicos óbvios
aparecerem, sendo o teste considerado adequado para monitorar a intoxicação
por cobre nessas espécies. Os níveis da AST plasmática e a sorbitol
desidrogenase no sangue mostram-se elevados aos 60 dias após ter
começado a ingestão do cobre, os níveis da dietil succinato carboxilesterase
aumentam dentro de sete dias (GUMMOW et al., 1991). A GGT em ovinos,
pode se elevar aproximadamente duas a três semanas antes do surgimento
dos sinais e se manter elevado durante todo o quadro clínico, como foi
constatado por LEMOS et al. (1997). Os bovinos podem apresentar elevação
na GGT por volta de 75 dias após o início de suplementação por cobre, o que
ocorre no mesmo período do aparecimento dos sintomas da intoxicação,
ocorrendo elevação da AST somente 90 dias após a suplementação e 15 após
aparecimento dos sintomas, podendo ser acompanhado por elevação da uréia
sérica também 15 dias após aparecimento dos sintomas (MINERVINO et al.,
2007). Assim como em bovinos, búfalos suplementados com cobre,
demonstram aumento da enzima GGT e AST ao longo do quadro clínico, o
mesmo acontece com a uréia sérica e a creatinina sérica (MINERVINO et al.,
2009).
Estabelecida a hemólise, ocorre queda acentuada nos valores de
hematócrito (até 6%) o qual só é recuperado após o décimo quinto dia do início
dessa alteração (FERREIRA et al., 2008). A metemoglobinemia pode estar
presente, devendo a urina ser examinada para hemoglobina (SARGISON,
1996). Observa-se também a presença de alterações morfológicas das
hemácias, além da presença do corpúsculo de Heinz, por microscopia
eletrônica de varredura que demonstra padrões eritrocitários antes e durante a
fase hemolítica. PEREIRA et al. (2010) constataram o predomínio de hemácias
com padrão discóide ou em acantose e cerca de 15% na forma de macrócitos,
quinizócitos e dacriócitos antes da crise hemolítica. A presença de dacriócitos
se deve a alterações no citoesqueleto protéico das hemácias devido a eventos
deformantes (JAIN, 1993; INABA, 2000). Os macrócitos representam eritrócitos
morfologicamente normais possuindo volume corpuscular médio acima do
21
normal, enquanto os quinizócitos compreendem uma faixa central de
hemoglobina e dois espaços livres na superfície das hemácias, criando um
aspecto de uma célula tricôncava (INABA, 2000).
São achados ocorridos durante a fase hemolítica as seguintes
alterações nas hemácias: estomatócitos que estão relacionados com a
presença de doença hepática obstrutiva e associados a anemias crônicas;
codócitos, comumente chamados de células alvo (“target cells”), são eritrócitos
com uma área central densa de hemoglobina, devido a alterações da
membrana celular ou pelo decréscimo dos níveis de hemoglobina celular ou
ambas as causas; queratócitos, eritrócitos irregulares com espículas, estando
relacionados com a presença de coagulação intravascular disseminada,
anemia hemolítica microangiohepática e falência renal (INABA, 2000).
Depois de instalado o quadro, pode ser constatado leucocitose
(média de 12.000 leucócitos/mm3) por neutrofilia (média de 70%),
acompanhada por linfopenia e eosinopenia. Os teores de bilirrubina, em
especial a indireta, apresentam um incremento vertiginoso até o quinto ou
sexto dia (até 80 µM/L), declinando gradativamente em seguida (FERREIRA et
al., 2008).
A resposta de fase aguda é muito rápida, e por esse motivo as
proteínas de fase aguda podem ser consideradas marcadores precoces de
qualquer processo patológico ou doença. Além disso, essas proteínas podem
ser muito úteis na detecção antecipada de enfermidades subclínicas ou de
alterações no estado de saúde do animal, além de servirem como importantes
ferramentas no manejo do paciente e monitorização do tratamento (CERÓN et
al., 2005). As concentrações séricas de proteína total e albumina poderão
apresentar ligeira queda temporária (FERREIRA et al., 2008). PEREIRA et al.
(2009) em um estudo com ovinos constatou que teores séricos de
ceruloplasmina apresentaram-se diminuídos e os teores de transferrina,
proteína de 35.000 Da e IgG de cadeia leve apresentaram-se aumentados 15
dias antes da crise hemolítica, devido ao dano hepático provocado pelo
acúmulo de cobre.
22
Sem dúvida, as variáveis mais importantes a serem monitoradas são
os teores séricos de uréia e creatinina, que indicam o grau de insuficiência
renal. Os níveis de uréia podem atingir 90 µM/L (normal até 6,6 µM/L),
enquanto a creatinina poderá elevar-se até 1.000 µM/L (normal até 170 µM/L).
Os exames de urina indicam hemoglobinúria, proteinúria, glicosúria e
hipostenúria e intensa quantidade de cilindros granulosos no decorrer da
primeira semana após o início da crise hemolítica (FERREIRA et al., 2008).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intoxicação por cobre pode ser confundida com outras
enfermidades animais, devido aos sinais clínicos inespecíficos da doença,
dessa maneira ela deve ser considerada como um possível diagnóstico
diferencial em ruminantes que apresentam anorexia, perda de peso, apatia,
desidratação e oligúria, mesmo sem a presença de hemoglobinúria.
23
Animais intoxicados por cobre apresentam muitas vezes, saúde
normal até a crise hemolítica, desencadeando depois os sinais subitamente,
não permitindo assim, em muitos casos, um tratamento eficiente. Entre os que
sobrevivem, tem recuperação lenta e por conseqüência diminuição da
produtividade.
Como achados laboratoriais são os mais diversos possíveis, é
interessante dosar a concentração de cobre no sangue logo no início da crise
hemolítica, utilizando juntamente o exame de fezes que revela a presença de
cobre e o hemograma em que se observa diminuição do hematócrito, que
acompanha as alterações morfológicas das hemácias. Os indicadores precoces
de que está ocorrendo acúmulo hepático de cobre são as alterações
detectadas nos níveis séricos das enzimas GGT, AST e SDH, que também
deve ser dosados para auxiliar no diagnóstico da intoxicação. É importante
verificar a presença de lesão renal, que pode ser causada pela intoxicação,
utilizando dosagens de enzimas renais, como creatinina e uréia.
Pelo fato da intoxicação possuir uma alta mortalidade entre os
animais afetados (24 a 48 horas do início dos sinais clínicos), deve-se dar
ênfase na prevenção desse acúmulo de cobre nos animais onde as rações
devem ser manter no máximo a relação 6:1 de Cu/Mo.
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