Intervalos Entre as Séries de Treinamento de Força Efeitos Nas Microlesões Induzidas Por...
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INTERVALOS ENTRE AS SÉRIES DETREINAMENTO DE FORÇA: EFEITOS NASMICROLESÕES INDUZIDAS POR EXERCÍCIO
Ester Tebaldi Silveira
RESUMO
É descrito que a manipulação de variáveis do treinamento de força provoca
alterações nas respostas lesivas. Está bem esclarecido que o intervalo de descanso entreas séries pode influenciar nas respostas agudas e crônicas de adaptação da musculatura
esquelética. Diversos estudos procuram esclarecer os efeitos de diferentes intervalos de
descanso no índice de fadiga, no volume de treino, na secreção de hormônios associados
ao crescimento muscular e na magnitude das microlesões induzidas pelo exercício
capazes de desencadear processos adaptativos que acionem mecanismos
compensatórios e resultem em hipertrofia. Deste modo, esta revisão objetiva apresentar e
discutir estudos sobre os efeitos dos intervalos de descanso entre as séries nasmicrolesões induzidas por exercício em treinamento de força.
Palavras-chave: exercício, hipertrofia, músculo esquelético.
ABSTRACT
It is reported that the manipulation of variables of strength training causes changes in theresponses detrimental. It is very clear that the rest interval between sets may influence the
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objetivo do presente trabalho de revisão é descrever e analisar o atual estado de arte dos
estudos sobre os efeitos de diferentes intervalos de descanso em exercícios de força e
hipertrofia nas microlesões induzidas por exercício.
- Intervalos entre séries e exercícios
Intervalos curtos com cargas elevadas, como os prescritos para hipertrofia
muscular, apresentam um índice elevado de fadiga que dificulta a execução das
repetições finais em séries subseqüentes (WILLARDSON, 2006; SALLES et al ., 2009;
MACHADO et al ., 2011). Por exemplo, Willardson e Burkett (2005) realizaram 4 séries
máximas (até a fadiga voluntária) com cargas de 8 RM para o supino reto. O mesmoprotocolo de exercícios foi realizado em 3 ocasiões randomicamente distribuídas diferindo
apenas nos intervalos de descanso (1, 2 e 5 minutos entre cada série). Houve uma
diferença significativa entre o total de repetições realizados, 17 repetições para as séries
com 1 minuto, 22 para 2 minutos e 26 para 5 minutos. Senna e colaboradores (2009)
verificaram que há diferenças na instalação da fadiga entre membros superiores e
inferiores com exercícios realizados com 2 ou 5 minutos de intervalos. Enquanto o
descanso de 2 minutos não permitia uma recuperação plena em ambos os segmentos, 5
minutos eram suficientes para os MMII e não para os MMSS.
A influência dos intervalos de descanso entre as séries nos ganhos de força e
hipertrofia muscular ainda é tema de muita discussão (WILLARDSON, 2006; SALLES et
al., 2009; CARPINELLI, 2010). Tem sido praticado por fisiculturistas intervalos iguais ou
menores que 1 minuto para potencializar a hipertrofia muscular (WILLARDSON, 2006;
SCHOENFELD, 2010). Há evidencias de que o alto estresse ao qual os músculos são
submetidos induzem maiores aumentos agudos na secreção de hormônios e fatores
anabólicos quando intervalos curtos são proporcionados (WILLARDSON, 2006;
CARPINELLI, 2010; SCHOENFELD, 2010). Ainda não está bem esclarecido se estes
aumentos agudos na liberação dos hormônios e fatores está relacionado aos efeitos
crônicos de hipertrofia muscular (CARPINELLI, 2010).
- Resposta aguda aos exercícios com diferentes intervalos
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Mayhew e colaboradores (2005) avaliaram a reposta imune celular e a atividade
sérica de creatina kinase (CK) em 9 voluntários que realizaram 10 séries de 10 repetições
do exercício Leg press em 2 ocasiões. A cada visita ao laboratório os voluntários
realizaram as múltiplas séries com 1 ou 3 minutos de intervalo, sempre com intensidade
de 65% de 1RM. Os resultados de Mayhew e colaboradores mostraram que os valores deCK aumentaram em ambos os grupos, mas a resposta 24-h após os exercícios com 1
minuto de intervalo foi significativamente maior. Uma limitação deste estudo é que foram
realizadas apenas uma medida da CK (24 horas após o exercíco) diversos estudos têm
demonstrado que o pico da enzima ocorre 48-72 horas após uma sessão de exercícios
(BRANCACCIO et al., 2008).
Optando por uma metodologia cuja intervenção realizada era mais próxima ao dia a
dia, Ribeiro e colaboradores (2008) submeteram 14 voluntários a duas sessões com 3séries com 10RM de 8 exercícios (Supino reto, puxada no pulley, desenvolvimento, rosca
bíceps, rosca tríceps, leg press, cadeira extensora e mesa flexora). As sessões diferiam
apenas em relação ao intervalo de descanso entre as séries e entre os exercícios: 1 e 3
minutos. Os resultados mostraram que ambas as sessões provocaram aumentos nas
atividades séricas de CK, contudo sem diferenças significativas entre as sessões. Os
autores especulam que o estresse mecânico deve ser o fator mais importante do que o
estresse metabólico, já que a carga de treinamento foi igual entre as sessões.
Estudando exercícios para a arte superior do corpo em sequência, Rodrigues et al
(2010) avaliaram o comportamento da CK e da lactatodesidrogenase (LDH) em 20
homens destreinados após duas sessões de treinamento. Mais uma vez foram eleitos os
intervalos de descanso de 1 e 3 minutos entre as séries para comparação. Os voluntários
realizaram 3 séries máximas de cada exercício com 80% de 1 RM. Apesar do volume total
ser significativamente diferente (24% maior para o grupo que realizou 3 minutos de
intervalo) houve elevação da CK após ambas as sessões, contudo não houve diferença
na atividade sérica de CK entre as sessões. Não houve alterações significativas na
atividade sérica de LDH. Os autores especulam que mesmo sendo a magnitude da
elevação de CK igual entre os grupos, diferentes mecanismos devem ser responsáveis
pelo dano muscular: indutores metabólicos (acidose e dano oxidativo) na sessão com
intervalos curtos e estresse mecânico na sessão com intervalo maior. Infelizmente os
autores não apresentam dados que deem suporte às alegações.
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A resposta das atividades de CK e LDH também foram alvo de estudo de Machado
et al (2011). Nesse estudo foram comparadas 4 sessões de exercícios constituídas de 4
exercícios para MMSS e 2 exercícios para MMII, sendo realizadas 4 séries de 10
repetições com intensidade de 10RM. Diferiam entre as sessões apenas os intervalos de
descanso entre as series e exercícios: 60, 90, 120 e 180 segundos. Mais uma vez houveaumentos significativos da atividade sérica de CK após as sessões sem que houvesse
diferença entre as sessões. Comportamento semelhante foi verificado para a LDH.
Como citado, Rodrigues et al (2010) alegam que o grande volume realizado após
exercícios com 3 minutos de intervalo seria o indutor mecânico para as microlesões, e
que o estresse metabólico seria o indutor em sessões com intervalos curtos. Avançando
na tentativa de entender o que ocorre em sessões com intervalos de descanso diferentes,Machado et al (2012) avaliaram a correlação entre as variações da atividade sérica de CK
após sessões com 1 ou 3 minutos de intervalo e o volume total realizado. Os resultados
mostraram uma fraca correlação entre essas variáveis (r = 0.55 para 1-min e r = 0.45 para
3-min). Desta forma fica discutível, porém não descartada, as alegações de que diferentes
mecanismos possam influenciar na resposta de aumento da atividade sérica de CK após
sessões de exercícios de força.
- Variabilidade interindividual da Creatina Kinase
Está descrito na literatura que há uma grande variabilidade interindividual na
atividade sérica de CK após exercícios. Clarkson et al (2006) verificaram variações entre
55 e 80550 U.L-1 de atividade sérica de CK após exercícios excêntricos para o tríceps
braquial. Diversos estudos (CHEN 2006; HELED et al ., 2007; DO CARMO et al ., 2011)
têm classificado os sujeitos de acordo com a magnitude da resposta de CK, sendo os
indivíduos com resposta mais elevada classificados como High Responders (HR ou HiR).
Baseado nestes achados Machado e Willardson (2010) realizaram um estudo no qual os
sujeitos foram submetidos a duas sessões de treinamento composto de 6 exercícios (3
séries máximas com a intensidade de 10RM) realizados com intervalo de 1 ou 3 minutos
entre as séries e os exercícios. Após a avaliação os indivíduos foram separados em 2
grupos: High Reponders ou Normal Responders. A resposta dos Normal Responders foi
de aumento da CK semelhante após as 2 sessões independente dos intervalos de
descanso. Os High Responders apresentaram um aumento acentuado nas duas sessões
quando comparados aos Normal Reponders como esperado. Quando comparadas as
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respostas a cada sessão os High Responders apresentaram diferenças significativas da
atividade sérica de CK, a sessão com menor intervalo induziu maiores aumentos.
Os resultados encontrados por Machado e Willardson (2010) foram corroborados
por outro estudo realizado com 50 voluntários que realizaram 4 séries máximas de roscabíceps unilateral com o braço contra-dominante e intensidade de 85% de 1RM
(MACHADO et al ., 2012). Os High Responders apresentaram uma resposta
significativamente maior após a sessão com 1 minuto de intervalo entre as séries em
comparação a sessão com 3 minutos.
- Efeitos do treinamento (médio e longo prazo)
Está bem estabelecido na literatura que uma única sessão de exercícios
(principalmente mas não exclusivamente os excêntricos) causam uma resposta adaptativa
conhecida como efeito da carga repetida ou efeito protetor da carga (repeated bout
effect). Este fenômeno pode ser descrito como uma atenuação dos efeitos lesivos
provocados por uma única sessão de exercícios nas sessões subseqüentes (McHUGH,
2003). Este efeito pode perdurar por meses e afeta diretamente os resultados de estudos
que tentam acompanhar indicadores de micro-lesão por muitas sessões (BRENTANO e
KRUEL, 2011). Não foram encontrados estudos que comparassem as respostas crônicas
das microlesões induzidas por exercícios com diferentes intervalos de descanso.
CONCLUSÃO
São poucos os estudos que comparam a resposta das microlesões induzidas por
exercícios de força e hipertrofia com diferentes intervalos de descanso entre as séries e
eles parecem indicar que não há influência desta variável nas respostas lesivas. A
exceção é para uma pequena parcela da população conhecida como High Responders,
que apresentam respostas mais acentuadas quando intervalos menores de descanso
entre as séries são permitidos. Mais estudos sobre esta área são necessários para
verificar de forma mais consistente estes resultados e principalmente para elucidar os
mecanismos que levam os High Responders a ter respostas diferenciadas enquanto os
demais não apresentam esta diferença.
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